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sábado, 29 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4879: Gavetas da Memória (Carlos Geraldes) (5): A CART 676 chega a Pirada

1. Neste episódio de Gavetas da Memória de autoria de Carlos Geraldes, ex-Alf Mil da CART 676, Pirada, Bajocunda e Paúnca, 1964/66, assiste-se à chegada da 676 a Pirada.


Guiné-Bissau, Out64
A CART 676 chega a Pirada


Após os primeiros 5 meses de permanência em Bissau, onde a CART 676 se desdobrou nas mais variadas missões: patrulhamentos de rotina nos arredores da capital, serviço de manutenção do aquartelamento do Batalhão 600, e principalmente ter desempenhado papel importante (extenuante e perigoso) em cinco grandes operações mandadas executar pelos altos comandos militares, a norte e a sul de Bissau, nas primeiras tentativas para combater uma ameaça que já se adivinhava muito séria, finalmente a Companhia foi enviada para uma missão de quadrícula, isto é, foi ocupar uma determinada zona a nordeste do território, junto à fronteira com o Senegal, para reforçar o policiamento de uma área que se temia passar a ser, a breve trecho, campo de acção privilegiada do inimigo.
Felizmente isso não se veio logo a confirmar e, pode-se dizer que a CART 676 passou aí umas boas e merecidas férias.

Até à nossa chegada, Pirada, Bajocunda e Paúnca, estavam entregues a pelotões de soldados nativos, comandados por alferes e furriéis brancos que coitados pareciam mais uns pobres náufragos famintos quando nos vieram receber de braços abertos, felizes por verem de novo gente igual a eles. Entregues a uma inércia embrutecedora, estavam à beira, com certeza, de um qualquer colapso físico ou psíquico a avaliar pelas suas caras onde se espelhava uma desmesurada e incontida alegria por verem acabado aquele calvário.

A Companhia não se deslocou toda de uma vez. Primeiro foi o 1.º e o 2.º Grupos de Combate, e mais a secção de Comando e Serviços da própria Companhia. Seguia connosco também o alferes médico para verificar e estabelecer as condições sanitárias do aquartelamento. Enquanto o 1.º Grupo e a secção de Comando e Serviços se dirigia directamente para Pirada, o 2.º Grupo ficou logo em Paúnca onde já tinha instalações mais ou menos adequadas.

Quando entrámos em Pirada tivemos logo uma recepção entusiasta por parte da população que nunca tinham visto tanta tropa junta. Foi uma festa que os soldados quiseram logo aproveitar, abraçando as mais desprevenidas bajudas que lhes caíam nas mãos, de mistura com os restantes elementos da população, para disfarçar…

Um dos comerciantes locais, apareceu logo com um criado que sobraçava um enorme cesto de pão acabado de cozer no forno privativo do seu estabelecimento e, começou a distribuí-lo pelos soldados que o fitavam boquiabertos com a surpresa.

Pirada, naquela época, resumia-se a uma rua de terra batida que tinha a meio uma espécie se praceta, com um pequenino monumento e tudo.
Para a esquerda era o caminho para o aglomerado populacional, as palhotas.
Para a direita o caminho levava a uma pequena pista de aviação. Em cada canto desta praceta, erguiam-se quatro edifícios caiados e com telhados de telha. Eram as casas comerciais, representantes locais de outras sediadas em Bissau. Seguindo sempre em frente chegávamos à fronteira com o Senegal, ali a escassos metros. A meio caminho erguia-se a casa do Chefe de Posto e o edifício do Posto Sanitário, ao lado, um celeiro de mancarra que provisoriamente servia de quartel para um pelotão indígena. Era ali que a Companhia iria residir… 150 homens, mais ou menos, iriam ficar alojados onde anteriormente estavam pouco mais de 30…

O 1.º sargento Machado, velho militar transmontano, já muito batido naquelas andanças de trocas e baldrocas de aquartelamentos, depressa se pôs em campo para avaliar a situação.

Depressa vieram as más notícias. As instalações eram piores do que imaginávamos. As camas existentes estavam impróprias para continuarem a ser utilizadas. As enxergas, se àquilo lhes poderíamos chamar assim, eram autênticos viveiros de percevejos e bicharada. Claro que dei logo ordens para juntar tudo num monte à porta da caserna e chegar-lhe fogo, para nos livrar de tal peste.
(Para meu espanto, passados meses, recebíamos mensagens da Sargentada da Manutenção de Bissau, a exigir a devolução daquelas enxergas! Foi um caso sério para os convencer que não tinha havido outra alternativa senão queimá-las)

Instalações sanitárias não havia, nem cozinha, digna desse nome. Era tudo improvisado, à preto que, coitados lá se amanhavam com o pouquíssimo que lhes davam. Nem conseguíamos imaginar como tinham conseguido aguentar até ali. O alferes e o furriel que lá fomos encontrar com a farda em farrapos, responsáveis por aquela tropa fandanga, embaraçados, coçavam a cabeça. O que quiseram foi entregar-nos, o mais depressa possível, os pobres pertences que possuíam e, rapidamente desapareceram da nossa vista, estrada fora a caminho do Gabú.

