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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9499: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte IX): pp. 47/54









Reprodução das páginas 47 a 54 (de um total de 74) o relatório da 2ª rep/CC/FAG, publicado em 28 de fevereiro de 1975, e na altura classificado como "Secreto".

Digitalização do documento: Luís Gonçalves Vaz (2012) / Edição das imagens: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2012)


1. Continuação da publicação do relatório da 2ª Rep/CTIG, sobre a situação político-militar em 1974, documento esse que foi digitalizado pelo Luís Gonçalves Vaz, membro da nossa Tabanca Grande [, foto à direita], a partir de um exemplar pertencente ao arquivo pessoal de seu pai, cor cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (1922-2001), último Chefe do Estado-Maior do CTIG (1973/74).


[Foto à esquerda: O então maj cav Henrique Gonçalves Vaz em missão de reconhecimento pelo rio Chiloango, no desempenho das funções de Chefe da Secção de Planeamento e Controle da 4º Repartição do QG de Luanda, com apoio dos Fuzileiros, Angola, Cabinda, 1964].

O presente relatório, datado de 28 de Fevereiro de 1975, é assinado pelo chefe da 2ª Rep do CC/FAG [, Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné, comando unificado criado em 17 de Agosto de 1974], o maj inf Tito José Barroso Capela.


Publica-se hoje o ponto c (Situação interna) da segunda parte do relatório (B. Período de 25Abr74 a 15Out74), pp. 47 a 54: (b) Síntese da atividade da guerrilha: 1. Ações de guerrilha realizadas pelo PAIGC após 25abr74 (pp. 47/52); 2. Ações de controlo às viaturas das NT (p. 52); 3. Ocupação dos aquartelamentos das NT e povoações pelo PAIGC (pp. 52/54).

Relembramos, mais uma vez, a posição de independência dos editores face a documentos político-militares como este. A análise crítica desta documentação (incluindo o rigor da informação factual) compete apenas aos nossos leitores, e muito em particular aos nossos camaradas que conheceram, de perto (,porque estavam lá), o período terminal da guerra.


Índice do relatório [que tem 74 páginas]


A. Período até 25Abr74


1. Situação em 25Abr74

a. Generalidades (pp.1/2)

b. Situação política externa:
(1) PAIGC e organizações internacionais (pp. 2/5)
(2) Países limítrofes (pp. 5/8)
(3) O reconhecimento internacional do “Estado da G/B em 25Abr74 (pp.8/9).

c. Situação interna:

1. Situação militar
(a) Actividade do PAIGC (pp. 10/12)
(b) Síntese da atividade do PAIGC e suas consequências (pp.13/15)
(c) Análise da actividade de guerrilha (pp. 16/18)
(d) Dispositivo geral do PAIGC e objetivos (pp. 18/19)
(e) Potencial de combate do PAIG (pp.19/20)
(f) Possibilidades do PAIGC e evolução provável da situação (p. 21)

2. Situação político-administrativa (pp. 22/24).


B. Período de 25Abr74 a 15Out74

2. Evolução da situação após 25Abr74

a. Generalidades (pp. 25/26)

b. Situação política externa (pp. 26/28)
(1) PAIGC (pp. 29/32)
(2) Organizações internacionais (pp. 32/34)
(3) Países africanos (pp. 34/35)
(4) Outros países (pp. 35/36)

c. Situação interna
(1) Situação militar
(a) Aspetos gerais (pp.37/46)
(b) Síntese da actividade de guerrilha
1. Ações de guerrilha realizadas pelo PAIGC após 25abr74 (pp. 47/52)
2. Ações de controlo às viaturas das NT (p. 52)
3. Ocupação dos aquartelamentos das NT e povoações pelo PAIG (pp. 52/54)

[Continua]

__________________________

Nota do editor:

(*) Restantes postes da série:






4 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9443: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte V): pp. 10/21


31 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9424: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte IV): pp. 1/9


sábado, 11 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9473: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte VII): pp. 25/36

p. 25


p. 26

p. 27

p. 28

p. 29




p. 30




p. 31

p. 32

p. 33


p. 34

p. 35



p. 36

Reprodução das páginas 25 a 36 do relatório da 2ª rep/CC/FAG, publicado em  28 de fevereiro de 1975, e na altura classificado como "Secreto".

