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terça-feira, 22 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9934: Efemérides (90): Guidaje foi há 39 anos: reconstituindo a 5ª coluna, de 22 e 23 de maio de 1973 (Victor Tavares e † Daniel Matos)

A 5ª coluna,  a caminho de Guidaje>  Operação Mamute Doido, com os páras da CCP 121 > 23 de Maio de 1973 [fusão de dois postes]

por Victor Tavares (*) 
e † Daniel Matos (**)


1A. Victor Tavares [, ex-1º cabo paraquedista, CCP 121/ BCP 12, BA 12, Bissalanca, 1972/74). foto à direita]:

No início do mês de maio de 1973, as forças do PAIGC intensificaram os ataques aos destacamentos de fronteira, mais concretamente Guidaje, a norte, e Guileje, a sul. Em Guidaje a pressão das forças IN começou com ataques ao aquartelamento e depois às colunas de reabastecimento no período 7 a 30 de Maio de 1973. Nesse período realizaram-se seis colunas. Apenas a terceira conseguiu alcançar o objectivo sem problemas.

E porque fiz parte da quinta coluna (***), gostaria de dar algumas ideias do que passei na mesma aos tertulianos interessados na guerra de Guidaje.


Para começar quero dizer-vos que já li que os efectivos da CCP 121 que participaram nessa coluna eram na ordem de 160, quando na verdade seríamos pouco mais de metade. Mas avançando para o desenvolvimento, mais concreto, do deslocamento entre Binta e Guidaje, de má memória para os paraquedistas da 121, nesse dia fatídico para as nossas tropas recebemos a informação de que íamos fazer protecção a uma coluna auto que ia para Guidaje, e que regressaríamos de imediato, até porque não nos fora distribuída alimentação.


1B. Daniel Matos [1950-2011, ex-Fur Mil da CCaç 3518, Gadamael, 1972/74, foto à esquerda] ...


[Em 22 de maio de 1973,] do quartel de Binta, sensivelmente à mesma hora (sete e trinta) em que saíramos de Guidaje, avançara também nova coluna logística, com a missão de evacuar o pessoal, sobretudo os feridos. A CCP 121 faria protecção a oeste da estrada, cabendo a um destacamento misto de fuzileiros (42 homens dos DFE n.º 1 e n.º 4, comandados pelo primeiro-tenente Albano Alves de Jesus) a protecção a leste. Os picadores seriam de um grupo de combate da CCaç 14 (guarnição de Farim), participando também um grupo reduzido de elementos da CCaç 3. Um dos elementos, – o furriel miliciano Arnaldo Marques Bento, – deste grupo comandado pelo alferes Gomes Rebelo, acciona uma mina antipessoal, reforçada com outra, anticarro, e tem morte imediata. Também um picador – o soldado Lassana Calisa, – morre alguns metros adiante e a mesma mina provoca dois feridos graves. 


Ainda um outro engenho viria a ferir gravemente outro homem. Cerca do meio dia, um grupo de combate saiu de Genicó e veio reforçar a coluna. O tenente-coronel Correia de Campos manda abortar a coluna de reabastecimento e o pessoal regressa a Binta, onde chega apenas por volta das 18 horas.

2A. Daniel Matos

[A 23 de maio de 1973,] sai de Binta em direcção a norte uma coluna/auto comandada a partir de uma DO-27 pelo major 
paraquedista  José Alberto de Moura Calheiros. É protegida por uma unidade de fuzileiros especiais e por grupos pertencentes a unidades do Exército, nomeadamente da CCaç 3 e, como sempre, por uma equipa de picadores que rasga caminho lá bem na cabeça da coluna.

Ao chegar perto de Genicó liga-se aos cerca de 90 homens da CCP 121 que, sob o comando do capitão pára-quedista Armando de Almeida Martins, emboscada desde bem cedo, ali aguardam a sua passagem, para lhe fazer protecção. Os pára-quedistas faziam parte de uma força de intervenção, que incluía ainda uma companhia de comandos e uma companhia de fuzileiros, enviada para Guidaje para tentar romper o cerco e aliviar a pressão do PAIGC sobre o quartel.


2B. Victor Tavares:

Lá seguimos manhã cedo, [a 23 de maio de 1973,] até passar uma pequena ponte. Logo de seguida estacionámos e emboscámo-nos do lado esquerdo da picada, ficando a aguardar a chegada da coluna auto que, passado algum tempo, chegou já protegida do lado direito por um grupo de fuzileiros especiais, seguidos de elementos do exército.

Na frente da primeira viatura seguiam vários sapadores (picadores). É de referir que a mata envolvente era bastante aberta o que facilitava o contacto à vista com as outras nossas forças.

Entretanto, é dada ordem para iniciarmos a marcha lenta por forma a manter a ligação à vista com a frente da coluna. Nessa altura rebentou uma mina antipessoal, provocando 1 morto. Isto cerca das 8.30h. 

Recomposta a ordem, retomamos a marcha, até que, passados pouco mais de 15 minutos, novo engenho é accionado, desta vez por uma viatura, desfazendo parte dela e provocando mais 1 morto e 2 feridos graves. A partir daqui foi fazer a transferência da carga e retomar o deslocamento. Pouco tempo andámos para nova mina ser accionada provocando mais 1 ferido grave.

Nesta altura estávamos próximos de Genico [a seguir a Caur, vd. carta de Binta]. Perante estes acontecimentos foi dada ordem para que a coluna regressasse a Binta, uma vez que a zona se encontrava toda minada e seria de evitar correr mais riscos.

2.C. Daniel Matos:

Por volta das 8,30 horas, com a ligação à vista praticamente a ser efectuada, uma mina antipessoal é deflagrada e provoca a morte do soldado Bailó Baldé, da CCaç 3. Escassos minutos a seguir, quando a coluna recolhe o corpo e retoma o andamento, uma viatura acciona outra mina e causa mais uma morte imediata (soldado Fonseca Nancassa, também da CCaç 3) e dois feridos com gravidade. 

Uma terceira mina vem a ocasionar mais um ferido grave. Perante as adversidades da progressão, parecendo impossível ultrapassar o enorme campo de minas e armadilhas que encontrou em cada metro de caminho, é recebida ordem para que a coluna retroceda e regresse a Binta. Aos  paraquedistas , no entanto, é dito que devem avançar até ao destino, em missão de patrulha (operação Mamute Doido). Assim procedem, vindo a efectuar uma pausa para descanso, já na área do Cufeu. Conforme estas fatídicas jornadas demonstram à saciedade, seja ao longo da bolanha seja em torno da casa amarela que avistamos a cada passagem – ou do esqueleto que dela resta, – o Cufeu é uma zona propícia para as emboscadas, desde logo pelo número inusitado de morros de baga-baga atrás dos quais dezenas de corpos se podem ocultar e proteger-se das nossas balas.
3A. Victor Tavares:

Com tudo isto já passava do meio dia, quando é dada ordem para a CCP121 continuar a operação em patrulhamento, regressando os fuzileiros e o exército.

