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quinta-feira, 22 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17502: Memória dos lugares (360): Murteira, união das freguesias de Lamas e Cercal, concelho de Cadaval: monumento aos 61 ex-combatentes da guerra do ultramar (1954-1975): Cabo Verde (1), Angola (31), Índia (2), Timor (1) , Moçambique (12) e Guiné (14) (Jorge Narciso, ex-1.º Cabo Especialista MMA, Bissalanca, BA 12, 1968/69)








Cadaval >  União das freguesias de Lamas e Cercal >  Murteira > Monumento  aos 61 ex-combatentes da guerra do ultramar (1954-1975):   Cabo Verde (1), Angola (31), Índia (2), Timor (1) ,  Moçambique (12) e Guiné (14). O monumento foi inaugurado em 10 de junho de 2016. A rua principal da terra, que tem cerca de 800 habitantes, é justamente a dos Combatentes do Ultramar.


Fotos: © Jorge Narciso  (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Eis aqui as fotos que o Jorge Narciso nos prometeu há dias a propósito do poste P17474 (*):

"Luís, estamos a falar da minha terra adoptiva, Murteira, onde tenho casa.  Vou fazer a foto do monumento aos combatentes da guerra do Ultramar, naturasi da Murteria, e envio-te. Esse padeiro que, como mais de 50% dos naturais da Murteira, terá mesmo o apelido Geada, não conheço, mas familiares dele seguramente.  Abraço e até um dia destes, quem sabe... na Murteira".

Jorge Narciso [ex-1.º Cabo Especialista MMA, Bissalanca, BA 12, 1968/69] é membro da nossa Tabanca Grande desde 20 de novembro de 2009 (**)

O nosso camarada tem razão: dos 61 ex-combatentes da guerra do ultramar/guerra colonial, nados e criados em Murteira, há pelo  menos  uns 9 com o apelido "Geada". O Alfredo R. C. Ferreira, 1º cabo, padeiro da CCAÇ 2382 (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70), também era conhecido por "Geada"... Aliás, ninguém o conhecia pelo apelido "Ferreira". (*)

Murteira, uma terra hoje progressiva, com cerca de 800 habitantes, era a maior da antiga freguesia de Lamas (, hoje união das freguesias de Lamas e Cercal). Quantos habitantes teria nos anos 60/70, na altura da guerra colonial ? De qualquer modo, 61 dos seus jovens passaram por terras de África (Cabo Verde, Guiné, Angola e Moçambique) e Ásia (Índia e Timor). E regressaram todos!... É um grande feito!

Obrigado, Jorge, e até um dia destes na Murteira. Afinal estamos a menos de 20 km de distância um do outro,  quando eu estou na Lourinhã (ao fim de semana) e tu na Murteira (quase sempre ?).
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17474: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca ... é Grande (108): Na Lourinhã, fui encontrar o ex-1º cabo at inf Alfredo Ferreira, natural da Murteira, Cadaval, que foi o padeiro da CCAÇ 2382 (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70)... e que depois da peluda se tornou um industrial de panificação de sucesso, com a sua empresa na Vermelha (Luís Graça)

(**) Vd. poste de 20 de novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5305: Tabanca Grande (188): Jorge Narciso, ex-1º Cabo Esp MMA, BA 12, Bissalanca, 1969/70

(...) Como dizia há dias o teu/nosso camarada Miguel Pessoa, o primeiro piloto da FAP a ser 'strelado', em 25 de Março de 1973, sob os céus de Guileje, a rapaziada do Exército conhecia a Guiné por baixo e vocês por cima... Enfim,. duas perspectivas complementares, a celestial e a terrena. Falta aqui a abordagem, mais líquida, da Marinha (que anda rarefeita)...
Fora de brincadeiras, cada um de nós terá o seu bocado de Guiné, que é como quem diz, do inferno, da terra e do céu... Jorge, estás apresentado à Tabanca Grande, onde há de tudo um pouco: casernas, hangares, aeródromos, heliportos, bases navais, quartéis, destacamentos, bolanhas, lalas, pontes, palmeiras, poilões, irãs, tempestades tropicais e sei lá o que mais... Isso terás que ser tu a descobrir... Acomoda-te a um canto e saca  lá das tuas memórias...