Digitalização do documento: Luís Gonçalves Vaz (2012) / Edição das imagens: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2012)


1. Continuação da publicação do relatório da 2ª Rep/CTIG, sobre a situação político-militar em 1974, documento esse que está a ser amavelmente digitalizado pelo Luís Gonçalves Vaz, membro da nossa Tabanca Grande [, foto à direita ], a partir de um exemplar, original,  pertencente ao arquivo pessoal de seu pai, cor cav CEM Henrique Gonçalves Vaz, último Chefe do Estado-Maior do CTIG (1973/74), entretanto falecido em 2001.


A publicação integral foi-nos sugerida pelo nosso colaborador, camarada e amigo José Manuel Dinis, de modo a poder dar a todos os nossos leitores, e em especial aos camaradas que estavam no TO da Guiné nesta época, a oportunidade de confrontarem o seu conhecimento empírico da situação com a descrição e a análise que é feita pela 2ª Rep do Comando-Chefe/FAG.

Esta iniciativa tem tido, em geral, boa aceitação por parte dos nossos leitores que se interessam pelo período terminal da guerra no TO da Guiné, quer lá tenham estado ou não nessa altura. Não implica, naturalmente por parte dos editores de blogue, qualquer tomada de posição a favor ou contra o conteúdo, o rigor, a importância, ou o interesse - do ponto de vista historiográfico - deste documento. 

Recorde-se que o relatório, datado de 28 de Fevereiro de 1975, é assinado pelo chefe da 2ª Rep do CC/FAG [, Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné, comando unificado criado em 17 de Agosto de 1974], o maj inf Tito José Barroso Capela (de quem diz o Luís Vaz ser ainda hoje vivo, com o posto de major general reformado).


Dá-se início hoje à publicação da segunda  parte do relatório (que tem 74 páginas), relativa ao ponto B (Período de 25Abr74 até 15Out74), das pp. 26 a 36.

Índice do relatório


A. Período até 25Abr74
1. Situação em 25Abr74

a. Generalidades (pp.1/2)

b. Situação política externa:
(1) PAIGC e organizações internacionais (pp. 2/5)
(2) Países limítrofes (pp. 5/8)
(3) O reconhecimento internacional do “Estado da G/B em 25Abr74 (pp.8/9).


c. Situação interna:
1. Situação militar.
(a) Actividade do PAIGC (pp. 10/12)
(b) Síntese da atividade do PAIGC e suas consequências (pp.13/15)
(c) Análise da actividade de guerrilha (pp. 16/18)
(d) Dispositivo geral do PAIGC e objetivos (pp. 18/19)
(e) Potencial de combate do PAIG (pp.19/20)
(f) Possibilidades do PAIGC e evolução provável da situação (p. 21)


2. Situação político-administrativa (pp. 22/24).


B. Período de 25Abr74 a 15Out74

2. Evolução da situação após 25Abr74


a. Generalidades (pp. 25/26)
b. Situação política externa (pp. 26/28)
(1) PAIGC (pp. 29/32)
(2) Organizações internacionais (pp. 32/34)
(3) Países africanos (pp. 34/35)
(4) Outros países (pp. 35/36)

[Continua]
_________________
 
Nota do editor:
 
(*) Últimos postes da série:

6 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 – P9…: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte VI): pp. 22/25

4 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9443: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte V): pp. 10/21

31 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9424: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte IV): pp. 1/9

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9432: Estórias avulsas (59): Uma aventura, nas férias de Natal de 1973, aos 17 anos... em Cufar, Rio Cumbijã e Cadique (Pedro Gonçalves Vaz)

1. Mensagem do Luís Gonçalves Vaz, com data de 31 de janeiro último:



Assunto - Estória de mais um filho do último CEM do CTIG  Coronel Henrique Gonçalves Vaz

(...) Consegui autorização para publicar a 'estória' do meu irmão José Pedro, que se encontra no Brasil como Administrador de uma Empresa Portuguesa (é engenheiro mecânico de formação), sobre um dos diversos episódios que viveu na Guiné, nos anos de 1973/74, aquando das visitas que fazia à família, já que se encontrava na Escola Naval, em Lisboa a estudar. Enviou-ma hoje do Brasil. Podem Publicar. (...)



