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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Guiné 61/74 - P23022: A nossa guerra em números (14): Até 1966, as despesas com o transporte, até Lisboa, de uma urna de chumbo com os restos mortais de um militar, a suportar pela família, variavam entre 10 e 15 contos, conforme a província (Angola, Guiné ou Moçambique)





Telegrama, assinado pelo Comandante do DGA (Depósito Geral de Adidos, quartel da Ajuda, Lisboa), com data de 27 de novembro de 1962:

"6797 - E informo foi recebida comunicação Angola informando ser possível  traslação Metrópole restos mortais seu esposo 2.º sargento Justino Teixeira Mota. Caso deseje informar urgentemente este Depósito e depositar dez contos ou indicar  fiador idóneo. Comandante DGA.".

O 2.º Sargento de Transmissões  Justino Teixeira da Mota tinha embarcado no navio Vera Cruz, com destino a Angola, em 12 de Agosto de 1961, integrado na CCAÇ Esp. 266. Era casado, pai de um menino com dois meses de vida (o António) e de uma menina um pouco mais velha. A família vivia em Avintes, V. N. Gaia. Quis o destino que, num acidente de viação, em 18 de Outubro de 1962, perto de Maquela do Zombo, perdesse a vida. Em resposta ao telegrama do DGA, a família pediu, em 28/12/1962, que não se efectuasse a transladação dos restos mortais, certamente pro carência económica. Em 1962, 10 contos equivaleria, a preços de hoje, a 4.318,49 € (conversor da Pordata).

Fonte: Poste P2651 (*)


1. Um dos capítulos mais pungentes da guerra de África ou guerra colonial, para além das baixas por morte (em combate, acidente ou doença), era a transladação (ou trasladação), o transporte dos restos mortais dos militares, sepultados em África para os cemitérios das suas terras natais.

Só com a utlização de urnas de chumbo, começou a ser possível a transladação para a Metrópole, embora a expensas da família. 

Até 1966, as despesas com o transporte, até Lisboa, de um urna de chumbo com os restos mortais de um militar, a suportar pela família, variavam entre 10 e 15 contos, conforme a província (Angola, Guiné ou Moçambique). A preços atuais, seria qualquer coisa como 3.687,81 € e 5.531,72 €, respeticamente (de acordo com o conversor da Pordata).  Estas quantias eram incomportáveis para a generalidade das famílias portuguesas de então.

Com o Regulamento de Transladações, publicado em 2 de março de 1967, o transporte dos corpos dos militares falecidos em África passou a ser assegurado pelo Estado, utilizando-se então o sistema de transportes militares. 

Como este era moroso, havia famílias que preferiam optar pelas carreiras áereas regulares, neste caso a TAP: em 1967, os encargos para as famílias era de 5.250$00, 10.580$00 e 2.180$00, a partir de Angola, Moçambioque e Guiné, respetivamente. (**) 

A preços de hoje, esses valores supra corresponderiam a 1.852,73 €, 3.733,69 € e 769,32 €, respetivamente. 

Não temos dados sobre o número de transladações efetuadas antes e depois de 1967.

Fonte: Adapt. de Pedro Marquês de Sousa - "Os números da Guerra de África". Lisboa, Guerra & Paz Editores, 2021, pág. 320

sábado, 6 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21858: Memórias de José João Braga Domingos, ex-Fur Mil Inf da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4516/73 (4): "O Machado"; "O Tiago e a pena" e "Viagem para Bissau"


1. Continuação da publicação das memórias, em curtas estórias, do nosso camarada José João Domingos (ex-Fur Mil At Inf da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4516 (Colibuía, Ilondé e Canquelifá, 1973/74):


10 - O MACHADO

Numa deslocação de reconhecimento e emboscada numa zona que supostamente o inimigo frequentava e que durou dois dias e uma noite, atravessámos várias bolanhas para chegar ao local referenciado onde encontrámos vestígios antigos de presença humana.

Retiramos do objetivo e procuramos no regresso um local para passar a noite que se aproximava. Instalamo-nos, perto das 18H00, para comer a ração de combate e dormir, quando, logo a seguir, desabou uma carga de água que estimo, porque não tinha relógio, terá durado algumas horas. O pessoal foi-se encostando às árvores, em pequenos grupos, cobrindo-se com os panos de tenda que alguns levavam mas que não impediram uma molha geral.

Algum tempo depois de passada a tempestade, noite cerrada, alguém aflito chama pelo graduado do seu pelotão que logo o manda calar. Mas, a cegarrega continuou em tom mais baixo, com grande aflição, pelo que o graduado se deslocou ao local onde pediam a sua presença e perguntou ao militar, sem o ver, a causa de tão grande aflição. O Machado disse que não tinha uma perna, afirmação que causou algum alvoroço, com alguém a comentar que teria sido algum bicho, o que angustiou ainda mais o soldado. Era uma situação complicada de resolver, a meio da noite, sem se ver nada. Tendo-se acalmado, o Machado verificou que afinal tinha a perna mas não a sentia, situação bem mais favorável.

