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sábado, 25 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4246: (Ex)citações (25): Sinto-me feliz por ter vingado todas as injustiças que nos fizeram na Guiné (Salgueiro Maia)


Reprodução de um cartão pessoal, manuscrito, de Salgueiro, ex-comandante da CCav 3420 (Bula, 1971/73), agradecendo ao José Afonso, seu ex-Fur Mil, o telegrama que este lhe enviara, felicitando-o pela sua participação no golpe militar do 25 de Abril e pelo sucesso do movimento... Diocumento s/d, mas próximo do 25 de Abril de 1974... Repare-se que o Salgueiro Maia ainda utilizou papel timbrado da sua ex-companhia, sediada em Bula (SPM 1898).

O nosso camarada José Afonso é bancário, reformado da CGD, e divide o seu tempo entre Castelo Branco, de donde é natural, e o Fundão, onde trabalhou e tem residência (*).

Cortesia de José Afonso (2009). Direitos reservados

_______

Nota de L.G.:

(*) Vd poste anterior:

25 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4245: Cap Cav Salgueiro Maia, director do jornal de caserna da CCAÇ 3420, Bula, 1971/73, Os Progressistas (Luís Graça / Jorge Santos)

Guiné 63/74 - P4245: Cap Cav Salgueiro Maia, director do jornal de caserna da CCAV 3420, Bula, 1971/73, Os Progressistas (Luís Graça / Jorge Santos)



O jornal de caserna da CCAV 3420 (Bula, 1971/3), Os Progressistas - Quinzenário de Divulgação e Recreio da CCAV 3420. Director: Cap Cav Fernando José Salgueiro Maia (*).

Fonte: Cortesia do
Jorge Santos (2005)


1. Participei, durante a minha instrução de especialidade de Apontador de Armas Pesadas de Infantaria, em Tavira, na elaboração de um jornal de caserna, em 1968. Em boa verdade, era um jornal de parede. Havia uma pequena equipa redactorial.

 O comandante da unidade, um tenente coronel, se não me engano, zelava pela orientação editorial do jornal e, claro, pelo moral da caserna (e a moral da Nação). Miúdas de peitos fartos, generosos e demais formas redondas, loiraças, provocantes, era bem vindas e aclamadas: afinal de contas, os instruendos estavam na flor da idade, precisavam de ter sonhos cor de rosa... e eram a fina-flor da Nação, como nos lembrava um célebre tenente, herói do norte de Angola (diziam-nos)...

Mas havia outro limites: Recordo-me de, um belo dia, ele, comandante, director, censor-mor, lídimo representante da Nação, ter-nos obrigado a mandar para o lixo uma vasta e luxosa edição, enciclopédica, dedicada à II Guerra Mundial e ao nazifascismo (que palavrão!). O argumento do censor-mor era de peso, de bom senso, definitivamente pedagógico:
- Para guerra, já basta a nossa, a do Ultramar!...

Vem isto a propósito do jornal de caserna Os Progressistas, um quinzenário de "divulgação, cultura e recreio" (sic) da Companhia de Cavalaria 3420, que esteve em Bula, em 1971/73... O director era o respectivo comandante, o jovem capitão de cavalaria, alentejano, de 27 anos, Fernando J. Salgueiro Maia, nem mais nem menos, o Salgueiro Maia (1944-1992), de quem Carlos Loures escreveu, no sítio Vidas Lusófonas, o seguinte:

"Salgueiro Maia, soldado português que à frente de 240 homens e com dez carros de combate da EPC avançou em 25 de Abril de 1974 sobre Lisboa, ocupou o Terreiro do Paço levando os ministros de um regime ditatorial de quase 50 anos a fugir como coelhos assustados, cercou o Quartel do Carmo obrigando Marcelo Caetano a render-se e a demitir-se. Atingiu o posto de tenente-coronel, recusou cargos de poder. É o mais puro símbolo da coragem e da generosidade dos capitães de Abril".

2.Salgueiro Maia foi, além disso, circunstancialmente, meu colega, no ano lectivo de 1975/76, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCPS), embora eu pouco ou quase nada privasse com ele, porque eramos de cursos diferentes (eu, de ciências sociais; ele, de antroplogia), com o estatuto de trabalhadores-estudantes.

Íamos às aulas à noite e a algumas Reuniões Gerais de Alunos (RGA), numa altura em que o ISCSP passava por um período de vida muito conturbado (saneamento de praticamente todos, senão todos, os docentes com assento no Conselho Científico, pelo menos os professores catedráticos...), o que levou no final do ano lectivo de 1975/76 (ou nas férias...) ao seu encerramento, por ordem do então Ministro da Educação, o socialista Sottomayor Cardia (1941/2006), e ao consequente início de um duro processo de luta estudantil contra a tutela e o regresso das múmias (como, depreciativamente, eram então chamados os professores, alvo de saneamentos selvagens, de natureza claramente político-ideológica, incluindo o Prof Doutor Adriano Moreira, antigo Ministro do Ultramar).

Além disso, num ambiente, claramente esquerdista como era então o ISCSP, virado do avesso, com diversas fações a digladiarem-se (da UEC ao MRPP, do MES à UDP...), o Salgeiro Maia do 25 de Abril era ofuscado pelo Salgueira Maia do 25 de Novembro... Esta ambivalência não terá facilitado as aproximações pessoais...

Salgueiro Maia, como bom alentejano e como militar da Academia, era, por outro lado, um homem reservado... O facto de ele ter estado na Guiné não me dizia nada: definitivamente eu esquecera a Guiné!... Foi um processo de denegação por que muitos de nós passaram. Vivi os cinco anos pós-Guiné com culpa e denegação: Guiné ?Não, nunca ouvi falar... Perdi, com isso, a oportunidade única de ter conhecido (isto é, privado com) um herói vivo...

2. Não me lembro na Guiné, no meu tempo de comissão (1969/71), de ter visto (e muito menos participado na elaboração de) jornais de caserna. A CCAÇ 12 não tinha caserna, éramos uma unidade de intervenção, composta por uma centena de soldados africanos e umas escassas dezenas de quadros (graduados) e especialistas (condutores, mecânicos, transmissões, enfermeiros) metropolitanos, vivendo em casa emprestada (os nossos soldados africanos, desarranchados, muçulmanos, alimentando-se a arroz, dormiam na tabanca de Bambadinca e não dentro do perímetro do aquartelamento)...

Quando regressávamos do mato, não tínhamos disposição nem pachorra para fazer jornais de parede... Além disso, eramos meia dúzia de gatos pingados... E os nossos soldados africanos não liam o português... Diferente era a situação das unidades de quadrícula (por exemplo, no Xime, Mansambo, Xitole) que tinham, pelo menos, caserna e mais algum tempo de sobra...

O jornal de caserna podia ser uma forma interessante de manter alto o moral das tropas e fazer a ligação com a Metrópole. Alguns jovens capitães do QP, como o Salgueira Maia e o Mário Tomé (mas também o Pereira da Costa,  membro da nossa tertúlia) perceberam a sua importância (**).

De qualquer modo, esta faceta do Salgueiro Maia, como director de um jornal de caserna chamado Os Progressistas( CCAV 3420, Bula, 1971), é capaz de ser um aspecto menos conhecido (e desvalorizado) do seu currículo militar. Imagino que tivesse um formato A4 e fosse feito a stencil... Nessa altura, a máquina a stencil estava muito vulgarizada na Guiné... Na secretaria da minha companhia havia uma, foi graças a ela que pude fazer um edição, semi-clandestina, da nossa história da unidade...

Algum do conteúdo, inocente, do quinzenário Os Progressistas já aqui foi revelado pelo José Afonso, que vive no Fundão e foi Fur Mil da CCAV 3420 (***).

__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste da I Série do nosso blogue > 3 de Julho de 2005 >Guiné 69/71 - XCVI: Salgueiro Maia, director de jornal de caserna

(**) Lista dos Jornais militares (Guiné), disponíveis no Arquivo Geral do Exército >

DESIGNAÇÃO / UNIDADE / DIRECTOR


33 (o) / Batalhão de Caçadores 3833, Pelundo - SPM 6978, 1971/1972 /
O Comandante

Acção / Comando do Sector de Bissau, 1972 / Cor Inf António Mendes Baptista

Açor (o) / Batalhão de Caçadores 2928, Bula – SPM 6688, 1971 / O Comandante

Águas do Geba / Companhia de Artilharia 2743, Geba – SPM 6548, 1971 /
Cap Mil Ilídio Rosário Santos Moreira /

Alvo (o) / Bataria de Artilharia Antiaérea 3434, Cumeré – SPM 1868, 1971 /
Cap Art António José Pereira Costa /

Ao Assalto / Batalhão de Caçadores 2834, Bula - SPM 4668, 1968 / Ten Cor Inf Carlos B. Hipólito

Azimute / Comando Territorial Independente da Guiné, 1966 / Brig Anselmo Guerra Correia

Baga-Baga (o) / Batalhão de Caçadores 1860, Tite – SPM 2928, 1965 / O Comandante

Básico (o) / Batalhão de Cavalaria 1905, Teixeira Pinto, 1967 / O Comandante

Big / Batalhão de Intendência da Guiné, Bissau – SPM 1648, 1968 /
Maj SAM António Monteiro A. Santos

Boina Negra (o) / Companhia de Cavalaria 2482, Fulacunda – SPM 5688, 1969 /
O Comandante

Capicuas (os) /Companhia de Artilharia 2772, Fulacunda, 1971 / Cap Art João Carlos R. Oliveira

Clarim / Batalhão de Cavalaria 790, Bula, 1965 / Ten-Cor Cav Henrique Calado

Convergência / Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, Bissau, 1970 /

Corsário (o) / Hospital Militar 241,Bissau, 1962 / ?

Dragão Negro / Batalhão de Artilharia 733, Farim – SPM 2568, 1965 / ?

Dragões de Jabadá/ Companhia de Cavalaria 2484, Jabadá, 1969 / Cap Cav José Guilherme P. F. Durão

Duros (os) / Companhia de Artilharia 2771, Nova Sintra – SPM 6608, 1971 /
Alf Mil Castela

Eco (o) / Pelotão de Artilharia Antiaérea 943, Bissalanca, 1965 /
Alf Art Jaime Simões Silva

Estrela do Norte / Batalhão de Caçadores 1894, S. Domingos – SPM 3668, 1968 /
Ten-Cor Inf Fausto Laginha Ramos

Falcão (o) / Companhia de Caçadores 3414, Sare Bacar – SPM 1878, 1973 /
Cap Inf Manuel Ribeiro Faria

Gato Preto (o) / Companhia de Caçadores 5, Canjadude – SPM 0028, 1971
O Comandante

Jagudi (o) / Companhia de Caçadores 2679, Bajocunda – SPM 1058, 1971 /
Cap Inf Rui Manuel Paninho Souto

Jamtum (o) / Batalhão de Caçadores 3872, Galomaro – SPM 2188, 1973 /
O Comandante

Lenços Vermelhos / Companhia de Artilharia 2521, Aldeia Formosa– SPM 5888, 1970 / Cap Mil Jacinto Joaquim Aidos

MFA na Guiné / MFA da Guiné, Bissau, 1974 / ?

Macaréu / Batalhão de Caçadores 2856, Bafatá – SPM 5438, 1969 /
O Comandante

Manga de Ronco / Batalhão de Caçadores 1932, Farim, 1968 / Alf Capelão Tourais Ferreira

Nova Vida / Batalhão de Caçadores 697, Fá Mandinga, 1965 / ?