Em direcção a Guidaje seguiam os paraquedistas, até que foi feita mais uma de muitas paragens para descanso do pessoal, esta já na zona mais perigosa de todo o percurso, que era Cufeu.

Como me encontrava desde o início na retaguarda, desloquei-me até junto do meu comandante de pelotão, Tenente Paraquedista Hugo Borges, afim de saber qual seria o nosso destino, porque nos encontrávamos já bastante debilitados fisicamente. Foi nesse momento que a grande altitude apareceu sobrevoando a nossa posição uma DO 27 aonde se encontrava o Major Paraquedista Calheiros que, em contacto com o comandante da CCP 121, Capitão Paraquedista Armando Almeida Martins, informa-nos que teríamos de seguir para Guidaje porque já estaríamos perto.

Dada esta informação, regressei a retaguarda mas ao fazê-lo pedi ao Melo, apontador de MG 42, para ocupar o meu lugar (todos os operacionais sabem o desgaste físico e psicológico que tal posição provoca) porque eu já vinha a mais de uma dezena de quilómetros naquele lugar.

Entretanto inicia-se a marcha e, quase de imediato, rebenta na frente a emboscada, tendo os primeiros tiros dados pelas forças do PAIGC abatido logo os Soldados Paraquedistas, Victoriano e Lourenço e ferindo gravemente o 1º Cabo Paraquedista Peixoto, apontador de HK21 e MG42.

A reacção dos paraquedistas foi pronta e rápida: apanhados em zona aberta sem qualquer protecção reagiram ao forte poder de fogo do IN, conseguindo suster o assalto das nossas posições como se verificou na retaguarda onde guerrilheiros, alguns de tez branca, tentaram fazer um envolvimento as nossas forças, o que foi evitado pela elevada capacidade de organização em combate e disciplina de fogo, aliada à coragem dos nossos militares.

Quero referir que simultaneamente toda a nossa coluna ficou debaixo de fogo IN numa extensão de mais de 300 metros.

É de realçar também a organização e o poder de fogo dos guerrilheiros do PAIGC que, equipados com bom armamento, bem melhor que o nosso, caso das Degtyarev, RPG2, costureirinha PPSH, Kalashnikov, Canhão Sem Recuo, RPG7, Morteiros 61mm e 81mm, mísseis terra-ar Strela (estes a partir do início de 1973 começaram a derrubar a nossa aviação tirando-lhe capacidade de actuação no teatro de operações).

Não era por acaso que as forças do PAIGC estavam tão bem organizadas nesta zona e neste período, tinham como comandantes Francisco Santos (Chico Té) e Manuel dos Santos (Manecas), dois dos mais temidos pelas nossas forças, além do comandante Nino Vieira.

3B. Daniel Matos:

Retemperadas as forças, o pessoal da companhia de caçadores paraquedistas reinicia a marcha e é de pronto surpreendido por constringente emboscada. Dois dos pára-quedistas que seguem na frente (António das Neves Vitoriano e José de Jesus Lourenço, este com apenas 19 anos) têm morte imediata; o 1.º Cabo Manuel da Silva Peixoto, apontador de HK-21, é colhido por uma rajada e fica gravemente ferido. O fogo inimigo é muito intenso, a frente prolonga-se por algumas centenas de metros e dura três quartos de hora praticamente consecutivos. Há quem garanta ter avistado gente branca do outro lado.

“Os militares José Lourenço, António Vitoriano e Manuel Peixoto iam na primeira linha e foram os primeiros a cair”, relata muitos anos mais tarde Hugo Borges, na altura da emboscada tenente, comandante de pelotão (hoje general).

À mistura com tiros de Kalashnikov ouvem-se estrondos de canhões sem recuo e roquetadas das RPG-7, que causam pelo menos mais duas baixas graves: a do soldado Palma, que se encontrava a tentar desencravar a metralhadora MG 42 do soldado António Melo, que foi também ferido e ficou imediatamente em coma (viria a falecer após evacuação, já na metrópole). 

Apesar da resistência das NT, a ofensiva só é contida graças ao apoio aéreo que desta vez corresponde ao chamamento. Os Fiat lançam bombas de cinquenta quilos ao longo de meia hora bem medida sobre a zona de acção IN (cuja força é estimada em cerca de setenta guerrilheiros). 

Algumas viaturas saíram de Guidaje e foram ao encontro dos paraquedistas. Fizeram inversão de marcha para se carregarem os corpos das vítimas e regressarem à origem. Abrindo um novo trilho, conseguem chegar à aldeia de Guidaje, não sem que os guerrilheiros retirados do Cufeu após o bombardeamento da aviação os tenham atacado de novo, mas de longe e sem consequências. 

O Cabo Peixoto não resiste aos ferimentos e morre também neste dia 23 de Maio, – imagine-se! – considerado o “Dia dos Paraquedistas” por ser há precisamente 17 anos (desde 1956) a data da fundação, em Tancos, da Escola de Tropas Paraquedistas!...

O Batalhão de Caçadores Paraquedistas (n.º 12) teve durante as campanhas na “Guiné Portuguesa” cinquenta e seis baixas, (três oficiais, seis sargentos e quarenta e sete praças).

Os corpos dos militares da CCaç 3 que protegiam a coluna inicial e que pela manhã foram vitimados pelo rebentamento de minas (mormente os de Bailó Baldé e Fonseca Nancassa), ainda devem ter sido transportados pelas mesmas viaturas que os camaradas 
paraquedistas  trouxeram para Guidaje, pois viriam a ser ali sepultados, dias depois, conjuntamente. Se assim não fosse, teriam sido levados pelos fuzileiros e elementos do Exército que regressaram a Binta e o tratamento aos seus esquifes teria sido diferente.

4A. Victor Tavares:

Continuando a relatar o desenrolar da operação: durante o contacto fomos flagelados com morteiradas e canhoadas que rebentavam a poucos metros de nós, tendo uma delas ferido gravemente os Soldados Paraquedistas Palma e Melo, este com grande gravidade, ficando de imediato em estado de coma e vindo a falecer, na Metrópole.

Ainda relacionado com as granadas que rebentavam junto a nós, aí poderíamos ter mais mortos e feridos, mas a nossa sorte foi o terreno ser mole porque as granadas enterravam-se e os estilhaços saíam em V. Faço esta afirmação porque a dois, três metros da minha posição de combate, rebentaram 3 granadas e felizmente nada me aconteceu. Já a quarta granada veio mais longa, atingindo os paraquedistas atrás referidos, quando se encontravam a desencravar a MG42 da qual o Paraquedista Melo era apontador, de grande categoria (este camarada era uma autêntica máquina de guerra).

