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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7628: Parabéns a você (202): Dia 13 de Janeiro de 2011, Enfermeira Pára-quedista Maria Ivone Reis

PARABÉNS A VOCÊ - DIA 13 DE JANEIRO DE 2011

ENFERMEIRA PÁRA-QUEDISTA MARIA IVONE REIS


1. Mensagem da nossa camarada Rosa Serra (ex-Alferes Enfermeira Pára-quedista, BCP 12, Guiné, 1969), com data de 13 de Janeiro de 2011:

Aos bloguistas de Luís Graça
Apesar da hora tardia, gostaria de dar conhecimento a todos os camaradas que conheceram a enfermeira Ivone*, mas desconhecem a sua data de aniversário, que hoje esta nossa camarada faz anos.

Tenho pena que grande parte das enfermeiras pára-quedistas, incluindo eu, não a foi visitar para lhe dar um abraço.

Acabei de falar com a sobrinha, que me informou que ela teve várias visitas entre elas uma enfermeira pára-quedista, a enfermeira Francis. As restantes estiveram numa reunião já agendada para este dia. Fiquei mais tranquila.

Mesmo que a enfermeira Ivone esteja indiferente, a nível consciente, às nossas saudações, aqui fica expresso que não a esquecemos e Parabéns Ivone hoje estamos consigo.

Um abraço em nome das enfermeiras pára-quedistas que hoje não puderam visitá-la
Rosa Serra

Tancos, 8 de Agosto de 1961. Da esquerda para a direita: Maria do Céu, Maria Ivone, Maria de Lurdes, Maria Zulmira, Maria Arminda e o Capitão Fausto Marques (Director Instrutor).

Tancos 2005 > I Encontro de Mulheres Boinas Verdes > A Enfermeira Ivone corta o bolo comemorativo


2. Comentário de CV:

Queremos agradecer à Rosa a oportunidade que nos dá de, embora tardiamente, podermos felicitar a nossa querida Enfermeira Ivone Reis pela passagem de mais um aniversário. Lamentamos que o seu estado de saúde não lhe permita conviver com as suas camaradas Enfermeiras Pára-quedistas, desfrutando de um dia de aniversário rodeada pelas suas amigas de sempre.

Vamos desde já marcar encontro para o próximo dia 13 de Janeiro de 2012, para no dia certo voltarmos a falar da nossa camarada Ivone, um dos anjos, que do ar, nos levavam o alívio para o corpo e para alma.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 5 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6535: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (18): As primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares (5): Maria Ivone Reis (Rosa Serra)

Vd. último poste da série de 12 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7597: Parabéns a você (201): Adilan, o menino que Manuel Joaquim trouxe da Guiné (Miguel Pessoa)

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7550: Facebook...ando (6): As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas, Maria Ivone Reis e Maria Celeste Lopes Guerra Palma (Durval Faria / Giselda Pessoa)



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > "Maio de 1963 > Domingo das Festas do Senhor Santo Cristo [ dos Milagres; os Açores, realiza-se tradicionalmente no quinto domingo após a Páscoa]. Neste dia juntaram-se as duas enfermeiras pára-quedistas, [graduadas em Alferes],  Ivone e outra que já não recordo o nome [, Maria Celeste Lopes Guerra Palma, sendo este último apelido, o do marido, segundo informação da nossa camarada Giselda]. 


"O [militar] da esquerda, na primeira fila, é o Capitão Adérito Augusto Figueira, hoje general aposentado... Os militares de óculos são da FAP, um  alferes piloto e um sargento mecânico", segundo informação do nosso fotógrafo... A viatura em que o grupo está sentado parece-me ser uma Fox (mas os camaradas da arma de cavalaria poderão confirmar, e já agora identificar o respectivo Pel Rec...). Além de um caveira, tem inscrito um nome feminino,  "Maria Albertina"... Recorde-se que estávamos no início da guerra no sul (Regiões de Quínara e de Tombali)... E o PAICG ainda não tinha minas anti-carro nem bazucas...


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > Maio de 1963 > "Batuque pelas Festas do Senhor Santo Cristo... Na foto, as enfermeiras pára-quedistas Ivone e Celeste",  diz o fotógrafo, mas eu não conseguia  localizar a Ivone, se não fora a ajuda da Giselda e do Miguel que me mandaram, a seguinte mensagtem: " Olá, Luís. Na segunda foto estivemos a ver com mais pormenor e supomos que a Ivone está na 1ª fila com um chapéu colonial e bata branca. Repara no cabelo atrás. Suponho que terás pensado que era mais um militar disfarçado... Reparei também que tem um anel no último dedo da mão esquerda"... De facto, eles têm razão... Outr pormenor curioso: a Celeste, do seu lado esquerdo, e a Ivone, do seu lado esquerdo, apoiam-se no braço de um homem, branco, de cigarro na boca, e "ronco" na cabeça... (Quem seria ? Não era seguramente o Capitão Figueira, facilmente reconhecível na foto, no lado esquerdo, pela sua cabeça calva, por detrás de outro homem com chappéu colonial igual ao da Ivone)...