O que aconteceu, está bem de ver, é que o Machado completamente ensopado deitou-se em posição fetal, adormeceu e com ele adormeceu a perna sobre a qual se deitou.

Ao alvorecer, sem chuva, com o chilrear dos pássaros qual despertador amigo, iniciámos o regresso ao quartel com o Machado a andar perfeitamente e, por dentro, a chilrear também. Claro que não se livrou de alguns remoques dos companheiros.


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11 - O TIAGO E A PENA

Estávamos alguns militares junto ao cavalo de frisa, porta de armas do quartel, à espera da viatura proveniente de Cumbijã para irmos ao médico a Aldeia Formosa.

Também ali estavam dois jovens guineenses que se puseram na brincadeira, enquanto a viatura não chegava, medindo forças, rindo, até que um derrubou o outro e o manietou.

Sentado numa pedra, junto deles, estava o Tiago, com uma pena na mão, riscando o chão, perfeitamente concentrado na sua tarefa. Entretanto, o jovem que estava dominado contorcia-se, rindo, para se libertar do domínio do outro e quanto mais se contorcia mais o que estava por cima aumentava o seu esforço para o manter quieto.

A dada altura pareceu-me haver qualquer anomalia na brincadeira e olhei para os dois engalfinhados no chão e para o Tiago, que estava junto deles. Então, percebi que o jovem que estava dominado contorcia-se mais porque o Tiago viu ali um pé à mão de semear e, paulatinamente, começou a fazer-lhe cócegas com a pena levando o jovem a esforçar-se cada vez para se libertar sem que o outro aliviasse a pressão exercida, por não perceber o que se passava nas suas costas.

Confesso que não tenho a certeza, mas creio que o jovem não conseguiu conter as águas.


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12 - VIAGEM PARA BISSAU

Em outubro de 1973, saímos de Colibuia para os Adidos, em Brá – Bissau, tendo a viagem sido feita de Lancha de Desembarque Média (LDM) a partir de Buba. Na viagem, já de noite, estalou uma tempestade assustadora que deixou o pessoal e a bagagem completamente encharcados.

Na bagagem havia malas de todo o tipo e feitio. Umas, em plástico ou pele, de cores diversas, com vistosos e seguros fechos, que pareciam aguentar bem aquela chuvada e mais umas quantas. Outras, de cartão revestido com tecido, com ar de que aos primeiros pingos de chuva se desfariam.

Eu tinha uma mala mais pequena de pele que, se bem informado, seria suficiente para toda a comissão, e tinha outra maior de cartão revestido a tecido.

Fosse pela colocação mais ou menos privilegiada de cada uma das malas no espaço a elas destinado, fosse pela qualidade das mesmas, a verdade é que a mala de cartão chegou em excelentes condições e a mala de pele ficou encharcada na base tendo-se estragado alguma da bagagem e os sinais da intempérie duraram o resto da sua vida.

Lá se chegou a Bissau e, na nossa deslocação para os Adidos, atravessámos a cidade de Berliet sendo praxados pelos militares que circulavam nas ruas, parte substancial da população que se movimentava em Bissau, com o tradicional piu-piu. Chateados, respondíamos com o “vai para o mato, malandro” adequado.

Adidos: a estender roupa e, depois, ficar à espera que seque e proceder à sua recolha para não mudar de dono
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21849: Memórias de José João Braga Domingos, ex-Fur Mil Inf da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4516/73 (3): "Colibuia"; "O banho e o atavio" e "Os esperados"

sábado, 4 de maio de 2019

Guiné 61/74 - P19743: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXVIII: O quartel do Depósito de Adidos em Brá, em julho de 1969


Foto nº 5 > Guiné > Região de Bissau > Brá > Depósto de Adidos > Junho de 1969 > Na minha função de Oficial de Dia.  Normalmente fazia as minhas rondas na minha própria motorizada, quando não tinha Jeep disponível, uma vez que a área a percorrer era grande. Era uma Honda Azul, de 50 cc, que depois, quando regressei, deixei por lá abandonada.  Pode observar-se a existência de valas abertas fundas, para escoamento das chuvadas diluvianas, quando apareciam.



Foto nº 1 >Guiné > Região de Bissau > Brá > Depósto de Adidos > Junho de 1969 > Na porta de armas do Quartel de Brá, vista de dentro, com a guarita da sentinela e a nossa bandeira nacional.


Foto nº 2 > Guiné > Região de Bissau > Brá > Depósto de Adidos > Junho de 1969 > O aquartelamento visto de fora, da estrada. Tinha uma extensão à volta de 1000 metros, de frente para a estrada, e uma quantidade indeterminada de instalações militares. [Em finais dos anos 40, havia aqui um campo de aviação.]



