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quarta-feira, 18 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13302: Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (15): Fadista e locutor, para cumprir o destino

1. Mensagem, de 11 do corrente, do Armando Pires
[ex-Fur Mil Enf,  CCS/BCAÇ 2861,Bula e Bissorã, 1969/70], [, foto à esquerda, Monte Real, 14/6/2014]

Meu Caro Luís Graça.
Camarada e Amigo.

Faz tempo que esta história te estava prometida. Mas o tempo não é coisa que se comande. Se eu fosse supersticioso diria que foi por ter chegado ao número 13 da série "Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista", que a veia secou.

Mas não sendo supersticioso, porque é coisa que dá muito azar, limito-me a dizer que mais vale tarde do que nunca. Aqui tens, com o titulo de "Fadista e locutor, para cumprir o destino", o número 14 de uma série que, espero eu, passe a fluir com melhor ritmo.
Um abraço para ti, para os nossos editores, e para todos os camarigos.

2.  Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (14)  Fadista e locutor, para cumprir o destino 

Portanto, o João Rebola mais o Vilas Boas foram para Binar e o fado acabou em Bissorã.

Isto foi em Junho de 70, altura em que a companhia a que eles pertenciam, a CCAÇ 2444, foi rendida por uma outra companhia de intervenção, a CCAÇ 13.

Desculpem os camaradas se os faço recuar ao P12905 para melhor compreenderem este antes e o que vem já depois, mas a vida de “escritor-amador” é muitas vezes atapetada de escolhos tais, que nem a sua muito boa vontade consegue derrubar às primeiras.

Prosseguindo.

Foram-se embora os meus violas e, oh coincidência, também partiu o capitão Luís Barros, que ali foi terminar o seu tempo de serviço no comando da CCS, grande impulsionador e animador daquelas noites sábado, com cantos ao fado e às bolas do bingo onde sempre se sorteava uma garrafa de whisky Haig, vá lá saber-se porquê, escolha pessoal do cap Barros, facto que acabou por lhe granjear, entre a sargentada, a alcunha do “capitão Haíg”, lido assim, com assento agudo e tudo, alcunha que vai certamente surpreender o hoje coronel reformado Luís Andrade Barros, fugaz leitor do nosso blog, meu recém correspondente em troca de emails, num dos quais, sobre estas noites que lhe lembrei, escreveu:

“Caríssimo Armando Pires, furriel enfermeiro, ribatejano, fadista e companheiro da guerra .
Recebi com muito agrado as suas notícias de Bissorã, nomeadamente recordando as sessões de bingo com uma afluência capaz de fazer inveja às melhores casas da especialidade. Lembro o entusiasmo que tal iniciativa despertou, a preparação - decoração da sala com pinturas alusivas e os convites para o evento, incluindo a amigos do IN, isto na certeza de então não sermos atacados.”
– P13065

O fim das sessões de bingo, e das grandes noites de fado, poderiam ter sido uma forte machadada nos relatórios da acção psico-social, não se desse o caso de nas cabeças do major Alcino e do Alferes Vinagre, ter nascido a ideia de sacar umas massas que o comandante Polidoro Monteiro tinha para a psico, para com elas comprarem uma aparelhagem sonora que o Alfredo, o libanês, mandara vir da África do Sul. A aparelhagem foi ligada a uma corneta sonora, o 1º cabo sapador Marques Catarré emprestou a sua substancial discografia, e assim nasceu a “Rádio Bissorã-70”, com emissões diárias das sete às nove da noite.

Todos estes pormenores vieram à luz do dia graças à prodigiosa memória do Furriel Sousa, uma espécie de “secretário-confidente” do comandante Polidoro. É que todos os da companhia, eu incluído, nos lembramos da “rádio”, mas de como ela nasceu é que… já lá vão 44 anos.

É preciso dizer que o major Alcino era o oficial de operações, e o João Vinagre, alferes miliciano de informações, para que se percebam os objectivos propagandísticos da coisa.

“A rádio” foi instalada no vão de escada de um edifício em
cujo rés-do-chão funcionava a secretaria do
batalhão. O 1º andar fora reservado para quartos dos oficiais. O edifício era conhecido, e ainda o é, por Casa Gardete, família guineense de grande prestigio social, na qual sobressaiu o Dr. Manuel Gardete Correia [, foto à direita], já falecido, licenciado em medicina pela Universidade de Coimbra no ano de 1959, e que se tornou numa das figuras africanas, e mesmo mundiais, mais prestigiadas na luta contra a doença do sono e a malária. (**)

A família Gardete rumou a Bissau logo nos alvores da guerra, deixando de aluguer a vários comerciantes a loja, até à chegada a Bissorã do comando do meu batalhão, que tomou de arrendamento todo o edifício.



A Casa Gardete.  Foto de 2006, cedida pelo camarada Carlos Fortunato, ex-fur mil. da  CCAÇ 13, e tirada aquando de uma das suas deslocações a Bissorã ao serviço da ONG Ajuda Amiga, de que é presidente.  Actualmente o edifício funciona como tribunal civil. A escadaria dava acesso aos quartos dos oficiais. Entre o vão de escada e a porta onde se lê “Secretaria Judicial”, funcionava “a rádio”. A corneta sonora era montada sobre aquela grande coluna que suportava um portão de ferro de entrada para o edifício. 

Foto: © Carlos Fortunato  (2006).  Todos os direitos reservados.


E à noite, aquela rua enchia-se de militares e povo, povo das tabancas, já se vê, que “a sociedade” local, o Alfredo Khalil, o senhor Rachid Aral, o velho Michel… de tão perto que moravam nem precisavam de sair de casa para ouvirem as canções do Nelson Ned, da Rita Pavoni, do Roberto Carlos, do Nico Fidenco…, em forma de discos pedidos deste para aquele, dedicados pelo soldado tal para a sua lavadeira que tinha direito a nome e tudo, e muitas vezes, num extravasar de saudade, querendo que o som da corneta chegasse lá longe, até se dedicavam canções às queridas mães e às namoradas que ficaram à espera.

E havia um concurso. Perguntas sobre história e geografia, que as fazia o furriel Sousa, professor na vida civil, sobre desporto, em que era perito o 1º cabo Santos, da messe dos oficiais, ou ainda perguntas acerca dos valores pátrios, trazidas pelo alferes Vinagre, que fora para isso que “a rádio” nascera.

Quem acertasse nas perguntinhas tinha direito a prémios de que não me lembro quais.

Lembro-me dos locutores. Sim, que “a rádio”, como não podia deixar de ser, tinha locutores. O Filipe, furriel vagomestre, o Basso, furriel cripto, e o furriel Bonito, da secretaria do batalhão.
–  Ó Pires – disse-me o Filipe – tu também podias ir para lá fazer locução.

Chamem-lhe destino, digam que era o Senhor a escrever direito por linhas tortas, ou, mesmo, que estava escrito nas estrelas, a verdade é que ser locutor era uma das possibilidades que me acompanharam até à Guiné.

Eu explico.

Quando desembarquei em Bissau levava mais recomendações do que medalhas um general tem ao peito. (Passe o exagero, se faz favor)

Desde logo para o dono do “Solar do Dez”. Um cartão, daqueles com nome ao meio, que tanto serviam para enviar boas festas como para expressar sentidos pesamos, onde o Carlos Lisboa, fadista da minha terra que em Bissau servira na policia militar, garantia que eu era apaz para repetir os êxitos que ele próprio alcançara nas grandes noites de fado que realizara naquele restaurante.

Sentados à mesa, no centro da qual estava uma coisa chamada lagosta que nunca, até ali, me passara pelo estreito, eu e o dono do “Solar do Dez”, cujo nome, esteja ele onde estiver, vai perdoar que me tenha esquecido, rapidamente começámos a falar nas hipóteses de eu ficar no Hospital Militar de Bissau, garantia de umas sessões de fado aos sábados à noite lá no Solar, com um dinheirinho extra, está claro, tudo coisas que umas pessoas que ele bem conhecia tratariam de facilitar num abrir e fechar de olhos.
– Venha cá jantar logo à noite que estará cá gente para tratarmos logo do assunto.

O pior é que por volta daquela hora encontrei o Vitor “Cascais”, rapaz que eu conhecia das noites no “Galitos”, casa de fado vadio no Estoril, junto da cosmopolita praia do Tamariz, que me quis logo apresentar a umas amigas e uns amigos, gin para um lado conversa para o outro, “está aqui um gajo que toca bem guitarra, queres ouvir?”, uns camarões para entreter a cerveja, “é pá, dá aí o tom para o mouraria”, e qual jantar no “Solar do Dez” qual quê, saí dali já era outra vez dia, e sem modo de explicar a minha ausência, só voltei ao Solar muito mais tarde, quando vim numa coluna a Bissau.

E havia o célebre “PIFAS”, o Programa das Forças Armadas.

Embora ainda não de forma profissional, antes de ser mobilizado eu já fazia locução de vários programas na rádio da minha terra. Era a Rádio Ribatejo, propriedade do capitão Jaime Varela Santos, homem que vale uma nota antes de prosseguir o relato.

