Mostrar mensagens com a etiqueta Dunane. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Dunane. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 15 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18418: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (49): O "Senhor Badalhoco" foi à Escola

Guiné 63/74 - P6696: Tabanca Grande (227): José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913 (Guiné, 1967/69)


1. Em mensagem do dia 1 de Março de 2018, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos mais uma memória boa da sua guerra, desta vez uma incursão na Escola Básica da Bandeira para recriar o seu "Bife à Dunane".


MEMÓRIAS BOAS DA MINHA GUERRA

49 - O “Senhor Badalhoco” foi à Escola

- “Avô” Zé, tem de ir à Escola. – dizia-me o meu genro Abel, há uns dias.
- Fazer o quê? Sou “burro velho” e já não aprendo mais nada.
- Não. É para ir contar uma das suas histórias boas da guerra lá, na “Escola da Bandeira”, está a decorrer um programa de “Leitura em Família” e já descobriram que o “Bô-Zé” é escritor. Escolha a história mais adequada para a nossa família não ficar mal.

A verdade é que me esforcei, esforcei… a rever, de entre as 86 histórias já publicadas, qual seria adequada. Certo é que, atendendo ao público a que se destinava, eu me sentia muitíssimo… limitado.

- Só se for o “Bife à Dunane”, porque não estou a ver-me a contar as outras histórias. E mesmo essa… tem que levar uma volta.
- Não se preocupe, “Bô Zé”. Vai correr tudo bem.

E foi desta maneira que o dia 27 de Fevereiro de 2018, também vai ficar ligado às “Memórias boas da minha guerra”. E estou ciente de que este singelo acontecimento é merecedor de ficar registado na memória colectiva da Guerra do Ultramar…

FOI ASSIM:

No dia anterior gastei a tarde no Porto a tentar “apanhar” o Magalhães Ribeiro, para que me emprestasse alguns “adereços guerreiros” para eu criar na Escola um ambiente adequado à minha intervenção. Mas, mal experimentei o “dólmen” XL, verifiquei que seria difícil apertar os botões. Pensei que tirando mais duas camisolas poderia “emagrecer” o suficiente para o vestir. Todavia, à cautela, ainda em viagem, informei a minha mulher telefonicamente de que eu ia aproveitar para fazer uma caminhada e que ela deveria preparar um jantar frugal, bem como o almoço do dia seguinte, uma vez que eu teria que perder um bocadinho de barriga, para caber dentro da roupa militar emprestada.

Coberto pelo meu tradicional chapéu de abas largas (que, já em cena, trocaria por uma boina militar) e encoberto por uma avantajada casaca (que cobria o tal dólmen), apresentei-me na “Escola da Bandeira”, acompanhado pela minha mulher. Ali, tive a prestimosa colaboração profissional do Pai-Bel e da Professora Lara Lima.


Quando me apresentei fardado (de camuflado e boina) dentro da sala de aula, dei dois passos em frente e me apresentei à Professora (incluindo continência e “batedura” de tacões), foi o delírio dos seus alunos. Pedi-lhe então licença, para ler uma das histórias das “Memórias boas da minha guerra”, o que ela aceitou com satisfação.

Tive cuidado na aproximação ao assunto da guerra, que não foi referido na descrição e caracterização do ambiente militar em que a história decorre.
Por isso, avancei para a questão do “Bife à Dunane” sob o ponto de vista da “logística” que implicava a sua confecção, bem como da exigência profissional que seria compatível. E quando descrevi a figura do cozinheiro Madeirense, também conhecido como Senhor Badalhoco, foi um fartote de gargalhadas. A partir daqui, tivemos que dar algum tempo para ”recuperar o auditório”, no sentido de tentar controlar a risota, que era contínua.

O maior problema foi a sensibilidade de alguns alunos que insistiam em saber o que acontecera aos pintainhos que caíam na improvisada frigideira. Outros manifestavam-se muito mais interessados em ouvir as frases que eu pronunciava com sotaque madeirense, tentando imitar o cozinheiro.
Se não estivéssemos limitados pelo tempo, ainda agora lá estaríamos a responder aos mais entusiasmados.


Foi uma tarde inesquecível! Certamente que todas as crianças presentes falarão durante muitos anos desta sua experiência. E eu, que pouco tempo mais vou andar por aqui, não esquecerei jamais os momentos invulgares e belos que vivi.


********************

Nota:
Não poderia deixar de referir que, em determinado momento, me senti bastante comovido quando:
- A Mafalda se lamentou que o seu avô morrera na guerra e
- A Leonor contou que a sua avó, durante dois anos, só recebeu uma carta do avô, que não voltou da guerra.

JFSilva da Cart 1689
____________

Nota do editor

Último poste da série de 13 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18313: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (48): Clube de Cabuca

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18044: Álbum fotográfico de Adelaide Barata Carrêlo, a filha do ten SGE Barata (CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71): um regresso emocionado - Parte XIV: Piche: restos da capela e memórias dos BART 2857 (1969/71) e BCAV 2922 (1970/72)


Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região de Gabu > Piche > 28 de outubro de 2015 > Restos da capela (1)


Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Região de Gabu > Piche > 28 de outubro de 2015 > Restos da capela (2)


Foto nº 3  > Guiné-Bissau > Região de Gabi > Piche > 28 de outubro de 2015 > Guião do BCAV 2922, "À carga", Piche,  1970/72 (que era composto por CCS, CCAV 2747,  CCAV 2748 e  CCAV 2749)


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Região de Gabu > Piche > 28 de outubro de 2015 > Restos de memorial  dos mortos do BART 2857, Piche, 1969/72


Foto nº 4 A > Guiné-Bissau > Região de Gabu > Piche > 28 de outubro de 2015 > Restos de memorial > Mortos da CCS/ BART 2857, Piche, 1969/71 > 1º cabo António S. Gonçalves, morto em 25/3/1969; 1º cabo Augusto e Vieira, morto em 21/5/1969; 1º cabo João G. Antunes, morto em 3/1/1970


Foto nº 4 B > Guiné-Bissau > Região de Gabu > Piche > 128 de outubro de 2015 > Restos de memorial > Mortos da CART 2439 / BART 2857, Canquelifá 1969/71 > 1º cabo [aux enf] José M. Laranjo, sold Manuel J. Ferreira, sold Joaquim Carvalho e sold Manuel C. Parreira. Todos mortos no mesmo dia, 7 de outubro de 1969, numa mina a/c reforçada,  na estrada Dunane-Canquelifá,  a cerca de 2 km de Canquefilá... Além destes 4 mortos da CART 2439, morreu ainda o sold guineense Satone Colubali, da CART 2479 / CART 11, Houve ainda uma dúzia de feridos graves. evacuados para o HM 241, Bissau.


Foto nº 4 C > Guiné-Bissau > Região de Gabu > Piche > 28 de outubro de 2015 > Restos de memorial > Mortos da CART 2440 / BART 2857, Piche, 1969/71 >   Sold Serafim P. Madeira, morto em 13/5/1969; sold Manuel M. Ferreira, morto no mesmo dia: 1º cabo Aires S. Pedrosa, morto em 7/6/1969; sold Henrique G. Salvador, morto em 17/11/1060; 1º cabo Álvaro Barreira Go[mes], morto em 12/2/1970; sold João C.Pereira. morto em 20/3/1970; e 1º cabo Aníbal A. Carreira, morto em 12/6/1970.