Desanimados, mas ao mesmo tempo alegres por terem chegado até ali, sãos e salvos e, esperançados de que o amanhã seria melhor, os soldados deitaram mãos ao trabalho e, embora tivessem que dormir no chão, naquelas primeiras noites, a caserna ficou com melhores condições de conforto e higiene.
Para alojar os sargentos e os oficiais também se arranjou solução. O nosso amigo comerciante que tinha encabeçado a recepção às tropas recém-chegadas, também já tinha pensado nisso.

Como de propósito tinha mandado arranjar uma casa, situada nas traseiras de um dos estabelecimentos comerciais que, chegava para albergar os dois oficiais e alguns dos furriéis. Os que não couberam, foram alojados pelo Chefe de Posto, o senhor Barbosa, um simpático velhote que vivia sozinho e ansiava por companhia. A casa que ocupava era demasiado grande para ele e de certo modo até ficava mais resguardado a dormir debaixo do mesmo tecto que a tropa.

Ao fim da tarde do dia da chegada, tudo tinha ficado mais ou menos tratado.
Depois de um retemperador banho de bidão e de um opíparo jantar para os oficiais e sargentos, em casa do nosso anfitrião, o nosso futuro anjo da guarda, Mário Rodrigues Soares era assim que ele se chamava, sentíamo-nos num paraíso até aí inimaginável.

Passados mais de quarenta anos recordo ainda como se fosse ontem.
Viana do Castelo, Agosto de 2009
Carlos Geraldes

Pirada > Cozinha improvisada

Pirada > Os primeiros chuveiros dos Soldados

Pirada, 01DEZ64 > Eu, Cap Seco, Alf Correia e o professor António Óscar Baldé

Pirada, AGO65 > Cap Barão da Cunha, Cap Tadeu, Alf Médico Duarte e eu
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 26 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4865: Gavetas da Memória (Carlos Adrião Geraldes) (4): Abel, o nosso Cabo Maqueiro

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4865: Gavetas da Memória (Carlos Adrião Geraldes) (4): Abel, o nosso Cabo Maqueiro

Mais um episódio de Gavetas da Memória de autoria de Carlos Geraldes, ex-Alf Mil da CART 676, Pirada, Bajocunda e Paúnca, 1964/66.


O cabo maqueiro

Naquele dia a manhã corria monótona e sempre igual às de tantos outros dias. Apenas o cozinheiro e o ajudante andavam de um lado para o outro atarefados com a preparação do almoço. O aquartelamento parecia deserto. As duas viaturas, o jeep e o velho Unimog, jaziam adormecidas arrumadas a um canto do telheiro de chapas de zinco. Reinava um silêncio pesado como a chapa de ouro do sol que tudo cobria.

Ainda era cedo para ir buscar água à bolanha e os soldados escondiam-se por aqui e por ali, onde houvesse uma sombra, a jogar às cartas, a dormitar ou a deambular pela aldeia, entrando nalguma casa comercial onde sempre apareciam novidades ou alguma bajuda jeitosa e sorridente para meter conversa de meia pataca.

O malandro do Furriel Coutinho também já se tinha desenfiado a pretexto de ir verificar a cerca de arame farpado lá para os lados do caminho que ia dar à pista de aviação e ninguém mais soube dele.

Dos outros dois furriéis, um estava de cama com paludismo e o restante fazia-lhe uma carinhosa (?) companhia. (Sempre suspeitámos que aquela amizade era talvez mais do que apenas isso. Pelo menos da fama não se livravam, embora o assunto nem fosse assim muito escandaloso e curiosamente bem tolerado naquele aglomerado de homens isolados do resto do mundo).

De modo que, como acontecia quase sempre, sem ter nada que fazer, nem nada com que me entreter, fui até a enfermaria ver o que é que o cabo maqueiro tinha por lá de novo.

O nosso cabo maqueiro, que aqui fazia as vezes de enfermeiro, era um rapaz muito metódico, alegre e falador. A sua presença era sempre motivo de divertimento para os colegas e de um fascínio estranho para os nativos que a ele recorriam para a possível cura das mais diversas maleitas. A todos atendia prontamente com a mesma coragem e tenacidade, quer se tratasse de curar uma dor de cabeça, como cozer um braço rasgado pela poderosa dentada da mandíbula de um burro enraivecido.

