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domingo, 22 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12486: O nosso livro de visitas (173): C. Carmelino, da CCAÇ 2701 (1970/72), a companhia do Saltinho... Esteve sempre no QG, em Bissau, na Amura, onde foi condutor do major Carlos Fabião

1. Mensagem de hiojem, do nosso leitor e camarada C. Carmelino:

Data: 22 de Dezembro de 2013 às 13:11
Assunto: Camarada da Guiné

Um ex combatente revoltado...

Bom  dia amigo, cheguei até aqui porque,  ao conversar com um amigo,  aconselhou-me a pesquisar na Net, pois andava  há muito tempo para obter informações da minha companhia do serviço militar da Guiné.

Estive na Guiné desde maio de 1970, tendo regressado em maio de 1973.

Pertenci à companhia 2701 que esteve em Saltinho, mas eu estive sempre em Bissau, ma Amura onde estava a policia militar, fui condutor do major Fabião, pertencia ao Comando-Chefe. Em todo este tempo nunca soube nada do meu batalhão nem da minha companhia... Fui sempre um militar perdido.

Hoje sinto-me uma pessoa revoltada, pois deixei mulher e filhos para ir defender aquilo que agora deram por não me darem o devido valor, assim como a tantos outros. Hoje sou um ex-combatente que só sei dizer, que por onde Portugal passou só deixou miséria. Vejamos só um bocadinho: chegou ao Brasil,  hoje é o que se vê,  um país pobre; chegou às colónias,  deixou lá miséria; agora chegou à Europ, UE,  e é o que se vê,  o país na penúria...Já fomos governados pelos Filipes de Espanha, hoje somos governados pelos troikanos (os da troika);  enfim,  o nosso país tem uma carreira,  ao longo da sua história,  de miséria!

Foram três anos de serviço obrigatório, não por castigo, mas por falta de transporte, que quando acabei a comissão, miserável este governo,  nem transporte tinha para um militar que deixou mulher e dois filhos para ir defender o nada... Sim,  o nada que em nada acabou... Acabou em miséria.
Hoje sou um português revoltado,  a olhar para o passado miserável deste país... que com a ganância de alguns políticos nunca chega a lado nenhum.

Sem mais,  por agora um abraço de um abraço de um ex-combatente revoltado pelo passado  e mais pelo presente que não terá futuro!

2. Comentátrio de L.G.:

Carmelino, obrigado pela tua visita, revolta e desafo... Ainda conheci a tua companhia, a CCAÇ 2701. Aliás, fomos nós, a  CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71), a dois grupos de combate, quem, em maio de 1970, fez uma coluna logística, de Bambadinca ao Saltinho, escoltando os "periquitos" da CCAÇ 2701 e levando reabastecimentos até ao local de destino.

Gostava que, cumprindo as regras do nosso blogue, aceitasses o meu convite para te sentares debaixo do poilão da Tabanca Grande. Basta, para isso, acrescentares à foto (antiga) que mandaste, mais uma, atual... e falares um pouco dos teus tempos de QG, como condutor do major Carlos Fabião. 

Enfim, junta-te aos teus antigos camaradas da Guiné, que já são mais do que um batalhão. Entre amigos e camaradas (veteranos da guerra colonial  na Guiné)  somos 635, dos quais infelizmente quase 3 dezenas já faleceram. O melhor Natal possível para ti e para os teus, Luís Graça.
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Nota do editor:

Último livro da série > 13 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12441: O nosso livro de visitas (172): Pedido de informação de Djarga Seidi, guineense da diáspora, com esclarecimento prestado pelo nosso colaborador José Martins

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11756: Os nossos médicos (52): Com o pessoal do meu batalhão, partiram, em 24/4/70, no T/T Carvalho Araújo, très alf mil médicos: Vitor Veloso, José A. Martins Faria e Eduardo Teixeira de Sousa (António Tavares, ex-fur mil, CCS/ BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72)



Lisboa > Pessoal do BCAÇ 2912 no Cais Marítimo de Alcântra, na manhã de 24 de abril de 1970, a caminho da Guiné


Guine > Zona leste > Setor L5 > Galomaro > BCAÇ 2912 (1970/72) >  O nosso aquartelamento, em maio de 1970

Fotos: © António Tavares  (2013). Todos os direitos reservados. 



1. Resposta, com data de 22 do corrente, ao questionário sobre os nossos médicos (*), por parte do António Tavares, (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72) . foto direita


Médicos do BCaç.2912 – Galomaro em 1970/72

(a) - Partiram no Carvalho Araújo, em 24-04-1970, três Alferes Milicianos Médicos.

Vítor Manuel Veloso da Silva, José Alberto Martins Faria e Eduardo Teixeira de Sousa.

(b) – CCS (Galomaro), CCaç.2701 (Saltinho) e Bissau (HMR 241).

(c) – Conheci-os no IAO em Santa Margarida.


O Dr. Vitor Veloso  [, foto  à  esquerda, ] é Cirurgião e Presidente do Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro. Foi Presidente do IPO do Porto. É membro Fundador da Sociedade Portuguesa de Senologia (foi criada em 1989) e ex- Presidente da mesma em 2001 a 2003.

No CTIGuiné esteve em Galomaro e Bafatá. As NT e a POP de Galomaro tiveram o privilégio de beneficiar dos conhecimentos médicos da sua esposa que conviveu connosco durante uns tempos. O Dr. Vitor Veloso habitava uma casa particular na Tabanca de Galomaro. Foi médico da CCAÇ 2700 (Galomaro e Dulombi).


O Dr. José Alberto Martins Faria era de Guimarães e faleceu em 2007. No CTIGuiné era o médico responsável da Zona de Acção da CCaç.2701. O Saltinho era uma das poucas companhias operacionais do CTIGuiné que tiveram médico permanente.

O Dr. Eduardo Teixeira de Sousa [, foto à direita,] é um reconhecido especialista de Psiquiatria no Porto. Penso que ficou em Bissau no HM 241.

Foi o Director do Departamento de Psiquiatria no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia.

Em 1971 o Dr. V. Veloso foi para Bafatá como Delegado de Saúde. Foi substituído pelo Dr. José Guedes, ex-Otorrino no Hospital Geral de Santo António do Porto.



Em Janeiro de 1972 o Dr. António Manuel Pereira Coelho  [,. foto à esquerda,] ficou adido à CCS/BCaç 2912.

O Prof. Doutor Pereira Coelho dedicou-se à investigação e com a sua equipa, do Hospital de Santa Maria, de Lisboa, foi o pioneiro da fertilização “in vitro” em Portugal. O primeiro bebé (nasceu em 1986), resultante deste tratamento, foi jogador de futebol no Sporting Club de Portugal.

(d) – Sim.

(e) – Sim. Paludismo agudo. Em Maio de 1970 fui dos primeiros tropas a estrear a inacabada enfermaria de Galomaro. Certo dia começou a chover e os meus camaradas enfermeiros, por diversas vezes, mudavam a minha cama para um local onde não chovesse. Vómitos de sangue, febres altas, frio, desmaios e diarreias imobilizaram-me uns tempos na enfermaria.

(f) – Não.

(g) – Não.

(h) – Paludismo.

(i) – Sim. Bastante afluência de tropas e nativos. Consultas, injectáveis, curativos. Recordo ter visto, quando estava internado, um pénis, de um nativo, que de imediato imaginei uma banana cheia de pintas, escrevo mesmo podre.

Todo o pessoal dos Serviços de Saúde, que esteve em Galomaro, era muito estimado quer pelas NT quer pela população local. As suas qualidades de trabalho e humanas jamais serão esquecidas por quem com eles viveu nas matas do leste da Guiné em 1970/72.

Observações: - Fotografias próprias e outras a circular na internet. Aos seus autores as devidas vénias e agradecimentos. Texto escrito de acordo com a antiga ortografia.

António Tavares
Foz do Douro, 22 de Junho de 2013

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Nota do editor:

Último poste da séroe > 19 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11731: Os nossos médicos (51): O BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) teve pelo menos 4 médicos e prestava assistência à população civil (Benjamim Durães)

(...) Questões:

(i) Quantos médicos seguiram com o vosso batalhão, no barco ?

(ii) Quantos médicos é que o vosso batalhão teve e por quanto tempo ?

(iii) Lembram-se dos nomes de alguns ? Idades ? Especiallidades ?

(iv) Precisaram de alguma consulta médica ?

(v) Estiveram alguma vez internados na enfermeria do aquartelamento (se é que existia) ?

(vi) Foram a alguma consulta de especialidade no HM 241 ?

(vii) Foram evacuados para a metrópole, para o HMP ?

(viii) Tiveram alguma problema de saúde que o vosso médico ou o enfermeiro conseguiu resolver sem evacuação?

(ix) O vosso posto sanitário também atendia a população local ?

(x) (E se sim, o que é mais que provável:) Há alguma estimativa da população que recorria aos serviços de saúde da tropa ?...

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10741: Memória dos lugares (199): Ponte do Saltinho no Rio Corubal: fotos do álbum do Arlindo Roda (ex-fur mil, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71) (Parte I)


Foto nº 202 - A > Aspeto do tabuleiro da ponte do Saltinho (batisada como ponte gen Craveiro Lopes), com militares da CCAÇ 12 em passeio (possivelmente no final do tempo das chuvas, no 3º ou 4º trimestre de 1969)


Foto nº 202 > Aspecto geral da ponte


Foto nº 5 > Aspeto geral da ponte, vista do lado do aquartelamento do Saltinho... Em primeiro plano, o Humberto Reis e o "Alfredo" (, ambos do 2º Gr Comb da CCAÇ 12, 1969/71... No canto superior esquerdo vêem-se os fios elétricos do sistema de iluminação da ponte


Foto nº 5 - A  > Eu, Luís Graça, de costas..


