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terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16961: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (38): 2 - O amigo Mohammed da Mauritânia


Nómadas no deserto


1. Em mensagem do dia 9 de Janeiro de 2017, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), autor do Livro "Memórias Boas da Minha Guerra", enviou-nos a segunda história da sua mini-série O meu amigo Mohammed, este da Mauritânia.

Caros amigos
Tal como prometi, junto a segunda das quatro histórias de "O amigo Mohammed".

Grande abraço
JFSilva


Memórias boas da minha guerra

38 - O amigo Mohammed

2 - Da Mauritânia

Corria o ano de 1978 e estava eu a trabalhar na Sociedade de Fundição e Metalurgia, agora denominada de Sofume, nome mais em consonância com as leis do Marketing e com a modernização a que fora submetida. Esta empresa centenária, que fora Escola de Fundição, pertencia a Abílio Pinto de Almeida, quando foi adquirida em 1952 pelos cunhados António F. Alves (meu sogro) e Eugénio Guedes Barbosa, também sócios iguais na empresa “A Juvenil – Passamanarias”.

A Fundição fora implantada em local escavado nas rochas sobranceiras ao rio Douro, na sua margem esquerda, num local chamado de Murça. Ali, mesmo ao lado, já existia outra empresa, a Antiga Fundição de Murça (da família Paiva Freixo).


Zona do cais actual de Crestuma

Nesse tempo (até aos anos 40), Crestuma, talvez devido à sua forte irregularidade geográfica, ainda não tinha estradas, mas beneficiava de uma das melhores vias de transporte – o Rio Douro. Crestuma, apesar de, então, ser a zona mais industrializada de Gaia, tinha os escritórios centrais das suas empresas na cidade do Porto. Ainda hoje se podem ver os sinais desses proprietários nos edifícios da Rua S. João, perpendicular à zona ancoradouro da Ribeira.


Porto - Rua de S. João. Ao fundo o Cais da Ribeira do Porto


Soleira da porta de entrada dos escritórios na Rua S. João

Fascinado pela paisagem e pelo bom gosto de quem o construiu, procurei restaurar o Escritório Técnico, de onde se vislumbrava toda a beleza do rio e seu movimento fluvial. Era lá que eu passava grande parte do meu tempo, enquanto trabalhava.
- Senhor José, está ali um taxista, com um gajo meio preto, que quer falar consigo.

Dirigi-me para eles e após um breve esclarecimento da situação, mandei embora o taxista e voltei para o Escritório, levando comigo o “preto”.

Das suas primeiras palavras, entendi que se tratava de alguém ligado à Guiné e que “arranhava” o crioulo, um pouco melhor que eu. Também dizia alguma coisa em francês.
Mandei-o sentar e fiquei de boca aberta com o que vi.
- José, “a mim misste fogarêro di fero”.

Sempre de pé, desabotoou o casaco, meteu as mãos nos bolsos e começou a tirar deles maços de francos franceses.
- “A mim misste todo patacão di fogarêro”.

E empurrou-me o dinheiro todo. Eram mais de 400 contos! Tentei devolver-lho, mas ele insistia que só queria os fogareiros de ferro fundido e acrescentou:
- José, “tu bom pessoal. A mim tem confiança em bô”.

Curioso, perguntei-lhe para onde ia levar tanto fogareiro e ele respondeu:
- Um carro tem rádio e todo o camelo tem de ter fogarêro.


Fogareiro de ferro fundido

Depois de acertarmos o idioma mais indicado para nos entendermos: um português afrancesado ou um quase-crioulo afrancesado e fiquei a conhecer parte da história deste comerciante a que, na Guiné, chamavam “Jila”.

Soube que desembarcara em Lisboa há três dias, vindo da Mauritânia e que fora encaminhado, via CP, para o Porto. Depois de alguns contactos / informações, meteu-se no táxi e assim chegou à fábrica, em Crestuma. Andava com uma garrafa de água, para bebericar e para molhar as mãos e a cara antes das suas orações. Aliás, mal se apercebeu ter conseguido o seu objectivo, perguntou para que lado era o mar e inclinou-se para os lados de Lever (leste, lado de Meca) e fez as suas rezas a Alá.

Apercebi-me também de que ainda não comera durante esses três dias. Não ia a restaurantes, porque não se sentia seguro de ser servido com comida sem gordura animal (ou porco). Levei-o até Matosinhos e, na espectativa de lhe matar a fome, fomos almoçar ao Restaurante Mauritânia. Surpresa nossa: não encontrámos nada, além do nome, que identificasse ligação àquele país. Pensei que o arroz de marisco, fosse o mais indicado, mas o Mohammed só comeu o arroz.

O Mohammed tinha as suas origens ligadas aos mandingas do Mali e do grupo etno-linguístico Mandê. Como nómadas e de religião animista, foram vencidos pelos berberes que lhes incutiram a religião muçulmana.

