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quarta-feira, 30 de março de 2011

Guiné 63/74 - P8016: Memórias de Mansabá (23): Recordações de António Dâmaso, Sargento-Mor Pára-quedista - A minha estadia em Mansabá

1. Mensagem de António Dâmaso*, Sargento-Mor da FAP na situação de Reforma Extraordinária, com data de 30 de Março de 2011:

Resolvi embora com atraso dar os parabéns aos aniversariantes do Blogue, não desfazendo, uma atenção ao Carlos Vinhal, num pequeno texto alusivo a Mansabá que ele tanto adorou, mando duas peças de caça mas têm que as matar primeiro, eu não fui capaz.

Muitas felicidades e que para o próximo cá estejamos para mais umas trincas.

Um Abraço
Dâmaso


RECORDAÇÕES DE MANSABÁ (1)

A MINHA ESTADIA EM MANSABÁ


 Vista aérea de Mansabá
Foto de Carlos Vinhal

Em 1969 estava eu na minha segunda comissão na Guiné. Tinha-me oferecido por estar à bica para ser nomeado para Moçambique e estar convencido que a duração da comissão ainda era de 18 meses, mais uma vez fruto da minha outra Especialidade de Mecânico, devido ao desempenho na comissão anterior, tinha sido colocado no Pelotão de Manutenção Auto que pertencia à CMI, (Companhia de Material e Infra-estruturas).
Estava nesta situação havia cerca de um mês e meio, inopinadamente no 29 de Maio a uma sexta-feira fui ler a Ordem de Serviço antes de sair do Quartel como militar que se preze deve fazer, qual não foi o meu espanto, ao ler que eu sem ninguém me ter dito “água vai”, tinha sido transferido para a CCP 122.
Como simplório que sempre fui, não perguntei nada a ninguém do porquê desta transferência, uma vez que quando para lá fui estava a contar que podia ser colocado de início numa Companhia operacional.

Alguns elementos da CCP 122 onde eu aterrei, militares muito aguerridos

No sábado dia 30 de Maio de 1969 fui logo a caminho de Mansabá, não foi obra do acaso que fui colocado no Pelotão que passados estes anos todos não me lembro, até porque informalmente, só estive na CCP 122 pouco mais de um mês, fui “chutado para a (CCP 123) nesta altura a CCP 122 estava em Mansabá que pertencia ao COP 6 a fazer segurança a colunas auto entre Mansoa e Mansabá e vice-versa, fazia segurança à construção na Estrada que estava a ser construída entre Mansabá e Farim.
A CCP 122, quando fui para lá estava a ser comandada por um tenente, e vinha com uma série de êxitos de resultados das operações semanais que vinha realizando, fazendo muitas baixas, capturas de guerrilheiros e muito material de guerra.

Pessoal e Material capturados pela CCP 122 na operação “Titão” no Morés em 24 de Abril de 1969 (Foto H BCP 12)

A segurança às colunas requeria alguma atenção, pelo menos nos pontos mais críticos propícios a emboscadas, constava que faziam buracos no alcatrão, colocavam minas anticarro e tapavam com bosta de vaca para disfarçar.
O tempo de espera em Mansoa era ocupado com uns jogos de matraquilhos

Mesa de Matrecos

No trajecto fazia-me impressão como é que estava no meio do nada, um minúsculo acampamento em Cútia, quantos ataques terão sofrido?
Havia também um ponto crítico chamado de a Serração.
Em Mansabá dormia numa camarata cuja parede era arejada por buracos quadrados, os catres estavam equipados com uns colchões muito velhos e sujos.
Um belo dia num sábado em Bissau estava em casa depois de ter tomado banho, estava à mesa e apareceram-me uns bichinhos achatados a passear sobre os meus sobrolhos, fiquei mais que encavacado, foi uma “chatice”, só depois associei o caso aos colchões velhos.

A Caserna esburacada dos “chatos” em Mansabá (Foto H BCP 12)

Uma noite saímos do aquartelamento e fomos emboscar num ponto alto para o lado esquerdo da estrada em construção no sentido de Farim, quando o dia começou a clarear começou toda fauna a mexer, galinhas de mato e toda a passarada a esvoaçar de árvore em árvore, a fazer-se ouvir nos seus trinados próprios, até que oiço por cima da minha cabeça um som característico de uma perdiz, som que eu já conhecia desde criança, ao mesmo tempo que estava encantado com aquilo tudo, olho para cima e vejo uma perdiz bem grande pousada num galho da pequena árvore onde eu estava por baixo, quando a ave resolveu fazer as necessidades para cima de mim, aí veio ao cimo aquele sentido animalesco de predador e de lhe apontar a arma e manter o dedo no gatilho, mas como estava emboscado, tive de fazer um grande esforço para não puxar o gatilho, numa emboscada tem se manter o silêncio absoluto.
Foi uma experiência porque desconhecia que as perdizes pousavam sobre as árvores, no Alentejo nunca tinha visto.