O capitão Varela pertencia à arma de cavalaria. Em finais dos anos 40 inicio dos anos 50, mandaram-no comandar a força da GNR de segurança ao Forte de Peniche.
– Não aceito! Eu sou oficial de cavalaria, não sou carcereiro.

Valeu-lhe a afronta ao regime a sua passagem à reserva, por incapacidade física, que foi o melhor que se arranjou para evitar escândalo maior no meio social em que se movimentava.

Pois mal fui mobilizado, em Outubro de 68, o capitão Varela mandou que eu à chegada à Guiné, me apresentasse a um brigadeiro seu amigo que trataria de me levar para a rádio das forças armadas.

E até o meu primo Carlos Fernandes, que tal como eu iniciou a sua profissão na Rádio Ribatejo, e que estava em Madina do Boé, de furriel miliciano atirador da CCAV 1662, quando foi chamada para o “PIFAS”, ao chegar a Portugal, em Dezembro de 68, tratou de escrever uma carta que eu levaria em mão a José Vale de Figueiredo, o director do Programa das Forças Armadas, dando-lhe nota de como eu podia ser “útil à rádio”.

Pois foi. Só que com aquela cena das amigas e dos amigos do “Cascais”, mais dos copos e dos fados até de madrugada, quando dei por mim estava a marchar em direcção a Bula, com a carta do meu primo dentro do bolso, sem conhecer o tal brigadeiro amigo do capitão Varela, e sem ter ido ao tal jantar no “Solar do Dez”.

E eu, que tudo tinha para fazer a guerra de fato e gravata em Bissau, fui cantar fados para Bula e, em Bissorã, ao microfone de uma “rádio” manhosa, apresentar o Gianni Morandi a cantar o “Non son degno di te”.

Mas, porra! Também não tinha feito os amigos que fiz e que me têm dado um jeito do caraças.

(E querem saber mais? O que eu queria mesmo era andar com a minha malta.)


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Em primeiro plano, o Armando Pires: em segundo plano, o Rui Silva, o Jorge Rosales, o Manuel Joaquim (de perfil) e o Francisco Palma. No decorrer do almoço, tive oportunidade de apresentar o Armando Pires ao António Gracez Costa que foi locutor do PFA, em 1970/72. Ficaram os dois à conversa

Foto: © Manuel Resende  (2014).  Todos os direitos reservados.
________________

Notas do editor:

(*) Vd, postes anteriores e da série>

(...) Urge proceder à reformulação da divisa desta Tabanca Grande. De facto, onde ela proclama que “o mundo é pequeno e a nossa Tabanca … é grande”, já não é sem tempo que se aumente o grau ao adjectivo, passando então a escrever-se que, “o mundo é pequeno e a nossa tabanca… é muito grande”.

Ocorreu-me isto após as incidências que resultaram do meu post anterior (P12905*), no qual, desastradamente, troquei o nome a um capitão. A correcção chegou num comentário do nosso camarada Grantabanqueiro, coronel Hilário Peixeiro, feito nos termos que aqui recordo. (...)

(...) Tirando uns mal entendidos com a rapaziada do Morés, os dias corriam pachorrentos em Bissorã. Desde logo porque o Rodrigues, quando à chegada lhe fui oferecer os meus préstimos, ficou-me muito agradecido mas respondeu que “a malta cá se arranja”. A malta era a CCAÇ 2444, mais conhecida pelos “Coriscos”, companhia da qual o Rodrigues, Felizardo Rodrigues, era furriel miliciano enfermeiro. O felizardo neste caso era eu, melhor dito, até, era a minha equipa, porque com uma companhia operacional a prescindir do nosso apoio, passámo-nos a ocupar, a tempo inteiro, das micoses, paludismos e gonorreias entre os nossos, e da saúde de toda a população em geral, coisa que caía muito bem dentro dos relatórios da “psico-social”. (...)


(...) Queiramos ou não, a primeira imagem, a primeira impressão que causamos, acompanha-nos vida fora, cola-se-nos à pele como lapa. Podemos melhorá-la, ou piorá-la, “vê lá tu, pá, quem diria que aquele gajo se transformava no que é hoje”, mas a primeira impressão fica para sempre. À primeira, eu vi o Polidoro assim. Emproado, como um pavão. Escreva-se, por ser verdade, ele fez tudo menos querer causar uma primeira boa impressão. (...)


(...) Aquelas primeiras horas em Bissorã não foram fáceis. Desde logo, como já escrevi, o não me sentir dentro de um quartel. Era assim a modos como que um exército que tivesse ocupado uma cidade e “vamos lá instalar-nos”. Não quero com isto dizer que fossem más aquelas acomodações. Antes pelo contrário. Mas num quartel está ali tudo próximo, estamos ali todos juntos, tipo ó militar chegue aqui, e em Bissorã não, era mais ó furriel dê um salto à enfermaria e lá ia eu, no jeep, rua acima. E depois, o que também me fez confusão, abrigos "cá tem". (...)


(...) Portanto, o DO aterrou em Bissorã eram nove da manhã. Nem fanfarra nem guarda de honra à minha espera. Apenas um Unimog para me levar a mim, mais ao correio e outras mercadorias que o avião transportara. Sem esquecer, evidentemente, o Machado, o meu cabo enfermeiro, que viera receber-me, dar-me as boas vindas, e levar-me ao comando onde era devida a minha apresentação ao comandante da companhia. (...)


(...) Mais um reencontro para agasalhar a idade. Estava eu posto em sossego e chama-me o João Rebola para perguntar:
- Ó Pires, sabes quem está aqui?

A pergunta foi feita através desse prodígio da comunicação chamado Skype. Sabem os que sabem, quem não sabe fica a saber que é um software que podemos instalar no computador, e que nos permite falar com qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, e, o melhor de tudo, estar a vê-la do outro lado. (...)


(...) Tal como prometera, envio um conjunto de 12 (doze) fotografias de Bula. Tenho dúvidas quanto à forma de as editar. Por essa razão permito-me enviar duas versões. Como podes ver, a que tem o titulo de Bula 2 ocupa menos espaço no blog, mas algumas das fotos perdem em qualidade. Deixo ao teu critério, ou ao critério do "Editor de Dia", escolher qual das duas versões publicar. Do mesmo modo, também fica ao vosso critério decidir em que série as inscrever. Se na série "furriel enfermeiro,ribatejano e fadista", se em "Álbum fotográfico..." do que for. (...)


 (...) A oito de agosto, deixei Bula com um nó na garganta e sem saber que não mais lá voltava. Tinha férias marcadas para Portugal e pedi ao comandante que me permitisse ir uns dias mais cedo para Bissau, de forma a poder visitar o Daniel no Hospital Militar. (...)


(...) Raios te partam, Manel Jaquim, que as tuas Cartas de Amor e Guerra incendeiam-me a memória na razão directa do respeito que me provocam. Começo pelo fim, em que sou mais breve, para dizer de quanta admiração sinto por essa cumplicidade entre ti e a Dionilde, tua mulher, nascida no tempo do amor e dos segredos, trazida pela vida fora, chegando hoje à comum aceitação da partilha dessas palavras escritas, tão intensas de paixão e raiva, que só os amantes sabem dizer. (...)


(...) A coluna estava pronta para se pôr em marcha. À frente o rebenta minas, logo atrás uma das Panhard’s do EREC 2454, depois um Unimog com munições para o Óbus 14 e as restantes viaturas. Eram seis camionetas civis que, vindas de Bissau, tinham sido cambadas, uma a uma, através do Rio Mansoa para João Landim e daí escoltadas até Bula, onde foi organizado o comboio militar que iria levar os reabastecimentos ao aquartelamento de Binar. (...)


(...) Eu tinha dois doutores. Era para ter três, mas perdi um mesmo à saída da escada de portaló. Era um oftalmologista em quem alguém descobriu, logo ali, insuspeitadas capacidades para ver fundo na raiz dos dentes, razão porque ficou em Bissau para uma especialização de três meses em medicina dentária, findos os quais percorreu todos os quadrantes dessa Guiné, em socorro de algum militar carente dos seus serviços. (...)


(...) Já era noite fechada em Bula quando o Teixeira, meu soldado maqueiro, veio ao bar dizer-me:
– Furriel, está uma mulher à porta de armas a pedir para tratarmos o filho.
– Já lá vou.
– Mas, ó furriel, olhe que o miúdo se não está morto, parece.
– Leva-a para a enfermaria que eu é só acabar o café. (...)


(...) - Então doutor, o puto safa-se?
Não me respondeu. Limitou-se a olhar-me assim como quem diz “vamos ver”, e a dizer-me com um sorriso benevolente:
- Vá lá dormir que você está com cara de quem precisa de descansar. (...)


(...) Bula, 15 de Abril de 1969, depois das oito da noite.

Ofegantes, os noventa cavalos da velha GMC galgaram a cancela do aquartelamento e estacaram às dez rodas em frente ao bar. Ao lado do condutor ergueu-se o Caeiro e gritou-me:
– Salta práqui, ó pira, que esta noite vai haver espectáculo no Esquadrão. (...)

(**) Manuel Gardete Correia (1928-19_?)