Trabalhou regularmente como “Jila”, entre Bissau e Nouakchott. Mostrou conhecer Bambadinca, Fá Mandinga, Bafatá, Gabu e Canquelifá. Também conhecia bem as casas comerciais Gouveia, a Ultramarina, a Correia, Taufik-Saad, etc. Casou com uma jovem de uma tribo de nómadas, onde, actualmente, já deve ocupar lugar de responsabilidade.

O Mohammed confessou os dois principais objectivos imediatos: comprar outra mulher e ter outro filho. Talvez por isso, ele olhava tanto para as mulheres. Porém, ele considerava que as portuguesas eram quase todas doentes. Para ele, uma mulher magra não era conveniente para a reprodução. Pelo contrário, quando via uma mulher “tipo baleia”, ele arregalava os olhos a brilhar e exclamava:
 - “Muié bonita”!

Para ele, que era um “fivelinhas” de menos de 40 Kgs, uma mulher “bonita” teria que pesar mais de 100 Kg.

O Mohammed não parava de dizer “Portugal manga di verde, bonito”. Resolvi ir dar uma volta com ele pelo Minho.

Depois de visitarmos o monte da catedral de Santa Luzia, em Viana do Castelo, parámos num bar uns 200 metros mais abaixo. Fomos beber qualquer coisa, enquanto saboreávamos aquela paisagem deslumbrante. Uns minutos depois, ele saiu e pôs-se a rezar, de costas para Viana do Castelo e virado para o Monte de Santa Luzia. Por coincidência, estava curvado, quando, um homem que passava, lhe estendia uma esmola. O Mohammed, alheio ao gesto, curvara-se de novo. Ao aproximar-me, ouvi o homem, ainda de mão estendida, a dizer-lhe:
- Tome lá. Levante-se e deixe-se disso.

Quando lhe propus comermos um arroz de frango “à maneira”, ele não se pôs de fora, mas confessou que não podia aceitar, uma vez que o animal teria que ser morto por ele ou pelo seu superior religioso. Pedi então à minha sogra que cedesse uma galinha para o sacrifício. E foi sob a sua orientação que lhe proporcionámos as condições “logísticas” e religiosamente exigíveis para a “execução”.

Ainda o estou a ver na eira, de cócoras, com as mangas do casaco arregaçadas, os cotovelos pousados nos joelhos e com os braços e mãos a moverem-se tipo guindaste na doca, deslocando-se, manuseando a faca e “executando devidamente” a galinha. Tudo isto diante de duas bacias de água, uma quente e outra fria, as quais utilizava, com intervalos de rezas para Alá, cuspindo, de vez em quando, para o lado.

A minha santa sogra, pensando tratar-se de alguma bruxaria, benzia-se repetidamente e ia rezando/murmurando/contestando em voz baixa. O homem consolou-se com o frango cozido. Nem parecia o mesmo.

No dia seguinte, só falava no desejo de uma sopa de legumes. Como teria que ser sem gordura animal, procurei um “Caldo Verde”. Só o encontrei no terceiro Restaurante em que procurei. Mandei retirar a “tora” (rodela de chouriço) da malga dele. Porém, o Mohammed receou tanta pureza e recusou a sopa. O empregado, parecendo compreender a situação, ofereceu-se logo para trazer outra sopa, garantidamente sem chouriço ou outras carnes. O Mohammed olhou-me para eu lhe dar a confiança de que necessitava. E tudo correu bem.
- “Muito bom sopa! Pode cumê más”?

No final, depois do café, ainda sugeri um licor. Sem álcool, claro.
O mesmo empregado trouxe dois pequenos copos com um licor cor-de-rosa.
- “Muito bom bebida”! – gabava o Mohammed.

Na despedida, o empregado dizia-me:
- Não se preocupe com este tipo de pecados. O que interessa é que o homem fique com a consciência tranquila e o corpo satisfeito. E se o Alá me quiser foder a mim, que o fiz pecar, tem que vir aqui, a Matosinhos.

Pensando ter cumprido a sua missão, o Mohammed pediu-me se o levava a Aveiro, onde queria ficar. Ele insistia no “Stella Maris”. Fiquei a saber que se tratava de um Clube da Gafanha da Nazaré, em Ílhavo, muito frequentado pelos tripulantes de empresas que pescavam na costa da Mauritânia.
Quando lá chegámos fiquei surpreendido com o ambiente amistoso que me dispensaram. Apercebi-me de que o Mohammed já havia falado bem de mim. Comeu-se bom peixe e bebeu-se bom chá. Se o chá embebedasse, eu não teria conseguido sair dali.