Padrão / Batalhão de Caçadores 1877, Teixeira Pinto, 1966 /
Ten-Cor Inf Fernando Costa Freitas

Pentágono Manjaco / Batalhão de Caçadores 3863, Teixeira Pinto – SPM 1458, 1973 / O Comandante

Pica na Burra / Companhia de Cavalaria 2765, Nova Sintra – SPM 6438, 1970
Alf Mil Pedro Duarte Silva

Põe-te a Pau / Companhia de Artilharia 2775, Jabadá – SPM 6628, 1971 / O Comandante

Prá Frente / Companhia de Artilharia 3332, Piche, 1972 / ?

Progressistas (os) / Companhia de Cavalaria 3420, Bula – SPM 1898, 1971 /
Cap Cav Fernando J. Salgueiro Maia

Ronco / Centro de Instrução Militar, Bolama – SPM 0058, 1969 /
O Comandante

Saltitão (o) / Companhia de Caçadores 2701, Saltinho – SPM 1268, 1971 /
Cap Inf Carlos Trindade Clemente

Santo (o) / Companhia de Polícia Militar 2537, Bissau – SPM 5948, 1969 /
Cap Cav Hernâni Anjos Moas

Seis de Cantanhês (o) / Companhia de Caçadores 6, Bedanda – SPM 0038, 1973 / Cap Inf Gastão Manuel S. C. Silva

Sentinela de Catió / Batalhão de Artilharia 2865, Catió – SPM 5618, 1969 /
Ten-Cor Art Mário Belo Carvalho

Sete (o) / Batalhão de Cavalaria 757, Bafatá, 1965 / O Comandante

Soquete (o) / Bataria de Artilharia de Campanha 1, Bissau – SPM 0048, 1970 / Cap Art José Augusto Moura Soares

Tabanca / Companhia de Cavalaria 2721, Olossato – SPM 1318, 1970 /
Cap Cav Mário Tomé

Trópico / Batalhão de Intendência da Guiné, Bissau – SPM 1648, 1972 /
O Comandante

Voz do Quínara (a) / CCS do Batalhão de Artilharia 2924, Tite, 1971-1972
Cap Mil Pinto Madureira

Zoe / Agrupamento Transmissões da Guiné, Bissau – SPM 0228, 1973
Cap Trms Jorge Golias

Fonte: ”Imprensa Militar Portuguesa – Catálogo da Biblioteca do Exército”. Direcção de Alberto Ribeiro Soares (Coronel). Lisboa 2003.

Lista gentilmente cedida pelo nosso camarada Jorge Santos.


(***) Vd. postes de

23 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4240: Histórias da CCAV 3420, comandada pelo Capitão Salgueiro Maia (1): Era uma vez... (José Afonso)

24 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4242: Histórias da CCAV 3420, comandada pelo Capitão Salgueiro Maia (2): Curiosidades (José Afonso)

Vd. também o poste de 26 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1213: A CCAV 3420, do Capitão Salgueiro Maia, em socorro a Guidaje (José Afonso)

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4242: Histórias da CCAV 3420, comandada pelo Capitão Salgueiro Maia (2): Curiosidades, humor, histórias do Gasparinho (José Afonso)

1. Continuação do texto anexo à mensagem de José Afonso, ex-Fur Mil da CCAV 3420, comandada pelo Capitão Salgueiro Maia, com data de 22 de Abril de 2009, sobre a sua Companhia e seu Comandante, Capitão Salgueiro Maia.


CURIOSIDADES / CCAV 3420 (Bula, 1971/73)

[Fixação / revisão de texto / subtítulos: L.G.]

Quando a Companhia de Cavalaria embarca em Lisboa, leva já consigo a sua 1.ª receita: um jogo de Matraquilhos que em 6 dias de viagem esteve sempre ao serviço. Trabalhava de dia e noite sem parar. Foi um bom Fundo de Maneio. Quando chegámos a Bula, o mesmo jogo foi posto em frente do alçado da caserna dos soldados da Companhia, continuando ali a dar a receita pretendida.

Talvez vendo a fonte de receita que ali tínhamos, o Comandante do Batalhão pede a Salgueiro Maia que mande retirar dali os respectivos Matraquilhos, pois estavam em local central do Batalhão e não davam muito bom aspecto.

Não se tendo conseguido nessa altura demover a tomada de posição do Comandante do Batalhão, lá tiveram que ir os Matraquilhos para o Esquadrão de Reconhecimento Panhard. Aqui a receita era insignificante já que os homens eram muito menos, e também nem sempre o pessoal da Companhia ou Batalhão se deslocava cerca de 300 metros para jogar matrecos.

Salgueiro Maia tinha de arranjar maneira de os matrecos regressarem à origem. Como o Batalhão tinha falta de padeiros e os dois da Companhia estavam emprestados ao Batalhão, Salgueiro Maia vai dar a volta ao Comandante, dizendo que, com a falta de pessoal que tinha, necessitava dos padeiros da Companhia para alinharem para o mato. Levava já na manga a hipótese de deixar os padeiros onde estavam e, como contrapartida, os Matraquilhos regressarem ao Batalhão e colocados nas traseiras da caserna.

A esta proposta o Comando do Batalhão cedeu e uma vez mais Salgueiro Maia venceu.





Uma heli-evacuação

Quando a 28 de Novembro de 1971, um elemento da Companhia acciona uma mina, ficando sem uma perna e outro elemento também ferido, ambos do 3.º Grupo de Combate,  é solicitada a evacuação por Via Aérea para o Hospital de Bissau.

Ao chegar o helicóptero, sai dele uma enfermeira, que ao ver o soldado Santos sem roupa diz que assim não leva o ferido. Para ser socorrido, utilizaram-se os restos das calças para fazer garrotes à perna e ao braço. E com tiras da roupa seguram-se alguns pensos que tapam feridas menores. O homem estava nu.

Para satisfazer o pedido da enfermeira, foi pedido ao enfermeiro que tinha uma camisola interior vestida para que a tirasse e com ela tapasse o soldado ferido.


As vacas roubadas que andam de mão em mão, acabam sempre comidas em boa ocasião


Em Abril de 1972 aos elementos da Companhia que estavam no período de descanso, Salgueiro Maia pede voluntários para ir ao Km 13 da Estrada Bula – S. Vicente onde o 1.º Pelotão da Companhia estava emboscado e necessitava de apoio devido a um grupo de Balantas, que vinha do Senegal onde tinha ido roubar vacas, ter caído no campo de minas e algumas vacas andarem na estrada. Assim vão elementos da CCAV 3420 até ao local.

São apanhadas 2 vacas que são carregadas numa GMC. Satisfeitos os elementos da Companhia, com Salgueiro Maia à frente entram em Bula, gritando:
- Queremos carne.

À entrada do Batalhão está o Comandante que manda parar a coluna de 4 viaturas. Quando se pensava que ia dar um louvor aos voluntários, houve-se uma reprimenda do Comandante por a tropa vir a fazer muito barulho e, dá ordens para que a coluna entre na sede do Batalhão (a CCAV 3420 era uma Companhia de Cavalaria independente mas de reforço ao Batalhão de Infantaria). Toda a actividade mais perigosa era desempenhada pela 3420.

Contrariando as ordens do Comandante, Salgueiro Maia manda avançar a coluna para o Esquadrão de Reconhecimento Panhard 2641 que ficava aí a 300 metros do Batalhão pois, era ali que as vacas iriam ser comidas. Ao regressar ao Batalhão o Comandante dá ordem a Salgueiro Maia para que entregue as vacas porque diz ele que todo o material capturado ao IN tem de ser entregue ao Batalhão. Salgueiro Maia diz então que as vacas não foram capturadas, mas sim oferecidas e que foi o pessoal da Companhia que as foi buscar estando de descanso e o Batalhão não mandou sair nenhumas forças.

Mais diz Salgueiro Maia:
- As vacas roubadas que andam de mão em mão, acabam sempre comidas em boa ocasião.

O Fur Mil Afonso de calções... à POP

Um dia no Destacamento de Capunga aparece um helicóptero a sobrevoar a Zona e, de seguida, faz-se para pousar no minicampo de futebol. Desconhecia-se quem vinha nele, pois não havíamos sido informados. O furriel Afonso, que na altura estava a comandar o Destacamento, dirigiu-se tal como estava para receber quem nele vinha. Está vestido como normalmente se anda nos destacamentos. De chinelos, sem bivaque, de t-shirt e calções que já tinham sido calças, agora transformados em calções que, com as vezes que tinham ido a lavar e como não tinham baínhas, se encontravam todos desfiados.

Vinha no helicóptero o Coronel, Comandante do COP de Teixeira Pinto e o Comandante da Companhia 3420. Ao ver o Furriel naquela figura, o Coronel pergunta se está apresentável... Antes que o furriel Afonso diga alguma coisa, Salgueiro Maia olha para o Coronel e diz:
- Não vê, meu comandante,. que está com uns calções à POP!

O Velhinho, antigo refractário

Havia na Companhia um soldado que quis fugir à tropa e, então deu o salto para França. Mas, quando o irmão foi nomeado padre e disse a 1.ª Missa, não resistiu e, porque era de Monção, atravessou a fronteira para assistir à missa. Com a informação da Pide, o nosso amigo, foi preso e acabou por ter que fazer a tropa pelo que apareceu na Companhia já com os seus 30 anos. Era por isso conhecido como o Velhinho. Este era um elemento do 3.º Grupo de Combate que nas operações gostava de ir sempre à frente com a HK21 e faca de mato à cintura e dizia para o Capitão:
- Se um dia apanho um turra morto, o capitão vai deixar-me cortar uma orelha para fazer um porta-chaves e os testículos para fazer uma bolsa.

Era homem para isso, só que não estava autorizado a fazê-lo.


Guardando as costas dos senhores da guerra do ar condicionado


Havia determinadas datas em que se fazia a chamada Guerra de Bissau. Datas como Natal e Páscoa, datas do aniversário do PAIGC e datas em que Bissau sofreu alguns ataques.

Assim fazia-se deslocar tropa para os sítios donde o IN alguma vez atacou Bissau ou para zonas de onde era possível atacar. Assim, 2 Pelotões da CCav 3420 por duas vezes foram mandados para Nhamate. Foi o 1.º pelotão por 2 dias duma vez e o 3.º de 19 a 24 de Novembro de 1971.



Fizemos Bula – Binar - Nhamate a pé, para ali passar 5 dias. Em Nhamate, estava a Companhia de Artilharia 3330, não só aqui como nos destacamentos de Manga, Unche e Changue mas era em Nhamate a sua sede de comando.

Achamos estranho quando no primeiro dia, ao pôr-do-sol, toca o clarim para a formatura do arriar da Bandeira. É formada a secção em frente mas o engraçado é que depois da bandeira descida, em vez de o Furriel mandar direita volver, manda meia volta volver. E, nesta posição, de costas para o pau da bandeira, cantava-se:
- E viva a Pátria, viva o nosso General! 

Ao mesmo tempo mandavam como que um coice e gritavam:
- PUM!!!

Histórias do Gasparinho

O Comandante desta Companhia inicialmente foi o célebre Capitão Gaspar, mais conhecido por Gasparinho, que como foi promovido a Major foi para a COP de Mansabá. Na altura que estivemos ali, o Capitão Gaspar, já não estava mas as histórias contadas são hilariante e nem parecem ser reais. Eis algumas delas:

1 - Semanalmente de Nhamate ia uma coluna a Binar buscar os reabastecimentos. Era uma longa picada que deveria ser picada devido à hipótese de haver minas na zona. Isso não se fazia. Ou se montava uma HK21 na primeira viatura e se varria a picada à rajada ou então o Capitão Gasparinho picava-a à rajada de G3, tendo para isso sempre ao lado um homem que assim que acabava um carregador de imediato lhe passava outra G3. Era como ele dizia o reconhecimento pelo fogo.

