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terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3765: A história dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (7): A visita do General Spínola

1. Novo episódio da história da CCAV 8351, enviada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gamada da CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74, em 11 de Janeiro de 2009.


ABRIL DE 1973

Se ainda se lembram, terminei o último capítulo da história da minha Companhia com o relato de um ataque ao arame no dia 9 de Abril (*), a um arremedo de aquartelamento que era o Cumbijã: duas fiadas de arame farpado, quinze ou vinte tendas de campanha, valas para protecção de eventuais ataques e uma cozinha de campanha.

Todos os pedidos dirigidos ao Batalhão no sentido de tornarem a vida menos difícil aos Tigres esbarravam num muro de silêncio, eventualmente por não disporem de quaisquer meios para nos ajudar na construção de condições que nos permitissem viver com um mínimo de dignidade humana, até porque a engenharia começava a fase mais difícil da construção da estrada.

Tomámos então a decisão de construirmos nós próprios as nossas instalações.
Em Roma sê romano, na Guiné sê guineense.

Começámos por amassar o barro com os pés, dávamos a essa massa a forma de blocos que secavam durante uns dias ao sol e as primeiras paredes começaram a ser levantadas. Era fundamental ter um posto de comando bem perto da toca das transmissões, que era um buraco cavado no chão pela Engenharia, coberto por troncos de palmeira, por sua vez tapados por barro e finalmente cobertos com uma montanha de terra.

Foi pelo Posto de Comando que iniciámos as nossa obras. Tenho duas fotografias que mostram o esforço dos meus companheiros, que anexo, relativamente às quais peço lhe sejam dadas o devido relevo, pois quero salientar o sacrifício desta malta que depois de vir do mato da protecção à estrada, ou da coluna diária a Aldeia Formosa ainda tinha uma horita de trabalhos forçados para fazer já não sei quantos blocos por dia. Presto a minha singela homenagem a toda a Companhia, nas pessoas aqui retratadas.

Amassando blocos para a construção das futuras instalações

Amassando após o regresso da coluna a Aldeia


Visita do General Spínola

No dia 14 de Abril, mais uma vez recebemos a visita do General Spínola.
Parei este texto neste parágrafo, vai para mais de quinze dias. Problemas da vida pessoal, mas fundamentalmente o medo de não saber expressar, ou fazê-lo de forma menos correcta, os sentimentos acerca do General Spínola, homem controverso que suscitou, e pelos vistos continua a suscitar, sentimentos de amor e desamor, tão depressa acusado como louvado, que na guerra tentava encontrar soluções ou pela via diplomática junto de Shengor, ou invadindo países vizinhos, como aconteceu com a Operação Mar Verde, autor de Portugal e o Futuro (mais vale tarde que nunca), abandonando o Guileje ou pelo menos não lhe dando hipóteses de uma defesa racional, recusando o convite de Marcello Caetano para ministro do Ultramar em finais de 1973, recusando-se também e juntamente com o General Costa Gomes a fazer parte da Brigada do Reumático que foi prestar vassalagem a Caetano. Este homem, que foi também o primeiro Presidente da República após o dia da libertação – 25 de Abril de 1974 - este homem heterodoxo, será no decurso da história que vou escrevinhando acerca da minha Companhia, analisado apenas e só através de um discurso substantivo que se limitará a descrever a vivência que os Tigres do Cumbijã com ele tiveram.

No dia 14 de Abril de 1973 recebemos então a visita do General Spínola.
Recordo-me da primeira pergunta que me fez:
- É do quadro ou miliciano?
Recordo-me da resposta imediata e eventualmente atrevida que lhe dei:
- Neste buraco?… Sou miliciano.
Vi nele o esboço de um sorriso, seguido de nova questão:
- Falta-lhe alguma coisa?
- Tudo!
- Tudo o quê?

Seria fastidioso continuar esta conversa em discurso directo, pelo que os meus camaradas e amigos que são conhecedores das condições desumanas em que vivíamos, facilmente adivinharão o que durante alguns minutos lhe fui solicitando: cimento para construirmos casernas, chapas de bidão cortadas, apoio da Engenharia para que as coisas andassem mais rapidamente, arcas frigoríficas a petróleo pois não tínhamos direito a uma cerveja fresca, um gerador e obuses, já que o apoio da artilharia quando éramos atacados nos era dado ou por Mampatá ou Aldeia, não tenho a certeza. A sua resposta ficou célebre entre os Tigres:
- Terá tudo isso na próxima LDG. Os obuses já estão tratados, o resto, repito, chega a Buba na próxima LDG, incluindo as arcas frigoríficas, nem que tenha de as ir buscar à messe dos oficiais de Bissau.

A parte final da frase obviamente era escusada, mas não imaginam a alegria que todos os soldados, e não só, sentiram ao ouvi-la. O General Spínola era exímio neste tipo de tiradas e nunca o ouvi a recriminar nenhum soldado, mas vi-o zangado com um grande do quadro, utilizando por várias vezes no seu discurso a palavra que imortalizou Cambronne, apesar da minha presença. Visitar-nos-ia ainda em Nhacobá, mas aí não houve tempo para discursos.

Só quero acrescentar que na LDG seguinte o prometido chegou!

O Vasco posando junto ao recém - chegado obus 10,5

O General Spínola e o Vasco, de costas,  em pleno aquartelamento

Da esquerda para a direita: Alf Abundâncio, Cap Vasco da Gama, General Spínola, Cap Malheiro da CCaç 3399,  de Aldeia, o sr. Comandante do Batalhão de Aldeia Formosa, BCaç 3852

Interrogatório do Comandante em Chefe

Interrogatório do Comandante em Chefe

Interrogatório do Comandante em Chefe

Partida do General Spínola


Até finais de Abril e diariamente, tivemos sempre dois Grupos de Combate a construir o destacamento, enquanto dois outros pelotões realizavam também diariamente patrulhamento e picagem na zona do Cumbijã, ou iam a Aldeia buscar os géneros para dois ou três dias ou escoltavam a coluna Aldeia – Buba - Aldeia.

O destacamento começava a ter construção de blocos e cimento. Cada Grupo de Combate teria em meados de Junho a sua caserna, onde, separados apenas por uma parede, dormiam também o alferes e os furriéis de cada Pelotão.

A adopção desta distribuição custou-me uma espécie de reprimenda de um dos comandantes do Batalhão de periquitos que entretanto havia chegado a Aldeia Formosa – BCaç 4513 - e esteve durante algum tempo em sobreposição com os já velhinhos do BCaç 3815. É verdade amigos, Aldeia durante algum tempo teve dois batalhões, para além da excelente CCaç 18. Obviamente que a distribuição do pessoal permaneceu como o Gama entendeu, e palavras como promiscuidade e outras que tais não tinham razão de ser, pelo menos para mim. Findo que seja um jogo de xadrez peões, cavalos, torre e rei voltam todos para a mesma caixa.

Para terminar Abril apenas mais um embrulhanço de morteiro 82 sem qualquer consequência.

Com os obuses veio a sua guarnição composta de negros enquadrados por um cabo, um furriel e um alferes, todos eles brancos…

Rapidamente os negros começaram a construir as suas moranças, das quais, felizmente possuo uma fotografia que um antigo camarada meu, o ex-cabo e sempre amigo José Carlos Faria dos Santos, me enviou.

O Zé Carlos, que aparecerá em duas ou três fotografias que abaixo vos mostro, era um homem sem medo tanto com a sua bazuca ou como apontador de dilagrama e era também um daqueles desenrascados sempre pronto para uma partida mas também para ajudar o seu amigo.

Um belo dia, numa das deambulações que fazia pelo acampamento, deparei por detrás das moranças dos camaradas da artilharia, mesmo junto ao arame, com uma bela horta, que se pode ver na foto devidamente identificada. A horta, obviamente, era da autoria do Zé Carlos.

Vê lá, Zé Carlos, que ao fim de trinta e sete anos vou mostrar a centenas de pessoas que vão acompanhando o nosso blogue a tua horta. O Zé que hoje habita para os lados de Torres Novas, é um bom amigo com quem me vou encontrando; é pai de três filhos, um engenheiro, outro sargento da Armada e outro estudante no ensino superior. Ele foi o grande impulsionador dos encontros da nossa Companhia e todos os anos sobe ao palco para dizer uma versalhada, que eu julgo ser sempre a mesma, pois por essa altura já os vapores etílicos tomaram conta da maior parte de nós.

Para ti e para os nossos camaradas e amigos que moram ao pé de ti, o Felício e o Félix, vai um abraço amigo e solidário.

Prefiro ficar por aqui, pois o mês de Maio, sem dúvida o mais negro, não se enquadra nesta forma despreocupada com que hoje termino.

Zé Carlos no posto de vigia voltado para Nhacobá

A célebre horta do Zé Carlos

Zé Carlos em pose com a sua bazuca

Fotos e legendas: © Vasco da Gama (2008). Direitos reservados.