Silva da Cart 1689
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Nota do editor

Poste anterior de 30 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16895: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (37): 1 - O amigo Mohammed da Guiné

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16859: Agenda cultural (532): Apresentação do livro "Memórias Boas da Minha Guerra", da autoria do nosso camarada José Ferreira da Silva, levada a efeito no passado dia 17 de Dezembro, na Junta de Freguesia de Crestuma (Carlos Vinhal)



O Bando do Café Progresso, a Junta de Freguesia de Crestuma e o Centro Associativo Cultural de Crestuma (CRASTUMIA) associaram-se ao lançamento do livro "Memórias Boas da Minha Guerra", da autoria de José Ferreira da Silva, na sua terra de adopção, Crestuma.

José Ferreira da Silva é natural da freguesia de Fiães (Santa Maria da Feira) mas pelo casamento radicou-se na freguesia de Crestuma (Vila Nova de Gaia), onde se tornou um cidadão socialmente activo. Quer nos Bombeiros Voluntários locais, quer no Crastumia, quer na Canoagem, de que foi fundador do clube local, quer noutras iniciativas, o José Ferreira tem a sua pegada. De salientar ainda que o nosso camarada foi em 1983 eleito Presidente da Federação Portuguesa de Canoagem e é actualmente Sócio Honorário, por aclamação, desta instituição.

A apresentação das "Memórias Boas da Minha Guerra", associada ao Almoço de Natal do Bando do Café Progresso, levado a efeito desta vez em Crestuma, no Salão da Junta de Freguesia, foi a combinação perfeita para esta merecida homenagem ao autor José Ferreira na sua terra de coração.  

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A sessão marcada para as 11 horas do dia 17 de Dezembro, foi aberta pelo Inspector Alberto Guedes de Moura que deu as boas-vindas aos presentes, passando depois a palavra ao Dr. Romualdo Mota e Silva, que enalteceu as qualidades de cidadão interventivo, do José Ferreira, na freguesia de Crestuma. Do livro falou pouco já que havia quem, na sua perspectiva, para o efeito estava mais habilitado.

A Mesa, presidida pelo Inspector Alberto Guedes de Moura, de pé, Presidente da Assembleia Geral da Crastumia (Centro Associativo Cultural de Crestuma), era composta ainda, da esquerda para a direita: por José Ferreira, autor do livro Memórias Boas da Minha Guerra; General Art Manuel de Azevedo Maia, ex-Cap Art ex-CMDT da CART 1689; Dr. Romualdo Mota e Silva, Presidente da Direcção da Crastumia e Carlos Vinhal, em representação do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.


Duas perspectivas do Salão da Junta de Freguesia, onde decorreu a sessão de apresentação do livro

O Dr. Romualdo Mota e Silva falando aos presentes

Em representação da Tabanca Grande, Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, esteve o co-editor Carlos Vinhal, que também na qualidade de editor no Blogue dos textos do José Ferreira, pela segunda vez em pouco tempo, falou deste seu livro de Memórias. Desta vez até deu para ler uma hilariante história em que o nosso amigo Zé levou uns sopapos de um tal Lapin, um tipo franzino, que supostamente não podia com um gato pelo rabo.

Carlos Vinhal, a quem coube a incumbência de, em nome deste Blogue, mais uma vez falar sobre o livro do José Ferreira

Interveio depois o antigo Comandante da CART 1689, General Manuel Azevedo Maia, que fazendo jus à sua experiência militar, falou das guerras que mais directamente afectaram Portugal, nomeadamente a I Grande Guerra e a do Ultramar. Lembrou tempos, companheiros de armas e episódios da CART 1689. Como no dia do lançamento do livro em Vila Nova de Gaia, foi um prazer ouvi-lo.

O senhor General Manuel Maia, falando da sua experiência enquanto militar

Seguiram-se algumas intervenções a partir da assistência, entre elas a do Bandalho Presidente, não confundir com Presidente Bandalho, Jorge Teixeira (jteix), que confessou não ter lido ainda o livro, mas conhecer através do Blogue as histórias publicadas. Com algum humor de bom gosto, dispôs bem quem o ouviu.

O Combatente Jorge Teixeira (jteix), falando na qualidade de Presidente do Bando do Café Progresso

Em tom mais sério, o Combatente Joaquim Coelho, que foi paraquedista em Angola e Moçambique, também ele com livros já publicados, na qualidade de dirigente do Movimento Cívico de Antigos Combatentes, lembrou o quanto foram e continuam a ser ignorados os Combatentes da Guerra do Ultramar, alguns a viver na rua, cheios de mazelas herdadas do tempo em que foram militares.

O ex-Paraquedista, Combatente em Angola e Moçambique, Joaquim Coelho, elemento activo do Movimento Cívico de Antigos Combatentes no uso da palavra

O Combatente Dionísio, protagonista da história "É guerra, é guerra... (será?)", que se pode ler na página 119, também se dirigiu à plateia, não para falar de si, como talvez se esperasse, mas para caracterizar a Guiné quanto à sua geografia, clima e tipo de guerra. Falou das dificuldades que aquela terra, pelas suas particularidades, impunham a quem para lá ia combater e das soluções inexistentes para o fim da guerra colonial, cujo desfecho só podia ser político.
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O Combatente Dionísio falando sobre a Guerra na Guiné.

