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sábado, 19 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15510: Memória dos lugares (326): Fui destacado várias vezes para o Depósito Disciplinar no Forte de Elvas. Subia e descia o morro a cavalo e dormia lá quando calhava ser oficial de serviço (Marques Leandro, ex-Tenente Miliciano, 1953/55)

1. Comentário, deixado no Poste Guiné 63/74 - P10734: Memória dos lugares (197): Elvas, património mundial da humanidade - Forte de Nossa Senhora da Graça (ou Forte Lippe) - A barrilada (António José P. da Costa), pelo nosso leitor, José Manuel Marques Leandro1, ex-Tenente Miliciano, que entre outros quartéis conheceu, nos anos 50, o Forte de Elvas.

CAROS AMIGOS
Não fiz parte do vosso batalhão, mas admiro-vos. Prestei serviço militar como oficial miliciano de cavalaria no ex-Regimento de Lanceiros 1 em Elvas nos anos de 1953, 1954 e 1955.
Fui destacado várias vezes para o Depósito Disciplinar no Forte de Elvas. Subia e descia o morro a cavalo e dormia lá quando calhava ser oficial de serviço.
Há dias enviei um texto2 sobre essa minha experiência ao Senhor Presidente da CM Elvas que muito amavelmente me respondeu que esse texto seria integrado no site do Forte da Graça. Ali conto peripécias no Forte, na barrilada, na cidade e em Badajoz onde folgávamos a nossa juventude. Vi a vossa fotografia da barrilada. Confirmo.
Peço-vos que me cedam essa foto o que desde já muito agradeço3.
Solicito resposta para o endereço que indico.

Desejo a todos Boas Festas com um abraço.
JM Marques Leandro

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2. Entretanto recebemos o texto que agora publicamos


Trunfo era espadas

O Exército não me dispensou logo que terminei o curso em 1953. Eu e a maior parte dos meus colegas fomos incorporados nas Forças Armadas, na Escola Prática de Cavalaria, então em Torres Novas, para ali frequentarmos o curso de oficiais milicianos. Depois, já como oficial, mandaram-me para o Regimento de Lanceiros 1, em Elvas. Nesse tempo, Elvas ficava muito longe de meus pais e a tropa não concedia facilidades, de modo que raramente ia a casa. Contudo, foi um período de que guardo boas recordações. O Alentejo ficou para mim a região de eleição. O Alentejo, Badajoz e as espanholas. A guerra civil em Espanha tinha terminado havia menos de vinte anos, tempo insuficiente para curar feridas e nós bem sentimos isso. Sentimos quando nos contavam os horrores dessa guerra, principalmente, a queda de Badajoz perante as tropas de Franco, em Agosto de 1936. Nessa altura, centenas de habitantes de Badajoz, fugindo aos bombardeamentos e à irracionalidade da guerra civil, atravessaram a fronteira e espalharam-se pelas planícies do Caia. Deste lado, essa gente foi internada no Forte da Graça, fortaleza no cimo de um morro que domina a cidade. Entretanto, o regime de Salazar entendeu-se com o regime de Franco e as pessoas internadas no Forte da Graça foram devolvidas a Badajoz. As camionetas espanholas que as transportavam despejavam-nas na praça de touros e ali eram fuziladas. Um major do meu regimento era nesse tempo alferes e fora encarregado de ir a Badajoz colher informações. Assistiu a fuzilamentos, mas nada podia fazer para evitar o massacre. No meu tempo de tropa, muitos habitantes de Badajoz não esqueciam isso e, sabendo que nós éramos militares, recebiam-nos com alguma animosidade. O que nos valia eram os militares da cavalaria espanhola sediada em Badajoz, os jovens espanhóis e principalmente as espanholas, que nós presenteávamos com pacotes de café, produto muito apetecido em economia depauperada pela guerra. O Forte da Graça, no meu tempo, era uma prisão militar e os oficiais do quadro permanente não paravam lá quando destacados para a guarnição, de modo que o comando territorial ordenava o destacamento de oficiais milicianos do meu regimento para ali prestarem serviço. Fui sujeito a esse destacamento várias vezes. Subia e descia a cavalo o morro íngreme do forte. Dormia lá quando me calhava ser o oficial de serviço. À tardinha, chegavam novos militares presos que marchavam a pé durante vários quilómetros a partir da estação do caminho-de-ferro, cada um deles escoltado por um cabo e dois soldados.

Forte da Graça - Elvas

Os militares marinheiros tinham mais sorte, eram transportados em viaturas da Marinha. Também havia oficiais e sargentos presos no Forte. Os oficiais e só esses, mantinham o direito a continências e honras militares. No Forte não havia água canalizada. Todos os dias, de manhã e à tarde, organizava-se uma coluna de vinte ou trinta soldados e marinheiros presos, com barril de madeira de vinte litros às costas e escolta à vista. Desciam o morro, enchiam os barris em fonte improvisada e regressavam ao Forte, carregando a água. Trabalho penoso, trabalho forçado! Alguns dos militares integrados nessas colunas tentavam fugir e vários conseguiam. A escolta dava muitos tiros, mas não acertava em ninguém. Confidenciavam-me que não acertavam porque não queriam. Cada fuga ou tentativa de fuga era uma carga de trabalhos para o oficial de dia que era obrigado, imediatamente, a tomar providências para a captura, lavrar autos, fazer inquérito, eu sei lá!

