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sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3155: Bibliografia (29): Ainda o "Rumo a Fulacunda" e o ex-Alf Mil Luís Rainha (Carlos Vinhal/Luís Rainha/Rui Ferreira)

1. Pretende o nosso Blogue ser um dos veículos para que seja reposta a verdade e o bom nome do ex-Alf Mil Luís Rainha, Comandante do Grupo de Comandos Centuriões, tratado indevidamente no livro Rumo a Fulacunda de autoria do nosso Tertuliano Rui A. Ferreira.

Assumimos esta responsabilidade porque:

i - No nosso Blogue foi dada certa notoriedade a este livro, embora tardiamente, já que o lançamento do mesmo se verificou no ano 2000.

ii - Parte dos nossos tertulianos, e leitores ex-combatentes da Guiné, o terão comprado para ler.

Felizmente, e porque temos algum cuidado em proteger as pessoas quando visadas com o nome próprio, não foi publicado no nosso Blogue qualquer parte do livro que ofendesse o bom nome do nosso camarada Luís Rainha ou outro qualquer ex-combatente.

Pensamos, com este poste dar por encerrada a nossa colaboração na compensação moral que o ex-Alf Mil Luís Rainha exigia e tinha direito, desejando que nunca mais se venham a verificar no nosso Blogue ou em algum livro bibliográfico da nossa Guerra Colonial, caso semelhante.

Carlos Vinhal
Co-editor


2. Mensagem do Luís Rainha (1), ex-Alf Mil, dirigida a Luís Graça em 25 de Agosto de 2008

Ex.mo Senhor Dr. Luis Graça

Dig.mo Criador, Editor e Administrador do Blogueforanadaevaotres

Assunto: Livro RUMO A FULACUNDA da autoria do T.Coronel Rui A. Ferreira

Chamo-me Luís Rainha, estive na Guiné, primeiro como Alf Mil do BCAV 705 e, mais tarde, nos Comandos do CTIG como Comandante do Gr Cmds Centuriões.

O que me leva a escrever-lhe é o recente conhecimento que tive da publicação do livro Rumo a Fulacunda escrito pelo Ten-Coronel Rui Alexandrino Ferreira, ao qual tem sido feita publicidade no Blogue.

Tinha, em tempos, ouvido algo sobre esse livro através do meu Camarada e Companheiro de Armas, Virgínio Briote e agora, de uma forma mais precisa através do Júlio Abreu, meu antigo Camarada dos Centuriões, que referiu ser o meu nome citado através de umas peripécias que, segundo o T.Coronel Rui A. Ferreira, teriam ocorrido comigo.

Naturalmente curioso entrei em contacto com a Editora Palimage, procurando saber onde o poderia adquirir. Dois ou três dias depois fui contactado pelo T.Coronel Rui A. Ferreira, que logo se prontificou a enviar-me a publicação.

Acabo de o ler e estou estupefacto ao ver o meu nome aparecer associado a eventuais factos que, segundo Rui Alexandrino Ferreira, teriam ocorrido comigo em determinada zona da Guiné.

Se tal facto ocorreu, quero afirmar aqui que não fui eu o protagonista nem me lembro de ter ouvido qualquer referência a tal acontecimento. Nem das minhas andanças pela Guiné me lembro de alguma vez me ter cruzado com o então Alferes Rui Ferreira.

Aliás, ao continuar a ler voltei a ficar surpreendido com uma passagem que o T.Coronel Rui A. Ferreira escreveu a respeito de um Camarada que muito bem conheci, o então Tenente Maurício Saraiva, que foi meu Instrutor e Camarada de Armas e que muito apreciei.

O senhor T.Coronel Rui A. Ferreira, ao telefone, referiu-me ter ouvido dizer que o Maurício Saraiva teria algures na Guiné um armazém ou arrecadação onde terá guardado armas apreendidas ao PAIGC e do qual se foi socorrendo ao longo da comissão nos Comandos, o que lhe terá servido para as numerosas condecorações que lhe foram atribuídas ao longo das comissões na Guiné e em Moçambique.

Como é que o senhor T. Coronel Rui Alexandrino Ferreira publica um livro com base em histórias que, segundo diz, terá ouvido?

O Maurício Saraiva (3) já cá não está para pedir as provas. Não me foi passada procuração pela mulher e filho para o defender, nem preciso, basta-me ter participado com ele em várias operações e ter apreciado as suas excepcionais qualidades de liderança em situações de combate, que aliás levaram as autoridades militares de então a condecorá-lo com Cruzes de Guerra, Valor Militar e a Torre e Espada.