Fonte: Assembleia da República > Deputados à Assembleia Nacional (1935-1974)

quinta-feira, 27 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12905: Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (13): O fadista regressa ao palco - I

1. Mensagem do nosso camarada Armando Pires (ex-Fur Mil Enf.º da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70), com data de 26 do corrente:

Meu Caro Luís Graça,  Camarada.

Acontece que faço anos. Um número redondo. Muito redondo. Faço 69 anos de idade.
Decidi presentear-me a mim próprio com mais um episódio da série "Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista". Um episódio, também ele, com um número fetiche. O número 13.

Noutro anexo, envio uma fotografia aérea de Bissorã, para o caso de achares que, no texto original, a deves redimensionar.
 




2. Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (13):  O fadista regressa ao palco

[, foto à esquerda. o jovem aprendiz de enfermeiro, 1968, Hospital Militar Principal, Lisboa]

Tirando uns mal entendidos com a rapaziada do Morés, os dias corriam pachorrentos em Bissorã.

Desde logo porque o Rodrigues, quando à chegada lhe fui oferecer os meus préstimos, ficou-me muito agradecido mas respondeu que “a malta cá se arranja”. A malta era a CCAÇ 2444, mais conhecida pelos “Coriscos”, companhia da qual o Rodrigues, Felizardo Rodrigues, era furriel miliciano enfermeiro. O felizardo neste caso era eu, melhor dito, até, era a minha equipa, porque com uma companhia operacional a prescindir do nosso apoio, passámo-nos a ocupar, a tempo inteiro, das micoses, paludismos e gonorreias entre os nossos, e da saúde de toda a população em geral, coisa que caía muito bem dentro dos relatórios da “psico-social”.

O Dr. Oliveira, deixemos lá o alferes de lado que ele era médico, não era militar, começava as manhãs na nossa enfermaria e, depois do almoço, preenchia as tardes com umas consultas na enfermaria civil.
– Ó Pires, temos um problema, pá.

Temos, era um eufemismo por ele muito usado,  sempre que pretendia dizer que EU tinha um problema. Contou-me que com um elevado sentido de oportunidade, e aqui que o senhor das almas me perdoe, o senhor enfermeiro civil morrera pouco antes da nossa chegada.

Num ápice, quem passou a ter um problema,  foi o Maltez, meu soldado maqueiro, a quem eu mandei avançar ao reconhecimento. O Maltez era uma espécie de “pau para toda a obra”, de quem e de cujos méritos falarei em tempo mais oportuno.

A enfermaria civil era uma casa térrea mas arejada, com gabinete médico, área de internamento para 12 camas, e uma dependência onde funcionava a enfermaria do Rodrigues. Comecei logo por embirrar com esta separação. Isto é, enfermaria dos operacionais para um lado, a da CCS para o outro. E no caminho que vinha fazendo pelo meio da vila,  dei comigo a embirrar com tudo o resto.

Já o escrevi, em Bissorã não existia quartel. O quartel é, por definição, pelo menos na minha definição, um espaço delimitado em cujo interior se concentram homens, instalações e serviços. Bissorã era assim como que uma espécie de “cidade” abandonada pelos civis, cujas casas foram, convenientemente, ocupadas pelos militares.

E no meu fraco entender, isto em nada facilitava o tal “espirito de corpo” muito propagandeado nas directivas militares. Para me fazer entender, socorro-me de uma fotografia aérea de Bissorã, de autoria do Cap Carlos Oliveira, e que devidamente autorizado retirei do “website” leoesnegros.com.sapo.pt/



Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Foto nº 1 > Vista aérea



Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Foto nº 1 A > Vista aérea (parcial)


Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Foto nº 1 B > Vista aérea (parcial)

Foto: Cortesia da página do © Carlos Fortunato > CCAÇ 13, Leões Negros  > Guiné - Bissorã  [Edição: LG e AP]

Legendas [Armando Pires]:

1 – Caserna da CCAÇ 2444, depois da CCAÇ 13
2 – Sede da Administração de Bissorã
3 – Enfermaria civil
4 – Messe de oficiais
5 – Secretaria da CCS, Transmissões e espaldões de morteiros
6 – Casernas e refeitório da CCS
7 – Quartos de sargentos da CCS e bar
8 – Secretaria do comando do batalhão no r/c e quartos dos oficiais no 1º andar
 9 – Clube social e cinema de Bissorã
10 – Bar de sargentos da CCAÇ 2444, depois da CCAÇ 13
11 – Quartos de sargentos da CACÇ 2444, depois da CCAÇ 13
12 – Armazém de armamentos, enfermaria da CCS e Oficinas auto
13 – Messe de sargentos
14 – Campo de futebol.

Pois deu-se o caso que num certo fim de tarde, indo eu de 7 para 12 passei em 10 e ouvi uma viola a tocar.

Poupando-lhes a maçada de revisitarem a legenda, quero eu dizer que tendo saído do meu quarto para ir à enfermaria ver como marchavam as coisas, passei à porta do bar de sargentos da 2444 de cujo interior saiam uns acordes de viola, que por acaso até me soarem bem ao ouvido.
– Pode-se entrar, camaradas?

Entrei, apresentámo-nos, sai um Johnnie Walker com duas pedras de gelo a selar o momento, e dei comigo a pensar que o gajo da viola era o mesmo que, no dia da minha chegada, me ia “atropelando” com a mota.
– Ouve lá, pá, tu não és o João Rebola?

Claro que era ele, sim senhor, contei-lhe que tinha sido o Filipe a dizer-me quem ele era, que isso se passara logo no dia da minha chegada, quando, à saída dos quartos de sargentos da CCS, ele, João Rebola, que vinha de mota, desenhara uma perfeita “chicuelina” para evitar atropelar-me (P12023).

Gargalhada geral, venha de lá esse abraço, “agora tenho de ir lá acima à enfermaria ver como estão as coisas, mas hei de vir aqui mais vezes que talvez ainda façamos umas fadistices".

Lá na enfermaria estava tudo bem, o que nem era de estranhar dada a qualidade do pessoal da minha equipa, saí para ir jantar “à D. Maria” e tropecei, de novo, no João Rebola.
– Queres boleia, pá?

Primeiro: a D. Maria e o marido, o senhor Maximiano, um velho casal de cabo-verdianos, tinham um restaurante que era subvencionado pelo exército para funcionar como messe de sargentos. Segundo: o Rebola vinha a sair do quarto de sargentos da 2444, que era ali quase paredes meias com a minha enfermaria, e indo jantar à messe, tal como eu ia, convidou-me a fazer “a viagem” na sua motorizada.
– Tens medo de andar nisto, pá?
– Só não sei andar, mas medo de andar não tenho.
– Ó pá, mas se quiseres aprender eu ensino-te já. Isto é o mesmo que andar de bicicleta.

E foi assim que o João Rebola, antes de ser meu viola privativo, se transformou no meu instrutor de motorizada.




Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) >Guiné >  O furriel miliciano João Rebola na “nossa” motorizada.

Numa vertiginosa sucessão de factos ocorridos após “a decapitação” do comando do batalhão, o major Candeias, que foi direitinho a Bissau, foi substituído nas operações pelo, entretanto promovido a major, capitão Alcino, que era o comandante da CCS, chegando para ocupar o seu lugar o senhor capitão Luís Andrade Barros.

Foi este senhor capitão que me chamou e que manteve comigo uma cordial conversa a versar mais ou menos estes termos.
– Ó furriel Pires, o nosso comandante pretende estreitar os laços de amizade e de cooperação entre as nossas tropas e a comunidade civil de Bissorã, e propôs-me que realizássemos no nosso bar de sargentos, que tem espaço e excelente condições, uns serões sociais, animados com musica e jogos de mesa, eu pensei em fazermos umas sessões de bingo aos sábados à noite, e o nosso comandante até me disse constar entre os nossos oficiais que o senhor canta muito bem o fado…
"Olha para onde vens tu, ó Barros!", pensei eu, ao mesmo tempo que atalhei aquela espécie de música para encantar meninos, fazendo-lhe uma declaração definitiva.
– Pois é, meu capitão, mas fará o favor de dizer ao nosso comandante que comigo não há fados à capela.

O senhor capitão pôs um ar surpreendido, juro que até pensei que ele me ia dizer que os fados eram no bar, não eram na igreja do capelão Baptista, mas dois ou três segundos depois ficou-se por um pedido de esclarecimento, assim como “o que é que o nosso furriel quer dizer com isso?”.
– Meu capitão, quero dizer que., sem acompanhamento, sem guitarra nem viola, eu não canto.

O recado foi levado ao senhor comandante, a conversa decorreu em plena messe de oficiais, e quem encurtou razões à conversa foi o alferes miliciano Marcão, comandante do 2º grupo de combate da 2444, cujo anunciou que tinha no seu grupo um furriel que tocava muito bem viola.

O furriel de que o Marcão falava era, como me parece ser fácil de ver, o João Rebola.

Aqui também acho que é hora de encurtar parágrafos à história e dizer que as sessões de Bingo foram por diante, que o João Rebola trouxe consigo outro exímio violista, o soldado de transmissões Vilas Boas, e que depois de várias horas de necessários ensaios lá fizemos a nossa apresentação pública.