A barrilada

Nesse tempo, trunfo era espadas. Os militares é que suportavam o regime, de modo que tudo era mais ou menos militarizado. A Cidade de Elvas era um modelo dessa cultura. Centro urbano sem grande expressão demográfica, mas com grande concentração de tropas, por causa do inimigo espanhol, troçávamos nós. A cidade tinha um estatuto especial na orgânica do Exército. Designava-se Praça Militar de Elvas. Tinha um governador militar, integrava vários regimentos e serviços. O Forte de Elvas, então prisão, tinha também alguma autonomia honorária, como Governo Militar do Forte de Elvas, no meu tempo personalizado por coronel de cavalaria na reserva, bem conhecido na cidade pelo seu aprumo militar e farda permanente e integrava uma prisão militar designada Depósito Disciplinar. Organização militar sobrante das preocupações de Salazar durante a 2ª guerra mundial, 1939 – 1945, quando se tomaram providências em face de iminente invasão por Espanha aliada à Alemanha, o que, felizmente, não aconteceu. Havia o culto das fardas e os civis iam adoptando essa cultura. Recordo que eu e os meus colegas, quando chegamos a Elvas, entramos sem farda no Clube Elvense para o visitarmos, porque sabíamos que ali era o local de frequência das elites da terra. Fomos bem recebidos por um director que nos convidou a associarmo-nos aquela instituição. Como nos interessava frequentar os bailes e outras diversões, aceitamos os impressos-propostas para associados, mas o tal director perguntou se todos nós éramos oficiais. Dissemos que todos menos um, esse era sargento miliciano, embora com curso superior. Então ele esclareceu que os oficiais poderiam ser sócios, mas não o nosso companheiro sargento. Perante isso, recusamos a inscrição e manifestamos a nossa surpresa pelo facto de um clube civil adoptar praxes militares. Ficamos queimados naquela sociedade elvense e fomos criticados, já no quartel, por alguns oficiais do regimento. Foi bom assim, porque isso soube-se na cidade, o que levou o Grémio, instituição não elitista, a eleger-nos amigos e frequentadores especiais. E gozamos bem essa facilidade.

Terminei o serviço militar em Abril de 1955.

Marques Leandro
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Notas do editor

1 - Licenciado em Gestão e Administração Pública pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa, trabalhou em Angola, onde nasceu, e continuou a sua carreira na Administração Pública até se reformar na Inspecção Geral de Finanças. Foi Secretário de Estado da Administração Regional e Local dos III e IV Governos Constitucionais chefiados, respectivamente, pelos Eng.º Alfredo Jorge Nobre da Costa e Prof Dr Carlos Alberto Mota Pinto. Foi ainda dirigente da ARCIL (Associação para a Recuperação de Cidadãos Inadaptados da Lousã).

3 - O editor enviou em devido tempo a foto da "barrilada" ao Dr. Marques Leandro

Último poste da série de 7 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15453: Memória dos lugares (325): Cabo Verde, Ilha de São Vicente, Mindelo: o N/M Uíge em janeiro de 1967, no meu regresso a Lisboa (Virgínio Briote, ex-alf mil cav, CCAV 489, Cuntima; e ex-alf mil comando, cmdt do Grupo Diabólicos, Brá, 1965/67)

quinta-feira, 12 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14354: Meu pai, meu velho, meu camarada (42): 1.º Cabo Manuel de Assunção Peres (1912-1997), meu sogro, que fez tropa em Elvas... Um dia, quando teve uma curta licença para férias, foi a pé até Castro Verde (, o que em linha reta são mais de 200 km)... (José Colaço)

1. Mensagem do nosso camarada José Colaço (ex-Soldado TRMS da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), com data de 4 de Março de 2015:

O meu pai, meu velho, na inspecção saiu-lhe a fita vermelha. Mas,  como os pais das nossas mulheres nossos pais são, apresento-lhes o meu sogro, meu camarada, pai da  mulher com a qual casei em 1973 e que tem tido a paciência de me aturar e desculpar desde essa data até aos dias presentes.

José Colaço



Manuel de Assunção Peres


2. Este nosso camarada Manuel de Assunção Peres, nasceu em 17 de Abril de 1912  e faleceu em 29 de Dezembro de 1997, vítima de cancro pulmonar, talvez devido ao tabaco pois era um fumador viciado desde os bancos da escola primária. Quando morreu, tinha uma memória perfeita tanto em matemática como em português, disciplinas que gostava e que dominava com alguma facilidade.

Fez a tropa no quartel de Elvas, tendo sido promovido a 1.º Cabo.