Ainda debaixo de fogo começaram a ser socorridos os feridos da retaguarda, pelo enfermeiro 1º Cabo Paraquedista Fraga.

Ainda antes de terminar este feroz combate, os bombardeiros Fiat 91 bombardearam as posições IN tal foi a duração do mesmo (mais de 30 minutos).

Terminado o contacto, tratou-se de improvisar a maca para transporte do Melo, o outro ferido, o Palma, seguiria a pé, já que o ferimento era no pescoço. Entretanto chega-nos a indicação da frente que tínhamos mais feridos e mortos (os átras referidos Peixoto, Vitoriano e Lourenço).

Entretanto, quando chegamos à frente, deparamos com os corpos dos nossos camaradas que jaziam no chão, dois já defuntos, e um ferido de morte, este a ser assistido pelos enfermeiros dos pelotões.

A partir daqui aguardava-se a chegada de viaturas que vinham de Guidaje. Chegadas estas, carregaram-se os mortos e feridos. Nnessa altura fui à viatura onde se encontrava o Peixoto para ver qual era o seu estado. Apertando o meu braço, diz-me ele:
- Tavares, desta vez é que eu não me safo. - Aí respondi-lhe:
- Não, tu és forte e tudo vai correr bem, tem calma.

Quando desci da viatura depois de ver os ferimentos, fiquei com a convicção de que só por milagre é que o Peixoto se safava: fora atingido por vários tiros em zonas vitais .

De seguida iniciámos a marcha rumo a Guidaje, para pouco tempo depois a coluna na frente ser novamente atacada, desta vez sem consequências de maior, para as forças que seguiam na frente, Fuzileiros e Paraquedistas, seguidas das viaturas e na retaguarda os restantes Paraquedistas que ainda tentaram fazer um envolvimento às forças do PAIGC, o que não resultou derivado à distância ser grande e as mesmas terem abandonado as suas posições de ataque.

5. Daqui até Guidaje não houve mais qualquer incidente. Chegados, fomos instalados ao longo das valas, montando segurança durante os dias que ai permanecemos, sete ou oito. Durante esses dias foram elementos dos Comandos Africanos que regressavam da Operação Ametista Real (no período de 17 a 20 de Maio de 1973) na qual também participou a Companhia de Paraquedistas 121 (Assalto à base de Kumbamory) dentro do Senegal. Participou também o grupo do Marcelino da Mata.

Em Guidaje também aí encontrámos parte de um destacamento de Fuzileiros que aqui se encontravam sitiados há alguns dias e que pertenciam ao destacamento de Canturé.

A seguir relatarei a permanência em Guidaje durante 9 dias e o funeral dos meus camaradas paraquedistas . (...)

PS - No que atrás relato não estão incluídas algumas passagens muito importantes que entendo de momento não publicar. (****)




Guiné > Região do Cacheu > Carta de Binta (1954) (Escala 1/50 mil)  > Detalhes: posição relatiav de Binta, Genicó, Cufeu e Ujeque (na picada Binta-Guidaje).

__________

Notas do editor:

(*) 25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto

Vd. também poste de 9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

(**) 5 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6108: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (7): Os dias da batalha de Guidaje, 22 e 23 de Maio de 1973


(***) Os historiógrafos militares Carlos de Matos Gomes e Aniceto Afonso falam em 6 colunas, realizadas nas seguintes datas:

1ª coluna: 8 a 9 de maio de 1973;
2ª coluna: 10 de maio [ vd. aqui o testemunho do nosso camarada A. Merndes, da 38ª CCmds]
3ª coluna: 12 de maio;
4ª coluna: 15 de maio;
5ª coluna: 22 de maio;
6ª coluna; 29 de maio.

(In: Os anos da guerra colonial: volume 14: 1973 - Perder a guerra e as ilusões. Matosinhos: QuidNovi. 2009, p.45).

(****) Último poste da série > 9 de maio de 2012 > 
Guiné 63/74 - P9874: Efemérides (55): Cerimónia da transição da soberania nacional na Guiné (2) (Magalhães Ribeiro)


sábado, 24 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9263: Tabanca Grande (313): António Eduardo Gouveia Carvalho, ex-Cap Mil da CCAÇ 3, Bigene e CCAÇ 19, Guidaje (1974)

1. Vou começar a apresentação do nosso camarada e novo tertuliano António Eduardo Carvalho, com um pedido desculpa pessoal, pela minha demora, motivada pelo acumular de correspondência que atira para as "calendas" as mensagens mais antigas.

Escrevia ontem o Carvalho no seu comentário deixado no Poste 6612:

Sou o Ex-Cap. Mil. António Eduardo Gouveia Carvalho. Já tentei integrar este maravilhoso colectivo, mas não possuo fotografias do tempo da Guiné.
Serei um dos vossos com todo o gosto, pois ao consultar, o que faço muitas vezes, este espaço netiano, verifico, com agrado que é muitíssimo bem orientado pelo camarada Luís Graça e seus directos colaboradores, a quem desde já presto a minha homenagem.
Aproveito para desejar a todos uma Festas Felizes.

Fui procurar na minha caixa de correio, tipo Torre do Tombo, e encontrei esta sequência de mensagens:


i) Mensagem de António Eduardo Carvalho em 7 de Outubro de 2010:

Costumo ver o vosso blogue que acho muito rico.
Gostava de fazer parte deste grupo que já é tão grande.


António Eduardo Gouveia Carvalho
Cap. Miliciano CCaç 3 e CCaç19 - 1974
Mais uma vez, Parabéns pelo blogue



ii). No dia 9 de Outubro de 2010 enviei esta resposta ao nosso camarada António Carvalho

Caro António Carvalho
Muito obrigado pelo teu contacto e pela tua vontade em te juntares a nós.


Presumo que estarás ciente das nossas normas de conduta e daquilo que pretendemos ao publicar as memórias daqueles que lutaram em terras da Guiné. O lado esquerdo da nossa página contempla todas as respostas às dúvidas que poderão surgir quando se pretende fazer parte de uma comunidade virtual, neste caso a nossa Tabanca Grande.

Presumo que acompanhaste o fim da guerra comandando os bravos militares guineenses que a nosso lado lutaram muitos anos e que no fim das hostilidades foram descartados e abandonados à sua sorte. Gostaríamos, se a isso estiveres disposto, nos desses a tua versão desses acontecimentos, já que os viveste, e ainda o que sentiste na hora do regresso. Como foram vividas as últimas horas até à independência e tudo o mais que achares por bem contar.

A tua posição de CMDT de Companhia deu-te oportunidade de acederes a determinado nível de informações, hoje desclassificadas, que não seriam do conhecimento da maioria dos combatentes, e que poderão ficar registadas no nosso blogue para memória futura.