A enfermaria, pomposamente assim designada não passava de uma pequena divisão nas traseiras do refeitório dos soldados, onde mal cabia uma mesa, duas cadeiras e uma cama de ferro a servir de marquesa para os ocasionais pacientes que tanto podiam ser os militares do destacamento como os inúmeros civis que todas as manhãs, mulheres sobretudo, faziam fila com os filhos ao colo ou a reboque pela mão, na esperança de serem curados pelo doutor da tropa.

Lembro-me que uma vez, quando na companhia do Chefe de Posto de Pirada, o senhor Barbosa, um simpático velhote com tantos anos de África que mais parecia africano, fazíamos uma ronda pelas tabancas ao sul de Pirada, surgiram umas mulheres que, a chorar, lhe pediam que fosse acudir a um pobre velho que estava prestes a morrer pois já nem se mexia.

O nosso cabo lá pegou no saco dos medicamentos que trazia sempre consigo e resignado, mas sempre galhofando, dirigiu-se com as mulheres para o meio de uma das palhotas mais afastadas, enquanto eu e o Miguel, o condutor do jeep, ficávamos rodeados pela população que se ia aglomerando diante do nosso grupo composto também pelo imponente régulo da aldeia e pelo chefe de Posto, o velho e pacífico Barbosa.

Entretanto tentávamos perceber e deslindar a teia de peripécias e complicações inevitáveis sempre que o chefe de Posto queria proceder a mais um recenseamento dos jovens nativos desta região, pois como sempre, quase ninguém sabia a verdadeira idade que tinha. Regulam-se pelas fases da Lua, pelas colheitas e outros marcos que balizavam as suas vidas e não pelo nosso calendário, claro está. O velho Barbosa pacientemente, com a cabeça apoiada numa das mãos lá ia paulatinamente preenchendo os extensos mapas que a Administração lhe mandava e, que na verdade, só ele entendia.

Mal tínhamos chegado à tabanca, logo tinham aparecido cadeiras e bancos para todos, bem como uma tosca mesa que serviria de secretária. A miudagem, curiosa e irrequieta, espreitava morrendo de curiosidade por nos tocar, fugindo espavoridos quando esboçávamos a mais pequena intenção de os agarrar.

Os nitidamente mais velhos, adolescentes quase adultos, comprimiam-se receosos, num dos cantos do largo principal da aldeia, pois bem sabiam que a nossa presença só lhes poderia dizer respeito. A Administração todos os anos vinha arrebanhar os jovens que estivessem mais ou menos na idade do serviço militar e isso para eles era uma verdadeira tragédia a que no entanto se submetiam resignadamente. O branco é que mandava e o preto tinha apenas que obedecer.

Mas voltemos ao nosso cabo maqueiro, que por sinal tinha o nome de Abel Preto. O que ocasionava situações caricatas quando chamávamos por ele, usando o último nome e ele se encontrava, como de costume, na sua função, rodeados por nativos que, inocentemente, não se apercebiam que estávamos apenas a gozar com a cara deles.

Eis senão quando, surge o nosso cabo maqueiro rodeado por uma pequena multidão de mulheres velhas e novas que o traziam quase ao colo com demonstrações de grande regozijo e veneração, dançando e cantando, saudando-o efusivamente como a um milagroso homem santo. Mais atrás vinha uma jovem amparando um velhote sorridente que muito desembaraçadamente gesticulava e falava sem cessar.

O que tinha acontecido?

Muito simplesmente isto: perante um suposto enigma médico, para ele e para os seus escassíssimos conhecimentos de medicina, o nosso cabo maqueiro, optou por usar todos os medicamentos que tinha que nem eram assim tantos, resumiam-se a umas aspirinas e pomadas para alguma dor ou entorse. Podiam não ser totalmente eficazes mas mal também não fariam. Depois de despir o velhote aplicou-lhe uma valente esfrega de pomada analgésica pelas costas de cima a baixo, deixando o doente mais bem barrado que um frango pronto a entrar no forno. A seguir aplicou-lhe duas aspirinas pela goela abaixo com uma pouca de água. E, ou porque o remédio era mesmo bom, ou por que o paciente nunca tinha tido contacto com as medicinas dos brancos e estava portanto cem por cento receptivo a essas panaceias, o que de facto sucedeu é que ao fim de poucos minutos começava a dar sinais de já se poder mexer e em pouco menos de meia hora levantou-se são como um pêro, beijando as mãos do seu benfeitor, para grande espanto dele e, também de todos os assistentes, que logo ali o consideraram um verdadeiro homem santo.

A notícia espalhou-se num abrir e fechar de olhos e de todos os lados acorria gente para testemunhar a maravilha e querer também beneficiar dos milagrosos dons curativos daquele doutor que tinha vindo com a tropa. E todos traziam algo para lhe oferecer, ovos, laranjas, mandioca, nozes de cola e até galinhas vivas, pois tamanha benesse teria de ser recompensada.