Também o camarada Ricardo Figueiredo teve uma interessante intervenção, falando do autor do livro, das suas histórias e do contexto em que elas foram vividas e agora passadas a livro.

O Combatente Ricardo Figueiredo falando a partir da assistência

Já toda a gente se preocupava com o leitão que nos esperava no restaurante ali ao lado, quando o José Ferreira da Silva começou a sua alocução. Agradeceu a todos os que antes dele intervieram as palavras que lhe foram dirigidas e que não merecia, e agradeceu mais uma vez à família e aos amigos que o ajudaram a levar por diante a publicação deste livro. Teceu palavras de reconhecimento à Junta de Freguesia pela cedência do salão e à Crastumia pela colaboração na organização desta sessão de apresentação e ainda ao Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, nas pessoas dos editor e co-editor, respectivamente Luís Graça e Carlos Vinhal.

Finalizou o acto, o José Ferreira que agradeceu aos presentes todo o carinho dispensado.

Seguir-se-ia o almoço de Natal do Bando do Cafá Progresso, este ano com muitos mais participantes.

Fotos: Pedro Sousa Photography, com a devida vénia

Texto e legendagem das fotos: Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16844: Agenda cultural (531): O novo palácio do Nicolau: espetáculo de multimédia: Lisboa, Terreiro do Paço, fachada do Arco da Rua Augusto, todas as noites até 23 de dezembro, às 19h00, 19h45 e 20h30... O tema das alterações climáticas no planeta... Levem os netos e os bisnetos... porque a terra não é nossa, é deles...

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16829: Facebook...ando (42): Almoço de Natal do Bando... Em Crestuma e apresentação do livro "MEMÓRIAS BOAS DA MINHA GUERRA" do Bandalho Zé Ferreira (Jorge Teixeira)



ALMOÇO DE NATAL DO BANDO... EM CRESTUMA

E APRESENTAÇÃO DO LIVRO "MEMÓRIAS BOAS DA MINHA GUERRA" DO BANDALHO ZÉ FERREIRA

Vai acontecer no próximo dia 17, sábado. em Crestuma o nosso "Almoço de Natal", precedido da apresentação do livro do Zé Ferreira. 

Era bom que os Bandalhos se apresentassem em número significativo a fim de provocar a bandalheira habitual nestas circunstâncias, não só em homenagem ao Zé, mas também... e porque é Natal dia de paz, amor e... bandalheira. 

Há um autocarro no Parque das Camélias que sai às 10:00 horas
Façam as vossas inscrições rapidamente porque o Zé quer saber quem vai, para matar a mesa e marcar o porco!... 

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Nota do editor

Esta é uma organização do Bando do Café Progresso, mais conhecido pelos Bandalhos, que tem como Bandalho Presidente o nosso camarada Jorge Teixeira. Deste Grupo fazem ainda parte, entre outros: José Ferreira, Jorge Portojo, António Tavares, Joaquim Carlos Peixoto, Eduardo Campos e José Manuel Cancela.

De salientar o espírito de amizade reinante neste grupo que vai levar a efeito o seu Almoço de Natal em Crestuma, aproveitando para ali apresentar o livro "Memórias Boas da Minha Guerra", e homenagear assim o autor, José Ferreira, na sua própria terra.

A apresentação do livro será às 11 horas da manhã, seguindo-se a operação "Leitão".
As inscrições estão abertas, tendo como limite a lotação da sala.


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real (Termas de Monte Real) > XI Encontro Nacional da Tabanca Grande > 16 de abril de 2016 > O bando mais famoso do Porto,  "O Bando do Café Progresso". Da esquerda para a direita: o (i) Jorge Teixeira, o chefe do bando; (ii)  o senhor escritor José Ferreira (também conhecido como o Zé Ferreira de Catió), o Jorge Teixeira (Portojo) e o David Guimarães, todos em primeiro plano. Atrás o Jorge Peixoto.

Foto: © Juvenal Amado (2016). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Nota do editor

Último poste da série de 16 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16606: Facebook...ando (41): No lançamento do livro "Memórias boas da minha guerra", do camarada José Ferreira da Silva, no passado dia 14, no quartel da Serra do Pilar (Francisco Baptista)

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16125: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (24): Memórias de guerra ou guerra de memórias?

1. Em mensagem do dia 16 de Maio de 2016, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), mais uma das suas "Outras Memórias da Minha Guerra".


Outras memórias  da minha guerra

23 - Memórias de guerra ou guerra de memórias?