Uma perdiz e uma galinha-do-mato


Largada de Pára-quedistas na Guiné (Foto Álbum de memórias do BCP 12)

Um dia que não me lembro a data resolveram ir de avião para Mansabá e saltar, existia lá uma boa zona de lançamento, eu como não fui com eles, também fui de avião DO 27 mas não saltei.

Uma DO 27 a levantar voo

Quando ia para aterrar vi uma grade acácia de flores vermelhas, que tomei como ponto de referência, sempre que voei na Guiné ia atento aquele tipo de acácia e até cheguei a enviar sementes para cá, que não chegaram ao destino.

Uma acácia rubra igual à que existia em Mansabá

Durante o mês de Junho a Companhia continuou com o ritmo operacional de uma operação por semana, Mansabá tinha uma coisa boa que era uma água levezinha como não bebi na Guiné em lado nenhum, cheguei a levar água para Bissau em garrafões de 10 litros, nunca mais esqueci Mansabá por ter sido a minha primeira experiência na Guiné da guerra a sério, mesmo nas duas operações em que tomei parte, apesar de não ter dado um único tiro, fizeram-se prisioneiros, apanhou-se muito material de guerra, queimaram-se cubatas e destruiu-se arroz, mas presenciei situações que me recuso a transcrever e que me marcaram, vi como a guerra transforma os seres humanos em “bichos” perdendo a vertente humana, a partir daí pela maneira como fui lançado para a situação, ia sempre que era nomeado, mas não se pode dizer que me sentisse muito feliz por lá andar.

A minha estadia em Mansabá não chegou a um mês, porque fui para lá no dia 30 de Maio e no dia 28 de Junho já estava a caminho de Teixeira Pinto, gostei de ter conhecido Mansabá comparada com outros buracos por onde andei era um oásis, passei lá pela estrada quatro anos depois, indo do K3 (Farim) para Bissalanca em 2 de Junho de 1973, regressando de Guidage da Operação “Mamute doido”, da estrada observei que tinha aumentado muito em casernas novas.

Um Abraço do
Dâmaso de Azeitão
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Notas de CV:

- O meu muito obrigado ao camarada António Dâmaso por este seu trabalho dedicado a Mansabá. Bela prenda.

(*) Vd .poste de 23 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7323: Agenda Cultural (90): Lançamento do livro A Última Missão, de José de Moura Calheiros, dia 29 de Novembro de 2010, no Aquartelamento da Academia Militar (António Dâmaso)

Vd. último poste da série de 22 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7984: Memórias de Mansabá (11): A construção da estrada Cutia-Mansabá e a defesa dos seus pontões (José Barros)

terça-feira, 22 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7984: Memórias de Mansabá (22): A construção da estrada Cutia-Mansabá e a defesa dos seus pontões (José Barros)

1. Mensagem de José Ferreira de Barros* (ex-Fur Mil At Cav, CCav 1617/BCav 1897, Mansoa, Mansabá e Olossato, 1966/68), com data de 18 de Março de 2011:

Caro camarada e amigo Carlos Vinhal:
Obrigado pela rectificação do nome da zona do pontão.

Junto uma fotografia de um dos pontões rebentado pelo IN. A esta distância já não consigo dizer se era o de Mamboncó ou algum dos anteriores.
Durante muito tempo foi o pão nosso de cada dia. Nós construíamos, eles destruíam, era o jogo do rato e do gato.

Já depois da estrada toda construída até Mansabá, o rebentamento do pontão de Mamboncó era frequente.

Ouve necessidade de ter naquela zona uma actividade operacional muito grande, sobre tudo emboscadas. Eram feitas por um Grupo de Combate que era rendido de oito em oito horas, durante muitas semanas. Foi um período muito desgastante para a nossa gente. Nesta actividade nunca tivemos feridos, mas houve muita “pólvora”.

Junto ainda duas fotografias da entrada de Mansabá que farás com elas e com a do pontão aquilo que bem entenderes.

Obrigado pela foto do memorial do meu Batalhão. Penso que foi construído na traseira do edifício do Comando.