Fotos (e legendas): © Adelaide Barata Carrêlo (2017), Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico
e das notas de viagem de Adelaide Barata Carrelo, à Guiné-Bissau, em outubro-novembro de 2015 (*). 

Com sete anos, a Adelaide passou uma larga temporada (1970/71) em Nova Lamego, com o pai, a mãe e os irmãos, tendo regressado no N/M Uíge, em 2 de março de 1971. Em 15/11/1970 teve o seu "batismo de fogo" (**).

O pai era o ten SGE José Maria Barata, CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71). Quarenta anos depois regressa à Guiné-Bissau...

É nossa grã-tabanqueira, nº 721 (membro da nossa Tabanca Grande desde 11/7/2016).

2. Mensagem da Adelaide Barata Carrêlo, com data de 15 do corrente:

Bom dia,  Luís,

Como havia dito, a viagem à "minha Guiné" nunca acabará, porque não há dia em qua não nos lembramos do que vivemos lá e não há melhor do que relembrar, com tanto carinho, esta gente e esta terra.

Segue um relato/diário - um dia passado em Pitche e algumas fotos.

beijinhos,

Adelaide Carrêlo
______________

Piche, 4ª feira 28 de outubro de 2015

Depois da estadia de 2 dias em Gabu, prosseguimos para Pitche, muito perto da fronteira de Guiné - Conacry.

Tivemos oportunidade de ter uma visita guiada pelo que se mantém "em sentido" do antigo quartel. Vimos a porta de armas, as paredes da capela [Fotos nºs 1 e 2] , a cozinha e o monumento em homenagem aos militares que morreram em combate [Foto nº 4]

Pelo caminho, quase deserto, ainda tivemos a oportunidade de entrar numa sala de aulas e ouvir os alunos e dois professores a saudarem-nos com um olá em uníssono. Reparámos que no quadro em ardósia estava escrito "WA IÁ".

Quando regressávamos ao centro, um homem interpelou-nos com uma recordação da tropa de cavalaria [, guião do BCAV 2922,] que lá deixou marcas: "Foi um militar que me deu e eu guardo-o até hoje!!!". Foi com orgulho que falou, como que com uma saudade dos tempos que recorda como se tivesse sido ontem. [ Foto nº 3].

Foi uma tarde agradável, onde parece que nada se passa, a não ser o abandono e a recordação.
Ainda fomos convidados para visitar o Régulo, mas, face ao adiantado da hora, o regresso a Bafatá fez-nos declinar o convite.

Quando deixámos Pitche, já não vimos o guineense que tapou os buracos da estrada, recebendo em troca placas de zinco para a sua casa (de um elemento do governo) como forma de pagamento. 

Limitava-se agora a levantar e a baixar um cordel de sisal (atado a uma árvore junto à estrada), como se de uma portagem se tratasse,  ficando à espera de uma moeda que demoraria muito tempo a "cunhar". O rânsito de viaturas era parco, mas a paciência e o saber esperar são duas das regras que aprendemos assim que pisamos esta terra.

Adelaide Carrêlo


Guiné > Região de Gabu > Piche > 1971 > A capela, ao lado do heliporto (Cortesia do blogue Combatentes de Avintes;  sem indicação de autoria; vd. também página no Facebook, que dá continuidade ao blogue, editado entre 2010 e 2014; um dos editores do blogue era o nosso grã-trabanqueiro Antero Santos; tem cerca de 71 mil visualizações).



Guiné > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > O nosso grã-tabanqueiro  Jacinto Cristina (o famoso padeiro da Ponte Caium), à direita, de camuflado,  com um camarada junto á capela de Piche.

Foto: © Jacinto Cristina (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
______________

Notas do editor:

(*) Vd. último poste da série > 28  de outubro de 2016 >  Guiné 63/74 - P16649: Álbum fotográfico de Adelaide Barata Carrêlo, a filha do ten SGE Barata (CCS/BCAÇ 2893, Nova Lamego, 1969/71): um regresso emocionado - Parte XIII: Bolama, uma experiência agridoce (II)


(**) Vd. poste de 9 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16288: (In)citações (95): "Terra vermelha quente e de paz, / lugar onde tive medo, fui feliz e vivi, / amar-te-ei sempre, / minha Guiné menina velha encantada"... (Adelaide Barata Carrêlo, filha do tenente Barata, que viveu em Nova Lamego, no início dos anos 70, durante a comissão do pai, e aonde regressou, maravilhada, quarenta e tal anos depois)

(...) Em 1970 aterrámos em Bissau onde o meu pai nos esperava ansiosamente, seguimos alguns dias depois para Nova Lamego onde ele estava colocado.

Eu tinha 7 anos, sou gémea com uma irmã e tenho um irmão mais velho 1 ano. Somos a família Barata. Quando chegou a hora dos meus pais decidirem juntar-se naquela terra, não conseguiram convencer-nos de que poderíamos separar-nos, não, fomos também. E até hoje agradeço por ter conhecido gente tão bonit,  tão pura.

As primeiras letras da cartilha, foram-me desenhadas pelo Prof. José Gomes, na Escola que hoje se chama Caetano Semedo.

Aquele cheiro, a natureza comandada pelo calor húmido que sufoca e a chuva que cai como uma cascata sobre a pele e o cabelo que teima em não se infiltrar...cheguei a pedir à minha mãe para me deixar correr como aqueles meninos que se ensaboavam no meio da rua e com um chuveiro gigante que deitava tanta água de pingos grossos e doces.

Também me lembro de quem lá ficou para sempre, não éramos muitos. (...)

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16895: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (37): 1 - O amigo Mohammed de Canquelifá

1. Em mensagem do dia 26 de Dezembro de 2016, o nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), autor do Livro "Memórias Boas da Minha Guerra", enviou-nos esta história destinada à sua série com o mesmo nome:

Caros amigos.

Junto a história de "O amigo Mohammed".

Trata-se da primeira das quatro que tenciono publicar. Esta, a primeira, relaciona-se com o Mohammed da Guiné. A segunda será dedicada ao Mohammed da Mauritânia, a terceira ao Mohammed de Marrocos e a quarta ao Mohammed de Santa Maria da Feira.

Espero que todas elas mereçam a vossa habitual atenção.

Grande abraço

José Ferreira Silva


Memórias boas da minha guerra

37 - O amigo Mohammed

1 - Da Guiné

Nos primeiros dias de Agosto de 1968, voltámos a passar por Fá Mandinga, primeiro local onde pernoitámos na chegada à Guiné (1 de Maio de 1967). Desta vez seguíamos lá mais para o norte, para Canquelifá, onde prevíamos passar pacificamente os últimos meses da nossa guerreira missão.


Vista do aquartelamento de Fá Mandinga

Todavia, o meu pelotão ficaria no Destacamento de Dunane, cerca de 2 meses, portanto afastado dos outros camaradas da Companhia. Se, por um lado, manteria uma forte ligação permanente ao meu grupo, por outro, ficava afastado dos camaradas mais chegados, especialmente dos outros graduados, com quem convivia mais de perto.

Por isso, quando segui para Canquelifá, levei uns dias a actualizar as conversas e a retomar aquele relacionamento intenso a que estava habituado.

Uma das coisas que me surpreenderam foi o facto do Furriel Enfermeiro ter passado a dormir na Enfermaria. Mas, como se dizia que o “Dotô” passava o tempo a atender os doentes, era evidente que pouco tempo lhe sobrava para relaxar/descansar na cama, perto dos outros Furriéis. Aliás, só o víamos a comer e a jogar um pouco às cartas, logo após o almoço.