Cabe aqui acrescentar um facto de que tive conhecimento muitos anos mais tarde. Após os acontecimentos do 11 de Março, o Maurício Saraiva pediu a demissão alegando não se reconhecer no Exército de então. Abandonou o País com um filho ainda pequeno, sem emprego e deficiente após meia dúzia de cirurgias de reconstituição de uma perna, resultante de uma mina A/P. E foi muito depois da situação político-militar estar estabilizada que, a pedido de vários Camaradas o Ministério do Exército procedeu à sua reintegração.

O livro Rumo a Fulacunda, para referir apenas as passagens que me dizem directamente respeito, não me pode assim merecer grande crédito. Custa-me a aceitar que um antigo Camarada escreva um livro com base no que se dizia na esplanada do Bento e, mais me custa ver os nomes de antigos Camaradas ligados a possíveis factos com os quais nada tiveram a ver. É pena, porque foi perdida uma oportunidade de abordar com seriedade e isenção aqueles anos dos inícios da Guerra na Guiné.

Dirijo-me ao blogue na convicção e na esperança de que uma parte dos leitores do Rumo a Fulacunda fazem parte da admirável Tertúlia de Camaradas da Guiné e, pelo menos nestes eu possa de alguma forma minorar os estragos que o livro me está a trazer.

Espero a compreensão dos editores e agradeço que publiquem esta pequena mensagem.

Recebam um abraço deste Camarada de armas que ainda hoje sofre por tudo aquilo que passámos.

Luís Manuel Nobreza D’Almeida Rainha
regisreginae@hotmail.com


3. Mensagem do nosso tertuliano Rui A. Ferreira, autor de Rumo a Fulacunda, com data de 21 de Agosto de 2008, enviada ao Luís Graça e já publicada no poste 3144 do dia 22 de Agosto passado, que publicamos novamente para esclarecimento total e definitivo deste lamentável incidente.

Assunto: Rumo a Fulacunda

Meu caro Luís

Todos os esclarecimentos para a verdade são importantes. Os que implicam com o bom-nome a que todos temos direito, ainda o são mais.

E tudo isto, porquê?

Sucedeu-me, e se assumo quanto a isso a responsabilidade do que escrevi, mantendo como verdadeiro e absolutamente coincidente com a realidade, sobre a actuação do grupo de comandos da Companhia de Comandos da Guiné, que em Dezembro de 1965, em reforço da CCAÇ 1420, deu de si fraca mostra do seu valor, mas lamentavelmente confundindo o grupo de Centuriões com o dos Vampiros, atribuí o seu comando ao então Alferes Rainha e não ao outro cujo nome não refiro, porque já não pertence a este mundo. (Quem pertenceu àquela Unidade sabe bem de quem se trata ou tratava).

Pela manifesta falta de rigor nessa troca de nomes de que efectivamente aquele se sente lesado, publicamente lhe peço as mais sentidas desculpas bem como lhe garanto que no próximo livro, que tenho em laboração referente à segunda comissão que cumpri na Guiné, as primeiras palavras serão para repor a verdade.

Agradeço que publiques esta mensagem o mais rápido que te for possível.

Um grande abraço,
Rui Ferreira

OBS:-Sublinhados da responsabilidade do editor CV
________________

Notas dos editores:

(1) - O Alf Mil Luís Rainha depois do C.O.M. em Mafra, fez um estágio de Educação Física Militar e frequentou com aproveitamento o Curso de Op Especiais.
Colocado no Regimento de Cavalaria 7, em Lisboa, foi incorporado no BCAV 705/CCAV 704 e mobilizado para a Guiné. Os primeiros meses passou-os na CCAV 704 e os restantes nos Comandos do CTIG.
Foi formado pelos então Major Monteiro Dinis, Cap Nuno Rubim, Alfs Mil Justino Godinho, Pombo dos Santos e Maurício Saraiva, Sargento Mário Dias e Furriel Miranda (participantes na Op. Tridente, com excepção dos dois primeiros) e foi contemporâneo dos Alfs António Vilaça, Neves da Silva, Vítor Caldeira, V. Briote e do então Cap Garcia Leandro.
Foram-lhe atribuídos dois louvores, um ao serviço do BCAV 705 e outro ao serviço dos Comandos do CTIG atribuído pelo Comandante Militar da Guiné e mais tarde foi condecorado com a Cruz de Guerra de 2.ª Classe.

(2) - Ver poste de 22 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3144: Dando a mão à palmatória (15): Alf Mil Rainha era comandante do Gr Cmds Centuriões (Rui A. Ferreira)

(3) - O editor Virgínio Briote tem em preparação um trabalho sobre o Cor Maurício Saraiva para a série do nosso Blogue, Tugas - Quem é quem.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3144: Dando a mão à palmatória (15): Alf Mil Rainha era comandante do Gr Cmds Centuriões (Rui A. Ferreira)

Autor: Rui Alexandrino Ferreira
Título: Rumo a Fulacunda. 2ª ed.(*)
Editora: Palimage Editores.
Local: Viseu.
Ano: 2003.[1ª ed., 2000].
Colecção: Imagens de Hoje.
Nº pp.: 415.
Preço: c. 20€.