Fotos:  © Durval Faria (2008). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem, de Durval Carlos Simas Faria, que encontrámos numa das caixas do correio do nosso blogue, com data de 2 Junho de 2008, e que decidimos agora recuperar, não tendo sido publicada na devida altura, não exactamente  por lapso nosso mas pela simples razão de andarmos então ainda à procura de organizar uma série sobre as nossas enfermeiras pára-quedistas cujo primeiro poste só seria publicado em Fevereiro de 2009 (*):


Camarada Luís Graça:


Sou açoreano. Também estive na Guiné, de Janeiro de 1962 a Janeiro de 1964, na Companhia de Caçadores Especiais nº 274 que operou na zona de Fulacunda durante o ano de 1963, e que pertencia ao Batalhão de Caçadores nº 356.

A minha companhia era comandada pelo antigo Capitão Adérito Augusto Figueira (hoje general reformado). Conheci de perto as enfermeiras pára-quedistas Maria Ivone Quintinho Reis e  a Celeste.

Lia na página da Xiconhoca o depoimento dessa enfermeira pára-quedistas [a Ivone,]  e que tem por título "Companhia de Caçadores fecha guerra a Solnado", em que ela conta a história de uma companhia de açoreanos muito unidos. Por acaso fiz parte dessa companhia, conforme fotos que envio.

Não sei se o camarada tem a direcção de alguma dessas enfermeiras, para que eu possa entrar em contacto com elas. No próximo email enviarei fotos antigas.

Um grande abraço do camarada


Durval Carlos Simas Faria [Vd. Página pessoal no Facebook]


2. Comentário de L.G.:


Durval: Lamento imenso só agora publicarmos as tuas preciosas fotos no nosso blogue, que já é teu, mas onde já devias figurar, desde Junho de 2008. Tenho pelo menos duas antigas enfermeiras pára-quedistas registadas no nosso blogue como camaradas,a Giselda e a Rosa.... São verdadeiramente as únicas duas camaradas (de armas) que integram a nossa Tabanca Grande. A Giselda Pessoa deu-me o nº de telefone e a  morada da Maria Celeste, informações essas que te vou enviar por mail pessoal, por razões óbvias de segurança e confidencailidade

A Maria Ivone Reis está viva mas, infelizmente,  já não goza de boa saúde. Era do primeio curso de enfermeiras pára-quedistas. Está reformada como Capitão. A Celeste (não confundir com a Maria Celeste Ferreira da Costa, morta em 10 de Fevereiro de 1973, num acidente, na BA 12, Bissalanca) vive em Algueirão e é do 2º curso.  Como já indicámos acima, o seu nome completo, actual, é Maria Celeste Lopes Guerra Palma. São informações  dadas pela nossa camarada Giselda, que aparece justamente como co-autora deste poste.

Durval, tu já és amigo da nossa Tabanca Grande no Facebook e eu já tomei, há pouco tempo, a liberdade de publicar duas fotos tuas que apareceram no mural da nossa página no Facebook. E iremos, a partir de agora, publicar mais coisas tuas e da tua companhia. Já foste, para todos os efeitos, apresentado aos restantes camaradas, amigos e camarigos. Aqui, na lista de A a Z, passas a ter o nº 467, o seja, és o segundo "tabanqueiro" a entrar formalmente este ano....

Sê bem vindo. Sei que que és um digno representante dos primeiros camaradas a embarcarem para a Guiné,  ainda de caqui amarelo, e que naturalmente és, na Internet, e não só, o mais activo porta-voz dos teus bravos camaradas da CCAÇ 274... Com tempo e vagar, explicar-nos-ás melhor o que era uma companhia de caçadores especiais. Um bom início de ano para ti, família e antigos camaradas da tua subunidade. Luís Graça (**)
______________


Notas de L.G.


(*) As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas será o título da série... O primeiro poste remonta a 20 de Fevereiro de 2009. Hoje temos mais de meia centena de referências ou marcadores sobre este tema ou tópico...

(**)  Último posrte desta série 31 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7532: Facebook...ando (5): Natal de 1971 entre os felupes: Delfim Rodrigues (ex-1º Cabo Enf, CCAV 3366, Susana e Varela, 1971/73)

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P6994: Recortes de imprensa (28): A fraternidade na guerra, segundo Mário Fitas (Correio da Manhã, 6 de Junho de 2010)



Guiné > Região de Tombali > Cufar > CCAÇ 763 (1965/66) > Uma enfermeira  pára-quedista no meio dos Lassas... Muito oportunamente o nosso camarada Jorge Félix, ex-Alf Mil Pil Heli AL III (1968/70),  identificou-a como sendo a Maria Ivone Reis (Em 1968, tem o posto de tenente)...  (LG)

Foto: © 
Mário Fitas (2008) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
1. O nosso camarada Mário Fitas já está connosco, na Tabanca Grande, desde Junho de 2007 (*), portanto há  mais de 3 anos... O nosso blogue já lhe publicou algumas dezenas de postes, incluindo os 11 relativos à notável  série Pami Na Dondo, a guerrilheira (título, de resto, do seu 2º livro, publicado em 2005, em edição de autor) (**).


Há tempos ele prometeu-me enviar outras histórias, retiradas do seu primeiro livro, autobiográfico, Putos, Gandulos e Guerra (2000).  O que na realidade ainda não chegou a acontecer, porquanto, segundo sei, ele terá tido a oportunidade de fazer uma 2ª edição, corrigida e melhorada... (A confirmar-se, é óptimo, já que a 1ª edição foi pouco cuidada).