Foto nº 206 > O Tony Levezinho, ex-fur mil, at inf, 2º Gr Comb, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)


Foto nº 203 > Ponte do Saltinho, vista da margem direita... Em cima dos arcos, pessoal da CCAÇ 12.


Foto nº 19 > Fur mil ati inf Arlindo Roda, 3º Gr Comb, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)... Por detrás do Arlindo, nota-se um poste dos holofotes que iluminavam a ponte (, foto possivelmente tirada já em 1970, na época seca)


Foto nº 45 > Arlindo Roda

~
Foto nº 57 > Arlindo Roda, no início da ponte (margem direita)


Foto nº 57 - A > Pormenor da placa, em bronze, evocativa da visita do gen Craveiro Lopes, em 1955, aquando da construção da ponte. Em baixo, na base em cimento, O nº, pintado à mão da CART 1646, que estava no Xitole e devia ter um pelotão destacado na ponte do Saltinho.

Sobre a CART 1646:/BART 1904: (i) mobilizada pelo RAP2, partiu para a Guiné, em 11/1/67, e regressou 31/10/68; (ii) passou por Bissau, Fá Mandinga. Xitole, Fá Mandinga e Bissau; (iii) comandante: cap art Manuel José Meirinhos; (iv) o BART 1904 esteve esteve sediado em Bambadinca, sendo comandado pelo ten cor art Fernando da Silva Branco; restantes unidades de quadrícula: CART 1647 (Bissau, Quinhamel, Bissau, Binar, Bissau); e CART 1648 (Bissau, Nhacra, Binta, Bissau).


Guiné-Bissau > Saltinho > Ponte General Craveiro Lopes > Novembro de 2000 > Lápide, em bronze, evocativa da "visita, durante a construção" do então Chefe do Estado Português, general Francisco Higino Craveiro Lopes, acompanhado do Ministro do Ultramar, Capitão de Mar e Guerra Sarmento Rodrigues, em 8 de Maio de 1955. Era Governador Geral da Província Portuguesa da Guiné (tinha deixado de ser colónia em 1951, tal como os outros territórios ultramarinos...) o Capitão de Fragata Diogo de Melo e Alvim... Craveiro Lopes nasceu em 1894 e morreu 1964. Foi presidente da República entre 1951 e 1958 (substituído então pelo Almirante Américo Tomás). Foto do "turista" Albano Costa, nosso camarada, que lá passou em novembro de 2000.

Foto: © Albano M. Costa (2006). Todos os direitos reservados


Foto nº  198 > Humberto Reis, fur mil op esp, 2º Gr Comb, CCAÇ 12

Guiné > Zona leste > Setor L5 (Galomaro) > Saltinho > Ponte > Pessoal da CCAÇ 12, passeia pela ponte depois de chegada, a "bom porto", de mais uma colunas logística (Bambadinca-Mansambo- Ponte dos Fulas - Xitole - Saltinho)... Passeio descontraído, sem armas... Alguns, inclusive, foram dar um mergulho nas águas límpidas do Rio Corubal...Vê-se que as fotos são de épocas diferentes, ou de estações diferentes, por causa do caudal do rio e das ervas na ponte: fim da época das chuvas (3º ou 4º trimestre de 1969) (5, 202, 203, 2006),  época seca, 1970 (as restantes)...

Fotos: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados


1. Mensagem, de ontem, do Paulo Santiago (*):

Luís:

Boas fotos. Foram tiradas em épocas diferentes. Assim, as 206 e 203,mostram um elevado caudal do rio que submerge a ponte submersível (passe a redundância). Corresponderão a uma data a seguir à época das chuvas.Também as ervas espontâneas,verdes em algumas fotos,secas noutras,denotam diferenças de estação.

A ponte tinha uns holofotes, notam-se na foto nº 19, a meio da viga que liga os dois últimos arcos e na foto nº 5 vê-se à esquerda os fios que alimentavam aquele dispositivo de iluminação.

Faziam-se patrulhamentos na margem esquerda,com frequência até ao rio Mabia, zona onde um Gr Comb comandado pelo Alf Mota, no último dia do Ramadão de 71, deu de caras com um grupo do PAIGC que vinha flagelar o quartel. O Mota ficou gravemente ferido.

Durante a minha permanência no Saltinho,  nunca houve ataques ao quartel,e a última flagelação ocorrera ainda na altura da presença de um pelotão do Xitole (66/67 ???).

Contabane pertencia a Aldeia Formosa, passei por lá uma vez numa operação com uma companhia independente (madeirense ou açoreana) que antecedeu a CCAÇ 18.

Um dia, já com o reordenamento meio construído, chegou uma info A2 (?) prevendo um ataque para essa noite. Não houve ataque, mas os obuses 14 de Aldeia meteram-me em respeito. Ao cair da noite,o meu grupo ocupou a vala do reordenamento e preparou o 82 B 10 [, canhão s/r, russo,]; e preparámo-nos para reagir. Havia uma carta de fogo com pontos a bater pela Artilharia, e o [cap] Clemente [, da CCAÇ 2701,] pediu para esses pontos serem batidos, só que eu não sabia. Aquelas "ameixas" de obus a caírem umas dezenas de metros à nossa frente impressionavam, e houve uns estilhaços (estilhações) que arrancaram chapas das casas já construídas.

Abraço, Paulo


2. Mensagem, de ontem, do António Levezinho

Amigos

Lamento mas não tenho qualquer contributo a dar a propósito daquele local. Afinal, íamos lá sempre num saltinho e com a preocupação da viagem de regresso na mente.

Um abraço,
Tony Levezinho


Guiné > Mapa da província (1961) > Escala 1/500 mil > Pormenor da zona leste (região de Bafatá) > Setores L1 (Bambadinca) e L5 (Galomaro), com os itinerários alternativos para se chegar ao Saltinho, no Rio Corubal: (i) Bambadinca - Mansambo - Xitole - Saltinho; (ii) Bambadinca (ou Bafatá) - Galomaro - Dulombi - Quirafo - Saltinho.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2012)


3. Comentário de L.G.:

No 2º semestre de 1969, para se chegar a qualquer uma das unidades de quadrícula do Setor L1, a sul de Bambadinca (Mansambo, Xitole e Saltinho, embora esta já pertencesse ao sector de Galomaro, o L5) não havia nenhuma alternativa a não a ser a terrestre: a estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole-Saltinho, que terminava justamente na ponte do Saltinho, estando interdita a partir daí. (Tirando o helicóptero, claro...).

A estrada de Bambadinca (ou Bafatá) - Galomaro-Dulombi - Quirafo - Saltinho às vezes também ficava interdita, a partir da Galomaro e/ou Dulombi, devido às chuvas e à acção do PAIGC, pelo que as NT ali colocadas também dependiam do abastecimento feito a partir de Bambadinca (o eixo Xime-Bambadinca-Bafatá  era a grande porta de entrada de toda a zona leste, do Xime até Buruntuma).

A própria estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole estivera interdita entre Novembro de 1968 e Agosto de 1969. O Op Belo Dia, a 4 de Agosto, já aqui sumariamente descrita, destinou-se justamente a reabrir esse troço fundamental para as ligações do comando do Setor L1 com as suas unidades a sul Um mês e tal depois, ainda em época das chuvas, fez-se uma segunda operação para novo reabastecimento, patrulhamento ofensivo e reconhecimento. (**)

Por fim, a 14 de Novembro de 1969, a CCAÇ 12 efectuaria a última coluna logística para Xitole/Saltinho, integrada numa operação. Após o regresso, os Gr Comb das unidades em quadrícula na área, empenhados na segurança da estrada Mansambo-Xitole, executariam um patrulhamento ofensivo entre os Rios Timinco e Buba, não tendo sido detectados quaisquer vestígios IN (Op Corça Encarnada).

A partir dessa data (e até ao final da comissão, em março de 1971, para os quadros metropolitanos da CCAÇ 12), estas colunas de reabastecimento das NT em unidades de quadrícula, aquarteladas em Mansambo, Xitole e Saltinho, tomariam um carácter de quase rotina, passando a realizar-se periodicamente (duas vezes por mês, em média), e com viaturas civis, escoltadas por forças da CCAÇ 12

A segurança ao longo do itinerário, essa, continuava, no entanto, a movimentar seis Gr Comb das unidades em quadrícula de Mansambo, Xitole e Saltinho. Na prática, isto significava que o abastecimento das NT nestas três unidades implicava a mobilização de forças equivalentes a um batalhão (3 companhias). No tempo seco, o inferno, para além das minas, era o pó, o terrível pó que cobria tudo e todos...