Histórias da sua vida militar não as registei em papel nem em memória, culpa minha porque ele falou várias vezes no assunto, mas uma que me chamou a atenção e que registei em parte, foi quando lhe foi concedido um curto período de férias.

Ele  mais um camarada do concelho de Odemira  deram corda aos cordões das botas e marcharam a pé,  de Elvas...  até Castro Verde [, são mais de 200 km em linha reta!].

Um abraço
Colaço
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14353: Meu pai, meu velho, meu camarada (41): Jorge Manuel Augusto da Silva, o "binte oito", era um orgulhoso sapador de assalto, da arma de engenharia... Fez a tropa em Tancos, em 1947, ainda chegou a jogar futebol e era amigo do histórico guarda-redes do Porto, o Barrigana (Henrique Cerqueira)

Postes anteriores (desde o nº 30 da série):

3 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14316: Meu pai, meu velho, meu camarada (40): Torcato Prudêncio da Silva (1915-1977) faria 100 anos no passado dia 28 de fevereiro...Na tropa (entre 1936/37 e 1943), foi da arma de artilharia, como o filho que o recorda hoje com muita saudade (Torcato Mendonça, ex-alf mil art, CART 2339, Mansambo, 1968/69)

4 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11803: Meu pai, meu velho meu camarada (39): Amadeu Simões Picado, ilhavense, 1º cabo quarteleiro, da arma de engenharia, integrou o corpo expedicionário português, em França, na I Guerra Mundial (1917/18), e emigrou depois para os EUA onde trabalhou quase sempre como pescador... Só o conheci aos 9 anos, em 1946... (Jorge Picado)

8 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11358: Meu pai, meu velho, meu camarada (38): Evocando a figura de Luís Henriques (1920-2012) que há precisamente um ano se despedia da terra da alegria (Luís Graça / Pedro Martins)

19 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11275: Meu pai, meu velho, meu camarada (37): Memórias do Mindelo, São Vicente, Cabo Verde, no dia do pai...

11 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10924: Meu pai, meu velho, meu camarada (36): Fotos recentes do Mindelo, em memória do meu avô Luís Henriques (1920-2012) (João Graça)

13 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10793: Meu pai, meu velho, meu camarada (35b): José Baptista de Sousa (1904-1967), capitão médico-cirurgião, expedicionário, um 'anjo di céu', em São Vicente, fev 1942/ set 1944 - Parte II (Adriano Miranda Lima)

12 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10790: Meu pai, meu velho, meu camarada (35a): José Baptista de Sousa (1904-1967), capitão médico-cirurgião, expedicionário, um 'anjo di céu', em São Vicente, fev 1942/ set 1944 - Parte I (Adriano Miranda Lima)

23 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10712: Meu pai, meu velho, meu camarada (34): Tropas expedicionárias portuguesas, em São Vicente, Cabo Verde, 1941/45, mostram solidariedade com o povo sofrido da ilha (Adriano Miranda Lima, cor inf ref, Tomar; cortesia de Praia de Bote)

7 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10496 Meu pai, meu velho, meu camarada (33): Mais notícias das forças expedicionárias da ilha de São Vicente, Cabo Verde (1941/45) (Adriano Miranda Lima, cor inf ref)

terça-feira, 29 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13068: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (27): Guardo Elvas e as suas gentes no meu coração (Henrique Cerqueira)


Foto nº 575


Foto nº 559


Foto nº 568


Foto nº 578


Foto nº 528

Elvas > 2 de março de 2014 > Os fortes de Santa Luzia  (foto nº 575) e da Graça (foto nº  559) e Museu Militar  de Elvas (fotos nº 568, 578 e 528).  Infelizmente, o muncípio de Elvas ainda não tem disponível, na sua página oficial, todas as informações imprescindíveis (história, itinerários, etc.) para se conhecer  melhor e divulgar o seu património mundial, classificado pela UNESCO em 30/6/2012.

Fotos: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Comentário,   com data de  11 do corrente,  ao poste P12961 (*), subscrito por Henrique Cerqueira [ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74]:

Como eu adorei Elvas!

Eu penso que o meu encanto por Elvas também tem um pouco a haver com a minha nova condição militar na altura. É que era a primeira vez que me via na condição de Cabo Miliciano e para mais logo a seguir a ter estado no CISMI em Tavira. Por tal e logo á partida comecei a gostar de Elvas o único problema era estar muito longe de casa e só me permitia ir a casa de quinze em quinze dias.

Mas Elvas tratou-me tão bem, mesmo o quartel o BC8,  comandado pelo Sr.Tenente Coronel Romão Loureiro,  assim como o meu comandante de companhia de instrução na altura o Sr. Capitão do QP Henrique Cerqueira Barreira . Tudo "gente humana" e sensível para com os novos recrutas e milicianos. 

