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domingo, 4 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13095: (Ex)citações (228): O golpe de 26 de abril de 1974, o MFA, o Com-Chefe, gen Bethencourt Rodrigues, e o comandante interino do COMBIS, cor inf António Vaz Antunes (Luís Gonçalves Vaz, que tinha 13 anos, e vivia em Bissau, sendo filho do cor cav CEM Henrique Gonçalves Vaz, último chefe do Estado Maior do CTIG)


1. Conjunto de comentários, ao poste P13078 (*), subscritos por  do Luís Gonçalves Vaz.  professor do 2º/3º ciclos do ensino básico, em Vila Verde,  a residir em Braga, ativo ambientalista, membro da nossa Tabanca Grande, filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74), e que tinha 13 anos e vivia em Bissau quando se deu o 25 de abril de 1974, que derrubou o regime do Estado Novo:


Para melhor comunicação, resolvi apagar o primeiro comentário e melhorar alguns pormenores, a saber:
Caros camarigos, tanto quanto sei (a ideia que ainda me ficou ao fim destes 40 anos), o "assalto ao gabinete" do Comandante em Chefe, general Bethencourt Rodrigues ... deve ter sido "muito desagradável",  já que decorreu de um Golpe Militar! 

E quanto a mim os oficiais revoltosos do MFA não admitiriam retorno, obviamente, estavam muito bem organizados, e deles faziam também parte alguns oficiais superiores, Majores e pelo menos um Tenente-coronel (que até seria familiar do então Comandante do CTIG, o sr. Brigadeiro Banazol, de que me lembro muito bem e até boleias me deu no seu Mercedes, entre a cidade de Bissau (Liceu Honório Barreto) e Santa Luzia, onde morava, mesmo em frente ao clube de oficiais.

Não entendo mesmo é a "destituição" do sr. Coronel António Vaz Antunes, muito menos pelas razões aparentes, que o documento da sua autoria nos dá, nomeadamente por questionar quem eram os representantes dos MFA… Haveria outras razões? Será que devido ás funções dele (comandante Interino do COMBIS) poderia “travar a evolução do golpe em curso? Brevemente deveremos saber mais, já que estes oficiais do MFA de então poderão “dar luz” a estas questões. Acho que será quase uma obrigação...

De qualquer forma, considero que, ao afastá-lo das suas funções (ao sr. cor Vaz Antunes), os representantes do MFA criaram um vazio na Defesa de Bissau: para todos os efeitos era ele quem estava à frente do COMBIS (Comando da Defesa de Bissau). 

Eu penso que em Bissau, nesta mesma altura, corremos alguns riscos de um ataque à cidade e aos QG (ainda que de baixo nível) ..... Eu estava lá e senti isso mesmo! Não “pânico”, mas havia muitos boatos que iriamos sofrer um “Ataque aéreo”, por exemplo! Mas no fundo eu senti-me sempre seguro, apesar desses mesmos boatos.

No entanto, fazendo agora uma análise (passado 40 anos), as quebras de "cadeias de comando", os saneamentos/afastamentos (alguns seriam imprescindíveis), a bandalheira nalguns sectores militares, etc., poderiam ter criado "graves prejuízos em termos de segurança". 

Tal não aconteceu, pois a necessária “Cadeia de Comando” reorganizou-se e foram tomadas “as medidas certas” para mantermos a “segurança" quer em Bissau, quer na gestão da frente de combate, que sei que aconteceu ainda durante uns tempos, antes de os nossos militares iniciarem convívios com os guerrilheiros do PAIGC.

Mas relativamente ao “Golpe em si, o de 26 de Abril”, que me fez levar a realizar estes artigos agora postados, felizmente tudo correu em Bissau sem sangue, nesse aspeto, foi à "boa maneira portuguesa", com brandos costumes! Sendo assim não fomos atacados pelo IN, pois,  se calhar, os seus “Serviços de Inteligência” (do PAIGC) não estariam a par dos “nossos golpes internos”, tal qual o general Bethencourt Rodrigues, que também foi apanhado de surpresa . 

Ainda bem, foi um “golpe palaciano”, sem fogo real, sem vítimas mortais, (já havia muitas nas várias frentes de combate) … e assim estou aqui, de boa saúde para poder contar alguns destes episódios, parte dos quais foram-me “avivados na memória” através da minha mãe, já que o meu pai, não falava sobre estes assuntos com os filhos …

Quanto ao "assalto ao gabinete" do CMDT CHEFE, alguns dos revoltosos teriam sido "menos corretos" com o Sr. General Bethencourt Rodrigues (segundo ele e outras opiniões...), já que “jovens capitães” teriam de ser “contundentes e muito firmes …. 

Para imporem uma destituição de UM GENERAL CMDT CHEFE com muita CLASSE e muita influência no meio dos seus homens (sempre foi pacífico que este general era muito admirado pela maioria dos seus oficias) e houve mesmo “aspetos dramáticos”, segundo o então capitão Jorje Sales Golias, um dos oficiais “revoltosos do MFA na Guiné”, ao ponto de o CEM/CTIG, que não fazia parte do MFA da Guiné ( mas com o qual acabou por se solidarizar naturalmente), se impor no sentido de que aqueles oficiais teriam de "respeitar o Sr. general" em todo aquele processo (repito que ele aderiu sem pensar muito), sob a pena de não aceitar continuar nas suas funções (acabou por vir a ser o CEM/CTIG e CCFAG do Comando Unificado, já que desde 17 de Agosto de 74, que oficialmente se constitui no TO da Guiné, um QG unificado para o CC (Comando Chefe) e CTIG, publicado em Ordem de Serviço do Comando Chefe.

O CEM/CCFAG já estava afastado (Coronel Hugo Rodrigues), o sr. Brigadeiro Leitão Marques (gostava de perceber a razão deste afastamento, já que o MFA da Guiné contava com ele!!!), o General Bethencourt Rodrigues, o Coronel António Vaz Antunes (Comandante do COMBIS),enfim todos oficiais afastados no Golpe Militar de 26 de Abril em Bissau!

O 1º Comandante estava de licença, o segundo parece que também ..... Ficaríamos sob o Comando dos Comandantes da Marinha? Agora percebo melhor que "o melhor para mim e para outro dos meus irmãos” foi vir nos TAM [Transportes Aéreos Militares] logo no mês de Maio .... 

O Liceu Honório Barreto finalizou o ano lectivo em Maio/Junho. E o meu pai que levou três filhos menores para Bissau em 1973, contra muitas opiniões, tratou de nos enviar para a Metrópole logo a seguir ao 25 de Abril, talvez porque temesse (ou não?) "um ataque em massa a Bissau", não sei, mas não deve ter sido, pois o meu irmão mais pequeno ficou lá. 

Mas agora,  depois destas "análises após 40 anos", acho que fez muito bem, a "coisa podia ter corrido para o torto" .... já que o IN, o PAIGC poderia ter aproveitado …. Mas pelos vistos não tinham “competência militar” para isso, a “Nossa Máquina Militar estava Bem Montada e Oleada”, ainda que ao custo do sofrimento de muitos jovens Portugueses nas várias frentes de combate, neste TO (Teatro de Operações), sem dúvida alguma, o pior, o mais duro de todos os nos TO da altura.