O Saltinho, embora passasse a depender operacionalmente do Setor L5 (Galomaro), a partir da data em que as NT evacuaram Quirafo (, julho de 1969,s e não me engano), continuava no entanto ligada ao Setor L1 para efeitos logísticos, uma vez que a estrada Galomaro-Saltinho se mantinha parcialmente interdita desde o início das chuvas devido à actividade do IN na região. (**)

A respeito das "acessibilidades" do setor L5, diz o nosso camarada Luís Dias, ex-alf mil da CCAÇ 3491 (Dlombi, 1971/74)

(...) "O principal itinerário da companhia era a estrada Dulombi-Galomaro/Galomaro-Bafatá ou Bambadinca, em que se transitava com alguma facilidade (terra batida até ao cruzamento para Bafatá ou Bambadinca, porque depois já eram estradas alcatroadas), com excepção da época das chuvas em que a bolanha do Rio Fanharé (entre Dulombi e Galomaro) a tornava de difícil transposição. Os outros itinerários eram as estradas Dulombi-Jifim-Galanjo(A), difícil na época seca e impraticável na época das chuvas e Dulombi-Quirafo que era impraticável na época das chuvas e cheio de capim devido à sua pouca utilização na época seca (nunca foi utilizado após a emboscada efectuada no Quirafo contra elementos da CCAÇ 3490, em Abril de 1972)" (...).
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 29 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10739: Memória dos lugares (198): A ponte do Saltinho e o ninho da metralhadora Breda (Paulo Santiago, Pel Caç Nat 53, 1970/72 / Luís Graça, CCAÇ 12, 1969/71)

(**) Sobre as colunas logísticas até ao Xitole e Saltinho,  vd. postes de:

8 de dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7401: A minha CCAÇ 12 (10): O inferno das colunas logísticas Bambadinca - Mansambo - Xitole - Saltinho, na época das chuvas, 2º semestre de 1969 (Luís Graça)

28 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7354: A minha CCAÇ 12 (9): 18 de Setembro de 1969, uma GMC com 3 toneladas de arroz destruída por mina anticarro (Luís Graça)

7 de setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6948: A minha CCAÇ 12 (6): Agosto de 1969: As desventuras de Malan Mané e de Mamadu Indjai nas matas do Rio Biesse... (Luís Graça)

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9089: A minha CCAÇ 12 (21): Maio de 1970: Chega o BART 2917 que vai render o BCAÇ 2852 (Luís Graça)




Guiné > Zona leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (1969/71) > os craques da bola... A gloriosa equipa de futebol de onze donde se destacam, entre outros os nossos tabanqueiros Joaquim Fernandes (ex-Fur Mil At Inf, o primeiro, de pé, a contar da direita), o Tony Levezinho (ex-Fur Mil At Inf,, o terceiro, na primeira fila, a contar da direita), o Arlindo Tê Roda (ex-Fur Mil At Inf, o quinto, na primeira fila, a contar da direita), e o João Rito Marques ( nosso cabo quarteleiro, 1º Cabo Manutençã de Material, que vive hoje em Sabugal)...  Ainda na segunda fila, o terceiro a contar da esquerda, em tronco nu, é o 1º Cabo At Inf Carlos Alberto Alves Galvão (, que vive na Covilhã, e continua ligado ao associativismo desportivo).

O 1º Cabo Manuel Alberto Faria Branco (, que pertencia à 3ª secção do 2º Gr Comb, a secção do Tony Levezinho; está para entrar há um ano para a Tabanca Grande...); o 1º Cabo Escriturário (e tocador de acordeão) Eduardo Veríssimo de Sousa Tavares (, morada atual desconhecida);  e o Sold Arménio Monteiro da Fonseca (, vive no Porto, é taxista, um grande morcão, um cromo, um grande camarada) são os restantes jogadores da primeira fila; estou a reconhecer (, mas já não me lembro do seu nome,) o guarda-redes, um dos nossos soldados africanos...

Fardados, de pé, na segunda fila, da direita para a esquerda, 1º Sargento Cavalaria Fernando Aires Fragata (que foi depois fazer o curso de oficiais de Águeda, se não me engano; dei-lhe explicações de português; não sabemos se é vivo e onde mora); o 2º Sarg Inf Alberto Martins Videira (, vive ou vivia em Vila Real); 2º Sarg Infantaria José Martins Rosado Piça (,vive ou vivia em Évora; deve estar com 78 ou 79 anos; rezo pela sua saúde);  e o 1º Cabo José Marques Alves (que pertencia  à 2ª secção do 2º Gr Comb, a secção do Humberto Reis, que chamava "Afredo" ao Alves)... Entre o Videira e o Piça, estão dois camaradas da CCAÇ 12, que de momento não sei identificar: o que está fardado sei que era um soldado condutor auto... Talvez o nosso cripto e tabanqueiro GG (Gabriel Gonçalves) me possa dar uma ajuda... ( E acaba de nos ajudar, dizendo que o soldaddo condutor auto é o Alcino Braga, um camarada de cinco estrelas, um condutor responsável, discreto, impecável, de quem guardo as melhores recordações!... Tantas viagens que fizemos juntos!, Obrigado, GG; um abração, Alcino!).

Na segunda foto, a da jogatana da bola, reconheço o Roda e o Levezinho (de calções vermelhos). O terceiro elemento, da linha de ataque, tanto pode ser o Joaquim Fernandes  (Fur)  como o Francisco Magalhães Moreira (Alf Op Esp) (inclino-me mais para a esta segunda hipótese)...

Fotos: © Arlindo Roda (2010). Todos os direitos reservados


A. Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (*)
por Luís Graça




Fonte:


História da Companhia de Caçadores 12 (CCAÇ 2590): Guiné 1969/71. Bambadinca: CCAÇ 12. 1971. Policopiado
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Nota do editor:

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7594: Falando do Capitão Rui da CCAÇ 18 que eu conheci no Saltinho em 1971 (Mário Migueis da Silva)

1. Mensagem de Mário Migueis da Silva* (ex-Fur Mil Rec Inf Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72), com data de 10 de Janeiro de 2011:

Caro Carlos:

Neste início de 2011, aproveito para te desejar tudo de bom no mesmo e nos muitíssimos que se hão-de seguir.

Nada ou pouco mais que nada sei do "capitão Rui" para além do que faço constar no textozinho que anexo. Mas sei que não faltam medalhados de mérito duvidoso, o que, aparentemente, não será o caso da personalidade em apreço.
 
Se tiveres espaço e achares bem, agradeço a publicação.

Um abraço muito amigo,
Mário Migueis


O Capitão Rui

Em 1971 - em que dia ou mês já não sei -, estava eu ainda combalido, a recuperar de mais um ataque de paludismo, vieram chamar-me, a mando do Capitão Carlos Clemente, Comandante da CCAÇ 2701, onde me encontrava em diligência: tinha um amigo de visita ao Saltinho, que fazia questão de me rever.

Um amigo?!... Cheio de curiosidade, fiz das tripas coração, saltei da cama, passei água pelos olhos, vesti-me e desloquei-me à messe de oficiais e sargentos, onde o tal amigo estaria à minha espera.

Estavam os três à porta, voltados para a parada ensolarada do lado nascente, aparentemente muito bem dispostos: ele - o Capitão Clemente -, um outro capitão, seu amigo, ao qual eu seria apresentado momentos depois, e o Quartim, meu homólogo dos Serviços de Informação Militar em Aldeia Formosa, o qual já não via desde a última formação na Amura, meia dúzia de meses atrás.

Já no bar, após breve conversa, deixámos os senhores capitães entretidos com uns aperitivos, e fomos – eu e o Quartim - até à Sala de Comando, onde o Serviço de Informações tinha cantinho reservado. Falámos de tudo e mais alguma coisa, mas especialmente do nosso grupo do S.I.M. espalhado pelo território e do capitão miliciano que ele acompanhava naquela visita de cortesia à tropa do Saltinho.

Após o almoço, quando se aproximava já a hora do regresso a Aldeia Formosa dos nossos visitantes, trocámos lembranças, tendo eu oferecido ao Quartim uma peça de artesanato local e recebido em troca uma farda completa (camisa, calça e quico) do PAIGC, três ou quatro lápis, outros tantos cadernos e um livro escolar, fabricados, respectivamente, na antiga URSS, Cuba e Suécia. Conservo ainda todas essas lembranças, com excepção da “fardeleta”, que, anos mais tarde, viria a ser atacada pela traça. Estas pequenas recordações de guerra que o Quartim, simpaticamente, trouxera no bornal para me oferecer, faziam parte de um grande lote de armamento e material diverso, capturado ao IN durante a última emboscada montada pela CCAÇ 18 na área de influência das NT instaladas em Aldeia Formosa. - “O capitão Rui é do melhor que temos na Guiné. É um tipo de coragem e de iniciativa, tendo imprimido à Companhia uma atitude de grande agressividade a defender e a atacar. Tem feito muita mossa nas hostes do PAIGC!” – contava-me o Quartim, com ares de respeito e admiração.

Posteriormente, estive algumas vezes em Aldeia Formosa, onde pude rever o meu amigo Quartim. Sempre que lhe perguntei pelo capitão Rui, respondeu da mesma maneira: - “Está para o mato com a Companhia!...” E, na verdade, ao capitão Rui, a esse, nunca mais o vi. A menos,…

…a menos que se trate do nosso camarada de tertúlia Rui Alexandrino Ferreira, que acabou de passar um Natal de preocupações, com ”o coração aos pulos”. Nesse caso - no caso de se tratar do mesmo Rui -, poderei e deverei antes dizer: ao capitão Rui, a esse, só voltei a vê-lo no blogue do Luís Graça, quarenta anos mais tarde!

Esposende, 07 de Janeiro de 2011
Mário Migueis da Silva
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 18 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7464: O Mural do Pai Natal da Tabanca Grande (2010) (7): (Joaquim Mexia Alves / José Martins / Mário Migueis da Silva / José Manuel Matos Dinis)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6693: Convívios (260): Encontro do pessoal da CCAÇ 2701, Saltinho, 1970/72 (Mário Migueis)

1. Mensagem de Mário Migueis da Silva* (ex-Fur Mil de Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72), com data de 29 de Junho de 2010:

Caro amigo:
Na esperança de que tenhas vindo revigorado de Monte Real, estou a juntar (sem esperar a publicação do meu último escrito do passado dia 20) um mini-artigo inspirado no último encontro da CCaç 2701/Saltinho.

Anexo igualmente duas fotos legendadas para ilustração do texto.
Um grande abraço,
Mário Migueis



“Olha que há coisas bonitas!...”

No passado domingo, dia 7, tive oportunidade de, uma vez mais, confraternizar com os camaradas da CCAÇ 2701, aquela que foi minha anfitriã no Saltinho, de Março/71 a Fevereiro/72, altura em foi substituída pela CCAÇ 3490.

