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sexta-feira, 8 de dezembro de 2006

Guiné 63/74 - P1352: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (7): Perigos vários, a divisa dos Baixinhos de Dulombi





Guiné > Zona Leste > Sector L5 > Galomaro > Dulombi > CCAÇ 2405 (1968/70) > Embora pertencente ao BCAÇ 2852 - cujo comando e CCS estavam sedeados em Bambadinca -, a CCAÇ 2405 não teve grandes contactos com o pessoal da CCAÇ 12.
Daí que só no no 1º encontro da nossa tertúlia, na Herdade da Ameira, Ameira.Montemor-o-Novo, realizado em Outubro passado, é que eu tive o prazer de conhecer pessoalmente o Rui Felício, a par de outro baixinho de Dulombi, o Paulo Raposo.

Foto: © Victor David (2006). Direitos reservados.
Vários perigos, perigos vários (1)
por Rui Felício


É sabido que os emblemas das unidades militares normalmente são compostos por símbolos e frases que apelam a supremos valores, à audácia, à heroicidade, à destreza, ao caracter, honestidade e grandeza dos ideiais dos membros que compõem as respectivas unidades.

E os desenhos escolhidos não se afastam normalmente de símbolos guerreiros, como sabres ou armas de fogo enquadrados por espirais de flora rebuscada, ou animais selvagens subjugados pela força dos corajosos militares.

As cores usadas são normalmente berrantes e carregadas, procurando traduzir a esperança e o sangue derramado em defesa da Pátria.

Toda a amálgama kish que resulta da vontade de tentar transmitir em pequeno espaço uma míriade de ideais, é na maior parte dos casos encimada por umslogan que em poucas palavras demonstre aquilo que a confusão dos símbolos e as cores podem não conseguir espelhar de forma clara.

Por Deus e Pela Grei, Venceremos onde Outros Pereceram, Indómitos e Audazes, Desbravando o Mato e Civilizando as Gentes, são algumas das milhares de divisas que identificavam as unidades militares na Guiné.

Todos os que serviram nas Forças Armadas, sabem que é assim…Torna-se inútil multiplicar os exemplos.

O perfil a enquadrar a divisa e os símbolos, também ele, recorria a formas geométricas rebuscadas, arredondadas, simétricas, floreadas…

No terço final da comissão, com a Companhia finalmente concentrada no Dulombi, pensou-se em encontrar um emblema e uma divisa para a nossa Unidade.

Não deveriamos deixar acabar a comissão sem legar aos vindouros um símbolo que nos identificasse, tal como a maioria das outras unidades já o tinham feito.

Acolhida a ideia, estabeleceu-se um período de tempo para que fossem apresentados projectos para futura escolha daquele que merecesse o consenso geral. E assim surgiram meia dúzia de ideias para a o emblema da Companhia.

Lembro-me que, à excepção daquele que mais tarde viria a ser o escolhido, todos os outros obedeciam às caracteristicas usuais que acima procurei recordar e referir. Tratava-se de um símbolo que fugia a todos os critérios tradicionalmente considerados para a representação emblemática de uma Companhia. Não continha armas, não continha animais ferozes, não caracterizava de forma explicita os seus militares como heróicos, nem audazes, nem indomáveis...

Só continha uma cor o que o tornava de uma simplicidade contraditória com a amálgama de cores típicas dos demais emblemas, que nos feriam o olhar e nos despoletavam os mais bravos sentimentos guerreiros…

E a divisa não apelava aos nossos sentidos nem à nossa bravura... nada!… Nem impunha qualquer afirmação que levasse, quem a lia, a pensar em nós como uma espécie de super-homens, de carácter impoluto, guardiães dos sagrados valores pátrios...

Era uma singela constatação: VÁRIOS PERIGOS.

E o símbolo que o enquadrava em nada alterava o conhecido sinal de trânsito que quer dizer nem mais nem menos que a divisa escolhida. Ou seja, o símbolo gráfico era inteligível para qualquer pessoa, e traduzia fielmente a divisa.

Não foram precisos arabescos nem frases grandiloquentes para dizer a todo o mundo que os Baixinhos do Dulombi eram gente preparada e habituada a vários perigos.

E, ao contrário de tantos outros emblemas, traduzia a realidade e ao fazê-lo atribuia mérito aos militares da Companhia sem necessidade de falsamente e de forma rebuscada os transformar em heróis que não eram, em impolutos que não eram, em audazes que não eram...

Sim, porque os Baixinhos do Dulombi eram pessoas normais, com os medos próprios do Homem, mas o carácter próprio de gente cumpridora dos seus deveres... Deveres que os levaram a correr os tais Vários Perigos…

A originalidade, a simplicidade e a profundidade da mensagem do nosso emblema, escolhido entre vários outros projectos candidatos, são a razão do meu voto e do alargado consenso que reuniu a larga distância dos concorrentes.

Ao Vitor David, autor do símbolo da CCAÇ 2405, os parabéns pela excelente ideia, talvez única nos anais militares

Rui Felício
Ex-Alf Mil Inf
CCAÇ 2405

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Nota de L.G.:

(1) Vd. último post > 27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1217: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (6): Sinchã Lomá, o Spínola e o alferes que não era parvo de todo

domingo, 19 de novembro de 2006

Guiné 63/74 - P1296: O cruzeiro das nossas vidas (2): A Bem da História: a partida do Uíge (Paulo Raposo / Rui Felício, CCAÇ 2405)

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Lisboa > Cais da Rocha Conde de Óbidos > Uíge > Julho de 1968 > Oficiais milicianos dos BCAÇ 2851 e 2852 na hora da despedida...


Foto alojada no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.

Segundo post da série O Cruzeiro das Nossas Vidas (1).
1. Texto e foto do Paulo Raposo, enviados em 7 de Novembro de 2006:

Olá, pessoal.

Lindos rapazes a dizer adeus às miúdas no Cais da Rocha Conde de Óbidos, já a bordo do Uíge em Julho de 1968.

Quem são os malandros ? David, Rijo, Hernâni, Pimentel, Raposo (2).

O Felício estava a mandar uma mensagem do telemóvel, coisa muito em voga naquela altura.

O meu cripto quando vê esta foto, muito se ri.

Um quebra costelas

Paulo Raposo
2. Resposta do Rui Felício, de 9 de Novembro de 2006:
Meus Caros Amigos:

Embora muito me custe contrariar o Paulo Raposo, não ficaria de bem com a minha consciência se não rectificasse a observação que ele faz a meu respeito. A História não se compadece com imprecisões! Há que relatar os factos tal como eles se passaram efectivamente, sob pena de os vindouros tirarem conclusões erradas.
E a rectificação é a seguinte: Eu não estava a mandar nenhuma mensagem de telemóvel, pela simples razão de que os radares do Uíge interferiam com a captação de rede do meu aparelho. Estava naquele preciso momento, no camarote onde íamos viajar, a perfurar um telex, outro aparelho muito em voga também naquela época.
Fica reposta a verdade! A Bem da História!!!!

Um abraço

Rui Felício
________

Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 12 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1271: O cruzeiro das nossas vidas (1): O meu Natal de 1971 a bordo do Niassa (Joaquim Mexia Alves)

(2) O Victor David, o Jorge Rijo, o Rui Felício e o Paulo Raposo - os quatro baixinhos de Dulombi - pertenciam à CCAÇ 2405, do BCAÇ 2852 (1968/78) . O Ernâni e o Pimentel pertenciam à CCS do BCAÇ 2851: estes últimos também eram alferes milicianos e estiveram no encontro da nossa tertúlia, na Ameira, em 14 de Outubro de 2006 (3).



A bordo do navio Uíge > Final de Julho de 1968 > A caminho de Bissau > O grupo dos futuros baixinhos de Dulombi... "A alegria do regresso quase que compensa a tristeza da partida", escreveu o Paulo Raposo no seu testemunho. O Paulo Raposo é o segundo a contra da esquerda. Vd. post de 19 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXV: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (3): De Santa Margarida ao Uíge

Fonte: © Paulo Raposo (2006), Direitos reservados.

(...) "No final de Julho de 1968, no Cais de Conde de Óbidos, lá embarcámos no Uíge. Seguiram os BCAÇ 2851 e 2852.
"A largada foi terrível. O barco a afastar-se do cais é muito doloroso para nós, com as carpideiras que para lá eram enviadas, para nos desmoralizarem ainda mais.
"Depois do navio largar e passar S. Julião da Barra, fomos para o bar à espera que nos chamassem para o almoço. O Major Branco, que comandava interinamente o nosso Batalhão, uma vez que o nosso Comandante, Ten Cor Pimentel Bastos já tinha seguido de avião, perguntou ao nosso Capitão:- Embarcaram todos os rapazes?O Capitão respondeu de imediato:- Sim, sim, meu Comandante. Ele sabia lá!
"Em conversa, o Cap Medina, que comandava uma companhia do outro batalhão [, o BCAÇ 2851,] que seguia connosco e estava a partir para a sua segunda comissão, disse algo de que nunca me esqueci:- A alegria do regresso quase que compensa a tristeza da partida. Na realidade foi bem assim.
"Durante os cinco dias que se seguiram, o ambiente a bordo não podia ser o melhor. Conversávmos muito uns com os outros enquanto passeávamos ao longo do tombadilho.O nosso espírito era unânime.
"De política, nada sabíamos. Sabíamos apenas que aquela ida para África era o preço que tínhamos de pagar para ter um lugar na sociedade. E se na na vida tínhamos de passar sacrifícios, então iríamos passá-los de uma assentada para o resto da vida. A defesa do Ultramar para nós, naquela altura, era uma coisa que não nos dizia directamente respeito, nem nos apercebíamos que África era fonte de abastecimento das nossas matérias primas. O que é que íamos defender na Guiné, território que estava rodeado de países francófonos ? A população estava dividida por várias etnias, a função pública era ocupada por caboverdianos, os comerciantes eram senegaleses e a religão dominante a muçulmana. Portugueses europeus não os havia por lá" (...).

(3) Vd. post de 15 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1177: Encontro da Ameira: foi bonita a festa, pá... A próxima será no Pombal (Luís Graça)



O Hernâni Figueiredo (Ovar) e o António Pimenta (Porto) eram alferes milicianos da CCS do BCAÇ 2851 (Região do Oio, 1968/70). Viajaram no Uíge, juntamente com o pessoal do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), em Julho de 1968. São muito amigos dos baixinhos de Dulombi. O nosso camarada Raul Albino, ex-Alf Mil da CCAÇ 2402, também pertencia a este batalhão.

Fotos: © Luís Graça (2006) . Direitos reservados.

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Guiné 63/74 - P1257: Fotos falantes (Torcato Mendonça, CART 2339) (6): Julho de 1969, já velhinho, destacado em Galomaro

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Guiné > Zona Leste > Sector L5 > Galomaro > Julho de 1969 > O pelotão do Alf Mil Torcato Mendonça (na foto, à esquerda), pertencente à CART 2339 (Mansambo, 1968/69), esteve aqui em reforço da CCAÇ 2405 (Galomaro e Dulombi, 1968/70).

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Guiné > Zona Leste > Sector L5 > Galomaro > CART 2339 (Mansambo, 1968/69) > O Alf Mil Torcato Mendonça , de eperfil, em segundo plano, à conversa com os Alf Mil Rui Felício, à esquerda, e Jorge Rijo, à direita, de cigarro na mão. Estes dois úlimos oficiais pertenciam à CCAÇ 2405.