De qualquer modo, estamos com saudades das suas histórias dos Lassas. O Mário é um excelente contador de histórias, ou não fora um alentejano dos quatro costados...  A prová-lo está a auto-apresentação da história da sua vida militar que li ainda recentemente no Correio da Manhã, no suplemento dominical, na conhecida série A Minha Guerra, e que de resto está disponível na Net, no sítio do jornal. Com a devida vénia, reproduzimos aqui o essencial do texto:


Correio da Manhã, 6 de Junho de 2010 > A minha guerra: “É aqui que os homens se tornam irmãos” (Mário Fitas) 


(...) Assentei praça no CISMI, em Tavira, no dia 8 de Agosto de 1963 e fui colocado no BCAÇ 8 em Elvas, em Janeiro de 1964, e em Lamego, em Junho de 1964, no CIOE onde tirei o curso de Operações Especiais, vulgo ‘rangers’.

A 11 de Fevereiro de 1965 embarquei, no navio ‘Timor’, com destino ao CTI da Guiné, como furriel miliciano de operações especiais.  Chegámos a Cufar, no Sul da Guiné, a 2 de Março de 1965,  ficando a CCAÇ 763 em quadrícula.

Vivi a Guerra no sul da Guiné tendo como adversário e comandante do PAIGC na então Zona 11, no Cantanhez, o ex-presidente da Guiné-Bissau, já falecido, 'Nino' Vieira. Para falar de uma guerra de guerrilha como a que foi a da Guiné, há que ter a noção do que é uma guerra de guerrilha e as suas componentes. Para o guerrilheiro é essencial o conhecimento do terreno com o apoio da população. Para quem faz a antiguerrilha, é lutar contra o desconhecimento do terreno e utilizar todos os meios para captar a simpatia e dar apoio às populações.

Havia apenas oito dias que tínhamos destruído o acampamento do PAIGC em Cabolol. Eis que o meu grupo de combate tem de partir para Catió, levar o pelotão de Artilharia. Nessa noite, um grupo da milícia do João Bacar Jaló, estacionado em Príame, detecta que a estrada foi minada, pelo que temos de utilizar o sistema de picagem da mesma.


(…) Mesmo ao cimo da leve subida, quando a estrada entra no túnel da mata após o vale de capim que separa aquela do cruzamento do Cabaceira, foram detectadas duas ‘meninas simpáticas, blenorrágicas prostitutas Anti/Carro’ que por nós esperavam, para nos ‘fornicarem’ o corpo.

Havia que deitar mãos à obra e rebentar as minas. Deixaram uma cratera que cabia lá um Unimog. Toca a tapar o buraco para as viaturas passarem. Trabalho efectuado, viaturas passadas, pessoal em segurança, vai um minutinho para fumar um cigarrito.

Verificámos então como funciona a guerrilha. Altamente organizada e eficiente contra a nossa ingenuidade. Fumando o cigarro, juntaram-se em amena cavaqueira de guerra três alferes, três furriéis milicianos e um milícia,  de nome Zé Libanês. Conversa animada no grupo quando um clarão aflorou da terra, secundado de um grande estrondo e o grupo foi atirado cada um para seu lado. O Zé, de gatas, dizia:
- Estou ferido!…

Ouvimos um gemido. Também o alferes Abrantes,  de Artilharia,  estava estendido na berma. Perna direita levantada. O pé tinha desaparecido. O artilheiro ali estava a receber os primeiros-socorros. Outro inválido e aos 24 anos!


O cabo de transmissões entra em contacto com o aquartelamento que, de imediato, pede evacuação a Bissau que será depois feita de avião. Há que fazer o transporte para Cufar. O José Pedrosa, cara toda chamuscada, camuflado cheio de terra, oferece-se.

(…) Conhecia a perícia do Zé Pedrosa, autêntico condutor de ralis, mas era perigoso voltar só. O Artur Teles, comandante do grupo de combate, decide rapidamente. Acede e manda subir para o Unimog o enfermeiro, entregando-lhe uma G3, e nomeia outro soldado, que também salta para a viatura. O Zé entrega a sua G3 ao condutor que cede o lugar e salta para o lugar deste e, com o ferido esticado na caixa, o enfermeiro e soldado segurando o infeliz, arrancam direito a Cufar. É assim a guerra: ou ficamos todos, ou salvamos um.

Chegados a Catió não dá para mais nada: é largar os obuses e correr para o cais, pois há que embarcar para o Cachil na ilha do Como. Temos de fazer a segurança àquele desterro.

É na dor que os homens se tornam irmãos sem consanguinidade. Ao todo foram 34 operações de grande envergadura, 15 emboscadas sofridas, 444 patrulhas apeadas e 135 auto, 36 escoltas diversas, 48 emboscadas e 10 golpes de mão realizados. Operações de limpeza batidas e nomadizações na totalidade de 45.

Quase nove mil quilómetros percorridos a pé, seis mil de viatura e perto de mil de lancha de desembarque. Fui evacuado para o Hospital Militar e operado de urgência a duas hérnias inguinais, devido ao esforço de atravessamento de pântanos, bolanhas e rios de maré.