F04  > Guiné > Região de Bissau > Brá > Depósto de Adidos > Junho de 1969 > Instalações da Casa do Oficial de Dia,


Foto nº 6 > Guiné > Região de Bissau > Brá > Depósto de Adidos > Junho de 1969 > Um camião com tropa a regressar de Bissau, após saída nocturna, em dia de chuva. Existia transporte de meia em meia hora, de Brá para Bissau e regresso, até ao final da noite.



Foto nº 3 >  Guiné > Região de Bissau > Bissau > Junho de 1969 > Num barco patrulha, da nossa Marinha de Guerra, na foz do Rio Geba, nas instalações da Marinha. [Ao fundo, o Ilhéu do Rei.]


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Foto nº 7 > Guiné > Região de Bissau > Brá > Depósto de Adidos > 6 de Março de 1968  > O interior do CA – Conselho Administrativo.


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, chefe do conselho administrativo, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); é economista e gestor, reformado; é natural do Porto; vive em Vila do Conde. (*)


CTIG - Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:  T036 – O QUARTEL DO DEPÓSITO DE ADIDOS EM BRÁ


I - Anotações e Introdução ao tema:

Quase todos os militares que passaram pelo TO do CTIG, conhece o Grande Quartel do Depósito de Adidos, localizado em Brá, na estrada alcatroada que liga Bissau ao aeroporto de Bissalanca, sensivelmente a meio caminho, uns 5-6 quilómetros de cada lado.

Infelizmente o autor não conhece os dados, mas seriam demasiados, muitos militares nunca tiveram o prazer de conhecer e visitar a capital daquela Província Ultramarina, que não sendo uma grande coisa, sempre era muito melhor do que em qualquer outro local do interior. Podiam ter tido uma ideia melhor do que era o CTIG, e não chegaram a conhecer, sempre havia bastantes esplanadas, cafés, restaurantes, bares, cinema, e o ícone de todas as coisas, o café do Bento, a chamada 5ª Rep, mesmo ali no centro da cidade, ao lado da Catedral de Bissau, do QG da Amura, da Avenida e Praça do Império, e o Palácio do Governo.

Além é claro da vida mundana e obscura, pois era tudo escuro, a maioria das pessoas, e depois quando não havia energia ficava tudo a preto, apenas com a claridade do céu, e era uma coisa bonita de se ver, era uma situação recorrente, todas as noites os geradores da cidade eram desligados umas horas, por falta de combustível.

Não falando, não podia esquecer, as visitas ao famoso Pilão, o imenso ‘Bairro de Lata’ da cidade grande, naquela altura deviam habitar cerca de 200 mil pessoas na sua totalidade. Para além de ser um bairro dormitório, sem nenhuma espécie de condições para uma vida decente, sem água canalizada e sem esgotos ou saneamento, sem energia e luz eléctrica, era tudo ou quase tudo iluminado a candeeiros de petróleo, que cada casa o tinha.

Falar aqui do bairro do Pilão, também designado por Cupilão, é uma tarefa ingrata e brutal para as nossas actuais sensibilidades, eu conhecia tudo aquilo muito bem, tinha uma viatura especial só minha, uma motorizada de 50 cc, que me levava a todo o sítio onde quisesse, sem dependências de nada, de horas de ninguém. Por isso sei do que falo, a maioria pouco ou nada sabe, posso afirmar isso, pois eu estava lá no terreno e contavam-se pelos dedos, os militares que por lá andavam, pois sem transporte, aquilo é uma zona imensa, numa cidade tão pequena, era preciso andar muito naquele labirinto imenso.

Abundava a podridão humana, e vamos chegar a isso, por ali e para sobreviver, muita da população feminina se dedicava à prostituição, gostava mais de falar do negócio do sexo, era um negócio rentável, para quem não tinha mais nada que fazer e sem rendimentos, e tinha uma família para sustentar, pais, irmãos, filhos, avós, sei lá que mais. Não gostava de tratar deste assunto aqui, e duma forma abadalhocada, pois isto carecia de se entender bem a situação social e financeira daquele imenso e desordenado aglomerado urbano, sem nenhumas infraestruturas, das mais elementares.

Todas as ruas de terra batida, com enormes buracos abertos que não se podiam ver, depois as enormes trincheiras ou valas a céu aberto por onde circulavam os esgotos, os montes de lixo que nunca acabavam, os mini mercados a céu aberto carregados de moscas e mosquitos, com um cheiro nauseabundo, a elementar falta de água potável e a sua canalização. Tudo era transportado em baldes à cabeça, de água vinda de uma fonte qualquer, sem haver uma leve certeza de que poderia ser bebida por um ser humano.

Mas apesar de tudo, e talvez por isso, era o lugar mais frequentado por muita tropa, rapazes de 21 e 22 anos, carregados pela solidão, do isolamento do mato meses e meses sem ver uma mulher, branca ou preta. Tinha tanto para contar, mas não é este o tema de agora, ficará para um dia, mais tarde, mas antes teria de se perceber as raízes e as razões de tudo isto.