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Guiné > Zona Leste > Sector L5 > Galomaro > CART 2339 (Mansambo, 1968/69) > O Alf Mil Torcato Mendonça e os homens do seu pelotão, todos já velhinhos, a pensar no regresso a casa.. (Em Outubro deixariam Mansambo)... Nesta última foto, à esquerda, reconhece-se o Alf Mil Rui Felício, de bigode, que pertencia à CCAÇ 2405.

Fotos: © Torcato Mendonça (2006) . Direitos reservados. Fotos alojadas no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.

6. Galomaro > Julho de 1969

Continuação da publicação do álbum de fotografias do Torcato Mendonça, que ele teve a gentileza de me fazer chegar, pelo correio, através de um CD-ROM. Chamou-lhe fotos falantes: vd último post, de 28 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1219: Fotos falantes (Torcato Mendonça, CART 2339) (5): Um médico e um amigo, o Dr. David Payne Pereira.

O Torcato foi Alf Mil da CART 2339, Mansambo, 1968/69.

Legenda do T. M.:


Talvez em Julho ou Agosto de 1969. O meu Grupo de Combate esteve lá em reforço à CCAÇ 2405. Era a Companhia do Cap Mil Jerónimo [e dos alferes Rui Felício, Victor David e Paulo Raposo, membros da nossa tertúlia]. Estivemos em Galomaro e Cansamba. Os Paras estavam em Bafatá [vd. carta geral da província e depois a carta de Bafatá] e faziam-se operações na zona – COP7.

Creio que nessa altura escoltei (para trazer as viaturas de volta) a CCAÇ 12 para Madina Xaquili [, a nordeste de Duas Fontes, vd. carta de Cansissé]. Aqui na foto só reconheço a minha malta. Talvez os da CAÇ 2405 se lembrem do meu grupo.

O Capitão Jerónimo foi buscar-me a Cansamba. Estava com o meu 5º ou 6º ataque de paludismo. Em Galomaro estava um médico (do COP 7?) e estive dois ou três dias num barracão, sempre com um africano - de dois que vieram comigo... São outras vidas...

Comentário do Paulo Raposo (depois de ver as fotos):

Nas tuas 3 fotos estão os Alferes Felício e Rijo e os Furriéis Esteves e Fereira, da minha CCAÇ 2405.
O Cmdt do Cop 7 era o Major Parquedista Pardal, que mora em Cascais. O nosso médico de Galomaro era o Carlos Pereira Alves, hoje cirurgião famoso e Director do Hospital dos Capuchos. São ambos da corda, são grande e bons amigos nossos (da família da CCAÇ 2405). O Jerónimo Cap 1000 - Miguel Novais Jerónimo -, mora em Lisboa, em Benfica, na Rua Cláudio Nunes. Está velhote. Foi operado à vista nos Capuchos, com a protecção do Carlos.

Comentário de L.G.:

Torcato, foi em Julho de 1969. Confirmei na história do BCAÇ 2852 (1968/70), Cap. II, pag. 90, bem como na História da Minha Unidade, a CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71).

As coisas andavam bravas lá para aqueles lados (vd. carta de Duas Fontes ou Bangácia, nome do sede do posto administrativo que, com a guerra, terá perdido importância, em detrimento de Galomaro): Na madrugada de 30 de Julho de 1969, eu estava em Candamã, ainda as armas dos defensores da tabanca fumegavam ... Eis o filme desse mês (só registo a actividade da guerrilha que, haveríamos de saber mais tarde, era comandada pelo Mamadu Indjai, na zona de acção da tua CART 2339, Mansambo):

(i) No dia 1 de Julho, às 20h00, um Grupo IN , estimado em 30 elementos, flagelou à distância o destacamento de Dulombi [, a sudeste de Galomaro / Duas Fontes]... durante duas horas (!). Os  "camaradas" do PAIGC utilizaram Mort 60, LGFog , Metralhadoras Ligeiras e armas automáticas. Causaram 1 morto e 7 feridos, todos civis. Retiraram na direcção Norte...

(2) Em 10, um outro grupo IN (não se sabe quantos) emboscaram um grupo de 4 civis de Dulombi, a partir de uma árvore, em Paiai Numba [, a sul de Padada, vd. carta da Padada]. Só dois dos civis consequiram regressar a Dulombi, para contar o sucedido...

(3) Quatro dias depois, a 14, por volta das 16h05, um bigrupo (cerca de 60 elementos) - que presumivelmente se dirigia a Dulombi - reagiu a uma emboscada nossa em (PADADA 2E4), com Mort 60, LGFog e armas automáticas durante cerca de 35 minutos... Antes de retirar para Sudoeste, o IN causa às NT 1 morto, 2 feridos graves (1 civil), 3 feridos ligeiros, além de danos materiais num rádio CHP (de mal o menos)...

(4) No dia seguinte, às 20h00, um grupo IN (estimado em cerca de 40 elementos) atacou as tabancas de Cansamba e Madina Alage, durante 60 minutos, com Mort 60, LFog e armas automáticas mas, desta vez, felizmente, sem consequências... O IN retirou na direcção da tabanca de Samba Arabe, levando consigo um elemento da população...

(5) A 20, pelas 20h00, tocou de novo a vez a Cansamba, flagelada por um grupo de 30 guerrilheiros, durante 20 minutos, sem consequências... Retirou na mesma direcção (Samba Arabe)...

(6)A 24, às 00h45, é atacado o destacamento de Dulombi, da direcção SSW. O IN, estimado, em 60 elementos, utiliza LGFog e armas automáticas.

(7) Nesse mesmo dia, às 17h20, o aquartelamento de Mansambo é flagelado, a grande distância, com Mort 82, a partir da direcção sudoeste. Sem consequências. Na outra ponta do Sector L1, o Xime é flagelado, às 19h45 por canhão s/r.

(8) Meia hora depois, a sul de Madina Xaquili, a cerca de 1 Km, um grupo IN não estimado reagiu a forças da madeirense CCAÇ 2446 , causando 6 feridos ligeiros, entre os quais 2 milícias. Simultaneamente, este destacamento é flagelado à distância, com Mort 60 e LGFog. Há apenas danos numa viatura GMC. O IN retira na direcção de Padada. Três Grupos de Combate da CCAÇ 12 (na altura, ainda CCAÇ 2590) tiveram aqui, nesse dia, o seu baptismo de fogo... em farda nº 3 (!) (*)

(9) No dia seguinte, à 1h20, é atacado o destacamento de Quirafo, durante 3 horas (!), por um grupo estimado em mais de 100 elementos, que utilizam 3 Canhões s/r, 3 Mort 82, vários Mort 60, RPG 2 e 7, Metr Lig e outras armas automáticas... Felizmente, há apenas 1 ferido, mas as instalações do destacamento ficam praticamente destruídas, bem como os rádios DHS e AN/RC-9 e quatro G-3... O arame farpado fora cortado em vários pontos...

(10) A 26, há uma nova flagelação do Xime, às 17h45, da direcção Sul, com Canhão s/r e Mort 82. Durante 10 minutos. No Xime está a CART 2520, com menos dois pelotões (um destacado em Galomaro e outro - duas secçõas - na Ponte do Rio Udunduma).

(11) No dia seguinte, 27, às 16h50, Mansambo volta a ser flagelado, à distância, durante 10 minutos, com Mort 82. Sem consequências.

(12) Em 28, por volta das 22h30, o dcstacamento de Madina Xaquili vai conhecer o inferno: durante 1 hora e meia, é atacado de todas as direcções, por um grupo de cerca de 60 elementos, com Mort 82, Mort 60, LGFog e armas automáticas. Há dois feridos. (**)

(13) A 29, às 10 da manhã, um grupo IN reagiu, durante 10 minutos, a um patrulha nossa, a 200 metros a SW de Dulombi, que acabava de sair na sequência do rebentamento de uma mina A/C. O IN, que utilizou Mort 60, LGFog e armas automáticas, causou 2 feridos civis.

(14) A 30, às 18h00, Mansambo sofre nova flagelação à distância, da direcção SW. Durante 20 minutos, com Canhão s/r e Mort 82. Sem consequências.

(15) A fechar o mês (quente) de Setembro, é a vez da tabanca em audodefesa de Candamã [, já no limite leste da ZA da unidade de quadrícula de Mansambo, ] conhecer o inferno: a 30, às 3h40, um numeroso grupo IN (80 a 100 elementos) ataca a tabanca, até de madrugada, durante 2 horas e 20 minutos, utilizando 2 Canhões s/r, Mort 82, 3 Mort 60, LGFog, Metralhadora Pesada, Pistolas-Metralhadoras e Granadas de Mão Defensivas, causando um 1 ferido grave e 4 feridos feridos às NT e 2 mortos, 3 feridos graves e vários ligeiros à população civil... Valeu o comportamento heróico dos homens - menos de um pelotão - de Mansambo! (****).

___________

Notas de L. G.:

(*) Vd. post de 29 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXXVIII: O baptismo de fogo da CCAÇ 12, em farda nº 3, em Madina Xaquili (Julho de 1969) (Luís Graça)

(...) "Ainda não haviam sido distribuídos os camuflados às praças africanas quando a CCAÇ 12 fez a sua primeira saída para o mato. A 21, três Gr Comb (2º, 3º e 4º) seguiam em farda nº 3 para Madina Xaquili a fim de reforçar temporariamente o sub- sector de Galomaro,[a sul de Bafatá].

(...) "Seria, aliás, em Madina Xaquili que a CCAÇ 12 teria o seu baptismo de fogo. Os três Gr Comb haviam regressado, em 24, à tarde, dum patrulhamento ofensivo na região de Padada, tendo ficado dois dias emboscados no mato (Op Elmo Torneado), quando Madina Xaquili foi atacada ao anoitecer por um grupo IN que muito provavelmente veio no seu encalce.

"0 ataque deu-se no momento em que dois Gr Comb da CCAÇ 2446 que vinha render a CCAÇ 12, saíram da tabanca a fim de se emboscarem. [Esta companhia madeirense teve dois mortos e vários feridos].

"0 IN utilizou mort 60, lança-rockets e armas ligeiras, tendo danificado uma viatura e causado vári¬os feridos às NT. O primeiro ferido da CCAÇ 12 foi o soldado Sori Jau, do 3º GR Comb, evacuado no dia seguinte para o HM [Hospital Militar] 241 [Bissau](...)".

(**) Vd. post de 29 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXXVIII: O baptismo de fogo da CCAÇ 12, em farda nº 3, em Madina Xaquili (Julho de 1969) (Luís Graça)

(...) "Novo ataque, de 1 hora, a (e abandono de) Madina Xaquili

"Por outro lado, o 1º e o 2a Gr Comb seguiam para o sub-sector de Galomaro a fim de reforçar temporariamente Dulombi e Madina Xaquili.

"A 28, por volta das 22.30h , Madina Xaquili sofria um ataque de 1 hora por parte dum grupo IN estimado em 60 elementos, tendo sido gravemente atingidos por estilhaços de mort 82 os soldados do 2º Gr Comb Braima Bá (hoje inoperacional) e Udi Baldé (que foi evacuado para o HMP/Lisboa, passando posteriormente à disponibilidade com 35% de incapacidade física).