Um dia destes dou-te um abraço, ao vivo, no Cadaval ou na Lourinhã... Até lá, felicitemo-nos  por este mundo ser pequeno e o nosso blogue... ser ou  parecer grande (*). Um Alfa Bravo. Luís (...)


quinta-feira, 15 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17474: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca ... é Grande (109): Na Lourinhã, fui encontrar o ex-1º cabo at inf Alfredo Ferreira, natural da Murteira, Cadaval, que foi o padeiro da CCAÇ 2382 (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70)... e que depois da peluda se tornou um industrial de panificação de sucesso, com a sua empresa na Vermelha (Luís Graça)


Distintivo da CCAÇ 2382 (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70).  Cortesia de Manuel Traquina que descreve o distintivo nestes termos:

"Este era o distintivo da Companhia. Continha na parte central, a figura de um militar com aspecto de veterano de guerra, já com o camuflado e botas um pouco danificados, e a sua inseparável G3.
"Na mão direita segura aquilo a que chamávamos a 'pica', que não era mais que uma vareta de aço afiada e que servia como o nome indica para picar o terreno susceptível de ocultar uma mina. Na extremidade da referida 'pica' encontra-se uma pequena caixa que representa uma mina anti-carro.
Sendo a CCaç 2382 uma Companhia Independente, nos quatro ângulos do distintivo encontram-se as iniciais dos comandos a que pertenceu: o primeiro é o Regimento de Infantaria 2,  de Abrantes,  onde a companhia se formou e foi mobilizada; o segundo é o COSAF -  Comando Operacional de Aldeia Formosa; o terceiro, Batalhão de Caçadores 2834,  ao qual a companhia esteva adida e o quarto, o COP4 (Comando Operacional nº4, sedeado em Buba).

"As duas inscrições laterais poderão levantar algumas interrogações: 'Por Estradas Nunca Picadas'. Esta pequena frase diz-nos que a companhia andou por locais até ali ainda não pesquisados; 'Por Picadas Nunca Estradas' aqui pretende-se dizer o que foi uma realidade, que os militares andaram pelo mato por caminhos que nunca foram estradas.

"Mas voltando à figura central, àquele a que chamámos 'o Zé do olho vivo', por ser uma figura mais ou menos engraçada, valeu-nos na Guiné o título da Companhia dos Palhaços. ".Manuel Batista Traquina".



1. Há dias, na Lourinhã, fui visitar uma das minhas irmãs, a do meio (tenho três, mais novas do que eu). A mana Z... tem um filho, o A..., que está num país árabe a tentar a sua sorte como talentoso adjunto de treinador profissional de futebol. A sua conpanheira, I..., é do Cadaval, concelho vizinho.

Manuel Traquina
Os pais da moça foram-me apresentados. Na hora do chá, conversa puxa conversa, verifico que o pai, Alfredo Ferreira, estivera na Guiné na guerra colonial:
- Quando?
- 1968/70.
- Somos contemporâneos, o meu amigo é mais velho um ano do que eu...
- Pois, sou de 46!
- E eu de 47!... E a sua companhia, já agora, ainda se lembra o número ?
- A 2382, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, Contabane... Éramos a companhia do "Zé do Olho Vivo"! Companhia de Caçadores...
- Se me lembro!... Tenho gente dessa companhia no meu blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné... E o camarada foi operacional? Qual era o posto?
- 1º cabo atirador de infantaria... Mas, como era preciso alguém para
Carlos Nery [, o cap mil Araújo]
fazer o pão, fiquei eu, como padeiro.
- E o capitão?
- Carlos Nery Sousa Gomes de Araújo. Era miliciano.
- Incrível, é meu vizinho de Alfragide!... E quem mais, dos alferes e furriéis...?
- Olhe, o furriel mecânico Manuel Traquina que até escreveu o livro com histórias do pessoal da companhia. É de Abrantes.
- Já estive com ele num dos nossos encontros anuais...

... Emociona-se o ex-1º cabo Alberto Ribeiro C. Ferreira ao falar do ataque a Contabane e das colunas a Gadamael... E do ataque a Buba... E do monumento que foi edificado aos combatentes da sua terra, que regressaram todos, graças a Deus... Sessenta e seis!... Estamos a falar de Murteira, freguesia de Lamas, concelho do Cadaval... Ele escreveu (ou ajudou a escrever) as três quadras de homenagem que estão gravadas na pedra. Recita-me as quadras com um brilhozinho nos olhos. Fica exasperado por lhe faltar o primeiro verso da última quadra... Faz apelo à memória da esposa, a seu lado...