Em 26 de Novembro de 1966, a CCAÇ 763 desembarca em Lisboa. Mortos em combate: 1 sargento, 1 furriel miliciano e 5 praças. Feridos em combate: 2 alferes milicianos, 3 furriéis milicianos e 35 praças. Evacuados por doença: 1 sargento, 1 fur mil e 3 praças.  (...).



[Revisão / fixação de texto / título: L.G.]

2. Comentário de L.G.:

No perfil do autor,  indicava-se que ele, Mário,  era casado, pai de duas filhas, avô de um neto, e  reformado da TAP. Não era referido que uma das suas filhas é a conhecida Sofia Fitas, coreógrafa e dançarina, que está a participar, em 2010, no espectáculo Solos com convicção, Danças para coretos e jardins, integrado  na programação das comemorações do Centenário da República, 1910-2010 ... 


O jornal também não diz(ia) que o Mário, qara além de um bom cristão,  é um talentoso artesão, dominando técnicas como a pirogravura... E sobretudo um amigão e um camaradão, que não perde a oportunidade de um animado convívio, seja da sua CCAÇ 763, seja da Tabanca da Linha, seja da Tabanca Grande. 


______________


Notas de L.G.


(*) Vd. poste de 26 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1884: Tabanca Grande (16): Mário Fitas, ex-Fur Mil da CCAÇ 763 (Cufar, 1965/66)


(**)  Vd. poste de 28 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2593: Pami Na Dondo, a Guerrilheira , de Mário Vicente (11) - Parte X: O preço da liberdade (Fim)


(**) Último poste desta série > 23 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6887: Recortes de imprensa (27): Repressão da PIDE/DGS, em Cabo Verde, na sequência do assalto, feito por militantes do PAIGC, ao barco de cabotagem Pérola do Oceano, Ilha de Santiago, 19 de Agosto de 1970 (Nelson Herbert)

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6900: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (20): Uma foto histórica: as Alferes Arminda e Ivone, em Angola, Negage, Agosto de 1961



Angola > Base de Negage > Agosto de 1961 > As enfermeiras pára-quedistas (*) Arminda e Ivone, em missão de apoio no âmbito de uma operação na Serra da Canda

Foto:  Cortesia de um nosso leitor, devidamente identificado, mas que prefere o anonimato.


1. Um nosso leitor, antigo oficial pára-quedista, perfeitamente identificado perante mim, mas que prefere manter o anonimato, mandou-nos em 30 de Julho p.p., a seguinte mensagem:

Assunto: As nossas queridas enfermeiras

Amigo Luís, reparo agora nesta segunda parte de uma mensagem que te enviei há tempos e que se teria perdido no amontoado de outras com que te assoberbam (presumo...).

Parece-me simpático e adequado ao ambiente homenagear as duas decanas, ilustrando um acontecimento único e que pouca gente conhecerá, pelo que junto agora um testemunho alusivo, da minha amiga Ivone (não sonhada mas de jure):

 "(...) entrámos a 6 de Junho de 1961 e fomos brevetadas a 8 de Agosto. No fim do curso, ficámos umas semanas em Lisboa, para se fazerem as nossas fardas e tratar de toda a papelada porque era a primeira vez que se fazia um curso daqueles.

"Enquanto se faziam as fardas, houve uma operação na serra da Canda e pensaram: Vão duas enfermeiras, para se fazer o teste da sensibilidade dos soldados, para ver como é que eles reagem às mulheres. Eu e a Maria Arminda fomos para Angola, não sabíamos bem para quê, para um teste de integração do meio operacional.

"Fomos no dia 22 de Agosto [de 1961] e no dia seguinte participámos no lançamento de pára-quedistas, numa zona de combate. Ficámos na base aérea, no Negage. Na zona mais próxima da guerra havia sempre um posto de comando, a partir do qual os aviões lançavam os pára-quedistas. Nós aterrávamos na base do comando operacional, onde se comandavam os lançamentos. Não pudemos saltar, estivemos dentro dos aviões enquanto eles saltavam e fazíamos o apoio sanitário porque levámos todo o nosso equipamento. Depois, aterrámos numa determinada zona no Norte de Angola, onde estava o posto operacional de comando, para ver como é que a operação se desenrolava". (...)

Um abraço e desejo de boas férias ...

PS 1 - Repito então...

Par contre (français, han....? que já ninguém fala e é a nossa língua de cultura)... se quiseres publicar, sem referência à origem por favor, esta fotografia histórica de uma Op na Serra da Canda, em Agosto de 1961, onde se vêm, no Negage, as Sras. Alf Arminda e Ivone  - hoje tenente e capitão reformados,  respectivamente.

Mas que conversa é essa das nossas queridas enfermeiras?!   [Há malta que ] parece que  esqueceu a distância que havia e que seria pertinente não aviltar.  Há um limite para a o devaneio e para a lavagem; nem para mim, minhas queridas,  e conhecia-as bem... o respeitinho é uma linda coisa!

Em geral e no mínimo, para não militarizar o ambiente, seria Sra. Dona..., não é?