"Na reacção ao ataque, o apontador de mort 60 Mamadu Úri ficou com as mãos queimadas devido ao intenso ritmo de fogo que executou.

"A partir de Agosto, Madina Xaquili passaria à responsabilidade do COP 7 [Bafatá] e, em Outubro, seria retirada pelas NT depois de totalmente abandonada pela população" (...)

(***) Vd. post de 29 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXXVIII: O baptismo de fogo da CCAÇ 12, em farda nº 3, em Madina Xaquili (Julho de 1969) (Luís Graça)


(...) "Ataque de duas horas a Candamã

"E finalmente a 30, o 3º e 4º Gr Comb seguiram para Candamã a fim de levar a efeito um patrulhamento ofensivo na região de Camará, juntamente com forças da CART 2339 [Mansambo](Op Guita).

"Ao chegar-se a Afiá, pelas 7.30, soube-se que Candamã tinha sido atacada durante mais de duas horas até ao amanhecer.

"Em Candamã, os dois Gr Comb da CCAÇ 12 procederam imediatamente ao reconhecimento das posições de fogo do IN, tendo estimado os seus efectivos em 60/100 elementos [1 bigrupo reforçado], armado de canhão s/r, mort 82, LGFog, metralhadora pesada 12.7, armas ligeiras automáticas.

"Havia abrigos individuais junto ao arame farpado que fora cortado em vários pontos, tendo o grupo de assalto utilizado granadas de mão.

"Em consequência da reacção das NT e da população organizada em autodefesa, o IN sofrera várias baixas, a avaliar por duas poças de sangue e sinais de arrastamento de dois corpos, além de dólmen ensanguentado que foi encontrado já num dos trilhos de retirada. Foram recolhidas várias granadas de canhão s/r e RPG-2.

"Do lado das NT houve 5 feridos (1 dos quais grave) e da população dois mortos e vários feridos graves, além de danos materiais (moranças destruídas, etc.].

"O facto do IN ter retirado ao amanhecer indicava que deveria ter um ou mais acampamentos a escassas horas de Candamã. A corroborar esta hipótese, o aquartelamento de Mansambo seria flagelado na tarde desse mesmo dia.

"A Op Guita não forneceu, porém, qualquer pista que levasse a detecção do IN na região de Camará" (...).

(****) Vd. post de 11 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1167: Fotos falantes (Torcato Mendonça, CART 2339) (4): Candamã, uma tabanca em autodefesa

sexta-feira, 27 de outubro de 2006

Guiné 63/74 - P1217: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (6): Sinchã Lomá, o Spínola e o alferes que não era parvo de todo

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Guiné > Zona Leste > Sector L5 > Galomaro > Dulombi > CCAÇ 2405 (1968/70) > Embora pertencente ao BCAÇ 2852 - cujo comando e CCS estavam sedeados em Bambadinca -, a CCAÇ 2405 não teve grandes contactos com o pessoal da CCAÇ 12. Daí que só agora, no encontro da Ameira, é que eu tive o prazer de conhecer pessoalmente o Rui Felício, a par de outro baixinho de Dulombi, o Paulo Raposo. Esta foto do Rui, sentado num abrigo - em princípio, de uma das tabancas de autodefesa abaixo referidas, em 1969 - , foi-nos enviada pelo Victor David, seu camarada, outro alferes da companhia e nosso tertuliano, que também terá servido de fotógrafo de ocasião, segundo presumo. Não tenho informações exactas sobre a data nem o local. (LG)

Foto: © Victor David (2006). Direitos reservados. Foto alojada no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.


1. Mensagem do Rui Felício, acompanhada de mais duas das suas estórias deliciosas (1), das quais publicamos hoje a primeira. Obrigado ao Rui pelo seu generoso contributo com vista a manter a chama viva na nossa caserna virtual... (LG)

Meu Caro Luis Graça:

Sem nenhuma razão especial, lembrei-me de te escrever de novo. Apenas porque cada dia que passa me sinto mais ligado ao blogue. Cada vez mais admiro o teu trabalho. Especialmente depois do encontro da Ameira que possibilitou que ao virtual se sobrepusesse o real. E, por isso, sinto necessidade de manter a chama viva, de te dizer e a todos os que regularmente aqui escrevem, que a chama deve sempre manter-se acesa... Não precisa de ser muito forte, basta que que nunca se apague, que tenha uma luz e um calor constantes....

Anexo duas estórias simples já escritas há muito tempo, que terás a paciência de ler e avaliar.

Um abraço

Rui Felício


2. Sinchã Lomá, o Spínola e o alferes que não era parvo de todo,

© Rui Felício (2006)

SINCHÃ LOMÁ
3º Gr Comb
CCAÇ 2405
Agosto 1969


Sinchã Lomá é uma pequena tabanca a Sudoeste de Dulo Gengele e esta por sua vez fica a Sul de Pate Gibel [vd. as três localidades na carta de Duas Fontes].

Quando a CCAÇ 2405 chegou a Galomaro, destacou três dos seus Grupos de Combate para regiões circundantes da sede da Companhia com a missão de marcar posição no terreno e fazer ao mesmo tempo uma espécie de guarda avançada para protecção da Companhia.

A mim, coube-me ir para Pate Gibel, a tabanca mais a sul de Galomaro.

Depois de ter feito o reordenamento das populações próximas, concentrando-as em Pate Gibel, e após ter dado uma rudimentar instrução militar e distribuição de armamento (Mausers) aos homens mais jovens da tabanca, bem como construção de abrigos e colocação de arame farpado, fui enviado para Dulo Gengele para fazer a mesma coisa.

Após a conclusão da missão em Dulo Gengele, o meu pessoal tinha já as rotinas e a experiência necessárias neste tipo de trabalho.

Esclareço que paralelamente a estas missões continuávamos a fazer os patrulhamentos e operações programadas pelo Batalhão, o que trazia os soldados algo descontentes e cansados… Mas é a vida…

Porque o Agrupamento de Bafatá achava que o trabalho tinha sido bem feito em Pate Gibel e em Dulo Gengele, mandaram-me repetir a dose, desta vez em Sinchã Lomá… O mal na tropa é a gente dar nas vistas… Seja pelo bem, seja pelo mal…

Esta tabanca estava completamente isolada e só se encontrava tropa a muitos quilómetros de distância fosse em que sentido fosse: a Oeste, Samba Juli, perto de Bambadinca; a Sudoeste, Mansambo, a meio caminho entre Bambadinca e o Xitole, a Sul, o Saltinho, a Nordeste, Galomaro.




Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca)> 1969 ou 70 > Vista aérea da tabanca de Samba Juli > Em Fevereiro de 1969, aquando o desastre do Cheche, a CCAÇ 2405 estava sedeada em Galomaro, com um pelotão em Samba Juli, outro em Dulombi e um terceiro em Samba Cumbera. Samba Juli fazia parte de um conjunto de tabancas fulas, em autodefesa no regulado do Corubal, ao longo da estrada Bambadinca-Xitole, onde se incluía Dembataco e , Moricanhe (a oeste da estrada), Samba Culi, Sinchã Mamajã, Sare Adé, Afiá, Candamã, entre outras (a leste)... Tudo nomes que ainda ressoam estranhamente nas nossas cabeças: em muitas delas contávamos as estrelas à noite e esperávamos o alvorecer não sem alguma ansiedade... Nós e os nossos queridos nharros da CCAÇ 12. (LG)

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados. Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)



Chegado a Sinchã Lomá, iniciei os trabalhos, dando prioridade, por questões de segurança própria, à organização da defesa da tabanca, estendendo arame frapado em redor do perímetro idealizado, e marcando os locais dos futuros abrigos, que decidi que fossem oito.

Ao mesmo tempo, seleccionei trinta recrutas entre os homens da população e incumbi o furriel Coelho de lhes dar alguma instrução militar e manuseamento do armamento que lhes iria ser distribuído. O objectivo era criar condições de autodefesa à população, evitando assim mais um destacamento militar do exército para o qual não havia efectivos suficientes.

Enquadrada a tabanca e os objectivos, passo à história propriamente dita.

Dada a experiência anterior já atrás referida, demorámos menos de metade do tempo que tínhamos gasto nas tabancas anteriores, para dar a missão como concluída. Para isso contribuiu também o dinamismo do Chefe de Tabanca que, ao contrário do de Dulo Gengele, colaborou activamente com a tropa, mobilizando praticamente toda a população para os trabalhos de construção dos abrigos.

Para quem não saiba, os abrigos eram buracos rectangulares, escavados até cerca de 1,20 de profundidade, em cujos cantos se colocavam quatro bidons cheios de terra que serviriam de pilares, nos quais iriam assentar os troncos de palmeira que constituíam a estrutura do telhado.

Feito o esqueleto do abrigo, cobria-se o telhado com uma camada de terra de cerca de 30 cm.

Tudo isto, sem cimento, nem máquinas e com rudimentares ferramentas ( pás, picaretas, martelos, pregos, serras manuais e pouco mais… ). E um Unimog que com o seu guincho eléctrico era de extrema utilidade. Tudo o resto, à base de esforço braçal…


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Cuor > Missirá > 1968 ou 1969> O comandante do Pel CCAÇ Nat 52, alf mil Beja Santos, dirige a construção de um abrigo

Foto: © Beja Santos (2006). Direitos reservados.


Porque eu sabia que após a conclusão da missão, regressaria para a sede da Companhia, interessava-me despachar-me o mais rapidamente possível.

Por isso, logo que achei que o trabalho estava feito, mandei um rádio para a Companhia, solicitando que alguém fosse vistoriá-lo para me ser dada a ordem de regresso.

Alguns dias depois, finalmente ouço o ruído de um helicóptero aproximando-se e fiquei ansioso para que tudo fosse visto e achado conforme.

O Heli pousou, pilotado pelo meu grande amigo de sempre, o Alferes Jorge Félix, mais tarde um quadro importante da RTP do Monte da Virgem em V. N. de Gaia.

Fiquei, porém, surpreendido pelas altas patentes que o acompanhavam! O Spínola, o Coronel Hélio Felgas (Cmdt do Agrupamento de Bafatá ) e o Capitão Almeida Bruno, à época oficial às ordens do Velho.

O Spínola dirigiu-se-me, cumprimentou-me e encaminhou-se para o abrigo mais próximo, consertando o monóculo e apoiando-se ritmadamente no seu bastão, à medida que ia caminhando.

Olhou, mirou, deu uma volta ao abrigo e, com ar admirado, deu uma segunda volta agora em sentido contrário… Dirigiu-se a um outro e repetiu a vistoria.

Batia nervosamente várias vezes com o bastão na terra poeirenta, olhava com ar inquisidor o Capitão Bruno e o Coronel Felgas e fez-me sinal para me aproximar…Pelo ar dele, senti-me pequenino e inseguro, embora sem ainda descortinar a razão da sua indisposição.

Olhou-me fixamente nos olhos, ficou em silêncio durante uns segundos e depois as palavras saiam-lhe da boca como se fossem pedras:

- Vocé é o alferes mais original da Guiné!

A frase seguinte, continha a explicação da sua irritação:

- Para que raio servem abrigos sem qualquer entrada?!