Todos os sábados à noite, o bar de sargentos da CCS enchia de tropa e civis para as sessões de bingo, e, modéstia à parte, rebentava pelas costuras quando chegava a hora do fado.



Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Sentimento e casa à cunha, em mais uma noite de fados. Eu, acompanhado pelo João Rebola, à esquerda, e pelo Vilas Boas, à direita.



Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Noite de bingo no bar de sargentos da CCS. Eu canto os números, o furriel Orlando Bonito (já falecido) ordena as bolas saídas, o capitão Andrade Barros supervisiona o sorteio.







Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70) > Três aspectos do bar de sargentos da CCS


Fotos (e legendas): © Armando Pires (2014). Todos os direitos reservados

E tudo foi assim até que chegou o mês de Junho de 1970. A Bissorã chegaram os rapazes da CCAÇ 13, formada originalmente por quadros e especialistas metropolitanos da CCAÇ 2591, a quem em Bolama se juntou pessoal guineense, predominantemente de etnia balanta. Chegaram para integrar o dispositivo e manobra do BCAÇ 2861, o meu batalhão, rendendo a CCAÇ 2444 que foi terminar o seu tempo de comissão em Binar. E,  com ela, lá foram o João Rebola e o Vilas Boas.

Quer isto dizer que “calaram-se as guitarras, calou-se o fadista, e acabou-se o fado”.

Só não acabou a história.

Vão ver mais tarde como o fadista se transformou no locutor do “Programa das Forças Desarmadas”.
______________

Nota do editor:

Postes anteriores da série:

19 de fevereiro de  2014 > Guiné 63/74 - P12742: Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (12): Chegou Polidoro, "O Terrível"

(...) Queiramos ou não, a primeira imagem, a primeira impressão que causamos, acompanha-nos vida fora, cola-se-nos à pele como lapa. Podemos melhorá-la, ou piorá-la, “vê lá tu, pá, quem diria que aquele gajo se transformava no que é hoje”, mas a primeira impressão fica para sempre. À primeira, eu vi o Polidoro assim. Emproado, como um pavão. Escreva-se, por ser verdade, ele fez tudo menos querer causar uma primeira boa impressão. (...) 

23 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12333: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (11): A decapitação do Comando

(...) Aquelas primeiras horas em Bissorã não foram fáceis. Desde logo, como já escrevi, o não me sentir dentro de um quartel. Era assim a modos como que um exército que tivesse ocupado uma cidade e “vamos lá instalar-nos”. Não quero com isto dizer que fossem más aquelas acomodações. Antes pelo contrário. Mas num quartel está ali tudo próximo, estamos ali todos juntos, tipo ó militar chegue aqui, e em Bissorã não, era mais ó furriel dê um salto à enfermaria e lá ia eu, no jeep, rua acima. E depois, o que também me fez confusão, abrigos "cá tem". (...)

10 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12023: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (10): Alô Bissorã, cheguei!!!

(...) Portanto, o DO aterrou em Bissorã eram nove da manhã. Nem fanfarra nem guarda de honra à minha espera. Apenas um Unimog para me levar a mim, mais ao correio e outras mercadorias que o avião transportara. Sem esquecer, evidentemente, o Machado, o meu cabo enfermeiro, que viera receber-me, dar-me as boas vindas, e levar-me ao comando onde era devida a minha apresentação ao comandante da companhia. (...)

30 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11994: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (9): Um reencontro para agasalhar a idade


(...) Mais um reencontro para agasalhar a idade. Estava eu posto em sossego e chama-me o João Rebola para perguntar:
- Ó Pires, sabes quem está aqui?

A pergunta foi feita através desse prodígio da comunicação chamado Skype. Sabem os que sabem, quem não sabe fica a saber que é um software que podemos instalar no computador, e que nos permite falar com qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, e, o melhor de tudo, estar a vê-la do outro lado. (...) 



(...) Tal como prometera, envio um conjunto de 12 (doze) fotografias de Bula. Tenho dúvidas quanto à forma de as editar. Por essa razão permito-me enviar duas versões. Como podes ver, a que tem o titulo de Bula 2 ocupa menos espaço no blog, mas algumas das fotos perdem em qualidade. Deixo ao teu critério, ou ao critério do "Editor de Dia", escolher qual das duas versões publicar. Do mesmo modo, também fica ao vosso critério decidir em que série as inscrever. Se na série "furriel enfermeiro, 
ribatejano e fadista", se em "Álbum fotográfico..." do que for. (...) 



(...) A oito de agosto, deixei Bula com um nó na garganta e sem saber que não mais lá voltava. Tinha férias marcadas para Portugal e pedi ao comandante que me permitisse ir uns dias mais cedo para Bissau, de forma a poder visitar o Daniel no Hospital Militar. (...)


(...) Raios te partam, Manel Jaquim, que as tuas Cartas de Amor e Guerra incendeiam-me a memória na razão directa do respeito que me provocam. Começo pelo fim, em que sou mais breve, para dizer de quanta admiração sinto por essa cumplicidade entre ti e a Dionilde, tua mulher, nascida no tempo do amor e dos segredos, trazida pela vida fora, chegando hoje à comum aceitação da partilha dessas palavras escritas, tão intensas de paixão e raiva, que só os amantes sabem dizer.  (...) 

3 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11048: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (5): O dia em que a minha mala voou

(...) A coluna estava pronta para se pôr em marcha. À frente o rebenta minas, logo atrás uma das Panhard’s do EREC 2454, depois um Unimog com munições para o Óbus 14 e as restantes viaturas.  Eram seis camionetas civis que, vindas de Bissau, tinham sido cambadas, uma a uma, através do Rio Mansoa para João Landim e daí escoltadas até Bula, onde foi organizado o comboio militar que iria levar os reabastecimentos ao aquartelamento de Binar.  (...)

(...) Eu tinha dois doutores. Era para ter três, mas perdi um mesmo à saída da escada de portaló. Era um oftalmologista em quem alguém descobriu, logo ali, insuspeitadas capacidades para ver fundo na raiz dos dentes, razão porque ficou em Bissau para uma especialização de três meses em medicina dentária, findos os quais percorreu todos os quadrantes dessa Guiné, em socorro de algum militar carente dos seus serviços. (...) 

7 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10629: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (3): Enquanto não chegar a evacuação, ao meu lado ninguém morre! ... Promessa cumprida! (Parte II)

(...) Já era noite fechada em Bula quando o Teixeira, meu soldado maqueiro, veio ao bar dizer-me:
– Furriel, está uma mulher à porta de armas a pedir para tratarmos o filho.
– Já lá vou.
– Mas, ó furriel, olhe que o miúdo se não está morto, parece.
– Leva-a para a enfermaria que eu é só acabar o café. (...)


5 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10622: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (2): Enquanto não chegar a evacuação, ao meu lado ninguém morre! ... Promessa cumprida! (Parte I)

(...) - Então doutor, o puto safa-se?

Não me respondeu. Limitou-se a olhar-me assim como quem diz “vamos ver”, e a dizer-me com um sorriso benevolente:
- Vá lá dormir que você está com cara de quem precisa de descansar. (...) 


(...) Bula, 15 de Abril de 1969, depois das oito da noite.

Ofegantes, os noventa cavalos da velha GMC galgaram a cancela do aquartelamento e estacaram às dez rodas em frente ao bar. Ao lado do condutor ergueu-se o Caeiro e gritou-me:
– Salta práqui, ó pira, que esta noite vai haver espectáculo no Esquadrão. (...)

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12742: Furriel Enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (12): Chegou Polidoro, "O Terrível"

1. Mensagem do nosso camarada Armando Pires (ex-Fur Mil Enf.º da CCS/BCAÇ 2861, Bula e Bissorã, 1969/70), com data de 11 de Fevereiro de 2014:

Meu caro Luís Graça.
Camarada.
De baraço ao pescoço, quero pedir-te desculpa por só agora retomar a série "furriel enfermeiro, ribatejano e fadista".
Qualquer explicação poderia suar a falso, pelo que não a apresentarei. Mas para sossego de todos que sobre a ausência se interrogam, direi que nada de grave se passou, felizmente. Outras escritas por cumprir por mim chamaram.
Aqui tens o 13º episódio da saga. Depois do relato da saída do comandante César Cardoso da Silva, era inevitável falar do homem que o substituiu.

Um abraço para ti, para os nossos editores e todos os restantes camaradas.
Armando Pires


FURRIEL ENFERMEIRO, RIBATEJANO E FADISTA

12 - Chegou Polidoro, o terrível

(...) Estou a vê-lo, ao Polidoro, galões reluzentes sobre um camuflado acabadinho de sair do Casão Militar, olhos protegidos pelas lentes escuras de uns inevitáveis Ray-Ban, pingalim tremelicando na mão direita, voz forte e decidida advertindo a força em parada: - Não me tomem por periquito, que de guerra venho eu farto.