Naquele fim de tarde o bom do nosso maqueiro quase que viu esgotar-se o stock de medicamentos que tinha improvisado quando lhe disse para vir comigo naquele passeio de acção psicológica para cairmos no agrado das populações.

Nos restantes dias viu-se aflito para poder contentar toda a clientela que não o largava em qualquer tabanca onde aparecêssemos.

Ganhou uma reputação tal que, creio ter posto em perigo a continuidade dos curandeiros de aldeia que, não acharam graça nenhuma a tais acontecimentos.
E nós, os que assistíamos a mais uma das prodigiosas façanhas do nosso bom cabo maqueiro apenas tivemos que paulatinamente ir dando vazão aquelas provisões que surgiam de todos os lados e que já não cabiam no jeep da Administração.


Durante vários dias os nossos pequenos-almoços foram ovos cozidos e laranjas! E para o almoço ou jantar, frango de churrasco!

Planta de Pirada

Pirada > Primeira cozinha

O bom do senhor Barbosa, Chefe de Posto de Pirada na intrincada tarefa de fazer o recenseamento civil

Recenseamento civil no regulado de Propana. O Régulo Serifo Embaló, o Chefe de Posto de Pirada, senhor Barbosa e eu, Alferes Geraldes, como convidado
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4843: Gavetas da Memória (Carlos Adrião Geraldes) (3): Os Cipaios

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4843: Gavetas da Memória (Carlos Adrião Geraldes) (3): Os Cipaios



1. Terceira história tirada das "Gavetas da Memória" de Carlos Geraldes, ex-Alf Mil da CART 676, Pirada, Bajocunda e Paúnca, 1964/66





Os cipaios

Daí em diante, sempre que surgiam problemas das mais diferentes espécies, entre os habitantes da tabanca, vinham ter com o alfero esperando por uma solução, qual decisão milagrosa que só ele poderia encontrar.

De uma vez era um jovem soldado da milícia nativa que, aflito com as pretensões do futuro sogro, que exigia um número exagerado de vacas pela mão da filha, vinha pedir socorro ao seu chefe militar, pois em desespero de causa estava até decidido a fugir com a noiva, pondo em perigo o futuro tranquilo que gostaria de vir a ter na companhia do seu amor. Enquanto o alvoroçado sogro apelava para que eu fizesse cumprir a tradição e a lei dos antepassados, o jovem argumentava que os tempos agora eram outros. Que o amor nestes novos tempos era diferente e em tudo mandava, muito acima dos interesses materialistas. Que os casamentos combinados foram sempre um tormento para a verdadeira felicidade dos jovens casais que se queriam casar por amor.

A noiva, muito envergonhada, assistia a tudo de longe, nitidamente com medo que o pai a viesse arrebanhar dos braços do seu amado, revoltada também por se sentir tratada como uma mercadoria.
Eram os sinais da modernidade que também por ali, estavam chegando, em parte devido também ao nosso aparecimento por estas terras, abalando as ancestrais tradições, rasgando horizontes até agora nunca descortinados.

E o nosso alfero, arvorado em Salomão das tabancas, tinha que os aturar com toda a calma, tentando com uma escassa sabedoria não os desapontar, ditando leis que nem ele sabia se teriam qualquer veracidade ou validade. Mas quando notava que a incredulidade e a inquietação lhes assaltavam as feições, duas ou três palavras bem-soantes num tom o mais inapelável possível, punha uma pedra sobre o assunto. O sogro ficava com a promessa mais ou menos certa que o genro lhe pagaria o melhor que pudesse pela princesa que levava para o leito e, o nosso noivo aliviado por o fardo pré-nupcial não lhe vir a ficar muito pesado, sorria mais satisfeito.

Pirada > Binta Sulé > Não será a noiva desta história, mas podia ser

Mas por vezes surgiam também questões mais complicadas, resultantes certamente de um passado vivido na incompreensão e na crueldade colonialista.

No centro da aldeia, junto das casas comerciais, construídas de pedra e cal com telhados de telha importada da metrópole, existiam também as acomodações de um posto de polícia civil, constituída por dois cipaios.
Estes foram sempre a presença odiada da autoridade civil que, agora, com a chegada da tropa originava que a autoridade exercida sobre as populações nativas se fosse esbatendo. Por isso os cipaios, de vez em quando tinham acessos de brutalidade gratuita, só para fazer lembrar que era eles a que deviam obediência.

Numa dessas ocasiões deram-se mal, pois os habitantes da aldeia, sentindo que o alfero não deixaria de lhes dar razão, correram ao aquartelamento a denunciar mais uma brutalidade cometida por eles que, pelos vistos mais de uma vez, e num acto de pura arbitrariedade e estupidez, teriam espancado um jovem.