Para finalizar, e ainda relativamente ao “Golpe Militar de 26 de Abril no TO da Guiné”, apenas gostaria de dizer que,  quanto eu sei, e aliás como o tenente-coronel Jorje Sales Golias diz “Foi um acto pacífico, civilizado, mas dramático” (, em comentário que o editor Luís Graça vai publciar e que teve a gentileza de antecipadamente me dar conhecimento), foi de facto em minha opinião, pois apesar das “cenas dramáticas”, que mais tarde ou mais cedo iremos ser esclarecidos, os “Altos Comandos deste TO” foram parcialmente substituídos, tendo o meu falecido Pai, na altura CEM/CTIG acompanhado o sr. general Bethencourt Rodrigues ao avião (penso que nesse mesmo dia ?) e despediu-se dele com um abraço, tendo o próprio general agradecido a “forma altamente digna com que foi tratado", e tanto quanto eu sei as queixas/mágoa que o sr. general se referia durante estes anos todos, se relacionava especificamente com “a forma como o destituíram naquela manhã no Comando Chefe”... 

Eu,  como não assisti a esses momentos dramáticos, mais não poderei dizer... (**)

Um abraço.

Braga, 3 de Maio de 2014

Luís Beleza Gonçalves Vaz

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13080: O golpe militar de 26 de abril de 1974 no TO da Guiné: memorando dos acontecimentos, pelo cor inf António Vaz Antunes (1923-1998) (Fernando Vaz Antunes / Luís Gonçalves Vaz): III (e última) Parte


Guiné > Bissau > 1973 > No canto esquerdo o comandante Ricou, o oficial do lado direito de óculos é o Coronel CEM/CTIG Henrique Vaz (oficiais presentes na reunião relatada no manuscrito do sr. Coronel Vaz Antunes), e ao centro, também de óculos, o general Bethencourt Rodrigues (destituído em 26 de Abril de 1974), numa cerimónia oficial, em Bissau, no ano de 1973. Fotografia do arquivo pessoal do coronel Henrique Gonçalves Vaz.

O QG/CTIG era o Quartel General do Exército (situado nas instalações militares de Santa Luzia), enquanto o QG/CCFAG era o Quartel General de todas as Forças Armadas em serviço naquele território (situado no antigo Forte da Amura, mesmo em frente ao cais de Bissau).

O coronel Henrique Gonçalves Vaz, CEM/CTIG na altura destes acontecimentos, irá desempenhar as funções de Chefe do Estado-Maior do CTIG/CCFAG (Comando Unificado), após este Golpe Militar.,

Foto  (e legenda): © Luís Gonçalves Vaz (2014).  Direitos reservados


Guiné > Bissau > 1974 > O Coronel António Vaz Antunes (à esquerda da fotografia) com o General Bethencourt Rodrigues, e outros oficiais numa visita do Comandante-Chefe a uma unidade em Bissau, no ano de 1974. Fotografia do arquivo pessoal do Coronel António Vaz Antunes.

Foto: © Fernando Vaz Antunes (2014). Direitos reservados


Lisboa > Base Naval do Alfeite > 30 de abril de 1974 > Da esquerda para a direita: Coronel António Vaz Antunes, Brigadeiro Leitão Marques, General Bethencourt Rodrigues e Coronel Hugo Rodrigues, todos oficiais afastados no Golpe Militar de 26 de Abril em Bissau. Fotografia obtida já no Alfeite, em Lisboa no dia 30 de Abril de 1974.


Foto: © Fernando Vaz Antunes (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]



 Folha nº 5

Folha nº 6 

 Folha nº 7

 Folha nº 8
Folha nº 9


Fonte: © Fernando Vaz Antunes (2014). Direitos reservados


Restantes folhas, de 5 a 9, do documento manuscrito, da autoria do cor inf António Vaz Antunes, de 9 folhas, "Memorando dos acontecimentos de Bissau", datado de Lisboa, 30 de abril de 1974. Transcrição da responsabilidade do seu filho Fernando Vaz Antunes que digitalizou e facultou o documento ao Luís Gonçalves Vaz, para divulgação no nosso blogue (*).


Comentário do editor L.G.:

O nosso especial agradecimento a ambos, ao Fernando Vaz Antunes (que não conheço pessoalmente, mas sei que passou pela Academia Militar, e vive em Mafra, de acordo com a sua  página no Facebook) e ao Luís Gonçalves Vaz pelo seu contributo para a preservação e divulgação de documentos relevantes, como este, para a historiografia da presença portuguesa na Guiné, e em particular para a nossa historiografia militar, relativa ao período de 1961 a 1974.

Sendo ambos filhos de militares que serviram a Pátria no TO da Guiné, querem também, e com toda a legitimidade,  honrar a memória dos seus pais. É para isso que o nosso blogue também serve. E nessa medida envio, desde já,. um convite ao Fernando Vaz Antunes para se juntar aos camaradas e amigos da Guiné, que se senta à sombra do poilão da Tabanca Grande. Basta expressar a sua vontade, mandar-nos uma foto atual e aceitar as nossas regras de convívio.

Quanto ao Luís Gonçalves Vaz [, foto atual à esquerda,] recorde-se que  é  membro da nossa Tabanca Grande (nº 530), é professor do 2º/3º ciclos do ensino  básico em Vila Verde, vive em Braga, e é filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74), já falecido.

O Luís, como aqui já ele próprio recordou, tinha 13 anos e vivia em Bissau, com a família, quando se deu o 25 de abril de 1974, que derrubou o regime do Estado Novo.


__________

Nota do editor:

Vd. postes anteriores:


quinta-feira, 1 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13079: O golpe militar de 26 de abril de 1974 no TO da Guiné: memorando dos acontecimentos, pelo cor inf António Vaz Antunes (1923-1998) (Fernando Vaz Antunes / Luís Gonçalves Vaz): Parte II


Cor inf António Vaz Antunes (1929-1998): "Memorando dos acontecimentos de Bissau".
Documento manuscrito, Lisboa, 30 de abril de 1974.





Folha nº1




Folha nº 2



Folha nº 3


Folha nº 4

(Continua)

Fonte: © Fernando Vaz Antunes (2014). Direitos reservados


Primeiras quatro folhas do documento manuscrito, da autoria  do cor inf António Vaz Antunes, de 9 folhas, "Memorando dos acontecimentos de Bissau", datado de Lisboa, 30 de abril de 1974. Trancrição da responsabilidade do seu filho Fernando Vaz Antunes que digitalizou e facultou o documento ao Luís Gonçalves Vaz, para divulgação no nosso blogue (*). O nosso especial agradecimento a ambos.

__________

Guiné 63/74 - P13078: O golpe militar de 26 de abril de 1974 no TO da Guiné: memorando dos acontecimentos, pelo cor inf António Vaz Antunes (1923-1998) (Fernando Vaz Antunes / Luís Gonçalves Vaz): Parte I


1. Mensagem, acabada de enviar hoje, às 14h50, pelo Luís Gonçalves Vaz, membro da nossa Tabanca Grande,  filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG, 1973/74), e que tinha 13 anos e vivia em Bissau quando se deu o 25 de abril de 1974, que derrubou o regime do Estado Novo:

Boa tarde, camarigo editor:

É com muita satisfação e "sentido do dever cumprido" que envio para publicação no nosso Blog, este artigo sobre um Documento manuscrito em 30 de abril de 1974, pelo Sr. Coronel António Vaz Antunes sobre a forma de um “Memorando dos acontecimentos de Bissau”, protagonizados pelo próprio em 25 e 26 de abril de 1974.


Trata-se, quanto a mim de um documento histórico-militar, de grande "relevância", e de um momento muito conturbado para a então Província Ultramarina Portuguesa da Guiné. Fez ontem 40 anos, que este oficial com grandes responsabilidades na altura, na defesa do perímetro militar da cidade de Bissau, escreveu este documento, não poderia haver melhor momento, para o publicar.