Realizado, desta vez, num hotel da Póvoa de Varzim – a escassos 12km da meu cantinho -, o almoço reuniu mais de duas centenas de pessoas, entre ex-combatentes e respectivos familiares, e terá sido em tudo muito semelhante a tantos outros convívios periódicos de ex-combatentes que, felizmente, continuam a realizar-se por todo o país, dando provas de que o passar dos anos, por mais que force, não consegue fazer esmorecer – antes pelo contrário - os fortíssimos laços de amizade e solidariedade criados entre os nossos militares durante aqueles terríveis dois anos de sofrimento físico e psicológico. Porém, algo me tocou profundamente desta vez, fazendo-me reflectir sobre a verdadeira força, o peso, a dimensão da marca que a guerra colonial deixou em cada um de nós no que concerne a esses sentimentos de amizade, a esses valores de camaradagem e solidariedade.

Na véspera do convívio, fora ao meu sótão de estimação, onde se respira tropa por todos os poros, que é como quem diz por todos os buraquinhos de traças e outros quejandos, à procura de uma cassete gravada no Saltinho durante a noite de Natal de 1971, em que, conjuntamente com o Rui Coelho – 1.º Cabo especialista em criptografia -, fiz uma curta entrevista a cada um dos sentinelas, procurando saber do estado de espírito de cada um naquela noite em que a saudade dos nossos apertava ainda mais que habitualmente. Tinha decidido deixar de ser egoísta e, agindo em conformidade, iria tornar pública aquela espécie de relíquia histórica, há quarenta anos esquecida no fundo de uma das caixas com a etiqueta “Guiné”.

Cheguei a temer que, decorrido tanto tempo, a pobre cassete não estivesse já em bom estado de conservação, mas, incrivelmente, logo que consegui desenrascar um leitor portátil, pude comprovar que a gravação estava perfeita. E lá estava, em primeiro lugar, a entrevista ao Pessoa, de sentinela, no turno das vinte e duas à meia-noite, ao abrigo dos condutores, o primeiro que visitámos.

“Então, senhor Pessoa, como é que se sente nesta noite de Natal? Casado, pai de uma menina, deve sentir imensas saudades, não é verdade?...”

Seguiam-se as entrevistas ao Calceirão - o homem do clarim-, ao Miguel – 1.º Cabo Enfermeiro - e por aí fora. Enfim, tudo nas melhores condições acústicas, incluindo o som da viola do Mário Rui, furriel do 53, que, no abrigo de Transmissões, deliciava os presentes com uma belíssima balada de sua autoria.

Já no salão onde teria lugar o almoço, num aparte entre as animadas conversas que a ocasião oferecia, diz-me o Novo – meu vizinho da Póvoa e responsável pela organização do convívio deste ano – quase ao ouvido:

- Olha que há coisas bonitas! Estão cá a viúva e o casal de filhos do Pessoa, que morreu já lá vão oito anos!

Daí a um minuto, o Novo estava a apresentar-me à família do Joaquim Pessoa. Pude conversar, durante cerca de meia hora, com a Senhora D. Maria Fernanda - assim se chama a viúva do nosso camarada -, interessadíssima nas referências que eu fazia às recordações mais simples que tinha do Pessoa, desde o seu comportamento muito respeitador e responsável até à forma como se exaltava durante os jogos de futebol, especialmente quando as decisões do árbitro não eram do seu agrado.

Inevitavelmente, falei-lhe das palavras do marido que tinha gravadas na cassete que trazia comigo. Chorou de emoção quando prometi que lhe remeteria uma cópia em CD para a Vila de Prado, onde reside. E voltaria a chorar quando o ex-alferes Fernando Mota, no uso da palavra em nome da Companhia, agradeceu a sua presença e a dos restantes familiares, numa atitude que constituía sem dúvida um exemplo a seguir: não deixar morrer a memória dos nossos e da sã camaradagem que tão fortemente os uniu.


Enquanto nos despedíamos, a Senhora D. Maria Fernanda não pôde evitar que mais duas teimosas lágrimas se lhe desprendessem dos olhos, correndo, lestas e envergonhadas, para o pequeno lenço branco que, delicadamente, as aparou junto ao queixo. Tentei ler o conteúdo do seu sentimento, da sua emoção. Como interpretar aquelas lágrimas? Tristeza pela ausência do seu ente querido? Um sentimento de amargura por o não poder ver entre os seus camaradas? Algo mais para além disso?... Confesso que me pareceram lágrimas de uma misteriosa satisfação, como se aquela sua presença entre nós, que lhe permitia partilhar connosco a recordação do marido, lhe suavizasse a dor e lhe desse o ânimo de que carecia para prosseguir a sua caminhada. Tive a sensação de que a senhora, de uma forma instintiva e para seu próprio sossego, sentiu necessidade de se assegurar de que aqueles de quem, durante anos a fio, o marido contara maravilhas não o tinham esquecido e que a sua memória continuava presente nos nossos corações. De qualquer modo, certo é que só algo muito sólido e importante pode despertar tão fortes emoções e sentimentos. E, por detrás de tudo isto, estarão seguramente os laços tão fraternais que caracterizaram e caracterizam a geração de soldados de que fomos, somos e seremos parte.

Esposende, 24 de Junho de 2010
Mário Migueis da Silva
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6682: Convívios (174): Convívio anual de "Os Sobreviventes" - CCAÇ 3490, Saltinho, 1971/74 (Mário Migueis)

terça-feira, 13 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6150: O Spínola que eu conheci (8): O Militar que foi meu Comandante-Chefe (Paulo Santiago)

1. O nosso Camarada Paulo Santiago (ex-Alf Mil At Inf do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72), enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 11 de Abril de 2010:





O MILITAR que foi meu Comandante-Chefe (*)
A primeira vez que vi o General Spínola, aconteceu na época natalícia de 1970, no quartel do Saltinho, quando ele corria todas as companhias e respectivos destacamentos, e a CCAÇ 2701 tinha três, Cassonco, Madina Buco e Cansamange.
Lembro-me que chegara uma mensagem indicando que o pessoal devia estar formado em U, e não me recordo se nesse dia o cumprimentei.
Voltei a encontrar o General, em pleno mato, junto ao Corubal, lá para os lados do Cheche, no decorrer de uma operação que durou três dias, saindo de Dulombi dois grupos de combate da CCAÇ 2700, um grupo de combate da CCAÇ 2699 (Cancolim) e o Pel Caç Nat 53, sendo esta força comandada pelo Cap Carlos Gomes, comandante da 2700.
O local, onde o heli "largou" o Caco, era altamente perigoso, mas ele estava na maior das calmas a informar-se do decorrer da operação, da qual, como é meu hábito, não recordo o nome, e hoje lamento não ter tomado essas notas.
Tempos mais tarde, voltou ao Saltinho para uma visita mais demorada. Nessa altura, o Jamil Nasser, comerciante no Xitole, começara a construir um barracão junto à tabanca do pessoal do Pel Caç Nat 53, que ficava junto à porta de armas do quartel, e o barracão destinava-se a uma nova casa comercial.
Claro que o General se apercebeu da construção e, informado dos fins e do proprietário, foi aos arames e deu de imediato ordem ao Cap Clemente para mandar demolir o que já estava construído. E acrescentava não perceber como o Chefe de Posto do Xitole autorizara a abertura de uma casa comercial em tal local, se quisesse construir, fosse para Mampatá, uma tabanca distante 2 Km e onde havia população.
O Jamil desistiu da abertura de uma casa em Mampatá, mas a ideia foi aproveitada por um outro comerciante do Xitole, o Rachid. Passou-se para o Reordenamento de Contabane, na outra margem do rio, e estou a ver a Fatemá, mulher do Régulo Sambel, mãe do meu 1º Cabo Suleimane, a "pendurar-se" ao pescoço do Spínola e a cobri-lo de beijos.
Quando da minha estadia em Bambadinca, estive três vezes com o Gen Spínola.
Em 24 de Dezembro de 1971, houve o encerramento do primeiro curso de Milícias em que fui comandante da companhia, havia um longo programa que foi reduzido à formatura e ao discurso.
Este discurso, frente à companhia, formada no campo de futebol, e com população a toda a volta, era um espectáculo bem encenado... o General proferia uma frase, parava, e o intérpete balanta reproduzi-a, seguia-se o fula, e por último o mandinga.
Neste dia 24 de Dezembro tive a sorte de uma das visitas de Natal programadas ser ao Saltinho, e assim apanhei uma boleia inesperada.
Voltei a Bambadinca em Janeiro de 72 e, durante o novo curso de milícias, tive duas visitas do Com-Chefe, uma aí pelo meio e a outra no final tendo, desta vez, sido cumprido todo o programa de encerramento, que incluiu uma deslocação de viatura à carreira de tiro, que ficava para lá do destacamento da Ponte de Udunduma, a caminho do Xime.
Na visita que o General fez a meio do curso, lembro-me que uma das coisas que queria saber era o comportamento do Fafe Nkumba, um ex-chefe de bigrupo [do PAIGC], que fora ferido e capturado, e que estava destinado a ser comandante do pelotão que iria ser colocado na Ponte Luís Dias.
O Fafe era maneta, ficara sem a mão e antebraço direitos, devido aos ferimentos.
Voltei ao Saltinho, já com a CCAÇ 3490 de má memória, e um dia pela manhã, aparece por lá o Caco.
Além de mim, que era do 53, no quartel só se encontrava um oficial daquela companhia, um Alferes que queria apanhar uma hepatite e começava o dia a beber uma bazuca acompanhada por uma banana.
Naquele dia a causa da visita era uma carta de um soldado a queixar-se do rancho, no que tinha toda a razão, acrescento.
No fim da visita o vaguemestre tinha deixado de o ser, e o Cap Ayala Botto [, ajudante de campo do Spínola,] levava um apontamento para convocar o Cap Lourenço, mal este chegasse de férias da Metrópole.
A mês e meio de acabar a comissão, recusei-me a cumprir uma ordem estapafúrdia do Lourenço. Ameaçou-me com uma porrada, e arranjei uma consulta de urgência na psiquiatria. Claro que nem sequer entrei no hospital, fiz uns contactos, livrei-me da porrada.
Terminando, gostei do MILITAR que foi meu Comandante-Chefe, e está tudo dito.