____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 28 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3675: A história dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (5): Ocupação do Cumbijã e construção das instalações

INAUGURAÇÃO OFICIAL DAS INSTALAÇÕES
Ia o dia nove de Abril quase no fim, quando os Tigres sofrem um ataque a parecer bem. Era a primeira reacção do PAIGC à construção do acampamento. Os dois Gr Comb que então se encontravam no Cumbijã são confrontados com um ataque violentíssimo de morteiro 60, RPG7, RPG2 e armas ligeiras, tendo mesmo o grupo IN tentado o assalto. O primeiro disparo de RPG2 destruiu por completo uma tenda de campanha, tendo-nos causado oito feridos. Ripostámos forte e feio, e dizem-me alguns soldados que viram integrados no grupo que veio ao arame dois brancos. Vale o que vale… mas que foi muito duro para os dois GCOMB foi. Mas as entradas ali não eram permitidas… só pela porta de armas, que não havia. Os feridos, suponho que todos eles ligeiros, foram de seguida para Aldeia Formosa.
(...)

Vd. último poste de série de 4 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3697: A história dos Tigres de Cumbijã, contada pelo ex-Cap Mil Vasco da Gama (6): Aditamentos (Vasco da Gama)

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3563: Bibliografia de uma guerra (40): Venturas e Aventuras em África, de Cristina Malhão-Pereira (Beja Santos)

As Mulheres na Guerra




Um olhar feminino sobre a cratera do vulcão
por Beja Santos

A literatura sobre a guerra de África é predominantemente masculina, invoca-se a experiência, dela se desfia a memória, as mulheres eram pára-quedistas, estavam excepcionalmente nos hospitais. No entanto, ficaram-nos alguns relatos de mulheres que acompanharam os seus maridos nas comissões. Duas escritoras, Lídia Jorge (“A costa dos murmúrios”) e Wanda Ramos (“Percursos”) deixaram-nos relatos de grande densidade sobre o que viveram em Moçambique e Angola, respectivamente.

A LDG Alfange no Cumbijã. Foto de que não recordo o Autor, a quem peço desculpas. Com a devida vénia.


Mas na Guiné esteve a mulher de um oficial da Armada (Comandante José Manuel Malhão-Pereira), ao serviço da LDG Alfange, que nos deixou impressões pessoais da sua vida em 1969 e 1970 ("Venturas e Aventuras em África, Bissau, Guiné 1969 – 1970", por Cristina Malhão-Pereira, Civilização Editora, 2007).

Cristina é uma jovem esposa e mãe, tem 23 anos, fala de todas a dificuldades que viveu com muita simpatia, considera que a sua geração estava inicialmente muito mobilizada para a defesa do Ultramar, todas as classes participavam sem um queixume. Chega a Bissau, a grande preocupação era arranjar uma casa, lá se conseguiu, bem como dois jovens ajudantes africanos, isto enquanto o marido se ausentava frequentemente para missões de combate.

A casa alugada estava um nojo, com a ajuda da tropa tudo se arranjou, improvisaram-se móveis, levava-se uma vida pacata, quando havia possibilidade a Cristina acompanhava o marido nas caçadas nos arredores de Bissau. Superaram os problemas de saúde, deram umas escapadelas até aos Bijagós e mais tarde a Teixeira Pinto e a Cacine.

É um relato significativo para descrever Bissau e o estado de espírito da população branca e autóctone: os medos, os tiroteios perto e ao longe, a pancadaria entre soldados, a atmosfera das lojas, os encontros sociais, as longas incertezas e esperas quando a Alfange andava nos rios.

É um relato ligeiro, nostálgico, onde há memórias divertidas e tormentosas. Depois, o casal seguiu para Moçambique, onde permaneceu de 1971 a 1975.
__________

Notas de vb:

1. O Mário Beja Santos continua a "juntar todas as peças, todos os testemunhos. (...) agora ando a escrever as memórias de uma mulher fascinante, estou a sair do Gabu, em 1958, já houve as eleições do Delgado e do Tomás, em 1961 vai haver tiroteio em São Domingos. Tenho ainda trabalho para largos meses. Mas estarei sempre convosco. Do Mário Beja Santos".

2. Vd. último poste da série Bibliografia de uma Guerra

28 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3536: Bibliografia de uma guerra (39): Nó Cego, de C. Vale Ferraz. (Cor Matos Gomes)

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3480: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (2): IAO, Bolama, Outubro de 1970

1. Mensagem do nosso camarada Luis Faria, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, datada de 9 de Novembro de 2008, com a segunda viagem às suas memórias (*).

Caros Luís e Vinhal
Em anexo segue mais um capítulo da Viagem...
Um abraço e parabéns extensivo a toda a Equipa
Bem hajam
Luis S Faria




BOLAMA - IAO (Instrução Aperfeiçoamento Operacional)

Ao largo, no Pijiguiti, após 12 dias de viagem no luxuoso Paquete inclinado - em que o passatempo era mergulhar na piscina imaginária, jogar ao atira garrafas bebidas borda fora, mentalização à soldadagem, umas leituras e recordações – dou uma escapada a Bissau. Os Praças não tiveram essa sorte. Umas voltitas, umas cervejolas (à altura ainda não sabia que eram bazucas) acompanhadas com uns tremoços que, coisa esquisita, mais me pareceram camarões! Gasto o chamado patacão e tomado o contacto com a nova realidade, há que regressar ao Paquete… para pernoitar, pois o tempo esgotou-se e não estava ali para férias.

Na manhã seguinte, a minha CCaç 2791 (FORÇA) rumaria à ilha de Bolama a bordo de uma LDG, para início do IAO.

Após a confusão ordenada de embarque na dita LDG e depois de uns tiros da sua arma pesada - se foi para porem os periquitos à rasca, conseguiram-no - chegamos à que se dizia sossegada ilha de Bolama.

Instalado e ao fazer os primeiros reconhecimentos à zona de comes e bebes e outros… tive oportunidade de sentir a que teria sido uma agradável estância de férias, - com a sua boa piscina, com aquelas praias, aquele mar, a vegetação com aqueles palmares, aquela fauna (a macacada, as aves do paraíso, as iguanas…) - e os primeiros contactos com a população local, olhando com alguma desconfiança os homens que, sabia lá (?!), podiam ser turras, e com olhos de ver, lindas Bajudas com as suas mamitas (?) ao léu e que não seriam turras com certeza (!!)

Enfim…

Mas a guerra estava lá, dura e impiedos, e eu queria que o 4.º Grupo, que comandava, coadjuvado pelo J. Fontinha (Op Esp) e o M. Chaves (açoriano), estivesse à altura de a enfrentar sem baixas, ou com as menos possível. Não queria que famílias chorassem por esse motivo.

Para isso era preciso trabalhar a sério com a rapaziada (Jericada como dizia/diz com ternura o meu grande amigo Fur Op Esp Castro, do 2.º Gr) nas técnicas de combate, assalto, progressão, observação e outras.

Ordem unida? Nessa matéria (detestada) necessária à disciplina, autocontrolo, unidade de grupo e mais… a rapaziada fez dela uma bandeira para mostrar ao resto da Companhia que o 4.º Grupo, o mais recente, mais pequeno (salvo erro, 20 elementos) e comandado por Furriéis tinha uma garra do caraças, e não ficava atrás dos outros, antes pelo contrário! (Eh Pessoal… e na parada de apresentação ao Gen Spínola? O General até se passou com aqueles Ombro-arma e batimentos recordam? Isto para não falar no nosso Cap Mil Mamede de Sousa. Foi demais! Quase que rachávamos a parada (!!!)

Com esta passagem não quero dizer que houvesse rivalidades ou equiparados na 2791. Pelo contrário, era uma Companhia muitíssimo unida. Para isso contribuíram os seus Quadros operacionais iniciais, que se davam muito bem e interagiam muito com o pessoal.

Como dizia, havia que trabalhar no duro e mentalizar a rapaziada de que o esforço dispendido podia fazer a diferença entre viver e …!

Atendendo a que o Fontinha e eu tínhamos treino especial e o Chaves nos acompanhava, o IAO foi realmente puxado, especialmente em Treino de combate, progressão, observação e auscultação do meio envolvente e outras. Tudo foi treinado até atingirmos a autoconfiança individual e de grupo. E a morfologia da ilha prestava-se bastante a esse treino.

Durante este período e para nos lembrar que havia guerra, que nem em Bolama se estava 100% seguro e não se podia facilitar, fomos brindados com um míssil numa hora de refeição, que nos fez abrigar por baixo das mesas e onde possível. Caiu perto e felizmente sem consequências.

Claro que também houve muitos momentos de descontracção. Convívios, cerveja, uísque, vinho, camarão e outros manjares, como provam as fotos. E esses eram momentos em que libertávamos o nosso Eu numa sã camaradagem e amizade, com conversas afiadas em que as estórias e as réplicas levavam por norma à gargalhada. Aquela do Alf Quintas, Op Esp do 1.º Grupo, conduzir um Unimog carregado de guineenses a toda a velocidade pela picada, ter chegado ao destino e ficar espantado por não estar mais ninguém na viatura (tinham saltado ou caído, felizmente sem problemas), ainda por vezes hoje é recordada.

E havia também os momentos em que se desabafava com os mais chegados, dos amores e desamores, das saudades, de situações vividas, dos anseios, dos medos e receios, normal na Juventude, que nos estava a fugir muito depressa.

E assim se foi esgotando o tempo na paradisíaca ilha e, a 30 de Outubro de 1970, embarcámos de novo numa LDG com destino a Bissau, de onde partimos em coluna auto para Bula.