O meu cunhado, M...,   estava banzado com a nossa conversa e a familiaridade dos nomes das terras da Guiné, que ambos testemunhávamos, eu e o Alfredo: de Mampatá a Contabane, do Saltinho a Gandembel, de Buba a Quebo,  e ainda de João Landim a Bula, e o dia em que o Alfredo  ia morrendo afogado no rio Mansoa, agarrado a um frágil tronco de palmeira, ele que nem sabia nadar!...

Falei-lhe do blogue e das referências que temos à malta da companhia do "Zé Olho Vivo"... Não é pessoa de navegar na Net, mas vai todos aos anos aos convívios da CCAÇ 2382... Fala, com calor humano, dos tempos da Guiné e dos seus camaradas... Vê-se que a guerra e a camaradagem marcaram-no para sempre.

Fico a saber que, no regresso (ou ainda antes, logo em 1969), se estabeleceu por conta própria como industrial de panificação. Devido à lei do condicionamento industrial, na época,  o Grémio do setor só o deixou estabelecer-se em Alcoentre, no concelho próximo, Azambuja, transferindo-se mais tarde (presumo que depois do 25 de Abril) para a Vermelha, outra sede de freguesia do concelho de Cadaval. 

O negócio do pão prosperou ao ponto de a clientela se ter alargado a boa parte da região Oeste e à Grande Lisboa... Passou a condução dos negócios ao filho, líder hoje da Panificadora Regional da Vermelha, empresa que tem mais de meia centena de colaboradores e uma apreciável frota automóvel para distribuição diária de pão... que chega às nossas mesas através das redes de hipermercados  e supermercados  onde fazemos compras... Vê-se que sente orgulho na obra feita e na continuidade dada pelo filho (que "não quis continuar a estudar" e é hoje um empresário de sucesso)...

O Zé Manel Cancela
Falámos ainda de amigos do concelho do Cadaval, do Joaquim Pinto de Carvalho, hoje advogado, outro camarada da Guiné, natural do Cadaval, que tem um turismo rural em Vila Nova, a "ArtVila"... Falámos do Miguel Luís Evaristo Nobre, do Vilar, e da sua paixão pelos moinhos de vento... Falámos, inevitavelmente, da serra de Montejunto, e das terras ali à volta, como a "pitoresca" Pragança e o Pereiro (onde se cantam e pintam os Reis) ...

Prometemos, enfim, fazer um visita a Murteira, ao monumento local aos combatentes da guerra do Ultramar e, naturalmente, à casa deste camarada que já ficou avisado:
- Para a próxima, passamos a tratar-nos por tu, como camaradas que somos e continuamos a ser... Tratamo-nos por tu, na Tabanca Grande, do general ao soldado...

2. Não me ocorreu o nome do meu amigo e camarada de Penafiel, o Zé Manuel Cancela, ex-soldado apontador de metralhadora pesada, que também pertenceu à CCAÇ 2382... Na altura não tinha o portátil comigo, pelo que não deu para fazer pesquisas sobre a malta desta companhia que faz parte da nossa Tabanca Grande, e onde se incluem os nomes do Manuel Traquina (ex-furriel miliciano) e do Carlos Nery (ex-cap miliciano, por sinal meu vizinho de Alfragide), além do José Manuel Moreira Cancela e do Alberto Sousa e Silva (ex-soldado de transmissões) (e de quem não temos para já uma foto atualizada).

Apesar da máquina fotográfica andar sempre comigo, também não me ocorreu tirar uma foto... com o Alberto Ferreira e a esposa. A filha I... já a conhecia há uns tempos mas não assistiu a esta conversa. Também ela costumava acompanhar os pais nos convívios anuais da companhia. E conhece bem o Manuel Traquina.

De qualquer modo, pode-se dizer,  mais uma vez, e com toda a propriedade, que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande!

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16925: Manuscrito(s) (Luís Graça) (108): Com o Eduardo Jorge Ferreira, o Jaime Bonifácio Marques da Silva e outros amigos da Tabanca do Oeste, cantando as janeiras em Pereiro, nas faldas da serra de Montejunto


Serra de Montejunto > Cadaval > Vilar > Pereiro > Noite de Reis, 5-6 janeiro de 2016 > Numa da casas da aldeia que abre as suas portas a todos os "reiseiros" de dentro e fora... E são muitos, alguns de fora, como eu e a Alice (na foto., à direita, em segundo plano)... Do lado esquerdo, de boné, por causa do frio da noite, o nosso camarada Eduardo Jorge Ferreira e a seu lado o nosso amigo comum João Tomás Gomes Batista (, engenheiro técnico agrícola, safou-se da guerra, mas estagiou em Angola, enquanto aluno da Escola de Regentes Agrícolas de Santarém).