2. Comentário de L.G.:

Meu caro leitor (anónimo, por vontade expressa):

Os autores de postes ou de fotografias publicadas no nosso blogue são sempre identificados pelo seu nome (excepcionalmente, por pseudónimo, ou iniciais, em caso de razões ponderosas) e são responsáveis pelo que escrevem ou editam. O mesmo acontece com militares ou combatentes, de um lado e de outro, ainda vivos, cujo comportamento possa ser objecto de crítica, por razões criminais, éticas, disciplinares ou outras. Essa é uma regra que quero manter, respeitar e fazer respeitar. No teu caso, levo porém em conta o teu pedido. Fico, porém, na dúvida sobre o autor da foto que, seguramente, não foste tu, já que tanto quanto sei não poderias estar no Negage em Agosto de 1961 (ou poderias ?...).

Quanto à expressão as nossas queridas enfermeiras pára-quedistas, é o título de uma série, cujo primeiro poste remonta a 20 de Fevereiro de 2009 (**)... Não sei, nem me interessa saber se o título da série é da minha autoria: é possível que sim, como muitos outros aqui criados e usados ao longo destes anos... De qualquer modo, o adjectivo "queridas" é frequentemente usado pela antiga malta do Exército que esteve no TO da Guiné e  que, passados estes decénios todos, acha que tem uma dívida de gratidão em relação às primeiras mulheres a fazerem história nas Forças Armadas Portuguesas... 

Elas (e temos pelo menos duas registadas como membros da nossa Tabanca Grande,  a Giselda Pessoa e a Rosa Serra) poderão dizer, melhor do que eu, se o termo, hoje (!),  é ou não aceitável, pertinente, adequado, respeitador, confortável, assertivo... 

De qualquer modo, obrigado pela tua lembrança, que é minha obrigação partilhar com todos/as os/as camaradas e amigos/as da Guiné, incluindo os/as inúmeros/as leitores/as  do nosso blogue que habitualmente não dão (nem têm que dar) a cara (o nome), excepto quando fazem comentários aos nossos postes...  Daqui de Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses, já em contagem decrescente para o fim das férias, um Alfa Bravo do Luís Graça.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6628: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (19): Em Cacine, em finais de 1968, eu, Alf Art, com a Ten Enf Pára Maria Ivone Reis (António Costa)

Guiné > Região de Tombali > Cacine > CART 1692 > Dezembro de 1968 > A Ten Enf Pára-quedista Maria Ivone Reis e o Alf QP António José Pereira da Costa, posando para a "posteridade"...

Foto: © António Costa (2010). Direitos reservados

1. Texto do António José Pereira da Costa (Cor Art Res) (*)

Assunto - Cacine 68

Camarada: Aqui vai uma foto da Ten Enf Para, (como ela escrevia, ) Ivone Reis. Foi já em Dezembro de 1968 quando estávamos ser rendidos pela CCaç 2445 (açoreanos).

Nesse dia, vi a guerra do ar! Um Gr Comb da nossa unidade e a CCaç [2445] completa andavam ali para os lados de Cacoca a procurar o IN.

Eu e o cap Veiga da Fonseca (**) andávamos a ver como iam as coisa. Subitamente, detectámos um grupo de 25 turras. Pedimos o héli-canhão para cima deles. E então foi aluciante: o avião às voltas sobre o héli e o héli às voltas sobre os turras e aquele rotor a rodar tão depressa...

Subitamente, os turras começaram a acenar com os bonés... Era o nosso grupo que, com os camuflados desbotados, foram confundidos e ia havendo um azar.

Aterrámos e eu estava completamente almareado. Confesso que "sujei" o avião. A Ivone (***) deu-me uma ordem seca:
- Patinho! Lavar o avião, já!

E lá fui eu,  às ordens da nossa tenente, lavar o material de guerra.

Depois pousámos para "memória futura"... Será que também há memória passada?

Olha, um Ab.

António Costa
______________
Nota de L.G.
 (...) Comecei na CART 1692, na altura já em Cacine, em 16JAN68. Era um operacionalíssimo alferes,  adjunto do capitão. A maioria do pessoal da CArt era mais velha que eu. Já comecei a descrever a estadia no último quartel da Guiné.



Regressei à capital do Império exactamente um ano depois. A 25MAI71 embarquei, de novo para "Uma Guiné Melhor", para me cobrir de glória na desfesa antiaérea da BA 12, como Cmdt da BTR [Bateria]AA 3434.


A 22JUN72 assumi o comando da CART 3494 que, então guarnecia o Xime. A 11NOV72 (Dia de S. Martinho) passei à CART 3567, estacionada em Mansabá, que deixei no TO daquela PU em 09AGO73. (...).

(**) Cap Art José João de Sousa Veiga da Fosneca, comandante da CART 1692 / BART 1914. Esteve na Guiné entre Abril de 1967 e Março de 1969 (Sangonhá, Cameconde, Bissau)

(***) Vd. último poste desta série > 5 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6535: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (18): As primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares (5): Maria Ivone Reis (Rosa Serra)

sábado, 5 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6535: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (18): As primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares (5): Maria Ivone Reis (Rosa Serra)

Tancos, 2005 > Enfermeira Pára-quedista Ivone Reis


As Primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares - V

Enfermeira Ivone Reis*


Têm-me perguntado várias vezes pela Enfermeira Ivone. Sei também que já há um certo número de pessoas que sabem que ela não tem estado bem de saúde, por isso aqui estou eu para falar um pouco da primeira enfermeira pára-quedista que eu conheci.