Já agora, não te querendo maçar, gostaria de saber se a história do menino JM contada por um camarada que andou por aquelas andanças nos anos 65/67, não esteve em Mansabá com a CCav 1617 e por conseguinte com o BCav 1897.

Um grande abraço de amizade para ti e para todos os camaradas.
J.Barros


Um dos vários pontões existentes ao longo da estrada Cutia-Mansabá.

Tanto quanto me lembro, uma vez que não foi enviada legenda para esta foto, a casa que se vê à esquerda era o estabelecimento da Casa Gouveia que tinha como gerente um cabo-verdiano que nos deixava nervosos sempre apanhava boleia nas nossas colunas para se afastar de Mansabá. Dá para perceber. Lá ao fundo na confluência da estrada para Farim, ficava o abrigo do Castelo.
Fotos © José Barros (2011). Direitos reservados  de José Barros
Legendas de CV

Localização do Memorial do BCAV 1897, localizado junto ao Refeitório dos Praças que no tempo desta Unidade talvez ainda não tivesse sido construído.
Foto © César Dias (2011). Direitos reservados.
Legenda de Carlos Vinhal
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Março de 2011 > Guiné 63/74 – P7974: Blogpoesia (121): Canção ao Lavrador Desconhecido, de António Cabral (José Barros)

Vd. último poste da série de 18 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7811: Memórias de Mansabá (10): Fotos da bolanha de Mansabá, a nossa praia (Ernesto Duarte)

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7811: Memórias de Mansabá (21): Fotos da bolanha de Mansabá, a nossa praia (Ernesto Duarte)

1. Em mensagem do dia 10 de Fevereiro de 2011, o nosso camarada Ernesto Duarte (ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67), enviou-nos estas fotos para o espólio das Memórias de Mansabá.

Boa noite Carlos
Tomei a liberdade de te enviar mais umas quantas fotos, duas mostram mais ou menos bem um abrigo a construir e já feito no K3.

As outras são na bolhanha de Mansabá, eu gostava muito dos putos e de falar com as mulheres grandes é uma filosofia de vida
tão diferente.

Um abraço e muito obrigado
Ernesto Duarte


MEMÓRIAS DE MANSABÁ (21)

Fotos de Mansabá

Construção de um abrigo no K3


Ernesto Duarte num abrigo do K3






Mansabá - Lavadeiras em plena actividade na bolanha




Mansabá - Ernesto Duarte entre as lavadeiras




Mansabá - Bajuda a banhos na praia






Mansabá - Ernesto Duarte com os miúdos
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 17 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7804: Memórias de Mansabá (9): Jornal Bajudo da CCAÇ 1421 (Ernesto Duarte)

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7804: Memórias de Mansabá (20): Jornal Bajudo da CCAÇ 1421 (Ernesto Duarte)

1. Em mensagem do dia 8 de Fevereiro de 2011, o nosso camarada Ernesto Duarte (ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67), enviou-nos estas páginas referentes a um exemplar do Jornal Bajudo, publicado pela sua Companhia. 

Pelo material enviado fica-se a saber que se tratou de um períódico com grande tiragem, que abarcava vários temas de interesse para a população (militar e civil) local, oferecendo rubricas variadas, tais como: crónicas, turismo, anúncios, poesia, notícias sobre o jet set local, etc.


MEMÓRIAS DE MANSABÁ (20)


JORNAL BAJUDO, EDIÇÃO DA CCAÇ 1421


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OBS: - do editor

- Imagens editadas por Carlos Vinhal.
- O editor não é responsável pela não apresentação completa dos textos nas páginas apresentadas
- Para uma leitura mais cómoda, clicar nas imagens para as ampliar
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7800: Memórias de Mansabá (8): Operação Vaca (Ernesto Duarte)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7800: Memórias de Mansabá (19): Operação Vaca (Ernesto Duarte)

1. Continuando as suas Memórias de Mansabá, o nosso camarada Ernesto Duarte (ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67), enviou-mos mais esta mensagem com data de 8 de Fevereiro de 2011:

MEMÓRIAS DE MANSABÁ (19)

OPERAÇÃO VACA

Vieram-me à memória ainda muitas coisas e há milhentos episódios em que eu não estive presente. Falei por vezes no geral, mas eu estive lá e sempre fui observador, e é com muita admiração que eu olho para a capacidade de resistência e disciplina daquela malta. Quanto à resistência havia muito poucos que chegassem aos 70Kg quando regressaram, mas ainda me falta falar de uma operação, a última que foi ir a Mantida... assaltar o curral das vacas.