Falta, na foto, o Jaime Bonifácio Marques da Silva, nosso grã-tabanqueiro. O Joaquim Pinto Carvalho, que é natural do Cadaval, foi também convidado (ou, melhor, "desafiado"), mas não pôde comparecer por razões de agenda. 

Na véspera de partir para  a Guiné, em 1973, o Eduardo descobriu aqui essa tradição da  serra de Montejunto: os BRM (os "bons reis magos") cantam-se, há muito, em duas aldeias, Avenal e Pereiro. Em todas as casas onde há vivos, são feitas pichagens (hoje com spray e com moldfes), com 
as seguintes inscrições BRM [Bons Reis Magos] + estrela de David + ano.

Há uns anos atrás, o Eduardo (que vive em A-dos-Cunhados, Torres Vedras) voltou a Pereiro para o "cantar & pintar os reis"... E este ano desafiou alguns amigos e camaradas da Tabanca do Oeste.

Foto: © Eduardo Jorge Ferreira  (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Serra de Montejunto > Cadaval > Vilar > Pereiro > Noite de Reis, 5-6 janeiro de 2016 > Eduardo Jorge e Luís Graça


Serra de Montejunto > Cadaval > Vilar > Pereiro > Noite de Reis, 5-6 janeiro de 2016 > Jaime Bonifácio Marques da Silva e  Eduardo Jorge.

Fotos: © João Tomás Gomes Batista  (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Lê-se no sítio da Câmara Municipal de Cadaval, a propósito desta tradição, que se mantém viva e se renova todos os anos nas fraldas da serra de Montejunto:


(...) Segundo Alzira [Cordeiro, (...) uma das primeiras mulheres a cantar os reis no Avenal] trata-se(....) de uma tradição que não se pode perder por constituir património imaterial concelhio. «Reza a lenda que os antigos monges desciam do alto das neves (serra de Montejunto) ao povoado, para cantar às portas os votos de boas festas e no dia seguinte iam recolher as ofertas», relata a cantadeira. «No outro dia, pegavam em cestos, passavam pelo lugar e era-lhes oferecido cebolas, alhos, batatas, carne, chouriço, vinho ou dinheiro, e depois fazia-se o almoço dos reis. E aí, sim, eles já pediam colaboração das senhoras ou raparigas para irem ajudar a cozinhar», acrescenta. (...).

(...) "De acordo com Gonçalo Bernardino, cantador dos reis no Pereiro, a festa vai decorrer nos moldes habituais, começando com um jantar, pelas 20 horas, seguido de um cortejo, por volta das 22h, com os tradicionais cantares e pinturas, cortejo esse que decorrerá pela noite dentro, só terminando de madrugada. (...)  «ao longo do cortejo, as pessoas abrem as suas portas, mas depois, à meia-noite, uma hora, chegamos ao largo principal, e temos uma ceia com frango assado, chouriço, vinho, e ali todos os anos há cantares ao desafio, por homens e mulheres. A ceia é promovida pela colectividade mas é quase tudo oferecido através de pedidos que a gente faz localmente.»- 

(...) " No dia 6, haverá o tradicional almoço dos reis na associação local, servindo também este dia para recobro da noite anterior. «A gente diz, por brincadeira, que é feriado no Pereiro. Mesmo as pessoas empregadas, quando podem, metem o dia de férias para participar na festa», refere o “reiseiro”. Para Gonçalo Bernardino está é uma festa que agrada a muita gente, e uma tradição que, apesar de sempre se ter mantido, ganhou maior fulgor nas últimas décadas, recebendo visitantes de diversos concelhos limítrofes. «Está num ponto que não pode voltar para trás, pois já tem uma dimensão muito forte», realça Gonçalo. «Hoje não somos só nós que cantamos, já há muitas pessoas de fora que já estão enquadradas nos cânticos e já lançam as suas quadras», conclui. (...)