Nem me deu qualquer hipótese de resposta. Virou-me as costas e foi cumprimentar demoradamente o Chefe de Tabanca ao lado do qual se aglomeravam homens, mulheres e a criançada da aldeia.

E começou a arengar meia dúzia de frases feitas que ele adorava proferir :
- Vocês são o bom povo da Guiné, donos desta bela terra, que se desenvolverá harmonicamente sob a bandeira portugues... (E etc… etc… etc…).

Entretanto, enquanto decorria a parte política, o Capitão Almeida Bruno falou comigo, também ele intrigado, e perguntou-me porque razão eu mantinha os abrigos fechados, como se não tivessem portas de entrada.

Expliquei-lhe que os queria manter limpos e apresentáveis para a vistoria, estando previsto que, logo que aprovado o trabalho, eu retiraria uma série de grades que estavam colocadas nas futuras entradas dos abrigos, para ficarem definitivamente operacionais. É que se o não tivesse feito, à semelhança do que se tinha passado nas outras tabancas onde tinha estado, a população metia lá dentro os animais domésticos (cabritos, galinhas, patos, etc. ) que conspurcavam aquilo tudo. Para evitar isso, fechei provisoriamente os abrigos…

O Almeida Bruno, conhecedor profundo do estilo do General, disse-me que essa explicação não servia, e o Caco estava chateado que nem um perú. E que isso podia redundar em qualquer coisa desagradável para mim…

E aconselhou-me a ir explicar ao Spínola antes de ele embarcar de novo no Heli, o seguinte: (i) que eu tinha andado a ler uns livros sobre a guerra do Vietname; (ii) e que, num desses livros tinha ficado a saber que os americanos construíam uma grande quantidade de abrigos falsos, onde de facto não iriam estar quaisquer efectivos militares; (iii) e que o faziam para que o inimigo, quando atacasse, dispersasse o fogo por inúmeros pontos, muitos dos quais seriam meramente fictícios, diminuindo assim o poder de fogo e a sua eficácia; e, finalmente, (iv) que fora por isso que tinha decidido levar à prática a referida táctica.

- Por azar meu, logo aqueles que o General Spínola tinha vistoriado!

Estudada a lição, quando o Spínola, depois de discursar à população, se aproximou de mim para se despedir, pedi-lhe licença para lhe explicar o que atrás ficou dito. Não fez qualquer comentário e entrou no Héli que de imediato levantou voo, deixando uma enorme nuvem de pó sobre as nossas cabeças…

E um grande aperto no meu coração… O pior castigo que poderia sofrer era o de me cancelarem as férias na Metrópole já programadas para o Novembro próximo…

Recebi, uma semana depois, ordem de regresso à base e logo que cheguei, perguntei ao Capitão se havia novidades a meu respeito… Disse-me que não… Pelo contrário, o Felgas até tinha elogiado o meu trabalho. Mas nada comentou àcerca do incidente com o Spinola.

Enfim, do mal o menos… Ausência de notícias, boas noticías - costuma dizer a sabedoria popular.

Andava cansado e preocupado com tudo isto e pedi ao Capitão que me deixasse ir espairecer uns dias a Bissau, a pretexto de uma qualquer consulta externa que o pudesse oficialmente justificar.
Ao contrário do que era hábito, O Capitão condescendeu e dois dias depois rumei e Bafatá e daqui apanhei uma boleia num velho Dakota, para Bissau.

Depois de aterrar em Bissalanca, fui à messe de oficiais da Força Aérea e ali encontrei o Jorge Félix. Enquanto bebericávamos um copo, contou-me o que se passou no helicoptero, logo que levantaram voo de Sinchã Lomá.

- Eh pá… Tiveste muita sorte! – começou por me dizer… - O Velho estava com cara de poucos amigos quando olhou para os malfadados abrigos, mas logo que se sentou no helicóptero, depois de ouvir a tua versão táctica, olhou de soslaio para o banco a seu lado onde estava o Almeida Bruno e disse-lhe:

- Oh, Bruno aponta aí! Este alferes não é parvo de todo!

E pronto, a minha ansiedade distendeu-se.. . Percebi que, graças ao Capitão Almeida Bruno, as minhas férias de Novembro mantinham-se intactas… Como de facto se mantiveram!


Rui Felício
Ex-Alf Mil Inf
3º Grupo de Combate
CCAÇ 2405

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Nota de L.G.

(1) Vd. último post, de 18 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1085: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (5): O improvisado fato de banho do Alferes Parrot na piscina do QG

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

Guiné 63/74 - P1181: Ameira: o (re)encontro de uma geração valorosa (Rui Felício)


Montemor-o-Novo > Ameira > Herdade da Ameira > Restaurante Café do Monte > 14 de Outubro de 2006 > Da esquerda para a direita: Rui Felício, Maria Alice Carneiro (esposa do Luís Graça), António Pimentel (que veio propositadamente do norte, com o Hernâni Figueiredo), o Victor David e a esposa e, por detrás, o Paulo Raposo, o nosso amável anfitrião.

Foto: © Luís Graça (2005). Direitos reservados.


Mensagem do Rui Felício (ex-Alf Mil, CCAÇ 2405, Mansoa, Galomaro e Dulombi, 1968/70), hoje economista e empresário, membro da nossa tertúlia e autor de algumas das mais saborosas estórias já aqui publicadas, reveladoras de um sentido muito especial de humor que nos ajudou a sobreviver e a manter-nos vivos e solidários, uma espécie de defesa mental contra o cacimbo, o clima, a guerra (1):


Meu Caro Luís Graça:

Como dizem os brasileiros, o meu testemunho é claramente chover no molhado... Na verdade, dizer que o belo dia de sábado, passado na agradável herdade do Raposo, foi uma jornada inesquecível, é repetir o que por certo todos já te terão dito (2).

Mas nem por isso devia deixar de o referir, para lembrar que o encontro da Ameira só foi possível, porque existe o blog que tu criaste e que, com tanto trabalho e mérito, vais gerindo, coordenando e engrandecendo.

Registei, das intervenções que alguns fizeram a seguir ao almoço, alguns aspectos que confirmaram aquilo que eu já pensava através da assídua leitura do que vais editando no blog, designadamente, o facto de a tertúlia se compor de variadas perspectivas e olhares, na análise e recordação da nossa passagem por terras da Guiné, em circunstâncias adversas de clima e da própria guerra.

Embora nem sempre coincidentes, são perspectivas cuja diversidade proporciona uma visão mais completa, segura e enriquecedora das memórias de todos nós. Bastaria ter ouvido, além de tantos outros, o Virgínio Briote, o Casimiro Carvalho, o Lema Santos [, o Pedro Lauret, o Tino Neves, o Paulo Santiago, o Carlos Santos] e, especialmente, o Vitor Junqueira, para comprovar o que acabei de dizer, isto é, a nossa geração fez a guerra de África segundo as suas próprias convicções, declaradamente contra ela, a favor dela ou conformada com ela, mas sem dúvida dando o melhor de si na defesa de princípios e sentimentos que pairam acima dos interesses ou conveniências individuais.

Sou dos que naquela época era contra a guerra, mas nunca confundi isso com o dever de a fazer o melhor e mais profissionalmente que me fosse possível, quanto mais não fosse para garantir aos soldados à minha responsabilidade o regresso a casa, sãos e salvos.

É por isso que não aceito que, passados tantos anos, algumas figuras proeminentes da nossa classe política actual venham hoje a público, não poucas vezes, arvorar-se em heróis, por terem tido a coragem de desertar, de fugir para o estrangeiro, criticando aqueles que como nós estiveram em África a combater.

Obviamente que isso não é coragem. Prefiro chamar-lhe comodismo, medo... Para não lhe chamar cobardia... Gostava de os ter visto na Ameira... Ficariam a conhecer homens cujo medo (que todos tínhamos... ) foi vencido pela coragem e pelo sentido de dever...

Um abraço

Rui Felício

PS -

(i) Só agora soube que o Vitor Junqueira é médico em Pombal. Fui grande amigo do Muñoz e Alvim, que estudou em Coimbra ao mesmo tempo que eu, embora em cursos diferentes. Nunca mais o vi, mas disseram-me que ele foi médico no Hospital de Pombal. Se o Vitor Junqueiro ler isto, pedia-lhe que me confirmasse se ele andou por lá ou mesmo se ainda exerce medicina em Pombal.

(ii) O reconhecimento pelo excelente trabalho do Carlos Marques...

(iii) Refiro ainda a agradável conversa, já ao fim do dia, com o J. Martins e Esposa... Foi por causa de um texto dele que eu entrei no blog, a propósito do desastre do Che-Che (3)

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Notas de L. G.:

(1) Vd. posts de:

18 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1085: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (5): O improvisado fato de banho do Alferes Parrot na piscina do QG

5 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1046: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (4): a portuguesíssima arte do desenrascanço

19 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXL: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (3): O dia em que o homem foi à lua

14 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVII: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (2): O voo incandescente do Jagudi sobre Madina Xaquili

9 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXIX: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (1): O nosso vagomestre Cabral

Vd. também post de 31 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1006: Estórias de Mansoa (1): 'Alfero, água num stá bom' (Rui Felício, CCAÇ 2405)

(2) Vd. posts de ontem, 15 de Outubro de 2006.

(3) Vd. posts de:


12 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXVI: O desastre do Cheche: a verdade a que os mortos e os vivos têm direito (Rui Felício, CCAÇ 2405)

(...) "Acabei de ler um texto escrito pelo camarada José Martins onde relata a sua experiência na zona de Madina do Boé.

"Embora tenha reconhecido que não assistiu directamente ao que se passou no célebre e lamentável desastre do Cheche, ocorrido no fatídico dia 6 de Fevereiro de 1969, o José Martins conheceu bem o local e a região e desenvolveu a sua descrição socorrendo-se de relatos e documentos alusivos ao sucedido.

"E nota-se pelo seu relato que sofreu muito, e que ainda hoje sente as marcas do desastre, passados 37 anos sobre a sua ocorrência" (...).


8 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXX: A retirada de Madina do Boé (José Martins)

(...) "O mês de Fevereiro de 1969 tivera início há poucos dias quando passou, no aquartelamento de Canjadude, uma coluna cuja missão era retirar a Companhia de Caçadores nº 1790 do seu destacamento de Madina do Boé. Paralelamente a guarnição do posto do Cheche, pertencente à Companhia de Caçadores nº 5, também retiraria e juntar-se-ia à nossa companhia em Canjadude" (...)

segunda-feira, 18 de setembro de 2006

Guiné 63/74 - P1085: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (5): O improvisado fato de banho do Alferes Parrot na piscina do QG

Guiné-Bissau > Bissau > 1996 > A antiga piscina da antiga messe de oficiais do Quartel General (QC), entretanto transformado no Hotel 24 de Setembro. No tempo do Rui Felício (1968/70), a messe de oficiais do QG era conhecida como a Vala Comum... Quem ia passar uns dias a Bissau e tinha dinheiro, instalava-se no Grand Hotel...

Foto: © Humberto Reis (2005)


Guiné > Bissau > 1969 > O Paulo Raposo, alferes miliciano da CCAÇ 2405, camarada e amigo do Rui Felício, com o seu pai, de férias, no Grand Hotel.
Foto: © Paulo Raposo (2006)
Mais uma estória de Dulombi, da autoria do Rui Felício, ex-Alf Mil, CCAÇ 2405 (Mansoa, Galomaroi e Dulombi, 1968/70)

Meu Caro Luis Graça,

Em primeiro lugar, mantém presente o dia 14/10 na Ameira!