2. História no Ultramar com José Pedro Gonçalves Vaz [, na foto acima, aos 17 anos, na ilha de Bubaque, Bijagós]

Bissau-Cufar-Cadique
Data: Dezembro de 1973
 

Sempre tive algum receio de voar, para não dizer medo (que fica muito mal para quem hoje viaja tanto de avião como eu), mas nos meus 17 anos eu queria muito era experimentar o helicóptero.


Estava eu na Guiné a passar umas férias de Natal, em 1973, com os meus pais, quando soube que o meu pai, que era na altura, o Chefe do Estado-Maior do CTIG, coronel Henrique Gonçalves Vaz, ia visitar uns aquartelamentos no Sul da Guiné. Julgo que era Cufar e Cadique ! O plano de visitas dessa semana ao “mato” do meu pai, era esse. O que me lembro melhor é que soube que iria de helicóptero, oh que maravilha!… 


Passei essa semana a pedir ao meu pai que me levasse nessa saída. Para que se perceba, eu apesar de ter apenas 17 anos, era já um jovem cadete da Escola Naval, como tal seria “normal” ir-me habituando ao Teatro de Operações da Guiné, no entanto não era esse o meu pensamento, o que eu queria era “ter acção” de helicóptero!


Depois de muito insistir, ele lá concordou em me levar. No dia D, pelo mês de Dezembro de 1973 (nas minhas férias de Natal), entregou-me, logo ao início da manhã, um camuflado (e uma G3) e disse: 
- Veste-o, e prepara-te bem já que vais ver o que te espera logo que saíres da Escola Naval! 


Eu, todo contente, lá o vesti. O tamanho, era de um tipo muito mais pequeno do que eu! Ficava com metade das pernas e dos braços “descamuflados”! Tenho pena de não ter fotografias dessa minha experiência marcial. Depois das habituais recomendações, que incluíam o uso da G3 em caso de ataque e a responsabilidade do grupo, lá nos dirigimos para o local de embarque. 




Último CEM do CTIG, nesta fotografia ainda major Henrique Gonçalves Vaz, não no rio Cumbijã na Guiné, mas no rio Chiloango,  em Cabinda (1964 ) com apoio dos Fuzileiros. Como era de sua “tradição”, visitava todos os aquartelamentos, para onde realizava operações como oficial do Estado-Maior. Cadique não foi esquecido, como muitos outros aquartelamentos no Teatro de operações da Guiné, nos anos de 1973 e de 1974.


Oh… grande desilusão! Afinal, por qualquer razão logística de que não me lembro (talvez a necessidade do helicóptero nesse dia para evacuar feridos nalguma zona do TO), a viagem não ia ser realizada de helicóptero mas sim por outros meios de transporte. Não me lembro bem até chegar ao rio Cumbijã, mas o que era costume (informações de ex-combatentes) era ter ido de avião até Cufar (que fica entre Catió e Bedanda) e depois, e disso lembro-me muito bem, fomos de sintex até Cadique, na outra margem do Cumbijã. 


Chegados ao rio tivemos direito a um pequeno briefing para iniciarmos a parte mais crítica, visitar Cadique pelo rio Cumbijã. O medo e a adrenalina estavam em níveis crescentes, e finalmente recebi instruções e lá me instalei com o restante pessoal, deitado no fundo da embarcação com a G3 apoiada na borda a apontar para a minha margem. Saímos do porto grande no rio Cumbijã em direcção ao aquartelamento de Cadique seguindo rio abaixo até que chegámos ao nosso destino, no lado oposto do rio relativamente ao ponto de partida. 


Nesse percurso lembro-me muito bem da tensão na viagem, sempre à espera de sentir uma saraivada de balas disparadas de alguma das margens com o tarrafo bastante alto, mas eu estava bem “mentalizado” para uma reacção imediata da nossa parte. Hoje penso que tivemos muita sorte em não termos sido atacados. Naquela altura, terei ficado um pouco desiludido já que, nessa idade, somos todos um pouco loucos. 