1. Mensagem de Luís Manuel Nobreza D'Almeida Rainha, com data de 18 de Agosto de 2008, para Nuno Pestana, Palimage e Palimage Distribuição.

Assunto: Compra do Livro da Colecção Imagens de Hoje RUMO A FULACUNDA de Coronel Rui Alexandrino Ferreira

Ex.mos Senhores

Eu, Luis Manuel Nobreza D'Almeida Rainha (...), venho por este meio junto de vós para o seguinte:

Soube por intermédio de antigos Camaradas meus, ou melhor, por antigos AMIGOS de GUERRA e Camaradas, que existia um Livro que continha referências muito pouco abonatórias à cerca da minha pessoa, e cujo autor é (ou era) um Coronel Miliciano ( entrado para o Quadro), Rui Alexandrino Ferreira, denominado RUMO A FULACUNDA. Muito tenho procurado saber onde pára esse senhor para que venha publicamente desfazer tal blasfémia.

Fui Oficial Milicíano dos Comandos da Guiné Portuguesa entre 1963 e 1966. Já há algum tempo que ando a procura do Livro RUMO A FULACUNDA, como já acima referi, e por tal motivo venho junto de Vós para que me informem como o puderei obter.

Fui Condecorado com a CRUZ de GUERRA de 2ª Classe, por actos praticados em Combate, não fui para o Quadro porque não quis e o que não admito é que venha alguém afirmar e, o mais importante, publicar coisas que não são exactas.

Por tudo isto desejo uma reparação pública do sucedido.

Espero que façam o favor de me indicar a maneira como posso obter tal livro, o mais urgente possível.

Sem outro assunto me subscrevo com a maior consideração

Crachá dos Centuriões > Grupo de Comandos que combateu na Guiné sob o Comando do ex-Alf Mil Rainha (**), visado por engano pelo Rui A. Ferreira no seu livro Rumo a Fulacunda


2. Mensagem, com origem na editora Palimage, para Rui Alexandrino Ferreira, com data de 19 de Agosto de 2008.

Assunto: Fw: Compra do Livro da Colecção Imagens de Hoje "RUMO A FULACUNDA" de Coronel Rui Alexandrino Ferreira

Caríssimo Senhor Ten. Coronel Rui Ferreira

Recebi esta mensagem abaixo que lhe reenvio. Somente o Senhor Ten Coronel poderá dizer-me como proceder: creio que poderei indicar a este senhor que nos escreve como obter o livro: basta ir a uma qualquer livraria e solicitá-lo, já que as livrarias, se não dispuserem do livro, têm meios de o solicitar à distribuidora ou à editora.
Mas gostaria de saber a sua opinião sobre esta questão.

Envio-lhe agora a mensagem e ainda hoje, provavelmente, ligar-lhe-ei para conversarmos a este propósito.

Com um grande abraço,
Jorge Fragoso
Palimage
Apartado 10032
3031-601 Coimbra
http://www.palimage.pt/


3. Mensagem de Rui Ferreira, com data de 21 de Agosto de 2008, enviada ao nosso Editor Luís Graça

Assunto: Rumo a Fulacunda

Meu caro Luis

Todos os esclarecimentos para a verdade são importantes. Os que implicam com o bom nome a que todos temos direito, ainda o são mais.

E tudo isto, porquê?

Sucedeu-me, e se assumo quanto a isso a responsabilidade do que escrevi, mantendo como verdadeiro e absolutamente coincidente com a realidade, sobre a ctuação do grupo de comandos da Companhia de Comandos da Guiné, que em Dezembro de 1965, em reforço da CCaç 1420, deu de si fraca mostra do seu valor, mas lamentavelmente confundindo o grupo de Centuriões com o dos Vampiros, atribuí o seu comando ao então Alferes Rainha e não ao outro cujo nome não refiro, porque já não pertence a este mundo. (Quem pertenceu àquela Unidade sabe bem de quem se trata ou tratava).

Pela manifesta falta de rigor nessa troca de nomes de que efectivamente aquele se sente lesado, publicamente lhe peço as mais sentidas desculpas bem como lhe garanto que no próximo livro, que tenho em laboração referente à segunda comissão que cumpri na Guiné, as primeiras palavras serão para repor a verdade.

Agradeço-te publiques esta mensagem o mais rápido que te for possível.