Nós, aqueles que a conheceram e que com ela conviveram períodos da sua vida por diversas razões, não a esquecem e no meu caso pessoal tenho bem presente quem foi a Ivone, como sempre a vi e o que eu aprendi com ela.

A Enfermeira Ivone pertence ao grupo das 6 Marias, nome pelo qual ficou conhecido o 1.º curso de Enfermeiras Pára-quedistas portuguesas feito em 1961.

Foi ela que contactou as futuras candidatas, residentes na Cidade do Porto, que em 1967 tinham pedido por escrito à Força Aérea informações sobre cursos para Enfermeiras Pára-quedistas. Foi a Enfermeira Ivone a primeira a deslocar-se ao Porto para conhecer as 4 interessadas na candidatura ao curso, onde eu estava incluída.

Mais tarde, eu, já Enfermeira com boina verde na cabeça, estive em várias comissões com ela. Fazíamos uma grande diferença de idade; eu muito novinha, a Ivone uma senhora cheia de sabedoria e experiência. Logo percebi tratar-se de uma pessoa de princípios e moral muito vincados, nem sempre de fácil contacto, porque o seu grau de exigência era muito elevado, não só para quem estava à sua volta, mas para com ela mesmo.

Não se lamentava do seu cansaço nem de quem a magoasse com qualquer atitude menos simpática; mas também não se inibia de chamar a atenção sobre tudo o que eu ou outra enfermeira qualquer pudéssemos fazer e que ela considerasse pouco correcto, ou até mesmo deselegante.

Fazia gosto e não se poupava a esforços para que todas nós fossemos um exemplo de profissionalismo impecável, cumpridoras de normas militares sem deslizes, posturas e atitudes que se destacassem, de forma a sermos admiradas como grupo.

No meu caso pessoal percepcionei logo na primeira comissão que fiz com ela a sua forma de estar e o seu rigor no desempenho da sua actividade como enfermeira em ambiente masculino e de guerra.

Várias vezes ela me chamou atenção por pequenas rebeldias insignificantes e atitudes que eu tomava, como entrar no helicóptero para ir fazer uma evacuação com o casaco de camuflado pendurado num ombro, de bolsa de enfermagem no outro e de t-shirt branca; era sabido que quando regressasse logo me dizia do perigo em usar a t-shirt em pleno mato pois tornava-me um alvo bem visível, além do aspecto pouco alinhado no uso do uniforme militar a bordo de uma aeronave.

Eu dizia-lhe para ela não se preocupar, porque eu era um alvo que não interessava a ninguém; e quanto ao desalinho do casaco pendurado no ombro, um dia respondi-lhe que só o fazia porque tinha calor, não pelo clima da Guiné, que até era “fresquinho”, mas se calhar por estar a entrar em “menopausa” e ela esboçou um sorriso e respondeu-me:

- A menina gosta muito de brincar.

Eu nunca levava a mal o que ela me dizia, apesar de eu ser mesmo uma periquita ao lado dela; sempre soube apreciar as suas qualidades profissionais sobretudo em termos de organização e de uma verticalidade e sentido de dever pouco comuns, mesmo nessa altura.

Mais tarde, em Angola, as enfermeiras colocadas em Luanda viviam num apartamento de um edifício da Força Aérea destinado a alojar militares e suas famílias. O ambiente era bem mais calmo que o da Guiné, o que nos permitia termos fins-de-semana, irmos à praia, convivermos mais tranquilamente com a comunidade civil ou com famílias de militares.

A Enfermeira Ivone sempre alinhou comigo nas horas de lazer, tal como respeitava se eu não a convidasse para ir comigo quando eu saía com um grupo de amigos ou familiares meus que lá se encontravam na época.

Em Angola eu estava colocada no BCP 21 e ela na Direcção do Serviço de Saúde da Força Aérea. Normalmente eu ia para o Batalhão com farda n.º 2 (saia, camisa e eventualmente blusão) e, claro, boina verde na cabeça. Um dia resolvi colocar num dedo um anel com uma pedra grande verde, que dava um bocado nas vistas; quando ela me viu sair com semelhante adereço, fardada, olhou para o dedo e com ar de espanto diz-me:

- A Rosa esqueceu-se que está fardada? - Eu respondi, não - e acrescentei:

- Não me diga que não é giro… condiz mesmo bem com o verde da boina - e ia mostrando o dedo e dizendo: - É lindo, até devia estar orgulhosa de uma Enfermeira Pára-quedista estar assim tão gira.

Ela respondeu-me:

- Nem por isso - e virou-me as costas. Acredito que se foi rir às escondidas.

Mais tarde comentámos uma série de peripécias deste género que se passaram connosco e fartámo-nos de rir, e com aquele jeito típico dela, depois destas lembranças e passados tantos anos, acabava por dizer:

- A menina era muito brincalhona, nunca consegui zangar-me consigo.

Estou a contar estes episódios porque sempre percebi que por trás daquele ar rigoroso dela estava uma mulher mais tolerante do que parecia, com uma capacidade de organização espantosa, uma noção de ética muito apurada, muito trabalhadora; e nunca a vi fazer uma crítica desagradável ou fofoqueira de ninguém e nem gostava que as pessoas que a rodeavam o fizessem.