Forte Abraço, Luís Vaz




2. Golpe Militar de 26 de Abril de 1974 no TO da Guiné  > “Memorando dos acontecimentos de Bissau”

Pelo cor inf António Vaz Antunes [1923-1998]

A pedido do filho do Ilustre Sr. Coronel de Infantaria António Vaz Antunes, Fernando Vaz Antunes, elaborei este artigo para dar visibilidade nacional, neste nosso muito visitado blogue,  a um documento manuscrito em 30 de abril de 1974, sobre a forma de um “Memorando dos acontecimentos de Bissau”, protagonizados pelo próprio,  em 25 e 26 de abril de 1974, e registados em papel pela mão deste oficial, três dias depois de os mesmos terem decorrido.

Enfim trata-se, quanto a mim de um documento histórico-militar de uma altura muito conturbada e de mudança de paradigma politico e consequentemente de grandes mudanças para a então Província Ultramarina Portuguesa da Guiné. Este documento, em minha opinião contribuirá sem dúvida para a “Memória Histórica do Golpe de 26 de Abril na Guiné”. Achei que deveria Iniciar este artigo com uma pequena resenha biográfica sobre este oficial. 

António Vaz  Antunes

[consultar também o portal Ultramar Terrweb]

(i) nasceu na freguesia da Mata, Concelho de Castelo Branco, em 21 de Junho de 1923;

(ii) faleceu em 15 de Outubro de 1998;

(iii)  frequentou a Escola do Exército, onde se formou como oficial de Infantaria do Exército Português; 

(iv) no ano de 1959 realizou um estágio de oficiais do Exército Português, junto de tropas francesas na Argélia;

(v) passou pelo CIOE/Lamego, onde foi 2º comandante; 

(vi) passou também por por Angola onde foi 2º comandante do Batalhão de Caçadores 185/RMA (1961 e 1962);  e por Moçambique, onde foi 2º comandante do Batalhão de Caçadores 1918/RMM (1967) e comandante do Batalhão de Caçadores 17/RMM (1967 a 1968);

(vii) no CTIG, foi comandante do Batalhão de Caçadores 4512/72/CTIG (1972 a 1975);

(vii) neste teatro de operações, e na altura a que se reportam os acontecimentos relatados no “manuscrito” aqui publicado, o Coronel António Vaz Antunes era Adjunto do Comandante do CTIG e Comandante interino do COMBIS (Comando da Defesa Militar de Bissau), bem como Inspetor do CTIG;

Para que se perceba bem, este oficial tinha nesta altura, uma missão de muita responsabilidade na defesa militar de todos os quarteis no “perímetro militar de Bissau”, mesmo assim na reunião relatada no “documento histórico”, foi afastado destas funções pelo MFA da Guiné. 

Chamo à atenção que nesta altura não estavam em funções os 1º e 2º Comandantes do CTIG, pois encontravam-se de licença, o que elevava a responsabilidade deste oficial no quadro de comandos neste TO (Teatro de Operações). Pode-se ler,  por exemplo, no seu manuscrito, que no dia 25 de Abril recebeu por telefone e por mensagem indicações do CEM/CTIG, coronel cav Henrique Gonçalves Vaz, “recomendações para que o pessoal de guarda tivesse a máxima atenção na vigilância com vista a garantir a segurança dos quartéis contra qualquer tentativa do IN”, a situação era de facto explosiva, vulnerável e muito sensível …

Não quero de forma alguma, fazer aqui qualquer tipo de julgamento, apenas pretendo apresentar este “documento histórico”, de uma forma contextualizada, para que os leitores se inteirem do “ambiente deste momento histórico”, nunca deixando de se perceber que estavam em causa altos interesses “políticos, militares e de segurança”, neste teatro de operações, que era sem dúvida o pior, o mais “dramático”, o mais duro de todos os teatros de operações que mantínhamos naquele ano de 1974. 

Antes de apresentar o “documento manuscrito” do Sr. coronel António Vaz Antunes, quer a “transcrição” para melhor leitura, quer as imagens do “próprio original”, apresento uma pequena citação da autoria de um dos “oficiais revoltosos”, o então capitão Jorge Sales Golias, um dos protagonistas desse mesmo golpe, e que explica o que se teria passado “momentos antes desta mesma reunião”, que acabou por afastar o coronel António Vaz Antunes, a reunião que levou à “destituição/prisão" (?) do então Governador e Comandante-Chefe desta Província Ultramarina, general Bethencourt Rodrigues, a saber:

“Em Setembro de 1973, constitui-se uma primeira Comissão Coordenadora, que integrava o Major Almeida Coimbra, Capitão Duran Clemente, Capitão Matos Gomes e o Capitão Caetano.”

“Assim, no dia 26 de Abril, onze oficiais (1) dirigiram-se ao Gabinete do General Comandante e exigiram a sua demissão e o regresso a Lisboa. Foi um acto pacífico, civilizado, mas dramático. Com o General vieram também alguns oficiais que se lhe solidarizaram, nomeadamente o Brigadeiro Leitão Marques que o MFA julgava poder contar para o substituir.

"Por isso tivemos que solicitar ao Comodoro Almeida Brandão, o Comandante Marítimo, que assumisse as funções de Comandante-Chefe interino das Forças Armadas na Guiné-Bissau. Regista-se o facto de este oficial já ter reconhecido a Junta de Salvação Nacional (JSN). 

"Para as funções de Encarregado do Governo interino, o MFA indigitou um dos seus membros, o Tenente-Coronel Mateus da Silva que era Comandante do Agrupamento de Transmissões, o Quartel-General da conspiração, e um dos poucos oficiais superiores que integrava o Movimento dos Capitães (MOCAP). “

"Lisboa em 20 de Maio de 2005

"Jorge Sales Golias, Tenente-Coronel, MFA da Guiné-Bissau - 1974, Adjunto do CEME, General Carlos Fabião - 1974/75"

(1) Lista dos Oficiais revoltosos:

TCor [Eduardo] Mateus da Silva, Engº Trms
TCor Maia e Costa, Engº
Maj [Raúl] Folques,  Cmd
Maj [Manuel Joaqum Trigo Mira] Mensurado,  Pára [BCP 12]
Cap Simões da Silva,  Art
Cap [Jorge] Sales Golias, Eng Trms
Cap [Carlos] Matos GomesCmd
Cap Batista da Silva.  Cmd
Cap [Zacarias] Saiegh, Cmd (Africano)
Cap Ten Pessoa Brandão, Armada
Cap mil José Manuel Barroso



Como poderemos ler nesta citação, este Golpe Militar na Guiné, segundo um dos seus protagonistas, o então capitão Jorge Sales Golias, “foi um acto pacífico, civilizado, mas dramático”, mas que,  segundo me contaram à época, foi “duro na forma”, em que destituíram o então General Bethencourt Rodrigues…. 

Eu estava lá em Bissau na altura, e apesar de ser muito jovem (tinha 13 anos de idade), era filho de um militar com grandes responsabilidades neste TO e que presenciou também este “episódio histórico”, fiquei com essa ideia (bem como ao longo destes últimos 40 anos), embora se possa considerar que um “golpe militar é por natureza duro”. 

No entanto entre militares que viviam a guerra em conjunto, do mesmo lado da “trincheira”,  e que,  até o dia 25 de Abril, mantinham uma “cadeia hierárquica” sólida, liderada quiçá por um dos mais competentes e respeitados generais portugueses da altura [o gen Bethencourt Rodrigues], o momento seria inevitavelmente (seria mesmo ?) sempre “dramático” para quem é destituído das suas funções neste contexto político-militar. 