No meio da noite, já tinha passado a hora do jantar, Iaia o jovem mais culto da aldeia, acompanhado por mais dois velhotes, chegou-se à porta do aquartelamento e pediu à sentinela para falar com o alfero.

Como eram pessoas bem conhecidas, foram logo levados à minha presença.

Com alguma emoção explicaram-me que os cipaios, indivíduos odiados por todos (até porque pertenciam a uma outra etnia, eram balantas), andavam a conspirar na sombra contra mim, tentando tudo por tudo para me desacreditar, falando mal de mim e ameaçando tudo e todos, afirmando que só a eles é que deveriam continuar obedecer como sempre o tinham feito até ali. Como que a fazer prova disso tinham ido à tabanca prender um pobre diabo e levaram-no para o posto onde lhe aplicaram umas palmatoadas valentes, por um motivo fútil qualquer que, eu na ocasião já a ferver na ânsia de fazer justiça, nem ouvi bem qual tinha sido.

Naquela altura, como era já tacitamente aceite que o nosso domínio territorial tanto a nível administrativo como a todos os outros níveis deveria ser incontestável, não seriam uns simples cipaios que o iriam beliscar. Portanto teria mesmo que tomar medidas e ao mesmo tempo aproveitar para fazer justiça pelas minhas próprias mãos, para fortalecer a minha imagem, impor a minha autoridade, dar realidade a um mito de justiça que finalmente estava chegando por aquelas bandas.

Mandei chamar o Antunes, o meu furriel mais enérgico, e com ele e alguns dos seus homens, armados até aos dentes, marchámos para o centro do povoado, rodeados por uma verdadeira multidão de nativos ansiosos por saber qual seria a minha atitude. A notícia de que algo insólito estava para acontecer espalhou-se rapidamente.

Chegados diante da casa dos cipaios, chamei por eles com altos berros bem autoritários. Lentamente os facínoras foram aparecendo um a um diante de toda aquela gente como se os tivesse arrancado da cama, ainda estremunhados.

Rapidamente e com um tom de voz o mais assustador possível, adverti-os que dali em diante não lhes seria reconhecida qualquer autoridade sobre a população civil. Ai deles se me chegasse aos ouvidos qualquer desobediência nesse sentido. Que ficasse bem claro que a partir do dia em que a tropa tinha ali chegado, só ela ditaria as leis sobre toda a aldeia. Eles passaram a não ter qualquer poder ou autoridade sobre a população.

- Agora só tropa é qui na manda! – sentenciei eu bem alto em dialecto crioulo, para que todos me pudessem entender.

No meio de uma algazarra tremenda pouco faltou para que toda aquela gente que os rodeava, não os linchasse logo, fazendo-se vingar por décadas e décadas de humilhação e crueldade gratuita.

De cabeça baixa aqueles dois membros da polícia civil, tão odiada e temida, não eram mais que duas feras acossadas e mortalmente assustadas perante um perigo que nunca suspeitaram poder vir a enfrentar algum dia. Como dois verdadeiros brutamontes nem souberam sequer responder, e mirando-me com uns olhos cheios de ódio, fecharam-se cautelosamente no tugúrio que lhes servia de abrigo.

Soube no dia seguinte que tinham abalado bem cedo. Nunca mais os tornei a ver. Só alguns meses depois é que o Comandante da Companhia me perguntou se alguma vez eu tivera tido problemas com os cipaios, por causa de uma conversa que ouvira em Bafatá.

Parece que os poderes estavam definitivamente a tombar para uma predominância clara e absoluta do poder militar sobre o poder civil, tal o grau de empenhamento a que esta guerra estava a conduzir a força militar presente na região.

Quanto a problemas domésticos do foro administrativo civil nunca me constou que tivessem havido, pelo menos durante o meu reinado. Mas o mais natural é que os nativos os tenham sabido resolver, como sempre o fizeram ao longo de tantas e tantas gerações de gente livre, sem precisarem do homem branco para nada.
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Nota de CV:

Vd. Último poste da série de 16 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4827: Gavetas da Memória (Carlos Adrião Geraldes) (2): A jibóia

domingo, 16 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4827: Gavetas da Memória (Carlos Adrião Geraldes) (2): A jibóia

1. Segunda história da série "Gavetas da Memória" de Carlos Geraldes, ex-Alf Mil da CART 676, Bissau, Pirada, Bajocunda e Paúnca, 1964/66



Gavetas da Memória

A Jibóia


Ainda não há muito tempo, principalmente em dias de feira, era frequente aparecerem, pela cidade, vendedores ambulantes da famosa banha da cobra.

Munidos de uma modestíssima mala de cartão que arrumavam num canto do pequeno recinto que escolhiam para palco da sua actuação, aqueles verdadeiros mestres da arte da oratória, iniciavam quase sempre o discurso, por uma alusão a um qualquer acontecimento trivial, uma pequena observação, uma pilhéria ou até um simples piropo, algo que num repente prendesse a atenção dos passantes.

Então o nosso homem, quando se sentia observado, começava a palestra científica sobre as virtudes de um remédio milagroso de que só ele era portador e que, num gesto de pura abnegação e amor ao próximo, sentia ser sua a missão de não deixar de o proporcionar àqueles que o quisessem conhecer, desvendando um antigo segredo esquecido pela ciência moderna, mas que nas profundezas mais longínquas das matas mais obscuras da selva africana, a sua gordura era, desde os tempos mais remotos, aproveitada para a confecção de um extraordinário medicamento que tinha o maior poder curativo de que há memória em todo o mundo: a famosa banha da cobra ou mais precisamente: da jibóia, esse animal que por alguma razão era tão falado na Bíblia, simbolizando a ciência do Universo.

Ali mesmo, naquela maleta, dizia ele em tom dramático, tinha uma, bem grande, para mostrar ao excelentíssimo público, para que todos a pudessem ver e certificarem-se como era um animal manso, inofensivo, infelizmente alvo de tantas superstições e perseguições, mas que a mais moderna investigação científica provara ser uma fonte inesgotável de benefícios para o homem.

Entretanto, quando estava mesmo na eminência de abrir a dita mala, lembrava-se de qualquer outra coisa importante de que se tinha esquecido, ou fingia distrair-se com um aparte do público ou com a chegada de mais um transeunte, que não tinha obviamente ouvido a sua demonstração, e recomeçava novamente o discurso desde o início, adiando sempre Sine Die o momento da dita revelação, em que finalmente veríamos o tão impressionante e famoso bicho. Deixando a mala sempre por abrir, aumentava assim, muito habilmente, a tensão que se criava entre os já inúmeros espectadores ansiosos por verem a famosa jibóia e engrossando também o número de possíveis compradores, claro está.

Escusado será dizer que em nenhuma ocasião cheguei a ver a tal jibóia, se é que ela alguma vez existiu de facto. Apenas me foi dado vislumbrar as latinhas do maravilhoso unguento que ele rapidamente fazia correr de mão em mão pela assistência, acabando sempre por haver bastantes compradores, proporcionando-lhe um bom negócio mais uma vez. Era uma simples pomada à base de vaselina e menta, que refrescava a pele e deva uma sensação de alívio em quase todas as situações. Idêntica à que hoje se pode encontrar nas lojas dos chineses, com o pomposo título de pomada feita de pó de dente ou garra, sei lá, de tigre.

Dantes, era tudo tão fácil, tão simples e tão ingénuo… tal como ainda agora, não será?

Mesquita de Paúnca

Foto: © Carlos Geraldes (2009). Direitos reservados


Mas foi em África, numa manhã de sol intenso, em plena estação seca, que finalmente vi uma verdadeira jibóia. Felizmente já estava morta, ali esticada a meus pés, onde um grupo de destemidos rapazes da aldeia a tinha colocado como se de uma oferenda para a minha pessoa se tratasse.

Surpreso sem saber o que responder naquela situação, tentei perceber o que se tinha passado. Conforme relataram, naquela manhã, quando desbastavam o capim que invadia os campos perto das palhotas, notaram uma agitação estranha nuns cabritos presos ali perto. Deram logo o alarme, pois a experiência dizia-lhes que certamente andava ali cobra por perto. Batendo o capinzal ficaram espavoridos com o tamanho da bicha. Tinha quase três metros de comprimento.

Mas decididos a acabar com tamanha ameaça, munidos de paus e pedras, rodearam-na por rodos os lados e acabaram por matá-la. Depois como não sabiam o que fazer, resolveram que o melhor seria levá-la ao “alfero” para ele a esfolar e ficar com a pele.

- Esfolá-la, eu?

- Sim, sim! - diziam eles todos orgulhosos da façanha.

- O nosso alfero é que sabe! O nosso alfero tem manga de ronco! O nosso alfero tem faca di mato! - diziam apontando repetidamente para uma pequena faca de escuteiro comprada na Metrópole e que, estupidamente, ainda trazia à cinta, enfiada numa bainha de couro. Não me servia para nada, nem para descascar uma manga, pois nunca a tinha afiado como devia ser. Apenas a usava para me ornamentar, para ter ronco, à laia de um qualquer Tarzan de pacotilha, mas que pelos vistos impressionava verdadeiramente os meus súbditos, naquele aldeamento perdido no meio de uma África, longe de figurar nos meus mais adolescentes sonhos de aventuras.

- Bem, pensei eu, que hei-de fazer? - e olhava para todos os lados à espera de encontrar uma solução que me libertasse daquele embaraço. Mas os soldados e os furriéis que já se tinham juntado à nossa volta curiosos com a novidade, sorriam de malandros na expectativa de verem como eu me iria desenrascar daquela situação inesperada e encolhiam os ombros como se não houvesse mais nada a fazer senão satisfazer aquela pretensão dos valentes nativos que além de uma boa recompensa esperavam também ver o que alfero iria fazer com a oferta deles.

- Não posso dar parte de fraco, tenho que fazer das tripas coração… - pensava eu angustiado.

E pela primeira vez, vencendo uma repulsa congénita e o natural receio que todos nós herdámos dos nossos ancestrais antepassados, desde que fomos expulsos do Paraíso, pus a mão numa cobra, numa verdadeira jibóia, animal de dimensões monstruosas, capaz talvez de engolir um boi.

Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 763 (1965/66), Os Lassas > "Foto que me foi concedida pelo Manuel Brita, condutor das Fox, e que esteve em Cufar no tempo do António Graça de Abreu" [1973/74].

Foto (e legenda): © Mário Fitas (2008). Direitos reservados.


Enquanto os mais valentes lhe seguravam na cabeça, comecei então o trabalho de tentar remover a pele ao animal. Foi uma trabalheira danada. O que me valeu é que pelos vistos ali ninguém entendia muito do assunto e a minha notória inexperiência nem foi assim muito evidente.

Até os próprios negros, sempre ingenuamente impressionáveis, comentaram a coragem do nosso alfero que, de faca de mato na mão, enfrentou o inimigo sem qualquer hesitação!

Ao fim de um bom par de horas, lá conseguimos tirar a pele ao bicho, mas de modo tão tosco que, mesmo tendo ficado em salmoura uns poucos de meses, acabou por se estragar e não serviu para nada. Nem para um par de sapatos deu.

E ainda bem, pois dizem que a pele de cobra dá azar.

Só Deus sabe o nojo provocado pelo cheiro que aquela carnificina me deixou nas mãos que, mesmo depois de as esfregar bem esfregadas com sabonete Lifebuoy de alcatrão, ainda assim mantiveram aquele fedor por longo tempo. Felizmente as jibóias não apareceram mais por aquele lugarejo, onde definitivamente não eram bem-vindas, livrando-me também do repugnante cargo de esfolador que, certamente, me estaria destinado dali para a frente.

Mas porque é que me foram escolher a mim? Não haveria na aldeia nenhum nativo que soubesse fazer tal coisa com muito melhor destreza?

Não, o que certamente se passou foi que, simplesmente quiseram honrar-me com o privilégio de ser eu a despojar o bicho da sua pele, um bem de certo modo precioso, como sinónimo de poder, de autoridade. Era importante para eles que eu desse valor à sua oferta e eu mesmo tratasse de preparar o arranque da pele, o que eu, mesmo muito atabalhoadamente consegui fazer, sem dar a entender que tal coisa me repugnava e me era completamente estranha. Fiquei com a impressão que deve ter sido também a primeira vez que lhes foi dado contemplar um branco, um chefe da tropa, a fazer tal trabalho.
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Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 9 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4804: Gavetas da Memória (Carlos Adrião Geraldes) (1): "Os Elefantes"

domingo, 9 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4804: Gavetas da Memória (Carlos Adrião Geraldes) (1): "Os Elefantes"

1. O nosso Camarada Carlos Adrião Geraldes, ex-Alf Mil da CART 676 (Bissau, Pirada, Bajocunda e Paúnca, 1964/66), que se apresentou na nossa tabanca em 6 de Agosto pp, enviou-nos a sua primeira estória, com data de 4 de Agosto de 2009:
Camaradas e Amigos:

Imagino que todos os dias devem receber, montes de estórias, fotografias e documentos vários. Eu só tenho isto e quem dá o que tem a mais não é obrigado. Oportunamente mandarei mais.

Os Elefantes
(Memória de Madina do Boé – Novembro de 1964)

O tempo estava a chegar ao fim. Tínhamos vindo só por uma semana e hoje era a última patrulha.

Amedalai, o guia que o régulo da aldeia nos tinha arranjado, parecia entusiasmado com o caminho que estávamos a percorrer. Falou durante todo o tempo, para nos fazer entender que naquela zona já não estávamos na Guiné, a que estávamos habituados.

Aqui começava uma outra Guiné, pouco povoada, misteriosa. De facto esta região, a Sul do rio Curobal, de Beli até Madina do Boé, era a zona “montanhosa” da Guiné. O chão era diferente, rochoso, erguendo-se, aqui e ali, em suaves ondulações, formando, por vezes, uma colina mais proeminente que nós nos apressávamos a trepar para ganharmos um melhor ponto de observação.

Para lá da fronteira, para onde nos dirigíamos, começava, segundo ele, uma vasta planície ocupada por uma nova espécie de selva, a savana. A lendária savana africana reino das feras e das manadas de todas as raças de bovinos que povoam a África. Terra dos elefantes também.

Em silêncio, como para melhor suportar o calor que gradualmente ia aumentando com o passar das horas da manhã, a coluna de soldados embrenhava-se por caminhos e pistas quase despercebidas no meio da mata, obedecendo às directivas habituais neste género de situações.
A missão consistia apenas em dar uma vista de olhos pela mata, investigar qualquer indício da presença de guerrilheiros. Mas a mata era um labirinto infernal, e o que houvesse de verdadeiramente suspeito, de certeza, não estaria ali para se deixar ver, principalmente pelos nossos olhos.

Hoje faltava ir até ao Sul de Madina do Boé. O mais possível ao Sul, evitando, no entanto, entrar no território vizinho da Rep. da Guiné. Como os mapas de pouco ou nada nos serviriam, a ajuda do guia era indispensável.

- “Meu alfero, hoje, com sorte, vai poder ver elefantes, só daqui se podem ver elefantes na Guiné”, afirmou a certa altura, o nosso guia, como se estivesse numa turística expedição de caça.

- “Tens a certeza?”, indaguei eu, incrédulo, mas ao mesmo tempo, esperançoso de que, finalmente, iria ver aquela África idealizada nos meus sonhos de aventureiro juvenil.

- “Sim, meu alfero, verdade! Eu já vi!”

Mas à medida que nos íamos embrenhando naquela mata cerrada a convicção nas histórias que o guia contava, ia diminuindo. E o Amedalai perante o nosso descrédito ia antecipadamente alinhavando desculpas, com a época das chuvas que este ano ainda não tinha chegado, com as confusões da guerra que mudam tudo, etc., etc.

- “Bichos não quer confusão! Quando soldado chega, eles tudo foge! Mas se houver sorte…” – continuava a afirmar ao mesmo tempo que exibia um amplo sorriso de orelha a orelha.

Quando finalmente chegámos ao minúsculo ribeiro que, naquela zona, faz parte da linha de fronteira que separa a Guiné-Bissau da Guiné-Konakri, um tal rio Capege, tão minúsculo que se ultrapassava com uma pernada mais esticada, a paisagem continuava na mesma. Nada de savana.

Mas Amedalai, subiu a um pequeno morro olhava na direcção de Leste, fixou a vista e dava a perceber que lá ao longe, bem ao longe, já na linha do horizonte onde a selva clareava e parecia esbater-se com o azul quase branco do céu, seria ali a savana.

E aquelas manchas que se moviam na linha do horizonte, como uma miragem, não seriam elefantes?

- “Está a ver, meu alfero? Está a ver?”, gesticulava o bom do guia apontando insistentemente para o interior da outra Guiné, tentando convencer-nos de que, algures, no meio daquela neblina lá bem longe, estariam os famosos elefantes. Ali era a terra deles, dizia.

- “Está bem, pronto! Parece que se vê qualquer coisa!” (Com um bocado de imaginação até lá estariam.)

E depois de darmos uma rápida olhadela em redor, viemos embora.

Quando chegámos ao quartel e pousávamos as mochilas, afirmávamos já, muito convictamente, que até tínhamos visto elefantes (mas muito ao longe, claro)!

- “E, vestígios dos turras viram alguma coisa?”

- “Não, não vimos nada!”

Mas mesmo assim, satisfeitos por mais uma missão cumprida, ala que se faz tarde e, “adeus e até ao meu regresso”, como se costumava dizer.

No dia seguinte pegámos nas trouxas, abandonámos o local, as crianças da escola, o simulacro de aquartelamento e os que, por sorte ou destino, teriam de ficar por lá, mais tempo. Esses, sim, iriam ter muito que contar.

Nós ficámos apenas com a vã glória de termos posto os pés do outro lado da fronteira, na outra Guiné (onde os turras se acoitavam), de termos bebido um pouco da água pura daquele inocente riacho e de termos “visto”, lá bem ao longe, mas muito ao longe, uns vultos de elefantes. Seriam?

Vamos crer que sim, senão esta aventura não teria sentido. Mas, se na verdade, nunca os chegámos a ver, no entanto eles deveriam andar por ali, tal como os guerrilheiros de Amílcar Cabral sempre lá estiveram, aguardando o momento certo.

Porque sem elefantes não há África. Eles são o derradeiro símbolo da força e do espírito de África.

Um grande abraço,
Carlos Geraldes – Viana, Mar.2009
Alf Mil da CART 676

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Notas de M.R.:

(*) Este é o primeiro poste desta série: "Gavetas de Memória".