Em segundo, peço-te, se tal for possivel, que no teu blogue alguém possa dizer algo sobre o paradeiro do Parrot, que andou por Mafra em 1967 e de quem perdi completamente o rasto.

Depois disso foi para a Guiné e depois nada mais soube àcerca do que foi a sua vida.

Insiro abaixo uma história passada com ele na Guiné que divulgarás se para isso lhe achares interesse.

Um abraço do
Rui Felicio


A PISCINA
( onde se aborda o grave problema de não existir fato de banho no espólio do fardamento militar ...)

No começo, em Mafra...

Já de si, o apelido originário da ascendência estrangeira da sua Família, o tornava notado.
A sua invulgar estatura de quase dois metros, os olhos salientes, o cabelo arruivado, a pele branca e sardenta e o corpo magro, longilíneo e desengonçado, completavam a estranha figura propicia ao sorriso e aos mais díspares comentários.

Falo do Parrot, que conheci em Mafra e que fez parte do meu pelotão do 1º Ciclo do COM da incorporação de Abril de 1967.

Não era fácil, porém, tirar o Parrot da sua fleumática postura de não te rales, por mais provocações que se lhe tentassem fazer. Ele era a calma personificada, e senhor de uma inteligência fora do comum.

Não eram portanto as piadas sem graça que alguns lhe dirigiam que o faziam reagir ou mostrar desagrado. Mostrava-se superior a essas coisas...

Era fácil perceber que colmatava os sacrifícios da vida militar, para a qual claramente não nascera, substituindo-os por insondáveis pensamentos que lhe davam o ar de quem pairava acima dos comesinhos problemas de quase todos nós.

Fez quase toda a recruta em Mafra de fato de treino e sapatilhas, porque só já muito perto do juramento de bandeira é que lhe foi conseguido fardamento adequado às suas medidas. Enquanto não teve fardamento, estava autorizado a sair do quartel à civil o que lhe proporcionou algumas vantagens em relação ao resto dos cerca de 800 cadetes que como ele ali recebiam instrução militar.

De facto, enquanto todos nós, para sairmos do quartel, tínhamos de nos sujeitar a formatura de saída e à revista, com os inerentes riscos de sermos chumbados nessa revista, o cadete Parrot saía calmamente à civil do quartel pela porta de armas, como se de um oficial se tratasse. Aliás, por mais de uma vez o sentinela da porta de armas, incapaz de conhecer todos os muitos oficiais que serviam no Regimento, tomava o Parrot como mais um e saudava-o com as honras militares que supunha lhe serem devidas!

Perdi completamente o rasto do Parrot desde que saí da tropa, o que lamento... Assim como já o havia perdido antes, quando depois da recruta ele foi fazer a especialidade não sei em que outra Escola Militar.

O reencontro, em Bissau...

Reencontrei-o uns dois anos mais tarde em Bissau, onde ambos pernoitávamos na Vala Comum do Quartel General.

A Vala Comum, para quem não se recorde, era uma espécie de caserna situada no QG, onde dormiam os oficiais milicianos que por algum motivo vinham do mato até Bissau, durante alguns dias.

Das poucas vezes que consegui pretexto para vir a Bissau, esquecendo por alguns dias a monotonia e os perigos do mato, fiquei quase sempre no Grand Hotel, a minhas expensas, mas desta vez em que reencontrei o Parrot, tinha decidido ficar na Vala Comum.

Não lhe perguntei o que fazia em Bissau, porque era óbvio que a razão oficial para ali estar não passaria de mero pretexto, tal como o meu, para fugir por uns dias à chatice do mato. E nem sequer lhe perguntei nada sobre o que tinha sido a sua vida militar desde que saiu de Mafra, porque quem conhecesse o Parrot sabia que ele não gostaria de falar disso. Preferia falar de coisas ligeiras, de preferência sem qualquer ligação à tropa.

Ao lado da Vala Comum, existia a piscina do Quartel General que o Parrot frequentava pelo meio da manhã, depois de acordar. Como não tinha calções de banho, enrolava uma camisa nº 3 da sua farda de trabalho, atava as mangas em volta da cintura e dirigia-se para a prancha de saltos mais alta da piscina, de onde se despenhava em mergulho desengonçado para a água da piscina. Repetia isto duas ou três vezes e regressava à Vala Comum, para tomar um duche, vestir-se e sair para dar uma volta pela cidade.

Acontece que as esposas dos oficiais do QG que viviam com os maridos nas instalações do quartel, como não tivessem nada que fazer, estacionavam ora no Bar de Oficiais ora na Piscina, tentando matar o tempo com conversas e mexericos. E, qual púdicas e ofendidas damas da falsa alta sociedade militar guineense, decidiram queixar-se ao Tenente Coronel que geria a Piscina, pelo comportamento, a seu ver incorrecto e imoral, do Sr. Alferes Parrot!

O motivo da queixa assentava no facto de o Parrot não só não se apresentar decentemente ataviado para frequentar a piscina, mas também e principalmente porque ao voar da prancha de saltos para a água, permitir que a camisa nº 3 que lhe servia de fato de banho esvoaçasse ao vento, deixando exposto aos olhares das senhoras o seu sexo pendurado e desnudo.

Na verdade, o Parrot achava que não valia a pena usar cuecas por baixo da camisa nº 3!
O Tenente Coronel, contra a sua vontade, mas pressionado pelas esposas dos seus camaradas, não teve outro remédio senão mandar chamar o Parrot.

Esclareço que os oficiais colocados no QG, na sua maioria, nunca tinham estado no mato e evitavam entrar em conflito com os alferes que de lá vinham esporadicamente a Bissau, porque receavam as reacções indisciplinadas de alguns que, apanhados do clima, achavam que já nada tinham a perder.

Por isso, o Tenente Coronel rodeou-se de todos os cuidados, mediu bem as palavras e abordou cautelosamente o Parrot, dizendo-lhe que as senhoras que frequentavam a piscina se sentiam incomodadas pelo facto dele usar a camisa nº 3 da farda de trabalho quando ia mergulhar.
Pedia-lhe por isso, para evitar problemas, que não a usasse quando quisesse ir para a piscina.
O Parrot, com o seu habitual ar desprendido acatou a sugestão do Tenente Coronel e sossegou-o, prometendo-lhe que tal não voltaria a suceder.

Parecia tudo resolvido. Mas não estava...

O Parrot, logo na manhã seguinte, voltou à piscina, com a camisa enrolada à cintura a fazer de fato de banho, subiu as escadas da prancha de saltos e mergulhou como habitualmente!
À semelhança dos dias anteriores, repetiu os saltos duas ou três vezes e regressou impávido e molhado à Vala Comum.

Comportamento atípico este! O Parrot era desprendido mas não era um provocador, e muito menos propositadamente indisciplinado! Posso garantir! Inexplicável portanto o seu comportamento!

O Tenente Coronel também sabia disso e não compreendia... Por isso, chamou de novo o Parrot e pediu-lhe que se justificasse, que lhe explicasse porque quebrara a promessa do dia anterior...
O Parrot, com ar cândido e aparentando grande admiração por ter sido de novo chamado ao Tenente Coronel, explicou:
- Oh meu Coronel, acho que houve aqui uma deficiência de comunicação. Quando o Senhor ontem me disse para eu não voltar a usar a camisa nº 3, entendi que a não considerava adequada por fazer parte do fardamento de trabalho...E acatei... Compreendi que queria que, em vez dessa, eu usasse antes a camisa do fardamento de saída, ou seja, a camisa nº 2, da farda de saída, atendendo a que se tratava de um local onde se justifica alguma etiqueta na apresentação... E foi o que fiz!!!! - culminou o Parrot, com o ar mais celestial do mundo - A camisa que hoje usei era uma camisa nº 2, meu Coronel!

Rui Felício
Ex-Alf Mil Inf
CCAÇ 2405

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Nota de L.G.

(1) Vd. última estória: post de 5 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1046: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (4): a portuguesíssima arte do desenrascanço

terça-feira, 5 de setembro de 2006

Guiné 63/74 - P1046: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (4): a portuguesíssima arte do desenrascanço

Guiné > Zona leste > Subsector de Galomaro > Dulombi > CCAÇ 2405 > 1970 > Construção de abrigos. À esquerda, o Al Mil Paulo Raposo. Foto: © Paulo Raposo (2006)


Guiné > 1968 > Mansoa > CCAÇ 2405 > Os Alf Mil Raposo e Felício, dois dos futuros baixinhos de Dulombi. Foto: © Paulo Raposo (2006)


Texto do Rui Felício, enviado por e-mail de 29 de Agosto de 2006:


Meu Caro Luis Graça,

Há longo tempo que não intervinha no teu blogue. Mas tenho lido com alguma frequência o que por lá vai aparecendo.

Aí vai mais uma estória engraçada (1) que publicarás se assim o entenderes.

Espero que o encontro sugerido pelo Paulo Raposo [no próximo mês de Outubro, em Montemor-O-Novo] se concretize. Vale a pena estar umas horas no agradável Hotel que ele possui em Montemor-O-Novo.

Um abraço

Rui Felício
Alf Mil, CCAÇ 2405 (1968/70),
Dulombi, Junho de 1970 (2)

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TRANSFERÊNCIA DE CARGA (ou a arte do desenrascanço que a tropa afinal nos ensinou)...


Daí a poucos dias íamos finalmente embarcar em Bissau no Carvalho Araújo para o ansiado regresso…

Tinhamos acabado de receber no Dulombi a Companhia de atónitos periquitos que, durante uma semana, iam ficar em sobreposição connosco.

Acolhemo-los com o aquele ar superior de guerreiros invencíveis, calejados pelos combates, a pele tisnada dos sóis tropicais, e além das costumadas praxes, meio inofensivas, que exercemos sobre eles, dedicámos-lhes, com a proverbial simpatia característica dos Baixinhos do Dulombi, um hino de recepção ao periquito que ainda hoje cantamos em todos os almoços anuais de comemoração que realizamos.

Fui eu o autor da letra (perdoem-me o orgulho ) que, em versos decassilábicos, procurava transmitir aos novatos o que era o dia a dia que os esperava nos confins do mato onde iriam passar dois anos.

O Alf Mil Rijo sacou dos seus dotes musicais até aí ocultos e plagiou uma música que se adaptasse à versalhada que em momento de suprema inspiração eu tinha produzido. É ele que hoje guarda religiosamente essa letra que eu, embora seu autor, não sou já capaz de reproduzir na íntegra (3).

...Mas urgia transferir o espólio da Companhia aos novos... Formou-se então uma equipa para conferir e entregar aos novos as cargas que oficialmente estavam a cargo da Companhia. E por parte dos periquitos procedeu-se de igual modo para as receber, assinando os respectivos recibos de quitação.

A mim e ao furriel Veiga coube-nos a tarefa, entre algumas outras mais simples, de entregar aos periquitos os materiais de construção que a nossa Companhia tinha (ou devia ter…) em armazém e que recebera com a exclusiva finalidade de serem usados na edificação de casas para a população que foi deslocada no âmbito do programa de reordenamentos.