Um abraço a todos
Luís S Faria


Bolama > Outubro de 1970 > Luís Faria

Bolama > Luís Faria na marginal

Furrielada com Oficiais e Sargentos > Ao fundo com cigarro Faria; ao lado e por ordem decrescente, de alturas Fontinha; Urbano (enfermeiro); Alf Quintas; Sarg Guerreiro; Mesquita; Ferreira. À minha frente, sentado, o Cap Mamede, à esqerda o Castro, Lourenço (TRMS), Alf Barros (?); Mealha (?) (Mecânico) e Belchiorinho (Vaguemestre)

Furrielada > Da esquerda: Madaleno, Belchiorinho; Mealha; Ferreira; Lourenço Fontinha; eu; Urbano; ? ; Marques; 1.º Cabo Trms Ribeiro
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 3 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3397: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (1): A ida, do RI5 a Bissau

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3368: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (8): Navegações...

Navegações



por Alberto Branquinho

ex-alf mil da CArt 1689 (1967/69)


Muitas foram as andanças, mudanças e transferências com a “casa” às costas, em transportes por terra e por água. Com carácter provisório ou mais ou menos definitivo. Por água – em braços de rios, canais, rios e grandes rios e, por vezes, quase oceano. Com armas e bagagens, mudando de quartel para quartel ou para bases (provisórias) de operações.

Um homem tem que levar tudo o que é seu, sem o qual não se diferencia dos demais e, também, o material de guerra que lhe está distribuído.

Em batelões rebocados, mas quase sempre nas LDG’s, LDM’s e LDP’s. As mais das vezes em LDM’s e LDP’s, porque tinham capacidade de manobrar naqueles rios de curvas e contra-curvas (em maré cheia), em apertos de canais e de marés, de ilhotas, de lodo, lodo, lodo, sempre lodo. De dia e de noite, no chegar das madrugadas.

Houve aquela situação insólita, em que, navegando no Rio Geba em LDG para jusante e com a maré a vazar de maneira acelerada, o homem ao leme virou francamente à esquerda para evitar um baixio e, poucos metros adiante, a proa estacou. Tentou safar-se, mas já grande parte do fundo da “chata” estava preso no areal lodoso. A margem esquerda ficou a cem, cento e vinte metros; chão com pouco lodo e arenoso, com pequenos lagos. À direita da lancha a água corria, indiferente. A sensação era de encurralamento. Houve que esperar a subida da maré. Foi montada segurança no lado esquerdo da lancha, com muita atenção à vegetação na margem. Não houve surpresas.

Insuportável era o transporte, por lancha, em dias de chuva. O pessoal cobria com lona o espaço à proa, que era destinado à concentração para desembarque. Devido à ondulação, sem visibilidade para o exterior e sem ventilação suficiente, havia enjoos e vómitos.

O pessoal chegava debilitado, incapaz de uma “guerra” imediata, a necessitar de se sentir com os pés em terra, mas teriam que sair correndo furiosamente, a chapinhar naquela água-lodo da maré alta, fazendo uma linha-de-fogo, derivando metade para a direita e a outra metade para a esquerda.

Naquela viagem em LDM em que, quando o fogo rebentou da margem direita, os marinheiros (donos e senhores da sua casa), berraram para baixo:
- Vocês aí quietos!

O pessoal da guerra apeada não entendeu porquê, mas agacharam-se contra a chapa. Na sua farda azul e abrigados como podiam, os marinheiros responderam ao fogo, enquanto a metralhadora pesada, da torre, abriu fogo cadenciado, com uma força que impunha respeito.

Quando um marinheiro saltou para baixo, agarrado a uma perna que sangrava, um grupo da tropa que estava a ser transportada, contra as ordens recebidas, passou, também, a fazer fogo para a margem.
Num canto da lancha um soldado começou a disparar para o céu.
– “Pára com isso! Que estás a fazer?”
– “Estou a meter-lhes medo, meu alferes.”

Era uma noite sem nuvens e de lua cheia. Navegavam ao longo da costa, em LDP. O coração muito apertado, com a imaginação a trabalhar furiosamente, prevendo o pior no desembarque, ao amanhecer, quando a “chata” baixasse aquele nariz em prancha. Mas era, ainda, muito noite.

Observando o recorte das palmeiras mais altas, de ramagem forte, recortadas no céu e as sombras das ilhotas em contraluz com o mar adiante, iluminado pelo luar, esfumavam-se os maus presságios. À medida que a lancha avançava, as ilhotas iam-se confundindo ou separando umas das outras. A luminosidade da lua estilhaçava-se numa imensidão de pequenos requebros até ao horizonte, que era já oceano. Do lado esquerdo da lancha a terra firme, a mata escura e densa, onde, com o luar, se adivinham os poilões mais altos, frondosos, imponentes ou tufos de palmeiras que sobressaíam do escuro da mata.

Sobrevém a grane interrogação sobre o futuro próximo, quando amanhecer, sobre que pedaço de terra, lodo, tarrafo, bolanha, pode um homem vir a morrer ou poder ficar estropiado.

O pessoal dormia pelos cantos da lancha ou, pelo menos, não vagueava pelo espaço disponível. Olhando com atenção, notavam-se no escuro, espaçadas, pontas de cigarro acesas.
Voltam-se os olhos de novo para as ilhotas que vão passando ao lado da lancha, para o mar, depois para a lua. Ela vai passando devagar, muito devagar para o outro lado da lancha. Os olhos acompanham-na, inconscientemente, nesse movimento vagaroso. Subitamente, um ruído lá atrás obriga a olhar nessa direcção. Uma figura surge iluminada pela lua e berra:
- Que merda é esta, pá? Tínhamos a lua a estibordo e agora está a bombordo. Estás a dormir?
Era o “patrão da lancha”.

__________


Notas: artigos da série em

22 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3224: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (7): Honório, o aviador...

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3345: O cruzeiro das nossas vidas (12): Uíge, 5 de Fevereiro de 1969, destino Guiné (António Varela)

1. Mensagem de António Varela (*), ex-Fur Mil Sap Minas e Armadilhas, CCS/BART 2865, Catió, 1969/70, com data de 13 de Outubro de 2008:

Caros Luis, Carlos e Virgínio:

Como tinha prometido estou a enviar-vos a estória do meu embarque para a Guiné, o meu baptismo de fogo (**) e também algumas fotografias minhas, do quartel e da vila de Catió. Se acharem que têm interesse podem utilizá-las.

Texto e fotos: © António Varela (2008). Direitos reservados


2. Destino: Guiné (***)

No dia 5 de Fevevereiro de 1969, depois das despedidas da família e do desfile militar, fui ainda contemplado pelo Movimento Nacional Feminino com um livrinho sobre a Guiné, uma imagem religiosa e um maço de tabaco (Três Vintes). O cais da Rocha de Conde de Óbidos estava apinhado de gente para o último adeus, emocionado.

O navio que me transportou e ao BART 2865 foi o Uíge, fomos colocados oficiais e sargentos nos camarotes e os soldados no porão.

Com o navio todo inclinado para o lado do cais, num último adeus sentido, com muitos lenços brancos a acenarem para os filhos, maridos, irmãos, namorados, que se afastavam agora a caminho do mar largo, com destino à Guiné.


N/M Uige da Companhia Colonial de Navegação

Foto retirada do site
Navios no Sapo, com a devida vénia

Depois, com Lisboa fora do alcance da nossa vista, seguiram-se 6 dias em que muitos enjoaram e vomitavam em qualquer lado, até dentro do próprio prato, e alguns eram bastantes insistentes. Os piores de todos foram sempre os soldados, instalados no porão, onde só cheirava a vomitado, alguns não tinham forças para se levantarem das camas, tal era o seu estado de fraqueza.

Aguentar tudo aquilo era medonho, mas havia sempre alguns que se aproveitavam dos males dos outros em seu proveito, tomando mais uma refeição.

Foram também 6 dias de batota, com jogos de todo o género, poker, lerpa, copas, abafa, apostas em corridas de cavalos, etc. Ao terceiro dia de viagem, havia quem já tivesse perdido tudo o que tinha recebido antes de embarcar.

Passámos ao largo do norte de África, das Canárias, da Madeira e das Ilhas de Cabo Verde, acompanhados apenas pelas gaivotas e peixes voadores, Arquipélago dos Bijagós e no dia 11 de Fevereiro de 1969 desembarcámos em Bissau. O Uíge ficou ao largo, sendo nós transportados noutros barcos para o cais do Pidjiguiti.

Já no cais, comecei a olhar em volta procurando inteirar-me da realidade que me esperava, ao fazer esta observação, apercebi-me que havia uma grande lona a cobrir qualquer coisa e resolvi levantar ligeiramente para ver o que se encontrava por baixo, e para espanto meu vejo que são caixões, 50 a 60. Ao ver isto fiquei muito impressionado, e pensei:
- Estou tramado, onde é que me vim meter.

Sabia que a guerra na Guiné era a pior de todas, mas nunca pensei encontrar no cais, à chegada, como cartão de boas-vindas, todos aqueles caixões. Soube mais tarde que, como se tinha dado o desastre de Madina do Boé há pouco tempo, onde tinham morrido mais de 40 camaradas, aqueles seriam os seus caixões para serem embarcados no Uíge na volta para Lisboa. Sendo ou não caixões daqueles camaradas, o que é certo é que apanhei um arrepianço do caraças, mas também quem é que me mandou levantar a lona?