Esta ideia com que fiquei, será no entanto verosímil,  a ter em conta  o facto deste general ter ficado “tão tocado” com este episódio que,  passado muitos anos,  não quis dar entrevistas em direto para reportagens sobre a “A Guerra Colonial”, tanto quanto sei. Disse sempre que não se esquecia da “forma como o trataram” nessa manhã longínqua,  no Forte da Amura,  em Bissau.



Lisboa > Base Naval do Alfeite > 30 de abril de 1974 > Da esquerda para a direita: Coronel António Vaz Antunes, Brigadeiro Leitão Marques, General Bethencourt Rodrigues e Coronel Hugo Rodrigues, todos oficiais afastados no Golpe Militar de 26 de Abril em Bissau. Fotografia obtida já no Alfeite, em Lisboa no dia 30 de Abril de 1974.

Foto: © Fernando Vaz Antunes  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


Não irei aqui proceder a reflexões “técnico-militares”, se o Sr. General foi apenas “destituído das suas funções” pelos militares revoltosos, ou se foi mesmo “preso”, pois esse tipo de discussões não serão a razão principal deste mesmo artigo.

Sendo assim,   passo à apresentação do “documento histórico”, que justificou a elaboração deste mesmo artigo, o “manuscrito do Sr. coronel de Infantaria, António Vaz Antunes: primeiro apresentarei o original, escrito pelo seu próprio punho, logo dias após o seu afastamento das suas funções neste TO, e depois a “transcrição fiel”,  realizada pelo seu filho Fernando Vaz Antunes, onde apenas se procedeu à introdução / reorganização de notas de rodapé, para permitir uma melhor leitura, tendo também recorrido ao “Regulamento de Abreviaturas Militares” para um melhor esclarecimento dos acontecimentos relatados.


Guiné > Região do Oio > O Coronel António Vaz Antunes,  em Farim,  no ano de 1974. Fotografia do arquivo pessoal do coronel António Vaz Antunes.

Foto: © Fernando Vaz Antunes  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Primeira parte da folha 1, do documento manuscrito do cor inf António Vaz Antunes, de 9 folhas. Trancrição da responsabilidade do seu filho Fernando Vaz Antunes.

3. Lisboa 30Abr74  > Memorando dos acontecimentos de Bissau  (Transcrição dos registos originais)  [Por decisão do editor, e para tornar a leitura mais fácil, e o blogue mais ágil, apresentam-se as imagens digitalizadas do documento manuscrito, nos dois postes a seguir]

Cor. António Vaz Antunes


Funções:

Desde 24Mar – Inspector do CTIG

13Abr – Adjunto do Cmdt do CTIG para parcial substituição do Brig. 2º Cmdt [1], de licença; Cmdt intº do COMBIS por licença do Comandante

Sequência cronológica

24Abr

Considerando que 26 era feriado em Bissau, e para aproveitamento de tempo, solicitei à Chefia Srvc Transportes passagem para Bolama, a partir das 09:30

Planeei assistir às cerimónias mais significativas de homenagem a Honório Barreto e seguir depois para Bolama, em visita ao BArt [2] em IAO.

25Abr

Conhecimento por camaradas, do Movimento das Forças Armadas em Lisboa: através da BBC ao fim da tarde, depois de actividades várias no CTIG e COMBIS, tive conhecimento do triunfo do Movimento. 

Às 18:00 horas comuniquei à Chefia Srvc Transp para anular ida a Bolama.

22:00 horas – como de hábito, desloquei-me para o COMBIS para pernoitar, depois de ter recebido comunicação telefónica do Chefe do Estado Maior do CTIG [3] para recomendar ao pessoal de guarda a máxima atenção na vigilância com vista a garantir a segurança dos quartéis contra qualquer tentativa do IN.

À chegada ao COMBIS recebi a mensagem escrita que repetia a recomendação telefónica. Dei as necessárias instruções ao Oficial de Dia. 

Pouco depois o Oficial de Dia batia à porta do quarto para me prevenir de que a Emissora Nacional (Lisboa) ia transmitir uma mensagem do Movimento. Desloquei-me para o Bar, onde ouvi a mensagem na companhia do Oficial de Dia e mais 2 alferes.

Logo de seguida voltei para o quarto e pouco depois ouvi a repetição da mensagem, feita agora por emissor da Guiné e mais tarde repetida pelo PFA [Programa das Forças Armadas]  , vulgo “PIFAS”.

26Abr

Às 08:00 dirigi-me para a Praça Honório Barreto, de uniforme nº1 (branco), acompanhado do Cor Lemos [4]

Terminada a cerimónia, voltei ao quarto e mudei de farda.

09:45 – Chegada ao QG/CCFAG para tomar parte no briefing diário. Enquanto aguardava no local habitual, juntamente com outros oficiais – nomeadamente Cor Vaz, Cor Pilav Amaral Gonçalves, Cmdt Ricou e Comodoro Brandão [5] –, o Cmdt Lencastre chegou conduzindo um Volkswagen muito apressadamente, travou bruscamente e dirigiu-se a correr ao Comodoro a quem comunicou qualquer coisa, de que eu só percebi “vêm aí pára-quedistas”. 

O Comodoro não reagiu, o Cor Amaral Gonçalves pareceu-me surpreendido e eu perguntei ao Ricou, também impassível, o que se passava.

Este informou-me que eram os pára-quedistas que estavam a cercar o QG. Perguntei qual a intenção, respondeu não saber. Perante a impassibilidade destes, dirigi-me à sala de reuniões para onde tinha visto entrar o Sub Chefe do Estado Maior – Ten Cor Monteny [6] –, disse-lhe o que se tinha passado e ele respondeu-me que não sabia de nada. 

Respondi que, nesse caso, o nosso General [7] também não devia saber. Confirmou-me que não. Nessa altura ordenei-lhe que fosse avisar o nosso General, o que se prontificou a fazer, tendo saído para o efeito [8]. 

Momentos depois o grupo de oficiais, que estava fora, dirigiu-se para a sala de reuniões. Fiz o mesmo e cada um ocupou o lugar habitual.

Faltavam o General Cmdt Chefe, o Brigadeiro Adjunto [9] e o CEM/QG/CCFAG [10]. Não estranhei, por supor que estariam ocupados – e não era a primeira vez que o Comodoro presidia à reunião.

Logo que todos tomaram lugares – e havia muito mais oficiais que era habitual em briefing de rotina, especialmente considerando que era feriado –, adiantou-se para a frente o Ten Cor Mateus da Silva [11] que pedia atenção e disse: 

“A Comissão na Guiné do Movimento das Forças Armadas, que está aqui presente, entendeu que o Sr. General Bethencourt Rodrigues não podia continuar no desempenho de funções. Foi-lhe dado conhecimento disso e destituiu-o. Em face disso nomeia o Sr. Comodoro, Comandante Chefe, e eu, que já desempenhava funções de direcção no Serviço das Obras Públicas, passo a desempenhar as de Secretário Geral” [12].

O Comodoro fez um gesto afirmativo de cabeça e disse: “Bem, vamos ao briefing!”. 

Houve uns curtos momentos de silêncio e passividade que me fizeram crer que só eu fora surpreendido, pelo que me levantei e pedi licença ao Comodoro para dizer: 

“Para mim é surpresa o que acabo de ouvir. Tenho uma missão de responsabilidade da defesa de Bissau. Desejo identificar os membros da Comissão da Junta que tomou tais decisões e conhecer a minha posição!” 

O Comodoro propôs que falássemos depois do briefing. Insisti para que se não adiasse porquanto não conhecia as novas estruturas criadas.