E lá fomos, por acaso já com alguma euforia, era a última noite fora, caminhos e sítios conhecidos, não chovia, passámos a bolanha, a zona de floresta, o campo de mancarra, uns pela esquerda, outros pela direita, entrada na mata voltados para Morés, e logo no principio lá estavam as vacas presas com cordas. Cada um à sua e retirar o mais rápido possível.

Nem todos tinham jeito para vaqueiros, queriam que as vacas corressem, mas... mas era preciso deixar o campo de mancarra rapidamente e entrar na floresta. Houve algum engarrafamento, até que chegaram os pastores, as vacas tiveram muito medo dos tiros, mais difícil foi segurá-las, muitos deixaram-nas fugir, calámos os pastores, conseguiu-se meia bolanha onde havia uma espécie de ilha com árvores e palmeiras, onde ficámos uns quantos e as armas pesadas. Eles vieram mais fortes, mas um homem da bazuka pôs lá uma ou duas mesmo no sitio. Foi mais um regresso em calma e ainda com muitas vacas que o nosso Capitão ofereceu em grande parte à Tabanca. Tudo que sobre um ponto de vista foi inglório, tinha que acabar também sem grande glória, ou pelo menos algo inserido em toda a ilógica. Acho que naqueles dois anos fiz muito pouco pelo meu País.

Eu sei que foi uma guerra dos soldados e seus familiares, não fomos voluntários, claro que há excepções, fomos porque fomos obedientes e cumpridores, fizemos o que a pátria mandava. Volto a dizer que sou de origem muito humilde, mas tenho o orgulho e a altivez das gentes da serra, não quis, não quero nada, o país nunca aceitou que estava em guerra, também não me parece que seja hoje, que seja amanhã, que reconheça o facto nobre que um indivudúo fez, responder presente quando a pátria o chamou. Continuo a amar a minha pátria com orgulho e lealdade, mas eu sempre a tenho visto por caminhos atribulados, ou pelo menos que eu não gostei, não gosto, não espero nada dela, só gostava que ela pelo menos me deixasse quieto no meu canto, porque cada vez gosto menos das máquinas estatais e dos homens que as conduzem.

Eu gosto da verdade pela verdade, sem peias sem obrigações, que nascem e crescem, porque têm o tal coração enorme, o tal abnegação sem limites.

Sabem bem ver o senhor Luís Graça e o senhor Carlos Vinhal, totalmente independentes terem atingido os números que atingiram.

Não me venham bater por causa do senhor, porque eu bato já em mim, mas foi uma maneira que eu arranjei para dizer um muito obrigado sincero à vossa independência.

Éramos uma companhia cultural, criámos um jornal e tudo.

Ernesto Duarte

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7798: Memórias de Mansabá (7): Recordações sobre o Fur Mil Jaime de Matos Feijão (Manuel Joaquim/Veríssimo Ferreira)

Guiné 63/74 - P7798: Memórias de Mansabá (18): Recordações sobre o Fur Mil Jaime de Matos Feijão (Manuel Joaquim/Veríssimo Ferreira)

MEMÓRIAS DE MANSABÁ (18)



1. Dois comentários colocados no poste do nosso camarada Ernesto Duarte (ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857,
Mansabá, 1965/67), da autoria do Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá
, 1965/67) e Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil da CCAÇ 1422), por motivos evidentes merecem o nosso destaque.


2. O comentário do Manuel Joaquim, publicado no dia 16 Fevereiro, pelas 04h40:

Meu caro Ernesto, um grande abraço.Estou emocionado com a tua referência à morte do Jaime de Matos Feijão. E relembro:

A bordo do Niassa, a caminho da Guiné, numa mesa do bar alguns furriéis redigiam a sua primeira correspondência para ser enviada do Funchal, aproveitando a paragem do paquete. A conversa derivou para os perigos que a guerra nos reservaria. E, blá, blá, blá, falou-se em cálculo de probabilidades e todos aceitaram a ideia de que era praticamente impossível não morrer ninguém de toda aquela gente que enchia o Niassa. Saiu-me uma frase seca: "tenho a certeza de que não regressaremos todos". O furriel Feijão, debruçado sobre uma folha de papel, e com um ar meio perdido, sai-se com uma expressão do género "não sei porquê mas sinto que não vou voltar". Como é óbvio, o tema da conversa acabou ali com gargalhadas forçadas, a minimizar em absoluto tal ideia e a tentar levantar o ânimo do Jaime Feijão, "que ideia mais estúpida, pá!"