Do Pidjiguiti seguimos para o quartel em Brá, onde nos instalaram, no meu caso numa casa com colchões no chão, junto aos geradores que faziam um barulho infernal e não deixavam dormir ninguém.

Ao anoitecer ouvi os primeiros estrondos ao longe, mas que pareciam tão perto! Vim depois a saber que eram os obuses de Tite a bater a zona, mas que apanhei outro arrepio é verdade que apanhei, eu e os que estavam comigo naquela noite.

De 11 a 16 de Fevereiro de 1969 andámos por Bissau a conhecer os seus encantos, o café do Bento, o Solar dos Dez, a Solmar, um café junto da Amura de que não recordo o nome, mas onde se comia bom marisco, outro café junto à praça do Império, do lado esquerdo de quem sobe a avenida, onde os jubes vendiam amendoim descascado para acompanhar a cerveja. Era óptimo.

Andámos também pelo Pilão, o pessoal tinha algum receio de lá ir, mas era um dos principais locais para pôr a actividade sexual em dia. Visitámos também os mercados municipal e central, todas estas visitas sempre acompanhadas com muita cerveja, whisky, coca-cola, etc.

Partimos a 17 de Fevereiro em LDG, para Catió.

As marés vivas faziam as ondas bater na LDG e entrar dentro dela, dando-nos antênticos banhos de água salgada e nós não estávamos minímamente preparados para ultrapassar este problema. No entanto os marinheiros já sabiam como eram estas viagens e levavam sempre bagaço com fartura para aquecermos. Tinhamos de desembolsar 5 pesos por cada copo de bagaço, eles faziam um dinheirão com as viagens para Catió.

Quando entrámos no rio, começaram os canhões das LDG a disparar para as margens, que por vezes ficavam bem próximas das LDG, confesso que voltei a pensar:
- Cum caraças onde é que eu estou metido ?

Chegámos finalmente ao cais de Catió, aproveitando as marés, conseguimos desembarcar e dirigir-nos para a vila. Aqui chegados começámos a ver que todos os que estavam fora do quartel, estavam armados até aos dentes, pensei:
- Estou mesmo tramado, isto deve ser muito mau, se até ao bar (Catió) vêm armados...

Catió, 1869/70 > Vista parcial da vila e do Quartel

As instalações no quartel em Catió eram razoáveis para aquilo que eu estava à espera, mas mesmo assim no meu quarto ficávamos 5 furriéis. Havia espaço, o recato é que não era muito, mas dentro da diversidade havia uma certa complementaridade que permitiu nos déssemos mais ou menos bem.

Catió, 1869/70 > Fur Mil Varela à Porta d'Armas, de Sargento de Dia

Catió, 1969/70 > Quartos dos Sargentos e em frente Messe dos Oficiais

Catió, 1969/70 > Lado esquerdo, quartos dos Oficiais; em frente do lado esquerdo, Casa da Guarda e Depósito de Géneros; lado direito, Edifício do Comando; lado direito, frente, Cozinha da Messe dos Soldados.

Fotos e legendas: © António Varela (2008). Direitos reservados.



Recordo aqui com saudade os ex-Fur Mil Sap Fialho, ex-Fur Mil Sap Nascimento, ex- Fur Mil Vaguemestre Samuel e o ex-Fur Mil Escriturário Moita Pereira. Se visitarem o blogue, um abraço para eles.
_______________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 12 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3302: Tabanca Grande (91): António Varela, ex-Fur Mil Sapador da CCS/BART 2865, Catió, 1969/70

(**) Vd. último poste da série de 20 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3332: O meu baptismo de fogo (15): Buba, Aldeia Formosa, 1968. (José Teixeira)

(***) Vd. último poste desta série > 21 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3338: O cruzeiro das nossas vidas (11): Viagem para a Guiné em época de Carnaval (Jorge Picado)

Postes anteriores:

12 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1271: O cruzeiro das nossas vidas (1): O meu Natal de 1971 a bordo do Niassa (Joaquim Mexia Alves)

19 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1296: O cruzeiro das nossas vidas (2): A Bem da História: a partida do Uíge (Paulo Raposo / Rui Felício, CCAÇ 2405)

21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1300: O cruzeiro das nossas vidas (3): um submarino por baixo do TT Niassa (Pedro Lauret)

21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1301: O cruzeiro das nossas vidas (4): Uíge, a viagem nº 127 (Victor Condeço, CCS/BART 1913)

11 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1420: O cruzeiro das nossas vidas (5): A viagem do TT Niassa que em Maio de 1969 levou a CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Manuel Lema Santos)

15 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1953: O cruzeiro das nossas vidas (6): Ou a estória de uma garrafa, com o SPM de Mansoa, que viajou até às Bahamas (Germano Santos)

3 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2025: O cruzeiro das nossas vidas (7): Viagem até Bolama com direito a escalas em Leixões, Mindelo e Praia (Henrique Matos)

13 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2044: O cruzeiro das nossas vidas (8): Porto de Lisboa, Cais de Alcântara (Luís Graça)

15 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2050: Cruzeiro das nossas vidas (9): Do Funchal para Bissau no Ana Mafalda (Carlos Vinhal)

13 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2533: O cruzeiro das nossas vidas (10): Fui e vim no velho e saudoso Niassa (Manuel Traquina)

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2915: Com os páras da CCP 122/ BCP 12, no inferno de Gadamael (Carmo Vicente) (1): Aquilo parecia um filme do Vietname


Guiné > Região de Tombali > Posição relativa de Cacine, Gadamael e Guileje, na bacia hidrográfica do Rio Cacine, junto à fronteira sul com a Guiné-Concacri (pormenor). Topónimos assinalados a verde.


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Cacine > Simpósio Internacional de Guileje > Visita dos participantes ao Cantanhez > 2 de Março de 2008 > Cais de Cacine, ao fim da tarde... Cacine é hoje uma povoação decadente... Por aqui passaram importantes contingentes das tropas portugueses, e nomeadamente tropas especiais, como os fuzileiros e os pára-quedistas, nomedamente em Maio, Junho e Julho de 1973, quando o PAIGC lançou uma grande ofensiva contra as nossas posições no sul, em especial no corredor de Guileje: Iemberém, Guileje, Gadamael...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


Capa do livro de Carmo Vicente - Gadamael: memórias da guerra colonial. 2ª ed. Lisboa: Caso. 1985. 110 pp. Prefácio de Manuel Geraldo (*).

Foto: © Jorge Santos (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do Leopoldo Amado, datada de 7 de Abril de 2008:

Lendo hoje algo sobre Gadamael, apressei-me a reencaminhar-vos o texto de Vicente Carmo que em tempos enviei ao Pepito e que penso que deve ser publicado, pelo menos rcialmente, no nosso blogue, pois dá uma ideia do que foi Gadamael, depois de Guiledje. Leopoldo Amado



2. Mensagem de Leopoldo Amado, de 17 de Outubro de 2007, enviado ao Pepito:


Assunto: Gadamael, de Carmo Vicente

Caro Pepito,

Segue em anexo o prometido texto de Carmo Vicente,  inquestionavelmente, dos autores mais ousados da grande gama de literatura de guerra existente sobre a Guiné. Ainda há dias, li uma outra coisa dele sobre os crimes de guerra e fiquei estarrecido.

O texto dele traz-nos inclusivamente alguns nomes que nos são familiares como o do nosso compatriota D... (provavelmente parente do jovem sportinguista e Director da Escola de Formação Profissional da AD, esqueço-me do nome) e ainda do nosso Coutinho e Lima [ex-comandante do COP3, à data do abandono de Guiledje, em 22 de Maio de 1973].

Lamento não o conhecer pessoalmente o Carmo Vicente, pois seria uma presença necessária no Simpósio [Internacional de Guiledje], até pela sua frontalidade e sensatez.

Tentei em vão pôr-me em contacto com ele e descobri, através de uma pequena pesquisa na NET, que o homem é agora empresário do sector da construção civil, possuindo, inclusivamente, uma ou várias empresas que laboram no sector do fornecimento de pedras diversas.

Para além de ser extremamente factual, o texto que agora envio é de tal acutilância que também dá uma ideia aproximada da determinação com que o PAIGC, no Sul, teria conduzido o processo que visava desalojar o Exército português de todo o corredor fronteiriço com a República da Guiné.

Não seria provavelmente má ideia colocar este no blogue [Luís Graça & Camaradas da Guiné] e ficar a espera de reacções que certamente enriqueceriam ainda mais os testemunhos sobre o Sul em geral e sobre Guiledje, Balana e Balana Cinho, em particular.

Talvez devêssemos e pudéssemos criar no site do Simpósio uma secção com textos afins, à semelhança, por exemplo, de alguns outros de Idálio Reis, e a transcrição da entrevista de um ou outro ex-combatente do PAIGC (Umaro Djalo, por exemplo), os quais poderiam ir ajudando a balizar as intervenções, tornando-as mais ricas, na medida em que, a partir daí, certamente os intervenientes teriam de fazer um maior esforço para se distanciarem das evidências e dos lugares-comuns.