A população de Elvas era altamente simpática e até á semelhança de Tavira tinha muito comércio gerido por militares do QP, mas tinham um comportamento diferente dos seus congéneres de Tavira.
Enfim amei Elvas e guardo no meu coração aquela cidade alentejana e suas gentes. (**)

Henrique Cerqueira

Fotos: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

8 de abril de  2014 > Guiné 63/74 - P12948: Fotos à procura... de uma legenda (26): Mais um sítio de passagem, para alguns de nós, no tempo de tropa... Qual ? (Luís Graça)

10 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12961: Fotos à procura... de uma legenda (27): Oh Elvas, oh Elvas, Badajoz à vista!... (Parte I) (Luís Graça)

(**) Último poste da série > 9 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12956: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (26): Leiria, o pior tempo do meu início de vida militar; Santarém onde a Cavalaria não é melhor nem pior, é diferente; Tavira, onde ia morrendo; Carregueira do bidonville; Mafra onde a instrução era levada a sério (Augusto Silva Santos)

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12961: Fotos à procura... de uma legenda (27): Oh Elvas, oh Elvas, Badajoz à vista!... (Parte I) (Luís Graça)



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 663 > Aqueduto da Amoreira (1)



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 441 Aqueduto da Amoreira (2)



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 444 > Aqueduto da Amoreira (3)



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 445 Aqueduto da Amoreira (4)


Aqueduto da Amoreira:

(i) Desde sempre a população de Elvas teve problemas com o abastecimento de água; a sua posição estratégica no alto de uma colina levou a que desde a ocupação islâmica os elvenses sobrevivessem através de poços situados intra-muros e de fontes nas redondezas que em caso de guerra se tornavam inacessíveis;

(ii) com o aumento populacional a situação tornou-se gravíssima durante a segunda metade do séc. XV. É em 1498 que os procuradores de Elvas pedem a D. Manuel I que lhe resolva o problema; seria então lançado na povoação o imposto do Real d’Água que recaía sobre bens de consumo para futuramente ser construído um aqueduto; a obra seria monumental e dirigida por Francisco de Arruda já no séc. XVI, que ao mesmo tempo trabalhava também na futura Sé da cidade;

(iii) as despesas enormes da construção fizeram com que ela pouco avançasse até 1537; a obra só estaria pronta em 1622 quando a água começou a correr na Fonte da Misericórdia; nos anos seguintes as obras de manutenção ao nível dos contrafortes aumentou o custo já por si enorme da construção;

(iv) O Aqueduto da Amoreira é um verdadeiro ex-libris da cidade (....):; trata-se de uma obra gigantesca que se desenvolve desde a nascente principal em galerias subterrâneas numa extensão de 1367 metros e depois ao nível do terreno e em arcadas por mais de cinco quilómetros e meio que chegam a superar os 30 metros de altura. (Fonte: Adpat. do sítio CM Elvas > Turismo > Lociais a visitar > Património civil) (com a devida vénia).


Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 468 > Antiga Sé Catedral  e praça da República


Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 497 > A praça da República, vista da antiga Sé Catedral.


Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 599 > A belo calçada portuguesa da praça da República



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 487 > Antiga Sé Catredral > O magnífico  silhar de azulejo policromo  do séc.XVII



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 468 > Antiga Sé Catedral 


Antiga Sé Catedral, hoje Igreja de N.Sra. Assunção


(i) A construção da então igreja de Nossa Senhora da Praça foi principiada em 1517 segundo o traço do arquitecto régio Francisco de Arruda que trabalhava ao mesmo tempo no Aqueduto da Amoreira;

(ii) o espaço ocupado pela nova igreja tinha-se erguido até então a igreja de Santa Maria dos Açougues; a nova igreja abriu ao culto finalmente em 1537 mas tendo continuado as obras até final do século sob a direcção do mestre pedreiro Diogo Mendes;

(iii) a mestria de Francisco de Arruda fez com que fosse possível a construção de um majestoso edifício com um carácter fortificado e uma torre como fachada; Francisco de Arruda teve ainda a ajuda de outros mestres (...);

(iv) em 1570 com a criação do bispado de Elvas pelo Papa Pio V, a igreja de Nossa Senhora da Praça transformou-se na Sé de Elvas, título que viria a perder em 1881;

(v)  em termos artísticos a Sé de Elvas é um templo originalmente manuelino mas que perdeu alguma desta traça durante os séculos após alterações mandadas fazer nele pelos bispos da cidade; são de salientar no exterior o seu portal neoclássico e os portais laterais manuelinos; no interior, em redor de todo o corpo da igreja corre um silhar de azulejo policromo mandado ali colocar no início do séc. XVII pelo Bispo de Elvas D. António de Matos de Noronha; a capela-mor, mandada construir em 1734, é da autoria de José Francisco de Abreu em mármore de várias cores e em estilo barroco;

(vi) uma palavra como não poderia deixar de ser para o soberbo órgão situado no coro-alto mandado elaborar pelo bispo D. Lourenço de Lencastre em 1762 ao organeiro italiano Pasqual Caetano Oldovino que o completa em 1777. 

(Fonte: Adapt do sítio CM Elvas > Turismo > Locais a visitar > Património religioso) [Com a devida vénia].


Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 599 >  




Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 513 > Igreja do antigo convento das domínicas... A sub iddae à sua torre sineira é obrigatória...  Um dos melhores miradouros das cidade...



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 533 > Um dos sinos da torre sineira da igreja das domínicas...



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 523 > Pormenor do centro histórico da cidade, vista da torre sineira da igreja das domínicas...


Igreja das Domínicas

(i) Antigo convento feminino da Ordem Dominicana fundado em 1528;

(ii) a igreja que hoje observamos foi principiada em 1543, tendo as obras terminado em 1557 no local onde outrora se situava a Igreja da Madalena;

(iii) é um edifício de rara planta octogonal com um pórtico renascentista e um interior completamente revestido a azulejos;

(iv) a talha dourada dos altares é obra do final do séc. XVII;

(v) Com a  extinção das ordens religiosas em 1834, levou ao o abandono do convento que no entanto viria a durar até 1870, altura em que falece a sua última freira Ana Inácia de Gusmão;

(vi) No início do séc. XX é decidida a demolição do convento, excepto da igreja; no seu lugar foram construídos um cine-teatro, casas particulares e uma escola primária; 

(vi) Da sua torre sineira tem-se uma vista magnífica sobre Elvas e redondezas.

(Fonte: Adapt do sítio CM Elvas > Turismo > Locais a visitar > Património religioso) [Com a devida vénia].


Fotos (e legtendas): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Pois, claro, que "as fotos á procura de legenda"... que publicámos no poste anterior (*), só podiam ser de Elvas, a "raínha da fronteira!... A bela cidade raiana do alto Alentejo, rica de história e património (civil, religioso e militar), tem hoje cerca de 16 mil habitantes.

Foi considerada a cidade mais fortificada da Europa. Orgulha-se de possuir o maior conjunto de fortificações abaluartadas do mundo. As muralhas de Elvas, em conjunto com o centro histórico da cidade,  são Património Mundial da Humanidade, de acordo com a classificação da UNESCO em 30/6/2012.

No tempo do escudo e da peseto, do Salazar e do Franco, Elvas eram apenas uma porta de entrada em Espanha (e na Europa) por Badajoz...Tempos duros, de repressão, de guerra civil espanhola (1936-1939), de contrabando, de emigração clandestina (anos 60/70,), de serviço militar obrigatório... Alguns de nós, como o Hernrique Cerqueira, passaram, por lá (BC 8)...

Passei por lá, mas desta vez com olhos de ver... Não é uma cidade para ... mancos!... Quando lá fui ainda não tinha a "anca nova"...Deixo aqui algumas fotos dessa visita "turístico"...

No passado, a caminho do "estrangeiro de fora", passei por lá, a correr, como cão por vinha vindimada... Era no tempo em que os portugueses, pobretes nas alegertes,  pouco ou nenhum valor davam a si próprios, à sua história e ao seu património cultural...E de Elvas sabíam o refrão da canção "A minha cidade", do elvense Paço Bandeira (n. 1945) e nosso camarada (fez o serviço militar em Angola, como 1º cabo trms inf, CCS/BCAÇ 1903, 1967/69, segundo li algures na Net):

(...) Ó Elvas, ó Elvas
Badajoz à vista.
Sou contrabandista
De amor e saudade,
Transporto no peito
A minha cidade,
A minha cidade,
A minha cidade, (...)


Excertos de comentários ao último poste da série, organizados por ordem lógica e  cronológica (*)

Veríssimo Ferreira:;

(...) Sobre as fotos, sei mas não digo, para que a rapaziada descubra. Talvez todavia e plagiando se possa dizer para a 1ª "tocam os sinos na torre da igreja". (...)

Henrique Cerqueira:

(...) Quanto ás fotos em busca de legenda: Pois a verdade é que mais uma vez são fotos de grande qualidade e a fortificação que se vê ao fundo tanto pode ser no Alentejo como no Alto Minho. Em fortificações o nosso país é tão rico que de repente eu dou comigo a pensar que nos habituamos tanto a essas belezas arquitetónicas que nem reparamos devidamente nelas.

Bom, mas não serve de desculpa e vê lá se dás uma dicazinha. (...)

Luís Graça:

(...) Obrigado, Veríssimo, obrigado, Henrique...  O Veríssimo, que joga em casa, já descobriu. Não é difícil... A terra tem sido. até agora, uma daquelas de "passagem" onde a gente nunca para(va)... Há agora motivos de sobra para a gente a redescobrir e saborear, com tempo e vagar... Toda ela é amuralhada... E hoje é motivo de orgulho para todos os portugueses., pelo seu pattrimónio edificado...

Sim, a arquitetura militar (no caso do forte...) não é medieval...

Mais dicas para o Henrique: fica naquela parte do país que tem mais de um terço do território (é equivalente à Guiné) e pouco mais de 7% da população...