No essencial, os materiais de construção a que me refiro eram constituídos por sacos de cimento, chapas de zinco, barrotes de madeira, pregos, ferramentas diversas, etc.

O problema é que os mapas de existências e de movimentação de stocks exibiam quantidades muito superiores (!!!) às que efectivamente existiam…

E eram mapas assinados pelo Capitão, pelo Sargento Silvano e por mim próprio, regularmente enviados superiormente para os Serviços de Adminsitração Militar em Bissau e, quiçá, em Lisboa.

Estava portanto fora de questão a sua falsificação!

A verdade é que, se os não entregássemos à nova Companhia e esta, como seria natural, se recusasse a ignorar as diferenças, isso redundaria por certo num demorado e complicado processo de inquérito para apuramento de responsbilidades, seguido de um outro de cariz disciplinar para punição dos responsáveis.

Resumindo: Uma grandessissima chatice a meia dúzia de dias do embarque!

Sei que vos baila no pensamento a natural pergunta:
- E como foram gastas tão significativas quantidades de materiais de construção, se não foram aplicadas na totalidade nos tais reordenamentos?

Os meu queridos amigos Vitor David e Paulo Raposo, ambos alferes dos Baixinhos do Dulombi, se estiverem a ler isto, são dos poucos que não fazem essa pergunta. O primeiro porque sabe o destino dos tais materiais em falta. O segundo porque foi ele mesmo quem lhes deu o (in)devido destino…

Fez ele bem, comento eu!

O Raposo, como já tive ocasião de dizer noutros escritos semelhantes a este, era uma pessoa desenrascada, que não abdicava do mínimo de conforto que as circunstâncias lhe permitissem.

Combater sim, mas confortavelmente, se possível…

Quando começámos a receber o cimento e as chapas de zinco em apreciáveis quantidades, destinadas ao reordenamento da população e também à construção de um heliporto, o Raposo, indiferente aos reparos do Capitão Jerónimo, mobilizou os seus soldados para cimentarem o seu abrigo e para revestirem o respectivo tecto, por baixo da terra que o cobria, com chapas de zinco na tentativa de o impermeabilizar às águas da chuvas que nos restantes abrigos inundavam por completo o interior.

Não seria, porém, na altura da transferência das cargas que iriamos falar disso. Era assunto tabu!

Importante era descortinar uma forma de entregar sem falhas os materiais que constavam dos papéis. Embora sabendo-se que já só existiam em pequena parte…

A noite é boa conselheira e em África acho que ainda mais. E por isso, quando acordei no dia seguinte já tinha mentalmente encontrado a solução.

Contando obviamente com a inexperiência do alferes periquito ( seja me desculpado tratá-lo assim, mas o seu nome já se me varreu…), que me iria assinar os recibos de quitação da entrega, libertando-me de responsabilidades.

Chamei o Veiga, furriel de transmissões e matosinhense muito vivo e desenrascado, e segredei-lhe:
- Oh Veiga, eu vou chamar o alferes periquito e começarei por lhe dizer que os materias de construção que lhe vamos entregar estão dispersos por variados lugares da tabanca.

E continuei:
- Depois digo-lhe que temos que ir anotando num caderno as quantidades que contarmos em cada um desses locais, somando tudo no final e conferindo com os mapas oficiais da Companhia.

Prossegui, perante o olhar atento do Veiga, que ia abanando a cabeça em sinal de assentimento:
- Para que as coisas resultem como eu quero, é necessário iniciarmos este trabalho à hora de maior calor, digamos que por volta da uma da tarde, a seguir ao almoço.

De sobrolho franzido, o Veiga interrompeu-me:
- Porquê? Não entendo o motivo…

Retorqui-lhe, sorrindo:
- Mais adiante você vai compreender!

E continuei, descrevendo o plano:
- Agora você pega em meia dúzia de soldados e manda carregar em cima de um Unimog os poucos sacos de cimento e chapas de zinco que temos fechadas na tabanca que serve de armazém improvisado.

Sem perder o folego, acrescentei:
- De seguida manda-os descarregar num sítio qualquer, de preferência meio escondidos entre as tabancas, por forma a não serem visíveis de longe, e depois vem me chamar à messe onde estarei com ele, para nos deslocarmos ao sítio onde você despejou os materiais.

E porsseguindo:
- Depois de anotarmos no tal caderno as quantidades que tivermos contado, e perante o insuportável calor que estaremos sentindo, eu convido-o a si e ao alferes a virem beber uma cerveja. Você inventará um desculpa e recusará o convite. Logo que eu e ele nos afastarmos, você volta a carregar os materiais e colocá-los-á noutro sítio da tabanca afastado daquele, enquanto o alferes periquito se encharca em cerveja para vencer o tórrido calor da uma da tarde…

O Veiga sorriu e interrompeu-me de novo:
- Agora entendo porque é que o meu alferes disse que mais adiante eu ia perceber a razão da hora do calor para se fazer este trabalho! O homem a cada caminhada que fizer não vai querer outra coisa senão abrigar-se do calor e matar a sede…

- Para mais, periquito transpira como o caraças!...

- ... Enquanto me dá tempo para eu mudar os materiais de um sitio para outro - concluiu o furriel com uma sonora gargalhada.

Epílogo

O alferes periquito sucumbiu ao truque. E encharcou-se com alguns litros de cerveja que eu magnanimamente lhe fui oferecendo ao longo daquela tarde.

Acho que nas últimas duas contagens ele já via tudo a dobrar, o que, se assim foi, acabou por me beneficiar nos cálculos finais…

Lamento dizê-lo mas há uma regra básica que o próprio exército nos ensinou: A tropa manda desenrascar…

Tenho a certeza que ele acabou por fazer algo parecido quando acabou a comissão.. e isso alivia-me os remorsos…

Sim, porque tenho muitas dúvidas que as existências das Companhias do mato alguma vez conferissem com os papéis que constavam das secretarias.

O resultado das contagens acabou por dar no seguinte:

(i) Os mesmos sacos de cimento foram contados 4 vezes;
(ii) As mesmas chapas de zinco, 5 vezes
(iii) Os mesmos pregos, 2 vezes


Tudo somado deu um total praticamente igual ao que constava nos papéis oficiais do Sargento Silvano.

E tudo acabou em bem!

Se isto fosse um romance côr de rosa e se em vez do alferes periquito eu estivesse a transferir as cargas para a enfermeira paraquedista Rosa, podia terminá-lo à laia dos filmes da década de 50:

... e casaram, foram muito felizes e procriaram belos e rechonchudos rebentos…

The End



Rui Felício
Ex-Alf Mil Inf
CCAÇ 2405 (1968/70)
___________

Notas de L.G.

(1) Estórias anteriores: vd posts de

19 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXL: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (3): O dia em que o homem foi à lua

14 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVII: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (2): O voo incandescente do Jagudi sobre Madina Xaquili

9 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXIX: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (1): O nosso vagomestre Cabral

Vd. também post de 31 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1006: Estórias de Mansoa (1): 'Alfero, água num stá bom' (Rui Felício, CCAÇ 2405)

(2) Vd. post de 7 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1029: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (17): Dulombi

(3) Meu caro Rui: Ficamos à espera desses famosos versos...para que não se perca o Cancioneiro de Dulombi.

segunda-feira, 31 de julho de 2006

Guiné 63/74 - P1006: Estórias de Mansoa (1): 'Alfero, água num stá bom' (Rui Felício, CCAÇ 2405)


Guiné > 1968 > A bordo do Uíge: da esquerda para a direita, os alferes milicianos Raposo, David, Felício e Rijo, da CCAÇ 2405, pertencente ao BCAÇ 2852. O Uige transportava dois batalhões, o BCAÇ 2851 e o BCAÇ 2852. Largou em finais de JUlho de 1968 do Cais de Conde de Óbidos, em Lisboa e chegou a Bissau nos princípios de Agosto. A CCAÇ 2405 seguiu depois para Mansoa onde chegou à noite, sendo saudada com um salva de artilharia pelos velhinhos da CCS do BCAÇ 1911 (1).

Foto: © Paulo Raposo (2006)


Continuação (cronologicamente, neste caso, antecipação) das estórias de Dulombi (2)... O Rui Felício foi alf mil na CCAÇ 2405, juntamente com o Paulo Raposo e Victor David, outros dois membros da nossa tertúlia. Os três estiveram em Mansoa, no início da comissão da respectiva unidade, a CCAÇ 2405, pertencente ao BCAÇ 2852, de Agosto a Dezembro de 1969.


MANSOA III

CCAÇ 2405

Agosto de 1968


O Vitor David e eu, juntamente com os nosso respectivos Grupos de Combate, fomos destacados para dirigir e fazer a segurança de cerca de 200 trabalhadores balantas, recrutados pelo Chefe de Posto de Mansoa para procederem à capinagem da estrada Mansoa-Jugudul.

Era um autêntico exército de homens armados de catanas, enquadrados por meia dúzia de cipaios que os obrigavam a não perder o ritmo do trabalho.

O mato na Guiné cresce a um ritmo alucinante e, quando menos se espera, devora as bermas e até a própria estrada se esta não fôr utilizada regularmente.

Para prevenir emboscadas do IN tinha que se fazer a capinagem desse mato umas duas ou três vezes por ano, limpando uma faixa de cerca de 50 a 100 metros de cada lado da estrada.

A tropa requisitava mão de obra para o efeito à autoridade administrativa que se encarregava de a mobilizar.

Era um trabalho duro, realizado sob um sol escaldante, desde o amanhecer até ao pôr do sol…

Os homens brandiam ritmadamente as catanas contra os tufos de capim e arbustos, provocando um som cavo que inundava os ouvidos durante todo o dia, e os seus corpos negros, musculados, luzidios de suor, brilhavam sob o tórrido sol da Guiné…

E tinham que beber água muitas vezes para matar a sede e prevenir desidratação…

Por isso, eram colocados ao longo da estrada, mais ou menos de 30 em 30 metros, bidons de 200 litros cheios de água, para que, quem quisesse, ali se dessedentasse.

Sucede que esses reservatórios eram nem mais nem menos que bidons usados de combustivel, que depois de esgotados serviam para encher de água e levados para a capinagem.

E, claro, quando não havia cuidado na sua lavagem, a água neles despejada podia misturar-se com alguns restos de combustível que tivessem ficado no fundo.

Pois foi exactamente isso que aconteceu com os bidons que estava a ser usados na tal capinagem de que falamos.
Guiné > 1968 > Mansoa > CCAÇ 2405 > O Alf Mil Victor David no regresso de uma operação
Foto: © Paulo Raposo (2006)
Inesperadamente, um dos balantas assomou-se junto ao David e disse-lhe num crioulo arrevesado:

- Alfero! Água num stá bom! – e, para melhor traduzir o que dizia, fazia uma careta de vómito….

O David, pensava para os seus botões:
- Esta gajo é muito fino… Deve querer água Perrier, com certeza…

Tentou despachá-lo:
- Está bem, está bem… Vai mas é continuar o teu trabalho e deixa-te de esquisitices!

Mas o homem não desistia:
- Alfero! Bardadi! Água num sta bom mesmo! Num sabi!
- Eh pá.. Explica lá de uma vez o que é que tem a água - condescendeu o David.

E o balanta, num esforço para se fazer compreender, puxou dos seus rudimentos de português e despejou:
- Água sabe a gasolina, Alfero!... Bardadi!