Além disso,  em 33 anos de Oficial nunca se me tinham deparado tais procedimentos dentro das estruturas militares, pelo que pedia o esclarecimento da situação. 

Enquanto falava, um capitão tentou intrometer-se, no que o impedi [13]. Mas logo que terminei, ele pediu licença ao Comodoro e sugeriu “que o senhor Coronel acompanhasse o Sr. General para Lisboa, no Boeing que o transportaria nessa tarde”.

Fiquei perplexo, o Comodoro não respondeu, mas fitava-me como esperando a minha reacção, e então retorqui: 

“Lamento que seja posto na situação de aceitar uma sugestão apresentada por um Capitão que não conheço, mas se o Sr. Comodoro a aceitar eu aceito-a também!”.

 O Comodoro respondeu: “Sim, é melhor, vai com o Sr. General para Lisboa!”. 

Perguntei se podia contactar com o Sr. General, a fim de lhe perguntar se dava licença que o acompanhasse. Perante resposta afirmativa, pedi licença e retirei-me. Dirigi-me de imediato ao gabinete do Comandante Chefe e perguntei ao Sr. General Bethencourt Rodrigues se autorizava que o acompanhasse no avião que o transportaria para fora de Bissau. 

Respondeu-me que não tinha que se pronunciar sobre isso porque fora forçado por um grupo de oficiais, que invadiram o seu gabinete, a abandonar o cargo. Esclareci que apenas pedia licença para o acompanhar, porquanto a ordem para embarcar tinha-me sido dada no briefing nas circunstâncias que atrás referi.

Entretanto entraram no gabinete o Comodoro, o Cor Vaz, o Cmdt Ricou e o Cmdt Lencastre. Após breves palavras que o primeiro disse ao Sr. General, em termos de lamentação (que eu não entendia… ), esclareci-o que o Sr. General autorizava que eu o acompanhasse. Perguntei por guia de marcha, e disse-me que não era precisa. Indaguei sobre hora e local de reunião e fui informado que podia reunir-me no Palácio, ao Sr. General, até às 13 horas. 

Logo de seguida – cerca das 10:15 –, dirigi-me ao COMBIS para recolher os meus haveres pessoais e informar o meu Chefe do Estado Maior, de que devia entrar em contacto com o Cmdt Chefe para lhe definir a situação e missões.

Quando chegava à entrada do Depósito de Adidos, acesso ao COMBIS, estava a formar junto à porta, muito apressadamente, um Pelotão do Batalhão de Comandos Africanos, transportado para ali numa viatura pesada estacionada em frente. O Pelotão estava completamente armado, inclusive com LGF e armas automáticas, equipado e municiado.

Deduzi que seria por minha causa, mas nem parei nem interferi. Rapidamente reuni os meus haveres após o que chamei o Ten Cor Altinino e o Cap Bicho para os informar que deixava o COMBIS, mas não tinha dados que me permitissem transmitir o Comando.

Cerca das 12:45 cheguei ao Palácio com a minha bagagem. Cerca das 14h, quando vi chegar a guia de marcha para o Brig. Leitão Marques e Cor. Hugo Rodrigues da Silva, telefonei ao Cor Vaz, Chefe do EM/CTIG solicitando uma guia também para mim. Às 15:30 o Cor Vaz e o Ten Cor Monteny disseram-me que o Comodoro não assinava a guia e não autorizava que eu saísse.

Surpreendido por esta nova versão, procurei o Comodoro para que me esclarecesse. Estava num dos corredores do Palácio para tomar parte na cerimónia de tomada de posse do novo Governo da Província. Respondeu que não estava na disposição de autorizar que saísse quem pedisse. Lembrei-lhe que eu não o pedira – ele é que o ordenara. Reagiu atirando-se para um sofá e declarando que se quisesse embarcar que embarcasse, mas que não me passava guia.

Mais tarde, já no aeroporto, pedi-lhe para me atender em particular, e solicitei que recordasse o que se tinha passado e a ordem que me dera, e a situação em que me colocara na presença de dezenas de oficiais. Decidiu então que me enviaria a guia pelo correio e autorizou que embarcasse.

Chamei o Cor Vaz e o Ten Cor Monteny e, estando também presente o Cmdt Ricou, o Comodoro deu ordem ao Cor Vaz para me enviar a guia para o DGA [14] no dia seguinte.

Nessa mesma ocasião, disseram (não me lembro quem) ao militar que fazia policiamento à porta de passagem para a gare, que eu podia embarcar.


(24-26Abr1974) – Cor. António Vaz Antunes

Fernando Vaz Antunes, documento inédito, cedido pelo autor ao Luís Gonçalves Vaz e ao blogue  Luís Graça & Camaradas da Guiné

Fonte: © Fernando Vaz Antunes (2014).  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Bissau > Quartel-General > O velho forte da Amura > Entrada principal



Foto: © João Martins  (2012). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


E no ainda Império Português, decorria aqui, neste antigo forte colonial (Forte da Amura), mais um Capítulo da História Colonial Portuguesa. No entanto ainda seriamos “senhores deste território”, desta Província Ultramarina,  por mais seis meses, já que o acantonamento e a retirada dos 42 000 militares portugueses (número máximo de militares presentes neste TO) , bem como as negociações com o PAIGC, iriam levar o seu tempo e conhecer a sua “turbulência”.

 Nesta fase final, ainda houve “pressões por parte do PAIGC” e por parte de alguns sectores políticos para que todo o processo de descolonização na Guiné fosse célere. Como tal em 14 de Outubro de 1974 saem os últimos militares portugueses por via aérea, e no dia 15 saem os últimos militares portugueses, por via marítima, estes já ao largo, desde o dia 14 de Outubro.

Espero assim ter contribuído mais um pouco, para a elaboração da “Memória Futura do Golpe Militar de 26 de Abril de 1974”, na antiga Província Ultramarina Portuguesa da Guiné. 

Resta-me agradecer ao Sr. Fernando Vaz Antunes, filho do Sr. Coronel António Vaz Antunes, a amabilidade em me ter confiado esta missão de divulgação deste importante “documento histórico”, de que é proprietário e legítimo herdeiro. Como a História se faz a partir do estudo de documentos e vestígios do passado, aqui ficou mais um, com grande valor para que historiadores e investigadores se possam debruçar sobre estes acontecimentos marcantes da nossa vivência colectiva.


Braga, 29 de Abril de 2014

Luís Beleza Gonçalves Vaz

____________

Notas de AVA/FVA/LGV:

[1] - Brigadeiro Octávio de Carvalho Galvão de Figueiredo, 2º Comandante do CTIG e, por inerência, Comandante do COMBIS (Comando da Defesa Militar de Bissau).

[2] - Batalhão de Artilharia nº 6520/73, mobilizado pelo RAL5-Penafiel e aerotransportado entre 01 e 04Abr74, do AB1-Portela para a BA12-Bissalanca, de onde marchou para o CIM-Bolama.

[3] - Coronel de cavalaria CEM Henrique Manuel Gonçalves Vaz (CEM/QG-CTIG desde 07Jul73 até 14Out74)

[4]  -«A cerimónia começou mais tarde porque se aguardou, em vão, a chegada do Gen Cmdt Chefe. A dada  altura, por decisão do Comodoro Brandão que estava presente, deu-se início à cerimónia com uma alocução  do então Maj de infantaria Alípio Emílio Tomé Falcão, Comissário Provincial da MP na Guiné.» [AVA]

[5] - António Horta Galvão de Almeida Brandão, Comandante do ComDefMarG (Defesa Marítima da Guiné).