Fiquei tão surpreendido que nunca mais me esqueci de tal momento. Eu era radicalmente antimilitarista, anti-guerra. E tinha sido o Jaime a convencer-me a tirar uma foto em farda nº1, farda que ele arranjou e me emprestou para a fotografia. Para quê a foto? Para deixar à minha mãe, mulher do campo aterrorizada com a minha ida para a guerra e sem qualquer noção sobre o "campo de batalha". Dizia o Jaime que, assim vestido, a poderia convencer de que iria chefiar, mandar os soldados fazer a guerra, ficando eu mais resguardado do perigo. A verdade é que me convenceu e fiz tudo para a minha mãe acreditar nisso. Não sei é se acreditou. Pelo desespero mostrado na gare marítima aquando do embarque, é de julgar que não.

Chegados à Guiné no início de Agosto/65, o nosso BCaç 1857 dispersou-se: a minha CCaç 1419 fica em Bissau quase três meses, a CCaç 1420 ruma a Fulacunda e a CCaç 1421, do Jaime, segue para Mansabá, via Mansoa.

Julgo que a 20 e poucos de Setembro/65 a notícia cai na 1419 e atinge-me violentamente: "O Jaime morreu! Como? Porquê?"

Fico por aqui, estou a chorar.


3. O comentário do Veríssimo Ferreira, publicado no dia 16 Fevereiro, pelas 14h00.
Caro Ernesto. Triste mas mesmo muito triste fiquei e estou ao ler este facto, pois que me atinge directamente. Eu estava lá com a minha secção. Como lá fui parar não sei mas estava em Mansabá nessa altura e fui convocado para ir aprender convosco nessa operação e em Manhau o v/comandante nomeou-me para ir à frente naquele local e o Feijão ir-me-ia dando indicações como se actua no mato, mas este (O Feijão) disse: não, este gajo é maçarico vou eu à frente e a secção dele atrás da minha. Assim foi e lá morreu ele por mim.

Algum tempo mais tarde confessei isto a um irmão que trabalhava num daqueles barcos que iam Bissau, não sei se o "Rita Maria" se o "Manuel António" e chorámos juntos. Ainda recordo também as palavras duras daquele v/comandante e dirigidas não sei se prá mata se para o céu lá mesmo em Manhau e após aquele triste desenlace. Tenho mais a dizer sobre isto e um dia espero que possamos conversar. Para já diz-me só uma coisa que me tem baralhado todos estes anos: O alferes Carvalho estava ou não a comandar Manhau, nessa altura embora nessa noite lá não estivesse?

O meu contacto é verissimoferreira@sapo.pt

Fur Mil da Ccaç 1422.

Um abraço e obrigado.


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Notas de M.R.:

Ver também sobre esta matéria o poste:

15 de Fevereiro de 2011 >
Guiné 63/74 - P7793: Memórias de Mansabá (6): Aquele Manhau (Ernesto Duarte)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7793: Memórias de Mansabá (17): Aquele Manhau (Ernesto Duarte)

1. Continuando as suas Memórias de Mansabá, o nosso camarada Ernesto Duarte (ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67), enviou-mos esta mensagem com data de 8 de Fevereiro de 2011:

MEMÓRIAS DE MANSABÁ (17)

AQUELE MANHAU

Relembrar um pouco para o outro lado, como disse a cronologia das datas foi-se, mas como é fácil de perceber a nossa área territorial era muito grande e eu tentei e vou tentando falar, por sectores.

Manhau a Canjambari com passagem por Mantida, fez-nos andar muitos e muitos quilómetros, é uma zona diferente de Morés na vegetação, e como estava ocupada na altura pelo IN, muita população, mas Casa de Mato com muita força, só Uália.

Mantida > JAN1972 > Furs Mil Carlos Vinhal e Rui Sousa da CART 2732 (segundo e quarto a partir da esquerda) com camaradas da 27.ª CComandos.

Fomos muitas vezes até Gendo Canjambari, saía-se de Manhau ainda tínhamos lá o destacamento, como sempre de noite tentando evitar as zonas habitadas passando por elas no regresso. Uma noite saímos com destino a Canjambari, era muito longe, chegámos ao amanhecer e passamos lá o dia, andando à procura... à procura, era um terreno relativamente aberto, de quando em quando uns tiritos, íamos preparados para ficar lá essa noite e ficámos. Acampámos ainda de dia em circulo, cavando-se uns pequenos abrigos, comeu-se o que havia e ficámos quietinhos à espera que anoitecesse. Assim que escureceu, rapidamente e em silencio, fomos ocupar uma zona de grande arvoredo, instalámo-nos o melhor que foi possível, passados uns minutos o lugar onde tínhamos estado foi atacado com uma violência enorme, assim que se aperceberam que não tinham resposta, calaram-se e assim nós passámos mais uma noite da Guiné. No outro dia começámos a regressar e a tentar passar pelas zonas populosas, chegámos já muito tarde a Manhau, com os milícias que andavam connosco carregados de coisas que tinham encontrado, e com alguma população civil, recuperada...