2 - Em Junho de 1971, Bissau é atacado por foguetões de 122 mm. À Companhia do Capitão Gaspar é dada ordem para ocupar a Ponta Cuboi com um Pelotão, evitando outra possível flagelação de Bissau. Era difícil a esta Companhia dividir-se por 4 locais e a Companhia também não tinha rádios para o pessoal a destacar.

O Capitão Gaspar pedia muitas vezes através de mensagem algum material de que necessitava. Como já era demais conhecido em todas as Repartições de Bissau, quase nunca lhe era dado um sim. Desta vez pediu rádios AVP1. Responderam-lhe que Teixeira Pinto tinha sido o homem que havia pacificado a Guiné e conseguiu fazê-lo sem rádios. Resposta por mensagem:
- Então mandem-me o Teixeira Pinto.

Teixeira Pinto não veio mas o Capitão teve de cumprir a missão. Depois do Pelotão ter saído para Ponta Cuboi, enviou nova mensagem para Bissau:

Em referência às vossas mensagens, informo missão cumprida. Solicito autorização contratar 40 guardas-nocturnos a fim de garantir segurança às minhas posições.

O Pelotão de Ponta Cuboi fazia rotação entre os 4 da Companhia e patrulhava a zona 24 horas por dia. Ao sair para este patrulhamento, o Pelotão saía de modo muito original, com os homens equipados e armados em coluna de dois, cantando em coro, ao ritmo da marcha:

Cá vai a 30
Com arquinhos e balões
Vai P’rá Ponta Cuboi
Ver passar os foguetões!


3 - A Companhia de Nhamate necessitava de uns botes para um dos destacamentos patrulhar um rio. Claro que se pedem uns novos a Bissau pois os que existem metem água. Como sempre, a mensagem chega com um não. Mas, como o Capitão Gasparinho não era de desistir, manda nova mensagem dizendo que estava em época das chuvas, o quartel era subterrâneo, as casernas estão inundadas e o 1.º sargento não sabe nadar. E, assim sendo, que mandassem com urgência pelo menos um bote.

4 - Em Nhamate, como em toda a Guiné de vez enquanto aconteciam pequenos tornados, anunciando que pouco tempo depois iria chover torrencialmente. Uma das vezes voaram as chapas que cobriam algumas casernas do destacamento de Nhamate. Então o Capitão Gasparinho envia uma mensagem a todas as Unidades, com grau de urgência relâmpago, nos seguintes termos:

- Solicito e informem se viram passar as minhas chapas de zinco!

(O grau de urgência relâmpago obrigava a cessarem todas as comunicações rádio, pois era normalmente utilizado para pedir evacuações aéreas, quando havia vidas em perigo)

5 - Durante o período do Natal, o General Spínola visitava todas ou quase todas as tropas aquarteladas na Guiné, mesmo aquelas estacionadas em sítios mais perigosos. Deslocava-se quase sempre de Heli e um Heli-Canhão de apoio. Nestas deslocações toda a zona onde ele circulava e os sectores envolventes tinham instruções para toda a rede de rádios estar em escuta permanente. Como estava prevista a ida a Bula, o Comandante do Batalhão de Bula, ordenou que a Companhia do Capitão Gaspar informasse a sede do Batalhão logo que os hélis sobrevoassem Nhamate e se deslocassem para Bula.

Considerando a importância da missão, o Capitão Gaspar achou conveniente ir pessoalmente para o rádio e, assim, logo que ouviu barulho dos hélis a aproximarem-se chamou o comando do Batalhão de Bula ao rádio e informou:

- Informo Vexa (vossa excelência) que Sexa (sua excelência) passou na mecha !!! Terminado.

No dia seguinte todas as unidades do Teatro de Operações da Guiné receberam a seguinte mensagem:

- A partir desta data é expressamente proibido o uso de abreviaturas SEXA e VEXA.

São muitas e muitas as histórias do Capitão Gaspar ou Gasparinho, não só as passadas na Guiné mas também as de Moçambique. O Furriel de Transmissões desta Companhia deve ter um rol delas para contar pois por ele passavam todas as mensagens ou, pelo menos, tinha acesso a elas como responsável. E foi ele um dos que nos contou algumas quando por apenas 5 dias ali estivemos, não estando já lá o Capitão Gasparinho.

6 - E para terminar este rol de aventuras do Capitão Gasparinho, só mais uma história que, segundo consta, chegaram a vender-se cópias a 20$00 em Bissau. Era uma nota enviada de Nhamate em Março de 1971, ao Comandante de Engenharia de Bissau, com conhecimento do Comando Operacional n.º 3, às Repartições de Operações, População, Assuntos Civis e Acção Psicológica e ao Comandante de Batalhão de que dependia a Companhia.

O assunto da nota era o Quartel de Nhamate ou, mais propriamente “O ABARRACAMENTO.”

1 - Exponho a V. Ex.ª um dos assuntos mais vitais para a continuidade militar e humana de Nhamate.

2 - Passo a descriminar:

a) Depósito de Géneros: quando chover fico sem pão pelo menos 15 dias. Julgo que não é muito agradável.
Informo V. Ex.ª que não como pão.
Gordo, estou eu.
E os outros géneros?
E os autos subsequentes?
Só problemas.

b) Casernas: barracas de lona, todas oficialmente dadas incapazes. Na Birmânia, viveu-se assim um ou dois meses. Os quadros vivem-no há dez anos e os milicianos (os meus, de certeza) dão o litro até ao fim.

Os soldados dão tudo. Há que tudo lhes dar na medida do possível.

c) Cantina: e o tabaco? Desde Napoleão e Fredy da Prússia que o tabaco era uma das bases da eficiência do Exército.

Como combater ou trabalhar sem o velho cigarrinho? E os outros Géneros?
V. Exª. mais experiente meditará sobre o assunto.

d) Caserna de cimento: É único exemplar. Vou demoli-lo. Não tenho materiais. Solicito auxílio da Engenharia.

e) Messe: Desde o início das chuvas não necessita de garrafas de água. Basta as mesmas estarem abertas para que se encham com a água da chuva que cai na referida messe; Ponchos e gabardines: já temos.

f) Chapas de Zinco: ao mínimo vento já voaram no Quartel.

g) Gabinete do Comandante e 1.º Sargento: Com as chuvas, eu e o 1.º Sargento só temos como solução entrar no gabinete de escafandro, visto estar 2 metros abaixo da superfície do solo.

h) O meu pessoal só poderá transitar em canoas balantas. E, alguns não sabem nadar.
Conclusão: Siga a marinha!

3 - Este quartel tem de ser revisto por um oficial de Engenharia, senão começo a construir um novo com os materiais dos Reordenamentos, contra a norma, o que é aborrecido, contende com a disciplina e eu não gosto.

4 - Agradecendo a boa atenção de V. Ex.ª, gostaria de aqui ter como convidado um Sr. Oficial de Engenharia por vários dias, a fim de concordar ou condenar as minhas asserções supras.

Cumprimentos

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Nota de CV:

Vd. postes de:

26 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1213: A CCAV 3420, do Capitão Salgueiro Maia, em socorro a Guidaje (José Afonso)

23 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4240: Histórias da CCAV 3420, comandada pelo Capitão Salgueiro Maia (1): Era uma vez... (José Afonso)

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4240: Histórias da CCAV 3420, comandada pelo Capitão Salgueiro Maia (1): Era uma vez... (José Afonso)

1. Mensagem de José Afonso, ex-Fur Mil da CCAV 3420, comandada pelo Capitão Salgueiro Maia, com data de 22 de Abril de 2009: 

 Pois, amigo Luís, há muito que não dava notícias sobre a minha passagem pela Guiné, de Julho de 1971 a Outubro de 1973, relatando alguns episódios passados com a CCav 3420, de Salgueiro Maia. 

 Assim envio-te alguns excertos dum trabalho que estou fazendo sobre a História da 3420, valendo-me de documentos da Companhia, do conhecimento dos factos por em muitos deles ter sido interveniente.

 Estou tentando ilustrar essa história com fotos dos vários locais por onde passámos. Sobre Salgueiro Maia (vd. foto a seguir), que dizer mais além de tudo quanto foi dito? Vale neste momento lembrar a resposta à entrevista dada ao Centro de Documentação da Universidade de Coimbra, entrevista transmitida após a sua morte e que a uma pergunta que lhe foi feita sobre se nunca havia sido convidado para desempenhar nenhum cargo politico, ele soube dizer que sim, mas que para aceitar teria de fazer outro 25 de Abril, pois que os nossos políticos tinham mais preocupação em ser bem reformados a ser bem formados. 

 Nos anexos que envio, junto a cópia do cartão que me enviou em resposta a um telegrama que lhe enviei a felicitá-lo pela intervenção no 25 de Abril.

 
ERA UMA VEZ … 


 Assim começam todas as histórias e a minha também, para não fugir à tradição. Certamente estão a pensar que vão ter uma história de Natal, mas enganam-se: esta história é um sumário de muitas histórias, começadas em Março de 1971 em Santa Margarida, e continuada em Bula, Mansoa, Cacheu, Capunga; Pete e Ponta Consolação. 

 A minha história refere a existência de uma colecção de cracks, são eles “OS MAIS…” dos PROGRESSISTAS

 A abrir, o camarada “BIGODES”, assim chamado por ter possuído em tempos um farfalhudo bigode, estilo Gengis Khan, e ter uma maneira de viver que o faz andar sempre de pelos eriçados; não é mau tipo apesar de não topar o Lino nem os turras; nas horas vagas faz versos que até costumam rimar. 

 Vem depois o "VELHINHO", a instituição mais respeitável de Capunga City; é sapateiro remendão, mata vacas, esfola porcos etc. Tem um ar de Golias de trazer por casa, usa os calções mais Pop em todo Teatro de Operações. Há tempos por causa de um macaco; bem, ia sendo o fim da macacada.

 A seguir temos o “CAJADO”, rapaz esbelto, guerrilheiro de todas as panelas, usa faca na liga, que já fez manga de ”mortos”. Passa a vida a refilar com todo o mundo, nunca se sabe bem porquê. 

 Continuemos com o “MOUCO” que em tempos o foi, até um certo dia! Bem não falemos de coisas tristes. Pois o Mouco é homem que trabalha com o morteiro 81, a arma mais técnica que a Companhia possui; é só olhar para o seu aspecto de homem conhecedor de mort. 81, por não se impressionar com o barulho das granadas a sair do tubo. O Mouco é um homem desiludido: passou 17 meses a convencer o pessoal de que é Mouco e ninguém acreditou. 

 Temos a seguir o “TERRINAS”, o homem mais trabalhador da Companhia, e o mais comedor, também conhecido por “RUÇO”; será por isso que é o homem mais procurado pelas bajudas de Pete? É um trabalhador nato, domina todos os ofícios mas considera-se com pouco valor comparado com o da sua noiva. É um homem feliz. 

 Temos ainda o clarim “MATA”, não toca a lavar mas quase. Há 17 meses que toca o clarim que faz uivar todos os cães das redondezas, e não consegui ainda deixar de nos mimosear com as suas fífias. É um homem calmo no tipo dos barmam dos bares do Texas, talvez por isso seja “o homem do tosco”. É especialista em convencer os “gaseados”, para não arranjarem problemas. 

 Vem agora o “RATO” o homem que não gosta de andar de Jeep e que está perto de lerpar o cabelo, porque não fez ainda o “Menino Jesus” para o presépio de Pete. Gosta pouco de beber e é sem dúvida o mais crava da Companhia. Passa o mês a cravar, no fim deste, paga a quem deve e, como fica sem dinheiro volta ao princípio. Bem esperamos que com o 13.º mês o rapaz acerte a escrita. 