“in armando pires, P4778”

Queiramos ou não, a primeira imagem, a primeira impressão que causamos, acompanha-nos vida fora, cola-se-nos à pele como lapa. Podemos melhorá-la, ou piorá-la, “vê lá tu, pá, quem diria que aquele gajo se transformava no que é hoje”, mas a primeira impressão fica para sempre.

À primeira, eu vi o Polidoro assim.
Emproado, como um pavão. Escreva-se, por ser verdade, ele fez tudo menos querer causar uma primeira boa impressão.

O tenente coronel João Polidoro Monteiro chegou a Bissorã nos primeiros dias de Outubro de 1969, para comandar o BCAÇ 2861 em substituição do tenente coronel César Cardoso da Silva. Seguramente, pelas razões que, sucintamente, relato no meu P12333, alguém em Bissau deve ter dito a Polidoro Monteiro, “vá ali comandar aqueles gajos e meta-os na ordem".
Se foi esta a ordem, se era este o efeito pretendido, então não podiam ter escolhido melhor. Como se diz na gíria do futebol, Polidoro fez uma entrada a pés juntos, uma entrada a matar.
Ao advertir-nos que vinha farto de guerra, fez-nos sorrir. Sabíamos da sua proveniência do comando da Guarda Fiscal, em Moçambique.

 A frase seguinte do seu discurso de apresentação foi para avisar que não permitiria a nenhum militar que andasse mal uniformizado dentro do quartel e, em particular, pela vila de Bissorã. O aviso preocupou a todos. Mas o novo comandante não mandaria destroçar sem nos transmitir a informação que nos deixou incrédulos. Iria mandar realizar um exercício de defesa de Bissorã.
Seria um simulacro de ataque inimigo, em que todos e cada um realizariam tarefas precisas e pelo comando pré-determinadas, por forma a garantir adequada protecção da população e das instalações militares.

Ainda mal refeitos da surpreendente determinação já o exercício se iniciava com um toque a rebate no sino da igreja, que teve como efeito, por entre sorrisos mal contidos, ver o padeiro correr em defesa da padaria, os artilheiros a mergulharem no espaldão de morteiros, eu na enfermaria, sentinela alerta, à espera do que desse e viesse, e, entre especialistas vários, até o pessoal das oficinas, de G3 na mão, em defesa, quiçá, das viaturas.

Ai Polidoro, Polidoro, o que tu foste arranjar. Acordaste o leão.
Três dias depois do divertido exercício, mais propriamente a 8 de Outubro, pelas 21h10, o IN flagelou a vila de Bissorã, com particular intensidade a tabanca da Outra Banda, habitada pela etnia balanta. Foram ali incendiadas várias moranças, roubaram gado, causaram vários feridos entre a população, e, mais grave do ponto de vista militar, tendo chegado ao perímetro do arame farpado, os guerrilheiros entraram num abrigo de onde tinham fugido os dois milícias ali em serviço, levando com eles a metralhadora Breda M37 que lá ficara.

O comandante Polidoro foi rápido na resposta a esta acção. Chamou o cap. mil. João Abreu, comandante da companhia independente CCAÇ 2444, e ordenou-lhe que fosse colocado um pelotão em permanência no alto da Outra Banda, assim conhecida por ficar “do lado de lá” do Rio Armada. Era de lá que, preferencialmente, PAIGC flagelava Bissorã e assaltava as moranças.
Vila e tabanca apenas ficavam unidas por uma estreita ponte em madeira, que passava sobre o rio.

Numa tosca casa de piso térreo que lá havia, mesmo no lugar de onde partia a estrada para Binar, acomodaram-se os homens da 2444 que abriram extensas valas defensivas, em zig-zag, ao longo do arame farpado, a partir das quais reagiriam ao fogo inimigo. Não demoraram muito as obras. Uns escassos cinco dias a partir da ordem dada pelo comandante.
Foi “inaugurado” aquele destacamento a 14 de Outubro, precisamente o dia escolhido pelo inimigo para voltar a flagelar Bissorã, mas desta vez vindo o fogo do lado da estrada do Barro.

Foto 1 - Bissorã, 1970 – O destacamento da Outra Banda. A protecção à casa já foi levada a cabo pelos homens da CCAÇ 13, à qual pertencia o fur. mil. Adriano, que se vê em primeiro plano. 
Foto © cedida pelo Fur Mil Carlos Fortunato

O Comandante Polidoro Monteiro levou mais tempo a reagir ao ataque que o In levou a cabo a partir da estrada do Barro. Foi mesmo preciso que lá voltasse uma e outra vez, que a CCAÇ 2444 fosse rendida pela CCAÇ 13, que acabara de se formar, para tomar uma decisão.
Comandava a 13 o cap. mil. Aberto Durão.

Com este a seu lado, o comandante Polidoro chamou o Furriel Miliciano Carlos Fortunato, especialista de armas pesadas mas que em Bolama fez um curso suplementar de minas e armadilhas, por ser tido como um rapaz calmo e sereno, e incumbiu-o, num lugar que indiciava ser aquele onde os guerrilheiros instalavam as suas armas pesadas, de montar um dispositivo capaz de eliminar a ameaça.

O Fortunato (trato-o assim por ser aquele que preside à Associação Ajuda Amiga, da qual também faço parte), levou das oficinas auto meia dúzia de bidons do gasóleo, carregou-os com dinamite, acabou de os encher com tudo o que pudesse transformar-se em armas mortíferas, uniu-os por um fio condutor que vinha enterrado até à casa do gerador, onde foi ligado a um dínamo de manivela.
O In atacava, dava-se à manivela, os bidons explodiam e pronto.

Mas um mês depois de montada a armadilha, o furriel Fortunato voltou a ser chamado, desta vez para a “desarmadilhar”. Das razões da ordem ele não cuidou de saber. Mas, comentando o caso, é sua ideia que alguém, fosse em Bissau fosse na administração da vila, não terá gostado do plano, não terá gostado do local onde ele foi executado, por ser área agrícola, zona de cultivo das populações.
Resultado, depois de tomadas todas as providências, o furriel Fortunado deu à manivela e BUM!!! Naquele lugar não ficou terra firme para instalar morteiros inimigos, nem terra capaz de semear o que quer que fosse.

Foto 2 - Bissorã, 1970 – Em dia de festa popular, e chegado de uma deslocação ao sector, o ten. cor. Polidoro Monteiro , à direita, com o alf. capelão Augusto Baptista.

Um oficial de parada. Muitos o qualificaram assim.
Falta de jeito ou feitio, o certo é que o comandante tinha uma especial queda para “chatear” a malta. A farda era o seu alvo preferencial.

Por muito estranho que pareça, esse foi também o discurso de abertura que levou às três companhias operacionais do batalhão, a CCAÇ 2464, em Binar, a 2466, em Encheia, e a 2465, no Bissum, quando a elas se foi apresentar.
Em Bissorã, foi com particular mau estar que foi recebida punição do Furriel Miliciano do PelRec Aviz Pires, por andar sem boina.

E o voleibol, o seu desporto favorito?
Sete da manhã. Sem aviso mandava acordar um grupo de oficiais e sargentos por ele escolhido:
- O senhor comandante manda dizer que já está lá em cima no campo à espera. E que ninguém chegasse depois das 7 e 30.
- Filipe, já aí veio o motorista dele acordar a malta.
- Que horas são?
- Sete.
- Ó Pires, não gozes, deixa-me dormir.
- Ok! Vou andando que não estou para aturar o gajo.

Pouco passava das 7h30 quando ao campo chegou o Filipe, levado pelo motorista do comandante, que o fora buscar ao quarto.
- Olhe lá, ó senhor furriel, julga que está nalguma colónia de férias?

Deixemos ficar no olvido o azar que o Dr. Oliveira lhe tinha quando, àquela hora da noite em que ele achava já não ser recomendável andar na rua, o comandante o chamava para a mesa do bridge. E no entanto, este homem empertigado lá no alto dos seus galões, era, nas horas vagas, um tipo afável no trato, um bom conversador.

Foto 3 - Bissorã,1970 – Numa recepção oferecida pela comunidade local, eu à conversa com o ten. cor. Polidoro Monteiro. À esquerda, o comandante da CCAÇ13, cap. mil. Alberto Durão.


Carta ao tenente coronel João Polidoro Monteiro

Meu Comandante
Não sei se aí, no lugar onde se encontra, tem acesso à internet, e se, caso afirmativo, é seu hábito ler o blog do Luís Graça & Camaradas da Guiné.
O Luís é aquele rapaz furriel miliciano da CCAÇ 12, que o meu comandante conheceu em Bambadinca, quando para lá foi, depois de nos comandar a nós, comandar o BART 2917, onde, deixe-me que lhe diga, o senhor granjeou, entre aqueles que dele faziam parte, grande estima e consideração, como homem e como militar.
Eu escrevo no blog do Luís, acervo maior da nossa memória sobre a guerra e o nosso dia a dia na Guiné, e nele escrevi sobre si. Não quero, se se der o caso de me ler, que pense tratar-se de um qualquer ajuste de contas (cobardia de que não sou capaz) ou que fosse minha intenção beliscar a sua imagem de militar responsável e competente. 
No local onde escrevo ninguém muda a sua condição humana depois de morto. Somos o que somos, escrevemos o que fomos, conscientes de que não escrevemos para nós, mas para assegurar que no futuro ninguém nos acusará de não termos dito ao que fomos, porque fomos e o que fizemos. 
Interpretei na escrita o sentimento que o senhor deixou em nós, homens do BCAÇ 2861. “O homem é o homem e as suas circunstâncias”, escreveu Ortega y Gasset. Não me tomo de filósofo nem tão pouco de psicólogo capaz de ler o comportamento humano. Mas quero que saiba que muitos de nós (não posso dizer todos) sempre esteve presente, como se quiséssemos “desculpabilizá-lo”, o lugar de onde vinha e o que lá fazia, e o que de nós, e sobre nós, ainda que de forma injusta e deturpada, deve ter ouvido em Bissau. 