Um abraço, Paulo Santiago.


Texto e fotos: © Paulo Santiago (2010)
Ex-Alf Mil At Inf, Pel Caç Nat 53
(Saltinho, 1970/72)





Foto 1 > Saltinho > À direita o Alf Mil Médico Martins Faria, Major Azeredo, 2 militares não identificados, Alf Mil Santiago, General Spínola e Cap Clemente

Foto 2 > Bambadinca > 24.12.1971 > Apresentação da Companhia de Milícias

Foto 3 > Março de 1972 > Carreira de tiro > Comandante do CAOP 2, Polidoro Monteiro, General Spínola, Intendente de Bafatá, Ten-Cor Tiago Martins e Paulo Santiago
Foto 4 > Bambadinca > Março de 1972 > Conversa no fim da cerimónia > Ten Cor Polidoro Monteiro, General Spínola, Alf Mil Santiago, parte da cara do 1º Cabo Cristovão Mantudo dos Santos (Pel Caç Nat 53) e de costas o Fur Mil Dinis (Pel Caç Nat 53
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quinta-feira, 4 de março de 2010

Guiné 63/74 - P5929: Estórias avulsas (76): Como reencontrei um camarada ao fim de 15 anos (Mário Migueis)

1. Mensagem de Mário Migueis da Silva* (ex-Fur Mil de Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72), com data de 2 de Março de 2010:

Caro Vinhal:
Na sexta passada, estive, uma vez mais, de visita a um ex-camarada da CCAÇ 2701 - Saltinho 70/72 -, que a doença tem perseguido ferozmente nesta fase da sua vida (após uma delicadíssima operação cirúrgica ao coração há cerca de dois anos, acabou de ser operado, in extremis, a um aneurisma na aorta). Chama-se Rui Coelho, é natural de Ermesinde e funcionário da Santa Casa da Misericórdia do Porto. Dada a minha Especialidade (Informações, lembras-te?...), lidei directamente com o Rui (Cripto), do qual tenho as melhores recordações de amizade e camaradagem.
[...]
Um grande abraço do amigo
Mário Migueis


Como reencontrei Rui Coelho ao fim de 15 anos

Agosto de 1986
Os meus dois filhos, um com sete, outro com cinco anos de idade, não desistem de me pressionar para a realização urgente de um acampamento com os quatro primos sensivelmente da sua idade, dois deles residentes em Lamego, mas de férias na minha casa, em Esposende.

“Esta agora,… e para onde é que eu vou com esta malta toda? Não posso ir para longe, porque os pais ficam preocupados; não posso ficar muito isolado, porque preciso de ter tudo, ou quase tudo, à mão…”

Pensa daqui, pensa dali, ainda experimentei sugerir o quintal da minha casa, mas levei logo um rotundo “bââaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!”. Então, de repente, tive uma ideia luminosa: o “Camping” da Prelada, no Porto!...

“É isso mesmo, é o parque que preenche todos os requisitos e mais alguns para a finalidade em vista.”

Só lhe conhecia a fachada, virada para a Rua Monte dos Burgos, uma das mais movimentadas da invicta cidade, mas sabia, pelos roteiros, que era, então, um dos melhores “campings" do país, a funcionar num grande e frondoso parque com pequenos lagos, um dos quais com um castelo e patos, cisnes e muito mais. Enfim, cenário para as aventuras que todos desejávamos. Para além do mais, tinha resolvido o problema da noite, após o jantar, que me preocupava sobremaneira, porque imaginava os putos sem sono e desorientados, sem saberem o que fazer até à hora da deita.

“Tinha resolvido o problema como?!...”

Ora, iríamos era comer à Feira Popular, que tinha lugar, ali a dois passos, no Palácio de Cristal e, com todas aquelas diversões ali à mão de semear, ia ser divertidíssimo para os campistas, que haveriam de regressar ao parque arrasados e a cair para o lado com a soneira.

Pois bem, no dia seguinte, por volta das cinco de uma tarde cheia de sol, lá demos entrada no Parque da Prelada, para uma estada provável de dois dias. De saco às costas e aos pinotes de ansiedade, pareciam pequenos pára-quedistas prontos a lançarem-se num espaço fantástico de novas aventuras - nisso era especialista o sétimo puto, então com trinta e tal anitos de idade.

Estava a malta a montar as três tendas, os mais velhinhos – eu, incluído – ensinando os outros a espetar as estacas e a esticar as espias, quando se ouviu uma voz grossa e supostamente irada atrás de nós:

“Que pouca vergonha vem a ser esta?!!...”.

Volto-me, curioso, para identificar o brincalhão e acabo à gargalhada, abraçado ao intruso, por entre aquelas exclamações próprias de quem já se não vê há séculos.

Era, nem mais nem menos, o Rui Coelho, um dos dois 1.ºs Cabos Op. Criptos da CCAÇ 2701, com a qual estive, no Saltinho, de Março/71 a Março/72, altura em que foi rendida pela CCAÇ 3490, do nosso camarada António Batista, “ sócio honorário” da Tabanca de Matosinhos.

Eu e o Rui já não nos víamos desde a altura do seu regresso à metrópole - tinham decorrido apenas cerca de quinze anos -, pela simples razão de que eu ficara ainda pelo Saltinho a amargar mais uns oito mesitos, facto que me fez perder o seu rasto. Deixámos os putos entretidos com a montagem das tendas e fomos até ao bar do parque matar saudades, enquanto degustávamos um bom vinho do Porto, oferecido pelo amável director do “camping”, que era, afinal, ele mesmo, o Rui Coelho.

Ainda hoje fico a pensar na coincidência tão curiosa da minha escolha de um parque que eu não conhecia, a uma distância da minha casa – apenas cerca de 40 kms – que ditariam como altamente improvável a sua escolha para o que quer que fosse, e as circunstâncias em que tudo tinha ocorrido. Contou o Rui que tinha acabado de chegar e, como era habitual, fora dar uma vista de olhos ao livro de entradas no parque, tendo-lhe chamado a atenção um nome – o meu -, que, pesem embora os anos volvidos, ainda lhe era familiar.

A partir daquele memorável “Acampamento dos Sete Putos”, eu e o Rui passámos a rever-nos com alguma frequência, inclusivamente nos convívios anuais, que entretanto a Companhia CCAÇ 2701 passou a realizar.

Ontem mesmo, fui visitá-lo. Só que, desta feita, ao Hospital da Prelada, onde está internado desde Outubro passado. Fora sujeito a uma intervenção cirúrgica de urgência a um aneurisma na aorta, tendo vencido, à rasquinha, mais um dos combates com que a vida o tem confrontado. Acabou de dispensar a cadeira de rodas e já se encontra em plena fase de reabilitação física. A nossa conversa decorreu num dos ginásios daquela casa de saúde, enquanto o Rui se familiarizava de mansinho com os exercícios que lhe vão devolver toda aquela energia que sempre o caracterizou. É que o Rui, para além do trabalho de gabinete – criptografia - , dado, nos mais dos casos, à criação de proeminentes barriguinhas e flacidez muscular , era um excelente desportista, tendo feito parte da equipa de futebol de 6 “Os Infernais”, que era apenas a campeã da CCAÇ, tendo vencido o último campeonato sem empates nem derrotas. Mas, para além de um camarada inteligente, responsável e grande atleta, o Rui Coelho era um tipo muito valente. Baixo e entroncado, ninguém lhe metia medo, fosse alto e espadaúdo, fosse azul ou amarelo - ”era do norte, canudo!... “ Recordo-me muito bem, por exemplo, de uma vez em que me obrigou a meter “uma cunha” ao capitão para que este o autorizasse a participar numa operação, em que as hipóteses de contacto com o IN eram mais que muitas. O Rui foi, sobreviveu e pediu mais. Já agora, uma nota curiosa: o Rui tinha um fraquinho pelo nosso morteiro 10.7, fazendo, voluntariamente, equipa com o grandalhão do Furriel Bernardes, especialista de Armas Pesadas.

"Os Infernais" - Campeões Absolutíssimos de Futebol de 6/SEIS da CCAÇ 2701 - Saltinho 70/72.
De pé, da esquerda para a direita: Mário Migueis, Duarte (Fur Pel Caç Nat 53), Rui Coelho, Sargaço (Cripto) e Simão (Escriturário, já falecido); em baixo, mesma ordem, Remígio, Cruz (Transmissões) e Amadeu


Por pequenas/grandes coisas como as referidas, associadas ao facto de trabalharmos juntos diariamente no gabinete de Comando - que acolhia igualmente o Serviço de Informações e, numa saleta contígua, o Centro de Criptografia -, o Rui Coelho era dos meus camaradas mais considerados e amigos. Fez também parte do quarteto da Redacção/Edição/Distribuição do jornal da unidade – o conceituado e independente “Saltitão”, de que hei-de falar a seu tempo – e acompanhou-me, assim como ao outro 1.º Cabo Op. Cripto (Zé Sargaço) e ao Furriel TRMS (Faria), em montes de iniciativas e brincadeiras, tais como entrevistas feitas e gravadas nos postos de sentinela durante as noites de Natal e Ano Novo.

Para ele, os meus votos de um restabelecimento total e com a velocidade de uma “zulu”.