Tive a oportunidade de verificar a fila de doentes que se estendia diariamente, logo de manhã, por boas dezenas de metros, junto da Enfermaria, à espera de serem atendidos. Também me apercebi de que, em pouco tempo, o “Dotô” ultrapassara tudo que era normal e razoável na competência e capacidades de um Furriel Enfermeiro a gerir a assistência a milhares de pessoas dispersas por uma zona num raio de várias dezenas de quilómetros.

Pois o “Dotô Berguinhas” era incansável e, após várias intervenções na salvação de casos perdidos, adquiriu o estatuto de santidade (ou de bruxedo). É que os milagres aconteceram mesmo!

Naquela região eram inúmeros os casos de lepra, uns mais avançados que outros, mas todos com o rótulo da previsível fatalidade. Mas o Berguinhas não se conformava. Ele esforçava-se, experimentava, arriscava. Mesmo que, porventura, tenha causado alguma morte antecipada, foi com boas intenções, pois gozava de uma reputação granjeada à custa dos seus vários “milagres”.

Eu sempre me relacionei muito bem com ele. Dizia-se que parecíamos “duas putas”, sempre unidos, sempre na brincadeira e sempre na procura de uma boa ambiência. Por isso, acompanhei bastante essa fase do melhor “Doutor” que jamais passou por Canquelifá.


O “Dotô Berguinhas” animava os serões com a sua teimosia em recitar o seu poema “A Formiga vai à Serra” (que nunca conseguia lá chegar)


Porém, um dia, após várias insistências, confessou-me a razão da sua quebra de alegria. Andava preocupadíssimo porque o filhote do amigo Mohammed estava muito doente e percebia que nada o iria salvar. Já tinha experimentado tudo e mais alguma coisa mas o miúdo não melhorava.



Funeral em Canquelifá

A criança morreu. Penso que consegui tirar alguma foto a esse funeral. Vi o Berguinhas a ser reconfortado pelo próprio pai do miúdo. Também vi, mais vezes, o Mohammed a inteirar-se da situação de outros doentes. Apesar de não ser habitual o meu envolvimento ou preocupação de maior com os nativos, esse Mohammed ficou-me “registado”.

Aproximou-se o final da comissão de serviço. Dali, de Canquelifá, iríamos viajar até Bissau, local que a maioria de nós nunca havia pisado. Estava a chegar a CArt 2439 para nos substituir, a fim de seguirmos para Bambadinca e aguardarmos o transporte fluvial até Bissau.

Foram dias de grande entusiasmo e alegria, contrastando com a tristeza e apreensão dos nossos substitutos. E para alegrá-los, lá surgiu a ideia do Berguinhas: - fazer uma recepção de “boas-vindas” aos graduados dessa Companhia.

No serão de 1 de Dezembro, vestimos os balandraus, com os gorros a preceito, enfiámos algum ronco nos braços e no pescoço e lá fizemos o nosso papel de simpáticos anfitriões. Virados para os periquitos, eu “lia” em “árabe” a mensagem desejada e o Cepa, que já, nesses tempos, evidenciava uma certa capacidade oratória, fazia a “rigorosa” tradução. E eu dizia:
- Shalalamagrramalgrraminchal ala grram… echegrram… (etc.,etc.)

O Cepa, traduzia:

"Caros amigos, colegas de infortúnio, 
nós compreendemos bem a vossa triste condição de periquitos.
 Já passámos por isso 
e sabemos quanto é doloroso aguentar as saudades dos nossos familiares, 
das nossas namoradas e dos nossos amigos.
Sabemos o que é sangrar do coração.
Sabemos também o que é chorar de raiva e desespero.
Isso terá que passar.
Alegrai-vos porque isto não vai durar sempre.
Não vai piorar e o tempo vai passar.
Procurai dar o vosso melhor, 
especialmente na camaradagem, na solidariedade e na compreensão.
Ajudai-vos mutuamente, para que o tempo passe o melhor possível.
Do fundo do coração, desejamos que tudo vos corra bem 
e, se possível, melhor do que correu a nós."

Abismados com tanta eloquência extraída de um escrito árabe, os periquitos interrogavam:
- Como conseguiram aprender árabe?

O Machado lá ia esclarecendo:
- Não é muito difícil. O maior problema é aspirar o “erre”, porque a malta tem tendência a escarrar sem querer. Além disso, juntando o AL às palavras, aprendemos muita coisa. Por exemplo: - Algarve, Almería, Algeciras, Almalaguês, Almeirim, Alcácer, Alfarroba, Alcagoitas… etc., etc.

E o Miranda acrescentava:
- É mesmo fácil. Vocês, ao fim de um mês, já podem manter conversa com os gajos.

No dia seguinte:
- Ó Silva, anda comigo devolver os balandraus que nos emprestaram - disse o Berguinhas.
- Mohammed, queremos agradecer-te o favor de emprestares este material. Aqui está.

O Mohammed aproveitou a oportunidade para tecer grandes elogios ao Berguinhas, a quem lhe disse:
- Foste o melhor “Doutor” que passou por Canquelifá. O pessoal deve-te muito e eu fico muito contente com teu trabalho.

Ia invocando o nome de Alá, ligando-o a esse trabalho e a esse sucesso. Encaminhou-nos para uma tabanca maior e mostrou-nos o seu interior. Era uma biblioteca impressionante. Ele era o responsável por ela. Além do Alcorão, mostrou-nos várias obras de grande interesse para ele e para o seu povo. Contou-nos que já tinha ido a Meca duas vezes e esperava lá voltar.

Explicou as origens do seu povo Mandinga e a sua ligação ao império Mali e do seu grande rei Sundiata Keita. Esse império, do grupo etno-linguístico Mandê, fundado no Século XIII, que se estendeu ao longo da costa da África Ocidental. Migraram para oeste a partir do Rio Niger. Dos conflitos com os Fulas, absorveram a sua ligação religiosa ao islamismo. Diz-se que hoje, cerca de noventa e nove por cento dos Mandingas seguem o Alcorão. Nos Séculos XVI, XVII e XVIII os Mandingas foram sendo capturados como escravos e vendidos para a América.

O Mohammed era um Senhor!


O Provérbio árabe

Quando nos despedíamos, pedi-lhe para nos dizer o que estava escrito naquele papel que eu “lera” aos periquitos. E ele leu-o pausadamente:

Provérbio árabe

Não digas tudo o que sabes
Não faças tudo o que podes
Não acredites em tudo que ouves
Não gastes tudo o que tens

Porque:

Quem diz tudo o que sabe,
Quem faz tudo o que pode,
Quem acredita em tudo o que ouve,
Quem gasta tudo o que tem;

Muitas vezes diz o que não convém,
Faz o que não deve,
Julga o que não vê,
Gasta o que não pode.
___________

Nota: - Vim a saber que o reconhecido apoio ao “Dotô Berguinhas” partira do Mohammed, quando fez destacar a “empregada da Enfermaria”, a tempo inteiro.

(Continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 26 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16641: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (36): O guerreiro da minha rua

domingo, 8 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9331: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (28): A guerra em Dunane

1. Mensagem do nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 6 de Janeiro de 2012:

Amigo Vinhal
Junto mais uma história, para as "Memórias boas da minha guerra".
As fotos foram tiradas lá no "resort" de Dunane. Escolhe o que julgares mais adequado.

Um abraço do
Silva da Cart 1689



Memórias boas da minha guerra (28)

A guerra em Dunane


Dunane era um destacamento sob a responsabilidade da Companhia instalada em Canquelifá.