Meu Comandante
O senhor não foi “pera doce”. Manteve as tropas em exagerado sentido. Não granjeou particulares simpatias. Ouvindo um e todos, desculpe que lhe diga mas não deixou saudades. Mas é certo que também ninguém esqueceu aqueles momentos em que, para defender os seus homens dos ataques “exteriores”, até os tomates lhe subiam à garganta. E eu que o diga, quando em Bissau me que quiseram fazer a folha porque pedira uma evacuação urgente para o 1.º Cabo Catarré, na altura a fazer de barman no bar de sargentos, o qual ao meter cervejas no congelador deixou que uma garrafa caísse sobre as demais, provocando uma “explosão” de vidros, indo um deles, minúsculo, cravar-se-lhe na íris.
Ao vê-lo na enfermaria pensei, “eu aqui não toco, se isto não for tirado rapidamente ficas sem olho, vais para Bissau num fósforo”. 
Ainda estou a ver o ar estupefacto da enfermeira paraquedista, ao ver caminhar para o DO um militar com um enorme penso num olho e eu a dizerr, “é este”
Quando de Bissau chegou a ordem para averiguar os factos, saberá o meu comandante que todos ouviram os seus gritos lá dentro do gabinete.
- Se o vidro se espetasse no olho do cu dos gajos, já havia pressa.

Ainda hoje não sei com quem o meu comandante falou, ou o que falou, sei que dias depois me tranquilizou o Dr. Oliveira dizendo-me, “está tudo resolvido”.
Não podia haver maior ironia.
O meu comandante a evitar uma possível punição ao homem a quem, poucos dias depois de ter chegado a Bissorã, chamou ao seu gabinete para lhe dizer: 
- Sei que andas aí armado em vivaço, mas olha que te dou uma porrada.

Coisas que lhe sopraram aos ouvidos mas que nós, eu e o senhor, por respeito a terceiros envolvidos, mantemos em silêncio. Além de que o tempo se encarregou de dar outro e melhor rumo ao nosso relacionamento, não podendo eu esquecer o apreço que mostrou pelo trabalho da minha equipa, nem a conversa que comigo teve, no seu gabinete, pouco tempo antes de nos separarmos.
- “O primeiro sargento Portugal já tem indicações para tratar do processo da entrega da medalha de Comportamento Exemplar a que tens direito. (nota: Medalha de Cobre – A conceder aos sargentos e praças que completem 3 anos de serviço efectivo e que nunca tenham sofrido qualquer punição disciplinar ou criminal – mantendo-se na actualização feita pelo dec 566/71). Enquanto o processo não fica concluído, tens já aqui a barreta indicativa, juntamente com a barreta da Medalha das Campanhas, que passas desde já a usar no teu uniforme".

E usei, sim senhor, usei e com cagança, sendo elas bem visíveis na fotografia militar com que me identificam lá no blog do Luís Graça. Mas olhe, também deixe que lhe diga, ainda bem que o primeiro Portugal teve mais que fazer do que dar andamento ao processo e eu, chegado a Chaves, muita vontade de me meter a caminho de casa.
Aqui para nós, tendo em vista o que fui e fiz “fora das horas de serviço”, comportamento exemplar era um bocado exagerado. 
Já vai longa esta carta. 
Termino dizendo-lhe que lamentei não ter estado presente naquele nosso almoço de confraternização, realizado na Pateira de Fermentelos, em 1991, porque foi o único a que o meu comandante foi, e, depois disso, não mais o vi. 
Tinha sido uma boa oportunidade para falarmos sobre o que agora lhe escrevo. Mas quem sabe, ninguém sabe, se um dia não nos encontraremos “por aí”, com tempo e oportunidade para pôr a conversa em dia, e eu dizer-lhe, à minha maneira, “olhe que o senhor também foi um bom sacana”. 
Um abraço do Armando Aires 
ex-Furriel Miliciano Enfermeiro
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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12333: Furriel enfermeiro, ribatejano e fadista (Armando Pires) (11): A decapitação do Comando

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11470: No 25 de abril de 1974 eu estava em... (17): Bissorã, a ouvir as notícias da BBC, depois de regressar, de manhã, de um patrulhamento noturno (Henrique Cerqueira, Bissorã)

1. Mensagem do Henrique Cerqueira (ex- fur mll, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, e CCAÇ 13, Biambe e Bissorã, 1972/74)

Data: 25 de Abril de 2013 à12 12:49
Assunto: O meu 25 de Abril de 1974


Luís Graça:

Hoje,  25 de Abril de 2013, resolvi narrar um pouco do meu 25 de Abril de 74 . Pretendo assim homenagear deste modo essa data já com 39 anos mas que ainda está bem presente nas minhas memórias.

O texto não tem grande novidade mas mesmo assim resolvi mandar para apreciação dos meus camaradas editores que se acharem por bem o publiquem no nosso blogue que ainda respira festividade pelo seu aniversário.
Um abraço

Henrique Cerqueira


2. O meu 25 de Abril em 1974

Pois é,  hoje dia 25 de Abril de 2013, trinta e nove anos depois trouxe-me á memória o meu 25 de Abril de 1974 passado na Guiné.

Tinha ido eu com o nosso grupo de combate no dia 24 de abril de 1974 fazer mais um patrulhamento para a zona situada entre Bissorã e Biambe,  o qual se porlongou por toda a noite e felizmente sem 
qualquer acontecimento a assinalar. 

Pese embora a nossa guerra noturna com os mosquitos tudo correu com normalidade. Pela manhãzinha foi a hora de regressar ao aquartelamento e como era normal a malta quando chegava a Bissorã dava uma passagem pelo bar dos Sargentos tanto para saciar a sede como para depositar o armamento mais pesado,  pois que era nas traseiras do bar que havia a arrecadação de armamento.

Então nós nos deparamos com toda a malta junto de um pequeno rádio a ouvir notícias da BBC sobre os acontecimentos na Metrópole. Lembro-me que na altura se encontrava lá um elemento da PIDE/DGS e não se cansava de ameaçar o pessoal por estar a ouvir as ditas notícias (mal ele sabia o que o esperava).

Toda a gente ainda incrédula com a possibilidade do fim da guerra mas mesmo assim foi como se nada mais importasse e, a partir daí,  começou logo a rolar cerveja a festejar. Eu até esqueci as ferradelas dos mosquitos da noite passada no mato.

Bom,  depois de já convencido das mudanças na nossa política e com o fim á vista,  lá me dirigi a casa onde me esperava a minha mulher e filho (pois que ambos viviam comigo em Bissorã) e dei a novidade,  o que foi recebida com alguma incredulidade. É que dias antes tinha sido avisado que devido ao agravar da guerra na Guiné teria que mandar embora a família para a Metrópole que até já estaria um navio em Bissau de prevenção para a evacuação dos civis .

A verdade é que,  como todos sabem,  nada disso aconteceu embora até meados de Maio tenha havido alguma atividade do PAIGC flagelando ainda a nossa posição com um ataque de misseis terra/ar sem que tenha havido qualquer estrago tanto humano como material, pois que os misseis caíram na periferia de Bissorã,  de certeza que intencionalmente.

A partir daí foi o que toda a gente sabe. Algumas convulsões populares contra as nossas tropas, possivelmente para mostrar um revolucionarismo de última hora. O que mais tarde se veio a revelar é  que a população temia era o futuro,  o que infelizmente se veio a confirmar pois que hoje a Guiné é "Independente" mas continua pobre e massacrada por interesses que nada tem a ver com o desenvolvimento daquele povo.

Bom,  e foi assim o meu 25 de Abril de 1974.

Henrique Cerqueira
Ex-fur mil CCAÇ 13,  Bissorã
Batalhão 4610 /72

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Nota do editor:

sábado, 20 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11430: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (18): Resposta nº 33: Henrique Cerqueira & Maria Dulcineia (NI) (Biambe e Bissorã, 1972/74)

1. Resposta nº 32 ao nosso questionário (*) >  Henrique Cerqueira, ex-Fur Mil da 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74), a que se associa também a sua Dulcineia (Ni), igualmente nossa tabanqueira:


(1) Quando é que descobriste o blogue ?

Quando senti necessidade de saber coisas de outros camaradas da Guiné. A data? Foi há bué de tempo.

(2) Como e através de quem ? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada)

Através de pesquisa no Google.