A fim de seres apresentado formalmente à tertúlia, envia uma foto actual e outra do teu tempo de Guiné, tipo passe, mais uma pequena história pessoal ou não, e fotos, se tiveres, com legenda para a ilustrar.

Refere as datas de ida e volta, locais por onde andaste, etc. Poderás ainda contar um pouco de ti, do teu passado e presente, etc.

Se acederes a este link - http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Tabanca%20Grande - poderás ver as apresentações anteriores.

Ficamos então na expectativa de novo contacto teu.

Por meu intermédio recebe um abraço do editores.
Carlos Vinhal



iii). No dia 10 recebemos nova mensagem do nosso novo tertuliano:

Caro Carlos Vinhal
Estou completamente ciente das vossas regras e é exactamente por isso que penso que me enquadro nessa forma de estar.

Pedes-me fotografias dessa fase e actual.
Da fase da guerra só recentemente, através de um Alferes da minha Companhia (Luís Socorro), cujo telemóvel vi através do Blogue, consegui duas fotografias que ele possuia.
Essas fotografias, uma delas foi tirada no Senegal, quando, depois do 25 de Abril, tive um encontro com o PAIGC.
Outra foi tirada em Guidaje, também depois do 25 de Abril.
Numa delas (Senegal ) sou o terceiro a partir da esquerda. Na outra é fácil de ver sou o único branco confraternizando com soldados e civis.


Aproveito para te informar que há uns quatro anos fui entrevistado pelo Joaquim Furtado para a série sobre a Guerra, mas até agora ainda não apareci. Sei que quem indicou o meu nome foi o Comissário Politico do PAIGC, Duke Djassi, (Leopoldo Luís Alfama).
Obrigado pelo teu contacto.
Vou tentar enviar as fotografias, agradeço que digas alguma coisa.


Um grande abraço.
António Carvalho



iv). No mesmo dia respondi:

Caro António Carvalho
As fotos chegaram, mas não estão em bom estado para a partir delas fazer uma foto fardado tipo passe. Se tiveres o cartão militar, digitaliza e manda.
Fica a faltar a foto actual e um texto de apresentação.
Se fores avisado do dia em vai para o ar episódio em que apareces, diz-nos para alertar a tertúlia.


Já agora, quero tirar uma dúvida. Sendo tu mais velho do que eu só 4 anos, foste Cap Mil em 1974. Pergunto, foste para a tropa mais tarde ou cumpriste o serviço normal e foste outra vez chamado? Temos casos de Cap Mil já "velhotes" que foram chamados depois de ter família constituída, só porque não tinham sido mobilizados antes.

Um abraço
Carlos Vinhal



v). Ainda no mesmo dia António Carvalho:

Fiz o serviço militar no RI 6 na Senhora da Hora, a minha Especialidade era Inf. Oper. e Reconhecimento, como fui 2º classificado no COM não fui como Alferes.
Vim para a disponibilidade em 1969 e fui chamado para o CPC em 1973.

Fui para a Guiné em rendição individual com destino a Bolama, mas, chegado a Bissau, mandaram-me para Bigene (CCaç 3) e depois para Guidaje (CCaç19).
Já li uma passagem no blogue na rubrica "no 25 de Abril eu estava..." onde um dos Alferes da Companhia branca conta, no fundamental, o que se passou.
Para além disso há outras coisas que se passaram, mas que até agora tentei esquecer.
O Capitão que foi ao encontro do PAIGC era eu.

Nessa altura já eu tinha três filhos e trabalhava na Direcção Geral das Alfândegas, como Quadro Técnico.
Quando regressei da Guiné vim de novo trabalhar para a DGA. e actualmente estou aposentado.
Se algum dia se proporcionar gostaria de falar nisto com vocês
.

Um abraço
Ant. Carvalho



vi). Ainda no mesmo dia respondi ao nosso camarada:

Caro Carvalho
Foste um dos sacrificados milicianos, chamados para tapar buracos. A minha Companhia teve dois Cap Mil, o Jorge Picado, nosso tertuliano, hoje com mais de 70 jovens anos, e o Cap Mil Santos Caeiro, bem mais novo, que quando regressámos (MAR72), ainda lá ficou a penar.


Podes e deves contar tudo, desde que não te seja penoso. Por vezes o escrever, falando com aqueles nos compreendem, os outros camaradas, serve de terapia, uma espécie de desabafo, já que os nossos familiares, filhos e netos, não estão para aturar as nossas estórias, tão estranhas para eles.
[...]
Aguardo, então os teus elementos em falta para te apresentar.
Uma boa semana.
Carlos



vii). A partir daqui houve uma troca de mais duas mensagens e fez-se silêncio total até hoje, dia 23 de Dezembro de 2011. Mais de um ano. Inconcebível da minha parte.

Caro camarada Eduardo Carvalho
Confesso que me senti mal ao ler o comentário que fizeste no Poste 6612.
Era o que faltava alguém ficar de fora da tertúlia só por não ter uma foto para enviar.
Com os elementos que cá tenho vou apresentar-te formalmente, pelo que te podes desde já considerar membro deste grupo de ex-combatentes.
Quando quiseres, se tiveres alguma coisa para nos contares enquanto CMDT daquelas duas Companhias africanas, teremos muito gosto em publicar.
Breve irás receber notícia da tua apresentação. Espero que este endereço esteja actualizado, pois apareces no comentário como "torcava"


Recebe um abraço deste teu camarada e novo amigo, mais os votos de Boas Festas natalícias e de um 2012 pleno de venturas.

Carlos Vinhal

OBS:- Se possível, p.f. acusa a recepção deste mail


2. Comentário de CV:

Camarada Eduardo Carvalho, estás finalmente apresentado à tertúlia.
Não ter fotos da Guiné não é impeditivo de fazer parte do nosso Blogue, queremos, isso sim, o teu testemunho de um tempo difícil para todos, que coincidiu com a passagem do poder para o PAIGC, tempo de indefinição, em que principalmente os Oficiais com responsabilidades de comando tiveram um importante papel.

Já que não tens nenhuma foto tua do teu de Guiné, queria que na primeira oportunidade me enviasses uma foto actual, tipo passe, para encimar os postes com eventuais textos teus. É um costume nosso que queremos manter.

A tua correspondência deverá ser sempre enviada para luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com e para um dos editores, eu ou Eduardo Magalhães, cujos endereços encontrarás no lado esquerdo da nossa página.