Estávamos em 1968. A Companhia, em final de comissão, foi transferida para Canquelifá, deixando um pelotão aquartelado em Dunane. Em poucos dias deu para entender que estavam a gozar o merecido descanso do guerreiro. Não havia suspeita de guerra, os serviços eram poucos e o tempo ia-se gastando da melhor forma.

Dormia-se muito, bebia-se bastante e brincava-se com o relax da situação. Havia tempo e mais que tempo para colocar a escrita em dia e ainda foram inventadas algumas distracções: uns joguitos de futebol, uns jogos à malha e outros às cartas e lá se ia aproximando o fim da comissão. Acrescentemos que este laxismo tinha os seus pontos altos numa ou noutra bebedeira inerente a algum aniversário ou alguma outra data que a tropa julgasse dever assinalar.

A quebrar esta situação quase idílica, veio uma ordem para se fazer um simulacro de ataque nocturno, para testar se tudo estava bem e, ao mesmo tempo, manter aquela qualidade guerreira que tanto caracterizou a prestigiada Companhia. Falava-se que esta zona iria piorar devido à subida dos turras de Madina de Boé e à intenção do PAIGC isolar o “bico” nordeste da Guiné. Pelo menos, foi disto com que nos alarmou o Alferes “Maluco”, agora investido na categoria de chefe máximo da Tabanca e das Operações Militares, que ficou excitadíssimo com tanta responsabilidade.

Pois, nesse dia, o Areosa festejou o seu aniversário e fez questão de ter como convidados, os principais “esponjas” de Dunane. E, numa de gajo porreiro, foi também convidado o Furriel Semedo.

Comeram uma churrascada de frango que estava um mimo. Carregadinho de piri-piri, funcionou como uma chama ardente difícil de dominar. A hora do simulacro (22h00) aproximou-se rapidamente mas os convidados ainda tiveram a oportunidade de desfrutar do espectáculo proporcionado pelo Areosa. Então, não é que o gajo se lembrou de cuspir fogo como se estivesse num circo!!! Bebia goladas de petróleo e soprava para cima, ao mesmo tempo que lhe chegava o archote a arder. 

Porém, como a tabanca era baixinha, acontece que ele cuspiu o petróleo contra o tecto de palha (capim). Aquilo começou a arder e o Areosa, mais os convidados, tiveram que sair da tabanca a rastejar. A gritar, enquanto tossiam, tossiam, tentaram alertar toda a gente para o que se estava a passar. E, num ápice, o incêndio foi debelado. Todavia, o grupo da festa privada causou alguma apreensão, porque quase ninguém se segurava de pé. Foi do fumo, da aflição ou da bebida? – Eram as dúvidas que circulavam.

Quando o Alferes, armado até aos dentes, de óculos escuros, apito na mão, e sob o olhar divertido dos miúdos da tabanca, filhos dos miliíias, foi para o meio do aquartelamento dar início ao simulacro de ataque, já estava toda a gente nos seus postos de defesa, salvo alguns dos afectados pela festa do Areosa, que não atinavam com o caminho. Deles, apenas o Furriel Semedo assegurou logo a sua posição. Meteu-se no pequeno fosso do Morteiro, inactivo há mais de um ano, e toca a dar azo à sua destreza na utilização desta arma. Era um viciado por tiro instintivo de G3 e de morteiro (60, de preferência).

O Comandante do destacamento circulava apressadamente com a potente lanterna acesa (tipo holofote) e de forma bem visível entre os vários abrigos, incentivando os seus homens para uma concludente resposta ao inimigo. Até parecia um herói americano de banda desenhada, a comandar de peito aberto às balas. Logo ele, que era sobejamente conhecido por medricas.

Os tiros não foram muitos, até porque ninguém desejava perder tempo depois, a repor o stock. O Furriel Semedo já mandara umas granadas e estava a aproximar-se o alvo, a julgar pela explosão no embondeiro a uns 400 metros. E para realçar as suas capacidades já demonstradas desde a Escola Prática de Artilharia de Vendas Novas e do Monte das Meadas, nos Rangers de Lamego, vira-se para norte e grita:
- Oh Felgueiras, vai buscar uma terrina e segura-a que eu vou lá meter uma granada dentro.

O Felgueiras (um dos “afectados” pelo aniversário), ria-se muito e dizia para o Joaquim Faquista, de Fafe:
- Vai, vai buscar a terrina a ver se ele é mesmo capaz.
- Estais bonitos, estais!!! Estais com uma carga bonita! Vou o caralho, é que eu vou – respondeu o Faquista, talvez chateado por não ter sido convidado para a churrascada.

Como esta discussão se prolongou uns quantos minutos, o Simões puxa o tubo do morteiro mais para a vertical, por forma a aproximar a mira para uma pequena árvore (mangueira?) visível a menos de 200 metros, já perto do recinto do futebol, e diz para o Chiribita meter mais uma granada no morteiro.

Logo que despoletou a carga, notou-se que não fora normal, dado o reduzido som produzido. Percebeu-se que parte das cargas não tinha despoletado. Logo de seguida, ouve-se o rebentamento junto ao muro do abrigo do Felgueiras. O Faquista, aflito, acelera dali a gritar:
- Foooddaa-se, os gajos estão doudos!

O Felgueiras manteve-se do outro lado do abrigo (a uns 5 ou 6 metros do rebentamento) e grita para o Faquista:
- Estás a ver, ó morcom, como ele é capaz! Porque é que não foste lá pôr a terrina???

Silva da Cart 1689

____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9306: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (27): Bolos de bacalhau à moda de Catió

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8529: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (19): O alferes maluco... está tolo


Relax no T1 do Hotel Dunane

1. Mensagem José Ferreira da Silva* (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, CatióCabeduGandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 5 de Julho de 2011:

Caros Camaradas
Junto nova história para incluir nas "Memórias boas da minha guerra".

Um abraço do
Silva da Cart 1689

Memórias boas da minha guerra - 19

O Alferes Maluco


Desde o início da comissão de serviço (Guiné - 67/69), a nossa tropa catalogou uma série de pessoas, donde se destacava também o “Alferes Maluco”. Não havia aversão alguma em relação àquela criatura. Havia, isso sim, uma opinião formada (e aceite) de que aquele Alferes “não batia bem da mona”. Foram inúmeras as histórias que se contavam a seu respeito. Porém, dada a nomenclatura militar, um Alferes era um Oficial e, como tal, uma figura de prestígio das nossas Forças Armadas, a qual não se podia ridicularizar. No entanto, a verdadeira história da guerra da Guiné, está cheiinha de episódios caricatos, aos mais variados níveis, que embora não sendo referidos, não poderão ser esquecidos por quem a viveu.

Estávamos em Agosto de 1968. Aquela Companhia de Intervenção, que havia sofrido as maiores agruras da guerra e, simultaneamente, havia alcançado muito bons resultados militares, via chegada a hora de, merecidamente, repousar nos últimos meses da sua contribuição heróica e pacificadora, em missão errática por terras da Guiné. Foi para o norte e destacou um Pelotão para uma pequena povoação onde o Alfero, o mais graduado, se tornou num Reizinho local. Sem guerra, sem o Capitão por perto e sem os seus camaradas oficiais, ele “vingava-se” do seu passado recente de medricas e de inaptidão militar.

- Então Arménio, é quase meio dia e está ainda na cama? – investiu o Furriel sobre o Enfermeiro, deitado dentro da sua pequena palhota, onde funcionava a Enfermaria.