 Ao falar do Rato temos que falar no “BARBEIRO”, a alma gémea do Rato, que é o único no género, pois só corta cabelos quando está sem patacão. É o protótipo do soldado do futuro, pequeno para criar pouco alvo; com um capacete onde ele cabe quase todo, cheio de granadas à volta do corpo parece o homem dos pneus Michelin. Com o dinheiro ganho a cortar os cabelos já poderia ter ido à Metrópole, mas como é possuidor das maiores sedes do CTIG, só foi à cerveja; passa a vida a dizer para lhe darem ferramenta nova, pois não tem dinheiro para a comprar. 

 Temos agora o “BARTOLO”, especialista em sopa de nabos, e que afina quando lhe dizem que é triste 
que deixem entrar miúdos para a tropa, ou que ele vai fazer de Menino Jesus no Presépio. 

 Já me esquecia do “GRÁCIO”. Este é o das mil e umas maneiras para conseguir ir a Bula, ou jogar futebol. É sempre voluntário quando a coisa dá para o torto, mas fora disso anda sempre a tentar desenfiar-se. 

 Estes são “OS MAIS”, e por hoje ficamos por aqui, mas, há muitos mais, desconhecidos de que daremos público conhecimento oportunamente. Esta foi a prenda de NATAL publicitária para os crack

Aos simples mortais desejamos um BOM NATAL e um MELHOR ANO NOVO. Em resumo: QUE A COMISSÃO NÃO NOS PESE

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UM PROGRESSISTA, 

CAPITÃO SALGUEIRO MAIA 

JORNAL DE 24 de DEZEMBRO DE 1972.

COMENTÁRIO 

 Os Progressistas assistiram estupefactos aos acontecimentos no campo do Sporting num dos últimos domingos. Era visível em todos a consternação e incredulidade. Seria possível? Um árbitro a comer no toutiço ainda por cima daquela maneira? Fizeram-se mesas para comentar o caso e a opinião foi unânime, aqui no campo dos PROGRESSISTAS nunca sucedeu nem pode suceder tal coisa. E, no entanto, todos nós somos profissionais e desejamos ganhar o nosso campeonato. Mas entre nós cada jogador para além do elevado grau de tecnicismo que possui, dispõe também de uma correcção impecável. 

 Mas concretizemos para ver que não falamos de cor: antes de entrarmos em campo, uma das equipes, formada por oficiais e sargentos do QP já vai a ganhar entre 3 a 5 bolas à outra, a dos furriéis. Ora desta maneira já não há aquela ansiedade que estraga e destrói o verdadeiro desporto. Uma equipe ganha e a outra já sabe que perde até porque quando por qualquer motivo imprevisto começa a reduzir a diferença, o nosso Capitão acaba logo com o jogo porque entretanto já se está a fazer noite e a qualidade dos jogadores perde-se. 

 E há exemplos admiráveis de jogadores natos de correcção estrema: é o Monteiro fazendo triangulações e passo dobles; é o Almeida, autêntica locomotiva em ataques furiosos e que terminam algumas vezes no chão por placagem sempre serena do nosso Capitão; é o 1.º Beliz guarda-redes magnífico que com alguns empurrões e muita ciência acaba por dominar a situação; o sargento Pascoal sempre à frente, à espera da bola e nunca consegue terminar nenhuma avançada e, sou eu cuja importância é tão grande no desenrolar do jogo que noutro dia o nosso capitão até me disse: - Saia daí que você está a atrapalhar tudo! 

 Temos ainda o sargento Carreteiro muito bom em discussões futebolísticas mas, uma negação na defesa; o furriel Sancho “el ninho d’ouro”, o máximo que se pode exigir em técnica, pena que ande constantemente com os calções a cair-lhe, não fosse isso, o rapaz daria que falar; também o que nos vale é não haver por estes lados uma “liga dos costumes”. 

 Bem ainda não falamos do “Seringa” que quer que os golos dos furriéis sejam golos quando o nosso capitão considera que, como ninguém pediu autorização para marcar, o golo seja anulado! 

 Depois temos o alferes Mendonça “El Olívia Palito” que cada vez que entra no jogo, arranja um paludismo para os dias seguintes. Esclareço que cada falta ao prélio é paga com um garrafão de verde. 

 Pois é assim. Cá os PROGRESSISTAS não vão em agressões ao árbitro. E, para mostrarem bem que isso nunca sucedeu nem poderá suceder, continuarão a fazer como até aqui. Jogar com delicadeza e quanto a árbitro, “Cá Tem”. 

 Se quer praticar bom brutibol, se quer desenvolver as nódoas negras e os joelhos descascados, se enfim quer ser um homem, então frequente às terças, quintas e domingos, no extraordinário complexo desportivo do estádio “ERVA” em Pete. (BIGODES) 9 de Novembro de 1972 

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  O TEMA É CRITICA 


 Antes de mais quero dizer a quantos lêem o Jornal dos PROGRESSISTAS que não sou crítico de rádio ou televisão. Sou crítico em exclusivo deste jornal, de que é propriedade a CCav 3420, comandada pelo Capitão de Cavalaria: Fernando José Salgueiro Maia 

 A crítica que vou fazer é sobre a nossa equipa de futebol, já que no último jornal se falou muito de futebol, mas ao que parece o autor do artigo não falou daquilo que devia falar. 

 Falando no valor individual de cada elemento, começo já pelo guarda-redes, o nosso sargento Carreteiro, sem dúvida, bem constituído e com grande poder de elevação mas, pareceu-me que é altura de ser substituído e, o melhor substituto é o Bartolo do depósito de género ou o Paulo, o cozinheiro. A defesa central tem um elemento com longa experiência adquirida ao longo de 4 comissões que já fez no ultramar. 

Trata-se do 1.º sargento Beliz que, quanto a mim parece ter uns quilos a mais mas, como o campeonato está ainda em princípio parece-me ter possibilidades de recuperação. 

Quanto ao sargento Pascoal, é pedra base na equipe, porque consegue estar os 90 minutos no mesmo sítio à espera que a bola lhe venha ter aos pés. Dos furriéis, Sancho e Moreira, prefiro nem falar. 

Quanto ao furriel Gomes consegue ser superior em todos, mas em bigode; temos ainda os furriéis Monteiro, Almeida e Marques. O primeiro em vez de pensar no futebol anda mas é a pensar como pode acontecer faltar o frango aos domingos. 

Estou mesmo a ver que qualquer dia o Santos cozinheiro fica sem os seus frangos que parecem andar a mais cá no destacamento. O segundo é um elemento também muito habilidoso mas muito rafeiro, entrando sempre em falta, mas suponho eu, que um jogador com a sua classe não precisa de fazer tantas faltas sobre o adversário. 

 Temos ainda o Marques, o jogador mais disciplinado que entra em campo, é bom também em técnicas Resta apenas falar no trio da avançada que é composto pelos jogadores: Alferes Simões, Alferes Mendonça e Capitão Maia e, ao que me parece ser este ultimo, o capitão da equipe porque para além de dar ordem para terminar o jogo quando está a perder, está constantemente a dizer aos espectadores para que saiam para fora do arame farpado. 

 Quanto ao alferes Mendonça que nem mesmo a tomar leite em pó com flocos de cereais, não consegue dar um pontapé certeiro. O alferes Simões, é um jogador de cabeça e que joga sempre à vontade, talvez por daqui a uns meses ir no “gosse” para a Metrópole. O capitão Salgueiro Maia, parece-me ter medo da disputa de bolas de cabeça. Talvez seja derivado, a trazer sempre o cabelo curto, não deixa, no entanto de ser um bom extremo esquerdo e cheio de dinamismo e iniciativas que, por vezes são perigosas para o guarda-redes. 

 Resumindo e fazendo um balanço colectivo, parece-me que toda a equipa precisa de preparação física adequada e, essa preparação podia ser dada da seguinte maneira: Juntar todos os jogadores em grupos de 4 e fazerem talvez uns blocos de cimento pelo menos, sempre contribuíam para o bem estar de todos e, ainda para uma “GUINÉ MELHOR” 

 Eu peço desculpa quanto à crítica. Não foi feita para prejudicar ninguém mas sim, para que o jornal em vez de 4 folhas comece a ter 6, se possível. Para isso, precisamos de mais colaboradores. (SOLDADO JOÃO RIBEIRO) SETEMBRO de 1972

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quinta-feira, 26 de outubro de 2006

Guiné 63/74 - P1213: A CCAV 3420, do Capitão Salgueiro Maia, em socorro a Guidaje (José Afonso)


Guiné > Maio de 1973 > Op Ametista Real > 18-20 de Maio de 1973 > Croquis do plano de operações: (i) A 18 de Maio o Batalhão de Comandos Africanos sai de Bissau numa LDG, apoiada por duas LFG e desembarca em Ganturé, dirigindo-se à tarde para Bigene; (ii) 19 de Maio, às 6h00 da manhã, o BAC entra em território senegalês; com os três agrupamentos (Bombox, Romeu e Centauro) dispostos à volta da base IN, os Fiat procedem a um pesado bombardeamen do alvo; (iii) o 1º assalto IN é feito pelo Agrupamento Bombox (Cap Matos Gomes), seguido pelo Agrupamento Romeu (Cap António Ramos) e, por fim, pelo Agrupamento Centauro (Cap Raul Folques); (iv) o regresso das NT far-se-á por Guidaje, ao fim da tarde desse dia...

Fonte: José Afonso (2006) .

Originalmente publicado no Blogue-fiora-nada > vd post de 3 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCVI: Salgueiro Maia e os seus bravos da CCAV 3420 (Guidage, Maio/Junho de 1973) . Não trazia o nome do autor, no título, nem trazia subtítulos. Achou-se oportuno recuperar este post, que traz novos elementos informativos sobre a batalha de Guidaje. O seu autor é uma testemunha privilegiada. Deverá ser também publicado, em breve, como texto antológico, o relato que o próprio Salgueiro Maia fez, no seu livro autobiográfico, sobre estes dramáticos dias na região de Guidaje que antecederam o fim da comissão da CCAV 3420.


Texto do José Afonso (ex-furriel miliciano da CCAV 3420) que nos chegou, em boa hora, através do Albano Costa (ex-militar da CCAÇ 4150, que ficou sedeada em Guidaje, já no final da guerra, a partir o 4º trimestre de 1973:

«Foi através do blogue que um dia recebi um e-mail do ex-furriel José Afonso, da CCAV 3420, a tal de que era seu comandante Salgueiro Maia, e que um belo dia foi chamada para a zona do conflito que o PAIGC fez a Guidaje, no norte da Guiné, em Maio de 73.

"O José Afonso, que é do Fundão, tem tudo registado e facultou-me e autorizou-me que fosse transcrito o que aconteceu naquele período em que foram chamados para irem em defesa do destacamento que na altura corria perigo de ocupação por parte do PAIGC. Ele esteve na altura da porrada em Guidaje e enviou-me toda a história"...
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Situação Militar no Zona de Guidaje > Maio / Junho de 1973 > Intervenção da Companhia de Cavalaria 3420 > Zonas de Acção da Companhia: Binta / Guidaje
Subtítulos, a negrito, da responsabilidade do editor do blogue.

Em Maio de 1973, Guidaje e Guileje constituíram a prova mais dura a que as Forças Armadas Portuguesas foram sujeitas nos três Teatros de Operações (Angola, Moçambique e Guiné). Para aliviar a pressão sobre Guidaje, preparou-se um ataque à base inimiga de Kumbamory, situada a 4-6 km da linha de fronteira do Senegal, tendo em vista desarticular o IN e, se possível, destruir a Base, provocando o maior número possível de baixas.


Guidaje, Maio de 1973 - NT e IN

No início de Maio de 1973 a Guarnição de Guidaje era constituída pela CCAÇ 19 e pelo Pelotão de Artilharia 24, equipado com Obuses 10,5 e estava sob o Comando COP3 com sede em Bigene. Do lado Português, Guidaje em termos de efectivos teria cerca de 200 homens, na maioria recrutados na Província que com os seus familiares viviam numa pequena aldeia junto ao Quartel.