Um grande abraço
Rui Ferreira

4. Porque a verdade deve ser reposta, sem fazer qualquer juízo de valor e sem mais comentários, aqui deixamos o pedido de esclarecimento do nosso camarada e querido tertuliano, Ten Coronel Rui Alexandrino Ferreira.

CV
_______________

Notas de CV

(*) - Vd. postes de

17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1285: Bibliografia de uma guerra (14): Rumo a Fulacunda, um best seller, de Rui Alexandrino Ferreira (Luís Graça)

1 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1718: Lendo de um fôlego o livro do Rui Ferreira, Rumo a Fulacunda (Virgínio Briote)

(**) - O Alf Mil Luís Rainha depois do C.O.M. em Mafra, fez um estágio de Educação Física Militar e frequentou com aproveitamento o Curso de Op Especiais.
Colocado no Regimento de Cavalaria 7, em Lisboa, foi incorporado no B CAV 705/CCAV 704 e mobilizado para a Guiné.
Os primeiros mese passou-os na CCAV 704 e os restantes nos Comandos do CTIG.
Foi formado pelos então Major Monteiro Dinis, Cap Nuno Rubim, Alfs Mil Justino Godinho, Pombo dos Santos e Maurício Saraiva, Sargento Mário Dias e Furriel Miranda (participantes na Op. Tridente, com excepção dos dois primeiros) e foi contemporâneo dos Alfs António Vilaça, Neves da Silva, Vítor Caldeira, V. Briote e Cap Garcia Leandro.
Foram-lhe atribuídos dois louvores, um do Comandante da Companhia de Cavalaria 704 e outro do Comandante Militar da Guiné e mais tarde foi condecorado com a Cruz de Guerra de 2.ª Classe.

sábado, 4 de agosto de 2007

Guiné 63/74 - P2026: Antologia (61): Rumo a Fulacunda: uma estória que ficou por contar ou a tragédia das CCAÇ 1420 e 1423 (Rui A. Ferreira)


Autor: Rui Alexandrino Ferreira
Título: Rumo a Fulacunda. 2ª ed. (1)
Editora: Palimage Editores.
Local: Viseu.
Ano: 2003. [1ª ed., 2000].
Colecção: Imagens de Hoje.
Nº pp.: 415.
Preço: c. 20€.




1. Excerto do livro de memórias Rumo a Fulacunda, do nosso camarada Rui Alexandrino Ferreira (2003), pp. 37/40. (Subtítulos e comentário de L.G. Fixação do texto: co-editor vb). 

É uma singela homenagem do nosso blogue ao Rui, que hoje faz 64 anos. Longa vida, Rui (ou Ruizinho, para os amigos mais íntimos)!



(...) Na madrugada do dia sete de Outubro, lá iniciaram a marcha para o objectivo, de início em bicha de pirilau, uma com a outra logo a morder-lhe os calcanhares.

À medida que o tempo ia passando e o aquartelamento ia ficando mais longe, o passo foi-se tomando mais lento, os ouvidos mais apurados, os olhos mais atentos, todos os sentidos em alerta permanente, numa concentração profunda.

Pausadamente!...Penosamente, lá iam avançando... Subitamente, com o inesperado habitual, deflagrou o tiroteio. O cantar característico das costureirinhas turras (pistola metralhadoras PPSH) feria os ouvidos e eriçava os nervos.

Milagrosamente não houve nem mortos nem feridos a lamentar, de início. Na frente, que entretanto já havia sido, pelo Capitão Pita Alves, dividida em três colunas de progressão, a que se encontrava mais à direita, onde se integrava o Alferes Vasco Cardoso, directamente visada pelo ataque, ficou, imobilizada, retida pelo fogo das armas ligeiras e metralhadoras do inimigo.
- Tomar posições de defesa! - gritou o Alferes.
- Reagrupar à retaguarda! - comandava bem lá de trás o maior da 23, Capitão de Artilharia Pita Alves, estratega e Comandante-em-Chefe da operação.

Seis homens isolados e perdidos na frente

No meio da confusão que se instalou e que a diversidade das pseudo ordens, opiniões, alvitres e sugestões que se seguiram mais agravou, as colunas viram-se partidas em vários segmentos. Numa das frentes o Alferes e mais cinco homens fixados pelo intenso tiroteio turra, não conseguiam juntar-se à retaguarda ou reintegrar-se na força.

Por seu lado, ninguém ali, conseguia esboçar qualquer tipo de reacção. Sufocados pelo tiroteio, desorientados, metidos cegamente na boca do lobo, impreparados para um confronto tão desigual, sem que alguém tivesse conseguido pôr ordem naquela periquitada, o grosso das Companhias retirou da zona, dispersa e desordenadamente.