Não te vou dizer o nome da igreja... Subi à torre sineira, a coxear de uma perna, para tirar estas e outras fotos... Justamente a pensar em camaradas, como tu, que por lá passaram, no tempo da tropa, há manga de tempo...

Henrique, também estás a jogar em casa, que eu sei!... Só me falta dizer o nome da terra, pá! (...)

Manuel Joaquim:

(...) Quanto às fotos, conheço bem o sítio: "Ó El... ó El..., ...oz à vista!" ... A foto dos sinos da Igreja de Nossa Senhora da Assunção (Sé) recorda-me que alguém "cá de casa" foi responsável por obras de conservação e restauro realizadas no seu interior há poucos anos atrás, altura que aproveitei para visitar a cidade. (...)

Henrique Cerqueira:

(...) Luís Graça: É imperdoável da minha parte não ter identificado de imediato a localidade e qual o campanário que utilizaste para tirar as fotos.

É claro que foi na Cidade de Elvas e na Igreja da Nossa Senhora da Assunção.

Na verdade eu estive no BC8 em Elvas e também é verdade que quando lá estive eu via a cidade com outros olhos que não hoje em dia. Passados muitos anos, voltei a Elvas e fui visitar com a família essa igreja e lembro-me de ter subido umas escadas apertadas até ao campanário para admirar as vistas que são maravilhosas.

Também nunca tinha visto a fortificação de Elvas do mesmo modo que a vejo agora e até tive de me socorrer do Google para melhor compreender as imagens.

Bom um grande abraço e continuação das tuas melhoras e espero que quando coxeavas ao subir a torre sineira não nos chamasses muitos nomes feios. (...)

domingo, 23 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12890: Facebook...ando (35): Mais fotos do CISMI, Tavira... Salinas, Ilha de Tavira e depois, em outubro de 1972, BC 8, Elvas, como 1º cabo miliciano (António Alves da Cruz)


Foto nº 1 >  Tavira, CISMI >   Maio de 1972 >  O instruendo António Alves da  Cruz nas salinas de Tavira



Foto nº 2 >   Tavira, CISMI  > c. maio/junho de 1972 >  "Fim de semana cortado, ilha de Tavira com eles"...



Foto nº 3 >  Tavira, CISMI > c. maio / junho 1972 >  Ilha de Tavira > O instruendo António Alves da Cruz ao centro: "À minha direita, o MachadoL à esquerda, não me recordo o nome"...


Foto nº 4  >  Elvas , BC 8  >  Outubro de 1972 > Findo o 2º ciclo do CSM, o 1º cabo miliciano António Alves da Cruz foi dar instrução a recrutas... Em março de 1973,parte para a Guiné.

Fotos do António Alves da Cruz publicados na página do Facebook da Tabanaca Grande.


1. Continuamos sem saber a undidade a que o nosso camaradas pertenceu no CTIG... E aguardamos a sua resposta ao nosso convite para integrar, de pleno direito, o nosso blogue, embora ele já seja "nosso amigo" no Facebook... Sabemos que o nosso camarada António Alves da Cruz trabalha ana Autoeuropa.

Convirá esclarecer que ser "amigo no Facebook" não dá direito automático a ver o nome inscrito, como camarada da Guiné na lista, de A a Z, dos membros do blogue...As regras que continuam, aqui, em vigor, são: pedido de ingresso, com envio de 2 fotos tipo passe (um antiga e outra atual)  + 1 história...



Fotos (e legendas): © António Alves da Cruz (2014) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: LG]

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Nota do editor:

Último poste da série> 18 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12853: Facebok...ando (34): I want you, António Alves da Cruz!... Conta-nos a tua história, das salinas tavirenses (CISMI, 1972) às picadas de Buba-Aldeia Formosa (CTIG, 1973/74)...

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10734: Memória dos lugares (197): Elvas, património mundial da humanidade - Forte de Nossa Senhora da Graça (ou Forte Lippe) - A barrilada (António José P. da Costa)


Vista Aérea do Forte de Nossa Senhora da Graça ou Forte Lippe
Foto: Curiosidades e Notícias de Elvas, com a devida vénia


1. Mensagem do nosso camarada António José Pereira da Costa (Coronel de Art.ª Ref, ex-Alferes de Art.ª na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69 e ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74), com data de 23 de Novembro de 2012:

Camaradas
Aqui vai uma foto da chamada "Barrilada".

Segundo me foi dito esta foto foi feita com "máquina oculta" entre as pernas do fotógrafo, um cabo enfermeiro, cujo nome não me disseram.
Ao que parece existem 4 fotos deste tipo, estando, pelo menos uma, na posse de uma loja de fotografia que há em Elvas.

O Forte não tinha água canalizada e estava colocado num sítio para onde era difícil transportá-la. Assim, os reclusos tinham de ir à fonte que fica já em terreno plano e transportá-la [, a água,]em barris meio-cheios que, embora pesando menos, eram mais difíceis de transportar por desequilibrarem o aguadeiro. Há quem comece a dizer que não foi assim, mas as "fotos" não mentem (como as cartas das bruxas).