(...) Para além dos tradicionais cânticos, voltar-se-ão a inscrever em paredes e muros das casas da aldeia os símbolos tradicionais, que poucos saberão deslindar com exactidão, mas que representam, grosso modo, votos de bom ano e de prosperidade aos respectivos habitantes. -



2. O "Cantar 
e o Pintar os Reis" 
em Pereiro

por Luís Graça 





Que importa a noite fria de janeiro,
Se o desafio é ir a Montejunto,
Os Reis cantar na aldeia de Pereiro
E a amizade celebrar em conjunto?!

E a amizade celebrar em conjunto,
Homens e mulheres, velhos e moços,
E, se não houver salpicão nem presunto,
Come-se o chouriço, as pevides e os tremoços.

Come-se o chouriço, as pevides e os tremoços,
Que o Eduardo Jorge é o nosso guia,
Em voltando da Guiné com todos os ossos,
Prometeu que a Pereiro voltaria.

Prometeu que a Pereiro voltaria.
Lá nas faldas daquela bela serra,
As janeiras cantar com alegria,
Com mais alguns camaradas de guerra.

Com mais alguns camaradas de guerra,
Qual frio, qual carapuça, qual nevoeiro,
Viemos de longe cantar os reis nesta terra,
Que Portugal hoje chama-se Pereiro.

Que Portugal hoje chama-se Pereiro,
E tem da brisa atlântica um cheirinho,
Pode não haver, como no Norte, o fumeiro,
Mas há o branco, o tinto e o abafadinho.

Pereiro, Vilar, Cadaval, 5-6 de janeiro de 2016

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Nota do editor:

Úttimo poste da série > 1 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16902: Manuscrito(s) (Luís Graça) (107): As janeiras da tabanca da Madalena: vivó 2017!... (E saudando todas as tabancas e todos/as os/as tabanqueiros/as da Tabanca Grande: AD - Bissau, Ajuda Amiga, Algarve, Bando do Café Progresso - Porto, Bedanda, Candoz, Centro - Monte Real, Ferrel, Guilamilo, Lapónia, Linha - Cascais, Maia, Matosinhos, Melros - Gondomar, Oeste, Ponta de Sagres - Martinhal, São Martinho do Porto, Setúbal, e por aí fora, que o mundo afinal é pequeno!)

domingo, 23 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P15032: Memória dos lugares (315): Pragança, aldeia da serra de Montejunto, união das freguesias de Lamas e Cercal, concelho de Cadaval - fotos de Luís Graça

























Serra de Montejunto > Cadaval > Pragança, freguesia de  Lamas > 20 de agosto de 2015 > Aspetos diversos da pitoresca aldeia de Pragança, a começar pelo coreto da filarmónica local que foi fundada em finais do séc. XIX. O coreto, guarnecido nas paredes e bancos laterais,  por deliciosos painéis de azulejos, criados e pintados à mão,  pela Oficina Brito, Caldas da Raínha,  é, além disso, um dos mais belos miradouros do oeste esteremenho. A poente, a vista alçança os concelhos vizinhos, de Cadaval, Bombarral, Torres Vedras, Lourinhã, Peniche, Óbidos, Caldas, Nazaré...

Texto e fotos: © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados

1. Pragança é uma localidade situada no sopé da Serra de Montejunto. Pertence à união das  freguesias de Lamas e Cercal. concelho do Cadaval, distrito de Lisboa.

Segundo a tradição oral e os vestígios arqueológicos, Pragança é  uma das mais antigas aldeias portuguesas. No séc.  XVIII  foram encontrados vestígios paleoliticos no Pico da Vela, na serra de Montejunto, Sobranceiro à aldeia de Pragança, no alto de um cabeço rochoso calcário, situa-se o Castro de Pragança.

A antiga freguesia de Lamas orgulha-se de possuir um rico património ambiental, cultural e histórico, a começar pelo  maciço calcário da serra do Montejunto que é o o ex-libris do concelho de Cadaval.

O castro de Rocha Forte ou Castelo Velho, as grutas necrópoles da serra de Montejunto,  a Real Fábrica do Gelo, o antigo convento dos dominicanos (séc. XIII), a  ermida da N. Sra. das Neves (séc. XIII, XVI e ss.), bem como as inúmeras belezas naturais da serra, a par da sua  flora e fauna, tornam a antiga de freguesia de Lamas num dos sítios mais atrativos da região do Oeste.