Uma flash iluminou o cérebro do David que rapidamente compreendeu o que se passava… Aqueles bidons tinham sido mal lavados e ainda continham restos de combustivel…

Não querendo admitir essa falha (a tropa portuguesa precisava demonstrar a sua grande capacidade de organização…), o David, inspirado, rematou:

- Claro que sabe a gasolina.. É de propósito e para vosso bem! Assim, vocês no trabalho, andam mais depressa e cansam-se menos, percebeste?

Nunca saberemos se o pobre do trabalhador balanta acreditou na justificação do David ou se, entre dentes, lhe rogou alguma praga… A verdade é que acenou afirmativamente com a cabeça e voltou ao trabalho.

E, passado pouco tempo, veio de novo beber água com gasolina do bidon.. A tal que fazia andar depressa…


Rui Felício
Ex Alf Mil Inf
CCAÇ 2405
Mansoa

________________

Notas de L.G.

(1) Vd. posts de

7 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXI: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (5): Periquito em Mansoa


8 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXXIII: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (6); Mansoa, baptismo de fogo

11 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXLIV: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (7): A ida ao Morés: atenção, heli, aqui tropa à rasca
(2) Vd. posts anteriores:

9 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXIX: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (1): O nosso vagomestre Cabral


(...) "O Natal aproximava-se… Antes da data prevista, chegara-nos um presente inesperado! Um periquito….

"O furriel Cabral foi-nos mandado para substituir o furriel vagomestre, uns meses antes falecido em acidente de viação na estrada de Galomaro-Bafatá numa viagem de reabastecimento de viveres à nossa Companhia…

"O Cabral era uma jóia de pessoa, simpatiquíssimo, um tanto ingénuo e crédulo, sempre bem disposto e que rapidamente granjeou a estima de todos.

"Natural de Bissau, de etnia pepel, um verdadeiro e retinto preto da Guiné" (...)

14 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVII: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (2): O voo incandescente do Jagudi sobre Madina Xaquili

(...) "O Carvalho Araújo já estava em Bissau para nos levar de volta à Metrópole… Viera cheio de tropa para substituir os velhinhos, ansiosos pelo fim da sua comissão.

"O tempo custava a passar para finalmente se dar a rendição, e por isso, cada um à sua maneira ia encontrando formas de apressar o tempo, de esquecer a lentidão inexorável do relógio…

"Ao cair da tarde, com a luz alaranjada do sol a começar a esconder-se na linha do horizonte poente, o Paulo Raposo, alferes da CCAÇ 2405, de quem guardo as mais pistorescas histórias, estava sentado perto do bunker do Capitão, com o olhar fixo num ponto afastado a sul do aquartelamento, perto do arame farpado" (...).

19 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXL: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (3): O dia em que o homem foi à lua

(...) "20 de Julho de 1969. Era domingo… Durante todo o dia a rádio ia noticiando a chegada do homem à Lua… A célebre frase do astronauta afirmando que o passo que acabara de dar em solo lunar era um passo de gigante para a humanidade, era escutada repetidamente nos pequenos transistores que nos mantinham ligados ao mundo.

"Claro que não havia televisão na Guiné e, mesmo que houvesse, jamais seria vista em Samba Cumbera, pequena tabanca onde a luz nos era fornecida através de garrafas de cerveja cheias de petróleo, nas quais se embebiam torcidas de desperdício que, depois de acesas, nos enchiam os pulmões de fuligem e fumo.

"Mas nos confins da mata, longe de toda a civilização, a importante notícia precisava de ser partilhada e divulgada... Os soldados se encarregariam de o fazer à sua maneira, junto das bajudas" (...).

quarta-feira, 5 de abril de 2006

Guiné 63/74 : P665: O outro Carlos Fabião (3) (Rui Felício)

Texto do Rui Felício (ex-Alf Mil Inf., CCAÇ 2405, Dulombi, 1968/70)

Meu Caro Luis Graça,

Sei que acabas por ser o pivot de desencontrados sentimentos que o teu blogue saudavelmente proporciona.

Tal como outros já o disseram, também eu preferia não alimentar polémicas sobre o passado da Guiné, que é afinal o espaço que nos une a todos, independentemente das naturais diferenças de pensamento que são próprias dos homens.

Assim consigamos respeitá-las mutuamente...que é isso que enobrece a alma humana.

Ficaria sossegado no meu canto, a observar as opiniões dos tertulianos a propósito da morte do CARLOS FABIÃO, sem nenhuma intenção de intervir, se não acabasse neste mesmo momento de ler um e-mail do Zé Teixeira em resposta a um outro do J.Vacas de Carvalho (meu contemporâneo na E.P.I. em Mafra).

O Zé Teixeira afirma que o Carlos Fabião que conheceu na Guiné não é o mesmo que o Vacas de Carvalho retrata no seu e-mail.

E eu acredito que o Zé Teixeira fale verdade. Mas não precisava que o Vacas de Carvalho escrevesse o que escreveu para saber que o que este diz também é verdade...

Ou seja, ambos retratam o mesmo homem, em tempos diferentes mas próximos, com dois comportamentos completamente antagónicos!

Como é isto possivel?

O problema é que os homens coerentes e verdadeiros não mudam de um ano para o outro!

Mas infelizmente outros que conheci na Guiné, do quadro permanente, também sofreram essa mudança pela simples varinha mágica do 25 de Abril, passando de oficiais louvados e até condecorados pelo regime então vigente, para de repente se transformarem em revolucionários que não eram, progressistas que antes eram conservadores, falsos emocratas que antes eram autoritários...

Em suma: Cavalgaram a onda que os trazia à praia, para se salvarem de morrer afogados!

Os verdadeiros homens mantêm seus ideais independentemente da onda que os carrega e são coerentes consigo mesmos.

Os outros, os que o não são, adulam o chefe seja ele qual for, para se manterem na crsita da onda.

Há uma enorme diferença entre os dois tipos de homem e eu, que quero continuar a pertencer aos primeiros, digo como o Vacas de Carvalho: Ainda admito, por respeito para com a morte de alguém, que a Família do Carlos Fabião sofra com o seu passamento.

Mas não me peçam para cantar loas aos que quase destruiram o nosso Portugal após o 25 de Abril!

Rui Felício
ex Alf Mil Inf
CCAÇ 2405

domingo, 19 de março de 2006

Guiné 63/74 - P621: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (3): O dia em que o homem foi à lua


Jantar a bordo do Uíge, a caminho da Guiné > Finais de Julho/princípios de Agosto de 1968 > Os quatros alferes milicianos da CCAÇ 2405: David e Raposo, do lado esquerdo; Felício e Rijo, do lado direito. © Paulo Raposo (1997) (O meu testemunho e visão da guerra de África, de que iremos publicar em breve uma série de excertos)

Lisboa > Março de 2006 > A lua, o satélite do nosso planeta, vista do Lumiar, ainda de madrugada... © Luís Graça (2006)


Texto de Rui Felício

Guiné > Zona Leste > Subsector de Galomaro >Samba Cumbera> Destacamento > 3º Grupo de Combate da CCAÇ 2405


20 de Julho de 1969

Era domingo… Durante todo o dia a rádio ia noticiando a chegada do homem à Lua… A célebre frase do astronauta afirmando que o passo que acabara de dar em solo lunar era um passo de gigante para a humanidade, era escutada repetidamente nos pequenos transistores que nos mantinham ligados ao mundo (1).

Claro que não havia televisão na Guiné e, mesmo que houvesse, jamais seria vista em Samba Cumbera (2), pequena tabanca onde a luz nos era fornecida através de garrafas de cerveja cheias de petróleo, nas quais se embebiam torcidas de desperdício que, depois de acesas, nos enchiam os pulmões de fuligem e fumo.

Mas nos confins da mata, longe de toda a civilização, a importante notícia precisava de ser partilhada e divulgada... Os soldados se encarregariam de o fazer à sua maneira, junto das bajudas.

Por mim, preferia meditar sobre o assunto, silenciosamente... Afinal os nossos avós jamais imaginariam que alguma vez o homem pudesse chegar à Lua, apesar de Júlio Verne, o visionário do século anterior, já o ter previsto…

E, longe das mais modernas evoluções da ciência e da tecnologia, os naturais da Guiné que nasciam e morriam na sua aldeia da selva sem nunca sairem do pequeno perímetro onde viviam, muito menos sonhariam com essa utópica possibilidade de o homem chegar à Lua.

Como muitas vezes fazia, depois de jantar, sentei-me numa cadeira de fula, onde descansava semi deitado, olhando o céu, nessa noite muito limpo e estrelado…

Bem alto, a luz branca da lua, em quarto crescente, derramava-se pela orla da floresta e pelos cones de capim dos telhados das tabancas, desenhando sombras fantasmagóricas pelo terreno limpo do centro da aldeia.

E mantive-me assim deitado, o olhar fixo na lua, tentando prescrutar o mais pequeno sinal da presença do homem que eu sabia estar ali vagueando, em qualquer lugar do Mar das Tempestades…

Não sei quanto tempo assim me mantive, absorto, atento e quieto… Despertei e voltei à realidade com a voz do meu simpático amigo Samba, Chefe da Tabanca de Samba Cumbera, que me perguntava se podia sentar-se a meu lado, para o qual arrastara uma cadeira semelhante à minha…

Era um homem de grande cultura árabe, que conhecia muito da história do islamismo, que sabia com um estranho rigor a exacta direcção de Meca, que lia e escrevia árabe, que conhecia em pormenor toda a história dos Fulas e da razão de ser da sua permanência na terra da Guiné… Para onde, dizia, foram empurrados em sucessivas lutas tribais com os seus rivais Mandingas…

As nossas conversas eram normalmente muito agradáveis e, posso dizer, sempre aprendi mais com ele do que ele comigo…

Temos a tendência e o preconceito de avaliar os outros, pelos nossos parâmetros e pela nossa cultura, catalogando-os de bárbaros e analfabetos só porque não têm o conhecimento e a instrução, medidos pelos nossos padrões.

Aprendi que no meio daquela gente, existiam homens com conhecimento mais vasto e aprofundado que muitos dos nossos soldados… O Samba era um deles…

Perguntou-me porque estava tão pensativo e quieto… Respondi-lhe que aquela noite era muito especial para o mundo, porque estava se passando algo que nunca antes tinha acontecido…

Franziu o rosto, comentando que, pelo meu ar, não devia ser coisa boa… Sorri, dizendo-lhe que era exactamente o contrário…

E, embora sabendo de antemão a resposta, perguntei-lhe apenas como forma de iniciar a revelação do que estava acontecendo:

- Sabes que neste preciso momento um homem como nós caminha na lua que está ali em cima diante dos nossos olhos?

A reacção foi inesperada e contrária a tudo o que eu teria imaginado:

- Alfero! Não é um homem como nós, não! É o profeta Maomé que, juntamente com Alá dali nos vigia a todos, para nos proteger, nos ensinar o caminho justo e para nos castigar quando dele nos desviamos…

E prosseguiu:

- Como é possivel que homem grande e instruido como o Alfero, só hoje soubesse isso? Não entendo mesmo!...