Abraço,
Leopoldo Amado



3.  1. Extracto de VICENTE, Carmo - Gadamael. Cacém: Edições Ró. 1982, 1ª ed.,  pp. 97-105. .

Excerto enviado pelo historiador Leopoldo Amado. De acordo com a nossa orientação editorial, optámos por não publicar as passagens em que o autor faz críticas ao comportamento humano, disciplinar ou operacional de camaradas seus, incluindo superiores hierárquicos. As passagens omitidas (incluindo aquelas em que o autor indentifica pelo apelido camaradas que têm direito à reserva de privacidade e ao anonimato] vêm assinaladas com parênteses rectos: [...].


Com devida vénia ao autor e à editora. Revisão e fixação do texto, comentários e subtítulos: LG.


Aviso à navegação:

Chega-nos às mãos, graças ao nosso historiador e amigo Leopoldo Amado, mais uma peça para o dossiê Gadamael... Temos aqui falado muito de Guileje e até de Guidaje, mas pouco de
Gadamael

É sabido que estes três G estão associados à escalada da guerra, que se seguiu ao assassinato de Amílcar Cabral, em 20 de Janeiro de 1973 e precedeu a declaração (unilateral) de independência da Guiné-Bissau em 24 de Setembro de 1973. 

Maio, Junho e Julho de 1973 foram três meses terríveis para as NT, cercadas em Guidaje, Guileje e Gadamael (**).

Este testemunho sobre os acontecimentos de Gadamael são de um 1º sargento paraquedista, Vicente Carmo, da CCP 122/BCP 12 (Guiné, Bissalanca, 1972/74). 

O Vicente Carmo era(é) amigo do Manuel Rebocho, sargento pára-quedista da CCP 123. E é conhecido do Victor Tavares, ex-1º Cabo da CCP 121, que também esteve em Gadamael, entre Junho e Julho de 1973. O Manuel Rebocho (CCP 123) e Victor Tavares (CCP 121) são membros da nossa tertúlia e já aqui nos deixaram testemunhos dramáticos da sua actividade operacional. Parte dos seus depoimentos, relativamente a Gadamael, podem ser cotejados com os do Carmo Vicente (CCP 122). Todo o batalhão, o BCP 12, esteve envolvido na batalha de Gadamael (entre 2 de junho e 17 de julho de 1973).

Ainda não tive acesso ao livro do Vicente Carmo, Gadamael - Memórias da guerra colonial. A última edição, a 2ª, é de 1985 (Editora Caso, Lisboa). Não faço, por isso, uma recensão do livro que não li, limito-me apenas a rever e a fixar o texto que me chegou, e a torná-la mais legível, através da inserção de subtítulos.


 Agradeço ao Leopoldo Amado a sugestão bibliográfica. Devo apenas corrigir uma informação (errónea) que ele nos transmite: a empresa Carmo Vicente Lda, com sede no concelho de Santarém, não tem naada a ver com o nosso camarada paraquedista, cujo paradeiro desconheço. Sei que é DFA. Conforme confirmei pessoalmente, o fundador e sócio-gerente desta firma é um homem muito mais novo (na casa dos 40), que nunca esteve na Guiné e muito menos nos paraquedistas.

O testemunho do Carmo Vicente deve ser lido como mais um contributo, em primeira mão, para o conhecimento de um dos momentos cruciais da Guerra na Guiné, a ofensiva do PAIGC contra o corredor de Guileje, e que começou com a Op Amílcar Cabral, levando à retirada de Guileje pelas NT em 22 de maio de 1973.

Gadamael (bem como Guidaje, a norte) vergaram, mas não caíram. É nosso dever lembrar aqui os combatentes, de um lado e de outro, que morreram nestes ferozes combates... A defesa de Gadamael terá custado cerca de meia centena de mortos, para além de dezenas feridos.

Recorde-se o que na badana do livro, acima citado, se pode ler (*):

"Carmo Vicente é [era em 1985] 1º sargento pára-quedista, tem 38 anos, e participou em 3 comissões de serviço nas frentes de combate da Guiné e Moçambique. Gadamael é uma narrativa apaixonada, mas profundamente crítica, dessa experiência, constituindo mais uma achega importante para a construção histórica do itinerário colonial de parte significativa da juventude portuguesa, entre 1961 e 1975.

"Sobre Carmo Vicente escreve em prefácio Manuel Geraldo: Ao contrário de vários autores que até agora se debruçaram sobre o mesmo tema, Carmo Vicente possui a vantagem de ter sido mobilizado pela 1ª vez como soldado, acabando por chegar a 1973 na situação de 1º sargento, no comando de um pelotão, precisamente em Gadamael. Logo, viveu o conflito em toda a sua plenitude, como 'actor' em escalões progressivos e com graus de sensibilidade diversa. Embarcado para a Guiné em 1966, com a mentalidade de 'cruzado', Carmo Vicente acabaria por descobrir a verdadeira face dos interesses em jogo e do papel que lhe tinham reservado no palco das operações".
.



Na página não oficial do Batalhão de Caçadores Pára-quedistas nº 12 – Unidade e Luta (que ironia: era uma expressão muito querida a Amílcar Cabral...), pode entretanto ler-se o seguinte excerto relativamente à actividade operacional das três CCP, no sul da Guiné, no período em referência:


(...) "Apesar dos esforços a situação na Guiné continua a degradar-se. A pressão que os guerrilheiros vinham exercendo sobre os aquartelamentos no Sul do território começou a dar resultados. Em Maio de 1973 os guerrilheiros desencadeiam fortes ataques a Guileje, obrigando mesmo ao abandono do aquartelamento dos militares do Exército. Nas proximidades, Gadamael Porto fica em posição delicada com flagelações frequentes de armas pesadas.

"A 2 de Junho as CCP 122 e CCP 123 são enviadas para Gadamael, seguindo-se no dia 13 a CCP 121. O próprio comandante do BCP 12, Tenente-Coronel Araújo e Sá, tinha assumido o comando das forças que com a guarnição do Exército constituiram o COP 5.

"A posição de Gadamael Porto é organizada defensivamente com abrigos, trincheiras e espaldões, simultaneamente são desencadeadas acções ofensivas sobre os guerrilheiros. A resistência e a determinação das Tropas Pára-quedistas acabaram por surtir efeito e o ímpeto inimigo foi quebrado - Gadamael Porto não caiu.

"A 7 de Julho as CCP 121 e 122 regressam a Bissau e a 17 é a vez da CCP 123, a operação DINOSSAURO PRETO tinha terminado" (...).


Neste excerto sobre Gadamael, da autoria de Carmo Vicente, fala-se também das misérias e grandezas dos nossos paraquedistas... que não eram deuses nem super-homens, eram apenas homens com o resto das NT (os arre-machos, a tropa-macaca...) e os guerrilheiros do PAIGC. Noutro poste publicaremos algumas mensagens, sobre o livro e o seu autor, que nos mandaram alguns dos nossos camaradas da Tabanca Grande (a começar pelos ex-paraquedistas do BCP 12, o Victor Tavares e o Manuel Rebocho), a quem pedi conselho nestes termos:


"Junto vos envio um excerto do livro do Vicente Carmo sobre Gadamael. É já antigo, esse livro. Chegou-me às mãos, ou melhor, foi-me enviado por e-mail pelo Leopoldo Amado, com a sugestão de ser publicado, no todo ou em parte, no nosso blogue... Acontece que tenho reservas, devido à críticas, muito pessoais, que o autor faz ao comandante do seu batalhão (BCP 12) e a alguns dos seus camaradas... Não sei se são justas ou não... Mas vão contra o espírito do nosso blogue.

"Não conheço o livro nem o autor (de quem já publicámos em 11 de Fevereiro de 2007 uma versão sobre os distúrbios ocorridos em Bissau, em Janeiro de 1968). Gostava de ouvir a opinião dos nossos páras, o Victor e o Rebocho, nossos camaradas do BCP 12 (o Vicente era sargento da CCP 122), mas também daqueles que conheceram, de perto, Gadamael, na época em causa (Maio/Julho de 1973): caso do Casimiro Carvalho, do Jorge Canhão, do Hugo Guerra, do Coutinho e Lima... Mas também do Pedro Lauret... Enfim, também solicito o parecer do A. Marques Lopes e do Nuno Rubim, nossos assessores, bem como do Leopoldo, e dos meus queridos co-editores.

"Interessa-me sobretudo o relato (objectivo, isento ?...) sobre os acontecimentos de Gadamael, e não propriamente os juízos de valor sobre os homens... Podem-me dar-me uma ajuda ?"

Acabei por decidir publicar este excerto, em duas partes, omitindo apenas os nomes dos camaradas (do BCP 12) que são alvo de crítica do autor. Segui, no essencial, os preciosos conselhos dos camaradas a quem pedi opinião (incluindo o Victor Tavares e o Manuel Rebocho, que pertenceram a essa unidade e foram dois valorosos combatentes e orgulhosos pára-quedistas).

O depoimento de Carmo Vicente, em livro sob a forma memorialística, é demasiado precioso e importante para ficar por aí, perdido, nas prateleiras de algumas bibliotecas públicas ou nos armazéns dos alfarrabistas. Divulgando este pequeno excerto, homenagemos o autor, os paraquedistas e os demais combatentes, de um lado e de outro, que estiveram na batalha de Gadamael. E sobretudo os mortos, todos os militares e civis que lá perderam a vida, portugueses e guineenses...