[6] - António Hermínio de Sousa Monteny, Tenente-Coronel CEM

[7] - José Manuel de Bethencourt Conceição Rodrigues, desde 29Set73 Governador e CCFAG.

[8] - «Houve entretanto um curto impasse: o Monteny continuava a escrever uns papéis, que eu lhe retirei da secretária repetindo-lhe que fosse de imediato – e ele foi. Isto passou-se na sala, enquanto o resto do pessoal estava fora. Quando o Monteny saiu, vim atrás dele, mas ao chegar à porta vi que os que estavam fora, incluindo o Comodoro, vinham entrando para o briefing, e eu fiz o mesmo, enquanto o Monteny descia o jardim.» [AVA]

[9] - Brigadeiro Manuel Leitão Pereira Marques.

[10] - Coronel CEM Hugo Rodrigues da Silva. [O QG/CTIG era o Quartel General do Exército (situado nas instalações militares de Santa Luzia), enquanto o QG/CCFAG era o Quartel General de todas as Forças Armadas em serviço naquele território (situado no antigo Forte da Amura, mesmo em frente ao cais de Bissau). O coronel Henrique Gonçalves Vaz, CEM/CTIG na altura destes acontecimentos, irá desempenhar as funções de Chefe do Estado-Maior do CTIG/CCFAG (Comando Unificado), após este Golpe Militar.]

[11] - António Eduardo Domingos Mateus da Silva, TCor Engº Trms, desde Jul72 Comandante do AgrTmG.

[12] - «O Mateus da Silva propôs-se ocupar os cargos de Secretário Geral e Encarregado do Governo – o que veio a acontecer –, tendo sido “empossado” cerca das 12h quando nós estávamos ainda no Palácio do Governo (e residência do Governador).» [AVA]

[13] - «O Capitão era o José Manuel Barroso, miliciano, que dirigia o semanário “Voz da Guiné” (e mais nada); era casado com a “fulana” que estava em Bissau para estudar a instalação da Universidade de Bissau, recebendo por isso 15 contos X mês (naquele tempo… ).» [AVA]

[14] - Depósito Geral de Adidos (Calçada da Ajuda, em Lisboa).

(Continua)

quinta-feira, 13 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12831: Historiografia da presença portuguesa em África (47): O dia em que saiu o último soldado português, de Bissau: 13 ou 14 de outubro de 1974 ? (Albano Mendes de Matos / Luís Gonçalves Vaz)

Ten Albano Mendes de Matos, CA/CTIG, 1973
1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Albano Matos, com dataa de 1 do corrente;

Assunto - Último dia da Guiné: datas

Caro Amigo Luís Graça,


Num comentário de Luís Gonçalves Vaz sobre a data de saída da Guiné num escrito meu, queria informar o senhor que,  nos meus documentos de matrícula,  consta que saí de Bissau em 14 de Outubro de 1974 e cheguei a Lisboa no mesmo dia.

O último avião saiu pelas 01H30M do dia 14. Logo, tudo o que descrevo se passa no dia 13 de Outubro de 1974. A não ser que a data nos meus documentos esteja errada. Eu dependia do pai do Sr Luis Vaz, Chefe do Estado-Maior, que, creio, que no dia 13 já não esteve no Quartel General, de onde eu saí no dia 13,pelas 13H00.

Albano Mendes de Matos
Tenente-Coronel Chefe de Contabilidade do CA/CTIG


Luis Gonçalves Vaz
2. Mensagem, de 2 do corrente, do Luís Gonçalves Vaz, membro da nossa Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG - 1973/74),  a quem dei conhecimento do teor da mensagem acima:

Olá, Luís Graça:

Obrigado pela tua atenção em me enviares a informação. Acabei de responder, e pelos vistos eu "troquei a hora, não os dias", a saber:

Caro sr Tenente-Coronel Mendes Matos:

Peço-lhe desculpa, pois só ontem fui informado deste seu post por um e-mail do Editor Luís Graça. Agradeço-lhe se ter dignado vir aqui repor a verdade da data/hora (já vi que troquei a data/hora do último embarque no cais marítimo com o grupo data/hora do último voo), que julga ser a correta.

Não vou nem quero opor-me à sua data de 13 ou 14 de Outubro,quando refere no seu artigo, afinal trata-se do depoimento de um dos "protagonistas deste momento histórico" que, como tal, merece toda a minha credibilidade. Mas gostaria de o informar que "oficialmente" no Relatório que possuo,elaborado pela 2ª Rep do QG e autenticado pelo sr. Major Tito Capela, na página 46, apresenta para o último embarque aéreo das nossas tropas, o grupo "Data/Hora" de 140230OUT, como o embarque do CMDT CHEFE e elementos do QG.

"Informa também" que foi no dia 13 de Outubro que o QG/St Luzia foi entregue, logo o seu artigo está de acordo com este Relatório "Secreto", de que já dei aqui visibilidade.

Agora apercebo-me que "troquei" o grupo Data/Hora, e além de  pedir desculpa a todos pela minha incorreção,quero também aqui corrigir esta hora, como tal onde digo "..Às 23 horas do dia 14 de Outubro de 1974, estes militares serão os últimos a retirar da Guiné..." quero emendar para: "Às 2h30min do dia 14 de Outubro de 1974, estes militares serão os últimos a retirar da Guiné (por via aérea ...).

Estive a reler o Relatório, e no mesmo o que parece uma "incoerência", pois o grupo Data/hora do último embarque (aéreo) é 140230OUT, e o grupo data/hora da entrega do QG/CCFAG na Fortaleza da Amura, é 142300OUT, não o será, pois  o último embarque de tropas portuguesas, foi por via marítima em LDGs (no cais de embarque) pelas 23h00min (142300OUT), executado diretamente da fortaleza da AMURA para os navio UIGE e NIASSA, como tal devem ter sido estes os militares que entregaram o QG da AMURA (??).

No entanto, e segundo este mesmo Relatório, estes navios só saíram da zona em 151000OUT, em suma terão sido estes os últimos a abandonar este TO. Agora se assim não foi, então será esta minha fonte que não foi fiel no que concerne às datas (terá alguma gralha ou mesmo erro nestes grupos Data/Hora ?). Relativamente aos registos do meu pai, só encontrei a referência que seria no dia 14, a saber:

Bissau, 5 de Outubro de 1974

"... Dia de trabalho derivado da antecipação da nossa saída em 15 deste mês (pois passou para 14 de Outubro) ...

 Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Entretanto, também registou na sua agenda de CEM, a antecipação de vários voos de cargas .... A pressão era "muito grande" para que abandonássemos aquele TO.

Grande Abraço

Luís Gonçalves Vaz

3. Comentário de L.G.:

O nosso camarada Albano Mendes de Matos, nascido em Castelo Novo, Fundão, em 1932,  é também antropópologo, poeta e romancista com obra premiada ("A Casa Grande", 2008).

Aqui fica uma resenha biográfica, respigada da Net e completada com elementos informativos do nosso blogue (*)

(i) Tenente-coronel do Exército na reforma, com várias comissões de serviço durante a Guerra Colonial: Angola  (Grupo Art 157 / BArt 147, 1961/63; Angola  (BArt 1469/ CArt 1469, 1965/68; Guiné (GA 7 e QG/CTIG - Secção de Milicias e Chefe de Contabilidade, 1972/74),.