Ida a Uália, cercada por uma bolanha, a qual passamos ainda de noite, entrando por um sítio que os surpreendeu, o fogo foi muito rápido, mas aconteceu uma coisa que nunca tinha acontecido, passado pouco tempo, estavam a bater a zona com morteiros e muito bem regulados, nós fomos para o lado deles, o silêncio impôs-se, voltamos por Gussará, onde encontrámos população civil, recuperámos mais...

Passados uns tempos, uma noite de chuva e nós a caminho de Manhau, um grupo de combate e outro dividido a meio, duas grandes secções, comandadas pelo Alferes Henriques, a quem eu daqui, com todo o respeito, envio um grande abraço e peço, apareça Henriques.

No pequeno abrigo do comando de Manhau, todos molhados, o Comandante de Companhia, o Alferes Henriques, o Alferes Carvalho dos Águias Negras, a fazer de anfitrião, os outro não me lembro, talvez o Alferes Varela, a quem eu igualmente com todo o respeito mando um grande abraço, talvez ainda o Teixeira o Fur Mil Feijão, que com fervor peço que tenha no céu uma vida melhor da que teve na terra, e eu. Vimos os últimos pormenores, o Alferes Henrique não era o nosso comandante de pelotão e como nós íamos à frente, era sempre um momento tenso, disfarçado com algumas brincadeiras. Disse para o Comandante de companhia: - Eu vou à frente mais o meu cabo às ordens, nós olhamos neles (guias) nem que seja a tiro. Diz o Feijão: - Deixa-me ir eu porque eu nunca fui, e estás a querer armar-te em comandante. Era uma companhia disciplinada, Saímos, os soldados colaram-se a nós até porque o escuro com a chuva ainda era maior e era preciso mais cuidados, os primeiros começaram a andar e lá foi o Feijão à frente. Tínhamos andado muito pouco, continuava a chover e dentro das palmeiras ainda era mais escuro se isso fosse possível, passaram para trás porque havia uma palmeira caída ao longo do trilho. Ao passarmos por trás, oiço um grito: - Arame!!! Voei e gritei para se atirarem para o chão. Deu-se uma explosão enorme, muitos gritos, gritos do fundo da alma, levantei-me, orientei-me e comecei a chamar por eles, muitos responderam:  - Estou ferido.

O Feijão gritava: - Quero um médico. - Pus a espingarda a tiracolo, peguei-lhe ao colo e comecei a andar para o lado de Manhau , deixou de gritar e senti o corpo a apagar-se. Passei-o já cadáver a outros e fui à procura de mais, havia muitos feridos e muita gente desorientada devido ao estrondo da explosão, ao escuro e à chuva que continuava. A escuridão era praticamente total. Já dentro do destacamento de Manhau o Capitão estava mais louco do que todos, queria ir só com voluntários, eram todos, Bissau não deixou, voltamos para Mansabá a pé, sempre chovendo. No outro dia veio a ordem para tirar Uália do mapa com a Artilharia.

Hoje consigo dizer que foi uma noite louca, passada muito próximo do Inferno.

Para o lado do Ussado e Cubane fizemos menos operações, mas mesmo assim fizeram-se umas quatro ou cinco, uma delas a nível de Batalhão com muita gente metida, e por uma semana bem contada, com bombardeamentos constantes pela artilharia pesada de Cutia. É impressionante o efeito que causa na floresta o rebentamento daquelas granadas, o que causaram num grupo de palhotas e nos embondeiros em que acertaram.

Resultados, penso que muito poucos, saímos de lá à noite, uma coluna maior do que o normal, porque se levava muitos carregadores, havia prisioneiros e os guias que raramente sabiam alguma coisa. Vinham atrás da minha secção, que já não era uma secção normal, porque a companhia tinha criado o grupo de comandos Os Caveiras, ficando algumas secções muito maiores. Apercebem-se que se passa algo atrás, vão para lá uns quantos, mas aquilo eram todos pesos leves, não estavam a controlar, eu como peso pesado, e com a capacidade de reagir que tinha, parti a coronha da G3, mas pus ordem na situação num instante. A uns fiz o que tinha que fazer e bem, para mim nunca lá devia ter ido, os efeitos da minha intervenção contribuíram para que fosse muito violento no IN, ou pretenso IN.