- Ó Furriel, estou para aqui fodido, que mal me posso mexer. Preciso urgentemente de uma injecção se não vou co'caralho – respondeu, a muito custo, o Enfermeiro.

- Não há problema, porque nos Rangers ensinaram-me muitas merdas e uma foi a de dividir o traseiro em 4 partes e espetar a agulha no quarto superior direito. Correcto? – sossegou-o o Furriel.

O enfermeiro indicou-lhe a prateleira e o remédio a aplicar. Foi num rápido cumprir essa função, que ele nunca julgara vir a ser necessária.

O Arménio parecia melhorar a olhos vistos, sem o furriel fazer ideia alguma da droga que lhe havia injectado. E como já se sentia mais capaz, disse:

- Ó Furriel, ia morrendo à beira dos remédios como morreu a preguiça à beira da água.

- E sem ninguém saber – acrescentou o furriel.

- Não, não é verdade, porque já cá esteve por duas vezes o “Alferes Maluco”. Andou por aqui logo de manhã cedo, a bisbilhotar tudo e a olhar para as caixas e frascos dos remédios. Chegou ao ponto de abrir frascos de xarope e prová-los um a um. Depois, disse que gostava de um que era “docinho” e levou-o, enquanto ia bebericando. Passado umas duas horas, veio pedir-me alguma coisa para as dores de barriga, que o tinham atacado de repente. Disse que tinha bebido o frasco de xarope todo. E concluiu: - O gajo é um perigo. Antes andava, humildemente, como um “morcon”, entre os soldados, mas agora, inchou e ninguém o atura. Entreguei-lhe uma caixa de comprimidos para tomar um de 8 em 8 horas.

- Já que está melhor, veja se me arranja aí uma mezinha para passar junto da tomatada, porque trouxe, das bolanhas de Catió, aquela micose desgraçada – pediu o furriel, ao que enfermeiro respondeu:

- Olhe, já sabe que não há nada melhor que o 1214. Arde muito, mas é bom! Faça como é costume: pincelar amiúde toda a zona das “partes”, mantendo as pernas bem abertas e o ventilador apontado para lá, para soprar e diminuir o ”ardiúme”.

De repente, entrou na palhota o “Vidrinhos”, o básico escolhido para dar apoio ao improvisado Comandante, que, aflito, pediu:

- Ó amigo Arménio, por favor, vê se vais ao quarto do Alferes, porque o “Maluco” está tolo. E insistia: - O “Maluco” está tolo!!! Já se borrou todo e ninguém o percebe, porque não diz coisa com coisa.

Silva da Cart 1689

Relax na Bolanha de Catió
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 23 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8466: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (8): O grande choque

Vd. último poste da série de 29 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8346: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (18): Não se brinca com coisas sérias...

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6910: Falando do BART 2857, da CART 2479, da CART 11 e da CACAÇ 11 (J. M. Pereira da Costa)

1. Mensagem de João Maria Pereira da Costa, um dos fundadores e administradores do blogue BART 2857.


Data: 16 de Janeiro de 2010


Assunto: GUINÉ 63/74 - P1015: CART 2479, CART 11 E CCAÇ 11 (ZONA LESTE, GABU, SUBSECTOR PAUNCA)

Sou Pereira da Costa, ex-furriel miliciano, Oper Info/CIOE,  da CCS/BArt 2857, em Piche
Sou um dos iniciadores, administradores e moderadores do blogue BArt 2857.

Caro Luis Graça, como foi quem colocou esta mensagem, pelo que lerá ao longo deste email, compreenderá as razões do mesmo.

O que o Carlos Marques dos Santos diz faz sentido,  que a CArt 2479, de Renato Monteiro desse origem à CCaç 11. O que posso complementar é que a CArt 2479 ou CArt 11 ou CCaç 11, esteve sediada em Piche, por período que,  de momento, não tenho elementos para o confirmar, pois aguardo que o Arquivo Militar me entregue uma cópia da História da Unidade do BArt 2857, que requisitei.

O Zé Teixeira diz que da História da CArt 2479 consta:

 Em Contuboel ministrou instrução a naturais de etnia fula criando uma sub-unidade mista que se transformou numa Companhia de Intervenção, formando a partir de Janeiro de 1970, CArt 11. Posteriormente terá passado a CCaç 11 a partir de Outubro de 1972. 

É bem possível, pois no período em que o BArt 2857 esteve em Piche, de Novembro de 1968 a Outubro de 1970, lembro-me da CArt 2479 e ouvir falar em CArt 11.

O que o Albano Costa diz tem coerência e até tem elementos que o confirmam.

Agora sou eu,  Pereira da Costa: vou ter que ler as histórias do Renato Monteiro e a História da Unidade da CArt 2479, se alguém me facultar, pela razão que vou descrever.

O BArt 2857 iniciou o seu próprio blogue [, em 20 de Setembro de 2009] (**). Acompanhamos outros, em especial, o vosso que me caiu de pára-quedas no meu email.

Estamos a preparar publicações entre elas uma de um acidente ocorrido, em 05/07/1969, na estrada Dunane/Canquelifá por accionamento de minas A/C sob Unimogs, onde estiveram envolvidas forças da CArt 2439, sediada em Canquelifá, pertencente ao BArt 2857 e forças da CArt 2479 / CART 11; pelo facto ocorreram mortos e feridos em número elevado, em ambas as forças com mais peso na CArt 2479 (pessoal ultramarino).

A publicação será em memória de um 1.º Cabo da CArt 2439, porque quando a lerem compreenderão a razão. Contudo não queremos esquecer os africanos e um metropolitano da CArt 2479. Para isso para além de informação e fotografias que já possuímos, gostariamos de as ter da CArt 2479, pois esta esteve como Companhia de Intervenção durante certo tempo (???)  adstrita ao BArt 2857, em Piche. (*)

Apelo a quem puder contribuir com informação e fotografias que o faça ou indique os contactos para as obter.

Um grande abraço de camaradagem ao Luís Graça que não tenho o prazer de o conhecer e muita força e coragem para transmitirmos todo aquele período que para alguns nunca existiu !!!!

Obrigado
Pereira da Costa


2. Comentário de L.G.:



Meu caro J. M.Pereira da Costa: Dei conta, só agora, da tua mensagem encalhada há muito nos postes por publicar... O teu pedido, no entanto, continua actual e peço aos nossos camaradas - nomeadamente aos que pertenceram à CART 2479 / CART 11, no período em questão (1969/70) - para te fornecerem os elementos pedidos...

Por outro lado quero-te dar os parabéns que criação e animação do blogue referente ao vosso batalhão, que vou passar a seguir. E desejar-vos uma bela festa de convívio, em Penafiel, no próximo dia 16 de Outubro. Fará então 40 anos que vocês regressaram da Guiné. Os meus parabéns por estas iniciativas.

Um terceiro ponto: quero-te  convidar pessoalmente para ingressares na nossa Tabanca Grande, o que não te impedirá de continuar a liderar o teu/vosso blogue. Vamos a caminho do meio milhar de membros da Tabanca Grande que, como tu sabes, reúne sob um vasto poilão, centenário, simbólico, os amigos e camaradas da Guiné... 

Queremos reforçar a presença da malta que, como tu, esteve no nordeste da Guiné, no sector de Piche. Basta-te, no teu caso, o envio de duas fotos, uma actual e outra do tempo da tropa. Um Alfa Bravo. Luís
_____________


Nota de L.G.:

(*) O BART 2857 (1968/70) era constituído pelas seguintes subunidades:  CCS (Piche), CART 2438 (Bajocunda), CART 2439 (Canquelifá) e CART 2440 (Piche). 