Do que lembro hoje, a viagem decorreu sem qualquer incidente, com uma duração que me pareceu um eternidade, mas não foi, já que cada barco sintex tinha um valente motor de 50 cavalos, com uma velocidade de cerca de 18 nós e o percurso não teria mais que meia dúzia de km. A “escolta” do CEM/CTIG, não ultrapassaria dois sintex com uma dúzia de militares bem equipados e com sentido de missão. 


Chegámos, finalmente, a Cadique e tive mais uma desilusão, o nosso destino não passava de um aquartelamento cercado de arame farpado com meia dúzia de “tabancas” em redor. O Comandante, o Tenente-coronel Sousa Teles (1) teve um meeting com o meu pai, do qual recordo apenas a discussão sobre o número de rádios e outros equipamentos que o Comando do CTIG poderia disponibilizar para esse aquartelamento. A minha impressão actual é que a visita do meu pai, o CEM/CTIG, coronel Henrique Vaz, teria também o objetivo de expressar um apoio aos militares que ali combatiam em condições adversas já que, pelo que sei hoje, Cadique era frequentemente fustigada por ataques do PAIGC. Depois de tratarem dos “negócios” militares, convidou-nos então a dar uma volta de jeep pelo exterior do quartel.




Recorte de uma imagem do mapa da Guiné (escala 1/ 500 mil), onde é possível ver a localização do campo de aviação em Cufar, bem como o itinerário entre o porto novo de Cufar e Cadique.


Mais uma surpresa, naquele fim de mundo havia uma estrada asfaltada [, Cadique-Jemberém], no meio de uma selva cerrada, que, não acredito, levasse a lugar algum!


Ao fim de algum tempo (pouco…), encontrámos duas mulheres negras que caminhavam na nossa direcção. O Comandante parou o jeep e iniciou uma conversa com as mulheres numa linguagem para mim completamente estranha. Subiu uns pontos na minha consideração, pois falava perfeitamente o dialecto local… Impressionante! Depois de se despedir das mulheres, virou-se para o meu pai e disse:
- Meu coronel os “turras” estão aqui perto pelo que, sem escolta (só íamos os três, mas eu levava a minha G3…), não é aconselhável ir mais além. O meu pai concordou com o oficial conhecedor da “realidade” local e voltámos para trás.





Cadique, em 2008, integrado na área do Parque Nacional de Cantanhez. (Fotografia gentilmente cedida para este artigo pelo ex-combatente Eduardo Campos, membro da nossa Tabanca Grande, ex-)





Do regresso, nada me lembro, não me impressionou comparado com o que tinha acabado de viver naquele local recôndito, bonito mas perigoso.

Nunca me esqueci de duas coisas desta estória, e que foram importantes na minha vida: (i) o dilema que o meu falecido pai, coronel Henrique Gonçalves Vaz, deve ter tido para me autorizar a ir com ele; (ii) e o profissionalismo daquele Comandante do mato. 


Um ano após este episódio cheguei à conclusão que a minha vocação não era a carreira militar e mudei de ramo.


Curitiba [, Brasil,] 30 de Janeiro de 2012

José Pedro Beleza Gonçalves Vaz
(filho do último CEM do CTIG na Guiné)


Fotos: © Luís Gonçalves Vaz (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
________________


Nota do irmão do autor, LGV:(1) Informação gentilmente dada pelo camarigo Eduardo Campos (ex-1.º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74)

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Nota do editor:


Último poste da série > 6 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9004: Estórias avulsas (117): Posto avançado ou vala comum? (Carlos Filipe) 

domingo, 22 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9384: Estórias avulsas (118): Minhas (des)venturas na cidade de Bissau do pós-25 de abril... Ou a porrada que o Cor CEM Henrique Gonçalves Vaz não me chegou a dar... (Joaquim Sabido)

1. Uma saborosa história que merece honras de primeira página, escrita pelo nosso camarada Joaquim Sabido, em comentário ao poste P9372 (*)...

Recorde-se que o Joaquim Sabido, hoje advogado em Évora , foto à direita], foi Alf Mil Art, 3ª CArt/BArt 6520/73 e CCaç 4641/73 (Jemberém, Mansoa e Bissau, 1974):

Meus Caros Camarigos, Camarigo Luís Vaz:

No teu (o tu cá tu lá faz parte das NEP do Blogue) anterior poste, no último comentário que lá deixei, disse,  na resposta ao camarigo C. Martins, que invariavelmente trajava à civil, mas isto era lá no sul e lá no tal aquartelamento, digo buraco, [Jemberém,] onde ninguém ia, nem o correio, como disse, lá nos iam levar e muito menos os géneros alimentares, os morfes, o que valeu foi que havia trinca de arroz em reserva e muita raçãozita de combate.

Não posso deixar de corrigir o seguinte: no meu anterior comentário ou num teu outro poste, referi que na mata tínhamos detido 2 elementos do IN, mas, recordando melhor a situação, rectifico o que disse, na verdade mantivemos contacto visual com dois, mas de facto só detivemos um deles que depois entreguei em Cacine.

Bom, mas quando de lá regressámos, viemos para a zona de Bissau, para o Cumuré, aconteceu que eu recebi uma carta da então já, e ainda agora minha mulher, comunicando-me que um camarada alferes se encontrava em Évora em gozo das merecidas e que regressaria no dia não sei quantos de Junho, e que ele me levaria uma caixa com uns paios e chouriços caseiros, queijos, mais um bacalhau seco para poder elaborar as tão saborosas punhetas, enfim, uns mimos. De modo que, ficaram o dia e a hora aprazados, no sentido de eu me apresentar pela hora de jantar, na messe de oficiais, em Bissau, a fim de recolher o avio.

Nunca tinha estado na cidade de Bissau, nem sequer sabia onde se localizava a messe de oficiais, como é que haveria então de conhecer os costumes que por lá se praticavam ?

No Cumuré, pedi um jipe e arregimentei um camarada condutor que conhecia o caminho e conhecia Bissau, para lá me levar, eu jantaria e jantei na messe, enquanto ele se desenrascou por outro lado. Confesso que nesse dia utilizei bens públicos em benefício próprio, mas qualquer ilicitude disciplinar ou criminal já se encontrará prescrita.

Apesar de tudo,  e de já ter ocorrido o 25 de Abril, acautelámo-nos devidamente e metemos no jipe as nossas G-3, uns carregadores, uma Walter 9 mm e mais umas granadas, para alguma eventualidade, que, digo, não seria de esperar acontecer. Mas à cautela, o melhor foi mesmo não confiar.

Saí do jipe mesmo em frente ao bar anexo à messe, fui procurar o camarada que serviu de correio à encomenda e por lá jantei e estive,  até o que o condutor resolveu ir-me buscar. Ainda demos umas voltas por Bissau,  com paragem nos pontos obrigatórios e cerca da uma hora da manhã, do dia seguinte, quando nos aprestávamos para sair à porta do arame farpado que rodeava a cidade, um camarada furriel, que se encontrava de sargento da guarda ao COMBIS, não nos permitiu sair porque tinha ordens para me deter.

Levou-me ao gabinete do oficial de dia em serviço ao COMBIS, que se encontrava acompanhado do camarada alferes que estava de prevenção. Ambos estavam tomando uns uísques, para ajudar a passar a noite. O oficial de dia era o Cap de Cavalaria Bicho, alentejano de Ponte-de-Sôr ou de Niza, já não me recordo, que eu conhecia de Estremoz, quando ele estivera no RC3,  e da tasquinha do Ti Zé de Alter onde nos encontrámos muitas vezes a petiscos, daí que, quando entrei no gabinete ele me ter, de imediato, reconhecido, pelo  que requisitou logo mais um copo para eu também beber daquela garrafa.

Ainda veio pelo menos mais outra garrafa e aí pelas 3 horas da manhã, perguntou-me então o que é que estava ali a fazer...Respondi-lhe que estava com base no Cumuré e,  quando ia para sair de Bissau, tal não me tinha sido permitido pela guarda.

Foi aí que ele me questionou:
- Eh, pá, então foste tu que estivestes na messe a jantar fardado com o camuflado ?
- Fui - respondi-lhe e expliquei-lhe ao que tinha ido e se queria já ali provar alguma coisa.