Não fora o miserável vencimento de Cabo Miliciano, aquele Verão de 1966 teria sido um dos melhores de sempre.
Estava “hospedado” em Espinho, uma das melhores estâncias de veraneio do País, perto de casa e dos amigos, bem servido pelo serviço hoteleiro do GACA 3 e dispondo das excelentes oportunidades de “desenfianço”; estava eu a viver uma tropa “peluda” sem igual. Aquele meio ano de praia contínua, recheado de oportunidades amorosas e de abundantes convívios, afastou-me da ideia que ainda havia muito tempo de tropa por cumprir.

E quando chegou a mensagem de que deveria ir a Lamego prestar provas para os “Rangers”, ainda restou a esperança de que não ficaria lá, em virtude das más provas que iria prestar. Porém, de nada valeram aquelas simulações de fraqueza, pois o destino estava traçado: ficar em Lamego e obter o melhor aproveitamento, porque seria, inevitavelmente, mobilizado.

Decorriam, ainda, os festejos da Sr.ª da Ajuda, naquele final de Setembro, quando entrei para o comboio, precisamente ali diante do picadeiro, onde tantas vezes nos deleitávamos com o desfilar das maiores belezas da nossa juventude. Naquela viagem até Lamego, agora já para frequentar o curso, em que não me relacionei com ninguém, tive tempo para analisar a nova situação e tomar sérias decisões.

Naquele tempo não era nada fácil sair do CIOE de Lamego, durante os fins-de-semana. As poucas “dispensas-surpresa” e a dificuldade de ligação dos transportes até casa, não davam hipóteses do “tal” gozo de fim-de-semana. Este isolamento veio favorecer a decisão de desligar quaisquer relações amorosas que pudessem evoluir ou manter compromissos.

Assim, todas as folgas seguintes foram aproveitadas para o gozo descontraído em convívios, onde se procurava também afastar a guerra do pensamento. É certo que já pensava na necessidade de correspondência amistosa, mas estava decidido a nem sequer vir a ter “madrinha de guerra”.

Porém, num Domingo em que alterámos o circuito das visitas às jovens do interior de St.ª Maria da Feira, muito simpáticas especialmente nos magustos que nos proporcionavam, rodámos em sentido contrário, seguindo de Canedo para Lever, entrando no leste de Vila Nova de Gaia, e assentámos em Crestuma, junto ao Rio Douro, para petiscar sável e lampreia. Ao sairmos do tasco da Mariazinha, bem comidos e bem bebidos, trazíamos maiores motivações para as habituais investidas “piropeiras”. Por sorte, logo ali de frente, no Largo do Torrão, estava um grupo de belas jovens, que até pareciam estar à nossa espera. Ao fim de poucos minutos, já o grupo de pretensos galãs se dividia em conversas directas, entre fortuitos casais. Foi nessa altura que quando dei por mim, já subia pela estrada da Mouratinha, acompanhado pela “mais bela do grupo”.

Poucos dias depois, ao descer pela primeira vez, por Crestuma abaixo, pude admirar melhor as belezas naturais que a tornam uma das mais belas e mais admiradas. Parar no adro da Igreja Matriz, e olhar o Rio Douro e as suas margens, especialmente para junto da foz do seu afluente Rio Uíma, é uma sensação ímpar, inexplicável e muito emotiva. Em Fiães, uns 12 km a montante, conhecia muito bem o Rio Uíma. Foi nele que aprendi a nadar e a pescar umas trutas. Porém, nunca tinha ido a Crestuma, nem imaginava a sua grandeza intrinsecamente ligada ao rio da minha terra.

Ó terra de lenda,
Paninho de renda
Bordado por mãos de fada!
Tão bela e garrida
És a minha vida
Ó minha terra adorada!
Crestuma formosa,
Meu botão de rosa,
No perfume e no feitio,
Talvez sejas pobre
Mas és a mais nobre
Das terras da beira-rio.

Extracto de poema de Eugénio Paiva Freixo, consagrado poeta Crestumense.

Embora, inicialmente, tudo parecesse normal, o certo é que, desta vez, o espectro da guerra trazia efectivamente preocupações acrescidas. Agora, que pouco tempo faltava para ir para a Guiné, sentia que, afinal, a minha determinação de finais de Setembro fora involuntariamente ultrapassada. Já havia sido atraído por belas raparigas, com destaque para loiras, olhos verdes, mamas salientes, boas pernas, tudo do melhor, em corpos fortes e sorridentes. Porém, de repente, parece que esses predicados foram esquecidos, para valorizar outros encantos que só o coração compreende. Era chegado o amor. Enfim, o costume de quem se apaixona.

Cada vez mais preso a esta relação, procurava então que ela não pudesse provocar as indesejáveis mazelas. Assim, embora o amor estivesse bem presente neste relacionamento, procurou-se evitar compromissos de maior responsabilidade. Ficou, todavia, a ligação permanente, até o que a guerra decidisse.