Encerro mais uma página, não tem termo de encerramento, mas tem muita dor para mim.
Ernesto Duarte
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7785: Memórias de Mansabá (5): Vamos todos cá ver / O quanto custa aqui viver / Nesta terra que é Mansabá... (Rogério Cardoso

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7785: Memórias de Mansabá (16): Vamos todos cá ver / O quanto custa aqui viver / Nesta terra que é Mansabá... (Rogério Cardoso)

MEMÓRIAS DE MANSABÁ (16)

CANCIONEIRO

1. Comentário de Rogério Cardoso  (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66, foto à direita), inserido no poste P7767 (*)

Caro amigo Ernesto [Duarte]:

O que contas fez-me voltar atrás no tempo, 1964/65. Eu pertencia aos ÁGUIAS NEGRAS, estacionados em Mansabá,  CArt 642 e 644, Bissorã,  CArt 643. Conheci bem todos esses locais, inclusive o célebre Morés, essas locais foram calcorreados pela nossa malta.

Eu também senti a chamada sorte ou talvez um pouco mais, fui atingido por uma granada Pancerovka de 120 m/m, que bateu na minha perna e não rebentou.

A respeito de Mansabá, um camarada nosso adaptou um poema à musica La Mamma, cantada na altura por Charles Aznavour. É que a sede do Batalhão [, BART  645,]  estava em Mansoa e quando porventura por lá "poisávamos", a malta era sempre tramada.

Vista aérea de Mansabá

VENHAM TODOS VENHAM CÁ VER
O QUANTO CUSTA AQUI VIVER
NESTA TERRA QUE É MANSABÁ.


UMA VIDA DE COMOÇÕES,
CONSTANTEMENTE EM OPERAÇOES,
SEM TERMOS ACOMODAÇÕES,
COMO TE ADORO, Ó MANSABÁ!


SÓS NA CASERNA SEM NINGUÉM,
COM UM CINEMA DE ANO A ANO,
CHEIOS DE SAUDADE DE ALGUÉM,
Ó MANSABÁ DA MINHA ALMA!


QUANDO QUEREMOS O CORREIO,
NUNCA APARECE UM AVIÃO,
MAS SURGEM LOGO TRÊS OU QUATRO
PARA FAZER UMA OPERAÇÃO.


E QUANDO ALGUÉM,  PARA DESCANSAR,
VAI A MANSOA, SÓ POR ISSO
DIZEM-LHE LOGO, AO CHEGAR,
QUE AMANHÃ ENTRAS DE SERVIÇO.


Ó MANSABÁ E BISSORÃ!,
O TEU DESCANSO NÃO TEM IGUAL,
FAZ REVIVER OS CORAÇÕES,


E PARA PREOCUPAÇÕES,
PREFERIMOS AS OPERAÇÕES,
MAS JAMAIS, JAMAIS, JAMAIS,
SEDE DE BATALHÕES!!!!

Um abraço
Rogerio Cardoso
CART 643 "Águias Negras"

____________

Nota de LG:

13 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7773: Memórias de Mansabá (4): A construção dos destacamentos de Banjara e K3 (Ernesto Duarte)

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7773: Memórias de Mansabá (15): A construção dos destacamentos de Banjara e K3 (Ernesto Duarte)

1. Para as suas Memórias de Mansabá, o nosso camarada Ernesto Duarte (ex-Fur Mil da CCAÇ 1421/BCAÇ 1857, Mansabá, 1965/67), em mensagem de 8 de Fevereiro de 2011, manda-nos mais este relato.

MEMÓRIAS DE MANSABÁ (15)

DESTACAMENTOS DE BANJARA E K3

Nós tivemos uma vida muito ocupada, a zona era muito grande, íamos muitas vezes ao comando, e aqueles homens maravilhosos, vinham ter connosco, juntávamo-nos em grupinho, falávamos baixo, e depois só se falava na saída.

Um dia lá recebemos ordem para nos prepararmos, para irmos limpar a estrada Mantida / Banjara. Lá fomos e tirámos não sei quantas árvores, normalmente com os guinchos das viaturas até que chegamos a Banjara*. Dá-se o encontro com tropas de Bafatá, muitos apertos de mão, muitas fotos tiradas pelo serviços do Exército, um içar de bandeira, com tropas nossas e de Bafatá, e lá ficámos não sei se três se quatro dias, mais não deve de ter sido. Fizeram-se umas emboscadas, apanharam-se muitos civis, a quem deram conservas e disseram que a partir daquela altura tinham ali a tropa para defendê-los e auxiliá-los, para irem dizer aos outros e que viessem para junto da tropa. Penso que não veio nenhum.