Os seus elementos foram chegando a Fulacunda, desfasados no tempo e em pequenos grupos isolados. Uns quantos agora..., outros tantos tempos depois..., ainda mais alguns quando já se pensava no pior.

Isolados frente aos turras permaneciam ainda vivos os seis transviados. Batiam-se com o desespero e a raiva de quem luta pela sobrevivência. Nado e criado em África, Vasco Cardoso, era dos elementos mais válidos da Companhia. Habituado ao calor e à humidade, entendia-se perfeitamente com o clima e não estranhava o mato. Nele se movia, habitualmente, com o desembaraço dum lisboeta no Chiado. Apaixonado caçador como quase todo o bom africano, este era-lhe familiar. O instinto de conservação levava-o debalde, à busca de uma qualquer solução.

Ia adiando o desastre que já pressentia, fazendo a um tempo pagar bem caro o preço da sua vida e dando oportunidade a que algo sucedesse. Poucos que eram, mantinham ainda em respeito o mais que numeroso grupo inimigo, esperançados na ajuda que certamente lhes prestaria alguma das Companhias.
Que nunca chegou!... Foram-se esgotando as munições. Aos poucos... Aos poucos foram entrando em desespero...

Numa tentativa suicida para inverter a situação romperam o contacto em louca e desorientada correria. Tendo conseguido estabelecer alguma distância entre o minúsculo grupo que constituíam e o numeroso efectivo que o perseguia, a trégua de pouco lhes serviu.

E é pelo relato do Soldado José Vieira Lauro, único sobrevivente daquele grupo que se pode aquilatar a vastidão do desastre.

Perdidas as noções do tempo e das distâncias, perseguidos, acossados, encurralados, cercados, sem pausas para pensar ou tentar coordenar ideias, sem rumo e sem direcção, completamente desorientados, sem saber sequer onde estavam, na maior confusão sobre a localização do aquartelamento, indecisos para onde ou por onde progredir, durante quatro longos, sacrificados, penosos e infernais dias jogaram tragicamente ao 'gato e ao rato' em manifesta desigualdade. Desigualdade que se foi agravando com o desenrolar do tempo e com a passagem dos dias, cada vez mais sujeitos à hostilidade dum mar verde que os envolvia, tolhia e amedrontava, cada vez mais rejeitados por uma selva que os não reconhecia e onde não tinham lugar.

Sem hipóteses de sobrevivência, facilmente referenciados dada a impossibilidade de integração ou mesmo de dissimulação no meio ambiente que os rodeava, pressionados pela perseguição feroz que o inimigo lhes movia, foram-se desgastando fisicamente e vendo definhar a pouca força moral que ainda restava.

As duas primeiras baixas do grupo

A própria fé que um acordar redentor fizesse com que, em vez da trágica realidade, da dura e cruel situação em que se encontravam, nada mais fosse que um tremendo pesadelo, se desvaneceu.

Afastada por inverosímil e absurda essa hipótese, sem o menor sinal de ajuda, sem a mínima sombra dum apoio, sentiam que o mundo donde provinham, completamente alheado das suas fraquezas, se tinha esquecido das suas angústias e mais grave ainda já duvidava das suas existências.

Abandonados, isolados, completamente entregues a si próprios e às desventuras que o destino lhes reservara, vencidos pelo desânimo, vergados pelo infortúnio, progressivamente se quebrou a pouca resistência que sobrava.

Já só um milagre os salvaria da morte. Milagre que não aconteceu... Sustidos pelo rio que lhes barrava o caminho, encerradas assim as já poucas saídas que lhes restavam, tudo começava a consumar-se.

Uma bala mais certeira trespassou, no segundo dia, um deles, provocando a primeira baixa no grupo...

O corpo para ali ficou abandonado, repasto para os bichos!... Ao terceiro dia caiu o segundo. Mais um despojo que para ali ficou esquecido a marcar tragicamente a transitoriedade da vida. Tal como o primeiro o seu corpo para ali ficou de qualquer maneira, insepulto.

O desespero leva a dois suicídios

No último dia em que funestamente tudo se consumou, um dos sobreviventes entrou em desespero. Não conseguindo suportar todo aquele sofrimento, toda aquela imensa pressão, no limite do controlo sobre as já pouco lúcidas faculdades mentais, em absoluta crise emocional, sem conseguir sequer imaginar uma saída redentora, só a morte se lhe afigurava como solução libertadora. Profundamente deprimido e a caminho da alienação total, pôs termo à vida e ao sofrimento, com um tiro na cabeça.

No auge do desespero e numa tentativa suicida, à partida absolutamente condenada ao fracasso, um tentou a salvação através do rio, por onde se meteu...para nunca mais ser visto. Jaz com certeza morto, algures... E se não teve por benção e por morte o afogamento, serviu de repasto aos crocodilos no que certamente terá sido um final dramático.