Do lado PAIGC estimava-se que o número de elementos se situava entre os 650 e os 700 homens, comandados por Francisco Mendes (Chico Té) e pelo Comissário Político Manuel Santos.

As Forças do PAIGC tinham uma das suas bases em Kumbamory podendo fazer reabastecimentos por viatura a partir de Zinguichor, Yeran ou Kolda, permitindo assim manter o cerco a Guidaje por largo período de tempo. O PAIGC mantinha na Zona as seguintes forças:

- Corpo de Exército com 4 Bigrupos de Infantaria e uma Bateria também de infantaria;
- Corpo de Exército com 5 Bigrupos de Infantaria e um grupo de Foguetes com 4 rampas de lançamento;
- 3 Bigrupos de Infantaria, um grupo de Reconhecimento e uma bateria de Artilharia deslocada da Zona Leste;
- Um Pelotão de Morteiros 120 mm;
- Um Grupo Especial de Sapadores.
 

Cerco a Guidaje

O isolamento de Guidaje iniciou-se com o abate de um avião T6, duas DO-27 e um Fiat G91 e o cerco terrestre acentuou-se em 8 de Maio quando uma coluna que partiu de Farim, escoltada por forças do Batalhão de CAÇ 4512, accionou uma mina e foi emboscada sofrendo 12 feridos.

A 9 de Maio a mesma força foi de novo emboscada mantendo o contacto com IN por 4 horas. As NT sofreram 4 mortos, 8 feridos graves, 10 feridos ligeiros e 4 viaturas destruídas, tendo a coluna sido forçada a recuar para Binta em vez de seguir para Guidaje. Das viaturas destruídas o IN retirou durante a noite algum material de guerra. Na manhã seguinte a nossa aviação destruiu o que restava destas 4 viaturas e material.

A 10 de Maio no deslocamento Binta / Guidaje as unidades envolvidas, sob o comando do Comandante do Batalhão de Farim, sofrem 1 morto e 2 feridos e a picada encontrava-se cortada por abatises. Uma coluna que havia saído de Guidaje (CCAÇ 19) para proteger o itinerário sofreu 5 emboscadas, de que resultaram 8 mortos e 9 feridos (1).

Nesta data com o agravamento da situação em Guidaje, o PAIGC conseguiu isolar por alguns dias esta guarnição dados os campos de minas lançados, as emboscadas montadas e a impossibilidade dos nossos meios aéreos actuarem, devido ao dispositivo antiaéreo montado pelo inimigo com os Mísseis Strella. Devido à situação crítica o Comandante do COP3, Tenente Coronel Correia Campos, deslocou-se para Guidaje onde se manteve até 11 de Junho.

A 12 de Maio chega a Guidaje uma coluna de reabastecimento constituída pelo destacamento de Fuzileiros 3 e 4. A 15 de Maio no regresso dos Fuzileiros a Farim, as NT accionam 2 minas sofrendo 2 feridos graves e uma emboscada entre Binta e Guidaje de que resultaram 5 feridos. Uma coluna que entretanto saiu de Binta conseguiu chegar a Guidaje no mesmo dia.

Operação Ametista Real

A 16 de Maio o Comando Chefe informa Almeida Bruno (Comandante do Centro de Operações Especiais) da situação que se passa em Guidaje. Almeida Bruno tinha sido o 1.º Comandante do Batalhão de Comandos Africanos entre Maio de 1968 e Julho de 1970. Este batalhão tinha como principal missão actuar fora do Território da Guiné. Assim, as suas actuações situavam-se em território da Guiné-Conacri e do Senegal, pelo que o seu armamento era o melhor armamento soviético capturado ao IN, Kalashinikov, Degtyarev, RPG2 e RPG7.

A operação mais significativa dos comandos Africanos foi a Operação Ametista Real (2) e foi comandada pelo Chefe de Operações Especiais, Major Almeida Bruno. A 18 de Maio o BataIhão de Comandos saiu de Bissau numa LDG (Lancha de Desembarque Grande com guarnição de cerca de 20 homens e que pode transportar cerca de 400 homens), apoiada por duas LFG (Lancha de Fiscalização Grande com guarnição de cerca de 33 homens) e desembarcam em Ganturé (3).

Nessa tarde deslocam-se para Bigene com a finalidade de lançar uma operação de curta duração por forma a atacar a Base do PAIGC, situada em território do Senegal. Como não era possível a evacuação de feridos por via aérea, os mesmos seriam transportados para Guidaje e o reabastecimento teria de ser feito com material retirado dos paióis do IN.

O Batalhão de Comandos era constituído por 3 agrupamentos com uma Companhia cada, comandados por:

- Agrupamento BOMBOX (Capitão Matos Gomes);
- Agrupamento CENTAURO (Capitão Raul Folques);
- Agrupamento ROMEU (Capitão António Ramos).

Às 5h30 de 19 de Maio, a testa da coluna alcançou itinerário que apoiava a base de Kumbamory. Na Companhia do Capitão António Ramos estava integrado um Grupo Especial do Centro de Operações Especiais (25 homens), especialistas em demolições e neste agrupamento estava integrado o Major Almeida Bruno.

A 19 de Maio, o Batalhão de Comandos Africanos entra em território senegalês às 6 horas. Entretanto a Artilharia de Bigene desencadeou vários disparos sobre a área onde era suposto existir a Base IN. Às 7H30 os agrupamentos estavam dispostos na Base de ataque escolhida, a sul da povoação senegalesa de Kumbamory. Foi necessário cortar a estrada paralela à fronteira e reter o comandante senegalês dos paraquedistas, que ali chegara em missão de reconhecimento de fronteira. Travou-se com ele uma conversa cordial, chegando o mesmo a afirmar que a Base do PAIGC se situava em território português.

Às 8h20, iniciou-se o ataque aéreo com aviões Fiat G-91 que efectuou um pesado bombardeamento, a que se se seguiu o assalto à área onde se presumia que estivesse a Base do IN. Às 9h05 o Agrupamento BOMBOX executa o assalto inicial provocando o primeiro contacto com o PAIGC.

O factor sorte foi decisivo. Os 2 agrupamentos que cercaram em 1.º Escalão, detectaram de imediato uma série de depósitos de material de guerra, enquanto o 3.º Agrupamento teve violento combate com um forte grupo inimigo apoiado por Canhões sem Recuo e Metralhadoras Pesadas que defendiam o depósito principal, o dos Foguetes 120 mm. A confusão gerou-se já que se enfrentavam adversários da mesma cor, trajando de igual e com armas iguais.

Os combates desenrolam-se até 14h10, quando o Major Almeida Bruno dá ordem para o agrupamento CENTAURO apoiar uma ruptura de contacto entre as NT e as Forças do PAIGC. Este agrupamento comandado pelo Capitão ao Raul Folques (foi ferido gravemente) estava praticamente sem munições. Assim, foi dada ordem de continuação da acção em direcção a Guidaje. O movimento foi lento e com várias emboscadas pelo meio.

Pelas 16 horas o IN abandonou o terreno. As 18h20 os primeiros homens do Batalhão de Comandos começam a chegar a Guidaje.


Resultados

Após esta operação, a pressão sobre Guidaje foi levantada. Resultados da Operação Ametista Real:

Destruídos:

- 22 Depósitos de Material de Guerra;
- 2 Metralhadoras antiaéreas;
- 50 mil Munições de Armas Ligeiras;
- 300 Espingardas Kalashnikov;
- 112 Pistolas PPSH;
- 560 Granadas de Mão;
- 400 Granadas Anti-Pessoal;
- 100 Morteiros 60;
- 11 Morteiros 82;
- 1100 Granadas de Morteiro 82;
-138 RPG7;
- 450 RPG2;
-21 Ramas de Foguetes 122;

Mortos:

-67 (entre os quais uma médica e um cirurgião cubanos e 4 elementos mauritanos).

As nossas tropas sofreram:
- 10 Mortos (2 Oficiais);
- 23 Feridos graves (3 Oficiais e 7 Sargentos);
- 3 Desaparecidos.

Durante a operação os Comandos Africanos consumiram:

- 26700 Munições 7,62 (G3);
- 4600 Munições 7,62 (Kalash);
- 292 Granadas Lança-Foguetes 6 e 8,9;
- 71 Granada RPG2 e RPG7;
- 195 Granadas de Morteiro;
- 269 Granadas Defensivas.

Por volta do dia 20 de Maio estavam cercadas em Guidaje as seguintes sub-unidades:

- Companhia de Guidaje,
- a Companhia que escoltou o últímo reabastecimento de Bissu,
- uma Companhia de Farim (que teve de abandonar as viaturas que posteriormente foram bombardeadas e destruídas pela força aérea quando o inimigo as descarregava),
- uma Companhia de Paraquedistas,
- o Destacamento de Fuzileiros
- e o efectivo de cerca de uma Companhia de Comandos Africanos que tinha actuado no Senegal.


Guiné > Guidaje > CCAÇ 4150 (1973/74) > Vista panorâmica do quartel de Guidaje. Dezembro de 1973 (seis meses depois do cerco do PAIGC) .
Foto: © Albano M. Costa (2005). Direitos reservados

Uma nova coluna de reabastecimentos ficou retida em Farim devido a ter sido a atacada uma coluna entre Mansoa e Farim de que resultou a destruição de três viaturas que ficaram no terreno, tendo as NT sofrido 4 mortos, 16 feridos, sendo 9 graves.

Na luta por Guidaje o PAIGC utilizou artilharia pesada e ligeira apoiada por Infantaria além de um grupo especial de mísseis terra-ar. Em armamento o inimigo utilizou peças de 120 mm de tiro rápido, foguetões 122 mm, morteiro 120 e 82, canhões sem recuo de 5,7 e 7,5, RPG2, PG7, armamento ligeiro e mísseis Strella.



A CCAV 3420, em fim de comissão

A 22 de Maio a Companhia de Cavalaria 3420 tem a sua comissão terminada. Tudo estava pronto para no dia seguinte partir para o Cumoré, com vista a aguardar o regresso à Metrópole. A Companhia depois de uma comissão quase sempre a actuar como unidade de intervenção dá largas à sua satisfação. Pelas 19 horas, o Comandante de Companhia, Salgueiro Maia, recebe uma chamada de Bissau, informando que iria ser recebida uma mensagem, ordenando que a Companhia 3420 não seguisse para o Cumoré mas para os Adidos.



Guiné > 1965/66 > A jangada que atravessava o Rio Mansoa , em João Landim, ligando Bissau com a região do Cacheu
Foto: © Virgínio Briote (2005)


A 23 de Maio a CCAV 3420, às 6 da manhã, inicia a travessia do rio Mansoa em João Landim. As 8h30 está no Comando de Bissau onde recebe de novo material de combate. A missão dada é uma operação de 6 dias e teria como destino a zona de Guidaje, já que os ataques a este aquartelamento passaram de 50 em Abril para 167 em Maio.

A 25 de Maio a Companhia segue para Farim e a 26 de Maio para Binta com vista a, juntamente com 38.ª Companhia de Comandos (2), uma Companhia de Africanos e uma Companhia do Batalhão CCAÇ 4512 de Farim, abrir o cerco a Guidaje, ao mesmo tempo que os sitiados tentavam também abrir caminho para Binta.