Foto: © Alfredo Reis (2009). Direitos reservados.

Entretanto começa a funcionar uma lógica, Farim devia de estar para próximo, falava-se disso inconscientemente com uma certa naturalidade.

Um dia fomos todos chamados, muito às claras, em pleno dia e partimos de imediato, tendo-nos sido dito que iríamos para Banjara. Íamos lá para tomar consciência das condições que iríamos encontrar e o que teríamos que fazer para melhorar o espaço. Mais parecia um passeio, mas teve os efeitos desejados, quase desejados, os mais distraídos deixaram de falar de Farim e começaram a falar de Banjara, porém os mais conscientes perceberam que Farim era uma questão de dias.

Aquartelamento do K3
Foto: © Carlos Silva (2008). Direitos reservados.

E um dia, não sei quando, ordem levar os sacos com os camuflados, tudo o que era ferramentas, correntes, guinchos, muitas munições, muitas granadas de bazuka e morteiro 60 e 82. O grupo que foi fazer o golpe de mão saiu pela estrada de Manhau, a coluna e todo o material saiu alta noite já pela porta certa, foi longa a viagem mas calma, o golpe de mão tinha corrido bem e foi chegar e começar a cavar, a cavar o K3 (Saliquinhedim)**.

Eu não tenho poder nenhum, apenas sou um indivíduo que nunca foi sócio de nada, que também nunca se comprometeu com a religião e muito menos com partidos políticos, mas um fulano que além de nunca dizer nada para fazer jeito, tenta ser delicado. Tem outro grande defeito, que é gostar muito e muito da sua terra. Não tive problemas na tropa, não tive problemas na vida civil, dei sempre a cara e é nessa qualidade de cidadão pleno, que relembro aquele Pelotão de Sapadores que cavou connosco que teve tanta importância no abrir daqueles buracos, no cortar daquelas palmeiras, no colocar aquele arame farpado. A minha Companhia foi grande, enorme, nos ataques violentos que sofreu, no fazer os abrigos, cavar, cavar, mas teria sido muito mais difícil sem a colaboração daquele grupo de Sapadores.

Os ataques foram dois ao anoitecer, dois três dias depois de começarmos a nos instalar e dois, três dias depois, portanto tudo numa semana.

Foi impressionante a violência dos ataques, impressionante o barulho de tiros e granadas, das chamas das armas vistas de frente, do clarão do rebentamento das granadas, com outro ruído ensurdecedor, dos disparos das LDM, como disparo e o barulho na floresta; depois silêncio, silêncio, cavar, cavar, cortar mais e mais palmeiras e ir passear à cidade de Farim.

Se as granadas que caíram dentro do perímetro do aquartelamento têm rebentado todas, o número de baixas seria elevado, mas por mau estado, com cavilhas, sem espoletas e mal lançadas, ficaram muitas e muitas por rebentar.

Foi criado como um contributo para estabelecer a paz na zona. Deve de ter sido amaldiçoado, tinha um cemitério lá dentro, tendo o grupo Os Caveiras da minha Companhia caveiras verdadeiras às entradas dos abrigos, tendo causado grande zanga na dona Supico Pinto, presidente do MNF que nos visitou lá no K3.


Ernesto Duarte
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Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

31 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4115: Os Bu...rakos em que vivemos (1): Banjara, CART 1690 (Parte I) (António Moreira/Alfredo Reis/A. Marques Lopes)

19 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4211: Os Bu...rakos em que vivemos (6): Banjara, CART 1690 (Parte II): Lugar de morte (A. Marques Lopes / Alfredo Reis)
e
23 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4995: Estórias do Fernando Chapouto (Fernando Silvério Chapouto) (5): As minhas memórias da Guiné 1965/67 – O meu Bura… ko em Banjara!

(*) Vd. poste de 9 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7747: Tabanca Grande (266): Nuno Dempster, autor do poema K3, agora publicado em livro, ex-Fur Mil SAM, CCAÇ 1792 (Saliquinhedim/K3, Mampatá, Colibuía e Aldeia Formosa, 1967/69)

Vd. último poste da série de 11 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7767: Memórias de Mansabá (3): Uma ida ao Morés (Ernesto Duarte)