Ao longo de todos estes anos mantive sempre contacto com ela, o que me permitiu tomar conhecimento de um espólio fantástico que ela foi recolhendo dos sítios por onde passou e organizando ao longo dos anos, tendo em vista a divulgação da história das Enfermeiras Pára-quedistas de quem ela tanto se orgulhava e que sempre se preocupou em não deixar cair no esquecimento. Foi sempre um bom exemplo para mim.

(Rosa Serra)

Tancos 2005 > I Encontro de Mulheres Boinas Verdes > A Enfermeira Ivone corta o bolo comemorativo

Base Aérea de S. Jacinto, 2007 > III Encontro de Mulheres Boinas Verdes > Da esquerda para a direita: Giselda, Rosa Serra (de branco), Maria Bernardo Vasconcelos (de vermelho e preto), atrás (?), depois Júlia Lemos (camisola florida), Amália Reimão (de branco), Céu Matos Chaves (de amarelo) e Zulmira André. Em baixo, Aida Rodrigues.

Base Aérea de S. Jacinto, 2007 > III Encontro de Mulheres Boinas Verdes > A partir da esquerda: (?), a Rosa Serra (de branco), a Zulmira André (meio tapada), a Maria Bernardo Vasconcelos (de vermelho e preto), Teresa Lamas, a Maria do Céu Matos Chaves (de amarelo), a Júlia Lemos (camisola florida) e a Amália Reimão (de branco). Em baixo estão a Giselda e uma camarada mais nova.

Base Aérea de S. Jacinto, 2007 >III Encontro de Mulheres Boinas Verdes> Giselda, Rosa Serra e Zulmira André
Fotos e legendas enviadas por Miguel Pessoa

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Notas de CV:

(*) Este trabalho de autoria da nossa camarada Rosa Serra, sobre a Enf.ª Pára-quedista Ivone Reis, foi publicado no P5971 de 11 de Março de 2010. Achamos contudo que o devíamos incluir nesta série "As Primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares" para que ficasse devidamente integrado, conforme a ideia inicial de se falar destas valorosas e corajosas MULHERES.

Vd. poste de 11 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5971: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (12): Ivone Reis, a primeira Enfermeira Pára-quedista que conheci (Rosa Serra)

Vd. último poste da série de 3 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6523: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (17): As primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares (4): Lurdinhas (Rosa Serra)

Resta-nos agradecer à Enf.ª Pára-quedista Rosa Serra o seu empenho na recolha e envio das fotos, assim como os textos que caracterizou e nos deu a conhecer um pouco mais, estes nossos Anjos da Guarda.

Ficamos à espera de novas histórias de qualquer das nossas queridas amigas enfermeiras pára-quedistas, lembrando que temos a partir de agora dois elos de contacto, a veterana Giselda e agora a Rosa.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4318: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (10): Ivone Reis, Anjo da Guarda na Guiné, Angola e Moçambique (António Brandão)

1. Recebi de um dos meus bons Amigos Rangers - o Brandão (que cumpriu a sua comissão em Angola) - , notícias de mais uma das nossas enfermeiras pára-quedistas, de nome Maria Ivone Reis, que cumpriu comissões entre 1961 e 1974, em Angola Moçambique e Guiné. Diz o Brandão no e-mail que me dirigiu: 

  Amigo M. Ribeiro: Aqui vai o que te disse, um texto e uma fotografia (é a única que tenho), desta Senhora Enfermeira Pára por quem nutro muito carinho, para eventual publicação no vosso blogue da Guiné (o qual tenho acompanhado com muito interesse), dado que esta Senhora deve ser conhecida por muito pessoal que combateu o PAIGC. 

 Os meus melhores cumprimentos para todo o pessoal do blogue do Luís Graça e, em especial, ao Mário Fitas e ao Jorge Félix, porque sem a ajuda deles não sei se algum dia reencontraria o único Anjo de Guarda que comigo se cruzou na minha vida militar. 

 NOTA: A Dª Ivone autorizou a publicação da foto. 

 Um abraço Amigo, António Brandão 

  
2. Uma Enfermeira Pára, de todos nós (*) 

 Texto: António Brandão 

 Estávamos em 2006, estávamos em Junho, no local e dia do reencontro com os nossos mortos, Belém/Lisboa, dia 10. Desde as primeiras comemorações que tinha vontade de lá ir, mas por razões várias, uma delas a distância, nunca tinha acontecido. Estava só, sentia-me, no entanto, rodeado de amigos. Amigos que nunca vira na vida, mas que sabia serem meus camaradas e também tinham estado lá, em Angola, Guiné ou Moçambique. 

 Nesse ano as circunstâncias conjugaram-se em sentido contrário, corri o memorial... tanta juventude desperdiçada, tantos camaradas, tantos amigos... Encontrei-os quase todos, com o pensamento distante, sem definição. Os olhos humedeceram-se-me pelo sem número de recordações, mas lá arranjei forças para percorrer todas aquelas frias placas de mármore. Aqui e ali tirava uma ou outra fotografia, à placa do Varinho, do Lebres, do Vale Leitão, do Fonseca... Rogério... Eusébio...Tantos (demais para o meu gosto). Cruzei-me com muita gente, uns mais velhos, outros menos. Outros ainda, tão velhos quanto eu. Neles, sob aquelas boinas que o tempo se encarregou de desbotar, tentei reconhecer uma cara. Não reconhecia ninguém, até que, num momento qualquer, encontrei um camarada especial. Um camarada que, a seu modo, batalhou nas três frentes da guerra, ao lado de todos nós. Com todos e por todos. Tinha uma Boina Verde, um corpo frágil, elegante, e era um dos convidados de Honra das celebrações. O convidado n.º 98 e o seu nome é Maria Ivone Reis. 