(ii) é  também licenciado em Antropologia Cultural e Social e mestre em Ciências Antropológicas;

(iii) foi professor na Universidade Moderna;

(iv) na Guiné, a par das tarefas militares, organizou festivais de poesia e representações teatrais, bem como os «Cadernos de Poesias POILÃO», com autores guineenses e portugueses;

(v) publicou, em 1973, em Angola, o caderno de contos africanos «Jangadeiro», dos quais foram apreendidos 300 exemplares pela PIDE/DGS;

(vi) estreou-se no romance em 2008, com a obra «A Casa Grande», que recebeu o Prémio Literário Aquilino Ribeiro.

Acabei de mandar ao Albano Matos o seguinte mail:

Albano: Vou fazer um poste com as vossas duas mensagens, a do Albano e do Luís... E vou convidar o Albano para integrar a nossa Tabanca Grande... É mais do que justo até pelos contributos que já deu para a preservação e divulgação da nossa(s) memória(s) da Guiné... Memórias e afetos... Espero que diga que sim... E que aceite, A partir de então, o tratamento é por tu, de acordo com as nossas regras de convívio, e como de resto se impõe entre camaradas do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
Um alfabravo. Luís....(**)


PS - Temos cá vários camaradas da BAC

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/BAC%201

___________________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

 9 de maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2827: Os últimos a saírem: um estrangeiro numa nova Nação (Ten Cor Albano Mendes de Matos)

(...) Um pouco depois das 11 horas da noite [, do 13 de Outubro de 1974], dirigi-me para o jipe. O condutor estava melhor da bebedeira. Com ele estava o primo. Alguns negros param a olhar para nós. Aproximaram-se. O jipe arrancou. Os guineenses ficaram a acenar, de braços levantados. Descemos pela avenida principal, subimos pelo lado do campo de futebol.

Sentia uma sensação estranha. Já na estrada do aeroporto, olhei para trás. Duas lágrimas saltaram-me dos olhos, recordando o sangue português derramado naquelas paragens. Era estrangeiro numa nova nação.

Já perto do aeroporto, o condutor perguntou-me:
- Meu tenente, onde deixo o jipe?
– Atira-o para uma barreira!

Parámos à entrada do parque do aeroporto. Desci com a pequena mala. O condutor colocou uma sacola no chão, subiu para o jipe e conduziu-o até uma pequena ladeira, ao lado da estrada, um pouco antes do aeroporto, para onde o encaminhou com um pequeno empurrão.

No aeroporto, para entrarem no último avião da Guiné, estavam o Governador, o Comandante Militar, alguns militares coadjuvantes, oficiais, sargentos e meia dúzia de soldados.

Para apresentarem cumprimentos de despedida, chegaram alguns chefes militares do Exército do PAIGC e o Presidente da Câmara Municipal de Bissau.

Era o fim da colónia ou província portuguesa da Guiné, já independente desde o mês de Agosto. (...) 

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12713: Pedido de contactos de ex-camaradas do Major de cavalaria do Q.P. António Fernando Caetano", falecido em 8/12/1983 (Luís Gonçalves Vaz)

1. O nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, membro da Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG - 1973/74), enviou-nos um apelo que passamos a publicar.

Camarigos,


"Pedido de contactos de ex-camaradas do Major de cavalaria do Q.P. António Fernando Caetano", falecido em 8/12/1983. Este "pedido de contactos", surge como vontade de um dos seus filhos, com o objetivo de obter algumas informações sobre o passado militar do seu falecido pai, no TO de Moçambique e da Guiné, teatros de operações por onde passou este militar do Quadro Permanente, da arma de Cavalaria, que quis o "destino" que sobrevivesse na guerra colonial, mas que muito cedo (com apenas 41 anos e vida) sucumbisse num trágico acidente no rio Tejo, no dia 8 do mês de dezembro do ano de 1983, altura em que frequentava um curso para aceder na sua carreira militar. Como o conheci pessoalmente e porque privei com ele durante o ano de 1983 na EPC (Escola Prática de Cavalaria) em Santarém, e de ter estado pessoalmente com o "grupo de sapadores da EPC" nesse mesmo dia fatídico, nas buscas e tentativa de salvamento deste mesmo oficial, é com muito respeito e admiração pela sua memória, que dou voluntariamente visibilidade e voz ao pedido de seu filho António Caetano. Como tal agradeço a publicação deste artigo no "Nosso Blog".

Forte Abraço deste camarigo.

Pedido de contactos de ex-camaradas do Major de cavalaria do Q.P. António Fernando Caetano, falecido em 8/12/1983

(1942-1983)

Major de cavalaria António Caetano (fotografia do arquivo familiar)

Seu filho António Caetano, que tinha apenas 14 anos de idade, e era aluno do Colégio Militar na altura, quando o seu pai faleceu, em oito de Dezembro de 1983, num trágico acidente no rio Tejo, em Santarém, desejava comunicar com ex-camaradas e ex-combatentes, que com ele estiveram no TO (Teatro de Operações) de Moçambique, onde foi comandante do Esquadrão de Cavalaria 2 em Mueda, ou no TO da Guiné, nos anos de 1972/74, onde foi comandante da companhia de cavalaria 8350/72, no aquartelamento de Gadamael (onde chegou pela 1ª vez , lançado de helicóptero com o então capitão Monge e coronel Durão, para tentar enquadrar os militares portugueses em situação “crítica”, naquele que foi um dos “infernos” naquele TO, segundo relatos do sr. Brigadeiro Manuel Monge, em seu testemunho numa entrevista para os “Estudos Gerais da Arrábida sobre A DESCOLONIZAÇÃO PORTUGUESA, Painel dedicado à Metrópole (1 de Setembro de 1995). Na Guiné esteve também no CMI-Cumeré e durante a tarde de 28 de Agosto de 1973, na sala de sargentos do Agrupamento de Transmissões (CTIG), foi um dos oficiais subscritores do primeiro "manifesto anti-decretos", percursor do MFA-Guiné. Seu filho António Caetano, agradecia que algum ex-camarada de seu pai, que frequentasse este Blog ou por aqui passasse, se dignasse fornecer aos Editores, os respetivos contactos, para que ele os pudesse contactar, naturalmente para saber de algumas Estórias do seu falecido pai, que com ele apenas privou 14 anos, já que o destino assim vaticinou. O mesmo agradece esses eventuais contactos desde já.

Placa de um largo com o nome do major António Caetano, homenagem a este oficial de cavalaria da Câmara Municipal de Almeirim, sua terra natal.


Major de cavalaria António Caetano (fotografia do arquivo familiar)

Brigadeiro Manuel Monge: 

“… Bem, eu tinha vindo de comandar a guarnição operacionalmente mais difícil da Guiné, que era o COP 5, portanto também me sentia com alguma autoridade moral para poder falar da Guiné. Fui colocado a comandar o COP 5, lançado de helicóptero numa tarde, por ordem do general Spínola, numa altura em que aquilo tinha sido bombardeado pelo PAIGC e, dos 400 homens da guarnição, estavam lá 40, porque entre mortos, feridos e indivíduos que entraram em pânico e que tinham fugido para a bolanha, a guarnição estava completamente dizimada. Fui lá lançado de helicóptero ao final da tarde, com o coronel Durão e com o capitão Caetano, que já morreu. E estive a comandar durante oito meses o COP 5." …”

In: Estudos Gerais da Arrábida A DESCOLONIZAÇÃO PORTUGUESA Painel dedicado à Metrópole (1 de Setembro de 1995).

NOTA: Manuel Monge (n. 1939): Oficial de Cavalaria. Fez quatro comissões de serviço em
África: duas em Angola e as duas na Guiné. Um dos braços direitos de Spínola,
quando este foi, primeiro, comandante-chefe da Guiné em 1968 e, depois,
Presidente da República. Dirigente do MFA.


Mueda 1969 - Despedida do Alferes Sousa (3.º da esquerda)


Mueda, 20 de Junho de 1969 - Despedida do Alferes Sousa
Alferes Manuel António, Alferes Sousa, Capitão Caetano, Alferes Azevedo e Alferes Sérgio

25 de Julho de 1969
Aniversário do Comandante do Esquadrão de Cavalaria 2, o Capitão Caetano
Frente: Alferes Padre Matos, Capitão Caetano, Capitão Cabral Lopes e Alferes Azevedo
Meio: Tenente André (falecido em 27/07/1969), Alferes Armindo, Capitão Sebastião e Tenente Ferreira
Atrás: Tenente Pinela, Alferes Braga e Tenente Resende

Para saber mais consulte Gadamael, o verdadeiro inferno, in: http://www.guerracolonial.org/index.php?content=413
Ali pode ler-se: "... Em 1 de Junho foram lá colocados os capitães Monge e Caetano, para enquadrar os militares ali reunidos... "
Fotografias retiradas do sítio:

Braga, 14 de Fevereiro de 2014
Luís Gonçalves Vaz (filho do Coronel Henrique Gonçalves Vaz, então Chefe do Estado-Maior do CTIG) Luís Beleza Vaz

(Tabanqueiro 530)


quarta-feira, 31 de julho de 2013

Guiné 63/74 – P11890: Visita à Guiné e Briefing ao General Chefe do Estado Maior do Exército, general Paiva Brandão -Bissau, 26 de Janeiro de 1974 -, (CONTINUAÇÃO – Parte III) (Luís Gonçalves Vaz)



1. O nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, membro da Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG - 1973/74), enviou a terceira parte sobre esta matéria, iniciada nas mensagens postadas em P11871 e P11878.

Comando Territorial Independente da Guiné

QUARTEL GENERAL 


Visita á Guiné e Briefing ao Senhor General Chefe do Estado Maior do Exército, general Paiva Brandão 


(Bissau, 26 de Janeiro de 1974)
(CONTINUAÇÃO – Parte III) 
General João Paiva Leite Brandão (CEME 1972 - 1974) e Chefe do Estado Maior do QG / CTIG, coronel Henrique Gonçalves Vaz (CEM/CTIG 1973 – 1974). 



 GUINÉ – 7 de Abril de 1974 – “Mapa de Situação”

GUINÉ - 1973 – O Comandante Chefe, general Bettencourt Rodrigues, visita uma unidade no T.O. da Guiné, acompanhado pelo “seu” CEM do QG/CTIG, coronel Henrique Gonçalves Vaz. 



Comando Territorial Independente da guiné

QUARTEL GENERAL



Briefing a sua Excelência o Senhor General Chefe do Estado Maior do Exército



(exposição do Chefe de Estado Maior do CTIG, coronel do CEM Henrique Vaz)

Continuação….


3. CONDICIONAMENTOS GERAIS DO T.O.

“… a – Muitos dos condicionamentos, ficaram expressos nas considerações anteriores, no entanto parece-me pertinente seriar alguns deles:

b – Afastamento da Metrópole;

É de facto um condicionamento, a distância a que a Guiné se encontra de Lisboa. Pelo menos este condicionamento, ainda não foi superado, pois os transportes de pessoal e de todo o material, sofrem as dificuldades da “falta de maior frequência e capacidade” dos navios que demandam a este T.O. . O mesmo se aplica aos meios aéreos.

c- Outro condicionamento é a grande dificuldade no recrutamento de pessoal qualificado, quer para o desempenho de funções que exijam um mínimo de habilitações dentro do Exército , quer mesmo para a execução de tarefas burocráticas, por civis, contratados de apoio às actividades administrativas do Exército.

d- Também é um condicionamento, a enorme dificuldade na obtenção de recursos locais para o Exército que atrás já referi.

e- Outros condicionamentos são os derivados da “configuração geográfica” e do aspecto climático do T.O. com reflexos graves no aproveitamento dos diversos meios de transporte e na conveniente manutenção e conservação dos diversos materiais, em especial, viaturas, armamento, munições e víveres, todos conducentes a desgastar e deteriorar muito rapidamente aqueles materiais e víveres.


GUINÉ - 1973 – O Comandante Chefe, general Bettencourt Rodrigues, visita uma unidade no T.O. da Guiné, acompanhado pelo comandante do CTIG, brigadeiro Banazol e pelo CEM do QG/CTIG, coronel Henrique Gonçalves Vaz. 

4. MEIOS AO DISPOR DO Q. G./ C.T.I.G.


“ … O quadro orgânico deste Quartel General é o que Vª. Exª. Pode ver em frente … (placard na sala de operações do Q.G./CTIG). Nele estão indicados os efectivos orgânicos em Oficiais, Sargentos e Praças das diversas Repartições e Serviços.


Ao lado desses números, estão indicados a vermelho os efectivos reais que foi preciso obter para que “a máquina” possa funcionar sem grandes dificuldades e sem afectar muito, o indispensável apoio às tropas do T.O. 


A comparação daqueles efectivos “diz-nos logo” da grande falta de actualidade dos Q. O. Em vigor.


Dimensionados estes Q. O. (quadros orgânicos), para apoiar efectivos globais substancialmente inferiores aos actuais, estão hoje amplamente desajustados ás necessidades.


O pessoal de recurso não é o mais apropriado, e quem sofre são as unidades “onde temos de o ir retirar”.


Este facto acarreta uma “sobrecarga excessiva” para o pessoal e é evidente, pois afeta o apoio ás tropas e todas as restantes actividades do Q.G. , apesar do desejo de todos aqueles que aqui trabalham com a maior dedicação e elevado espírito de missão.


É bastante urgente meu General que as nossas propostas de alteração aos Q.O. sejam urgentemente aprovadas, e o mais importante, que os Serviços de Pessoal do Ministério do Exército satisfaçam completamente o seu preenchimento e em tempo oportuno . 

Este é o nosso maior problema que considero “grave”, prioritário em ser resolvido, mesmo em relação ás outras dificuldades a que já aludi durante esta minha exposição.


5. Agora meu General, os Chefes das respectivas Repartições, irão efectuar as suas exposições, começando pela 1ª Repartição… “ (passou a palavra ao tenente-coronel do CEM, Cunha Ventura)...

Coronel do CEM Henrique Gonçalves Vaz in: Exposição do Chefe de Estado Maior do CTIG, no Briefing a sua Excelência o Senhor General Chefe do Estado Maior do Exército.

Nota do autor: O Coronel do CEM HENRIQUE MANUEL GONÇALVES VAZ, substituiu o Coronel do CEM JOSÉ GONÇALVES DE MATOS DUQUE, nas Funções de Chefe do Estado-Maior do CTIG, a partir de 11 de Julho de 1973. Desde 17 de Agosto de 1974, o coronel Henrique Gonçalves Vaz, foi nomeado Chefe do Estado Maior do QG unificado para o Comando Chefe e CTIG. Publicado na altura em Ordem de Serviço do Comando Chefe. 


Braga, 30 de Julho de 2013

Luís Gonçalves Vaz 
(filho do Coronel Henrique Gonçalves Vaz, então Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Fotos (e legendas): © Luís Vaz Gonçalves (2013). Todos os direitos reservados.
__________
Nota de MR:

Ver a primeira parte desta matéria em:


Ver a segunda parte desta matéria em:

28 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 – P11878: Visita à Guiné e Briefing ao General Chefe do Estado Maior do Exército, general Paiva Brandão -Bissau, 26 de Janeiro de 1974 -, (CONTINUAÇÃO – Parte II) (Luís Gonçalves Vaz)