Crestuma é uma pequena povoação ribeirinha, situada na margem esquerda do Rio Douro, junto à foz do Rio Uíma. O seu nome provem da aglutinação das palavras Castelo (Crastrum) e Rio Uíma (Umia) – Crastumia - Crestuma. No dizer de historiadores e arqueólogos que se têm dedicado ao estudo das origens de Crestuma, o morro do Castelo (Parque Botânico) já foi ocupado na idade do ferro (I milénio a.C.). Aí se terá instalado na elevação, um povoado indígena, similar a tantos outros castros da região.

Na sequencia das guerras púnicas, os romanos aproveitaram a estratégia dos cartagineses que os atacaram pelo norte de Itália e, retaliando, entraram pela Península Ibérica. Atacaram Mérida e chegaram a Lisboa em 218 a.C..

Em 137 a.C, já os romanos dominavam as margens do Douro, controlando e desenvolvendo as actividades mineiras. O filão aurífico que já havia sido bem descoberto, estendia-se desde as proximidades de Póvoa de Varzim, seguindo por Valongo, Melres, Lomba, Arouca, até Castro Daire.

Estudos recentes levaram à descoberta de um Cais Romano em Crestuma, de onde partiam valiosas cargas para Roma. Mais recentemente, constata-se que também já havia ali uma certa tradição na arte de fundição.

Também se apontam os inúmeros moinhos, muito antigos, concentrados no Rio Uíma, como prova de que eram utilizados para moerem também pedras, para se apurarem os minerais mais valiosos.

A.C. da Cunha Morais

Independentemente deste longo período de domínio romano, revemos testemunhos de intensa actividade industrial, especialmente nos sectores da Metalurgia e do Têxtil. Para que se compreenda a força industrial de Crestuma, basta referir que foi ali que se fundaram estes respectivos sindicatos nacionais.

Canhões fabricados em Crestuma

Ali se fabricava armamento de guerra. Hoje ainda são visíveis canhões usados na guerra civil, entre D. Miguel e D. Pedro.

Na primeira metade do século XX, esta pequena povoação possuía cerca de 40% de toda a indústria de Vila Nova de Gaia.

Fundição de Arcos de Ferro e Verguinha, fundada em 1793. Mais tarde (e até hoje) Companhia de Fiação de Crestuma.

As empresas, que gozavam de um certo proteccionismo colonial, exportavam os seus produtos com relativa facilidade. Acontecia, até, que havia produtos, cujo monopólio de produção, se cingia a empresas de Crestuma.
Como reflexo desta actividade, vivia-se em Crestuma em franco ambiente de cidade, onde nem o cinema faltava, quase diariamente. As belezas naturais, de onde se destacava a Quinta da Estrela, faziam atrair grupos de visitantes. Por sua vez, os industriais locais, que gozavam de grande prestígio, recebiam as personalidades mais importantes que visitavam o Porto.


Gago Coutinho visita Crestuma quando da sua homenagem no Porto

Já na Guiné, eu enviava fotos para a namorada, onde se realçavam os panos duros que as indígenas usavam, especialmente quando as mães prendiam crianças nas costas ou em outras cargas. Foi nessa altura que fui esclarecido que esses tecidos que chegavam a todos os cantos da Guiné, eram fabricados em Crestuma.

Mais tarde, em 1975, quando já vivia em Crestuma, em casa dos meus sogros, embora trabalhasse na fábrica de fundição, acompanhava, ao de leve, a actividade da fábrica de tecelagem, onde trabalhava a minha mulher.

Com a independência da Guiné, verificaram-se algumas alterações nesse relacionamento comercial, para onde se exportava mais de 80% da produção. Nada ficaria como antes.

Após várias deslocações do meu cunhado Augusto à Guiné, foi acordada uma parceria, ou apoio, para implantação de uma unidade de tecelagem na ilha de Bolama. Desse acordo resultou a vinda de uma equipa de guineenses, para aprenderem a trabalhar com os teares e outras máquinas, enquanto se ia construindo a fábrica em Bolama (1).

Essa equipa era composta por 5 elementos, onde se destacava um idoso, conhecedor de fabrico em tear manual, mas os outros 3 de tecelagem nada sabiam. Vinham acompanhados por uma senhora, ainda jovem, que parecia exercer funções de Comissária Política. Eles estavam instalados numa casa do senhor. Marques, no Largo do Torrão, junto à foz do Rio Uíma e comiam no Restaurante Marujo, de Fioso. A senhora estava instalada em nossa casa. Todavia, parecia sempre ausente, muito ocupada com os seus contactos de interesse, aparentemente, guineense. Telefonava muito e ausentava-se amiúde. Nos intervalos, lia e fazia relatórios. Ela parecia ocupar lugar de grande importância na governação.

Talvez devido a condicionalismos de ordem financeira, ou, talvez, devido à delicadeza da nova situação económica, eu via o meu sogro bastante apreensivo e muito cauteloso com este relacionamento. Parecia estar sempre disponível para ela.