Voltando a Brá:

Era para lá que se mandavam algumas das tropas acabadas de chegar da Metrópole, ali ficavam a aguardar transporte para os seus locais de destino, feitos normalmente por via fluvial, uma vez que por estrada pouco ou nada havia com condições de circular, mas claro havia as excepções, aqueles que desembarcavam directamente para as Lanchas em direcção aos seus destinos no mato, sem nunca pisarem a terra de Bissau, o chão papel.

Também era para lá que ia parar toda a tropa, vindos dos seus aquartelamentos espalhados pelo CTIG, para o embarque de regresso a casa. Mas também, as tropas em deslocações dentro do território, aguardando que lhes fosse destinado um novo aquartelamento.

Foi isso que aconteceu ao meu Batalhão (BCAÇ 1933), quando regressou de Nova Lamego com chegada a Bissau em 26Fev68, e ficou em regime de quadrícula um mês em Bissau, tendo as suas instalações no Depósito de Adidos de Brá, onde cabia tudo.

Pois ali também iam parar as tropas, e eram muitas, ou que passavam férias em Bissau, ou que estavam em regime de Consulta Externa no HM 241 em Bissau, bem como as tropas que eram evacuadas para Lisboa, e as que regressavam também da metrópole, findo o período de tratamento.

E ainda aqueles que vinham do mato para passar férias na metrópole, ficavam uns dias antes do embarque, e depois no regresso a mesma coisa, até partirem para os seus quarteis.

Quero dizer que era um Quartel – mais propriamente chamado de ‘Depósito de Adidos’ – e por isso haveria sempre um grande movimento neste quartel, chegando os mapas de registo das refeições a ter cerca de 1000 militares, adidos a este Quartel.

Era por isso um enorme aglomerado de grandes barracões, tudo bem organizado, não sei ao certo a quantidade de casernas, mas sei que os refeitórios eram enormes, na hora do almoço e também do jantar, era uma grande confusão, e toda a gente protestava contra a qualidade e quantidade de comida servida.

Durante a estadia do meu Batalhão, no mês de Março de 1968, tive a oportunidade de ver in loco como era aquilo, no dia em que era escalado para o serviço de ‘Oficial de Dia’ e ser o responsável pela boa ordem nesse quartel, em especial nas refeições, pois não eram permitidos ‘levantamentos de rancho’. 

Todas as queixas e culpas de tudo, e a resolução de todos os problemas ficavam a cargo do Oficial e Sargento de Dia. Aquilo era o fim do mundo. Aparecia lá de tudo, brancos e pretos, gente boa educada, mas a maioria estava já ‘marada’ da cabeça e aproveitavam-se para só fazer confusão e descarregar as suas fúrias, legítimas, contra tudo e contra todos. Tive muita dificuldade em lidar com tudo isto, foi uma das razões que me levaram ao HM 241 para fazer uma cura de sono, já não tinha capacidade no fim da comissão para aguentar tanta desordem, pois não conhecia praticamente ninguém por ali.

Estávamos no período de Maio de 69 quando acabo a minha missão e fico sem uma ocupação e mandam-me para os Adidos, que não gostei, faltavam-me 2 meses para regressar a casa.

À noite após o jantar o pessoal podia ir visitar a cidade de Bissau, comer mais, ou apenas embebedar-se, isso era a ordem do dia, está-se mesmo a ver o estilo. O pessoal tinha à sua disposição os camiões militares, que faziam as suas carreiras regulares entre Bissau e Brá, de meia em meia hora, isto até à meia-noite se não me engano.

Eu próprio estive lá no mês de Março de 1968, e mais tarde, após ter terminado a Comissão Liquidatária do meu Batalhão, também fui mandado para lá, e sobre este tema, terei ainda muito que contar. Finalmente a dois meses da minha saída, fui colocado como Adjunto no Conselho Administrativo daquela Unidade fixa, cujos problemas eram enormes.

Eu tinha acabado de sair do Hospital Militar de um internamento de 15 dias na Psiquiatria, e tinha todas as possibilidades de ter regressado antes do Batalhão, como evacuado, o que muita gente conseguiu fazer. Mas eu queria era mesmo regressar com a minha Unidade, e cumprir tudo aquilo com que tinha sonhado, desembarcar de um navio no Cais de Alcântara, depois desfilar naquela marginal, e mais tarde voltar a desfilar nas ruas de Tomar até o RI15, a minha Unidade Mobilizadora, e assim foi tudo feito.

Em relação ao ajuntamento de barracões de madeira de que era composto o imenso terreno de Brá, era tudo muito fraco, construído na maioria em madeira e tapado com folhas de zinco, que transformavam aquele interior numa verdadeira fornalha. As madeiras e as suas brechas, eram ninhos de milhares de baratas, que era a principal população daquelas habitações, e para mim isto foi terrível, pois é o animal que mais me repugna. Nem vou mais falar nisto. Tudo a juntar às nuvens de mosquitos que pairavam por todo o lado.

Sem que fosse o Tema do Poste, desviamos a conversa por locais incontornáveis, como o Pilão, os sítios icónicos da cidade de Bissau, o Hospital Militar, a viagem de regresso, o desfilar pelas ruas de Tomar, e outras divagações.

Desculpem mas quando escrevo não penso no que estou a escrever, a mente manda-me para outros temas e conversas.


II – As Legendas das fotos:

Não tenho grande quantidade de fotos deste Mega aquartelamento. Estive lá no mês de Março de 1968, quando o meu batalhão esteve um mês em Bissau, vindo de Nova Lamego e partindo seguidamente para São Domingos. Neste período apenas fiz fotos na cidade de Bissau, pois havia mais motivos.

No fim da comissão, muito atribulado, só pensava no dia da partida e pouco liguei às fotos, até ao final, no dia do embarque onde realmente consegui imagens que se podem considerar inéditas.

Ficam aqui algumas, para dar uma ideia àqueles que nunca conheceram, como era o Depósito de Adidos de BRA em Bissau, no CTIG, no meio do ano de 1969.


F01 – Na porta de armas do Quartel de Bra, vista de dentro, com a guarita da sentinela e a nossa bandeira nacional. Pode ver-se um Unimog pronto a sair, a estrada do aeroporto está lá, as guaritas e tudo bem arranjado, estradas interiores asfaltadas, muitas plantas e algumas árvores. Foto captada em Bissau, no quartel dos Adidos em Bra, em Junho de 1969.

F02 – O aquartelamento dos Adidos em Brá, visto de fora, da estrada. Tem uma extensão à volta de 1000 metros, de frente para a estrada, e uma quantidade indeterminada de instalações militares. Era tudo em asfalto, e os barracões em madeira e zinco. Era tudo fortificado, com arame farpado a toda a volta, e com Postos de Observação ao longo de todo o Perímetro do Quartel.  Foto captada em Bissau, no quartel dos Adidos em Bra, em Junho de 1969.

F03 – Num barco patrulha, da nossa Marinha de Guerra, na foz do Rio Geba em Bissau. Faltavam poucos dias para a viagem de regresso, mas fui convidado para um almoço no Patrulha, julgo que se chamava o ‘Órion’, sem ter a certeza. Foto captada em Bissau, nos Estaleiros da Marinha, no mês de Julho de 1969.

F04 – Instalações da Casa do Oficial de Dia, com boa localização. Não se pode comentar negativamente, pois tinha o que era preciso, incluindo quarto para descansar e dormir, esplanada, cadeiras, e tudo o mais. Foto captada em Bissau, no quartel dos Adidos em Bra, em Junho de 1969.

F05 – Na minha função de Oficial de Dia, no aquartelamento dos Adidos em Br+a. Normalmente fazia as minhas rondas na minha própria motorizada, quando não tinha Jeep disponível, uma vez que a área a percorrer era grande. Era uma Honda Azul, de 50 cc, que depois quando regressei deixei por lá abandonada.  Pode observar-se a existência de valas abertas fundas, para escoamento das chuvadas diluvianas, quando apareciam. Foto captada em Bissau, no quartel dos Adidos em Bra, em Junho de 1969.

F06 – Um camião com tropa a regressar de Bissau, após saída nocturna. Conforme já disse, existia transporte de meia em meia hora, de Brá para Bissau e regresso, até ao final da noite. Esta noite estava chuvosa, está escuro, a foto não sai bem.  Foto captada em Bissau, no quartel dos Adidos em Bra, em Junho de 1969.

F07 – O interior do CA – Conselho Administrativo, em Brá. Não tenho grandes recordações neste periodo, pois só lá passei menos de um mês, e andava sempre por fora, a tratar de assuntos da minha função. Esta foto foi captada no gabinete, em Março de 68, quando passamos por lá, vindos de Nova Lamego a caminho de S. Domingos. Fotos ainda a preto e branco. Na saída, para a esquerda vai a caminho do aeroporto, e para a direita para Bissau.  Foto captada em Bissau, no quartel dos Adidos em Bra, em 6 de Março de 1968.

Direitos de Autor:

«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM.
Chefe do Conselho Administrativo do BCAÇ 1933/RI15/Tomar,  CTIG/Guiné de 21 Set 67 a 04Ago69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos,».

Legendadas hoje, em, 2018-09-24

Virgílio Teixeira

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terça-feira, 8 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15086: Inquérito online: "No meu tempo já se falava da existência de aviões inimigos sob os céus da Guiné"... Primeiro comentário: "Quando estive no Depósito de Adidos, em Brá, na secção de justiça, em finais de novembro de 1973, lembro-me de chegarmos a receber informação para estarmos preparados para a eventualidade de um ataque aéreo"... (Augusto Silva Santos, ex-fur mil, CCAÇ 3306 / BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73)

A. Mensagem enviada ontem pelo correio interno da Tabanca Grande:

Camaradas:

Bom regresso ao blogue, para quem foi a "banhos" e andou por aí, pelo mundo pequeno, sem sequer mandar um bate-estradas ao pessoal da Tabanca Grande... Alguém teve que ficar a tomar conta do poilão e das moranças...

E falando em regresso, que tal falarmos sobre MiG[ues] e outras coisas esquisitas que, dizem, já no nosso tempo cruzavam o céu da Guiné ?... Quem diz  é o José Matos (*), que é o nosso grã-tabanqueiro nº 701 [, foto à direita,], e é "expert" em história da aviação militar e da nossa guerra...  Ou melhor: dizem as fontes que ele consultou nos arquivos...

De qualquer modo, ele já não é o último grã-tabanqueiro, estamos já no nº 702...

Pois, convidamo-os, a vocês todos, camaradas,  a dar uam vista de olhos ao primeiro dos seus quatro artigos sobre a "ameaça dos MiG"... E depois respondam à sondagem (no canto superior esquerdo do blogue)... Aguardamos respostas até 14 do corrente...  A respostas é sim ou não:
  
SONDAGEM: "NO MEU TEMPO,  JÁ SE FALAVA DA EXISTÊNCIA DE AVIÕES INIMIGOS NOS CÉUS DA GUINÉ"

1. Sim, já se falava

2.  Não sei / não me lembro
 
3. Não, não se falava

B. Uma primeira resposta (ou melhor, comentártio) que nos chegou, é do Augusto Silva Santos (ex-fur mil,  CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73):


Data: 7 de setembro de 2015, 23h17


Olá Luís, Boa Noite!


Espero que esteja tudo bem contigo.

Relativamente a este assunto, aproveito para recordar que, aquando da minha apresentação ao blogue em Setembro de 2010, na parte final da mesma fiz o seguinte comentário:

"Lembro-me que nos finais de 1973 era já grande a tensão entre as NT. O facto de o PAIGC já possuir os mísseis terra-ar que passaram a ser o terror da FAP  (começámos a não ter um efectivo apoio aéreo nas diversas missões) estava a ser determinante. 

"Também me recordo de Bissau começar então a ser cercada de arame farpado e da colocação de minas nalgumas zonas da sua periferia, e de nos ter sido comunicada a possibilidade de podermos vir a sofrer em qualquer altura um ataque aéreo, por constar que o IN já possuía os famosos MiG. O fim estava próximo."

Algumas pessoas na altura não concordaram com estas minhas afirmações, mas posso afiançar que, estando eu na altura colocado no Depósito de Adidos,  em Brá [, mais extamente, na Secção de Justiça,] , já na parte final da minha comissão,  em finais  de Novembro de 1973, chegámos a receber informação para estarmos preparados para a eventualidade de um ataque aéreo por estarmos relativamente perto da Base Aérea de Bissalanca. 

Não se tratou de qualquer boato. Houve até uma pequena reunião para oficiais e sargentos, onde se falou que iríamos receber instruções para o efeito. 

Até ao dia 22 de Dezembro, altura em que terminei a comissão e regressei à Metrópole, tal não se verificou. Desconheço se posteriormente essas mesmas instruções vieram ou não a acontecer. Importa ainda salientar que na altura alguns camaradas do COMBIS, que ficava ali mesmo ao lado, também confirmaram que haviam sido alertados para a hipótese de um ataque aéreo.

Não tendo sido uma comunicação oficial no sentido correcto da palavra (não nos foi passado nada escrito), pelo menos tratou-se de uma comunicação oficiosa, como se costuma dizer. Ou se quisermos, de um alerta.

Um Abraço
Augusto Silva Santos

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Nota do editor:


(...) No dia 26 de Julho de 1963, um caça português F-86F Sabre destacado na Guiné fazia um voo de teste na região do rio Corubal. A bordo do aparelho, o piloto esperava um voo calmo e sem incidentes, contudo, tem um encontro imprevisto. Enquanto testa o Sabre, avista à distância um jacto desconhecido e, quando muda de rota para tentar verificar a identidade do avião, este foge rapidamente, não permitindo a sua identificação. A única coisa que consegue perceber é que se trata, provavelmente, de um MiG ao serviço da Força Aérea Guineana (FAG) (...).

domingo, 29 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12519: Tabanca Grande (417): Joaquim Luís Fernandes (ex-Alf Mil da CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973 e Depósito de Adidos, Brá, 1974) (2): Informações complementares

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Luís Fernandes (ex-Alf Mil da CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973 e Depósito de Adidos, Brá, 1974), com data de 14 de Dezembro de 2013:

Caros camaradas Luís Graça e Carlos Vinhal
Cordiais saudações,

Começo por enaltecer e louvar a vossa competente e generosa dedicação à vida deste Blogue Colectivo de mais de 630 homens e mulheres que têm a Guiné como traço de união e que se manifestam como uma (quase) Comunidade. – Tabanca Grande.

Foi uma boa e feliz inspiração a sua criação, mas só o muito trabalho, dedicação e amor à causa tem levado a bom termo os seus objectivos ao longo dos quase 10 anos. O mínimo que posso dizer ao Luís é muito obrigado e parabéns, que torno extensivos a todos os co-editores, camaradas e amigos que o têm engrandecido com as suas participações.

Começa a ser penoso para mim continuar a adiar o envio de mais informações, que melhor me descrevam como ex-combatente na Guerra Colonial da Guiné, partilhando um pouco da minha vida aí passada nos anos de 1973 e 1974 e também dando-vos conta da minha vida presente, isto é, dando-me a conhecer um pouco mais. A minha responsabilidade ética e o respeito que sinto pelos camaradas e amigos de tertúlia assim o exigem.

As circunstâncias da minha vida presente, ainda muito ocupado com o trabalho profissional com que me esforço para “sobreviver à crise” não me concede o tempo disponível de que necessitava para escrever as minhas memórias da Guiné. Por outro lado, a minha ainda recente descoberta do blogue e a admissão como Tabanqueiro, aliada à falta de hábitos, destreza e até alguma relutância atávica no uso desta via (internet), de relações virtuais nas redes sociais, tem-me condicionado e impedido de cumprir o que era expectável. Mesmo assim, apresento as minhas sinceras desculpas.

Tinha a intenção, manifestada no acto de admissão, de iniciar de imediato uma participação efectiva enviando para publicação textos e fotos da Guiné que testemunhassem a minha vida nesses 2 anos. Cheguei a elaborar mentalmente o tipo de posts que iria propor e que intitulei de (Re)flexões onde abordaria, em episódios, vários aspectos pela minha vida militar e pela Guiné. Reflexões críticas, politico-militares, com que partilharia a minha posição e entendimento sobre as instituições políticas e militares que nos empurraram para a guerra e para o seu desfecho desastroso de que ainda hoje sofremos as consequências, mas procurando reflectir e considerar outras posições não concordantes. Escreveria como vi e senti a vida militar, cá e lá, mas também a vida das populações e territórios da Guiné, do pouco que conheci. Os meus preconceitos originais para com a instituição militar, ou antes com o militarismo classista, pernicioso, balofo e estéril, mas também da minha evolução descobrindo que entre os militares e na instituição militar também há homens bons. Partilharia alguns dos meus sofrimentos e perigos vividos em ambiente hostil, mas também algumas aventuras, camaradagem, amizades, esperanças e alegrias; uma história de 2 anos de vida que não considero perdidos e onde também fui feliz.

A necessidade de “conhecer o terreno” onde iria caminhar levou-me a percorrer um pouco a vida de mais de 9 anos do blogue e de muitos milhares de posts. Nesta busca vim a encontrar relatos impressionantes de muito sofrimento e morte que a guerra gerou, apenas uma parcela mas que eu não conhecia na sua frieza e rudeza. Compreendi melhor os efeitos da guerra em tantos camaradas que hoje sofrem no seu espírito as suas consequências; do pouco que sabia da Guiné e dos seus casos, tomei contacto com alguns relatos de grande heroísmo, coragem e valor, grandes gestos e atitudes de abnegação, de camaradagem e amor. Isto para além do manancial de informações e de relações de amizade que emana do blogue que me tem cativado, tornando-me um permanente leitor, dentro do possível, ávido de mais informações e de conhecimentos. Isto para dizer que perante o que conheço agora do blogue o que iria escrever segundo o meu projecto inicial, se me afigura irrelevante e em alguns aspectos a evitar, podendo vir a melindrar algumas sensibilidades e a última coisa que quero é que o meu contributo e participação fosse causa de sofrimento para qualquer daqueles camaradas que participaram naquela guerra, porventura entraram em combate, mataram e viram morrer quaisquer que fossem as suas motivações, convicções e razões. Para seu sofrimento já bastou o que tiveram e têm; para todos, o meu respeito, compreensão e solidariedade no seu pesar.

A seu tempo e dentro das minhas possibilidades procurarei propor alguns posts que sinta como úteis para os objectivos do blogue, dando assim o meu contributo na tertúlia. Até lá, procurarei comentar alguns dos posts que mais me interpelam, dentro da escassez dos recursos de que disponho; algumas vezes já o tenho feito e mais teria feito se tivesse mais tempo livre ou se os posts permanecessem na página durante mais algum tempo.

Desde já darei alguma informação com que estou em falta desde o meu acto de admissão (peço desculpa ao Carlos Vinhal).

Estive na CCaç 3461, do BCaç 3863, de Janeiro a Dezembro de 1973. Depois de uma passagem pelo Cumeré, onde o Batalhão aguardou embarque para a metrópole, fiquei colocado no Depósito de Adidos, em Brá, onde fiquei a exercer as funções de Oficial de Justiça. Aí, vivi bons e maus momentos e conheci pessoas interessantes com alguns momentos de algum relevo, sendo bem-sucedido até ao meu regresso, em 9 de Outubro de 1974.

Tinha casado em 30 de Setembro de 1973 aquando das férias que vim passar à metrópole. Em Fevereiro de 1974 a minha esposa foi viver comigo em Bissau, onde apesar das circunstâncias, fomos muito felizes. Ela regressou em Julho, grávida da nossa filha Margarida.

Tenho quatro filhos, três raparigas e um rapaz, e quatro netas.

Tenho exercido a minha actividade profissional desde o regresso, no ramo da industria de moldes para plásticos, como técnico de desenho e projecto, desde 1981 por conta própria com um gabinete de Engenharia e Projecto ( CEPMOLDE LDA).

Sou natural de Maceira, concelho de Leiria, nascido a 30 de Julho de 1951.

Filiação: Joaquim Fernandes e Matilde Luísa (já falecidos).

Sou cristão católico e tenho para com a Guiné sentimentos de saudade e solidariedade, alimentando sonhos e projectos de desenvolvimento, e o desejo de um dia lá voltar. Tenho uma enorme pena pelo rumo que a Guiné tem tido no pós-independência, dos crimes perpetrados, da violência que tem grassado, da falta de entendimento político e de liderança.

E por hoje não me vou alongar mais. Agradeço toda a vossa atenção e dedicação à causa. Expresso os meus votos de um Feliz Natal e Bom Ano Novo, que gostaria de tornar extensivos a toda a equipa editorial e às vossas famílias.

Um abraço fraterno.
Joaquim Luís Fernandes

PS: Envio 2 fotos que documentam a minha vida em Teixeira Pinto.

1- Como operacional em patrulhamento de carácter ofensivo, em áreas de contacto eminente, nas matas da Península do Balanguerez até Ponta Costa, bem junto à Caboiana.

2- Visita de Acção Social e Psicológica em Caió, com o camarada tabanqueiro, Alf. Méd. Mário Bravo e outros camarada da CCaç 3461, Alf Mil Moreira que estava “atabancado” em Carenque e o Alf Mil Teixeira da CCS, aquando da visita às ilhas de Jeta ou Peciche.




2. Nota de CV:

Caro camarada  Joaquim Fernandes, em primeiro lugar quero pedir-te desculpa por ter retido a tua mensagem por aqui sem a resposta atempada. A determinada altura do mês de Dezembro a correspondência é de tal modo volumosa, que se não se está atento, alguma fica para trás, ou pior ainda, sem resposta.

Agradecemos as palavras que diriges ao editores e aos camaradas em geral, afinal todos somos operários nesta missão de registo de factos escritos e por imagem daquela guerra que não quisemos, mas que fizemos na convicção de que estávamos ao serviço de Portugal.

Muito obrigado pelo complemento à tua apresentação no Poste 11742(*). Ficamos a conhecer-te melhor.

Compreendemos a tua indisponibilidade para colaborares, no blogue, com as tuas memórias, tanto mais que ainda exerces actividade profissional, como empresário, logo com responsabilidades acrescidas.

Se e quando quiseres escrever algo, não precisas de fazer auto-censura. Escrevemos de acordo com a nossa formação cívica e moral, não tendo que escrever para agradar a este ou àquele. As reacções subsequentes até são saudáveis desde que dentro da cordialidade e do respeito mútuo. Cada um de nós teve a sua guerra e até viu a sua Guiné. Não tem de haver unanimidade.

Tenho aí na zona (Pataias) um amigo, o Ismael Santos, desenhador, também ligado à indústria dos moldes. Ainda há bem pouco tempo trabalhava. Foi meu camarada no RI 5 (Caldas da Rainha), EPA (Vendas Novas), GACA 2 (Torres Novas), BAG 2 (Funchal) e CART 2732 (Guiné). Curiosamente só nos separamos enquanto fui fazer o curso de Minas e Armadilhas a Tancos (EPE).

Termino desejando-te um bom 2014, tanto no plano pessoal como profissional.
Abraço
Carlos Vinhal
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 21 DE JUNHO DE 2013> Guiné 63/74 - P11742: Tabanca Grande (402): Joaquim Luís Fernandes (ex-Alf Mil da CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973/74), residente em Maceira / Leiria, tabanqueiro nº 621

Último poste da série de 28 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12516: Tabanca Grande (416): Armando Teixeira da Silva, ex-Soldado Atirador da CCAÇ 1498/BCAÇ 1876 (Có, Jolmete, Bula, Binar e Ponate, 1966/67), Grã-Tabanqueiro nº 636