É na união das freguesias de Lamas e Cercal,  em plena serra do Montejunto, que está localizada a Real Fábrica de Gelo, onde no séc. XVIII era fabricado o gelo que abastecia não só a corte como, mais tarde, diversos cafés da baixa lisboeta. Foi recentemente  classificada como monumento nacional.

Além do edifício principal,  a Real Fábrica do  Gelo é constituída por um poço, atualmente tapado e que outrora era a fonte de abastecimento de água dos 44 tanques,  amplos e rasos, onde se fazia, por congelação, o gelo. A fábrica era explorada por um "neveiro". (Foi classificada como Monumento Nacional,através do Decreto n.º 67/97, de 31 de Dezembro; é considerado por inúmeros especialistas internacionais  “como um caso único pela originalidade das suas estruturas  e pelo razoável estado de conservação”).

Quase no topo da serra de Montejunto, situa-se  a ermida de N  Sra. das Neves, edificada, nos começos do séc. XIII, pelos frades dominicanos. Junto à ermida, podem observar-se as ruínas do primeiro convento da ordem dos dominicanos, fundado em Portugal.

É também aqui que se realiza, a 5 de agosto, a popular romaria de N. Sra. das Neves. Um dos nossos camaradas que não costuma perder este evento é o Eduardo Jorge Ferreira.

Para se almoçar ou jantar, recomendo o restaurante típico Garcia da Serra: a relação qualidade/preço é imbatível e o Garcia e a esposa são simpatiquíssimos. Provei com agrado as queixadinhas de porco, o bacalhau á Garcia e o cabrito da serra... 


2. Quatorze camaradas nossos morreram em Angola, Guiné  Moçambique durante a guerra colonial. Três  morreram no TO da Guiné, segundo a detalhada e preciosa informação recolhida no portal Ultramar TerraWeb, relatiava aos mortos na guerra do ultramar do concelho de Cadaval

(i) António Emídio Ribeiro da Silva, soldado maqueiro, CCS/BCAÇ 4612, morto em 1/11/73, por acidente; está sepultado na sua terra natal (Póvoa do Cadaval, Lamas);

(ii) José Isidro Marques, soldado apontador de metralhadora, CCAÇ 423/ BCAÇ 237, morto em combate, em 3/7/63, natural de Alguber, freguesia de Alguber;

(iii) Luís Ferreira Faria, sold cond, Comp Transportes 735,  QG/CTIG, morto por afogamento em 24/8/64, natural de Cercal, união das freguesias de Lamas e Cercal.

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Nota do editor:

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Guiné 63/74 - P15027: Memória dos lugares (314): Serra de Montejunto, o moinho de Aviz, de Miguel Luís Evaristo Nobre (Vilar, Cadaval) - Fotos de Luís Graça, parte I















Cadaval > Vilar > Vila Nova > Serra de Montejunto > 20 de agosto de 2015 > O nosso camarada e amigo  Joaquim Pinto Carvalho levou-me, a mim, à Alice e mais uns amigos do norte, o Gusto, a Nita e a Laura,  até ao moínho do Miguel, no alto da serra... Dizem que é o mais alto da península ibérica, dos moinhos ainda a funcionar.

Daqui tem-se uma vista fantástica sobre o mundo, ou pelo menos sobre o meu/nosso oeste estremenho, do rio Tejo à serra de Sintra... Mas o mais fascinante é o moinho, o mominho de Aviz, e o seu dono, sem esquecer naturalmente a serra de Montejunto e os seus miradouros, a par da aldeia de Pragança que eu, inacreditavelmente (!), ainda não conhecia... O moinho, o moinho de Aviz,  que estava em ruínas há uns anos atrás floi reconstruído e uma beleza de se ver... Tudo somado, ficou-lhe em cerca de 200 mil euros, o preço de um bom apartamento em Lisboa...

Obrigado, Joaquim e Miguel, por esta magnífica tarde, que começou pela tua Artvilla, em Vila Nova, freguesia do Vilar, concelho de Cadaval, no sopé da serra que é familiar a alguns de nós, da FAP, que por aqui passaram no tempo de tropa (Estação de Radar, nº 3, Lamas, Cadaval).

Texto e fotos: © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados


1. Confesso que tenho uma velha paixão pelos moinhos de vento, paixão essa que me vem da infância: nasci e cresci ao som do vento a bater nas velas e a redemoinhar nas cabaças dos moinhos de vento da Lourinhã... a escassos dois quilómetros do mar... Há sons que nunca mais se esquecem.