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia) desde quando ?

Sei lá mas já é á uma "porrada de tempo"

(4)  Com que regularidade vês/lês o blogue ? (diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...)

Geralmente todos os dias e certos dias várias vezes.

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)

Sim tenho mandado algum material e gostaria de continuar a mandar mais.

(6) Conheces também a nossa página no Facebook ? (Tabanca Grande Luís Graça)

Sim conheço a página no Facebook

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue ?

Raramente vou ao Facebook até nem tenho página e esporadicamente utilizo a página da Ni

(8) O que gostas mais do Blogue ? E do Facebook ?

 Como não gosto muito do facebook .Adoro o Blogue

(9)  O que gostas menos do Blogue ? E do Facebook ?

Gosto tanto do blogue que tenho dificuldade em dizer o que gosto menos. Do facebook, não sei comunicar ,daí não gosto do dito

(10) Tens dificuldade, ultimamente, de aceder ao Blogue ? ((Tem havido queixas de lentidão no acesso...)

Houve aí umas dificuldades, mas quanto a lentidão não há problemas agora tenho todo o tempo necessário. Verdade que não stresso com essas lentidões e ponho sempre culpas á Net.


[ Foto à direita:  "Este era o meu grupo na CCAÇ 13,  em Bissorã,  1972/74. Eram "Os Cobras".
Foto e legenda: © Henrique Cerqueira, 2013]


(11) O que é o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti ? E a nossa página no Facebook ?

Olha,  Luís,  o Blogue hoje em dia para mim é como um "complemento alimentar". É mesmo um espaço que me faz feliz e que no momento que abro a página eu só "vejo" jovens de vinte e tal anos. Deixa ver se me explico: É como se estivesse naquele ambiente em grupo, comunidade, camaradagem com mais ou menos problemas (mas achando que consigo viver melhor e com mais conhecimentos). Ou seja,  estou lá mas com a experiência e sabedoria de hoje. Bom,  numa palavra,  o blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné" representa para mim o oxigénio que se junta ao ar que respiro. Deve haver uma explicação lógica para esse sentimento.

(12/13) Já alguma vez participaste num dos nossos sete anteriores encontros nacionais ? Estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de junho, em Monte Real ?

Não e por diversas rasões. Certa vez porque achava que ainda não estaria integrado no "grupo", outra porque não foi possível e ainda - quem sab e? - porque me custará ver que afinal não será a mesma imagem que tenho quando estou no blogue. Olha,  Luís,  em alguns (poucos) encontros da malta da minha companhia foi para mim muito penoso andar a perguntar a alguns camaradas como se chamavam e o que faziam. É que já não conhecia a maior parte da malta com quem convivi. Quando estou no blogue é como se conhecesse e reconhecesse toda a gente,  mesmo aquela malta que nunca vi e que até são mais "antigos". Quanto a ir este ano a Monte Real ? Nem calculas como tenho "ganas" de estar presente mas ainda não consigo para já confirmar a presença.

(14)  E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar ?

TEM,TEM,TEM , Claro que TEM

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer:

Sugestão/Comentário: Continuemos com este blogue, nem que tenha de haver "invenção ficção ou outro (ão) qualquer"  e já agora obrigado pela oportunidade de ser amigo e camarada de todos os participantes deste Blogue.

Camarada Luís e restantes editores,   resolvi aderir ao vosso questionário no formato apresentado porque achei mais fácil escrever as respostas às questões apresentadas. Quero ainda acrescentar que tudo o que escrevo é sentido e sincero e em alguns casos pecará por defeito e nunca por excesso.

Um abraço a todos e parabéns por esta data querida e como sempre desejo aos aniversariantes: "Que esta data se repita por BONS ANOS".

Henrique Cerqueira e Ni

2. Mensagem da Maria Dulcinea (NI), com data de 28 de março, agradecendo aos editores e demais pessoal da Tabanca Grande que se lembraram da sua data de aniversário:


Olá, Luís Graça

Quero aqui expressar os meus agradecimentos pelos votos de Parabéns no meu aniversário. Muito me honrou verificar que todos os camaradas da Guiné e meus camaradas do blogue em que por afinidade fui admitida, me presentearam com os seus votos no blogue.

É bom, muito bom,  sentir essa proximidade com pessoas que têm em comum uma vivência passada durante uma determinada época da nossa vida.

Não sou uma participante muito ativa em termos de escrita ,mas na verdade sou leitora assídua do também meu blogue “Luís Graça & Camaradas da Guiné”. Considero-me talvez uma espécie de “retaguarda", junto do Henrique, sempre que estamos a ler e a comentar tudo que se tem escrito no Blogue. É claro que todos os assuntos tratados não me são absolutamente estranhos,  mas como será entendível quando estive em Bissorã o meu espírito naquele território era bem diferente do meu marido assim como dos restantes camaradas da altura. Não deixei no entanto de viver ativamente os momentos bons e menos bons dessa altura.

Por acaso até me envolvi bastante com vários elementos da população,  na ajuda e aprendizagem de alguns usos e costumes das pessoas de Bissorã . Assim como me interessei por acontecimentos passados entre o meu marido e seus camaradas militares .

Tenho muito gratas recordações, em especial do Natal de 1973,  passado em Bissorã, pois me dediquei a fazer rabanadas e aletria para os camaradas que nos visitaram essa noite. Creio até que essa noite teve um pouco de “magia” amenizando a carência da falta de familiares na noite tão importante da vida de qualquer português. Até porque era uma altura de grande incerteza e “medos” porque o Henrique já tinha sido avisado que possivelmente nós teríamos de vir embora porque a situação de guerra estaria ameaçada de piorar daí para a frente, o que de certo modo aconteceu, pois logo no dia 30/12 /73 sofremos um ataque com alguma violência . Felizmente as coisas não pioraram muito em Bissorã, mas tínhamos informação de outras localidades com gravíssimos ataques.

Finalmente o 25 de Abril chegou e foi um ”espiral” de acontecimentos. E finalmente regressamos,  sãos e salvos,  ao nosso lindo Portugal.

Luís Graça, já me alonguei um pouco, mas tudo isto é para reafirmar o meu agradecimento especial ao Luís e com o mesmo sentimento a todos os Tertulianos a quem  desejo sinceramente tudo de bom enquanto a vida permitir. E acreditem que o blogue tem sido a maior terapia para o Henrique assim como para mim. Jamais esqueceremos estes nossos amigos,  independente de qualquer cor,  raça ou religião. "NÓS ESTIVEMOS LÁ»

Um beijo muito grande a todos.

Maria Dulcinea Rocha

domingo, 25 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10723: Como estive tão próximo de ter ido para a 38.ª CComandos (Henrique Cerqueira)

1. Mensagem do nosso camarada Henrique Cerqueira* (ex-Fur Mil da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74), com data de 21 de Novembro de 2012:

Olá Camarada Carlos Vinhal
Hoje resolvi contar uma estória relacionada com a minha recruta nas Caldas da Rainha.
Esta estória poderá não dizer muito à nossa tertúlia, no entanto e como sempre fica ao teu critério publicar ou não.
Por agora é tudo.

Um abraço e saudações meus e da NI.
Henrique Cerqueira


Como estive tão próximo de ter ido para a 38ª de Companhia de Comandos 

Caros camaradas da Guiné e em especial todos os Comandos da 38ª, este texto pretende apenas e só ser mais um relato da minha passagem pela vida militar. Serve ainda para prestar aqui a minha homenagem a todas as tropas especiais e muito particularmente aos Comandos da 38ª que estiveram na Guiné entre 1972/74.

Pois é, eu estive quase, quase a fazer parte dessa valorosa Companhia de Comandos. Quer dizer, primeiro teria que provar durante a formação que seria merecedor da "Famosa Boina e Crachá", mas o que é certo é que essa situação não estava nos meus planos e eu explico o porquê.

Durante a recruta nas Caldas da Rainha, RI5, era frequente se comentar em "jornal da caserna" que a malta iria ser selecionada para os Comandos e quem fosse escolhido iria para Lamego e após a recruta seria incorporado numa companhia (que mais tarde se veio a saber ser a 38ª) que iria primeiro fazer o IAO numa província Ultramarina e só depois seria enviada para a Guiné. É então que num belo dia lá apareceu uma equipa de Comandos vestidos a rigor, nas suas fardas de camuflado, e com aquele aspeto altivo que todos nós conhecemos das tropas especiais. Confesso que me senti atraído por tal postura militar.

Foi dado inicio às provas de seleção e lá fomos executando aqueles percursos que toda a malta conhece que é a famosa pista de obstáculos. Conforme iam decorrendo as provas eu ia magicando como era que havia de me safar de ser selecionado, pois que os meus planos para o futuro eram bem diferentes daqueles que se estavam a "desenhar " naquela manhã de 1971. Foi então que quando nos aproximamos do famoso Pórtico eu arrisquei falar com o oficial (penso que era um Tenente). Perfilei-me todo e pedi licença para falar com ele. O oficial disse logo:
- Se pensas que te safas do pórtico tira lá o cavalinho da chuva que tens mesmo que ir lá para cima.