Em nome da tertúlia e dos editores deste Blogue envio-te um abraço de boas vindas e já agora, os nossos votos de Boas Festas para ti e para os teus familiares.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9240: Tabanca Grande (312): João Gabriel Sacôto Martins Fernandes, ex-Alf Mil da CCAÇ 617/BCAÇ 619, Catió, Ilha do Como e Cachil (1964/66)

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Guine 63/74 - P8842: Cancioneiro de Bedanda (1): O hino da CCAÇ 6, Onças Negras (António Teixeira / Hugo Moura Ferreira)


O Hino dos Onças Negras da CCAÇ 6 (Bedanda)

Fonte: "O Seis do Cantanhês",  nº 1, 1973 (?)... Jornal mensal (só saíram dois números)...


Imagem: © António Teixeira (2011). Todos os direitos reservados


1. O jornal de caserna "O Seis do Cantanhez" foi criado e dirigido pelo Cap Gastão e Silva, da CCAÇ 6, tinha como redator-coordenador o Alf Mil Pinto Carvalho e, entre outros membros da redação, o Alf Mil António Teixeira...


2. Um dos camaradas mnais antigos da CCAÇ 6 é o Hugo Moura Ferreira  (1966/68) que já há muito, na I Série do nosso blogue, escreveu, sobre a história desta companhia africana, originária da 4ª Companhia de Caçadores Indígenas, o seguinte (Poste nº 820, de 31 de Maio de 2006)


(...) A determinado passo é afirmado [, no poste nº 817, de 30 de Maio de 2006] , perante elementos retirados da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), 3º Volume: Guiné, edição do EME, que “também ficamos a saber que a mais antiga Companhia de Caçadores, de recrutamento local, foi a CCAÇ 3, formada em Março de 1967, tendo como unidade mobilizadora o CTIG - 3ª Companhia de Caçadores Indígenas. Manteve-se em serviço até Abril de 1974. Estava sediada em Barro, como sabemos”
 

É precisamente sobre esta afirmação que eu gostaria de esclarecer que realmente em Março de 1967 foram formadas mais companhias com origem nas Companhias de Caçadores Indígenas (CAÇ I), como aconteceu com a CCAÇ 6 que foi formada na mesma altura tendo como unidade mobilizadora o CTIG – 4ª Companhia de Caçadores Indígenas. 

A confirmar que houve três mais antigas e não uma mais antiga estão os factos a seguir descritos. Assim, encontramos a páginas 62 daquela obra a referência a três Companhias de Caçadores Indígenas (1ª, 3ª e 4ª CCAÇ I) que, perante a Carta de Situação a 8AGO62, são localizadas em Farim, Nova Lamego e Bedanda. Por outro lado pode verificar-se nos Gráficos das Unidades que participaram, a pags 122, 123 que:

(i) A 1ª CCAÇ I se manteve no activo até Março de 1967, em Barro;

(ii) A 3ª CCAÇ I esteve em Nova Lamego até Março de 1967, tendo passado, a partir dessa data, a ser designada por CCAÇ 3, tendo sido transferida para Barro, nessa data, onde se manteve até Março de 1969, quando foi transferida para Guidaje de onde passou para Saliquinhedim, Bijene, onde se manteve até Abril de 1974;

(iii) A 4ª CCAÇ I esteve sempre localizada em Bedanda, até Março de 1967, quando passa a ser designada por CCAÇ 6, mantendo-se sempre no mesmo local, até Abril de 1974; (*)

(iv) Entretanto, em Março de 1967, quando foi efectuada a alteração de designação e de conceito de operacionalidade das Companhias de Caçadores formadas por pessoal africano, foi criada a CCAÇ 5 que se veio a localizar em Nova Lamego. Que em Agosto de 1968 se muda para Canjadude, onde se manteve até Abril de 1974;

(v) A partir daqui passaram então a ser formadas outras CCAÇ de Guarnição Territorial, das quais uma delas muito falada no nosso Blogue é a CCAÇ 13, do nosso amigo de Tertúlia Carlos Fortunato.

Esperando ter esclarecido e não confundido, mando abraços a todos.

Hugo Moura Ferreira

Ex-Alf Mil Inf 
(CCAÇ 6, Bedanda
Julho de 1967 / Agosto de 1968)
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Nota do editor:

(*) O mais antigo bedandense, o "pai da velhice", é o nosso camarada Rui Santos, da 4ª CCAÇ Ind, a quem temos todos que bater a pala... ´DE de 1963/65.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P6982: Blogues da nossa blogosfera (36): A Tabanca do Montijo, de João Manuel Félix Dias (ex-Fur Mil SAM, CCAV 2539 e CCAÇ 3, 1969/71)



Foi criado, em Dezembro de 2009,  mais um blogue sobre a guerra na Guiné (1963/74)... A iniciativa é do nosso camarada João Manuel Félix Dias, que pertence à nossa Tabanca Grande desde Setembro de 2008 (*). Nome do blogue: Montijo - Tabanca do Montijo. É "dedicada aos militares de Montijo que, naqueles anos de 1961/1974,  por trilhos, picadas e bolanhas com Sangue, Suor e Lágrimas contribuiram para elaborar o Nosso Historial".

Boa parte da rapaziada do Montijo, dos três ramos das Forças Armadas, são ou foram amigos de infância e de juventude do João, a quem damos os parabéns pela iniciativa (e o apoio que for necessário por parte da Tabanca Grande).


Eis como se apresenta o autor do blogue:

"Morei, algum tempo, no Alto das Vinhas Grandes. Em 1958 mudámos para a Rua E, (hoje, da Guiné) nº 4, no Afonsoeiro. Estudei até à 4ª. classe na Escola Reis,  junto ao Cinema. Preparei a Admissão na Farmácia Higiene, Prof. Pita, antes do Exame para o Ciclo Preparatório.

"Frequentei a velha Escola Técnica EICM até 1963. Saí com 15 anos e nesse mesmo ano comecei a trabalhar. Fiz um estágio na Soluz,  do Sr. Joaquim C. Tapadinhas e Quirino Correia. Algum tempo trabalhei em Lisboa na Rádio Escola. Também na empresa José Trindade Ventura - Carnes - que funcionava no quintal do Sr. Ilhéu. E durante mais tempo, até à tropa, trabalhei na Oficina  Joao Augusto Ramos. Contacto joaomanuel47@gmail.com  ou felixdias@msn.com  964451199 / 212316862, São Francisco, Alcochete".

No TO da Guiné o João Manuel Félix Dias foi Fur Mil Grad SAM, tendo passado pelas CCAV 2539 (S. Domingos) e 2540 (Sedengal) /BCAV 2876 (Ingoré, 1969/70) e  CCAÇ 3 (Binta, Guidaje, 1970/71).

A este batalhão, o BCAV 2876, pertencia o malogrado Cap Cav Luís Rei Vilar, comandante da CCAV 2538.

O João ia na coluna em que o Alf Mil Nelson Gonçalves, do Pel Caç Nat 60,  foi gravemente ferido numa A/C, na estrada São Domingos, Susana, a 13 de Novembro de 1969. (Há um blogue sobre o Pel Caç Nat 60, da autoria de Manuel Seleiro).