Esposende, 26 de Fevereiro de 2010
Mário Migueis

PS: Como o Rui, alegando já não ter paciência para "as internetes", declinou o meu convite para a nossa tertúlia, cravei-lhe uma cópia das fotos do seu album de combatente para eventual publicação no blogue.
Em anexo, seguem alguns exemplares com a respectiva legenda."
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 30 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5733: História de vida (17): António Marques, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71), um sobrevivente nato (Mário Miguéis / Luís Graça)

Vd. último poste da série de 16 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5822: Estórias avulsas (75): Do Cumeré a Canquelifá (João Adelino Aves Miranda, ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/73)

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5297: Parabéns a você (44): Mário Migueis, ex-Fur Mil Rec Inf (Bissau, Bambadinca, Saltinho, 1970/72) (Editores)

Dia 19 de Novembro de 2009 também é dia de festa na Tabanca Grande, porque mais um camarada festeja o seu aniversáro. Desta vez, muito ao Norte, mais propriamente na linda e ventosa cidade de Esposende, onde um seu filho que se assina Mário Migueis, que foi Fur Mil Rec Inf e que esteve na Guiné de 1970 a 1972, está de parabéns Para o Mário as nossas felicitações e votos de uma longa vida cheia de saúde, junto da sua família e amigos. 

 Mário Migueis apresentou-se oficialmente à Tabanca no P4194 de 16 de Abril de 2009, mas em 31 de Outubro de 2006 era já referido a propósito de uma mensagem que dirigiu ao nosso camarada Paulo Santiago, transcrita no P1230.

  Caro Santiago: Só agora tive oportunidade de ir ao blogue que me indicaste. Confesso que foi uma surpresa agradabilíssima poder rever, através de fotos da época, e não só, figuras e locais tão familiares, cujo registo os trinta e cinco anos entretanto decorridos não conseguiram apagar. Só por isso, o meu jarama (2) ao editor do blogue e a todos os restantes tertulianos, independentemente dos respectivos credos e patentes. 

 Penso que conheci o Henriques (Luís Graça) em Bambadinca, durante a minha passagem pelo sítio (Novembro de 1970 a Janeiro de 1971). No entanto, as fotografias dele disponíveis no blogue (uns óculos de que me não recordo) deixam-me algumas dúvidas (3). 

 Tenho, no entanto, uma fotografia com o T. Roda (CCAÇ 12), na qual, ao fundo, aparece a figura daquele que eu admito ser o agora nosso Luís Graça. A personagem que eu recordo usava, na altura, pêra pouco farta e, quando não estava em serviço, apresentava-se invariavelmente fardado com camisa de meia manga, calção, bota de lona e meia bem esticada até ao joelho (tudo como mandava a sapatilha e... o Anjos de Carvalho) (4). 

 Olha, nunca me deu para ir à Internet em busca da Guiné...e agora!... Agora, despertaste-me a curiosidade e o apetite e, qualquer dia, dou comigo a blogar também por vielas e calçadas, que é como quem diz por bolanhas e picadas... [...] 

 Em Abril de 2009, o Mário tomou finalmente a decisão de se juntar a nós:

  Caro Carlos Vinhal: As minhas cordiais saudações. Uma vez que, segundo percebi, estarás com a braçadeira de editor de serviço durante o mês de Abril, a ti dirijo aquilo que espero possa constituir um contributo para o esclarecimento de alguns aspectos da emboscada do Quirafo, oportunamente relatados neste blogue, que muito estimo. Antes do mais, e em complemento da breve apresentação que o Paulo Santiago já aqui fez da minha pessoa, aquando da publicação no P1230 (Outubro 2006) (*) de uma mensagem que lhe dirigi, em resposta à questão que me colocava sobre o ranger Eusébio, passo a facultar a minha ficha de identificação e algumas fotos, por forma a cumprir escrupulosamente o regulamentado para a adesão à Tabanca Grande: Nome: Mário Migueis Ferreira da Silva (**) 

Data de nascimento: 19/11/1948 
Naturalidade: Esposende 
Residência: Esposende 
Estado civil: casado 
Profissão: Bancário (na situação de reformado há cerca de dois anos) 
Experiência militar: 

Por onde andei: Após Caldas - Recruta - 4.º turno/69 e Tavira - Especialidade - 1.º turno/70, novamente Caldas como Monitor de Instrução - Abril a Out/70, inclusive. Seguiu-se a Guiné dos meus sonhos. Posto: Furriel Miliciano Especialidade: Reconhecimento e Informação Unidade: C.C.S. - Q.G. (Bissau) Colocação: Com-Chefe / Rep-Info (Amura-Bissau) Função: Serviço de Informações Militares (SIM) Unidades em que estive em diligência: Bart 2917 / Bambadinca (Novembro 70 a Janeiro 71, incl.); CCaç 2701 e CCaç 3890 / Saltinho (Março 71 a Outubro 72, incl.) Outros sítios importantes onde, ao longo da comissão, estive amiúde, em curtas estadias de serviço ou, simplesmente, em trânsito para outros pontos do território: Galomaro, Bafatá, Nova Lamego, Xitole, Xime, Mansambo, Aldeia Formosa. [...]

Saltinho, 1972 - Estação das chuvas. Muitas águas passaram entretanto, mas...

... o sacrifício dos nossos jamais será esquecido. 2. Comentário de L.G.:

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/79) > Dias fotos do Fur Mil Apontador de Armas Pesadas de Infantaria a quem, em vez das ditas, lhe deram uma G3 que sempre era mais levezinha...

Fotos: © Luís Graça (2005). Direitos reservados

Meu caro Miguéis:

Passou tanta malta por Bambadinca!... O teu amigo Henriques conheceu dois batalhões (BCAÇ 2852 e BART 2917) e diversas unidades adidas, incluindo a minha CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (1969/71)... E conheceu-te a ti, antes de partires para o Saltinho, para a CCAÇ 2701 (1970/72), a que esteve também adido o nosso querido camarada e amigo Paulo Santiago, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 53...

Tiveste a gentileza de evocar esse tal Henriques, que vestia à pipi, como mandavam as boas regras do RMD e a vontade do sr. major Anjos de Carvalho, antigo professor da Academia Militar e 2º comandante do teu batalhão... Em Bambadinca, nesse tempo, não havia bandalheira geral, era um quartel a sério e nisso temos que fazer justiça ao Anjos de Carvalho. Quanto aos óculos escuros do Henriques, ele já veio aqui defender a tese de que um dia voaram sob o efeito do cone de fogo de uma bazuca... Mito ou não, parece que esse teu amigo, no teu tempo (Novembro de 1970/Janeiro de 1971), já não usaria as cangalhas (que de resto não lhe faziam nenhuma falta, até hoje)... O detalhe da pêra parece bater certo...

Quem costuma falar dele, mas mesmo assim pouco, é o seu alter ego Luís Graça que tem a mania de ter e manter uma blogue "para dar voz" aos seus (dele, Henriques) antigos camaradas da Guiné... Como tu que, entretanto, nunca mais apareceste e hoje irrompes-me, pelo ecrã dentro, em dia de festa de aniversário. Felizmente que o Carlos Vinhal está a atento a tudo e não deixou a passar a efeméride.

O Henriques que brincava contigo por seres da secreta, isto é, do SIM - Serviços de Informaçáo Militar) vai ficar muito contente por saber que estás vivo da costa, em Esposnde, e ainda comemoras os teus anos. O Luís Graça, por seu turno, foi buscar duas velhas fotos do Henriques pra te avivar a memória... Infelizmente, não encontrou nenhuma do Tê Roda, que se sabe viver lá para os lados de Setúbal onde é (ou foi) professor... Há tempos o Benjamim Durães (que vive em Palmela, e que era do Pel Rec Info da CCS do BART 2917, possivelmente foste tu que o foste substituir, uma vez que ele foi evacuado por ferimentos graves em acidente), já me disse que tem em casa fotos do querido amigo e camarada do Henriques, da CCAÇ 12, o Tê Roda (natural de Pousos, Leiria), para me mandar... Prometo mandar-temais notícias de Bambadinca (o último a aparecer, aqui no blogue, foi o ex-Cap Art Passos Marques, comandante da CCS/BART 2917). E dar-te um abraço, ao vivo, em Esposende... quando o Henriques for ao Norte. Parabéns, meu caro!

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Notas de CV:

(*) Vd. postes de: 

 31 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1230: Onde se fala do Henriques da CCAÇ 12, do ranger Eusébio e da tragédia do Quirafo (Mário Miguéis) 

 16 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4194: Tabanca Grande (134): Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf (Guiné 1970/72) 

 17 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4200: Ainda e sempre a tragédia do Quirafo. Sortes distintas para António Batista e António Ferreira (Mário Migueis / Paulo Santiago) 

 17 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4202: Dia 17 de Abril de 1972. A emboscada do Quirafo, 37 anos depois (Mário Migueis) 

 29 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4262: Recortes de imprensa (16): O Morto-vivo no Jornal de Notícias e em O Comércio do Porto (Mário Migueis) 

 Vd. último poste da série de 18 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5290: Parabéns a você (43): Victor Condeço, ex-Fur Mil SM da CCS/BART 1913

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5255: A tragédia do Saltinho: o Canhão s/r 82 B10, russo, que provocou a morte do 2º Srgt A. Duarte Parente (J. Narciso / P. Santiago)

Guiné > Zona Leste > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho > Contabane > Pel Caç Nat 53 (1970/72) > O Paulo Santiago com o canhão sem recuo 82 B-10, de origem, que esteve na origem do acidente que provocaria a morte do 2º Sargento Parente. O Paulo revisitou o Saltinho e Contane em 2005, na "viagem de todas as emoções" (*)

Foto: © Paulo Santiago (2006). Direitos reservados.

1. Comentário de Jorge Narciso ao Poste P5248 (**):

Olá, António!

Não tem este o fim de comentar o teu post (eu até nem fui nem vim de barco, pois era da FAP), antes e verificando que terás estado no Saltinho por 69/70, procurar uma eventual ajuda tua para precisar na memória um facto lamentável, que muito me marcou e do qual não fiquei com registo preciso.

Eu fui mecânico da linha da frente dos helicópteros (exactamente entre Abril de 1969 e Dezembro de 1970) e muitas vezes fui ao Saltinho (cruzámo-nos concerteza), nomeadamente na época das chuvas, para proceder a abastecimento de víveres.