Esta prática terminou ou quando o Gen Barrento (pai) era comandante da RMS (1967/68?) ou já em 1972 por iniciativa do elvense Cor Inf Amândio de Oliveira e Silva. Poderá ser também contactado o 1º Sgt Ref Amílcar Rosa Neves, residente na área.

O Museu Militar de Elvas tem um livrinho sobre este Forte. Este Forte era regido, enquanto prisão, pelo Decreto 24DEC896 (OE n.º 29 de 30DEC896) e Portaria 15832 de 18MAI955 (OE n.º 6 de 1955). Ignoro se há mais legislação.

Neste Forte estiveram presos dois fugitivos do caso da Praia do Guincho (Revolta da Sé): o cap Almeida Santos e o asp mil médico (João Jacques?) que fugiram com o auxílio do cabo da guarda (António Gil) no carro da amante do cap Maria José.

Seria boa ideia contactar o Museu Militar de Elvas e a Direcção de Infra-estruturas do Exército que tem mapas sobre as fortificações de Elvas.

Um Ab.
António José Pereira da Costa


"Barrilada"
Foto: Autor desconhecido
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Notas de CV:

(*) Vd. poste (e comentários) de 11 DE NOVEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10649: Memória dos lugares (195): Elvas, património mundial da humanidade, pelo seu conjunto de fortificações, o maior do mundo na tipologia de fortificações abaluartadas terrestres

Vd. último poste da série de 23 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10713: Memória dos lugares (196): Bolama, Agosto de 1966 (José António Viegas)

domingo, 11 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10649: Memória dos lugares (195): Elvas, património mundial da humanidade, pelo seu conjunto de fortificações, o maior do mundo na tipologia de fortificações abaluartadas terrestres



1. Mensagem de Fernando Laureano, autor do blogue Elvas Militar, com data de 25 de julho último, dirigida ao nosso grã-tabanqueiro Hilário Peixeiro:


Exmo Srº Coronel Hilário Peixeiro

Iniciei recentemente um Blogue (http://elvasmilitar.blogspot.pt/) onde tento abordar temas sobre as Unidade Militares e os militares que estiveram nas fileiras em Elvas.

Infelizmente tenho-me deparado com poucas coisas sobre este tema, assim venho solicitar o favor (se assim o entender) que me facilite documentos, fotos e mesmos histórias por si vividas que possam fazer parte deste blogue.

Através de pesquisas no sitio (http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/) descobri que o senhor esteve em vários Quarteés em Elvas, venho pedir, alguns dos documentos acima referidos, mas mais importante de tudo são as suas histórias sobre o quartel.

Grato pela atenção dispensada
Atentamente

Fernando Laureano


2. Comentário de L.G.:


Fernando Laureano  vive em Lisboa e acompanha o nosso blogue. Natural de Elvas, tem  44 anos. De acordo com a sua apresentação, o seu pai foi militar em quase todas as Unidades de Elvas pelo que "passei muito tempo a brincar nesses quartéis quando era miúdo" e, mais tarde,  "estive no Regimento de Infantaria de Elvas como militar".

Recorde-se, por outro lado,  que Elvas possui um notável conjunto de fortificações cuja fundação remonta ao reinado de D. Sancho II, sendo considerado o maior do mundo na tipologia de fortificações abaluartadas terrestres. Possui um perímetro de oito a dez quilómetros e uma área de 300 hectares.

Este conjunto arquitetónico militar foi justamente classificado, em 30 de junho passado, como Património Mundial, na categoria de bens culturais, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). Aliás, foram classificadas todas as fortificações da cidade, os dois fortes, o de Santa Luzia, do século XVII, e o da Graça, do século XVIII, três fortins do século XIX, as três muralhas medievais e a muralha do século XVII, além do Aqueduto da Amoreira.
 
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Nota do editor:

Último poste da série > 30 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10596: Memória dos lugares (194): Ilhavo, Costa Nova... a terra do meu amigo e irmão mais velho e, porque não ?, meu camarada, o arquitecto Zé António Paradela, que hoje celebra 3/4 de século de existência, antigo marinheiro da pesca do bacalhau, último representante de um povo que tem o mar no ADN!... (Luís Graça)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 – P5678: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (34): O turra branco "Capitão G3" (Mário G R Pinto)

1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 34ª mensagem, em 17 de Janeiro de 2010:
Camaradas,

Eu não perfilo com desertores, mas a lenda, o carisma sentimental e o infortúnio do fuzileiro de que vos vou falar, fez-me pesquisar a estória da sua vida e trazê-la ao nosso convívio, por achar de interesse geral.

O TURRA BRANCO CAPITÃO G3

António Tavares Trindade era um rapaz simples, filho da cidade de Lisboa, onde cresceu e aprendeu a viver. Ficou órfão de pai na adolescência, ainda bastante novo.

Sua mãe, ainda jovem, veio a casar em segundas núpcias com um indivíduo, que o veio a marcar negativamente para o resto da sua vida, pois pertencia à mórbida organização da PIDE.