Apresentei-me, dizendo-lhe quem era, onde estivera, o meu posto e, com a voz embargada, pedi-lhe autorização para tirar uma fotografia ao seu lado, ao que a Senhora acedeu. Era esta Senhora, uma das nossas queridas enfermeiras pára-quedistas. Recrutei um voluntário entre o pessoal que na altura por ali circulava. O mesmo, talvez por que se ter apercebido das palavras que havíamos trocado, prontificou-se a fazer de fotógrafo e, assim, este tão agradável momento ficou registado numa foto (caro camarada voluntário, caso estejas a ler estas palavras, agradeço-te a gentileza que tiveste). Depois disto, despedimo-nos. 

 Na altura ainda pensei em pedir a direcção à Senhora, para lhe remeter a fotografia, mas um certo preconceito meu, pessoal, determinou que isso pudesse ser por ela considerado um atrevimento e fiquei calado. Desde então, voltei sempre nesse dia às cerimónias, em 2007 e 2008 procurei essa garbosa Capitã, agora reformada, em vão. Desde então fui vivendo com a revolta de não lhe ter pedido, pelo menos, o seu endereço postal. Não me perdoava desta minha atitude. 

 O tempo foi passando e um belo dia, como sou frequente leitor assíduo do vosso blogue, vi publicada no poste P3914 (da autoria do Mário Fitas) (**), uma fotografia de uma Enfermeira Pára-quedista, que o Jorge Félix identifica como sendo a então Alferes Ivone. Ao ler este nome, mais do que ver a fotografia, produziu-se em mim um clic na minha memória, não me era um nome, de maneira alguma, estranho. De imediato recorri aos serviços da minha secretária particular, minha confidente, minha esposa e mãe dos meus filhos, e aos da minha filha Marta (uma menina com a idade do 25 de Abril, que, numa missão de um ano, prestada em Quinhamel, em 2001, a população local lhe dizia que ela era branca por fora, mas negra por dentro), pedindo-lhes para compararem as 2 fotos (a minha e a do Mário Fitas) e me emitirem as suas conclusões. 

 Coloquei então as 2 fotos lado a lado, e perguntei-lhes se havia possibilidade de ser a mesma pessoa, apesar das dezenas de anos que as separavam. A resposta foi positiva, quase não tinham dúvidas, só diziam: “Olha para as mãos, são as mesmas”. Passada a 1ª prova, recorri ao especialista do blogue em Helis, Fotografia, Vídeo e, também, em identificação de Enfermeiras Páras, o Jorge Félix. Para o efeito, em 18 de Fevereiro último, mandei-lhe um recorte da cara e, na “volta" do correio, recebi uma resposta cheia de ternura: Caro Brandão, é a Ivone. Está linda. Já deve "ir" nos 70 anitos. Boa imagem. Vou guardá-la no meu arquivo pessoal. Um abraço Jorge Félix. 

 O resto foi rápido, saber o seu número de telefone, ligar-lhe e cumprimentá-la, resumir-lhe a estória, marcar um encontro em casa dela, em Lisboa, e entregar-lhe a fotografia. Tudo em cerca de dois meses. Por volta do dia 20 de Abril, a Dª Maria Ivone Reis, acompanhada da sua sobrinha, recebia-me a mim e aquela que é minha mulher há 38 anos. Apenas reparei em duas coisas em casa dela (que me perdoe a inconfidência), numa parede, devidamente encaixilhado, estava um pequeno mapa da Guiné, todo ele marcado por tudo quanto era sítio com pionés, assinalando os lugares para onde tinha sido solicitada. 

 Recordei-me então de um poste do Virgínio Briote, em que apresentava um pequeno mapa que mais parecia estar com o sarampo, ou ter levado um tiro de caçadeira. Uma outra coisa que vi, estava em cima de um pequeno móvel, entre outros objectos, um Nord Atlas e um outro avião, que me pareceu um Dakota (como não sou especialista da “arte”, pode ser outro avião qualquer). 

Gostaria, ao terminar, de agradecer publicamente à querida Enfermeira Pára-quedista Ivone Reis, o ter-me facultado esta fotografia do P3914 (**), que guardarei com muito carinho. Para ela e para todas as outras queridas Anjos da Guarda, pelas suas disponibilidades nas missões que tão bem souberam desempenhar: O meu grande Xi, António Brandão

 
Foto da esquerda: a Enfermeira Pára-quedista M. Ivone Reis, identificada pelo Jorge Félix - ex-Alf Pil Al III -, membro da nossa Tabanca Grande. 

 Foto da direita: A M. Ivone R., no dia 10 de Junho de 2006, ao lado do Brandão. 

 Fotos: António Brandão (à direita); Mário Fitas (à esquerda)

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 Notas de MR: 


(**) Sobre a série "As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas", vd. os restantes postes anteriores: