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domingo, 15 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13289: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (29): Monte Real, 14 de junho: As primeiras fotos: a "receção" junto ao parque de estacionamento do Palace Hotel Monte Real


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 >  Da esquerda para a direita, o Jorge Picado (Ílhavo) e o Ernestino  Caniço (Tomar) (médico em Abrantes, já foi diretor do Centro Hospitalar Médio Tejo).


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Da esquerda para a direita, o nosso editor Luís Graça, o Idálio Reis  (Cantanhede) e o Alexandre Coutinho e Lima (Lisboa). Estes dois últinos estão indissociavelmente associados a dois topónimos míticos da guerra no sul da Guiné: Gandembel e Guileje.


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 >  Dois camaradas do norte, dois Eduardos, (i) o Moutinho Santos (Porto), à direita (atual régulo da Tabanca Pequena de Matosinhos); e (ii) e  o Campos (Maia) (que na véspera tinha vindo do sul, de Albufeira, foi a casa pôr a esposa que já estava cheia de saudades dos netos e que voltou a rumar ao sul, para não faltar ao nosso encontro). Em segundo plano, o Miguel Pessoa (de costas) (, membro da comissão organizadora do ecnontro)  e o António J. Pereira da Costa, ambos coronéis reformados, um da FAP, outro do exército.


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > O António Santos, um rapaz de "Nova Lamego"  (que vive em Caneças, Odivelas); e, em segundo plano, o "Custóias",  o Joaquim Almeida (que veio da Maia).

As primeiras fotos: a "receção" junto ao parque de estacionamento do Palace Hotel Monte Real. Desta vez o nosso editor veio de "muletas", ainda a recuperar de uma artroplasta total da anca (da perna direita), pelo que não não pôde tirar as fotos que costuma tirar (e que  gostaria ter tirado). Essa tarefa ficou a cargo dos "fotógrafos oficiais" do Encontro, o Manuel Resende, o Jorge Canhão, o  Miguel Pessoa, o J. Casimiro Carvalho e "outros espontâneos"...

O nosso encontro de 2014 teve as 145 presenças previstas... O dia esteve magnífíico... E a oganização esteve impecável.  LG

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.
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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de junho de 2014 >  Guiné 63/74 - P13288: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (28): Monte Real, 14 de junho: votos dos ausentes Margarida Peixoto (Penafiel) e Abílio Duarte (Lisboa)

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13195: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (8): Continuam abertas as inscrições (n=78) e continuam a chegar as votações (n=55) para a escolha das "cinco frases ou slogans que melhor caraterizam o espírito da Tabanca Grande"... Ao mesmo tempo, amigos e camaradas vão fazendo a "prova de vida"...


Figura - As cinco frases de que os grã-tabanqueiros mais gostam e que melhor caraterizam o espírito da Tabanca Grande.



I. Eis os resultados preliminares (n=55) da nossa votação das 5 (cinco) frases ou slogans que melhor caracterizam o espírito da Tabanca Grande. A 5ª (e última) são, ex-aequo, as frases nºs Oito e Dezanove, com 21 votos. A mais votada, com 33 votos, é a frase nº Um, seguida da frase nº Três (n=29).-

As frases escolhidas são:

1. O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!

3. Não deixes que sejam os outros a contar a tua história por ti.

18. Tabanca Grande: onde todos cabemos com tudo o que nos une  e até com aquilo que nos separa.

14. Ainda pior do que o inferno da guerra,  é o inverno do esquecimento dos combatentes...

8. Para que os teus filhos e netos não digam, desprezando o teu sacrifício:  " Guiné ? Guerra do Ultramar ? Guerra Colonial ? Não, nunca ouvi falar!"

19. Partilhamos memórias e afetos. (*)


II. É bom saber que todos estes camaradas, a seguir listados por ordem alfabética, quiseram colaborar connosco neste passatempo, fazendo ao mesmo tempo... a sua "prova de vida"!

Eis a lista de grã-tabanqueiros que nos responderam (n=55):

Alberto Branquinho
 Alcides Silva
Antonio Carvalho (Mampatá)
António Eduardo Carvalho
António J. Pereira da Costa
Antonio João Sampaio
António Levezinho
António Santos
António Sucena Rodrigues
Bernardino Cardoso
Candido Morais
Carlos Alberto Cruz
Carlos Vinhal
César Dias
Eduardo Estrela
Ernesto Ribeiro
Germano Penha
Helder Sousa
Idálio Reis
Joao Alberto Coelho
João José Lourenço
João Sacôto
Jorge Pinto
Jorge Portojo
Jorge Rosales
Jorge Santos
José Carlos Pimentel
Jose Colaço
José da Câmara
José Dinis C. Sousa e Faro
José Manuel Cancela
José Manuel Matos Dinis
José Pardete Ferreira
José Rocha
Juvenal Amado
Luís Graça
Luís Paulino
Manuel Carvalho
Manuel Joaquim
Manuel Luis
Manuel Maia
Manuel Reis
Mário Gaspar
Mario Oliveira
Mário Pinto
Mário Vasconcelos
Marques de Almeida
Martins Julião
Rui Santos
Rui Silva
Toni Borié
Torcato Mendonça
Valdemar Silva
Vasco da Gama
Vasco Pires

A votação continua até ao fim do mês.Estamos,longe, portanto de ter fechado as "urnas" (*)


III. Entretanto prosseguem as inscrições no IX Encontro Nacioanal da Tabanca Grande, a realizar em Monte Real, em 14 de junho deste ano, ou seja, a menos de 3 semanas.

Há ainda um bom número de camaradas e amigos que deixaram a inscrição para o fim, mas que já manifestaram a sua intenção de vir. Outros há, e infelizmente bastantes, que por razõe diversas (conflito de agenda, problemas de saúde do próprio, da esposa ou outros familiares, e sobretudo  dificuldades financeiras)  não poderão partilhar a alegria do nosso convívio anual, este ano na sua 9ª edição. Temo-nos reunido todoos anos desde 2006.

Cito aqui um camarada, muito presente e ativo na vida do no nosso blogue (, nomeadamente ao nível da sua participação como comentador), que não vou identificar, por razões óbvias, e que me disse o seguinte, em mensagem de 24 do corrente:

Caro Luís: Como sabes, não estarei em Monte Real, no próximo dia 14 de junho, como bem gostaria. A circunstância (infelizmente comum a muitos portugueses) de ter as minhas duas filhas desempregadas obriga-me a ter agora uma vida mais austera, no sentido de poder partilhar a minha reforma com elas. Não estou a queixar-me porque há quem esteja muito pior - justamente aqueles pais que também não têm reforma nem trabalho. Esta é a razão porque não estarei em Monte Real. (...) Vai para ti um grande abraço e votos de saúde e felicidade.

Como eu temia mas já calculava, este ano o número de inscrições está abaixo da fasquia esperada, por comparação com os últimos anos:


Infografias: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)


Recorde-se que o primeiro encontro, m 2006, foi na Ameira, Montemor-O-Novo, o segundo em Pombal, o terceiro e  o quarto em Ortigosa, Monte Real, Leiria, e partir daqui em Monte Real, no Palace Hotel Monte Real. O ano de 2012, om um total de 200 participantes,  pode-se considerar atípico: houve, nesse ano, a motivação adicional do livro do Idálio Reis, oferecido generosamente, com dedicatória autografada, a todos os presentes.

Na melhor das hipóteses, este ano,  poderemos chegar aos 90 particpantes, no máximo 100...A crise bateu forte e feio e os "veteranos" da Guiné são hoje um grupo particularmente fragilizado... Vamos ter que repensar o modelo do nosso convívio anual... Há malta a fazer o "rateio" dos convívios (companhia, batalhão, Tabanca Grande). E há gente com filhos desempregados em casa... O mesmo é dizer que a fanília com salários ou reformas mais reduzidos no seu valor... Vir a Monte Real é, para muitos de nós, um luxo: para além da despesa de inscrição, são os transportes, as portagens, e eventualmente a estadia... Mais um razão para valorizar a presença dos que querem e podem vir. Os ausentes serão lembrados com o espírito de amizade, camaradagem e solidariedade que é timbre da nossa Tabanca Grande.(**)
(...) Vinte e cinco frases que ajudam a distinguir um grã-tabanqueiro, isto é, um leitor do nosso blogue que se identifica com a "cultura" da Tabanca Grande, independentemente de estar ou não estar (ainda) registado como membro...

1. O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!

2. Lembra-te, ó português: bandeira dos cinco pagodes, é na loja do chinês.

3. Não deixes que sejam os outros a contar a tua história por ti.

4. Cabral só há um, o de Missirá e mais nenhum.

5. Camarada e amigo... é camarigo!

6. Dez anos a blogar, pois é!,
são cinco comissões na Guiné!

7. Camarada não tem que ser amigo:
é o que dorme no mesmo buraco, na mesma cama, no mesmo abrigo.

8. Para que os teus filhos e netos não digam, desprezando o teu sacrifício:
" Guiné ? Guerra do Ultramar ? Guerra Colonial ? Não, nunca ouvi falar!"

9. Uma vez combatente, combatente para sempre!

10. Desaparecidos: aqueles que nem no caixão regressaram.

11. Os filhos dos nossos camaradas, nossos filhos são.

12. Sim, senhor ministro, somos uma espécie em vias de extinção...
E já demos instruções ao último que morrer, para ser ele próprio a fechar a tampa do caixão.

13. Camarada, que a terra da tua Pátria te seja leve!

14. Ainda pior do que o inferno da guerra,
é o inverno do esquecimento dos combatentes...

15. Rapa o fundo do teu baú da memória...

16. Recorda os sítios por onde passaste, viveste, combateste, amaste, sofreste, viste morrer e
matar, mataste, e perdeste, eventualmente, um parte do teu corpo e da tua alma...

17. Os camaradas da Guiné dão a cara,
não se escondem por detrás do bagabaga...

18. Tabanca Grande: onde todos cabemos com tudo o que nos une
e até com aquilo que nos separa.

19. Partilhamos memórias e afetos.

20. Lá vamos blogando, recordando, (sor)rindo,
e às vezes cantando, gemendo e chorando!

21. E também lá vamos facebook...ando e andando!

22. Sabemos resolver os nossos conflitos... sem puxar da G3!

23. A 'roupa suja' lava-se na caserna, não na parada.

24. 'Periquito' salta pró blogue, que a 'velhice' já cá está!

25. 'Um blogue de veteranos, nostálgicos da sua juventude' (René Pélissier dixit)



(**) Último poste da série > 23 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13185: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (7): Temos 20 exemplares do livro do Nuno Rubim, para distribuir em Monte Real, no dia 14 de junho, aos participantes, grã-tabanqueiros, "camaradas que apreciem a nossa antiga história militar" (Nuno Rubim / Luís Graça)

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12756: Blogoterapia (249): Reflexões sobre a vida e a morte (Juvenal Amado, Galomaro, 1971/74)


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Galomaro, hoje... Foto da Missão Dulombi (com a devida vénia...)~


Guiné > Zona leste > Setor L5 > Galomaro  > c. 1972/74 > O aquartelamento, sede do comando e CCS/BCAÇ 3872. Foto de Juvenal Amado



1. Texto e e fotos enviados  pelo nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º cabo condutor auto, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 19 do corrente:


Na vida nada há tão certo como a morte e ela não é sempre de valor igual. Se não,  vejamos os comentários que nós próprios fazemos;

“Era ainda tão jovem, vai fazer tanta falta! Ou, “Já tinha muita idade e até foi uma esmolinha”!

A nossa geração foi confrontada tantas vezes com ela. Encará-la e esquecê-la seguidamente, faz parte de alguma irresponsabilidade e capacidade de dádiva dos nossos verdes anos que dizem respeito ao primeiro terço da nossa idade adulta.

Foi assim que ela enfrentou a morte durante 13 anos. Enfrentou-a com alguma leveza, inconsciência e espirito de aventura, a que se predispunha e o facto de aquela guerra não pôr directamente em risco as nossas cidades e as nossas famílias, resguardadas das bombas e restante violência, que uma guerra acarreta no chão sagrado dos nossos avós.

Por vezes de forma sorrateira, outras vezes com a violência, com o horror, a surpresa de sermos confrontados com a morte e sofrimento de quem momentos antes falava, ria, bebia, ou partilhava um cigarro.

Os gritos, os tiros e as explosões, levavam tempo a passar para o subterrâneo do nosso consciente, o que tanto temíamos tinha acontecido, o nosso mundo ficava virado do avesso.

Pensávamos que só acontecia aos outros.

Chorávamos ali no chão vermelho e sol escaldante e perante a incredulidade de quem nos pudesse observar procurávamos e recolhíamos os bocados, desde os membros aos restos de farda e até ao mais pequeno pedacinho de atacador. Nada ficava para trás. Talvez quiséssemos apagar o que tinha acontecido e não deixar nenhuma prova da tragédia da nossa passagem ali naquele dia de má memória.

É da natureza Humana rejeitar o sofrimento e ao afastarmo-nos daquele momento o mais rapidamente possível, ansiavámos assim que a dor se tornasse cada vez mais suave e menos presente. Depois ajudávamos a recolher os seus pertences e revíamos tudo o que se poderia enviar às famílias.

Víamos o homem para além do que connosco lidava no dia a dia. As cartas da namorada, as fotos, a garrafa de whisky cuidadosamente guardada para festejar o regresso, o robe chinês, o serviço de chá, e os corpiés que aos poucos adquiriram para fazer parte do enxoval dos dias felizes.

Comprados na loja do libanês,  eles seriam o orgulho na cama de casal após o casamento. Essas coisas eram compradas à custa de não se beberem umas cervejas ou mesmo uma viagem de férias a casa, pois o magro pré não dava para muito mais.

Mas esses objectos valiam agora mais do que quem os tinha comprado porque,  parafraseando o poeta, eles prestavam ainda para alguma coisa, ao contrário os donos jaziam inertes para sempre sem utilidade.
Passavam a ter um valor inestimável como recordação para quem eram destinados, até que outro amor surgisse, pois a dor castradora da vida não pode nem deve ser para sempre.

As caras e as situações, voltaram quando a idade mais nos aconselhava a uma vida sem preocupações e passeios à beira mar.

Com o envelhecimento essa dor visita-nos mais amiúde. A morte aparece de várias formas, porque ela tem muitas caras e,  ao contrário da nossa juventude, aos poucos todos ganhamos consciência de que somos finitos esperando no entanto que esse dia ainda seja longínquo.

Acabamos por nos despedirmos dos nossos avós, pais, tios e por fim dos amigos que nos são queridos. Pela ordem natural esperamos partir um dia, deixando para trás os nossos descendentes para nos honrar a memória, como nós honramos a memória dos nossos ascendentes.

Hoje as nossas memórias estão cheias de sombras que todos os dias crescem. Ficam os momentos vividos, as gargalhadas, as celebrações da vida a felicidade dos momentos únicos.

Cada um que parte, leva um bocado de nós e do nosso Universo, porque a morte é o tempero que nos faz dar valor à vida.

Juvenal Amado



Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > O "suplício de Sísifo": os homens-toupeira construindo (e defendendo) a sua "casa" no "corredor da morte", em tempo recorde... [Construindio aquartelamentos, 'bunkers', abrigos, espaldões, abrindo valas, picadas, etc., também fomos "coveiros de nós próprios"... LG]


Foto: © Idálio Reis (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

sábado, 2 de novembro de 2013

Guiné 63/74 - P12241: In Memoriam (166): Manuel Silvério, ex-2.º Sargento Miliciano da CCAÇ 2382 (Idálio Reis)

1. Mensagem do nosso camarada Idálio Reis (ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 2317 / BCAÇ 2835 Gandembel e Ponte Balana, Nova Lamego, 1968/69), com data de 1 de Novembro de 2013:

Já é muito raro, não deixar de ler diariamente o “Diário de Coimbra”. O do dia de hoje, na parte dedicada à necrologia, refere a notícia do falecimento do Manuel Silvério.

Mas de quem se trata? Para além de tudo, a de um ex-combatente da Guiné, que vim a conhecer em circunstâncias bastante fortuitas e que só a guerra sabia gerar.

Estava a minha Companhia sediada em Nova Lamego (2.º semestre de 1969), e por onde passava muita gente daquela zona do Gabú. Por lá, entre tantos, havia de passar o Manuel Silvério, provindo não sei donde, com destino a Bissau. Relembro que nos encontrámos na messe de oficiais, vinha fardado o alferes Silvério, e só esperava oportunidade de ter ingresso numa aeronave.

Passados alguns dias, porventura menos de uma semana, estando sentado no quartel à sombra de um poilão, ouço um cumprimento militar. Tentando indagar da sua proveniência, qual o meu espanto ao reconhecer o Silvério, mas na qualidade de 2.º sargento. Procurando tomar conhecimento da trama que lhe acontecera, foi lacónico, só me referindo que fora sujeito a um processo por indisciplina, e que o Comandante-Chefe o punira daquela forma.

Do seu destino próximo, nunca mais tive qualquer conhecimento.

Um dia, nos finais da década de 70, numa das principais ruas da cidade de Coimbra, casualmente encontro o Silvério. Tinha-se radicado nesta cidade, onde exercia as funções de delegado de informação médica.

Poucas vezes mais nos havíamos de reencontrar, e por escusa sua, nunca me deu a conhecer o que então lhe aconteceu na Guiné. Referiu-me já se ter esquecido desses tempos.

No Blogue, constato que o José M. Cancela, da CCaç 2382 (P6184 de 18 de Abril de 2010) procurava o paradeiro de antigos companheiros, entre os quais mencionava o 2.º Sargento Manuel Leitão Silvério, que fora substituir o Furriel Joaquim Gonçalo, ferido gravemente num ataque ao aquartelamento de Buba. Curiosamente, este Gonçalo é natural e vive no meu concelho - Cantanhede -, e que muito alegremente viria a reencontrar nessa Buba, onde a minha Companhia permaneceria de 8 de Fevereiro a 14 de Maio de 1969.

O tear da vida tecendo um destino, faz desaparecer prematuramente o Silvério. Nesta sua partida, talvez alguns de nós saibam aportar mais alguns pormenores deste seu fadado itinerário militar.

Notícia triste quanto brutal. Eis que uma folha de Outono tomba para sempre, deixando-nos mais pobres, pois a perda de um amigo é sempre uma fatalidade pesarosa. Curvo-me em silêncio à perenidade da sua memória.

Até sempre.
Idálio Reis
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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12223: In Memoriam (165): Sargento-Chefe na Reforma Fernando dos Santos Rodrigues, ex-2.º Sargento "Gato Preto" (José Martins / Arménio Estorninho)

Guiné 63/74 - P12237: Convívios (547): Uma jornada de confraternização de ex-aspirantes milicianos que integraram o 3.º Curso de Rangers de 1967 (Idálio Reis)

1. O nosso Camarada Idálio Reis, ex-alf mil at inf, CCAÇ 2317 / BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana, 1968/69, enviou-nos a seguinte mensagem.


Uma jornada de confraternização de ex-aspirantes milicianos que integraram o 3.º Curso de Rangers de 1967

Caríssimos camarigos e editores da Tabanca Grande. 

O pretérito sábado, dia 26, resplandeceu soalheiro, propiciando um dia bem ameno e agradável para que alguns elementos de um curso de Operações Especiais, do longínquo ano de 1967, havido em Lamego no CIOE, convergissem para a viriata cidade de Viseu, onde o nosso anfitrião e companheiro António Albuquerque, radiantemente nos havia de acolher na sua terra natal.

Foi o curso então formado por 70 garbosos militares, já mobilizados, e que após o seu término, se partiria para a Unidade mobilizadora. Por um inextricável conjunto de motivos de generosidade, que a estada num curso daquelas características sempre incute nos formandos, criou-se uma comunhão de afinidades imperecíveis, que haveria de determinar que soubéssemos notícias de cada, aquando do cumprimento da comissão nas 3 frentes da guerra.

Efectivamente, que haveria de sobejar em alguns, mesmo depois do ciclo da tropa, laços de amizade que não se esvaeceram.

A guerra de África haveria de ceifar 3 deles, e o determinismo da Lei da Vida já terá excluído brutalmente muitos por perecimento antecipado, e que atingirá muito próximo as três dezenas. Um ror de saudades que se nos afaga. E por isso, o Albuquerque tomou o belo gesto de fazer incluir no programa, a celebração de uma missa em preito de homenagem desses que se apartaram bem cedo do nosso seio.

E da igreja de S. José, demandámos um restaurante da cidade, onde seria servido um suculento almoço. Aqui juntámo-nos mais para convivermos de perto, e em que a guerra de há 45 anos e o indagar do paradeiro dos não presentes, foram temas principais das conversas. E as esposas de muitos, embevecidas, iam tomando conta das nossas transmissões.

O Hernâni apareceu pela primeira vez, e como sempre atrasado. Chegou bem, está com bom aspecto, tendo sido premiado com uma salva de palmas.

O Soares, um duriense de gema, tomou a gentileza de nos trazer um grande bolo que encomendara em Lamego, e que vinha decorado com a fotografia de cada um de nós. Final doce, para o repasto bem terminar.

Também teve a gentileza de estar presente, um dos instrutores de então, o coronel Paiva Bastos. Bem-haja.

Seguiram-se alguns momentos de maior partilha. O prestimoso Albuquerque, que nos prometera que não choveria nesse dia e que haveria de merecer justo reconhecimento, ainda nos haveria de ofertar um bonita garrafa do milenar Dão. Agradecendo a nossa presença, tecendo loas merecidas ao António Brandão, o principal impulsionador destes encontros, comoventemente pediu-nos recolha de 1 minuto de silêncio em memória dos que irreversivelmente já se apartaram, que foi maviosamente acompanhado pelo toque de silêncio, brilhantemente interpretado por uma jovenzinha, a filha do Camilo. Momento alto, que nos embeveceu sobremaneira.

Eu próprio, acabei por ter a oportunidade de ofertar o meu livro-narrativa da história da minha Companhia, tecendo considerações sucintas sobre o mesmo.

O Soares, fez-nos uma divagação de fragmentos da sua vida. Os desenfianços possíveis durante Curso, a sua comissão em Angola, a sua actual vida de reformado tomando como lema o trabalho, e principalmente tentou definir azimutes que nos cativem guarida para a próxima confraternização.

019 - Cumprimentando 4 velhos companheiros: o pedrasrubrense Enes, o anfitrião Albuquerque, o lousadense Silva e o castelovidense Fernando

073 - A celebração da missa na igreja de S. José, sita ao Parque de S. Mateus

079 - No fim da missa, o Albuquerque agradece a nossa presença

088 - Os convivas em conjunto

107 - Os homens da Guiné ficaram juntos. O Manuel Francisco da CCaç.2313/BCaç.2834 e eu (CCaç.2317/BCaç.2835)

108 - E o ranger de vermelho é o Rocha Duarte, do meu Batalhão e da CCaç.2315

121 - O delicioso bolo oferecido pelo Soares, postado à direita do Rocha Duarte, e que andou por Angola

129 - A filhota junto ao pai Camilo, executando o toque de silêncio

Um forte abraço a toda a Tertúlia do
Idálio Reis.
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 


domingo, 26 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11631: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (57): Respostas nºs 125/126): Idálio Reis (CCAÇ 2317, Gandembel e Ponte Balana, 1968/69); e Alberto Nascimento (CCAÇ 83, Piche, Buruntuma, Bambadinca, 1961/63]

Resposta nº 125 > Idálio Reis [, ex-alf mil at inf, CCAÇ 2317 / BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana, 1968/69]

Caros Luís e demais editores da Tabanca Grande.

Aduzidos os motivos que têm contribuído para esta grandiosa obra bloguística, no conhecimento de inúmeros factos do conflito armado travado na Guiné, que as fontes oficiais informativas de então,autocensuraram, por omissão ou deturpação;

Reconheço a sensibilidade que se deseja tomar quanto à chamada 'prova de vida', pois que de há muito, não surgem sinais de presença de alguns, e no mínimo tal representa inquietação. Quanto a mim, embora denote alguma relapsia, esperava um momento para o fazê-lo. E tinha que lhe dar forma, e que exporei no questionário.

Assim:

(1/2) - O blogue foi-me dado a conhecer na Semana Santa do ano de 2006. Lembro-me bem, de receber uma chamada do José Teixeira que para além de me permitir descobrir o blogue, me lançou o repto de aderir e de dar a conhecer a história da minha CCaç. 2317, em especial dessa odisseia que foi Gandembel, e que através dele (do lado de Aldeia Formosa) e do saudoso José Neto (de Guileje), já haviam aflorado algo.

(3) - A minha adesão à Tertúlia remonta a 16 de Abril, através do poste DCCXIX [, 19 de abril de 2006].

(4) - Quanto à regularidade com que visito o Blogue, pode considerar-se de diária, ainda que nestes últimos tempos não preste boa atenção a alguns textos. Continuo mais alapado às coisas do Sul e às que se desenrolaram nos meus tempos. Ressalvo aqui, os valiosos escritos sobre esse período dos Strelas, e as deambulações que houve lugar nos 3 sítios G (Guidage, Gadamael e Guileje). Com a saudade do seu autor, que já se separou de nós, relembro o belo texto escrito por Daniel de Matos: Os Marados de Gadamael e os dias da batalha de Guidaje.

(5) - Sem falsa modéstia, julgo já ter dado a minha contribuição para o Blogue. Daqui nasceu um livro, de que disporei ainda alguns exemplares, a distribuir pelos tabanqueiros interessados.

(6/7) - Sou aderente do Facebook, mas não pretendo fazer uso dele.

(8/9) - Os conteúdos do Blogue, a cada um dizem respeito. O Blogue tem sido aberto à recepção dos textos da autoria de pessoas sensatas e conhecedoras, com uma vida por cima, mas onde bem se nota o peso do ´mato` que cada um carregou. Como cada um de nós, sente satisfação em enviar o seu texto para dar conhecimento à Tertúlia, será a cada elemento desta que competirá a sua avaliação.

(10) - O meu computador/internet tem já alguma consonância com o Blogue, dado que figura na lista dos favoritos.

(11) - O Blogue tem sido fundamental ao equilíbrio psicossomático de um aposentado da APRe. Ainda há minutos constatei o lançamento da edição do Tarrafo, no Porto. Estive em Coimbra no dia seguinte, trouxe a "Estranha Noiva de Guerra", para ler. Ultimamente, alguns livros vêm sendo lançados sobre a temática da guerra, e alguns devem a sua aparição ao Blogue. Aproveito este espaço para destacar o relevante papel do nosso recensor-mor, o Beja Santos.

(12/13) - Dos encontros, julgo só ter falhado ao do Alentejo. As últimas, no chão do Joaquim Mexia Alves, têm sido um sucesso, no modo e na forma como faz gala em nos receber. Quanto à minha presença este ano, não poderei estar convosco, porquanto vou estar em confraternização com os meus velhos companheiros da minha Companhia, a decorrer na cidade de Espinho.

(14) - O Blogue continua forte. Tem havido um trabalho afanoso dos seus editores, onde a garra e o fôlego mais requerem instigação. É a vós que cabe esta identidade, que desejo veementemente que se alongue no tempo, com a mesma ênfase denotada até hoje.

(15) - Tudo bem, quando vai bem.

Resposta nº 126 >  Alberto Nascimento  [,ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 83 Piche, Buruntuma, Bambadinca, 1961/63]

Atrasado como sempre quando se trata de escrever, aqui vai a minha resposta e o meu pedido de desculpa pelo atraso.

1- Descobri o Blogue em 2005 ou 2006.

2- Procurava na Net notícias sobre a guerra na Guiné e a possibilidade de poder contactar camaradas que tivessem estado nas mesmas povoações onde eu estive..

3- Passei a visitar diariamente o blogue, até que em 2008 senti que tinha a obrigação de prestar um esclarecimento sobre uma dúvida que visava uma intervenção em Samba Silate, tendo sido nessa data admitido como membro da Tabanca Grande.

4- Visito quase diariamente o blogue.

5- Considero as minhas intervenções em número razoável dado que o período de maiores dificuldades foi de apenas cinco meses.

6- Conheço a página no facebook, mas não sou utilizador por falta de tempo (desculpa esfarrapada)

7- Consulto quase exclusivamente o blogue.

8- A voluntariosa participação dos editores na feitura do blogue e a forma como são dadas todas as informações de utilidade para os membros da tertúlia .

9- Não identifico nada.

10- Já tive dificuldade, agora está muito bom. Desconheço as causas.

11- O poder, quando entender, recordar comunicando, sobre um período da minha vida que mantenho vivo na memória e, espero, demore ainda uns bons anos a apagar-se.

12- Nunca participei.

13- Este ano também não vou.

14- O fôlego e a força anímica do blogue estará sempre dependente do voluntarismo dos editores. Na impossibilidade destes, se aparecerem(e aparecem com certeza) outros com a mesma boa vontade competência e espírito de sacrifício prosseguirão com a actividade do blogue até haver alguém que guarde memórias da guerra na Guiné. Este blogue será sempre um arquivo de memórias da guerra.

15- Nada a comentar e menos a criticar. Um Abraço

___________

Nota do editor:

Último poste da série > 25 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11624: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (56): Convite aos membros da nossa Tabanca Grande e demais leitores do blogue para nos responderem

terça-feira, 5 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11194: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (3): O meu diário (José Teixeira, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba e Empada, 1968/70) (Partes III/IV): Buba e Aldeia Formosa, de 30/7 a 9/8/1968


Guiné >Região de Quínara > Buba > 1968 > Domingo de de Páscoa >  1º Cabo Enf Teixeira, da CCAÇ 2381 (Buba e Empada, 1968/70)


Guiné >Região do Cacheu > Ingoré > 1968 >  1º Cabo Enf Teixeira, da CCAÇ 2381 (Buba e Empada, 1968/70)

Fotos: © José Teixeira (2005). Todos os direitos reservados



1. Continuação da publicação do "diário" do José Texeira (ex-1º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 2381 (Buba e Empada, 1968/70) (*), o meu "diário de guerra", que publicámos no nosso blogue, na I série, entre janeiro e março de 2006 (**).

[Toto à direita, Farosadjuma, Cantanhez, Região de Tombali, Guiné-Bissau, 2011]


São apontamentos que o Zé foi escrevendo num caderninho, durante a sua comissão na Guiné (1968/70). É um notável documento humano onde,
 para além de dados factuais (colunas, operações, baixas, topónimos...),  também vêm ao de cima as dúvidas, as contradições e a angústia do português, do homem, e  do cristão (praticante que ele sempre foi). Nesse Agosto de 1968, em Aldeia Formosa (hoje, Quebo), o Zé escreve, dilacerado pelo absurdo daquela guerra: "Ainda não dei um tiro. A minha missão é curar. Jamais darei um tiro nesta guerra. Matar não, nunca. Vou tentar passar esta guerra sem fogo". Vem também ao de cima o poeta que ele é: veja-se a ternura de poema que ele escreveu sobre "As Mãos de Minha Mãe".


Aldeia Formosa, 28 de Julho de 1968

Ontem Aldeia Formosa voltou a ser atacada. Três vezes numa semana é muito.

Hoje fui fazer uma coluna a Gandembel. Tudo correu bem. O IN não atacou nem colocou minas na picada. Só tivemos uma tempestade de chuva. Começamos por ouvir um ruído assustador que se aproximava de nós. De repente surge uma forte ventania que nos arrastava, seguida de uma tromba de água que transformou a picada num rio. Um quarto de hora depois tudo desapareceu e voltou o sol quente que rapidamente nos secou.

Pouca antes de chegar a Gandembel vimos o IN atacar um Fiat das FAP que se incendiou, tendo o piloto saltado de pára-quedas.[***]

Passei no sítio onde há pouco tempo se deu uma terrível emboscada que roubou seis vidas. Quinze fornilhos colocados em série num local onde a tropa ao sentir as primeiras balas da emboscada se esconde. Doze rebentaram no momento em que se iniciou a emboscada e ceifaram seis vidas. Foi uma sorte não ter lá ficado toda a Companhia.

Quando chegamos a Gandembel fomos saudados pelo IN com um pequeno ataque ao aquartelamento, sem consequências. Os camaradas que estão aqui estacionados  [, CCAÇ 2317] dizem que comem disto todos os dias e mais que uma vez. Como é terrível...

Encontrei em Gandembel  o Mário Pinto, meu colega de escola [, foto à esquerda, Buba, 1968], contou-me coisas terríveis que se têm passado neste aquartelamento fortificado, junto à fronteira com a Guiné-Conacri que tem como objectivo cortar os carreiros de ligação à "estrada da morte" impedindo o IN de fazer os abastecimentos.
-Será verdade que vamos ficar nesta zona por muito tempo ?

Odeio... Odeio os homens que se guerreiam e matam. No entanto eu também sou um deles... O Inimigo também tem namorada, mulher, filhos... também se agarra aos seus santos protectores...

Pergunto-me se quantas vezes ao sair para o mato as portas das Tabancas se abrem e surgem caras, um sorriso, um braço no ar ... um desejo de "bom biaje", se não serão essas mesmas caras com o ódio estampado que nos esperam no meio da bolanha, prontos a matar quem não quer fazer guerra, mas foi obrigado pelo sentido de Pátria em que foi educado ?

Toda a cara preta me parece um IN. Odeio o IN porque é traiçoeiro,porque mata.

Aldeia Formosa, 30 de Julho 1968

Ontem o IN voltou a atacar Aldeia Formosa. Meia dúzia de granadas de morteiro, que caíram bem longe. Que quererá o IN com estes pequenos ataques ?


As Mãos de minha mãe

As mãos de minha mãe!
Mãos belas e puras,
Mãos de santa.
Mãos que sofreram, trabalharam,
Mãos que se sacrificaram,
... Para que não me faltasse o pão.
Mãos calejadas, doridas,
Sangrentas, mesmo.
As mãos de minha mãe !...

Era pequenino,
Talvez ainda não compreendesse
As mil carícias que me faziam,
Todo o amor que me dedicavam
Mas já sentia o calor dessas mãos.
Já sentia o seu amor,
O seu carinho.
Parece que sentia mesmo,
O enorme esforço dessas mãos.
Os sacrifícios de minha mãe.
O trabalho a que se votava,
A fome que passava
Para que nada faltasse
À criança
Que no berço dormia feliz,
Embalada com tanto amor.

... Como são belas
As mãos de minha mãe !...


Aldeia Formosa, 1 de Agosto 1968

É dia de correio, mas pelos vistos o avião já não vem. Ontem aterraram dois Dakotas com páras e espera-se outro hoje. Mau sinal. Ou me engano muito ou em breve vamos ter "manga de chocolate".

No dia de S. João, enquanto me divertia em Ingoré nas marchas improvisadas do S. João, o pessoal da Companhia 2382 viu arder tudo o que trouxeram da Metrópole, aqui ao lado em Contabane, num ataque inimigo. Felizmente só tiveram 4 feridos. Que rico S. João !

Aldeia Formosa, 2 de Agosto 1968

A guerra é triste... Na estrada da Chamarra ia-se dando mais um drama. Vinte e sete abrigos de três homens e dois fornilhos a serem montados, eram a espera para a Secção que vem todos os dias a Aldeia buscar víveres. Quatro milícias passaram perto e avistando o IN abriram fogo. Três acabaram as munições e fugiram, o quarto, sozinho pôs o IN em fuga. Não fora os milícias e nesse dia a Secção podia ser apanhada à mão.

Pouco tempo antes o IN tinha tentado a sorte no mesmo local. Dizem que um nativo de 12 anos ao ver um branco com farda diferente da do nosso exército lhe apontou a Mauser e matou-o. Era um cubano que junto com outros tinha uma emboscada montada. O miúdo tentou avisar Chamarra e conseguiu-o, mesmo depois de ter apanhado um tiro de raspão no nariz.

Crianças na guerra, será possível ? Que futuro para esta gente que cresce no ódio, na guerra ?.

Aldeia Formosa, 4 de Agosto 1968

Ontem foi comemorado pelo IN o V Aniversário da implantação da luta pela independência da Guiné [ou não seria, antes  o IX Aniversário da Revolta  do Cais do Pinjiguiti, em 3 de agosto de 1959?, LG]. No sector de Buba a festa começou cerca das 22 horas com um ataque a Mampatá com quatro canhões sem recuo e terminou às 3.30 horas em Aldeia Formosa.

Às 22 horas iniciaram em Mampatá. Às 22.30 acordaram Aldeia Formosa com algumas morteiradas e continuaram em Gandembel, Guileje e Buba. Às 24 h recomeçaram em Aldeia Formosa com pequenos intervalos até as 3.30 h., não fazendo feridos.

Hoje o Senhor concedeu-me a graça de ouvir a missa pela telefonia. Sinto-me outro, mais [?, ilegível]... Hoje é dia de correio. Para completar esta boa disposição é preciso que venhas também até mim com a tua confiança.

Ouvi o Spínola dar as boas vindas à tropa vinda da Metrópole. Segundo ele, o tempo de Comissão é de 21 meses.


Buba, 8 de Agosto de 1968

A Guerra e . . . a minha "paz"

Avisto a Selva,
Do outro lado, o mar...
Corpos negros,
Corpos brancos.
Almas assassinas
Que destroem, matam.
Não sabem amar.
Quando entro na guerra,
Esqueço quem sou.
Deram-me uma arma
Tenho que lutar...
Que coisa terrível !
Marca espíritos,
Destrói sentimentos,
Origina ódios.
Mais que tudo isto,
Ensina a matar !...
Mas se eu matar
E a "pátria" o afirma,
Em defesa dos "inocentes"
Buscando a "paz",
Porquê este remorso
Se quero somente amar !?

Aldeia Formosa, 9 de Agosto de 1968

Cheguei à uma da madrugada de Buba. Tinha partido para baixo em coluna no dia 6. Desta vez o IN não apareceu. Fomos e voltámos pela estrada de Nhala.

Estava com medo desta coluna, depois do que aconteceu na última, mas o Senhor protegeu-me, a mim e aos meus colegas de aventura.

Um pelotão de milícia de Aldeia Formosa foi bater a zona de Mampatá, para confundir o IN e sofreu dois mortos e três feridos. Trouxe orelhas de vários IN, mortos durante o combate. É horrível, Senhor... dois mortos e três feridos e... orelhas de vários IN mortos. Alguns, foi a sangue frio, segundo dizem, depois de serem descobertos com ferimentos que os impediam de fugir. Tudo isto é guerra, enquanto uns estavam na rectaguarda feridos, outros, autênticas feras, procuravam IN, irmãos de raça, para os assassinarem. (****)

Os homens não ouvem a voz de Deus, abafam a tua voz com o matraquear das armas. Matar pessoas, porquê ? ... E aquele corte de orelhas, vitorioso !?... Como se fosse um animal ! E se fosse, quem deu ao homem tal direito ?!...

Que faço eu nesta guerra ?... Curo uns e procuro matar outros para salvar a pele? Que culpa tenho eu que os homens não se amem ?!... Me queiram matar sem eu lhes fazer mal nenhum ?!...

Ainda não dei um tiro. A minha missão é curar. Jamais darei um tiro nesta guerra. Matar não, nunca. Vou tentar passar esta guerra sem fogo.



Guiné > Mapa geral da província (1961) > Escala 1/500 mil > Detalhe de região de Quínara, e da estrada Buba - Mampatá - Quebo - Chamarra - Gandembel [junto ao rio Balana, não  constando o topónimo]
_________________

Notas do editor:

(*) Vd. último poste da série > 28 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11168: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (2): O meu diário (José Teixeira, ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba e Empada, 1968/70) (Parte II): Buba-Aldeia Formosa, 39 horas dolorosas para fazer uma picada, de 35 km, em 24/25 de julho de 1968

(**) Vd. I Série, o último poste de 19 postes > 14 Março 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVI: O meu diário (Zé Teixeira) (fim): Confesso que vi e vivi

(***) Vd. poste de 21 de junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1864: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (7): do ataque aterrador de 15 de Julho de 1968 ao Fiat G-91 abatido a 28

(****) Julgo que a milícia em causa era a da Aldeia Formosa, comandada pelo alferes de 2ª linha Aliu Candé, ou Aliu Sanda Candé:

Vd. poste de 4 de dezembro de 20009 > Guiné 63/74 - P5406: Os nossos camaradas guineenses (16): A morte do Aliu Sanda Candé (José Teixeira)

segunda-feira, 4 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11191: Memória dos lugares (221): Gandembel: fotos de 1968 (Idálio Reis), 2008 (Luís Graça) e 2011 (Carlos Afeitos) (Parte II)


Foto nº 13 (Luís Graça, 2008)


Foto nº 14 (Luís Graça, 2008)


Foto nº 15 (Luís Graça, 2008)


Foto nº 16  (Luís Graça, 2008)



Foto nº 17 (Luís Graça, 2008)


Foto nº 18 (Luís Graça, 2008)


Foto nº 19 (Carlos Afeitos, 2011)


Foto nº 20 (Carlos Afeitos, 2011)


Foto nº 21 (Carlos Afeitos, 2011)


Foto nº 22 (Idálio Reis, 1968)


Foto nº 23  (Idálio Reis, 1968)


Foto nº 24  (Idálio Reis, 1968)


Foto nº 25  (Idálio Reis, 1968)

Guiné - Bissau > Região de Tombali > Gandembel > Fotos de três épocas:  1068 (Idálio Reis), 2008 (Luís Graça) e 2011 ( Carlos Afeitoas).


Carlos Afeitos, professor de matemática, cooperante na Guiné-Bissau, durante 4 anos (2008-2012), é nosso mais recente membro da Tabanca Grande, com o nº 606 [, foto à esquerda]. Está na neste momento a fzer um metrado em Inglaterra. Já nos mandou fotos dos restos de alguns dos nossos aquartelamentos (Gadamael, Gandembel, K3).

O Idálio Reis não precisa de apresentação: foi um dos bravos construtores e defensores de Gandembel e ponte Balana (CCAÇ 2317, 1968/79). Luís Graça, por seu turno, passou por estes sítios em 1 de março de 2008, de visita ao sul da Guiné.

Recorde-se que Gandembel, tal como outras guarnições militares no sul, foi abandonada - em 28 de janeiro de 1969 - por ordem expressa do Com Chefe, 292 dias depois do início da saua construção e após 372 ataques e flagelações. (LG).

sábado, 2 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11182: Memória dos lugares (220): Gandembel: fotos de 1968 (Idálio Reis), 2008 (Luís Graça) e 2011 (Carlos Afeitos) (Parte I)



Foto nº 1 (Carlos Afeitos,  2011)


Foto nº 2 (Luís Graça, 2008)


Foto nº 3 (Idálio Reis, 1968)


Foto nº 4 (Idálio Reis, 1968)


Foto nº 5 (Carlos Afeitos, 2011)



Foto nº  6 (Luís Graça, 2008)


Foto nº  7 (Carlos Afeitos, 2011)


Foto nº 8 (Carlos Afeitos, 2011)


Foto nº 9 (Idálio Reis, 1968)


Foto nº 10 (Idálio Reis, 1968)


Foto nº 11 (Luis Graça, 2008)


Foto nº 12 (Luís Graça, 2008)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gandembel >  CCAÇ 2317 (1968/69) > Neste e num poste seguinte, vamos apresentar imagens de épocas diferentes, captadas por Idálio Reis (1968), Luís Graça (2008) e Carlos Afeitos (2011).


1. Mensagem, datada de 21 de fevereiro último, de Carlos Afeitos, antigo professor, cooperante na Guiné_Bissau (2009-2012) e membro recente da nossa Tabanca Grande:

Boa tarde,

Tenho lido o blog e continuo com a mesma percepção de que falei anteriormente. É incrivel saber as coisas que vocês por lá passaram e como em pouco tempo o degradamento dos edifícios que foram deixados. Eu conheço os sítios de como estão agora e vejo a diferença. Continuando, estive a ver que agora estão alguns posts relativamente à linha de defesa junto da Guiné-Conacri e como conheço alguns sítios envio mais um lote de fotografias.

Desta vez é de Gandembel, o que tem uma história particularmente engraçada. Quando passei a segunda vez pela placa, decidimos parar e ir visitar as antigas instalações de Gandembel. Como eu nunca fui à tropa e estava acompanhado de dois amigos que conhecem essas andanças, lá me foram dando algumas luzes do que estava a ver. Vi pelo menos um bunker, uma linha de trincheiras ao redor do aquartelamento, um fosso para fazer tiro de morteiro, segundo as explicações, o que resta de um edifício e uma espécie de fosso. Fosso esse que não sei o que seria, se seria para mecânica ou algo parecido. Já agora coloco a questão, que tipo de aquartelamento era Gandembel? Quantos militares lá estavam?

Continuando o meu relato, andámos por todo o lado e percorremos o que restava, claro que sempre acompanhado por um enorme nuvem de mosquitos, mas mesmo grande,  que eu passava as minhas mãos por detrás da cabeça e sentia-os a bater-me nas palmas das mãos. Tal era a quantidade de aeronaves voadoras por aqueles lados, até aqui tudo bem. 

Continuámos o nosso caminho e fomos até Gadamael Porto, Cacine e Cameconde. Não cheguei a ir a Campeane. Existiu algum quartel por aqueles lados? Em Cameconde, estivemos e veio um professor pedir-nos ajuda com alguns materiais escolares, livros e coisas afins. Isto passou-se em Julho. Em Agosto regressei a Portugal para férias escolares e voltei para a Guiné em Outubro. Em Novembro, consegui reunir bastantes livros de vários anos e mais algum material escolar e marquei um dia para ir entregar o material. Lá fomos de carro cheio de material escolar de Bissau até Cameconde. 

Pelo caminho, como ia com outro amigo que nunca tinha ido para aqueles lados, queríamos parar em Gandembel. Para grande surpresa nossa, estavam a desminar aquela área e não foi possível visitar novamente o aquartelamento. Como ia eu e mais um amigo da outra vez, ficámos a pensar um bocado pois ainda há 4 meses tínhamos percorrido tudo e agora estavam a desminar o sítio. Uma das pessoas disse-nos que tinham encontrado 38 objectos explosivos, mas não sei o que seria,  se minas ou outra coisa qualquer. Sei que o vi com uma espécie de bala na mão, mas em tamanho grande. Podem ver que eu sou mesmo perito nestas andanças.

Com os melhores cumprimentos,

Carlos Afeitos [, foto atual, à direita,]

2. Resposta do editor L.G.:

Obrigado, Carlos... Fico muito sensibilizado...

Sobre Gandembel, tens no blogue cerca de 150 referências... Ganbembel foi construído de raíz, a pá e pica, e defendido com unhas e dentes... Em qualquer parte do mundo, daria um filme épico!... Em menos de 9 meses, a CCAÇ 2317 (c. 150 homens) tiveram c. de 370 ataques e flagelações... Vê aqui uma coleção notável de fotos (11 postes) em:

10 de outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2172: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/69) (Idálio Reis) (11): Em Buba e depois no Gabu, fomos gente feliz... sem lágrimas (Fim)

3. Comentário do Idálio Reis [, foto à esquerda], com data de 1 do corrente, a pedido dos editores:

Assunto - Gandembel e as fotos de um cooperante português: Carlos Afeitos

Quando se procura testemunhar indícios da passagem do homem, passados 44 anos e mais em África, o que poderá restar? Fósseis.

No abandono de Gandembel, a 28 de Janeiro de 1969, todas as infraestruturas existentes ficaram intactas, e porque se procedeu a destruições posteriores, são mistérios. Talvez, ambos os beligerantes, tenham a sua quota-parte, quer seja pelo poder das bombas da Força Aérea, quer mesmo pelo PAIGC.

A envolvente de Gandembel ficou pejada de minas e armadilhas antipessoais. Mas das fotos que me enviaram aquando do Simpósio de Guileje, em 2008, não estavam lá tais placas. Contudo, se se processava a um processo de desminagem, como atesta o Carlos Afeitos, é porque algo se passou de consequências imprevisíveis. Muitos artefactos por lá restaram, desde munições a granadas de mão que se enterraram, a granadas de morteiro que não rebentaram. Oxalá que tais trabalhos de desminagem tenham resultado em pleno, para que aquela terra ardente sossegue definitivamente.

E nesses chãos do Balana, a pujança da fauna e da flora do Cantanhez continue em ciclópica regeneração, pois a Guiné-Bissau possui aí uma riqueza incomensurável.

Do mail do Carlos Afeitos, refere as nuvens de mosquitos. Porventura resultantes de charcos do Balana, já que no meu tempo, não foi esse o nosso grande flagelo, pois jamais houve uma rede mosquiteira. As ingentes azáfamas quotidianas toldadas com os constantes estrondos da metralha, foram sempre o nosso penar. Quanto sangue se jorrou em Gandembel!

Das fotos, notam-se essencialmente restos calcinados das casernas-abrigo - os tais bunkers -, que nos proporcionava alguma segurança pessoal. Verifica-se que o cimo de uma delas, tomba de pleno, onde se nota restos da parede posterior, que as estruturas metálicas de sustentação fizeram solidificar.

Um dos locais do morteiro 81 [ Fotos nºs 1, 2, 3, 4] continua presente. Era aí que pernoitavam o comandante da Companhia e o seu ajudante.

Também, pelo seu figurino geométrico se mostra o armazém de víveres, a última das construções mais sólidas a serem edificadas. [,Fotos nºs 5 e 6]

Desconheço se o cooperante Carlos Afeitos ainda continua a calcorrear aquelas terras do Forreá. Terei o maior prazer em lhe ofertar um livro meu, para lhe dar a conhecer o quanto representou aquelas paragens para a minha CCaç 2317. E se acaso, por aí se quedar, que envie mais algumas imagens. Ficarei satisfeito.

Calorosamente, Idálio Reis
_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 28 de fevereiro de 2013 >  Guiné 63/74 - P11171: Memória dos lugares (219): Olossato, anos 60, no princípio era assim (6) (José Augusto Ribeiro)