A ida da CCAV 3420 para a zona mais crítica da Guiné ficou a dever-se ao facto de ter ao longo de toda a comissão um bom comportamento em combate. Estando o itinerário Binta / Guidaje bastante minado, em Bissau dão ordem para que a companhia leve quase uma tonelada de explosivos para fazer rebentar as minas montadas entre Binta e Guidaje. Para não entrar em conflito com o comando de Bissau, Salgueiro Maia apenas decide levar cerca 100 Kg, que nunca chegaram a ser utilizados. Para garantir o transporte do pessoal com o mínimo de segurança, em Farim, a Companhia teve de roubar uma Berliet à Companhia de transportes de Bissau.

A 26 de Maio a Companhia chega a Binta onde já se encontravam outras forças. A 29 de Maio inicia-se a abertura do itinerário Binta / Guidaje. Cerca das 10 horas, ao ser feita a picagem, foi accionada uma mina anticarro de que resultou um morto, um furriel cego e 2 feridos ligeiros que foram evacuados para Binta, escoltados por 2 Unimog e cerca de 30 homens que, chegados a Binta, nunca mais regressaram como estava decidido (não foram por isso punidos).

Guiné-Bissau > 1998> Picada que vai de Bigene a Ganturé, no Rio Cacheu, numa distância de 3 km.
Foto: © Francisco Allen / Albano M. Costa (2006). Direitos reservados.



A arma secreta de Salgueiro Maia

Após este incidente e conforme planeado iniciou-se a progressão a corta-mato, levando à frente uma viatura T6 (caterpillar) que abriu o caminho junto com uma Berliet. Outra Berliet seguia a 300 m levando apenas o condutor com um homem a seu lado e tinha a caixa de carga cheia de cunhetes abertos com todo o tipo de munições prontas a serem utilizadas (era a arma secreta, como dizia o Capitão Salgueiro Maia).

A táctica do PAIGC era a de ataques frontais em linha com forte potencial de fogo. Os ataques decorriam em vagas sucessivas até as NT, esgotadas as munições, terem de retirar. Com a arma secreta estava-se sempre pronto a responder. Pelas 12 horas um grupo estimado em 120 homens fez uma emboscada e ao mesmo tempo batia a zona com Morteiro 82. Pouco depois repete um novo ataque, mas as tropas da coluna já se encontravam remuniciadas. Voltaram pela terceira vez tendo as NT adoptado um dispositivo em L, porque se previa um envolvimento da parte do IN. Os ataques duraram mais de uma hora.

Pelas 14 horas tinham desmaiado 6 homens, vítimas de cansaço e insolação, visto estarem desde as 5 da manha a pé, ao sol, carregados de todo o material bélico possível e com apenas um cantil de água. Como a coluna de reabastecimento de Bissau vinha avançando para aproveitar o novo itinerário aberto, houve a hipótese de alguns elementos da CCAV 3420 subirem para as viaturas, continuando a Companhia de Comandos e a de Farim na frente da coluna.

Ao ser atingido a Bolanha do Cufeu, a coluna de Binta entra em contacto com a companhia de paraquedistas, que se deslocava de Guidaje. Na zona de Ujeque as tropas entram na antiga picada, que apresentava chão firme e sinais de abandono pelo que tentam seguir por ela. Pouco tempo depois rebenta uma mina debaixo de um Unimog 404. Quando o pessoal salta para o lado, um milícia acciona uma mina anti-pessoal, ficando sem uma perna. De novo se volta a seguir a corta-mato. Pouco depois entra-se em contacto com o destacamento de Fuzileiros, que estavam retidos em Guidaje e que vêm em apoio dos movimentos da coluna.

Cerca das 18 horas a coluna é de novo emboscada, mas desta vez sem consequências para as NT. Pelas 19 horas a coluna chega finalmente a Guidaje. Pelas 21 horas Guidaje é flagelado por Morteiro 82 com granadas a cair em grupos de 5 (granadas do Morteiro 81, capturadas à coluna de reabastecimento, que a 9 de Maio se deslocava de Binta para Guidaje).

De 29 de Maio a 11 de Junho a CCAV 3420 permaneceu em Guidaje, sendo neste período de tempo o aquartelamento bombardeado diariamente. A 8 de Junho Guidage esteve debaixo de fogo 5 vezes num total de 2 horas e a 9 sofreu 4 ataques.

Em Guidaje as refeições eram tomadas às horas mais diversas, já que às horas normais o IN costumava atacar com armas pesadas. Todos os edifícios do quartel de Guidaje estavam destruídos. No depósito de géneros praticamente inteiros estavam apenas alguns sacos de arroz, farinha e latas de salsichas. Dormia-se e vivia-se em valas abertas em redor do quartel. Água só havia de vez em quando e luz só esporadicamente, porque o gasóleo para os motores era escasso.

Em Guidaje havia farinha, mas não havia fermento para fazer o pão, pelo que se tentavam fazer várias misturas de medicamentos triturados e cerveja (quando a havia), para tentar levedar a massa do pão, mas, mesmo assim os pães eram de tal forma que pareciam broas de Natal. A ração diária para cada militar era de um punhado de arroz e uma pequena salsicha de aperitivo ao almoço e ao jantar, isto porque não havia outra coisa para comer.

Em Guidaje existia a cerca de 2 km para o interior do Senegal uma estrada paralela à fronteira, que durante a noite era percorrida por colunas do PAIGC, escoltadas por blindados de origem russa. Como o quartel de Guidaje se encontrava construído sobre a fronteira com o Senegal, a pista de aviação encontrava-se em parte neste território.

A CCAV 3420 saiu de Guidaje a 11 de Junho mas manteve- se emboscada na bolanha do Cufeu e na manhã de 12 regressou a Binta.

As baixas das colunas de e para Guidaje de 8 de Maio a 8 de Junho foram de:
- 22 mortos;
- 70 feridos;
- e 6 viaturas destruidas.

De 8 de Maio a 29 de Junho, Guidaje sofreu 43 flagelações com artilharia, foguetes e morteiro. Logo no dia 8 esteve debaixo de fogo 5 vezes, no total de 2 horas. No dia 9 sofreu 4 ataques, no dia 10, 3 ataques e, até final todos os dias foi atacado. No total dos 43 ataques a guarnição de Guidaje sofreu 7 mortos, 30 feridos militares e 15 feridos entre a população civil e todos os edifícios do quartel ficaram bastante destruídos.

Até 29 de Junho a Companhia permaneceu em Binta e, neste período fez no dia 17 escolta a uma coluna de 6 viaturas de Binta para Guidaje e em 25 fez emboscada no Alabato, dando protecção a uma coluna para Guidaje. A 29 de Junho a Companhia regressou a Farim e a 30 a Bissau.

Já em Bissau fez ainda uma protecção a coluna com 28 viaturas até Farim. E enquanto aguardava regresso à metrópole fez protecção ao perímetro de Bissau, bem como outros serviços esporádicos.E porque inicialmente a Companhia tinha por missão uma operação de 6 dias, os homens nao tiveram outra roupa para além da que tinham no corpo.

Os elementos da Companhia 3420 quando a 30 de Junho regressaram a Bissau, pareciam um grupo de salteadores, já que a operação não decorreu nos 6 dias previstos, mas durou 37 dias, na zona Binta / Guidaje.

Apesar de ao longo de toda a comissão a CCAV 3420 ter sido uma Companhia de Intervenção, o período de 26 de Maio a 30 de Junho foi sem dúvida, o mais difícil e aquele que provavelmente os elementos mais recordam, pelos momentos críticos por que passaram, mas, que com a disciplina, a que desde o início se habituaram e pelo Comandante que tinham , souberam contornar todas as situações e em 2 de Outubro regressaram à Metrópole, com a satisfação de terem sido comandados por um homem como Salgueiro Maia (3).

Ex-Furriel Afonso, 3.º Grupo de Combate da CCAV 3420 (1971/73) .


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Notas de L.G.

(1) Vd. 21 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1198: Antologia (53): Guidaje, Maio de 1973: o inferno (Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes)
(2) Vd. post de 16 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CLXXV: Antologia (16): Op Ametista Real (Senegal, 1973)

"Ametista Real, por João de Almeida Bruno (1995): A operação mais importante que comandei foi, no entanto, na Guiné. O nome de código foi Ametista Real - eu sempre dei nomes de pedras preciosas às operações que comandei. Penso que, na altura, foi a operação de maior envergadura daquele tipo, fora do território nacional. Comandava então o Batalhão de Comandos Africanos (...)".

(3) Vd. testemunho do tenente coronel J. Sales Golias> A descolonização da Guiné-Bissau, no sítio do centro de Documentação 25 de Abril, Universidade de Coimbra: "As Nossas Tropas(NT) iam somando insucessos, alguns dos quais muito graves como o abandono de Gadamael Porto, a dramática retirada do inferno de Guileje, em cuja consequência foi preso o Major Coutinho e Lima, por ter decidido salvar as vidas dos seus homens e o cerco de Guidaje. No rompimento deste cerco foi decisiva a acção do meu camarada Salgueiro Maia, cuja Companhia de Cavalaria já tinha acabado a sua comissão e aguardava embarque para Lisboa, mas à qual estava guardado o pior bocado.

"Estavam empenhadas neste cerco as três Companhias de Comandos Africanos, uma delas comandada pelo Capitão Carlos Matos Gomes, um dos principais oficiais do MFA na Guiné.

"Só um Comandante natural como o Salgueiro Maia conseguiria mobilizar novamente os seus homens para uma das mais violentas campanhas de guerra e da qual saíu com muitos mortos e feridos.

"Salgueiro Maia regressou a Lisboa já no mês de Outubro de 1973".

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

Guiné 63/74 - P497: A CCAV 3420, do Salgueiro Maia e do José Afonso: presente!

Texto do José Afonso, natural do Fundão, ex-furriel miliciano da CCAV 3420 (1971/73):

Amigo:

Ainda há pouco me comecei a iniciar na Net e, logo de início, a minha preferência foi precisamente procurar algo sobre guerra colonial, em especial sobre a Guiné...

Tive o prazer de verificar haver muita coisa sobre essa antiga província e, porque sou um devorador de tudo quanto à Guiné diga respeito, desde livros, revistas ou publicações editadas por jornais diários, tanto em fascículos como publicações semanais, à gravação de todos ou quase todos os programas de televisão em cassete passando pela a compra de muitos livros, uma cassete gravada em 73 na Guiné (com um pouco do programa das Forças Armadas, o PIFAS, um noticiário do PAIGC, um noticiário nosso e a gravação de um ronco) até um LP distribuído no Natal de 1971 pelo Movimento Nacional Feminino (cassetes e LP com gravação má)... tudo isso me faz recordar pela positiva mesmo os maus momentos passados.

Talvez até porque pertenci a uma companhia de cavalaria, comandada pelo saudoso Salgueiro Maia, e de termos estado sempre em zonas de combate - Bula, Mansoa, Farim, Binta, Guidage -, tivemos a sorte de ter apenas 2 feridos graves e 3 ou 4 ligeiros.

Fomos nós, a CCAV 3420, os Progressistas ( nome que os altos comandos militares não queriam deixar passar por ser ousado de mais antes do nossa ida para a Guiné).

Estavamos com a comissão terminada e a aguardar regresso à Metrópole - e porque fomos sempre considerados uma companhia boa em combate-, quando tvémos que ir romper o cerco a Guidage com uma companhia de infantaria e a 38ª de comandos.

Foi realmente uma fase de angústia e revolta mas, com o saber e o óptimo condutor de homens que tínhamos, conseguimos ultrapassar tudo.

Vais desculpar-me o tratamento por tu. Alonguei-me em demasia quando o que pretendia era apenas saber como entrar no blogue. E também confirmar a indicaçao do dia do almoço anual da companhia que, desde que faleceu Salgueiro Maia, sou eu a organizar... Anualmente desde há uns 5 anos, para que não morra o elo que nos ligou uns aos outros ao longo de 27 ou 28 meses de Guiné.