Aos 17 anos, desagradado com o seu padrasto, começou a ver a sua vida a complicar-se, plena de hostilidade em casa e, revoltado, resolveu ingressar na Marinha como voluntário.

Nesta altura, inicio do ano 1962, a guerra em Angola estava no auge e a necessidade de tropas para o Ultramar fez com que o recém marujo incorporado fosse direitinho parar aos fuzileiros.

A dura recruta e a cultura castrense, que se vivia naquela altura em todas as unidades militares, não contribuíram em nada para melhorar o carácter do jovem fuzileiro. Apenas com 18 anos e acabada a sua formação militar, foi enviado para a Guiné e despejado num teatro de guerra, que não lhe despertava qualquer sentimento em particular.

Órfão de afectos e desiludido com a vida, que tinha sido compelido a escolher, não o satisfazia de modo algum. As ligações com a sua mãe eram dificultadas pelo seu padrasto, com quem se não dava de modo nenhum e cada vez odiava mais. A PIDE, organização a que, como já disse, o seu padrasto pertencia, era outra espinha no seu coração.

É, nessa altura, que conhece a sua femme fatale, que o ajuda a transformar a sua vida num autêntico inferno.  Nas suas andanças pela cidade de Bissau e pelos seus bares, onde eram férteis as meninas da vida nocturna, veio a conhecer uma brasa por quem se embeiçou. Segundo rezam as crónicas da época, era mesmo uma bonita mulher.

A femme fatale fazia parte da organização do PAIGC e, tendo descoberto a tristeza e o descontentamento do fuzileiro, decidiu convencê-lo a desertar para o outro lado, o que ele acabou por fazer, mais tarde, após uma discussão com um superior.

O fuzileiro Lisboa - António Tavares Trindade - o G3, como era conhecido pelos seus camaradas da altura, era um exímio artista com o LGF (Lança Granadas Foguete), que disparava com muita precisão.

Há quem afirme que o PAIGC, ao ter conhecimento desta destreza do Lisboa, o fez instrutor de RPG 2, para ensinar os seus guerrilheiros, vindo a ser baptizado por Capitão G3.
A Frente Patriótica Nacional, em Argélia, mantinha uma estreita ligação com os movimentos de libertação das colónias, nomeadamente com o PAIGC.

Na sua luta contra o Salazarismo absorvia no seu seio todos os dissidentes do regime, e é neste contexto que o PAIGC em 1964 entrega em Argel 5 desertores do nosso exército, onde o Capitão G3 ia integrado.

Em 1965, o governo de Argel entra em desavenças com a FPN e prende 16 dos seus membros onde se encontrava o G3.

Os mesmos são libertados após o golpe de estado que, nesse mesmo ano, derrubou Ben Bella. O G3 saiu então livre da Argélia, atravessando Marrocos, com destino a Espanha.

Posteriormente, tornou-se combatente anti-fascista, apoiando a candidatura do General Humberto Delgado (foto ao lado), tornando-se seu segurança pessoal até à sua morte.

Na clandestinidade viveu até 1968, altura que foi preso pela PIDE, por denúncia do seu padrasto, quando visitou sua mãe doente,  internada no hospital.

Foi torturado violentamente pelos seus carcereiros, nos calaboiços da polícia política do regime, que não lhe perdoaram a sua deserção da CF3 na Guiné, a colaboração prestada ao PAIGC, bem como as posteriores ligações á FNP e, pior ainda, a sua ligação ao PCP (Partido Comunista Português), a que aderira entretanto.

Como desertor foi julgado pelo tribunal da Marinha e cumpriu a sua pena no Forte de Elvas.

Posto em liberdade, depois da pena cumprida, teve de regressar ao Corpo Fuzileiros. Marginalizado e perseguido, por uns e por outros, arrastou-se penosamente pelos quartéis até cumprir o tempo de serviço na Marinha, que lhe faltava.

Na vida civil, empregou-se na CUF/QUIMIGAL do Barreiro, onde fixou residência depois de casar no Lavradio.

Nunca deixou de ser militante do PCP/Barreiro, pelo que era frequentemente preso pela ex-PIDE, que passou a designar-se, naquela época, por DGS (Direcção Geral de Segurança).

Depois do 25 de Abril, era membro destacado do PCP/Barreiro. Nos anos 1975 a 77 formou a célula do seu partido no Lavradio, após ter frequentado em Moscovo, por ordem do Partido, a formação em política apropriada.

Hoje, pouco mais se sabe do Capitão G3, apenas que frequenta esporadicamente a Sede da Associação dos Fuzileiros, no Barreiro.

Nota final: Todos estes dados recolhidos foram pesquisados na NET em, http://companhia2fz.blogspot.com/search?q=Ant%C3%B3nio+Tavares+Trindade e junto de camaradas de armas do G3, residentes no Lavradio.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art
Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

17 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 – P5669: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (33): Até os babuínos eram contra nós (Mário G R Pinto)