Respondeu-me que àquela hora não, além do mais eu é que estava metido numa grande alhada, porque o nosso Coronel CEM do CTIG Henrique Vaz (creio que ele até me terá dito: "o nosso Cor Afonso Henriques" – seria que alguns oficiais, pelo menos de Cavalaria usariam tratar o Sr. teu Pai pelo nome do nosso Conquistador ?) viu-te na messe com essa fatiota e, como tal não é permitido, não gostou nada, porque ao jantar todos têm que ir ou à civil ou pelo menos com a farda n.º 2, além do mais, estão lá também as Senhoras a jantar e não é permitido o uso de camuflado, isso é só para a guerra. Vais apanhar uma porrada, tás tramado!

Não esmoreci logo e pedi-lhe para ver o que poderia fazer por mim, telefonou para vários locais procurando pelo Sr. teu Pai, mas já deveria estar a descansar, não sendo possível contactá-lo, então lembrou-se de telefonar para o Comandante do COMBIS, ou seja, o Sr. Cor comandante dele, cujo nome não me recordo. Este já se encontraria deitado, mas ainda assim atendeu-lhe o telefone e, após ter ouvido a explicação do caso e que se tratava de um gajo conhecido dele, Capitão, disse-lhe para tomar nota do meu número mecanográfico, a que Companhia eu pertencia, onde me encontrava, matrícula do jipe, e que me mandasse regressar ao Cumuré.
- No entanto, sempre sob a condição de que, se no dia seguinte ou num outro dia que o nosso Cor Henrique Vaz se lembre de perguntar por ele, sabemo-lo informar e vamos lá buscá-lo.

Assim ficou o assunto.

Felizmente para mim, o Sr. teu Pai não mais se lembrou de mim nem daquela situação, seguramente porque tinha muito mais que fazer, pois outras situações de maior gravidade surgiam-lhe diariamente. Depois quando vim mesmo para Bissau, ainda com ele contactei pessoalmente por umas duas ou três vezes, enquanto estive na guarda ao palácio do Governador. Mas sempre que o via, ao sr. Cor. na messe, eu metia o rabinho entre pernas e circulava para longe dele, de imediato. Isto porque nada estava definido e ninguém sabia quando regressaria e eu não queria lá ficar para dar ao interruptor e apagar a luz e muito menos poder vir a ser recambiado para Angola, conforme ainda por lá correram rumores nessa tão atribulada fase.

Foi apenas esta situação, mas com a qual então fiquei bastante apreensivo e muito à rasca. (**)

Abraços do Camarigo

Joaquim Sabido
Évora

2. Comentário do Luís Gonçalves Vaz:
 
Olá Joaquim Sabido:

Gostei muito da "estória" que partilhou aqui connosco e que envolve o Sr meu pai!Achei-a muito interessante, e típica dele, chamava a atenção... não era importante...era para esquecer e centrava-se então nos problemas mais graves!

No entanto a minha memória, bem como as fotografias da época, lembram-no quase sempre de camuflado... o que era natural, pois se deslocava periodicamente à linha de frente e quando rebentou a bomba no QG em 22 de Fevereiro de 74 e ficou apenas com algumas escoriações, estava de camuflado!..... a não ser quando se sentava à mesa para jantar com a família (quando podia,  é claro!), à mesa não devia haver "clima de guerra", sempre me disse que é um lugar sagrado!!!

Que azar,  meu caro Joaquim Sabido!!!!!
Forte Abraço:

Luís Gonçalves Vaz
_______________

Notas do editor:

(*) Vd.poste de 19 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9372: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição e adaptação de Luís Gonçalves Vaz (Parte II)

(**) Último poste da série > 6 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9004: Estórias avulsas (117): Posto avançado ou vala comum? (Carlos Filipe)

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9372: Documentos (14): Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte II)


Capa do relatório da 2ª Rep / CTIG

Nota dizendo que "o relatório que se segue abrange o período de 1JAN73 a 15Ou74"...