O pessoal deste batalhão vai realizar, em Penafiel, no próximo dia 16 de Outubro, a festa de confraternização do 40º aniversário do seu regresso da Guiné.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4860: Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar (org. José Martins) (VII): Estadia em Contuboel e Dunane (OUT-DEZ 1965)

Continuação do Diário de Guerra, de Cristovão de Aguiar (VII)

Contuboel, 12 de Outubro de 1965

O meu Grupo de Combate vai dentro em breve para o destacamento de Dunane, quartel de campanha rodeado de arame farpado, sem qualquer tabanca (a que aí existia foi incendiada pelas nossas tropas, e a população que não morreu, fugiu para outros chãos) - fica então Dunane entre Piche e Can­quelifá, onde existem duas companhias, uma em cada uma dessas localidades, que por aquelas bandas a guerra é mesmo a doer. Vamos então render um outro Grupo de Combate, o do João Cortesão Casimiro, da nossa companhia, que, por estes dias mais próximos, conclui um mês de estada naquele que é considerado um dos piores desta­camentos daquela zona, sem as mínimas condições para se viver como gente: água bi­chenta, instalações em abrigos feitos de bidões de gasolina cheios de pedregulhos, o tecto coberto de troncos e por um oleado, e tudo isto rodeado de mata e de silêncio e guerrilheiros. Esta zona militar abrange, além das unidades já mencionadas, Nova La­mego, Bruntuma e Madina do Boé, onde, aí, nem se atre­vem as nossas tropas a meter o nariz fora dos abrigos de cimento armado, recebendo os ví­veres e o correio através de helicóptero, que lança os sacos das alturas e desapega-se logo para lugar mais se­guro... Em Dunane não há população, só meia dúzia de milícias indígenas. Com cerca de trinta homens, ao fim de pouco tempo não há solidão que re­sista. Só é preciso é que não falte vinho nem correio, porque assim o soldado acomoda-se com mais facili­dade...


Contuboel, 15 de Outubro de 1965

Recebi um rádio do comandante do batalhão acantonado em Bafatá, ao qual pertencemos, anunciando a rendição do pelotão de Dunane para o dia 18. Temos de sair às primeiras horas da manhã. E vinham tambémvárias instruções sobre o mate­rial a levar, não esquecendo os sacos de areia nas cabi­nas dos Unimogs por causa de surpresas de­sagradáveis, que vamos atravessar zonas perigosas e algumas quase terra-de-ninguém, além das rações de combate para a via­gem, que deve demorar as suas quatro horas, com paragem em Nova Lamego e Pi­che... Reuni os homens do meu pelotão e transmiti-lhes todas as ordens que achei con­venientes quando à nossa futura partida (só não lhes revelei nem o dia nem a hora), or­dens que são para se cumprir à risca, sem a mínima discussão. E avisei-os que come­cem, desde já, a preparar os seus sacos de campanha, porque nunca se sabia quando largávamos para Dunane, a fim de render os nossos camaradas.


Dunane, 19 de Outubro de 1965

Após uma viagem atribulada e cansativa, chegá­mos por fim ao nosso destino. E eis-me aqui, diante de mim, nu, andrajoso, suplicante, a alma enregelada e crucificada na cruz destes dias sem nome. Nos olhos, uma forna­lha de fúria e uma fome antiga não sei em que víscera, essa fome de séculos que é já grito milenário de todas as bocas em mim. Eis-me, pois, aqui, disparando bombas de palavras ao concentrado silêncio da noite. Eis-me aqui, tentando pescar estrelas no poço aberto do firmamento. Eis-me aqui, indefeso e nu, interrogando não sei que morto que vive numa parte de mim... Em frente de mim, nu e com o frio de todos os pólos, interrogo-me como se fosse réu e juiz ao mesmo tempo. E as palavras que ouço vêm da minha voz antiga, saída do mais fundo de mim, carregada de pedras e de car­dos, que grita e se contorce, morre e ressuscita, e continuo, indefeso e nu, aqui em frente de mim...


Dunane, 21 de Outubro de 1965

CRISTAIS DE DOR

Cristais de dor na noite tenebrosa,
Ferindo o silêncio duro e magnético;
Nenhum gesto de luz, leve, carinhosa,
Calando na noite o grito profético.

Em bandos descem pássaros estranhos,
Trazem recados no bico agoirento;
Muito ao longe nos currais os rebanhos
Tremem e choram lágrimas de vento.

Nas palhotas sem luz sonhos vencidos,
Crianças sem estrelas nos olhos caídos,
E pão de tristeza em bocas de fome.

Silêncio, dor, tristeza, solidão,
Tudo o que tem quem vive nesta prisão,
E um número no lugar do próprio nome.


Dunane, 3 de Novembro de 1965

MORTOS-VIVOS

Somos os mortos-vivos duma geração
Tran­cada nos aposentos do medo.
Se ousamos outra voz no coro duma canção,
Dão-nos nova alma e este degredo.

Se puderes olha em frente de olhos repousados,
Ar­reda o medo da mente ferida.
E teus dias serão plenos, serenados
E a vida será um salmo de vida...


Dunane, 6 de Novembro de 1965

ANSIEDADE

Conto os dias pelos dedos
Um a um sem fa­lhar.
Triste de quem tem segredos
E não tem a quem contar...

Parti triste e triste estou
Longe de ti nesta terra,
Onde o Sol se apagou
Sob negras nuvens de guerra.

Se a dor que no peito sinto
Tivesse boca e contasse
Tudo o que peno (não minto)
Talvez ninguém acreditasse...


Dunane, 10 de Novembro de 1965

PRIMEIRA CANÇÃO DO MAR

A minha voz vem do mar,
Meus cabelos de espuma são,
É no cais que vou cantar
As penas do cora­ção.

As coitas do coração
Ai, coimas de amargura.
Diz-me lá tu, ó canção,
Que é da velha ternura
Do mar da minha infância
E porquê vida tão dura,
Este viver sempre em ânsia?

Tatuaram-me no braço
Uma âncora de esperança...
Ai, e no peito um cansaço
Já do tempo de criança...

O mar embalou meu berço
- Velha canção de embalar
E assim rimei meu verso
Com a triste voz do mar.

O mar indicou-me o mundo
Nas rotas das caravelas...
Foram-se os sonhos ao fundo,
Rotas ficaram as velas.


Dunane, 15 de Novembro de 1965

SEGUNDA CANÇÃO DO MAR

Nas ondas do mar salgado
Escrevi o meu destino
Assim tracei o meu fado
Desde o tempo de me­nino.

Fez-se o mar meu amigo
Desde os tempos de outra idade:
- Quando não está comigo,
Chora triste de saudade...

Tantas vezes boiei morto
Na crista das ondas bravas,
Mesmo à vista dum porto
Onde, amor, me esperavas...


Dunane, 18 de Novembro de 1965

UM BARCO NA NOITE

Na noite subversiva havia um barco
Anco­rado no cais.
O céu era o reflexo de um charco
E de outras sombras mais

Súbito acordou uma luz
Nos olhos adormecidos...
Uma candeia que conduz
A vitória aos vencidos.

Todo o Universo se encheu de asas
E de itinerários...
Trancámos as portas de nossas casas
Nós, os revolucionários...

Tudo por fim rolou na lem­brança
Na noite subversiva
O barco ancorado partia para França
E nós ali à deriva...

Só nos ficou o sonho e a esperança,
E o barco ancorado partiu para França...


Dunane, 23 de Novembro de 1965

- Estou com o meu pelotão há mais de um mês neste destacamento de Piche. Antiga tabanca balanta, destruída pelas nossas tropas há já al­gum tempo, é agora um aquartelamento destinado a um pelotão das nossas tropas e a uma secção de milícias indígenas. Estamos em solidão absoluta e com falta de víve­res. À noite, entretém-se o pes­soal com o espectáculo deslum­brante dos incêndios das tabancas atacadas pelos guerrilheiros e cujas chamas se vêem ao longe lam­bendo o horizonte cir­cular que deste cabeço onde se situa o aquartelamento se abarca. Nem dentro do perímetro do arame far­pado se pode an­dar à von­tade.


Contuboel, 1 de Dezembro de 1965

- Chegou o novo capitão para comandar a com­panhia. O primeiro, o que foi ferido na tal operação simulada, com o intui­to de trei­nar os homens para a dureza da guerra, nunca mais ninguém lhe pôs a vista em cima. In­formou-me há dias o nosso primeiro Mota que ele tinha sido transferido para uma re­parti­ção do Quar­tel General, em Bissau, após ter estado em prolongada con­vales­cença na metrópole. O guarda-costas, esse, foi para a Alemanha para lhe porem uma prótese nos cotos das pernas. Nesta vida da tropa são tão efémeros os senti­mentos.


Contuboel, 25 de Dezembro de 1965

OUTRO TEMPO

Tempo loiro, maduro,
Nas mãos o Universo.
Sentia-me seguro
Como a rima num verso...

Depois veio o frio
Das noites de Inverno.
E pensava (agora sorrio)
Nas penas do inferno.

- Já rezaste, rica cara?
Perguntava uma velha tia.
Dizia que já terminara
E tinha a alma em dia...
__________

Notas de CV:

Cristóvão de Aguiar foi Alf Mil da CCAÇ 800, Contuboel, 1965/67

Vd. último poste da série de 19 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4838: Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar (org. José Martins) (VI): Estadia em Contuboel e férias na Metrópole (27MAI65 a 29SET65)

sábado, 8 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4800: Em busca de... (85) O Fiat do Pilav Gil foi abatido em Janeiro ou em Março de 1974? (José Rocha)

1. Mensagem de José Rocha, Operador de Transmissões do BART 2857, Piche, 1968/70, emigrante em França, com data de 14 de Março de 2009, endereçada ao nosso camarada Francisco Palma:

Caro Amigo

Fui Op de TRMS do BART 2857, Piche de Nov68 a Ago70.

Como li vários comentários sobre Canquelifá de 72/74 feito por pessoas que nunca lá puseram os pés, o que eu li, feito por um operador de mensagens que esteve em Nova Lamego, que ajudou a descarregar dos helicópteros vários mortos e feridos, que os mortos ficavam lá na pista e que os feridos iam no Dakota para Bissau.

Também li que um Fiat tinha sido abatido em Março. Ora o mesmo Fiat do Piloto Gil tinha sido abatido em Janeiro e não em Março.

O Blog da Força Aérea indica que o Piloto foi a Dunane e depois até Piche e de lá para Bissau.

Será possivel saber a verdade?

Um abraço
José

Fiat G-91 da FAP
Foto de Soares da Silva, com a devida vénia



2. No dia 15 houve a seguinte troca de mensagens:

- Francisco Palma respondia ao José Rocha:

Caro J. Rocha

No meu tempo, de Agosto 1970 a Junho 1972, em Canquelifa, tivemos 4 mortos. Um em combate, 2 (1 Alferes e um milicia) por acidente com uma armadilha nossa, e outro suicidou-se.

Sofremos 15 ataques mais dois com misseis (foguetões 122) ao aquartelamento, e dois africanos foram feridos por rebentamentos de duas minas antipessoais e eu com o Unimog deflagrei uma mina anticarro, ficando eu ferido.

Em Piche ocorreu um acidente com uma roquete que rebentou dentro da caserna acionando o rebentameno de uma caixa de granadas de morteiro 60, ocasionando 4 mortos e vários feridos, 2 muito graves.

Quanto à estória do Fiat nunca ouvi nada, não posso comentar.

Houve uma Companhia de intervenção que sofreu várias baixas na nossa zona, mas não tantos para entupir a aviação de Nova Lamego.

Quanto a esses mortos que ouviste, não foram do meu Batalhão e nem ouvimos esses comentários

Um abraço e boa sorte
F. Palma


- Francisco Palma dirigia-se ao Blogue:

Bom dia Carlos Vinhal
Será possivel os arquivos do nosso blogue esclarecer melhor este nosso camarada emigrante em França?

Obrigado e um abraço
Francisco Palma


- Dirigi esta mensagem aos outros editores e ao nosso camarada Pilav Miguel Pessoa:

Boa noite a todos
Algum dos meus amigos poderá confirmar os desmentidos do camarada Rocha?

Um tri abraço e votos de uma boa semana.
Vosso camarada
Carlos Vinhal


- Resposta de Miguel Pessoa:

Caro Carlos;

O texto reproduzido há umas semanas no blogue sobre a "História do Strela na Guiné" está correcto no essencial.

O Ten. Gil foi abatido em 31JAN74, fugiu para o norte embrenhando-se no Senegal, onde dormiu; no dia seguinte chegou a uma tabanca onde negociou uma boleia de bicicleta que o levou a Dunane; não satisfeito com o pessoal do quartel (eram africanos) resolveu prosseguir até ao aquartelamento de Piche. Aí foi recuperado por um avião da Força Aérea (Dakota?) que o levou para Bissalanca.

A única dúvida que ainda tenho é sobre a identificação rigorosa de qual o aquartelamento a que o Ten. Gil fazia o apoio de fogo - Copá ou Canquelifá? Eu tinha a idéia que seria Copá, pelo que me foi dito na altura - mas estive de folga nesse dia e tenho que confiar no que o António Martins de Matos refere - Canquelifá.

Mas continuo com algumas dúvidas, pois a ejecção foi quase junto à fronteira - e quem andava aflito naquela altura era o pessoal de Copá.

Abraço.
Miguel Pessoa
__________

Notas de CV:

Sobre os Strela na Guiné, ver postes de:

9 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3859: FAP (6): A introdução do míssil russo SAM-7 Strela no CTIG ( J. Pinto Ferreira / Miguel Pessoa)

16 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4197: FAP (23): O poder aéreo no CTIG, 'case study' numa tese de doutoramento nos EUA (Matt Hurley / Luís Graça)

26 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4418: O poder aéreo no CTIG: uma pesquisa de Matthew M. Hurley, Ten Cor, USAF: Trad. de Miguel Pessoa (1): Parte I

27 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4423: O poder aéreo no CTIG: uma pesquisa de Matthew M. Hurley, Ten Cor, USAF: Trad. de Miguel Pessoa (2): Parte II

27 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4430: O poder aéreo no CTIG: uma pesquisa de Matthew M. Hurley, Ten Cor, USAF: Trad. de Miguel Pessoa (3): Parte III (Bibliografia)

Vd. último poste da série de 7 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4795: Em busca de... (84): André Manuel Lourenço Fernandes, ex-Fur Mil não sabe o número da sua Companhia (José Martins/Carlos Vinhal)

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2271: Tabanca Grande (40): Joaquim Gomes de Almeida, O Custóias, bazuqueiro, CCAÇ 817 (Canquelifá e Dunane, 1965/67)



Joaquim Gomes de Almeida
Soldado
CCAÇ 817
Canquelifá e Dunane
1965/67






Guiné> Canquelifá> O nosso camarada Joaquim Almeida em concorrência desleal e descarada ao nosso companheiro Joaquim Mexia Alves, pois em Canquelifá as condições Termais eram péssimas, embora os preços fossem económicos.