Aliás, ali "festejei" os meus 20 anos, facto que, denunciado pelo piloto, "nos obrigou" a só dali sair depois dum copo (penso que de espumoso).

Com essas diversas viagens estabeleceram-se alguns laços de amizade, nomeadamente com um sargento (de quem não me recordo o nome) que é, esse sim, o motivo deste comentário.

Sei que numa determinada altura foi substituída a guarnição do Saltinho(fim de comissão ?), mas que o citado sargento, por ser de rendição individual, ali permaneceu com a nova guarnição. [ Substituição da CCAÇ 2406 pela CCAÇ 2701, em Maio de 1970].

Um dia (que também não consigo precisar) parti numa evacuação para o Saltinho (que, diga-se, não era habitual) e qual não foi a minha surpresa (e choque) quando verifico que ela se destinava exactamente ao citado sargento.

Explicaram-nos, rapidamente, ter sido ele atingido pela gravilha projectada pelo escape do canhão sem recuo, montado num dos muros do aquartelamento, que tinha sido extemporaneamente disparado por terceiro, num tiro de experiência e demonstração.

Foi, talvez, a evacuação mais penosa das incontáveis que realizei na Guiné.
Desde logo pelo seu gravíssimo estado físico (completamente crivado), pelo emocional, com a sua lúcida compreensão desse mesmo estado, finalmente porque era alguém com quem mantinha uma relação, diria de quase amizade, o que exponencia largamente o nossas próprias emoções.

Desembarcado, com as palavras de encorajamento possíveis, procurei num dos dias seguintes visitá-lo, tendo-me sido informado que tinha sido imediatamente evacuado para Lisboa.

Tendo mantido o interesse , soube muito mais tarde que não tinha resistido aos ferimentos, vindo a falecer.

Recordas ou de alguma forma tiveste algum contacto testemunhal com este caso ?

Um abraço

Jorge Narciso

2. Comentário de L.G.:

Acabei de mandar, logo a seguir, ao Humberto Reis (CCAÇ 12, Bambadinca, Julho de 1969/Março de 1971), com conhecimento do Paulo Santiago (Saltinho, 1970/72), um mail a perguntar se ele confirmava este acidente e se se lembrava do nome do sargento, com quem privámos em Bambadinca, ainda uns tempos, antes de ele ir para o Saltinho, onde estava a CCAC 2406 (1968/70)...

Lembrava-me bem dessa trágica história... e do penoso relato das circunstâncias da sua morte (no local ou mais tarde, no hospital), depois de ter sido apanhado pelo "cone de fogo" do canhão s/r disparado inadvertidamente por alguém...

Recordava-me bem de uma célebre frase que esse sargento operacional de armas pesadas (se não me engano) costumava proferir no nosso bar, em Bambadinca:
- Quando vou na rua, só paro em dois lugares: numa taberna ou numa livraria...

Aliás, tinha ideia de o Paulo Santiago já ter falado, aqui, no blogue, deste horrível acidente. Isto terá ocorrido em 1970, já no tempo da CCAÇ 2701.


3. Resposta do Paulo Santiago, ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 53 (Saltinho e Contabane, 1970/72), ao Jorge Narciso (ex-1º Cabo Especialista MMA, Bissalanca, BA 12, 1969/70, se não me engano):

Caro Jorge Narciso:

Vou tentar contar o episódio de que falas (**) , que aconteceu já depois da saída, do Saltinho, da CCAÇ 2406, a que pertenceu o António Dias [. O CCAÇ 2406, Os Tigres do Saltinho, 1978/70, pertencia ao BCAÇ 2852, com sede em Bambadinca).

A tragédia, confirmei agora a data com um camarada, deu-se no dia 13/05/70, quando já se encontrava naquele quartel a CCAÇ 2701. O 2º Sarg Parente, o militar de que falas, não pertencia a nenhuma daquelas companhias, era um dos graduados do Pel Caç Nat 53, comandado naquela data pelo Alf Mil António Mota que eu fui substituir em Outubro de 1970.

O trágico acidente resultou de um disparo ocasional do canhão S/R 82 B10, naquele dia instalado no Saltinho, mais tarde foi comigo para o Reordenamento de Contabane.

Ninguém tem uma explicação cabal para o sucedido. Havia ordens expressas para a arma estar sempre com a culatra aberta, e sem granada introduzida, parece que naquele dia havia uma granada introduzida,e a culatra estava fechada.

Como aconteceu? Junto da arma encontravam-se vários militares, Cap Clemente, Alf Mil Julião, Sarg Demba da Milícia, 2ºSarg Parente e ainda mais dois ou três militares. A arma para disparar, granada na câmara e culatra fechada, accionava-se o armador, premia-se o gatilho,acontecia o disparo. Diziam que alguém tocara com o joelho no armador e dera-se o disparo...

O 2º Sarg Parente estava logo atrás do canhão S/R, foi parar a vários metros de distância, e tu, Jorge Narciso, sabes como ele ía. Ficaram também feridos o Cap Clemente, queimaduras numa mão e virilha, e o Demba, queimaduras numa perna. Foram também evacuados para o HM.

Como dizes,o Parente morreu passado um mês. Já como comandante do Pel Caç Nat 53,recebi uma carta da viúva, pedindo-me ajuda na resolução de um qualquer problema que agora não recordo.

Foi um dia trágico no Saltinho.Isto é, muito dramático, o Parente tinha recebido naquele dia um telegrama, via rádio, informando-o que fora pai de uma miúda...e andara na tabanca a comprar uns frangos para fazer um jantar comemorativo do nascimento...

O Alf Mil Fernando Mota, da CCAÇ 2701, recebeu uma carta com a notícia que o irmão fora morto com um tiro da GF. O Sarg Demba da Milícia foi morrer no Quirafo em Abril/72 (***)... Será que o Parente ainda viu a filha antes de morrer? (****)

Apesar de não o ter conhecido, é-me penoso falar desta tragédia.

Abraço

P.Santiago

____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 30 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P926: As emoções de um regresso (Paulo Santiago, Pel Caç Nat 53) (3): Saltinho e Contabane

Sobre o canhão s/r 82 B10, vd. também o poste de 13 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1170: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (2) : nhac nhac nhac nhac ou um teste de liderança

(...) Também nestes primeiros dias de Novembro [ de 1970] foi um heli ao Saltinho buscar, por ordem do Com-Chefe, o canhão s/r 82-B10. Voltaram a entregá-lo em Dezembro. Tinha ido na invasão de Conacri, soubemos à posteriori.

(**) Vd. poste de 10 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5248: O cruzeiro das nossas vidas (14): Queremos o Uíge (António Dias)

(***) Vd. postes de:

18 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4046: Ainda a atroz dúvida da Cidália, 37 anos depois: O meu marido morreu mesmo na emboscada do Quirafo ? (Paulo Santiago)

12 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P955: As emoções de um regresso (Paulo Santiago, Pel Caç Nat 53) (5): O pesadelo da terrível emboscada de 17 de Abril de 1972

(****) Consta na lista dos mortos do Ultramar da Liga dos Combatentes, com o nome completo de Antóno Duarte Parente, 2º Sargento do Exército. Data de falecimento: 12/06/1970. Causa: Acidente.

Segundo a página do nosso amigo e camarada António Pires, Guerra do Ultramar: Angola, Guiné e Moçambique, lista dos mortos do Ultramar, o Parente era natural de Vale de Prazeres, Concelho do Fundão, pertencia de facto ao Pel Caç Nat 53, fora mobilizado, pelo RI 14, e está sepultado na Covilhã.

sábado, 7 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5228: Memória dos lugares (52): Rio Corubal: afinal, havia... 3 pontes !? (C. Silva / D. Guimarães / M. Dias / Luís Graça)

Guiné-Bissau > Zona Leste > Xitole > 2001 > A antiga Ponte Marechal Carmona, sobre o Rio Corubal, a sul do Xitole, de construção anterior à Ponte Craveiro Lopes, no Saltinho (esta a montante)

Guiné-Bissau > Zona Leste > Xitole > 2001 > O David J. Guimarães à entrada da antiga Ponte Marechal Carmona , sobre o Rio Corubal, entre o Xitole e os rápidos do Cussilinta, portanto a jusante do Saltinho. (Assinalada no mapa do Xitole, como "ponte em ruínas).

Guiné-Bissau > Zona Leste > Saltinho > 2001 > O David Guimarães junto à ponte sobre o Rio Corubal, do Saltinho, um dos sítios paradisíacos da Guiné, onde havia, durante a guerra colonial, um aquartelamento que ficava a 20 Km de Xitole na estrada Bambadinca-Aldeia Formosa (hoje, Quebo). Esta ponte, no nosso tempo (1969/71), chamava-se Craveiro Lopes, e estava interdita...

Fotos: © David Guimarães (2005). Direitos reservados

1. Nota do editor L.G.:


Obrigado ao Carlos Silva pela magnífica cobertura fotográfica da Ponte Marechal Carmona, sobre o Rio Corubal, a cerca de 5 km, a sul do Xitole (*).

De facto, pouca gente tem conhecimento dessa magnífica obra do Estado Novo. No nosso blogue, o primeiro camarada a falar dela, foi o David Guimarães, o nosso tertuliano nº 3 - como eu gosto de lhe chamar...

O David foi Fur Mil Minas e Armadilhas, CART 2716 (Xitole, 1970/72). Em 2001, o David revisitou com a esposa (Lígia), um filho (menor) e antigos camaradas (incluindo o Dr. Vilar, ex-Alf Mil Médico da CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72) os sítios por onde passou (Sector L1/Zona Leste).