O vento e o mar, o som e a fúria do vento e do mar, as velas, os mastros, os moinhos, os barcos à vela... A estética solitária e quixotesca do moinho de vento no cimo dos cabeços da minha região natal... E a sua barra azul. E os seus portentosos mastros, a alvura e fortaleza do seu velame... "Redes e moínhos" era o título do jornal da minha terra, quando eu era puto, tendo antecedido o quinzenário "Alvorada" onde trabalhei, como redator-.chefe, antes de ir para a tropa...

Havia alguns milhares de moínhos de vento no oeste, meia dúzia em cada aldeia, no meu tempo de menino e moço... Hoje há uma ciência que se dedica ao seu estudo, a molinologia. E há homens que ainda dominam a "arte ao vento", como o Miguel Luís Evaristo Nobre.

Preciso de mais tempo e vagar para escrever sobre este homem e a sua obra, e em especial sobre este moinho, conhecido  como o moinho de Aviz,  que visitei e fotografei ontem.  Prometo apresentar-vos, na II parte, fotos do interior do moinho... Para já há um sítio na Net, "Arte ao Vento", que merece uma visita... É o sítio da  empresa do Miguel (que vive no Vilar, Cadaval), "dedicada ao Restauro e Manutenção de Moinhos de Vento",

 (Continua)

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segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13610: Ser solidário (164): Muita saúde e longa vida, Joaquim Pinto de Carvalho, porque tu mereces tudo (Os amigos da Tabanca do Oeste)


Lourinhã > Seixal > 12 de setembro de 2014 > Uma semana de festa na terra do nosso grã-tabanqueiro Jaime Bonifácio Marques da Silva.


Lourinhã > Seixal > 12 de setembro de 2014 > Alguns dos pestiscos deste nosso jantar de convívio.



Lourinhã >  Festa da Atalaia > Festival de Marisco > 7 de setembro de 2014 > Quatro membros da Tabanca Grande: da esquerda para a direita, Jaime Silva, João Graça, Alice Carneiro e Pinto Carvalho (que faz parte da nossa Tabanca Grande desde 7 dezembro de 2013; o seu lugar sob o poilão é o nº 633).


Lourinhã >  Festa da Atalaia > Festibval de Marisco > 7 de setembro de 2014 > ,Da direita para a esquerda: a Maria do Céu, espoa do Joaquim, e a Dina, esposa do Jaime (. O casal vive habitualmente entre Fafe e a Lourinhã...).


Fotos: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados


1. A vida prega-nos, nesta idade, cada vez mais partidas. Algumas são fatais. Outras deixam-nos KO. Outras ainda são sinais à navegação. Estamos a prazo. E a gente sabe disso. Desde os tempos da guerra, deste os nossos verdes anos, na Guiné, em que aprendemos a olhar e a cheirar de perto a morte, a doença, o acidente, o desastre, o imprevisto, o absurdo, a tragédia. Sobreviventes, "velhinhos", chegámos a pensar que éramos imortais...Mas não somos. Vêm agora ao de  cima as mazelas... na terceira curva (perigosa) da estrada da vida. Intervenção aqui, intervenção acolá. remendo em cima, remendo em baixo, lá vamos mantendo e "recauchutando" o corpinho...

É uma altura da vida em que os outros (a família, os amigos, os camaradas...) são mais importantes, são preciosos, fazem falta, e a sua ausência faz-zse sentir como nunca...Como é bom sentir uma ombro amigo, ouvir uma palavra de conforto, receber um xicoração, quando se está "em baixo"...

Foi isso mesmop que quisemos transmitir ao nosso camarada Joaquim Pinto Carvalho (e à sua companheira de uma vida, a Maria do Céu). Por razões de saúde, o Pinto Carvalho acaba de passar o seu mau bocado. Felizmente, que o prognóstico é bom e ele soube lidar com a situaçção com grande dignidade, coragem e sentido de humor. Éle é credor da nossa admiração. Ele e a família. Os seus amigos da Tabanca do Oeste (, chamemos assim a esta tertúlia de verão, que já tem pergaminhos firmados,) quiseram fazer-lhe uma pequena homenagem, com  estas palavras singelas que o Luís Graça pôs em verso e disse em nome de todos (os presentes e os ausentes) na Festa do Seixal da Lourinhã.