O amigo Albano Costa teve a gentileza de te enviar (e já está no blogue) um trabalho que fiz sobre a zona de Guidage na altura em que nós lá fomos parar, sabendo que a situação era má mas não tanto. E porque foi a companhoia dele que foi para Guidage quando a situação ja estava mais calma, foi essa a razão de entrar em contacto com ele.

Amigo, as minhas desculpas por este texto. Por vezes esquecemo-nos do tempo quando falamos desse tempo da nossa juventude onde maus e bons momentos estão quase todos metidos no mesmo saco e onde as dificuldades nos levaram a criar as melhores amizades.

Um abraço...
José Afonso

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

Guiné 63/74 - P479: Salgueiro Maia e os seus bravos da CCAV 3420: Guidage, Maio/Junho de 1973: testemunho do ex.fur mil at cav José Afonso, do 3º Gr Comb

Guiné > Maio de 1973 > Op Ametista Real > Croquis do plano de operações. 


Fonte (e legenda): ©  José Afonso (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Texto do José Afonso (ex-furriel miliciano da CCAV 3420) que me chegou através do Albano Costa (ex-militar da CCAÇ 4150, Guidaje, 1973/74):

«Foi através do blogue que um dia recebi um e-mail do ex-furriel José Afonso, da CCAV 3420, a tal de que era seu comandante Salgueiro Maia, e que um belo dia foi chamada para a zona do conflito que o PAIGC fez a Guidage, no norte da Guiné, em Maio de 73.

"O José Afonso, que é do Fundão, tem tudo registado e facultou-me e autorizou-me que fosse transcrita o que aconteceu naquele período em que foram chamados para irem em defesa do destacamento que na altura corria perigo de ocupação por parte do PAIGC. Ele esteve na altura da porrada em Guidage e enviou-me toda a história"...

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Situação Militar no Zona de Guidage > Maio / Junho de 1973 > Intervenção da Companhia de Cavalaria 3420 > Zonas de Acção da Companhia: Binta / Guidage


Em Maio de 1973, Guidage e Guilege constituíram a prova mais dura a que as Forças Armadas Portuguesas foram sujeitas nos três Teatros de Operações (Angola, Moçambique e Guiné). Para aliviar a pressão sobre Guidage, preparou-se um ataque à base inimiga de Kumbamory, situada a 4 - 6 km da linha de fronteira do Senegal, tendo em vista desarticular o IN e, se possível, destruir a Base, provocando o maior numero possível de baixas.

No início de Maio de 1973 a Guarnição de Guidage era constituída pela CCAÇ 19 e pelo Pelotão de Artilharia 24, equipado com Obuses 10,5 e estava sob o Comando COP3 com sede em Bigene. 

Do lado Português, Guidage em termos de efectivos teria cerca de 200 homens, na maioria recrutados na Província que com os seus familiares viviam numa pequena aldeia junto ao Quartel. Do lado PAIGC estimava-se que o número de elementos se situava entre os 650 e os 700 homens, comandados por Francisco Mendes (Chico Tê) e pelo Comissário Político Manuel Santos.

As Forças do PAIGC tinham uma das suas bases em Kumbamory,  podendo fazer reabastecimentos por viatura a partir de Zinguichor, Yeran ou Kolda, permitindo assim manter o cerco a Guidage por largo período de tempo. O PAIGC mantinha na Zona as seguintes forças:

  • Corpo de Exército com 4 Bigrupos de Infantaria e uma Bateria também de infantaria;
  • Corpo de Exército com 5 Bigrupos de Infantaria e um grupo de Foguetes com 4 rampas de lançamento;
  • Três Bigrupos de Infantaria, um grupo de Reconhecimento e uma bateria de Artilharia deslocada da Zona Leste;
  • Um Pelotão de Morteiros 120 mm;
  • Um Grupo Especial de Sapadores.

O isolamento de Guidage iniciou-se com o abate de um avião T6, duas DO-27 e um Fiat G91 e o cerco terrestre acentuou-se em 8 de Maio quando uma coluna que partiu de Farim, escoltada por forças do Batalhão de CAÇ4512, accionou uma mina e foi emboscada sofrendo 12 feridos.

A 9 de Maio a mesma força foi de novo emboscada mantendo o contacto com IN por 4 horas. As NT sofreram 4 mortos, 8 feridos graves, 10 feridos ligeiros e 4 viaturas destruídas, tendo a coluna sido forçada a recuar para Binta em vez de seguir para Guidage. Das viaturas destruídas o IN retirou durante a noite algum material de guerra. Na manhã seguinte a nossa aviação destruiu o que restava destas 4 viaturas e material.

A 10 de Maio no deslocamento Binta / Guidage as unidades envolvidas, sob o comando do Comandante do Batalhão de Farim, sofrem 1 morto e 2 feridos e a picada encontrava-se cortada por abatises. Uma coluna que havia saído de Guidage (CCAÇ 19) para proteger o itinerário sofreu 5 emboscadas, de que resultaram 8 mortos e 9 feridos.

Nesta data com o agravamento da situação em Guidage, o PAIGC conseguiu isolar por alguns dias esta guarnição dado os campos de minas lançados, as emboscadas montadas e a impossibilidade dos nossos meios aéreos actuarem, devido ao dispositivo antiaéreo montado pelo inimigo com os Mísseis Strela. Devido à situação crítica,  o Comandante do COP3, Tenente Coronel Correia Campos, deslocou-se para Guidage onde se manteve até 11 de Junho.

A 12 de Maio chega a Guidage uma coluna de reabastecimento constituída pelo destacamento de Fuzileiros 3 e 4. A 15 de Maio no regresso dos Fuzileiros a Farim, as NT accionam 2 minas sofrendo 2 feridos graves e uma emboscada entre Binta e Guidage de que resultaram 5 feridos. Uma coluna que entretanto saiu de Binta conseguiu chegar a Guidage no mesmo dia.

A 16 de Maio o Comando Chefe informa Almeida Bruno (Comandante do Centro de Operações Especiais) da situação que se passa em Guidage. Almeida Bruno tinha sido o 1.º Comandante do Batalhão de Comandos Africanos entre Maio de 1968 e Julho de 1970. Este batalhão tinha como principal missão actuar fora do Território da Guiné. Assim, as suas actuações situavam-se em território da Guiné-Conacri e do Senegal, pelo que o seu armamento era o melhor armamento soviético capturado ao IN, Kalashinikov, Degtyarev, e RPG2 e RPG7.

A operação mais significativa dos comandos Africanos foi a Operação Ametista Real (1) e foi comandada pelo Chefe de Operações Especiais, Major Almeida Bruno. A 18 de Maio o BataIhão de Comandos saiu de Bissau numa LDG (Lancha de Desembarque Grande com guarnição de cerca de 20 homens e que pode transportar cerca de 400 homens) apoiada por duas LFG (Lancha de Fiscalização Grande com guarnição de cerca de 33 homens) e desembarcam em Ganturé.

Nessa tarde deslocam-se para Bigene com a finalidade de lançar uma operação de curta duração por forma a atacar a Base do PAIGC, situada em território do Senegal. Como não era possível a evacuação de feridos por via aérea, os mesmos seriam transportados para Guidage e o reabastecimento teria de ser feito com material retirado dos Paióis do IN.

O Batalhão de Comandos era constituído por 3 agrupamentos com uma Companhia cada, comandados por:

- Agrupamento BOMBOX (Capitão Matos Gomes);
- Agrupamento CENTAURO (Capitão Raul Fo lques);
- Agrupamento ROMEU (Capitão António Ramos).

Às 5h30 de 19 de Maio de 1973, a testa da coluna alcançou itinerário que apoiava a base de Kumbamory. Na Companhia do Capitão António Ramos estava integrado um Grupo Especial do Centro de Operações Especiais (25 homens), especialistas em demolições e neste agrupamento estava integrado o Major Almeida Bruno.

A 19 de Maio, o Batalhão de Comandos Africanos entra em território senegalês às 6 horas. Entretanto a Artilharia de Bigene desencadeou vários disparos sobre a área onde era suposto existir a Base IN. Às 7H30 os agrupamentos estavam dispostos na Base de ataque escolhida, a sul da povoação Senegalesa de Kumbamory. Foi necessário cortar a estrada paralela à fronteira e reter o comandante senegalês dos paraquedistas, que ali chegara em missão de reconhecimento de fronteira. Travou-se com ele uma conversa cordial, chegando o mesmo a afirmar que a Base do PAIGC se situava em território português.

Às 8h20, iniciou-se o ataque aéreo com aviões Fiat G-91 que efectuou um pesado bombardeamento, a que se se seguiu o assalto à área onde se presumia que estivesse a Base do IN. Às 9h05 o Agrupamento BOMBOX executa o assalto inicial provocando o primeiro contacto com o PAIGC.

O factor sorte foi decisivo. Os 2 agrupamentos que cercaram em 1.º Escalão, detectaram de imediato uma série de depósitos de material de guerra, enquanto o 3.º Agrupamento teve violento combate com um forte grupo inimigo apoiado por Canhões sem Recuo e Metralhadoras Pesadas que defendiam o depósito principal, o dos Foguetes 120 mm. A confusão gerou-se já que se enfrentavam adversários da mesma cor, trajando de igual e com armas iguais.

Os combates desenrolam-se até 14h10, quando o Major Almeida Bruno dá ordem para o agrupamento CENTAURO apoiar uma ruptura de contacto entre as NT e as Forças do PAIGC. Este agrupamento comandado pelo Capitão ao Raul Folques (foi ferido gravemente) estava praticamente sem munições. Assim, foi dada ordem de continuação da acção em direcção a Guidage. O movimento foi lento e com várias emboscadas pelo meio.

Pelas 16 horas o IN abandonou o terreno. As 18h20 os primeiros homens do Batalhão de Comandos começam a chegar a Guidage.

Após esta operação, a pressão sobre Guidage foi levantada. Resultados da Operação Ametista Real:

Destruídos:

  • 22 Depósitos de Material de Guerra;
  • 2 Metralhadoras antiaéreas;
  • 50 mil Munições de Armas Ligeiras;
  • 300 Espingardas Kalashnikov;
  • 112 Pistolas PPSH;
  • 560 Granadas de Mão;
  • 400 Granadas Anti-Pessoal;
  • 100 Morteiros 60;
  • 11 Morteiros 82;
  • 1100 Granadas de Morteiro 82;
  • 138 RPG7;
  •  450 RPG2;
  • 21 Ramas de Foguetes 122.
Mortos:
  • 67 (entre os quais uma médica e um cirurgião cubanos e 4 elementos mauritanos).

As nossas tropas sofreram:
  • 10 Mortos (2 Oficiais);
  • 23 Feridos graves (3 Oficiais e 7 Sargentos);
  • 3 Desaparecidos.

Durante a operação os Comandos Africanos consumiram:

  • 26700 Munições 7,62 (G3);
  • 4600 Munições 7,62 (Kalash);
  • 292 Granadas Lança-Foguetes 6 e 8,9;
  • 71 Granada RPG2 e RPG7;
  • 195 Granadas de Morteiro;
  •  269 Granadas Defensivas.

Por volta do dia 20 de Maio estavam cercadas em Guidage as seguintes sub-unidades:

Companhia de Guidage, a Companhia que escoltou o últímo reabastecimento de Bissa, uma Companhia de Farim (que teve de abandonar as viaturas que posteriormente foram bombardeadas e destruídas pela força aérea quando o inimigo as descarregava), uma Companhia de Paraquedistas, o Destacamento de Fuzileiros e o efectivo de cerca de uma Companhia de Comandos Africanos que tinha actuado no Senegal.