A morte do Alferes Vaco Vardoso e a rendição do Soldado José Vieira Lauro

O Alferes foi o último a ser abatido e o Soldado Lauro, largou a arma e entregou-se… De nada lhe serviria o sacrifício da vida. Teve início então o longo calvário que se seguiu.

A caminhada rumo à fronteira, só atingida ao fim de vinte e dois dias de marcha, onde as canseiras, a dor e o sofrimento lhe causavam bem menor mágoa que o sentimento de culpa, o profundo abatimento e a vergonha de se sentir prisioneiro. A esse angustiante estado de alma se aliava o enorme desconforto motivado pelo receio do desconhecido, agudizado pela incerteza do futuro.

Só, inacreditavelmente só, como nunca se tinha sentido, possuído por uma tristeza mais negra que a pele dos próprios captores que o conduziam, caminhava como se fosse um autómato. Da fronteira para Conackri, o transporte em viatura, a entrevista com o próprio Amilcar Cabral, a recusa em ler para a rádio Argel, onde alguns compatriotas então brilhavam, fosse o que fosse contra Portugal, a clausura numa prisão, num antigo forte colonial Francês, na cidade de Kindia, cerca de uma centena de quilómetros a nordeste de Conackri.

Aí, onde sob o enorme portão fronteiriço se podia ler Maison de Force de Kindia foi encontrar o 1.° Sargento Piloto-aviador Sousa Lobato, primeiro militar português que o PAIGC aprisionou quando, no sul da província, teve de efectuar uma aterragem de emergência numa bolanha, corria o ano de 1963.

Permaneceu em cativeiro, trinta longos meses. Foi libertado num gesto de boa-vontade, em 1968 e entregue à Cruz Vermelha Internacional que o fez chegar a Lisboa.

Não esqueceu os tempos maus que por lá passou mas nunca foi alvo de procedimentos vexatórios ou de maus tratos. Era um prisioneiro de guerra, assim foi considerado e como tal tratado. Nesse aspecto e unicamente reportando-me à Guiné, se alguém teve razões de queixa, não foi seguramente a tropa portuguesa. O próprio Amílcar Cabral nunca se cansou de afirmar que a luta era contra o Regime Colonialista que então detinha o poder em Portugal e nunca contra o povo português.

Entretanto em Fulacunda, procedia-se ao rescaldo da operação. Formadas as Companhias já a meio da tarde, quando se começou a recear que mais ninguém conseguisse regressar, contavam-se os efectivos.

- Seis! Faltavam seis homens! Dois da 1420 (o Alferes Vasco Cardoso e o Soldado-telefonista n.o 1020/64 Armando Leite Marinho)e quatro da 1423(o 1.° Cabo Fernando de Jesus Alves e os Soldados José Ferreira Araújo, Armando Santos e José Vieira Lauro. (...)

2. Comentário do editor L.G.:

Rumo a Fulacunda era o grito de guerra, muito pouco guerreiro, da Companhia de Caçadores 1420, em cujas fileiras ingressou o Alf Mil Rui Ferreira, substituindo um camarada desaparecido em combate, o Vasco Cardoso, nado e criado em Angola, como o Rui.

Neste episódio o Rui reconstitui, com maestria e grande tensão narrativa, as trágicas circunstâncias em que o Alf Mil Vasco Cardoso, à frente de um pequeno grupo de homens, perseguidos durante três dias por um numeroso grupo IN, morreu, depois de ver morrer mais quatro homens ... O sexto elemento, o soldado Lauro, rendeu-se e foi feito prisioneiro. Foi o único do grupo que restou , para nos contar esta, que é uma das mais trágicas estórias da guerra da Guiné.
______________

Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1285: Bibliografia de uma guerra (14): Rumo a Fulacunda, um best seller, de Rui Alexandrino Ferreira (Luís Graça)

quinta-feira, 31 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1804: Bibliografia (8): Rumo a Fulacunda, de Rui Ferreira: Em defesa do bom nome dos velhos comandos (João Parreira)



Emblemas do Grupos de Comandos Fantasmas (1965/66) e Apaches ( 1966) .

Fotos: Tantas Vidas, blogue de Virgínio Briote (com a devida vénia).


1. Texto do João Parreira, ex-furriel miliciano comando dos Grupos de Comandos Os Fantasmas e Os Apaches (1965/66) (1).


Caro Camarada de Tertúlia, Coronel Rui Alexandrino Ferreira,

Sobre o seu livro Rumo a Fulacunda (2), extremamente interessante e elucidativo - e como tal faço votos para que sejam vendidos muitos exemplares - gostaria, se me permite, e por me parecer pertinente, fazer apenas algumas considerações, caso contrário não ficaria bem com a minha consciência (3). Para isso vou transcrevo algumas, breves, partes do livro.