Pensei durante uns segundos se devia argumentar, puxar dos meus galões de homem civilizado, e demonstrar-lhe a minha superioridade, provando-lhe que não era nada daquilo que ele dizia. Desisti de o fazer…

Afinal, ambos nos estávamos alimentando de sonhos… e, cada um à sua maneira, sentiamo-nos felizes pela beleza insubstituível de um luar africano em noite calma e limpída…

Independentemente de quem lá estava caminhando naquele momento…

P.S. - Passados dias, com a chegada de um jornal de Lisboa, mostrei-lhe as fotografias do astronauta pisando a Lua. E, então expliquei-lhe o que realmente se tinha passado naquela noite… Pelo seu ar meio trocista, ainda hoje não sei se o convenci…

Mas como ele também não me convenceu que por lá andavam Alá e o Maomé, ficamos quites, cada um na sua... em paz!

Rui Felício
Ex-Alf Mil Inf.
3º Grupo de Combate
CCAÇ 2405 (Dulombi, 1968/70)
_____________

Notas de L.G.

(1) O astronauta Neil Armstrong foi o primeiro homem a pisar a Lua... Ficou célebre a sua frase: "Este é um pequeno passo para o homem, mas um grande salto para a humanidade". Os outros dois tripulantes da nave Apolo 11 eram Edwin Aldrin e Michael Collins.

(2) Samba Cumbera (vd. mapa de Duas Fontes): fica entre Moricanhe (mapa do Xime) e Galomaro, a nordeste de Candamã...

terça-feira, 14 de março de 2006

Guiné 63/74 - P608: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (2): O voo incandescente do Jagudi sobre Madina Xaquili

Aviso prévio:
Esta história é, no essencial, verdadeira, mas é aqui romanceada, pelo que não se garante a veracidade total dos factos descritos. Por razões de falta de memória, própria da idade e da distância com a data do que se passou... Que me desculpe o Paulo Raposo pela inconfidência... (RF) (1)


O voo incandescente do Jagudi sobre Madina Xaquili (2)

Dulombi, Junho de 1970, CCAÇ 2405 (3)

O Carvalho Araújo já estava em Bissau para nos levar de volta à Metrópole… Viera cheio de tropa para substituir os velhinhos, ansiosos pelo fim da sua comissão.

O tempo custava a passar para finalmente se dar a rendição, e por isso, cada um à sua maneira ia encontrando formas de apressar o tempo, de esquecer a lentidão inexorável do relógio…

Ao cair da tarde, com a luz alaranjada do sol a começar a esconder-se na linha do horizonte poente, o Paulo Raposo, alferes da CCAÇ 2405, de quem guardo as mais pistorescas histórias, estava sentado perto do bunker do Capitão, com o olhar fixo num ponto afastado a sul do aquartelamento, perto do arame farpado.

Aproximei-me e comentei:

- Eh, pá, não estejas a pensar na morte da bezerra… Já faltou mais e não tarda estaremos em Lisboa a beber umas imperiais e a olhar as bajudas brancas que por lá abundam.

Retorquiu, pedindo-me silêncio com um gesto:

- Senta-te aí, pá, e espera até veres, mais minuto menos minuto, um daqueles jagudis que sobrevoam a tabanca, fazer um voo picado!

O jagudi é uma ave da família dos abutres que existiam em grande profusão na Guiné, para o qual tinha sido promulgada pelo Governo legislação proibindo a sua caça, dado tratar-se de um animal de grande utilidade na remoção de cadáveres, lixo, matéria orgânica em decomposição, etc…

Tinha um aspecto um tanto asqueroso, medonho, embora naturalmente não atacasse as pessoas... a menos que já fossem cadáveres, é claro...

Meio curioso, disse-lhe:

- Explica-te lá…

Apontou o dedo e acompanhei com o olhar a direcção indicada.

- Ali junto àquele poste do arame farpado está uma armadilha que montei para caçar um daqueles filhos da puta – despejou de chofre o Paulo Raposo, rindo muito…

E continuou:

- Tem um laço em arame e um naco de carne fresca perto do laço…O jagudi vai picar a carne e, ao fazê-lo, terá de enfiar a cabeça no laço…

- Depois, com o naco de carne no bico recuará e accionará o arame que se fechará em volta do pescoço…

Triunfante, exclamou, com um sorriso aberto:

- E pronto, depois já dali não sai…..

Embora conhecendo o enfant terrible que era (e ainda é… ) o Paulo Raposo, não entendia bem ainda qual era o seu objectivo. Mas não tardaria a saber.

Tal como previsto, eis que um jagudi mergulha em grande velocidade e, segundos depois, vejo-o debater-se, preso pelo pescoço na armadilha montada pelo Paulo Raposo.

Levantámo-nos de repente e segui o Raposo que corria em direcção ao jagudi, ao mesmo tempo que chamava o cabo enfermeiro, intimando-o a comparecer rapidamente no local…

Com a ajuda de vários soldados e alguns nativos que se aproximaram curiosos, o animal foi imobilizado e foi então que finalmente percebi o objectivo do Paulo.

Mandou o cabo enfermeiro trazer-lhe algodão e com ele fez dois rolos que mandou colocar e atar com adesivo por baixo das asas do infeliz jagudi

De seguida embebeu o algodão em álcool, libertou a ave do laço que a prendia, sempre com vários soldados a segurá-la, e acendeu um fósforo que aproximou do algodão…

Incendiado o álcool, o jagudi foi libertado e, em voo veloz, afastou-se em direcção a Norte, deixando um rasto luminoso na noite que entretanto acabara de cair…

Ficámos olhando a bola de fogo diminuir progressivamente de tamanho e finalmente desaparecer…

Como crianças travessas, riamo-nos todos, meio nervosos, estranhamente orgulhosos com a façanha acabada de praticar, sem que para isso encontrássemos motivo justificativo… E nem interessava…Importante é que tinhamos deitado uma pedrada no charco da monotonia…

As questões ecológicas, hoje tão em voga, eram naqueles tempos e naquela situação de guerra, algo que não nos precoupava…

Talvez os que hoje lêem isto não consigam entender tamanha infantilidade… Mas as circunstâncias e a idade duma geração transformada à força em idade adulta sem ter tido tempo de percorrer as etapas próprias de uma adolescência despreocupada, deverão obter, senão a justificação, pelo menos a compreensão dos leitores.

Mas voltemos ao jagudi

Trata-se de um animal de grande resistência fisica, de carne duríssima e musculosa, capaz de lutar e vencer animais de maior porte e ferocidade, como é o caso de felinos selvagens e até leões (4). Não sucumbiria portanto, facilmente, ao calor do algodão em brasa…

E por isso continuou o seu voo assustado e veloz, certamente na ânsia de se libertar do fogo que o perseguia… E foi assim que poucos minutos depois sobrevoou, já noite fechada, o quartel de Madina Xaquili, a cerca de 15 kms em linha recta, onde se econtrava estacionada uma Companhia de Caçadores composta por madeirenses (5)…

Os sentinelas deram o alerta para uma estranha bola de fogo que se aproximava velozmente em direcção ao quartel e, sem mais pensar, desencadearam forte tiroteio contra aquela “arma desconhecida”…

O intenso tiroteio e alguns rebentamentos eram perfeitamente audíveis no nosso quartel e, por isso, o Capitão Jerónimo mandou estabelecer contacto rádio com aquela Companhia, indagando ao seu homólogo:

- O que se passa? Estão a ser atacados? Precisam de ajuda?

Resposta do outro lado:

- Eh, pá, só sei que estamos a ser sobrevoados por uma coisa luminosa que tem um comportamento muito estranho…

Deve ser alguma arma nova que desconhecemos…

E o nosso Capitão:

- Mas…. estranha, porquê?

A voz nervosa do Capitão de Madina Xaquili, retorquia:

- Eh, pá, parece uma coisa teleguiada, ou com sensores! Quando disparamos para a sua frente, ela recua…Quando disparamos para a sua rectaguarda ela avança! Nunca vi coisa assim…

De novo o Capitão Jerónimo:

- Mas continua? Não conseguem acertar-lhe?

Do outro lado, a resposta:

- Bom, agora já há uns minutos que desapareceu.. Mas acho melhor continuarmos a bater a zona para nos certificarmos que não regressa…

Finalmente o Capitão Jerónimo, pôs termo ao diálogo:

- Ok… Parece que vocês já eliminaram a tal arma …Se precisarem de alguma ajuda, não hesites! Basta pedires… Por agora, boa sorte e terminado!

Escusado será dizer que o Capitão Jerónimo não sabia de nada do que se tinha passado minutos antes com o jagudi

Soubemos, anos mais tarde, contado pelo mesmo Capitão Jerónimo, que ainda ficou mais uns meses em Bissau depois do nosso regresso a Lisboa, que a Companhia de Madina Xaquili teve que pedir remuniciamento dos seus stocks de material de guerra…

Prolongaram o tiroteio até quase esgotarem as munições que tinham de reserva!

Rui Felício
Ex-Alf Mil Inf
CCAÇ 2405
Dulombi
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Notas de L.G.:

(1) Foi o próprio Paulo Raposo que me mandou estas histórias, à revelia do seu autor. Eis a mensagem telegráfica do nosso tertuliano de Montemor-O-Novo: "E aí vai mais fruta, é pró menino e prá menina"...

Há dias foi o próprio Rui Felício que me deu luz verde para continuar a publicar as "estórias de Dulombi" (a expressão é minha):

"Meu Caro Luis Graça: Fiquei surpreendido pelo facto do Paulo Raposo te ter enviado as minhas estóriss da Guiné...

"!Mandei-as para ele e para o David, mas achei que não devia inundar ou deteriorar o teu blogue com historietas muito pessoais e que pudesses achar descabidas aqui.

"Mas a publicação de uma delas demonstra que, afinal, achas que é merecedora de publicação.. Fico honrado com isso e agradeço-te a distinção.

"Aproveito para te dizer que o Vitor David me recomendou de não protelar muito o envio das minhas fotos (uma antiga e uma recente). Como ele sabe muito bem, sou muito desleixado com os arquivos destas coisas e pedi-lhe que me enviasse, dos arquivos dele, uma foto minha tirada na Guiné.

"Ele já me mandou uma há algum tempo e agora só estou à espera de encontrar uma actual para depois te enviar as duas conjuntamente.

"Um abraço. (Quero que penses numa forma de nos encontrarmos .. gostaria de te conhecer pessoalmente... E renovo os parabéns, já anteriormente dados, para o teu blog). Rui Felício."

(2) O título da estória é da minha responsabilidade

(3) Vd post de 12 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXV: Paulo Raposo e Rui Felício, dois novos camaradas (CCAÇ 2405, Galomaro, 1968/70)

(4) Vd. post de 8 de Junho de 2005 > Guiné 63/74 - LII: Antologia (2): A fábula do jagudi e do falcão

(5) Julgo tratar-se da CCAÇ 2446 que, juntamente com os periquitos da CCAÇ 12, sofreu um violento ataque, em Madina Xaquili, em 24 de Julho de 1969, ao anoitecer... A CCAÇ 12 teve um ferido grave; e a companhia madeirense dois mortos e vários feridos.

Vd post de 29 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXXVIII: O baptismo de fogo da CCAÇ 12, em farda nº 3, em Madina Xaquili (Julho de 1969)

Madina Xaquili ficava a sudoeste de Bafatá, na direcção do Rio Corubal. Vd. mapa de Padada.