1. Mail de 7 de Novembro de 2007 dirigido ao nosso Editor

Exmo. Sr. Luís Graça,

Venho por este meio prestar uma grande homenagem ao incondicional serviço de informação que o seu blog presta a todos os ex-combatentes.

Passo a apresentar-me: Chamo-me Joaquim Gomes de Almeida, conhecido entre os camaradas por Custóias, sou residente em Guifões-Matosinhos.

Fiz parte do pessoal da CCAÇ 817; soldado de infantaria; operador de bazuca.
Passei maior parte do tempo da comissão em Canquelifá e Dunane, embora tivesse passado anteriormente por outras unidades.

Cheguei à Guiné em 26 de Maio de 1965 tendo regressado à Metrópole em 8 de Fevereiro de 1967.

Faço uma correcção ao que escreveu o camarada Francisco Palma: a CCAÇ é a 817 de 1965/1967 da qual eu fiz parte e não a CCAÇ 187 de 1965/1966 como por lapso mencionou o camarada Francisco Palma (*).

Em relação ao brazão, confesso que fiquei triste por saber que a CCAÇ 1623 destruiu o nosso em favor do deles.

Anexo uma fotografia com informação: Canquelifá-Termas, placa informativa para todo o pessoal que por lá ia passando e entrando para o tratamento adequado.

Sem outro assunto de momento,
Joaquim Almeida (Custóias)


2. Em 7 de Novembro, o co-editor CV respondia:

Caro Joaquim Almeida:

Estou a escrever-te na qualidade de co-editor do Blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Recebemos a tua mensagem e registamos a homenagem que prestas ao Luís Graça. Na verdade, é unânime o reconhecimento do seu imenso trabalho para manter vivo o Blogue.

Queremos convidar-te a fazeres parte da nossa Tabanca Grande. Para tal deverás enviar uma foto do teu tempo de guerra (se possível com mais qualidade daquela que já enviaste) e outra actual para figurares na nossa fotogaleria.

Se quiseres e puderes podes mandar estórias que se passaram contigo e com a tua Unidade, assim como fotografias devidamente legendadas para as podermos enquadrar nos teus textos.

As fotos deverão vir em formato JPEG ou, em última hipótese, em Word para as podermos trabalhar.

Poderás consultar a página da nossa Tertúlia onde estão escritos os princípios fundamentais da nossa conduta e convivência. Poderás ver lá também a fotogaleria.

Aqui na Tabanca não há Exmos Senhores nem postos militares. Tratamo-nos todos por tu como deve ser entre camaradas.

Já agora na próxima mensagem dá mais pormenores sobre ti e a tua Unidade e usa preferencialmente o endereço luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com

Antes de terminar quero dizer-te que temos cá no Blogue um teu conterrâneo de Guifões, o Albano, que é fotógrafo e que tem o seu ateliê em frente à Igreja. Eu moro em Leça da Palmeira e ainda há mais gente do concelho de Matosinhos entre nós.

Recebe um abraço da parte do Luís. De mim o mesmo
O camarada
Carlos Vinhal


3. Em 8 de Novembro o camarada Albano Costa escrevia, em resposta a um mail de CV:

Caro amigo Carlos Vinhal:

Conheço o Custóias há muitos anos, é quase meu vizinho. Durante muitos anos sempre falamos de tudo, menos da Guiné.

Há bem pouco tempo, encontramo-nos e ele falou-me do blogue onde tinha navegado, dizendo que me tinha encontrado lá. Depois desse dia passamos a falar mais vezes e muito sobre a Guiné e o blogue.
Ele por acaso já tinha comentado comigo que ia chamar atenção do Francisco Palma sobre as imperfeições que tinha visto. Eu incentivei-o, porque a função do blogue é contar sempre e só a verdade, e que este era o sítio certo para o fazer, que neste caso era só para rectificar.

Quanto ao apelido Custóias, eu já lhe perguntei como é que sendo ele natural de Guifões, gosta que o tratem assim, ainda hoje no meio guineense. Ele respondeu-me que quando foi para a tropa, tinha ocorrido o desastre ferroviário no lugar das Carvalhas (**), em Custóias, e então o seu comandante possou a chamar-lhe assim. Ele aceitou com agrado e em todo o seu tempo de tropa e ainda hoje pelos seus colegas é tratado por Custóias. Quanto ao entrar no blogue já lhe falei e o Joaquim Gomes está a ganhar coragem, visto que não passa um único dia sem lhe fazer uma visita.

Um grande abraço,
Albano Costa

4. Em 9 de Novembro o Almeida voltava ao nosso contacto

Caro Carlos Vinhal:

Acuso a recepção do teu e-mail de 7 de Novembro de 2007.

Em relação ao Albano Costa, somos amigos e vizinhos. Ele mora na Lomba e eu em Gatões.

Todos os fins-de-semana, nos falamos no seu estabelecimento. Ele foi um grande impulsionador para que eu me metesse nestas andanças.

Relativamente a material fotográfico do tempo da minha estadia na Guiné, é relativamente pouco, porque há uns anos atrás, quando eu fui deslocado para o estrangeiro em serviço, foram-me assaltados os anexos de minha casa e levaram-me tudo, fotografias, o díário da minha Companhia, o diário do meu pelotão e um caderno de apontamentos pessoal. Tudo isto se encontrava dentro de um baú. Todas as fotografias que eu possuo, foram recolhidas na minha família, e alguns amigos.Assim que possível, enviarei as ditas fotografias para o blogue.

Um abraço virtual deste ex-combatente.

Joaquim Gomes de Almeida - Custóias
__________________

Notas de CV:

(*) - No Post de 5 de Novembro de 2007> Guiné 63/74 - P2242: Tabanca Grande (39): Francisco Palma, ex-Condutor Auto, ferido em combate, CCAV 2748/BCAV 2922, Canquelifá (1970/72), o nosso camarada Francisco Palma referia:

(...) Aproveito para informar que a mensagem atingiu o alvo e tenho estado em contacto com o Custóias, operador de bazuca, ex-combatente da CCAÇ 187_(?), Canquelifá 1965/66, que terá sido o obreiro da construção do brazão da sua Companhia. O brazão foi posteriormente aproveitado pelos que vieram a seguir, a CCAÇ 1623 (Canquelifá, 1966/68), tendo sido alterados os dados (...)

(**) - No dia 26 de Julho de 1964, ocorreu um terrível desastre ferroviário na Linha da Póvoa (Porto/Trindade - Póvoa de Varzim), onde houve um número de mortos nunca especificado, pois na única carruagem sinistrada, superlotada, morreram oficialmente 96 pessoas.

O acidente deu-se porque a última de duas carruagens da automotora se soltou da primeira, presume-se que por excesso de peso, e em aceleração livre e desgovernada, ao descrever uma curva apertada, inclinou-se e foi de encontro a um muro suporte de uma passagem superior, que funcionou como uma lâmina. A carruagem foi literalmente cortada ao meio no sentido do comprimento, ferindo e matando principalmente que se encontrava daquele lado.