Apesar da distância que ela parecia querer manter, logo que a conversa se proporcionou, naturalmente, falámos da Guiné.

Tudo bem enquanto falei das belezas dos Bijagós, da estadia no Quartel General de Bissau, dos mergulhos na piscina de Bafatá e dos tempos (de descanso) em Canquelifá. Porém, quando referi que a minha Companhia era de Intervenção, que estivera em vários locais, mas que o Batalhão estivera sempre em Catió, ela aproveitou logo para lembrar e enaltecer os seus bravos camaradas que derrotaram e rechaçaram todas as investidas das tropas coloniais.

Quando lhe disse que estivera no Oio, o local onde mais sofrera e que entráramos em Samba Culo (2), ela contrariou de novo, alegando que as tropas coloniais nunca lá tinham conseguido chegar. Seguidamente enumerou vários combates, alguns deles com a minha Companhia (as datas coincidiam), mas, pelo exagero dos seus heróicos relatos, nem parecia tratar-se dos mesmos.

Tentei amenizar o seu entusiasmo, lembrando que as NT utilizavam as notícias como fonte de propaganda e que, também, exageravam ao darem notícias, o que eu considerava normal em tempo de guerra. Ela retorquiu e reafirmou que os seus relatos eram reais e que o PAIGC não tinha serviço de propaganda mas sim serviço de informação.

Lembrei que eu ouvira na Rádio eles referirem que no ataque a Catió (3), haviam destruído 3 das 4 casernas do quartel. Ela quase nem me deixou acabar, para reafirmar que sim, que tinha sido verdade. Acrescentei que as granadas se dispersaram pela bolanha e que só uma caíra dentro do quartel de Catió, onde eu estava, e nem rebentara. E que uma outra rebentara na povoação Fula, tendo um estilhaço sido tirado de uma nádega, a uma mulher. Porém, mesmo assim, a Senhora Comissária continuou a reafirmar que tinha sido verdade.

Perante tanta convicção e estando eu à mesa com os meus sogros, em sua casa, não me restou outra alternativa que calar-me e aguardar que o assunto fosse esquecido.

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Notas do autor:

1 – Porque as vi embaladas, penso que chegaram a ser enviadas algumas das máquinas para Bolama (Torcedores, Dobadoras, Encartadeiras e Teares de Banda). Porém, após algumas visitas de inspecção ao edifício, humidade e clima, o projecto esfumou-se.

2 - Op. Inquietar II. No dia 6 de Julho de 1967, após cerca de 4 horas sob emboscada IN, a CART 1689 entrou em Samba Culo, onde descobriu um depósito de armas e munições. O êxito desta Operação veio a consagrar a esta unidade com a Flâmula de Honra em Ouro, atribuída pelo CTIG. http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2011/04/guine-6374-p8078-outras-memorias-da.html

3 – O referido ataque a Catió, foi na noite do dia 6 de Junho de 1968.
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de maio de 2016 Guiné 63/74 - P16054: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (23): Religiosos de primeira e pobres (crentes) de segunda (Recordações de infância)

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7376: Agenda Cultural (93): A Sociedade Filarmónica de Crestuma (José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp, CART 1689, 1967/69)


Vila Nova de Gaia > Crestuma > Marcha canção "Minha Terra", letra de Eugénio Paiva Freixo e  música de António Ferreira Alves, dois ilustres crestumenses


Vila Nova de Gaia > Crestuma > Sociedade Filarmónia de Crestuma, de que é presidente o nosso leitor e amigo José Campos.



1. Mail, com data de 22 de Novembro último, enviado pelo nosso camarada Silva da CART 
1689, de seu nome completo José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69)




Camaradas Graça e Vinhal
Junto algum material que pode ser aproveitado para encerramento do caso do
"pobre camarada de Crestuma que morreu na ponte de Boruntuma" (*). Façam o que
entenderem por mais conveniente.

Um grande abraço do Silva da Cart 1689






2. Festival de Bandas > Concerto da Banda Filarmónica de Crestuma (**)

Texto e fotos: Silva da CART 1689

Camarada Luís Graça

Agradeço o convite que me foi dirigido, para assistir ao concerto da Banda Filarmónica de Crestuma, que teve lugar no dia 23 de Outubro e do qual ainda não apresentei a respectiva reportagem. Mas, mais grato  fico ainda pela excelente noite que me foi proporcionada.

Quando cheguei ao Auditório Municipal de Gaia, fui recebido muito amavelmente pelo Presidente da Banda, Sr. José Campos. Teve logo o cuidado de me dizer:
- Se vier mais alguém do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, eu tenho muito gosto em recebê-los e dar-lhes estes convites especiais.

Fiz-lhe ver que seria muito difícil, os tertulianos, deixarem as suas terrinhas e os seus netinhos (agora muito recomendados), para se deslocarem numa noite fria a Vila Nova de Gaia.