Espero que o autor e o editor sejam condescentes connosco e que aceitem a nossa sugestão de uma nova edição. A 2ª edição remonta a 1985. Sugere-se uma 3ª edição, revista e melhorada. A 1º edição tinha diversos erros e gralhas, por falta de um bom revisor de texto. Gralhas, erros ortográficos e pontuação foram agora corrigidos, nesta versão bloguística (mais uma vez, com a devida vénia...). Uma 3ª edição teria seguramente o apoio do nosso blogue.

Segundo o Victor Tavares, o Carmo Vicente terá sido ferido em Gadamael. Ele leu o livro, mas não conheceu operacionalmente o seu camarada, que pertencia a outra companhia do batalhão (a CCP 122). Não estiveram juntos em Gadamael na mesma altura [a CCP 122 e a CCP 123 foram a 2 de Junho de 1973, partindo de Cacine; a CCP 121 foi mais tarde, a 13; e possivelmente cada companhia do BCP 12 ia com missões distintas]. 

Por seu turno, o Hugo Guerra (que também passou por Guileje e Gadaamel) diz que só conheceu o Carmo Vicente, em Lisboa, na ADFA. "Acho que partiu as duas pernas ao saltar dum heli e é DFA". 

O Manuel Rebocho, por sua vez, diz que é amigo do Carmo Vicente, não leu o livro e está em desacordo com ele em relação a críticas que faz aos seus comandantes.

Se alguém souber do paradeiro do Carmo Vicente, que nos contacte.


GADAMAEL PORTO -Parte I, por Carmo Vicente 

(Com a devida vénia ao autor e à editora)
Ficha do livro:

Titulo do livro: Gadamael
Autor: Carmo Vicente
Editora: Edições Ró
Ano de Publicação: 1982
Local de publicação: Cacém
Páginas referentes ao extracto (I e II Partes), enviado pelo Leopoldo Amado.: pp. 97 à 105.



Gadamael (**) era uma pequena aldeia, situada ao sul da Guiné-Bissau, entre Cacine e Guileje, a escassos três quilómetros da fronteira com a Guiné Conacri. Todo o aldeamento era fortificado. Fora construído pelas forças ocupantes, com a finalidade de controlar a população que, assim, ficava a fazer parte do quartel e sujeita a um regulamento rigoroso, quase militar.

À noite, ninguém podia sair ou entrar no aldeamento. O recolher obrigatório era permanente e começava ao anoitecer, para só acabar com a manhã. Nesse espaço de tempo, quem se aproximasse, podia ser morto, por ser considerado inimigo.

Era, por assim dizer, uma população resignada à sua sorte. Permanecia ali, porque sabia por experiência própria que a vida lhes era mais fácil apesar de tudo, ali do que no mato, onde toda a gente era considerada inimigo, sujeitando-se a ver destruídos os seus haveres, ou ser queimada pelo napalm, que os aviões despejavam todos os dias, sobre a terra mártir da Guiné.

Para além disso, se caíssem prisioneiros, iam sem dúvida parar as mãos da PIDE, coisa nada agradável, pois o tratamento dado por aquela polícia aos prisioneiros era simplesmente brutal.

O facto de se sujeitarem à protecção da tropa, não os transformava contudo em gente dócil e de maneira nenhuma conivente com ela. E muitas vezes era através da população civil que o PAIGC tomava conhecimento de todos os nossos movimentos: saídas para patrulhamentos, efectivos existentes, armamento usado, nomes dos militares mais graduados e por vezes, até, a sua situação familiar.


(i) CCP 122/BCP 12: Os pára-quedistas na segurança da nova estrada asfaltada entre Cadique e Jemberém


Quando em abril  de 1973
 [lapso de memória do autor, deve ser junho de 1973]   cheguei a Gadamael, integrado na Companhia de Caçadores Paraquedistas n.º 122, toda a população tinha fugido para o mato ou talvez, e isso é o mais plausível, para a vizinha Guiné, abandonando o aldeamento-quartel, devido aos bombardeamentos constantes do PAIGC. No quartel haviam ficado apenas os militares que constituíam o batalhão ali destacado: uns duzentos homens, entre combatentes e pessoal dos serviços.

Era assim Gadamael Porto. Um local nada agradável, onde eu e mais algumas centenas de camaradas passámos os quarenta mais longos dias, das nossas vidas. Onde muitos caíram para nunca mais se levantarem e outros se estropiaram física e moralmente para o resto dos seus dias.

A minha companhia tinha regressado de uma missão de combate que durara três meses. Em Cabochanque e Cadique tínhamos sofrido alguns mortos e feridos enquanto fazíamos a protecção dos trabalhadores que construíam a nova estrada asfaltada entre Cadique e Jemberém. Uma distância de pouco mais de treze quilómetros que nos ficou à razão de um morto por quilómetro. Ali, vários bons camaradas pagaram, com a vida, aquela obra de fachada estratégica mais que duvidosa, de Spínola.

Entre os mortos, contava-se o meu amigo Teixeira, de Carrazedo de Montenegro [ Valpaços, Vila Real] [...] (***).


(ii) Ordem para partir para Gadamael

Encontrávamo-nos terrivelmente cansados, depois daqueles três meses de mato e como seria lógico iríamos descansar. Era o que nós pensávamos. Porém, não era o que pensava o nosso comandante de Batalhão [...].

 Quando chegamos a Bissau, encontramos o comandante à nossa espera. Disse-nos sem grandes rodeios, que nos preparássemos para ir imediatamente para Gadamael Porto. A tropa ali estacionada precisava de nós e não podíamos, nem devíamos, regatear essa ajuda.


(iii) Sabíamos que Guileje tinha caído


Sabíamos o que se estava a passar em Gadamael Porto. Depois da queda da nossa posição fortificada de Guileje, o PAIGC, explorava agora aquele ponto, tentando varrer-nos progressivamente daquela zona que considerava libertada.

Sabíamos que Guileje tinha caído. Nem um só dos nossos homens o ignorava, apesar das informações nesse sentido serem o mais camufladas possível. Sabíamos que o major [ Coutinho e Lima,] que comandava a força ali estacionada, depois de várias apelos a Spínola para lhe mandar ajuda e ter recebido deste, apenas negativas e porque verificou que se ficasse mais um dia que fosse, naquele local, seria massacrado inutilmente, resolveu por sua conta e risco poupar a vida dos seus homens e a sua, abandonando aquela zona, transportando consigo apenas o material de guerra que uma tropa arrasada física e moralmente podia humanamente transportar, através de uma mata rasteira e extremamente cerrada.

Todos os militares que na Guiné davam o corpo ao manifesto apoiaram moralmente a atitude corajosa do comandante do aquartelamento do Guileje. No entanto, Spínola parece não ter sido da mesma opinião, ao mandar prender aquele militar que mais não fez do que livrar de morte certa ou do aprisionamento os militares que comandava, não os deixando morrer pela pátria, nem entrar na galeria dos heróis mortos e esquecidos.


Guiné >Região de Tombali > Gadamael - Porto > s/d [anterior ou posterior a Maio/Junho/Julho de 1973 ? ] > Tabanca, reordenada pelas NT.

Foto: Autores desconhecido. Álbum fotográfico Guiledje Virtual. Gentileza de: ©
AD -Acção para o Desenvolvimento (2007).


(iv) Bico calado: tínhamos mais medo da prisão do que dos guerrilheiros do PAIGC


Era realmente necessário, ajudar de qualquer maneira, os nossos camaradas de Gadamael. Tinham sofrido já vários mortos e feridos que era preciso evacuar o mais rápido possível. Nós sabíamos tudo isso e não podíamos, como militares e combatentes que éramos, negar-lhes essa ajuda. [...]

 Ninguém de entre nós, estava esclarecido politicamente, o estritamente necessário, para esboçar sequer o mais leve indício de recusa. Todos os camaradas tinham mais medo da prisão do que dos guerrilheiros do PAIGC. Apesar de com estes terem mais probabilidades de morrer, havia sempre a possibilidade de escapar e com a PIDE, nunca se sabia, o que poderia acontecer. Era deste medo colectivo, de desobedecer a uma hierarquia retrógrada, que os grandes senhores se iam governando. Aumentando louvores e galões de mistura com cruzes de guerra e torres espadas, que ultimamente eram distribuídas a indivíduos que nunca tinham posto uma mochila às costas e nunca saíram do ar condicionado dos quartéis-generais.


Guiné > Bissau > A LGF Lira > Os danos no convés, no rufo da casa das máquinas e nos botes de borracha (zebros) dos Fuzileiros... "Em 13 de Janeiro de 1968, a LFG Lira que escoltava a LDG Alfange, depois de ter transportado 3 companhias de FT de S. Vicente para Binta, foi violentamente atacada no Tancroal com RPG, sendo atingida na ponte e no rufo (cobertura) da casa das máquinas. O resultado, além dos estragos materiais, foi dramático: 1 morto e 8 feridos, alguns deles em estado grave, sendo 2 evacuados de helicóptero e 3 de Dornier" (MLS).

Foto e legendas: ©
Manuel Lema Santos (2007). Direitos reservados.