Eu respondi :
- Não meu Tenente, eu não quero é ir para os Comandos. Ele então mirou-me de cima a baixo e questionou porquê e se tinha medo de ser Comando ou de subir ao pórtico e que me deixasse de "mariquices".

Então arrisquei mais uma vez e disse :
- Meu Tenente eu não tenho medo de nada, só que já sou casado e o meu filho nasceu há três semanas e como tal eu pretendo fazer a recruta e depois a especialidade que me tocar e de imediato ir para o Ultramar, pois é esse o destino quase certo de todos nós e assim abrevio no tempo que me está de certeza destinado.

O que é certo é que o Tenente olhou para mim e disse :
- Tens cinco minutos para subir a corda, percorrer o pórtico a correr e saltar para a areia e depois se vê se serás Comando ou não.

Seu dito, meu feito, até parecia que já tinha feito aquilo milhares de vezes e logo que terminei o Tenente vaticinou :
- Boa, serás um excelente Comando e virou-me as costas.

Caí de "cu", mas que fazer?
Lá fui fazendo o resto dos obstáculos, mentalizando-me que iria mesmo para os Comandos.
No final do dia, o meu comandante de pelotão, que era um Alferes já em segunda comissão (era readmitido, segundo ele para continuar a estudar), disse-me que não sabia o que tinha acontecido mas que a minha estratégia tinha resultado, o Tenente dos Comandos não me tinha selecionado, de acordo com a minha vontade. Claro que fiquei satisfeito e lá segui o percurso que me foi destinado, ou seja Caldas da Rainha, Tavira, Elvas, Évora e depois Guiné. Felizmente cá estou hoje a contar esta estória que possivelmente só é importante para mim.

Abro um parenteses para homenagear aquele meu comandante de pelotão, porque nunca encontrei um superior tão cheio de humanidade e compreensão como ele. Lamentavelmente não me lembro do seu nome mas guardo o momento feliz de, no final da recruta, o pelotão se juntar e comprar um volante de competição para o seu carro que era um MINI.

Quanto  Famosa 38ª, tive dois encontros com eles no mato e uma outra vez com alguns em Bolama aquando da minha formação para as companhias Africanas numa das quais vim a ingressar, a CCAÇ 13, em Bissorã.

Quero dizer que eu sempre tive a perceção que nunca iria ser um grande militar e muito menos um militar de tropas especiais. No entanto sempre senti orgulho em ser amigo de antigos Camaradas de tropas especiais. Senti ainda grande orgulho quando o meu filho Miguel (que até nasceu aquando do episódio contado) foi para a tropa e ingressou na Policia Militar, sendo colocado em Oeiras na sede da Nato. No entanto, tal como eu, e mesmo com convite para continuar, ele não se sentiu atraído pela vida militar.

Só me resta dedicar aqui um abraço a todos os Comandos, e em especial aos Comandos da 38ª.

Henrique Cerqueira
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 23 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10292: Blogoterapia (214): A minha Praia (Henrique Cerqueira)

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10220: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (16): Os primeiros encontros, em Bissorã, com o inimigo de ontem (Henrique Cerqueira, ex-fur mil, CCAÇ 13, 1973/74)


Foto nº 3


Foto nº 3A


Foto nº 2A


Foto nº 2B


Foto nº 1A


Foto nº 1C


Foto nº 1B



Foto nº 4


Guiné > Região do Oio > Bissorã > CCAÇ 13 (169/74) > 1974 > Os primeiros (re)encontros, pacíficos, entre as NT e os guerrilheiros do PAIGC (fotos, 1, 2 e 3). Na foto nº 4, vê-se em primeiro plano o Henrique Cerqueir, saindo em patrulhamento com um Gr Comb da CCAÇ 13. Recorde-se que o Cerqueira esteve, como fur mil, no TO da Guiné, desde finais de Novembro de1972 até inícios de julho de 1974, primeiro na 3ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72 e depois na CCAÇ 13. Fotos editadas por L.G.

Fotos: © Henrique Cerqueira (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.




1. Mensagem de Henrique Cerqueira [, foto atual, à direita], de 27 de julho pp.:

Olá, camarada Luís Graça:

 Tal como prometido envio em anexo algumas das fotos que relembra o glorioso dia do primeiro encontro com as tropas do PAIGC em Bissorã e após 25 de Abril. Creio eu que foi em meados ou finais de Maio de 1974.


Como entenderás,  as fotos são pouco reveladoras para outras pessoas, pois que a principal imagem é aquela que nos fica gravada na memória. No entanto a foto mais reveladora dos tais "presentes " é a foto nº 3, em que se vê quatro" ciclistas" em direção ao mato, ou seja em direção ao Olossato e no sentido inverso,  
no sentido Olossato / Bissorã. já vem a nossa coluna de reabastecimento. Nota que os "ciclistas" têm quico na cabeça porque a malta se fartou de trocar bonés uns com os outros. 

Nas fotos nºs 1 e 2,  tens uma mistura de soldados meus, da CCAÇ13,  com combatentes do PAIGC. Na foto nº 1 A,  ao alto está em primeiro  plano o dito chefe da guerrilha que incrivelmente não decorei o seu nome e que era um bom comunicador e, para além disso,  falava fluentemente o português, pois que,  segundo ele, tinha tirado o curso de Regente Agrícola em Santarém.

Foi este homem que primeiro se destacou no contacto comigo,  como comandante de coluna no ponto de encontro da estrada do Olossato. Começou por falar primeiro em Balanta para os meus homens me traduzirem quais as suas intenções, tradução essa feita pelo homem da minha inteira confiança e que se chama(va) Branquinho, o tal que hoje é chefe de tabanca em Nhamate (isto segundo li no portal do Carlos Fortunato,  numa das suas idas a Bissorã com ajudas de diversos materiais e realização de sessões de formação no domínio da agricultura).

Já agora acrescentei a foto nº 4, pois que andei muitíssimos dias e semanas como comandante de grupo e embora fosse olhado de "esguelha" por alguns dos meus superiores (que até me acusaram de ter pouco espírito militar), nunca me poderão acusar de ter sido incumpridor e mau soldado,  mesmo tendo ao mesmo tempo a minha atenção virada para a família que estava lá comigo (mulher e filho). Sempre saí para patrulhamentos ou outras operações,  tivesse ou não mais graduados no grupo. 

Esta fota nº 4 foi tirada num Domingo,  ao fim da tarde quando saíamos para o mato para fazermos proteção durante a noite à periferia do aquartelamento.

Bom, meu amigo Luís Graça, as lembranças quando aparecem são comos as cerejas e daí o melhor é para já pôr um travão e guardar outras para a próxima, okay ?!


Um grande abraço e um bom dia para ti.

Henrique Cerqueira 



2. Comentário de L.G.:


Estas fotos do nosso camarada Henrique Cerqueira foram tiradas em Bissorã, em finais de maio ou princípios de junho de 1974, documentando os primeiros encontros das NT com o PAIGC, o "inimigo de ontem". Incitei-o a mandar estas fotos do seu álbum. Provavelmente elas nunca seriam publicadas, se o Henrique não vencesse a barreira do receio de ser criticado pelos seus pares, sobretudo os seus camaradas mais velhos que não passaram por esta situação, o processo de transição, de negociação e de paz a seguir ao 25 de abril. 


Estas fotos não são fáceis de justificar, enquadrar, contextualizar, legendar... Estamos longe de um confraternização entre antigos inimigos, os rostos ainda estão crispados, de um lado e do outro são homens calejados na luta, e não podemos saber o que se passa nas suas cabeças... A foto do comandante do bigrupo, em primeiro plano, é notável. Alguns dos nossos leitores virão, de imediato, lembrar que o antigo regente agrícola de Santarém é possivelmente o mesmo que mandou executar ou executou, meses mais tarde (em outubro de 1974),  o Cabá Santiago e outros guineenses que colaboraram com as NT... 


No entanto, estas fotos "já não nos pertencem", já não são do   Henrique nem sequer do blogue... Pertencem à História. Muitos camaradas que estiveram no TO da Guiné, nesta altura, no pós 25 de abril de 1974, têm fotos destas, tiradas com o antigo inimigo contra o qual combateram... Mas mostram relutância em partilhá-lhas, em público. Aplaudo a franqueza e o espírito de colaboração bloguístico do Henrique. Ele é credor do meu apreço. Estes encontros aconteceram, e estão documentados. Por toda a parte da Guiné. O que aconteceu depois é outra história, e infelizmente há pouca informação de arquivo sobre os ajustes de contas, no pós-independência. Fixemo-nos neste momento, que foi de esperança para todos ou quase todos os protagonistas.  Era o fim da guerra ou o princípio do fim da guerra. A verdade é que há milhares de fotos destas no silêncio dos nossos álbuns e a maior parte delas irão um dia parar ao caixote do lixo. LG
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Nota do editor:

 Último poste da série > 24 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10189: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (11): Dos planos de evacuação do território aos graves acontecimentos de Bissorã, em junho de 1974 (Paulo Reis, jornalista, freelancer / Luís Gonçalves Vaz)