1ª parte do índice do relatório (pág. 1)

2ª parte do índice do relatório (pág. 1)





3ª parte do índice do relatório (pág. 2)

 

Início da pág. 3 (presume-se) do relatório com as seguintes indicações: "SECRETO. Exemplar nº [em branco] . CL/QG/CTIG. 2ª Repartição. 2810hFev75... Relatório da 2ª Rep CC/FAG (Relativo ao período de 1Jan73 a 15Out74)"...



Pág. 13 do relatório: Síntese da atividade do PAIGC: Ano de 1972, ano de 1973, ano de 1973 até 30Abr73, ano de 1974 até 30Abr874....

[Leitura: Nos 4 primeiros meses de 1974 - em relação ao mesmo período do ano anterior - houve (i) um aumento de cerca de 30% das ações de fogo do IN sobre os nossos destacamentos, e das emboscadas ofensivas; (ii) triplicaram os ataques a embarcações; (iii)  houve 2,3 vezes mais minas e armadilhas e outras ações de interdição de itinerários; (iv) houve um aumento de 60% das ações de terrorismo].


Última página do relatório (pág. 74), com a assinatura do chefe da 2ª rep, maj inf Tito José Barroso Capela.


1. Em cima: Algumas das páginas, digitalizadas,  do relatório da 2ª rep/CTIG, que nos foram foi gentilmente enviadas pelo Luís Gonçalves Vaz, a partir de um exemplar pertencente ao arquivo pessoal de seu pai, cor cav CEM  Henrique Gonçalves Vaz, último chefe do estado-maior do CTIG (1973/74), entretanto falecido em 2001 (*).

Recorde-se que o nosso amigo Luís Gonçalvez Vaz, hoje professor do ensino básico, no distrito de Braga, vivia em Bissau e frequentava o Liceu Honório Barreto quando se deu o 25 de abril de 1974.  

O Luís também nos enviou, para publicação, uma resenha biográfica do seu pai, profusamente ilustrada, incluindo fotos das suas comissões de serviço em Angola (1963/65) e na Guiné (1973/74). No CTIG, o cor cav Henrique Gonçalves Vaz serviu como chefe do estado maior, sob as ordens do gen Spínola, do gen Bettencourt Rodrigues e, a seguir ao 25 de Abril, do comodoro Almeida Brandão (, com-chefe interino, sendo governador o brigadeiro graduado Carlos Fabião). Não pertenceu ao MFA, como nos esclareceu o filho.

(...) "Envio-vos algumas imagens do Relatório da 2ª Rep/CTIG,  conforme o Luís [Graça] me pediu.


"O Relatório tem 74 páginas, é datado de 28 de Fevereiro de 1975 (data da sua publicação), não está numerado (exemplar para o CEM?), mas é um original pelo aspecto, e está assinado pelo Major de Infantaria, Tito José Barroso Capela. E como podem ver, o carimbo de 'SECRETO', está a vermelho, logo deve ser um exemplar original". (...).

O nome do chefe da 2ª Rep /CTIG já aqui tinha sido citado em poste anterior, de 11 de novembro último, referente à troca dos últimos prisioneiros do PAIGG e das NT, ocorrida em 14 de setembro de 1974, em Aldeia Formosa (hoje, Quebo):

(...) "Estiveram presentes nesse ato, pelas nossas tropas, o Major de Infantaria, Tito José Barroso Capela (Chefe da 2ª Rep. do QG), o Major de Artilharia Aragão, o Capitão-tenente Patrício, o capitão de Infantaria Manarte e o Furriel miliciano Elias (da 2ª Rep./QG/CTIG)". (...)

De acordo com as normas editoriais do nosso blogue, a publicação destes documentos (oficiais ou oficiosos, quer das NT, quer do PAIGC, ou de outra origem), não implica qualquer tomada de posição dos editores a favor ou contra o seu conteúdo, importância documental, relevância historiográfica ou outros critérios. O propósito da sua publicação é, pois, meramente informativo. Compete aos nossos leitores fazer a sua avalição crítica.


Imagens: © Luís Gonçalves Vaz (2011). Todos os direitos reservados.

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Nota do editor:

(*) Vd. poste anterior da série > 18 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9368: Situação Militar no TO da Guiné no ano de 1974: Relatório da 2ª REP/QG/CTIG: Transcrição, adaptação e digitalização de Luís Gonçalves Vaz (Parte I)