(v) De noite, de LDG, de Bissau a Cacine com 30 salgadeiras a bordo…


Saímos de Bissau, numa lancha de desembarque grande (LDG) com rumo a Cacine. Levámos connosco apenas o equipamento necessário para quatro dias. Tempo previsto para a operação que, segundo nos informaram à partida, se destinava a evacuação de toda a tropa e equipamento existente em Gadamael Porto. Tínhamos, segundo a voz do comando, que aguentar a segurança do aquartelamento até a completa retirada do último soldado do Exército. Findo esse trabalho, regressaríamos a Bissau e poderíamos então descansar.

Poucos de nós, acreditavam ainda, nas lindas promessas que nos vinham de cima e na parte que me toca, confesso, que não acreditava mesmo nada.  [...] Por isso também daquela vez, não acreditei que a estadia em Gadamael iria ser tão curta como nos queriam fazer crer.

O trajecto entre Bissau e Cacine, foi feito de noite, com todas as luzes apagadas para maior segurança. Os ânimos iam bastante exaltados. Talvez contribuísse para isso a proximidade de três dúzias de salgadeiras (urnas funerárias) que, sem nenhuma preocupação para ocultar a sua presença, viajavam, silenciosamente macabras, no mesmo transporte e apenas a alguns passos de nós. As urnas, ali naquele local e em tão grande quantidade, constituíam a prova irrefutável que as coisas em Gadamael Porto, estavam mesmo feias, levando alguns de nós, se não todos, a pensar que dentro de poucos dias ou até horas poderiam ir ocupar tão sinistras habitações.


(vi) Perdida a ilusão da superioridade de se ser pára-quedista


Ainda durante a viagem, começaram os protestos dos soldados, por não lhes ter sido dado tempo de descanso prometido. Na sua esmagadora maioria, estavam-se absolutamente nas tintas para a vitória ou a derrota de uma guerra onde tinham sido integrados contra a sua vontade e não lhes interessava mais do que safar a pele, o mais inteira possível. Estavam-se nas tintas para as condecorações e louvores. Foram voluntários para os pára-quedistas, porque lá na aldeia onde sempre viveram lhes tinham dito que lá é que era bom. Que havia boa comida e que teriam uma farda muito bonita e uma boina verde. Que saltariam de paraquedas e que as raparigas se pelavam pelos páras. 

Agora, porém, perdida a ilusão da superioridade (alimentada por vezes, até ao ridículo, pela hierarquia) em relação aos seus camaradas das outras armas a quem chamavam arre-machos, arrependiam-se de não ter optado pela farda verde azeitona e pela boina castanha dos homens do Exército. Se ainda lutavam, era simplesmente animado pelo afã de não morrer. Borrifavam-se nos amores pátrios e para uma guerra que não sentiam como sua, feita numa terra estranha que não tinha nada a ver com a sua verdadeira Pátria.

Nos últimos anos de guerra, deram-se condecorações e louvores, a combatentes e não combatentes e forjaram-se, criaram-se inventaram-se heróis. A Ditadura estava aflita e as medalhas eram o material mais barato para comprar o sangue e as consciências. E houve tantos que venderam a consciência e o sangue dos outros por um miserável pedaço de metal ou mais uma estrela, ou mais um risquinho amarelo nos ombros...


(vii) De Cacine para Gadamael, em LDM e zebros, e de capacete!


Depois de várias horas de LDG, chegamos a Cacine e ai começámos a aperceber-nos do perigo real que nos esperava no local para onde inexoravelmente nos estavam a empurrar. Ouvia-se nitidamente, o bombardeamento a que Gadamael estava a ser sujeito, provocado pelas armas pesadas que o PAIGC possuía em abundância. Ao ouvir aqueles rebentamentos, que nos soavam aos ouvidos de forma quase ininterrupta, os soldados vinham perguntar-me:
- Meu sargento, acha que este fogo é nosso, ou dos turras?

À esta pergunta eu dava invariavelmente a mesma resposta, dizendo que não, que aqueles rebentamentos, não eram provocados pelos turras, mas por nós, que eram os nossos obuses 14 em acção. Eu sabia que estava a mentir. Mas que podia eu responder àqueles homens assustados, se lhes dissesse o que pensava daquela situação? Ficariam de certo ainda mais aterrorizados.

Eram aproximadamente dez horas da manha quando saímos de Cacine com rumo a Gadamael. Desta vez o transporte foi feito em LDM (lancha de desembarque médio), que por serem mais pequenas eram mais facilmente manobráveis no rio que ia estreitando à medida que penetrava em terra. Conforme nos aproximávamos ia-se também acentuando o nosso nervosismo que, em alguns de nós, era já perfeitamente visível. Levaríamos connosco, o equipamento necessário para dois dias. Tudo o resto ficou nas LDM.

A quatro ou cinco quilómetros de Gadamael Porto, passamos ordenadamente das LDM para os Zebros (botes de borracha com motor fora de borda) dos fuzileiros. A partir dali, era extremamente perigoso continuar nas lanchas. Os Zebros, muito mais pequenos e de fácil manobra, permitiam-nos um desembarque rápido debaixo de fogo.

Pela primeira vez, desde há muitos anos, foi ordenado o uso do capacete, que apenas tinha sido usado nos primeiros meses da guerra em Angola. Fiquei irritado com esta ordem. O capacete é, neste estilo de luta, um apêndice que não se justifica de modo nenhum e que não compensa o esforço que o combatente despende para o aguentar. Pensei, com uma certa dose de humor negro, que a ordem para usar capacete mais não servia senão para nos dar um aspecto mais viril e mais guerreiro, frente aos militares que em Gadamael, perfeitamente desorganizados, corriam em todas as direcções e tentavam meter-se à força nos barcos que nos levavam a nós.


(viii) Gadamael parecia um filme do Vietname, com o aquartelamento e a tabanca praticamente destruídos


Chegámos ao cais uns atrás dos outros, e desembarcámos debaixo de uma saraivada de morteirada de cento e vinte milímetros, correndo sempre em direcção às valas que circundavam o quartel que, apesar de mal feitas e pouco profundas, sempre ofereciam mais abrigo do que o terreno plano junto ao cais.

De relance analisei a situação: todo o quartel e aldeamento circundante estavam praticamente destruídos. As granadas de morteiro de cento e vinte milímetros, os foguetões de cento e vinte e dois, que continuavam a explodir por todo o lado tinham dado ao quartel um aspecto quase lunar com crateras por todos os lados. Das instalações do quartel, apenas um ou dois edifícios ainda se mantinha teimosamente de pé, apesar de muito danificados. O que vi nos primeiros minutos deixou-me impressionado. Nunca até aí eu vira nada semelhante, nem sonhara sequer que aquilo fosse possível, naquele tipo de guerra. Parecia um filme rodado no Vietname.

Entretanto, os bombardeamentos continuavam sempre com redobrada intensidade, obrigando-nos a permanecer na vala, quase sem hipótese de pôr a cabeça de fora sem correr o risco de a perder. A experiência que já tinha de situações anteriores dava-me a certeza de que tínhamos ali uma bota difícil senão impossível de descalçar.

Os soldados estavam aterrorizados e só poucos ainda mantinham um certo sangue-frio, frente a situação. A contestação era geral. Não contra os guerrilheiros que nos combatiam, mas sim contra quem nos tinha metido naquela embrulhada. Contra os que tinham ficado em Bissau na sombra agradável dos gabinetes, indiferentes à nossa sorte. Contra os que diziam que uma guerra não pode ser feita sem baixas esquecendo-se que se na realidade nas guerras tem que morrer soldados, sargentos e capitães, também logicamente terão de morrer coronéis e generais. Naquela, infelizmente isso não acontecia e só por essa razão durava já havia doze longos anos.

Os soldados perguntavam o que faziam ali, numa guerra estúpida, lutando contra um inimigo que nunca viam e nem sequer odiavam. Não obtinham resposta. Aqueles que lhe podiam responder, tinham ficado na retaguarda como abutres a espera de poder saborear os louros da vitória ou enjeitar a derrota. Culpando-nos, se a última acontecesse, de falta de combatividade, de coragem, ou eu sei lá que mais para assim poderem fugir aos fracassos de operações mal planeadas.

Que poderiam perceber de contra-guerrilha, homens que nunca tinham posto os pés no mato e cuja teoria e táctica da mesma não ia além da aprendida num casarão da Gomes Freire ou da Amadora ou ainda em alguns manuais feitos pelos generais da brigada do reumático, agarrados possivelmente a normas antigas de fazer a guerra que pouco tinham evoluído desde a batalha do Buçaco. É que muito possivelmente nem saberiam distinguir muito bem, entre o efeito destruidor de uma bomba de foguete desses utilizados nas romarias e uma granada de morteiro de cento e vinte milímetros? E para que haviam os nossos generais-guerrilheiros-improvisados responder a um simples soldado que, apesar de contestatário, lá ia combatendo, dando a vida para que eles pudessem comprar mais um automóvel de luxo e as mulheres e amantes pudessem continuar nas canastradas com as mulheres e amantes dos ministros e outros quejandos?


(Continua > Gadamael - Parte II >
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 11 de Fevereiro de 2007 >
Guiné 63/74 - P1515: Antologia (58): A batalha de Bissau em Janeiro de 1968: boinas verdes contra boinas negras... Saldo: 2 mortos (Carmo Vicente)

(...) "1º Sargento Paraquedista Carmo Vicente (...) participou em três comissões de serviço nas frentes de combate da Guiné e Moçambique.

"O testemunho do Sargento Carmo Vicente [sobre os tristes acontecimentos de Bissau, em Janeiro de 1968,] consta na obra Gadamael de sua autoria, das Edições Caso (2ª edição), de Julho de 1985 (páginas 25 a 30).

"Para além da referida obra, Carmo Vicente é também autor de Grades de Novembro, Gritos de Guerra, A Sentença, Era uma vez... 3 guerras em África, entre outras.


(**) Sobre Gadamael, vd. os seguintes postes:

2 de Julho de 2005 >
Guiné 69/71 - XCI: Antologia (6): A batalha de Guileje e Gadamael (Afonso M.F. Sousa / Serafim Lobato)

2 de Dezembro de 2005 >
Guiné 63/74 - CCCXXVIII: No corredor da morte (CCAV 8350, Guileje e Gadamael, 1972/73) (Magalhães Ribeiro)

15 de Junho de 2006 >
Guiné 63/74 - P878: Antologia (42): Os heróis desconhecidos de Gadamael (Parte I)

(...) Trabalho de investigação do jornalista Eduardo Dâmaso (Público, 26 de Junho de 2005) (...)

(...) A revolta do navio Orion, da Marinha portuguesa, no dia 2 de Junho de 1973 foi decisiva para salvar a vida de centenas de soldados e população que fugiram dos bombardeamentos do PAIGC na batalha de Gadamael. Este episódio de desobediência a ordens de Spínola, desconhecido até hoje, é indissociável da resistência travada por meia dúzia de soldados no interior do aquartelamento de Gadamael. As suas histórias são aqui contadas por alguns dos seus protagonistas, como o comandante da Marinha Pedro Lauret, o coronel dos comandos Manuel Ferreira da Silva e o grumete Ulisses Faria Pereira. Eles são, com outros, os heróis desconhecidos de Gadamael. (...)

...) "Seriam uma oito da manhã de 2 de Junho [de 1973] quando a Orion chegou ao largo de Cacine. Foi a essa hora que também chegaram as notícias dos acontecimentos que tinham estado na origem daquela missão.

(...) "O major Pessoa, do batalhão de pára-quedistas [BCP 12] que se encontrava em Cacine, subiu a bordo da Orion e explicou o que se estava a passar: a guarnição de Guileje, um quartel situado numa zona próxima da fronteira com a Guiné-Conakri, tinha sido alvo de ataques fortíssimos e o comandante da unidade, [major] Coutinho e Lima, sem reforços, sem apoio de tropas especiais, sem meios de evacuação de feridos e mortos, decidira retirar do quartel e evacuar todo o pessoal para Gadamael. Foi imediatamente preso e enviado para Bissau às ordens de Spínola. Gadamael estava agora debaixo de fogo intenso e de alta precisão.

"O retrato da situação em Gadamael feita pelo major Pessoa era caótico. 'As últimas indicações indicavam que de um conjunto de efectivos de quase três companhias, só se encontravam no quartel a defender aquela posição cerca de 30 homens. Os restantes e a população encontravam-se em fuga pelas margens do rio', recorda Pedro Lauret.

"A reacção de Spínola à deserção anunciava-se tremenda. O major Pessoa informou então os comandantes do Orion que tinha estado de manhã em Cacine e Gadamael por brevíssimos instantes e tinha proibido o socorro a quaisquer militares em fuga, considerando-os 'uns cobardes'.

(...) "Apesar das ordens de Spínola, a disposição do major Pessoa era outra. 'Informou-nos da urgência de ir socorrer esse pessoal devido ao elevadíssimo risco em que se encontravam. Frisou-nos que se não estivéssemos dispostos a ir contra a determinação do general ele próprio tentaria recuperar os militares, nem que fosse em canoas', afirma Lauret.

"A determinação do major Pessoa, que volvidos trinta e dois anos não quer falar sobre os acontecimentos de Gadamael, percorreu todo o navio. O Orion partiu de imediato em auxílio das tropas fugitivas e nada comunicou ao Comando da Defesa Marítima " (...).

15 de Junho de 2006 >
Guiné 63/74 - P879: Antologia (43): Os heróis desconhecidos de Gadamael (II Parte).

(...) Um momento alto do encontro do nosso 1º encontro na Ameira [em 2006] foi a evocação da LFG Orion por parte do ranger Casimiro Carvalho: foi através do nosso blogue que ele soube, trinta e três anos depois, que, além dos pára-quedistas [do BCP 12], houve outros anjos da guarda no princípio do mês de Junho de 1973, a guarnição da LFG Orion, representada na nossa tertúlia e no encontro da Ameira pelo comandante Pedro Lauret, na altura oficial imediato do navio (...).

(...) "Quem deu algum ânimo aos poucos que estavam foi desde logo o 1º cabo escriturário Raposo, açoriano, que se voluntariou para fazer o arriscadíssimo trajecto até ao paiol. Enfiou-se numa Berliet e foi buscar munições debaixo de fogo intenso. Gadamael estava cercado, sem artilharia, sem apoio aéreo, sem capitães, sem médico, sem rádio, sem munições de morteiro 81, tinha por companhia apenas três ou quatro militares na linha da frente.

"A bravura do cabo Raposo e do furriel Carvalho, porém, foi um encorajamento para todos. Com o morteiro 81 municiado pelas granadas trazidas na Berliet, com uma metralhadora que conseguiram montar e os tais três ou quatro militares passaram o resto da noite de 1 para 2 de Junho a lançar umas morteiradas e umas rajadas de metralhadora de tempos a tempos. Só no dia 2 de Junho é que se apercebeu que uma parte significativa dos militares que tinha fugido para a tabanca, se tinha deslocado com a população para junto do rio Cacine" (...).


5 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1151: Resposta ao Manuel Rebocho: O papel do Orion na batalha de Guileje/Gadamael (Pedro Lauret)

19 de Março de 2007 >
Guiné 63/74 - P1613: Com as CCP 121, 122 e 123 em Gadamael, em Junho/Julho de 1973: o outro inferno a sul (Victor Tavares, ex-1º cabo paraquedista)

(...) "Depois de regressada do inferno de Guidaje, a CCP 121 encontrava-se estacionada em Bissalanca, gozando um curto período de descanso, após a desgastante acção que tivera no norte da província.

"Daí o Comando Chefe entender que os 4 a 5 dias de descanso concedidos já eram demais e ser necessário o reforço das nossas tropas aquarteladas em Gadamael por se encontrarem em grandes dificuldades. Acaba, por isso, por dar ordens para rumarmos a Gadamael, para onde partimos a 12 de Junho de 1973.

"Partindo de Bissau em LDG [Lancha de Desembarque Grande] com destino a Cacine, lá chegámos a meio da tarde deste mesmo dia. Como a lancha que nos transportava, não conseguia atracar ao cais por falta de fundo, fomos fazendo o transbordo por várias vezes em LDM [Lanchas de Desembarque Médias] para aquela localidade.

(...) "No dia 13 de Junho, de manhã cedo, preparámo-nos para rumar a Gadamael, sendo transportados em Zebros do Destacamento de Fuzileiros Especiais Africanos nº 21, dois grupos de combate sendo colocados nas margens do rio nas proximidades de Gadamael para onde seguimos em patrulhamento depois de serem desembarcados os outros dois grupos de combate da 121 que foram deslocados em LDM. No regresso, as embarcações seguiram para Cacine com os pára-quedistas da CCP122, aonde iriam recuperar durante um curto período" (...).

25 de Março de 2007 >
Guiné 63/74 - P1625: José Casimiro Carvalho, dos Piratas de Guileje (CCAV 8350) aos Lacraus de Paunca (CCAÇ 11)

18 de Junho de 2007 >
Guiné 63/74 - P1856: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (5): Gadamael, Junho de 1973: 'Now we have peace'

25 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2481: Guileje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (11): Malan Camará... e a maldição dos 3 G + 1 J (Manuel Rebocho)

27 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2483: Estórias de Guileje (3): Devo a vida a um milícia que me salvou no Rio Cacine, quando fugia de Gadamael (ex-Fur Mil Art Paiva)

7 de Abril de 2008 >
Guiné 63/74 - P2729: Estórias de Guileje (10): os trânsfugas de Guileje, humilhados e ofendidos (Victor Tavares, CCP 121/BCP 12, 1972/74)

30 de Abril de 2008 >
Guiné 63/74 - P2801: Fotos e relatos de Gadamael, Maio / Julho de 1973, precisam-se (Nuno Rubim)

(...) "Como estou, como é vulgo dizer com a mão na massa, também penso realizar algumas pequenas pesquisas sobre outra saga, desta vez Gadamael.

"Já tenho o levantamento de todas as unidades que por lá passaram, mas naturalmente o que mais me vai ocupar é o período de Maio a Julho de 1973.

"Também seria muito interessante tentar fazer um esboço do que teria sido o aquartelamento nessa altura, sem abrigos blindados como os que houve em Guileje e Gadembel ...Só valas e trincheiras a céu aberto !" (...)

(***) David Ferreira Teixeira, Sold Pára-quedista, da CCP 123/BCP 12, morto em 14 de Abril de 1973.