Estive nos Comandos em Brá, oficialmente desde 11 de Fevereiro de 1965 (excepto entre 21 de Fevereiro e 14 de Março de 1965) no Grupo Fantasmas (1º. Curso) e, depois da sua extinção, no Apaches (2º. Curso).

Fiquei neste grupo também até à sua extinção uma vez que em 30 de Junho de 1966 chegou a Brá a 3ª Companhia de Comandos que recebeu instrução em Lamego, no CIOE, e foi mobilizada no RAL 1.

Ainda foi ministrado na Guiné um 3º Curso que terminou a 28 de Abril de 1966, ou seja 2 meses antes de chegar a 3ª CCmds, e no qual participaram 14 soldados, quatro 1ºs. Cabos, o Fur Jorge Ázera e o 2º Sgto Galileu Cordeiro.

Fiquei em Brá até 11 de Agosto de 1996, tendo regressado à Metrópole em 13 do mesmo mês.

Antes de ingressar no primeiro deles, de livre vontade, fui operacional da CART 730, onde fui colocado em 1964 após ter terminado com aproveitamento o treino físico do Curso de Operações Especiais (no CMEF) em Mafra e depois no CIOE em Penude (Lamego), e que na altura era referido como rangers.


1) Voltando ao livro, diz Rui Alexandrino Ferreira, na página 107: “Num à parte, para melhor compreensão da situação, refiro ter a dita Companhia de Comandos uma péssima fama entre a tropa macaca (era assim que estes se referiam às Companhias normais)".

1a) No que concerne à frade "para melhor compreensão da situação..... péssima fama", perdou-me o meu pensamento, mas não posso deixar de levar em conta que este nome depreciativo péssima foi muito provavelmente inventado para denegrir o bom nome dos Comandos e satisfazer eventuais ódios ocultos de meia dúzia de iluminados no contexto da Guiné.

Digo isto, salvo melhor opinião, porque tendo percorrido praticamente toda aquela Província, como é óbvio, e estado em contacto directo com imensas Companhias com as quais fizemos várias operações, nunca nenhum elemento dos meus Grupos sentiu qualquer inimizade, muito bem pelo contrário, pois não raras vezes foram enviados para reforçar Companhias que eram mais atingidas pelo IN.

1b) Tropa macaca: desconheço quem criou ou pôs a correr aquele nome, se é que de facto existiu; no entanto posso assegurar-lhe, se é que isso vale alguma coisa, que durante o período atrás referido, e como é natural, confraternizei em Bissau não só com camaradas doGrupos, desde alferes a soldados, como também de outras Unidades não só do Exército como da Marinha e da Força Aérea.

Nesses contactos nunca ouvi ninguém dos Grupos referir-se ou mencionar a tropa, que afinal éramos todos nós, como tropa macaca.

No que concerne aos outros dois ramos [, a Marinha e a Força Aérea,], nunca ouvi, igualmente, referirem-se ao Exército com aquele nome. Também em contacto directo nos aquartelamentos ou no mato com as imensas Companhias que nos fizeram ao longo do tempo a cobertura de ida e regresso, nunca ouvi no meu tempo, repito, qualquer elemento dos Grupos referirem-se a qualquer camarada do Exército como Vocês são tropa macaca;


2) Logo a seguir o autor do livro mencion: “Corria à boca cheia que num daqueles bambúrrios da sorte que acontecem uma vez na vida teve a dita cuja, a taluda, ou seja a inacreditável ajuda do acaso, ao dar de caras com uma mal protegida mas muito bem aprovisionada arrecadação turra, cheia de material de guerra” (página 107).

2a) Na realidade, quando às 19H00 se partiu para essa operação, a mesma estava devidamente referenciada e não a dita cuja, a taluda, ou seja a inacreditável ajuda do acaso, ao dar de caras...

2b) e, na mesma linha, com uma "mal protegida"... A informação emanada das Chefias Militares era que a referida base era composta por 80 homens bem armados ("mal protegida" ?).

De tal maneira estava a base mal protegida, como é mencionado, que o IN infligiu ao grupo, composto de 22 elementos, um morto, dois feridos graves que foram evacuados de heli para o Hospital de Bissau e mais 6 feridos ligeiros.

Tal como o Senhor Coronel, também fui ferido em combate não duas mas três vezes, tendo numa delas sido evacuado.