Óbidos > 16 de Agosto de 2011 > 
O António Teixeira (1948-2013)
 e o Pinto Carvalho, uma grande amizade 
que já vinha de Bedanda. Foto de LG (2011).
Nascido no Cadaval, tal como a Maria do Céu (de quem tem duas filhas), o Joaquim Pinto de Carvalho é hoje advogado de profissão, mas também empresário (o turismo rural "Artvilla" é um caso de sucesso, que deve muito à sua filha, arquiteta,  Catarina, à sua mulher, Maria do Céu, criativa e talentosa decoradora. e ao genuíno empreendedor que ele é).

O casal tem casa também no Porto das Barcas ("o mais antigo porto lagosteiro do mundo", Atalaia, Lourinhã, e faz parte, desde há largos anos, da nossa "Tabanca do Oeste", muito antes de entrar para a Tabanca Grande). Prestável, amável, dotado de fino espírito de hunor, é daqueles amigos com quem gostamos de beber um corpo, partilhar um petisco e dar dois dedos de conversa. Foi o que fizemos na Festa da Atalaia e na Festa do Seixal, Lourinhã, dois eventos fortes da "rentrée" em setembro...

Acrescente-se, em termos biográfcos, que ele foi alf mil, CCAÇ 6, Bendanda, 1972/73. (Pssou antes por um batalhão de cujo número ele já não se lembra...).

Lá, na CCAÇ 6,  fez grande amizade, entre outros,  com o nosso saudoso Tony Teixeira (1948-2013), que era visita da sua casa e que eu conheci através dele, na "Tabanca do Oeste".

Depois da tropa e da guerra, o Joaquim trabalhou na Petrogal (nos mais diversos setores, desde a organização e métodos, à informática e à gestão de recursos humanos). Lembra-se bem, por exenmplo, dos Levezinho, pai e filho (o nosso Tony, da CCAÇ 12). Fez o curso de direito e acabou por entrar para a advocacia como profissional liberal. É especialista em direito laboral.

2. Aqui vão as quadras (populares) que o Luís Graça, em nome dos amigos (e alguns camaradas), lhe leu no passado  dia 12, num jantar realizado no recinto da festa do Seixal (terra natal do Jaime Bonifácio Jaime da Silva, que por razões de agenda já não pôde estar presente; nem ele nem o Eduardo Jorge, dois dos nosso tabanqueiros da Tabanca do Oeste).



Muita saúde e longa vida, 
Joaquim Pinto de Carvalho, 
porque tu mereces tudo 

(Os amigos da Tabanca do Oeste)

Não vida não foi otário,
Teve muitas vocações,
Hoteleiro, empresário,
É o último dos seus brasões.

Advogado do trabalho,
Não descura o capital,
O nosso Pinto Carvalho
Que nasceu no Cadaval.

Chamado pela pátria à tropa
Foi alferes, não capitão,
Onde bajuda é cachopa
E guita é patacão.



Não contente com a terra,
Quis logo abarcar o céu,
Avisando após a guerra
- É minha, a Maria, ó meu!

Quem disse que a vida é tramada
Se um homem tanto amor
Pode dar à sua amada
E ainda lhe sobrar humor?!!

Foi pau para todas as obras,
Em vinte anos e tal,
Engolindo sapos e cobras
Lá na grande Petrogal.

Tendo casa p'ra sustentar,
Foi preciso ganhar uns cobres,
Pondo-se logo a advogar
Causas nobres e menos nobres.

Do nascer ao morrer
A vida prega partidas,
Muitas vezes sem se ver,
Nas subidas e descidas.

É o Joaquim um sortudo
Que aos médicos surpreende,
Dos males não sabe tudo
Mas da cura muito entende.


Bedandense do coração,
É um amigo e um camarada,
Que nunca nos diz que não
A um convite p'ra petiscada.


E p’ra todos nos animar,
Deixou o turismo rural,
No Montejunto, p’ra se juntar
Aos festeiros do Seixal.

Lourinhã, Seixal, Festa do Seixal,

12 de setembro de 2014, 21h00

Os festeiros

Alice e Luís, Laurentino e Glória, Jaime e Dina (… em Fafe), Eduardo Jorge e São (…em A-dos-Cunhados, Torres Vedras), mais o homenageado, Pinto Carvalho e a Maria do Céu (que vieram expressamente da “Artvilla”, Vila Nova, Vilar, Cadaval, com a serra de Montejunto ao fundo).



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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de setembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13568: Ser solidário (163): Escola Humberto Braima Sambu, precisa de ajuda