Efectivamente verifiquei que a fila A nos estava reservada. É uma boa casa para este tipo de espectáculos, um cómodo salão, apropriado para estes eventos. Apesar das tarefas inerentes a um bom anfitrião, o Presidente arranjou tempo para vir conversar comigo acerca do nosso blogue, do qual se manifestou muito conhecedor e  grato, e, também, acerca da sua Banda, que vive uma fase de grande desenvolvimento.

Fiquei a saber que a Banda é composta por 62 elementos, com a idade média de 23 anos e que cerca de 40% são jovens mulheres. Os mais jovens estudam música e,  de entre os mais velhos, há vários licenciados pelas Conservatórias de Gaia e do Porto. Por sua vez, o Maestro José Bovião Monteiro também é jovem, mas já possuidor de um excelente currículo musical.

O programa:

1ª Parte
Maribel – Fantasia Espanhola,  de Ferrer Ferran
Tannhauser – Abertura da Ópera,   de Wilhem Richard Wagner
La leyenda del Beso – Excertos da Zarzuela,  de Reveria Soutullo e Vert Juan

2ª Parte
Cassiopeia – Fantasia,  de Carlos Marques
Português Suave – Rapsódia, de Carlos Marques
Starts and Sripes Forever – Marcha,  de Jon Philip de Sousa

Eu, duro de ouvido e um leigo nesta matéria, devo confessar que me deliciei imenso com este espectáculo, especialmente aquando das interpretações da Zarzuela e da Rapsódia.
De realçar também, as intervenções do Maestro, nos intervalos, explicando as obras e falando sobre os compositores, numa evidente demonstração de   grande conhecimento sobre a matéria.

O Presidente da Banda informou-me ainda que espera preparar uma obra baseada nos poemas de Eugénio Paiva Freixo e na música de António Ferreira Alves, dois ilustres artistas de Crestuma.

Sempre que se fala de Crestuma, estes dois nomes surgem inevitavelmente. Por isso, também não posso alhear-me disso, até porque, possivelmente, não haverá outra oportunidade de falarmos de Crestuma.

Minha Terra

Coro 

Minha terra, minha terra!
Meu pequenino rincão!
Via-Sacra dos meus passos,
Pátria do meu coração!

Ó minha terra modesta!
És pequenina, que importa?
- Cada qual gosta da festa
Que se faz à sua porta... 

II

Ó terra de lenda, 
Paninho de renda,
Bordado por mãos de fada!
Tão bela e garrida,
És a minha vida, 

Ó minha terra adorada!

Crestuma formosa,
Meu botão de rosa
No perfume e no feitio!
Talvez sejas pobre
- Mas és a mais nobre
Das terras da beira-rio!


II

Tão fresca e singela,
És uma aguarela
Cheia de luz e pureza!
Quem te deu a graça,
Que por ti perpassa,
Foi Deus, com toda a certeza!

Terra que te enfeitas
Nas ruas estreitas
De raparigas aos molhos,
Assim pequenina
Tu és a menina
Das meninas dos meus olhos!


III
Terra de meus pais!
Da montanha ao cais,
Quem te desce, anda a rezar,
Como se quisesse
Contar numa prece,
Os degraus de algum altar!

Meu ninho adorado,
De céu anilado,
Gostar de ti, quem não há-de!
Coração em ânsia,
Tu és na distância,
A presença da Saudade!

IV

Crestuma gaiata
Que o Douro retrata
Na chapa das suas águas!
Das vidas sem preço
Tu é que és o terço
Onde os pobres rezam mágoas!

Meu lar, minha cruz,
Meu doce ai-Jesus,
Meu formoso amor-perfeito:
- Enquanto viver,
Crestuma, hás-de ser
O grande amor do meu peito!



Com um abraço do
Silva da Cart 1689

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Notas de L.G.:


(...) [Teve mais de meia centena de comentários... Por exemplo:] 


silva da cart 1689 disse...




Desculpem, mas a povoação Crestuma/Lever não existe. Existem sim, estas duas vilas do concelho de Gaia. Esta ligação, muito utilizada por políticos e jornalistas, deve-se ao facto de ter havido uma "guerra de limites geográficos"( a tal que condicionou a tomada de posse de Mário Soares, devido ao boicote nas respectivas eleições), quando da construção da Barragem de Crestuma, dentro do limite de Lever.


Aí, nessa fronteira, quase despovoada, junto à Barragem, na curva mais larga, onde funciona o "Centro Regional de Trabalho das Meninas dos Palop", foi onde o meu conhecido António Camelo, de Lourosa, abandonou uma cadela chamada Irene que lhe chegou a casa prenha de caezinhos de várias cores. (...)


(**) Último poste desta série > 2 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7368: Agenda Cultural (92): Lançamento do livro Pelo sistema solar vamos todos viajar, de Regina Gouveia, dia 9 de Dezembro de 2010, no Porto