A mulher do Nelson Gonçalves, a Manuela Gonçalves (Nela) já escreveu, na I Série do nosso blogue,  sobre essse trágico episódio... Foi uma das primeiras mulheres a fazer parte da nossa tertúlia (hoje, Tabanca Grande). Tinha um blogue (Caminhos por onde andei) que já não está activo... Eu próprio lhe perdi o rasto. Eis o seu antigo email: misstrenga@gmail.com.




Blogue do Pel Caç Nat 60 (1968/74), da autoria de Manuel Seleiro

Ao telefone com o João, que tem uma excelente memória, fiquei a saber o seguinte:

(i) Ele cresceu n o Montijo, o pai era operário da Mundet, a fábrica de cortiça;

(ii) Hoje vive em São Franscisco, que pertence a Alcochete;

(iii) A ideia do blogue (**) surgiu-lhe quando estava desempregado;

(iv) Está a tentar reunir a malta da região, e fazer uma primeira reunião de convívio no Café Portugal;

(v) Foi vagomestre na CCAV 2539, mas levou uma porrada do capitão, acabando por passar um mês na CCAV 2540 e o resto da comissão na CCAÇ 3;

(vi) O vagomestre que ele foi render, teve uma comissão desgraçada: ficou até 1972 em comissão liquidatária; toda a gente roubava (a começar pela população civil a quem se dava boleia) quando da organização das colunas logísticas, de tal maneira que era preciso levar malta armada em cima das viaturas para dissuadir os ladrões; na mina em que foi ferido o Alf Mil Nelson Gonçalves, houve pilhagens de toda a ordem; 

(viii) Na CCAÇ 3 ele conseguiu convencer o capitão a arranjar mais um vagomestre: quando um ia a Guidage buscar os abastecimentos, ficava outro em Binta: tudo era conferido à partida e à chegada; ele não se queixa, na CCAÇ 3, teve uma comissão descansada;

(ix) Ouviu falar da história do Cap Luis Rei Vilar, da CCAV 2538, mas não sabe mais do que os boatos que circulavam; já conhecia aquele oficial deste Estremoz; achava que se devia pôr uma pedra no assunto;

(x) Tem, o contacto da Manuela Gonçalves (Nela) e de vez em quando trocam mensagens; o email dela é outro...

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 7 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3183: Tabanca Grande (85): João Manuel Félix Dias, ex-Fur Mil SAM, CCAV 2539, 2540 e CCAÇ 3, Guiné 1969/71

(**) Último poste da série > 21 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6203: Blogues da nossa blogosfera (35): Tabanca dos Melros, com sede no Choupal dos Melros, em Fânzeres, Gondomar, aberta a todos os ECUS, ex-combatentes do ultramar...

sábado, 15 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6398: Convívios (239): 1º Encontro/Convívio das 3ª CCAÇ e CCAÇ 5 “Gatos Pretos” (José M. Martins)

1. Mensagem de José Marcelino Martins (ex-Fur Mil, Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 8 de Maio de 2010:
1º Encontro/Convívio das 3ª CCAÇ e CCAÇ 5 “Gatos Pretos”

Em 24 de Abril do ano corrente, à hora aprazada reuniu-se uma centena de antigos militares e familiares da companhia dos Gatos Pretos.

Foi possível reunir com a presença de quase todos os Comandantes da Companhia, à excepção do Capitão Oliveira (que nos deixou em Março de 2007) e do Capitão Pacifico dos Reis (retido no Reino Unido, por motivos vulcânicos), proporcionando fazer a ponte entre a 3ª CCaç e a CCaç 5, provocando o convívio de várias “ninhadas de Gatos”.

Durante o almoço foi possível visionar várias imagens de elementos da companhia, uma produção José Corceiro, subdividida em vários temos: “Os que já partiram”, “Os que não puderam estar presentes”, “ A vida no Aquartelamento”, “A população da Tabanca”, etc.

Foram necessários 36 anos para que fosse possível este encontro, muitos dos presentes já não se reconheciam, outros não se encontravam há muitos anos, mas o “Cancioneiro de Canjadude” uniu todos, fazendo-nos voltar ao passado, que, apesar de ser de guerra, foi um passado de amizade e entreajuda.

Não será necessário passarem, nem 36 anos nem 36 meses, para nos voltarmos a encontrar.


Com um abraço,
José MartinsFur
Mil Trms da CCAÇ 5
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Nota de M.R.:

terça-feira, 4 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6314: Convívios (230): Encontro do Pessoal da CCAÇ 3 em Anadia, dia 22 de Maio de 2010 (José M. Félix Dias)

1. Mensagem do nosso camarada João Manuel Félix Dias, ex-Fur Mil da CCAV 2539/40 e CCAÇ 3, Guiné 1969/71, com data de 4 de Maio de 2010, solicitando a divulgação do Encontro do pessoal da CCAÇ 3.



CONVÍVIO DA COMPANHIA DE CAÇADORES N.º 3 GUINÉ

Após contactos com alguns de nós, optou-se pela realização do encontro, em terras da Bairrada, na cidade de Anadia.

Assim, venho junto do meu caro amigo e ex-combatente da CCAÇ3, na Guiné, informá-lo que o encontro está previsto para o dia 22 do mês de Maio, com o seguinte





PROGRAMA

10h30 - Concentração, nos Paços do Município

11h15 - Visita guiada ao Museu do Vinho e da Vinha

13HOO - Almoço no Hotel Cabecinho, em Anadia

17HOO - Encerramento



ALMOÇO

Entradas variadas e regionais
Sopa de legumes
Cabidela de leitão
Leitão assado à Bairrada
Sobremesas (buffet)
Vinhos branco e tinto da região e champagne
Café e digestivos
Dieta: a solicitar pelo interessado


PREÇO por pessoa 30€

ALOJAMENTO NO HOTEL CABECINHO
(NIB:003500930002208263095)

Single: 40€
Duplo: 50€


Agradeço a confirmação da presença e número de pessoas, até ao dia 18 do mês de Maio. O pagamento deverá ser efectuado para o Hotel Cabecinho (está indicado o NIB).

Com um abraço,
Dias Coimbra

Contacto: joão josé (diascoimbra@gmail.com)

Telefones:
231 512 178 - 969 653 401 - 917 360 199

Localização do Hotel - Clicar na imagem para ampliar
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 4 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6311: Convívios (143): Encontro Anual da CAÇ 4740, dia 19 de Junho de 2010 em Fátima (Armando Faria)

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 – P5534: Histórias do Eduardo Campos (1): CCAÇ 4540, 1972/74 - Somos um caso sério (Parte 1): Do Cacheu ao Cantanhez


1. O nosso camarada Eduardo Ferreira Campos, ex-1º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74, enviou-nos em 22 de Dezembro, a primeira da sua série de histórias que nos prometeu ir enviando nos próximas dias.

Camaradas,

Depois de ler com muita assiduidade as histórias que diariamente são publicadas no Blogue e tendo eu também algo para contar, sob a minha passagem pela Guiné, chegou a hora de compartilhar convosco algum do material guardado no “disco duro” da minha memória:


CCAÇ 4540 – 1972/74 – SOMOS UM CASO SÉRIO

PARTE 1

No dia 28 Agosto 1972, teve início no Regimento de Infantaria 15 (RI 15), em Tomar, a concentração do pessoal que constituiria a Companhia de Caçadores 4540. Na sua grande maioria, os militares eram oriundos do Norte do País, sendo de realçar a presença de alguns que vieram de França, para cumprirem o Serviço Militar.

Foi-nos concedido o gozo de uma licença de 2 semanas, após a qual o pessoal da Companhia, se foi apresentando novamente no RI 15, tendo-se procedido á Cerimónia de Bênção e Entrega do Guião à Companhia no dia 15SET1972, seguido de um desfile das tropas, na parada do Regimento.

Às 02h00 do dia 19 desse mesmo mês, a Companhia embarcou em autocarros, em Tomar, dirigindo-se para o aeroporto de Lisboa, onde o pessoal transitou para um avião dos TAM (cerca das 09h00), após o que levantamos voo rumo aos céus da África Ocidental.

Após quatro horas de voo bastante confortável, durante as quais imperou a boa disposição, já que a quase totalidade do pessoal realizava a sua primeira viagem aérea, aterramos no Aeroporto de Bissalanca. Procedeu-se então ao desembarque, perante um calor tórrido e sufocante,  próprio das regiões equatoriais.

Terminadas as formalidades habituais destas rotinas, procedeu-se ao transporte dos militares e respectivas bagagens, numa coluna de viaturas com destino ao Cumeré onde ficamos instalados. No dia 22SET1972, de manhã, fomos chamados para uma formatura geral, a que se seguiu o desfile da Companhia recém-chegada, perante o Brigadeiro Silva Banazol que proferiu algumas palavras de boas-vindas. Nesse mesmo dia segui para Bissau, com destino ao Regimento de Transmissões, onde estive cerca de 15 dias a fazer o chamado IAO.

Terminado o IAO, houve lugar a nova formatura geral no dia 17OUT1972, desta vez frente ao General António Spínola, Governador e Comandante-Chefe das Força Armadas do CTIG. A 18OUT1972, a Companhia partiu do Cumeré com destino ao porto de Bissau, onde se procedeu ao nosso embarque na LDG BOMBARDA, rumando á terra “prometida”, Bigene. 

E assim, lá fomos rio acima (Cacheu) desembarcando numa localidade chamada Ganturé, onde nos esperavam os camaradas da CART 3329, que iríamos substituir. Era notável a alegria com que nos receberam, tendo-nos em seguida transportado para Bigene (cerca de 6 ou 7 km), onde deparamos com vários dísticos e cartazes alusivos à chegada da nova Companhia de periquitos, espalhados pelas paredes e pela rua principal, cheios de humor e ironia.


Foto 1 – Bigene: Junto aos brasões das Companhias que por lá tinham passado





Foto 2 – Bigene: O descanso do “guerreiro” junto ao posto de rádio



Foto 3 – Bigene: Com um amigo de ocasião



Foto 4 – Bigene: De vez em quando dava para tomar banho



Bigene era bastante povoada, com gentes de várias etnias,  predominando os Fulas e os Balantas, havendo ainda bastantes Mandingas. A população europeia, além dos militares e do administrador de Posto, era praticamente inexistente, havendo apenas 1 português que era proprietário de uma casa comercial. Haviam mais 3 casas comerciais, propriedades de 3 libaneses.


No posto sanitário de Bigene acontecia algo que eu considerava surpreendente, que era receber e tratar populares do Senegal, que atravessavam a fronteira para receberem tratamento médico. Ao mesmo tempo, esta gente aproveitava para comercializar os seus produtos no mercado local.

No dia seguinte, começou o treino operacional em conjunto com a CART 3329, cuja finalidade era adaptar e capacitar o pessoal em situações operacionais semelhantes às que iria encontrar nas suas futuras actividades dentro do sector atribuído à Companhia. É de salientar que ainda no período de treino operacional a 23OUT1972, se ter verificado o 1º contacto de fogo com o IN, mesmo junto ao marco fronteiriço que separava a Guiné/Senegal.

Só me apercebi que a palavra guerra fazia aqui todo o sentido, quando saí pela primeira vez para o mato e assisti à implantação de um campo de minas, e algumas armadilhas, na zona Samoge-Sambuía.O primeiro baptismo de fogo aconteceu a 24OUT1972, próximo de Nenecó, sem consequências. O PAIGC pelas informações que tínhamos, não tinha estruturas dentro do subsector de Bigene, nem se encontrava implantado no mesmo.

Partiam de bases situadas no Senegal, principalmente em Kumbamori, crê-se que utilizando as variantes do corredor de Sambuiá, para “cambar” o rio Cacheu, transportando material e mantimentos até ás margens do rio Cacheu, que procuravam atravessar em canoas e botes de borracha, para o interior do território, sendo, por vezes, surpreendidos pelos fuzileiros que se encontravam em Ganturé.

Terminado o período de sobreposição com a CART 3329, foi transferida por esta Companhia, para a nossa, toda a responsabilidade administrativa e operacional. No dia 15NOV1972, a CART 3329 terminou a sua comissão e despediu-se de Bigene.

Foi com muita emoção que os vimos partir, após um convívio comum de quase um mês, passado naquela localidade. Passou, desde então, a nossa Companhia a dar cumprimento às missões que lhe foram atribuídas, executando as directivas do COP 3. Uma semana depois recebemos a noticia que iríamos ser transferidos para Sul, sendo substituídos pela CCAÇ 3 e, de novo, lá fomos na LDG BOMBARDA.

Estávamos no dia 09DEZ1972, rio Cacheu abaixo, destino: Cadique/Cantanhez.


Foto 5 – A bordo da LDG “Bombarda”, com o João Pinto – Enfermeiro -, a caminho do Cantanhez


No dia 12DEZ1972, cerca das 08h00, avistamos pela primeira vez, terras do Cantanhez. Lugar onde parecia haver calma e paz, coisa que, ali, jamais encontraríamos.

Navegava-se lenta e demoradamente, connosco atentos a qualquer coisa suspeita, como se adivinhássemos a todo e qualquer momento o… imprevisto.

Posso afirmar que todo o pessoal, que até então tinha mantido um aparente estado de serenidade e bom equilíbrio psíquico, que evidentemente estava muito longe de existir na realidade, em cada um de nós, começava a exteriorizar-se através dos primeiros sintomas de medo, angústia e desespero, que se denotavam, nitidamente, nos nossos rostos. Tais sinais iam-se agravando, conforme se avançava no rio, e mais nos aproximávamos da zona que sabíamos de alto perigo.

A tomada de consciência desta crua realidade, que era “A EXISTÊNCIA IMINENTE DE PERIGO REAL DE MORTE”, despoletou em nós, instintivamente, a exigência da máxima vigilância a eventuais movimentos estranhos nas margens, que nos rodeavam, e a necessária manutenção do silêncio.

Chegados ao porto, onde se previa o desembarque, e mal a lancha alcançou terra firme, “A NOSSA TERRA PROMETIDA”, sem perda de tempo começaram a sair vários grupos de combate, para manter as seguranças, afastada e próxima, a fim de que o desembarque se fizesse sem grandes receios.

Logo que nos sentimos em terra do Cantanhez e nos familiarizamos com o lugar, onde iríamos “vegetar” durante quase uma dezena de longos e difíceis meses, tudo em nós se voltou a suavizar e a aparentar a habitual e perdida serenidade.

Finalizamos o desembarque sem percalços de maior, eram cerca de 09h00, (com o apoio da Força Aérea e dum bi-grupo da CCP 121), começando-se logo a trabalhar para instalarmos de imediato o pessoal, numa área que reunia as condições mais apropriadas á futura construção do aquartelamento.

Os primeiros dias da instalação do pessoal da Companhia foram penosos, em virtude de não existir nenhuma estrutura de que a tropa pudesse tirar partido, para implementar o seu futuro estacionamento.

Apenas existia uma mata exuberante, compacta e de difícil penetração, e algumas tabancas dispersas e ocupadas por população da área, predominando os velhos e as crianças. A pouco e pouco foi-se desbravando a mata e procedendo-se à colacação estratégica de todas as secções do Comando da Companhia e dos Grupos de Combate.

É de salientar o trabalho efectuado pela Força Aérea, Marinha, Pára-quedistas e outras forças, que dias antes do desembarque “limparam a zona” e acredito que só assim não tivemos problemas durante o desembarque, já que a região era considerada zona libertada pelo PAIGC.

A Companhia acabou por ter uma adaptação bastante boa e depressa se conformou com a sua sorte existencial “SITUAÇÃO DE TOTAL CARÊNCIA”. Todas estas operações tiveram o nome “GRANDE EMPRESA”, visando a recuperação do Cantanhez e, na hora do desembarque, compareceu o General Spínola, que acompanhou de perto o desenrolar das actividades no terreno.

Foto 6 – Cadique: Tratando da higiene das mãos


Foto 7 – Cadique: A mata começou a ser desbravada



Foto 8 – Cadique: A Bandeira já havia, vendo-se ao fundo os chalés “com ar condicionado”



Foto 9 – Cadique: Um abrigo também já havia



Foto 10 – Cadique: O que será feito destes jovens?


Após os primeiros dias de porfiado esforço,  dispendido na montagem do estacionamento, começaram os nossos Grupos de Combate a tomar contacto com o terreno, acompanhados por Grupos da CCP 121. Foi de grande utilidade para os nossos militares a observação do modo como se comportavam, e da preparação com que a tropa especial pára-quedista foi dotada para este tipo de guerra. Muito se aprendeu realmente no convívio estabelecido, dentro e fora do aquartelamento, entre os militares de ambas as  Companhias.

Os primeiros contactos com o IN foram obra da CCP 121, a qual nos transmitiu teoricamente os modos de actuação e as estratégias utilizadas pelo IN, e a sua estrutura de carácter militar, naquela zona operacional.

A situação sanitária era razoável, mesmo considerando as precárias as condições de higiene que se viveram nos primeiros tempos do baseamento da Companhia.

As condições climáticas eram as mais adversas.  A situação logística foi muito precária nos primeiros meses de vida no Cantanhez.  As nossas condições de adaptação foram melhorando, à medida que se foi desmatando a floresta, com a abertura de poços, a construção de um heliporto e de um cais.

À medida que o reordenamento foi evoluindo, começou Cadique a tornar-se uma povoação de fisionomia completamente diferente, permitindo assim beneficiar, em muitos aspectos, a população local e a tropa, nomeadamente, no que respeita a melhoria das instalações.

O agrupamento de Cadique ficava situado na península formada pelos rios Cumbijã e Cacine, no Sul da Guiné, o terreno é plano, dividindo-se em dois planos de carácter bem distintos: por um lado a bolanha e, por outro, a mata densamente arborizada.

A configuração do sector apresentava-se do seguinte modo: a Norte era delimitado pelo Rio Bixanque, que desagua no Cumbijã, a Sul pelo rio Macobum, a leste pela mata do Cantanhez até ao entroncamento de Jemberem, e, a Oeste, pelo rio Cumbijã.

Os dois mais importantes itinerários eram, na época, a via fluvial do Cumbijã e a via terrestre, que ia de Cadique a Jemberem (que quando lá chegamos era uma picada secundária), e, quando de lá saímos, era uma estrada principal e que ia entroncar na picada principal que vinha de Cabedu.

O principal aglomerado populacional era Cadique Nalú, existindo ainda, além dele, outro de menos importância que se chamava Cadique Imbitina (a cerca de 2,5 Km). Mais para Norte, existia um outro importante aglomerado populacional,  Cadique Iala. O quartel acabou por se construído em Cadique Imbitina.

Na época, o principal recurso desta zona era, sem dúvida, o arroz em virtude das enormes bolanhas, que existiam ao longo de todo o rio Cumbijã. Outro recurso que não era explorado, era a pesca no rio Cumbijã, que me pareceu ser rico em variedades de peixe e de crustáceos.

A população civil era quase toda de etnia Balanta, encontrando-se também alguns (poucos) Nalus. Mostrou-se a princípio muito pouco receptiva à presença da tropa e bastante temerosa.

À data, não existia população europeia além dos militares, mas, segundo informações colhidas na zona, teria existido alguma antes do início das hostilidades, que se sentiu obrigada a abandonar a localidade em virtude do agravamento da instabilidade.

Nesta zona iríamos sofrer bastante. Parecia-nos mais um lugar paradisíaco do que um campo de batalha, mas, dias mais tarde, iríamos ter a oportunidade de ver e sentir a triste e fatal realidade.

O pior estava para vir: o inferno da construção da estrada Cadique/Jemberem.

Um abraço Amigo,
Eduardo Campos
1º Cabo Trms da CCAÇ 4540



Fotos: © Eduardo Campos (2009). Direitos reservados.

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Notas de M.R.:

Este é o primeiro poste desta série "Estórias do Eduardo Campos".