Guiné > Guidage > CCAÇ 4150 (1973/74) > Vista panorâmica do quartel de Guidage. Dezembro de 1973 (seis meses depois do cerco do PAIGC)

Foto (e legenda): © Albano M. Costa (2005). 
Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Uma nova coluna de reabastecimentos ficou retida em Farim devido a ter sido a atacada uma coluna entre Mansoa e Farim de que resultou a destruição de três viaturas que ficaram no terreno, tendo as NT sofrido 4 mortos, 16 feridos, sendo 9 graves.

Na luta por Guidage o PAIGC utilizou artilharia pesada e ligeira apoiada por Infantaria além de um grupo especial de mísseis terra-ar. Em armamento o inimigo utilizou peças de 120 mm de tiro rápido, foguetões 122 mm, morteiro 120 e 82, canhões sem recuo de 5,7 e 7,5, RPG2, PG7, armamento ligeiro e mísseis Strela.

A 22 de Maio a Companhia de Cavalaria 3420 tem a sua comissão terminada. Tudo estava pronto para no dia seguinte partir para o Cumoré, com vista a aguardar o regresso à Metrópole. A Companhia depois de uma comissão quase sempre a actuar como unidade de intervenção dá largas à sua satisfação. Pelas 19 horas, o Comandante de Companhia, Salgueiro Maia, recebe uma chamada de Bissau, informando que iria ser recebida uma mensagem, ordenando que a Companhia 3420 não seguisse para o Cumoré mas para os Adidos.


Guiné > 1965/66 > A jangada que atravessava o Rio Mansoa em João Landim, ligando Bissau com a região do Cacheu.

Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2005).
Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


A 23 de Maio a CCAV 3420 às 6 da manhã inicia a travessia do rio Mansoa em João Landim. As 8h30 está no Comando de Bissau onde recebe de novo material de combate. A missão dada é uma operação de 6 dias e teria como destino a zona de Guidage, ja que os ataques a este aquartelamento passaram de 50 em Abril para 167 em Maio.

A 25 de Maio a Companhia segue para Farim e a 26 de Maio para Binta com vista a juntamente com 38.ª Companhia de Comandos, uma Companhia de Africanos e uma Companhia do Batalhão CCAÇ 4512 de Farim abrir o cerco a Guidage, ao mesmo tempo que os sitiados tentavam também abrir caminho para Binta.

A ida da CCAV 3420 para a zona mais crítica da Guiné ficou a dever-se ao facto de ter ao longo de toda a comissão um bom comportamento em combate. Estando o itinerário Binta / Guidage bastante minado em Bissau, dão ordem para que a companhia leve quase uma tonelada de explosivos para fazer rebentar as minas montadas entre Binta e Guidage. 

Para não entrar em conflito com o comando de Bissau, Salgueiro Maia apenas decide levar cerca 100Kg, que nunca chegaram a ser utilizados. Para garantir o transporte do pessoal com o mínimo de segurança, em Farim, a Companhia teve de “roubar” uma Berliet à Companhia de transportes de Bissau.

A 26 de Maio a Companhia chega a Binta onde já se encontravam outras forças. A 29 de Maio inicia-se a abertura do itinerário Binta / Guidage. Cerca das 10 horas, ao ser feita a picagem, foi accionada uma mina anti-carro de que resultou um morto, um furriel cego e 2 feridos ligeiros que foram evacuados para Binta, escoltados por 2 Unimog e cerca de 30 homens que, chegados a Binta, nunca mais regressaram como estava decidido (não foram por isso punidos).


Guiné-Bissau > 1998> Picada que vai de Bigene a Ganturé, no Rio Cacheu, numa distância de 3 km. 

Foto (e legenda): © Francisco Allen / Albano M. Costa (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Após este incidente e conforme planeado iniciou-se a progressão a corta-mato, levando à frente uma viatura T6 (caterpillar) que abriu o caminho junto com uma Berliet. Outra Berliet seguia a 300 m levando apenas o condutor com um homem a seu lado e tinha a caixa de carga cheia de cunhetes abertos com todo o tipo de munições prontas a serem utilizadas (era a arma secreta como dizia o Capitão Salgueiro Maia).

A táctica do PAIGC era a de ataques frontais em linha com forte potencial de fogo. Os ataques decorriam em vagas sucessivas até as NT, esgotadas as munições, terem de retirar. Com a “arma secreta” estava-se sempre pronto a responder. Pelas 12 horas um grupo estimado em 120 homens fez uma emboscada e ao mesmo tempo batia a zona com Morteiro 82. Pouco depois repete um novo ataque, mas as tropas da coluna já se encontravam remuniciadas. Voltaram pela terceira vez tendo as NT adoptado um dispositivo em L, porque se previa um envolvimento da parte do IN. Os ataques duraram mais de uma hora.

Pelas 14 horas tinham desmaiado 6 homens, vítimas de cansaço e insolação, visto estarem desde as 5 da manha a pé, ao sol, carregados de todo o material bélico possível e com apenas um cantil de água. Como a coluna de reabastecimento de Bissau vinha avançando para aproveitar o novo itinerário aberto, houve a hipótese de alguns elementos da CCAV 3420 subirem para as viaturas, continuando a Companhia de Comandos e a de Farim na frente da coluna.

Ao ser atingido a Bolanha do Cufeu, a coluna de Binta entra em contacto com a companhia de paraquedistas, que se deslocava de Guidage. Na zona de Ujeque as tropas entram na antiga picada, que apresentava chão firme e sinais de abandono pelo que tentam seguir por ela. Pouco tempo depois rebenta uma mina debaixo de um Unimog 404. Quando o pessoal salta para o lado, um milícia acciona uma mina anti-pessoal, ficando sem uma perna. De novo se volta a seguir a corta-mato. Pouco depois entra-se em contacto com o destacamento de Fuzileiros, que estavam retidos em Guidage e que vêm em apoio dos movimentos da coluna.

Cerca das 18 horas a coluna é de novo emboscada, mas desta vez sem consequências para as NT. Pelas 19 horas a coluna chega finalmente a Guidage. Pelas 21 horas Guidage é flagelado por Morteiro 82 com granadas a cair em grupos de 5 (granadas do Morteiro 81, capturadas à coluna de reabastecimento, que a 9 de Maio se deslocava de Binta para Guidage).

De 29 de Maio a 11 de Junho a CCAV 3420 permaneceu em Guidage, sendo neste período de tempo o aquartelamento bombardeado diariamente. A 8 de Junho Guidage esteve debaixo de fogo 5 vezes num total de 2 horas e a 9 sofreu 4 ataques.

Em Guidage as refeições eram tomadas às horas mais diversas, já que às horas normais o IN costumava atacar com armas pesadas. Todos os edifícios do quartel de Guidage estavam destruídos. No depósito de géneros praticamente inteiros estavam apenas alguns sacos de arroz, farinha e latas de salsichas. Dormia-se e vivia-se em valas abertas em redor do quartel. Água só havia de vez em quando e luz só esporadicamente, porque o gasóleo para os motores era escasso.

Em Guidage havia farinha, mas não havia fermento para fazer o pão, pelo que se tentavam fazer várias misturas de medicamentos triturados e cerveja (quando a havia), para tentar levedar a massa do pão, mas, mesmo assim os pães eram de tal forma que pareciam broas de Natal. A ração diária para cada militar era de um punhado de arroz e uma pequena salsicha de aperitivo ao almoço e ao jantar, isto porque não havia outra coisa para comer.

Em Guidage existia a cerca de 2 km para o interior do Senegal uma estrada paralela à fronteira, que durante a noite era percorrida por colunas do PAIGC, escoltadas por blindados de origem russa. Como o quartel de Guidage se encontrava construído sobre a fronteira com o Senegal, a pista de aviação encontrava-se em parte neste território.

A CCAV 3420 saiu de Guidage a 11 de Junho mas manteve- se emboscada na bolanha do Cufeu e na manhã de 12 regressou a Binta.

As baixas das colunas de e para Guidage de 8 de Maio a 8 de Junho foram de:
- 22 mortos;
- 70 feridos;
- e 6 viaturas destruidas.

De 8 de Maio a 29 de Junho, Guidage sofreu 43 flagelações com artilharia, foguetes e morteiro. Logo no dia 8 esteve debaixo de fogo 5 vezes, no total de 2 horas. No dia 9 sofreu 4 ataques, no dia 10, 3 ataques e, até final todos os dias foi atacado. No total dos 43 ataques a guarnição de Guidage sofreu 7 mortos, 30 feridos militares e 15 feridos entre a população civil e todos os edifícios do quartel ficaram bastante destruídos.

Até 29 de Junho a Companhia permaneceu em Binta e, neste período fez no dia 17 escolta a uma coluna de 6 viaturas de Binta para Guidage e em 25 fez emboscada no Alabato, dando protecção a uma coluna para Guidage.A 29 de Junho a Companhia regressou a Farim e a 30 a Bissau.

Já em Bissau fez ainda uma protecção a coluna com 28 viaturas até Farim. E enquanto aguardava regresso à metrópole fez protecção ao perímetro de Bissau, bem como outros serviços esporádicos.E porque inicialmente a Companhia tinha por missão uma operação de 6 dias, os homens nao tiveram outra roupa para além da que tinham no corpo.

Os elementos da Companhia 3420 quando a 30 de Junho regressaram a Bissau, pareciam um grupo de salteadores, já que a operação não decorreu nos 6 dias previstos, mas durou 37 dias, na zona Binta / Guidage.

Apesar de ao longo de toda a comissão a CCAV 3420 ter sido uma Companhia de Intervenção, o período de 26 de Maio a 30 de Junho foi sem dúvida, o mais difícil e aquele que provavelmente os elementos mais recordam, pelos momentos críticos por que passaram, mas, que com a disciplina, a que desde o início se habituaram e pelo Comandante que tinham , souberam contornar todas as situações e em 2 de Outubro regressaram à Metrópole, com a satisfação de terem sido comandados por um homem como Salgueiro Maia (2).

Ex-Furriel Afonso, 3.º Grupo de Combate da CCAV 3420 (1971/73) (3) .
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Notas do editor L.G.:

(1) Vd. post de 16 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CLXXV: Antologia (16): Op Ametista Real (Senegal, 1973)

"Ametista Real, por João de Almeida Bruno (1995): A operação mais importante que comandei foi, no entanto, na Guiné. O nome de código foi Ametista Real - eu sempre dei nomes de pedras preciosas às operações que comandei. Penso que, na altura, foi a operação de maior envergadura daquele tipo, fora do território nacional. Comandava então o Batalhão de Comandos Africanos (...)".

(2) Vd. testemunho do tenente coronel J. Sales Golias> A descolonização da Guiné-Bissau, no sítio do centro de Documentação 25 de Abril, Universidade de Coimbra: 

"As Nossas Tropas (NT) iam somando insucessos, alguns dos quais muito graves como o abandono de Gadamael Porto, a dramática retirada do inferno de Guileje, em cuja consequência foi preso o Major Coutinho e Lima, por ter decidido salvar as vidas dos seus homens e o cerco de Guidage. No rompimento deste cerco foi decisiva a acção do meu camarada Salgueiro Maia, cuja Companhia de Cavalaria já tinha acabado a sua comissão e aguardava embarque para Lisboa, mas à qual estava guardado o pior bocado.

"Estavam empenhadas neste cerco as três Companhias de Comandos Africanos, uma delas comandada pelo Capitão Carlos Matos Gomes, um dos principais oficiais do MFA na Guiné.

"Só um Comandante natural como o Salgueiro Maia conseguiria mobilizar novamente os seus homens para uma das mais violentas campanhas de guerra e da qual saíu com muitos mortos e feridos.

"Salgueiro Maia regressou a Lisboa já no mês de Outubro de 1973".

(3) A Companhia de Cavalaria 3420 (Guiné, 1971/73) tem um encontro de convívio marcado, para Fátima, no dia 21 de Maio próximo. Contacto: Telemóvel > 91 776 87 21.