Escreveu ele (**):

"É célebre o Saltinho pela sua localização junto ao Rio Corubal e pela sua linda ponte. Curiosamente como em Cussilinta o Rio aí também tem rápidos. A Guiné toda plana e com rápidos nos rios!... É estranho mesmo. Ao tempo estava lá uma Companhia que pertencia ao Batalhão com sede em Galomaro, e que eram portanto nossos vizinhos".

A importância estratégica desta ponte era óbvia e era conhecida de nós, nal da CCAÇ 12, mas, devido à guerra, não se passava para lá do Saltinho... Hoje continua a ser vital, permitindo a ligação rodoviária do resto da Guiné (norte, leste, oeste) com o sul... A ponte lá está, uma belíssima e boa construção que aguenta todos os anos com as enxurradas do Corubal. Foi inaugurada em 1955.

Em 1996 também lá esteve, no Saltinho e em Cussilinta, o nosso camarada e amigo Humberto Reis (ex-Fur Mil, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

Nem ele nem eu, tínhamos conhecimento de outra ponte sobre o Corubal. Daí a dúvida apresentada ao David, por parte do Humberto (**):

"Tens de me esclarecer uma coisa, sff: na nossa página sobre o Xitole/Saltinho, há uma fotografia tua, que tiraste em 2001, a atravessar a Ponte Marechal Carmona, em que tu dizes ser 'sobre o rio Corubal, na estrada Bambadinca-Xitole-Aldeia Formosa'. Então para se ir do Xitole até à Aldeia Formosa não tinha de se passar no Saltinho e atravessar a Ponte Craveiro Lopes, a tal que tem vários arcos em betão armado? Que estrada era essa, afinal ?"

Anteriormente, o David Guimarães, no poste de 17 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XX: "Foi você que pediu uma kalash?", já tinha esclarecido em parte o mistério da tal ponte Marechal Carmona (**):

"No Xitole, para lá da pista de aviões, a 5 Km, há uma ponte que atravessa(ava) o Rio Corubal, ligando a estrada de Bambadinca-Xitole à Aldeia Formosa.... Essa ponte está interrompida com um pegão dentro da água... Essa ponte mantem-se lá, inoperante, e não foi reconstruída...

"A história é que essa ponte teria sido interrompida pela nossas tropas no início da guerra. Outra versão é que que tinham sido os naturais. Uma terceira versão é que tinha sido o Corubal e as chuvas que teriam causado o colapso da ponte... Fico à espera que alguém me conte a versão verdadeira. Alguém da Guiné saberá? Desconfio que não, pois dela resta a história somente.

"Seguem em anexo duas fotografias da tal ponte [a Ponte Marechal Carmona], pois ela é só meia ponte: a fotografia que mostra a interrupção, não saiu, que pena! Mas, enfim, é essa. Onde estou eu é exactamente na entrada do lado do caminho para o aquartelamento... Nota-se que ela está inclinada... Era importanete esta zona, pois que, como em todas as pontes, eram feitas operações de reconhecimento regulares"...

E eu acrescentei a seguinte nota (**):

"No mapa do Xitole (Serviços Cartográficos do Exército, 1956), a "ponte em ruínas" vem devidamente sinalizada, no Rio Corubal, a cerca de 4,5 km, a sul do Xitole, entre os ilhéus Saido (a oeste) e os rápidos de Cusselinta (a leste)...

"Não sei a data da construção da Ponte Marechal Carmona, mas é capaz de ser dos anos 40. Essa ponte deveria permititir a ligação a uma picada (ou uma estrada projectada: está no mapa a tracejado) que ia ter à estrada para Buba e Fulacunda (à direita) e Mampatá, Quebo (Aldeia Formosa) e Chamarra (à esquerda). Antes da guerra, podia-se depois regressar ao Xitole, através de Contabane (virando à esquerda) e Saltinho (Ponte Craveiro Lopes). No cruzamento de Contabane, à direita, apanhava-se a estrada para Guileje e Madina do Boé".

2. Na I Série do nosso bogue, tivémos mais uma achega, a de Mário Dias (Srgt Comando Ref, Brá, 1963/66), profundo conhecedor da Guiné dos anos 50 (antes de frequentar o 1º CSM, na Guiné, em 1959, trabalhou em Bissau, cujo desenvolvimento e progresso acompanhou):

"Deparei com algumas dúvidas suscitadas pelas pontes sobre o Corubal. Ambos, David Guimarães e Humberto Reis, têm razão. Antes da construção da ponte Craveiro Lopes, a tal que tem a sutentanção feita com arcos superiores, a travessia do rio era feita na outra ponte que - pasme-se, soube agora - se chamava Marechal Carmona. Essa fica próxima do Xitole, a jusante de Cussilinta. Entre nós, os colonos, era conhecida por passagem submersível do Saltinho e foi mandada construir, se não me falha a memória, pelo governador almirante Sarmento Rodrigues.

"No meio do rio, no local de corrente mais forte, foi construido uma espécie de dique com várias aberturas na parte superior destinadas a dar passagem à água na altura de maiores caudais, o que acontecia durante grande parte do ano na época das chuvas. Por tal facto, nessa altura do ano a passagem era impossível por ficar submersa. Daí a designação de 'submersível'. Daí também a sensação, para quem não souber e nunca a utilizou, que o que se vê parece ruína, acidental ou propositada.

"Alguns anos mais tarde, não me recordo já quando, foi construida a nova ponte (Craveiro Lopes) que, embora obrigando a um percurso mais longo, veio permitir a passagem durante todo o ano. A antiga passagem submersível deixou de ser utilizada e mais ninguém lhe 'passou cartão'.

"Um abraço. Mário Dias"(***).

Recorde-se que Manuel Maria Sarmento Rodrigues (1899-1979)> foi Governador da Guiné entre 1946 e 1949. E em 1950 integrou o Governo de Salazar como Ministro das Colónias (a partir de 1951, Ministro do Ultramar). Era um prestigiado oficial da marinha e um homem com grande experiência de administração em África .

Guiné > Zona Leste > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho > 1972 > Vista aérea do Rio Corubal, da ponte e do aquartelamento do Saltinho (na margem direita, instalações hoje transformadas em unidade hoteleira)

Foto: © Álvaro Basto (2007). Direitos reservados

Entretanto, o Mário voltou a fazer outro esclarecimento (***):

"Depois de ter lido com mais atenção as intervenções do David Guimarães e do Humberto Reis sobre as pontes do Corubal, e tendo ido à carta do Xitole, verifiquei a existência de uma ponte em ruinas, assinalada nessa carta e que deve ser a tal Marechal Carmona da fotografia.

"Confesso que desconhecia a sua existência pois, pelo menos desde 1950, que a travessia do rio se fazia pela tal passagem submersível de que falei. Ao ler, muito por alto,que a referida ponte Marcehal Carmona estava interrompida e existia no meio do rio um 'pegão', deduzi tratar-se da ponte submersível que, por não estar em uso desde a inauguração da nova Craveiro Lopes, estivesse já em ruína.

"Errei, e peço desculpa.Nunca atravessei o Corubal na tal ponte Marechal Carmona. Sempre o fiz pela submersível e mais tarde pela nova que, penso eu, foi inaugurada em 1955, pois tem o nome de Craveiro Lopes que, nesse ano, visitou a Giuiné. É de supor, portanto, que a derrocada da antiga ponte Marechal Carmona deve ter acontecido antes dos anos 50, certamente por causas naturais.Mais uma vez as minhas desculpas pelo meu involuntário erro".

Guiné-Bissau > Saltinho > Ponte General Craveiro Lopes > Lápide, em bronze, evocativa da "visita, durante a construção" do então Chefe do Estado Português, general Francisco Higino Craveiro Lopes, acompanhado do Ministro do Ultramar, Capitão de Mar e Guerra Sarmento Rodrigues, em 8 de Maio de 1955. Era Governador Geral da Província Poprtuguesa da Guiné (tinha deixado de ser colónia em 1951, tal como os outros territórios ultramarinos...) o Capitão de Fragata Diogo de Melo e Alvim... Craveiro Lopes nasceu em 1894 e morreu 1964. Foi presidente da República entre 1951 e 1958 (substituído então pelo Almirante Américo Tomás).

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Novembro de 2000 > Brasão, inspirado na ponte do Saltinho, da CCAÇ 2406 (1968/70). Esta companhia, sob o comando do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) esteve envolvia na trágica retirada de Madina do Boé (a sua irmã, a CCAÇ 2405, de Galomaro, sofreu 17 mortos em Cheche) mas também na Op Lança Afiada (triângulo Xime, Xitole, margem direita do Rio Corubal, Março de 1969)...

Guiné-Bissau > Saltinho > Novembro de 2000> Pousada do Saltinho > Brasão, igualmente inspirado na ponte sobre o Rio Corubal, da CCAÇ 2701 (1970/72), companhia a que esteve adido o nosso Paulo Santiago (Pel Caç Nat 53). Era comandada pelo Cap Carlos Trindade Clemente. (***P). Camaradas que passaram por lá: Martins Julião, Carlos Santos, Tony Tavares, Mário Rui, al´+em do médico já falecido, Dr. Faria (Paulo, cito de cor) (****)...

Fotos: © Albano M. Costa (2006). Direitos reservados


3. Comentário de L.G.: Afinal, chegou a haver não duas pontes, mas três pontes sobre o Rio Corubal... É isso ?

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 7 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5227: Memória dos lugares (51): Ponte Carmona sobre o Rio Corubal (Carlos Silva)

(**) V. poste de 26 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXV: Estórias do Xitole ao Saltinho: duas pontes, um fornilho e uma trovoada tropical (David Guimarães)

(***) Vd. postes de:

26 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXVI: As pontes sobre o Rio Corubal (Mário Dias)

26 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXIX: As pontes sobre o Rio Corubal: rectificação (Mário Dias)

(****) Vd. poste de 13 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1424: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (6): amigos do peito da CCAÇ 2701 (Saltinho, 1970/72)