3) Seguidamente refere: “Guardadas, em recato, umas dezenas de armas que ali existiam, teriam entregue só uma parte e a partir de então, passou o Tenente Saraiva que a comandava e que foi no seguimento da Comissão promovido por distinção a Capitão, a afirmar alto e bom som, na messe de Oficiais, em Bissau que iria sair para o mato e só de lá regressava quando capturasse determinada quantidade de armamento, promessa que religiosamente cumpria” (página 107).


3a) “Guardadas em recato, umas dezenas de armas .....entregue só uma parte”... Acho muito difícil e pouco provável que o tenha feito sem o conhecimento dos elementos do Grupo, por outro lado como as transportaria escondidas, e onde as guardaria em recato e, por conseguinte sózinho, umas dezenas de armas: no armário do quarto, debaixo da cama, no QG, numa palhota secreta, em que lugar ?


3b)... “e a partir de então, passou o Tenente Saraiva que a comandava e que foi no seguimento da Comissão promovido por distinção a Capitão” (...) (página 107).

Para esse efeito o referido oficial deslocou-se a Portugal no dia 10 de Junho de 1965 (e foi também condecorado) tendo depois regressado à Guiné.

3c) “Afirmar alto e bom som, na messe Oficiais, em Bissau, que iria sair para o mato e só de lá
regressava quando capturasse determinada quantidade de armamento, promessa que religiosamente cumpria” (págima 107).

Parece-me injusto que na messe dos Oficiais lhe tenham posto na boca estas afirmações uma vez que nunca poderia satisfazer a promessa que religiosamente cumpria uma vez que o Grupo não efectuou mais operações em virtude de, pouco tempo depois, ter sido extinto.

Infelizmente, desde há 5 anos que o referido Oficial não se encontra no mundo dos vivos.

Respeitosos cumprimentos do tertuliano João Parreira

2. Comentário do editor do blogue:

João e Rui:

Estas questões do bom nome e da honra (do indivíduo ou do seu grupo de pertença), são deveras delicadas... Mas eu concordo que se venha a terreiro defender a memória dos camaradas com quem se conviveu e com quem se lutou... Acho bonito que o João venha defender a memória do seu camarada Saraiva, tanto mais que ele já não está cá, neste vale de lágrimas, para se defender...

Escusado será dizer que eu acho bem que que se cultive, no nosso blogue, o espírito crítico, a defesa da verdade ou valores como a liberdade de pensamento e de expressão... A regra é: podemos discordar, saudavelmente, uns dos outros, sem que isso descambe num conflito patogénico, disruptivo, disfuncional...

Em matéria de opiniões, cada um tem as suas e deve defendê-las, com elegância, inteligência, bom gosto, bom senso, etc. Já a verdade dos factos é um princípio fundamental do nosso blogue... A menos que se trate de textos ficcionados, devemos ser intransigentes neste ponto. É claro que hoje a memória pode atraiçoar-nos... E memso no passado, é bom não esquever que tínhamos uma visão parcelar das coisas... Quantas vezes não emprenhámos pelos ouvidos!

É claro que o livro do Rui, muito interessante e de leitura apaixonante em muitas das suas partes, foi concebido e elaborado num contexto que nada tem a ver com o nosso blogue ou a nossa tertúlia. É um livro, de memórias, está no mercado livreiro, está nas bibliotecas, pertence agora aos leitores e ao público...

É, de resto, nessa qualidade de leitor que o João aqui vem, a terreiro, pôr os pontos nos ii em relação dois ou três parágrafos referentes a um Grupo de Comandos. Se ele tiver razão, o Rui poderá ainda ir corrigir os parágrafos em causa (página 107), na 3ª edição, que eu espero esteja para breve... Mas o autor é sempre soberano...

Fiquem, os dois, com o meu apreço e a minha amizade. L.G.

PS - O João esqueceu-se que, entre camaradas, nesta caserna virtual, tratamo-nos todos por tu...

___________

Notas de L.G.:


(1) Vd. post anteriores do (ou referentes ao) João Parreira:

3 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74- CCCXXX: Velhos comandos de Brá: Parreira, o últimos dos três mosqueteiros

6 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXLI: O 'puto' Parreira, do grupo de comandos Apaches (1965/66)

20 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXLIII: Com a CART 730 em Bissorã e Olossato (1965) (João Parreira)

12 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P868: Diabruras dos comandos (João Parreira)

13 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXIII: O baile dos finalistas do Liceu de Bissau de 1965 (João Parreira)

23 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXXIV: Lista dos comandos africanos (1ª, 2ª e 3ª CCmds) executados pelo PAIGC (João Parreira)

19 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1381: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu regresso (6): comandos de Brá em 1965, crime e castigo (João S. Parreira)

20 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1384: Com o Alferes Comando Saraiva e com o médico e cantor Luiz Goes em Madina do Boé (António de Figueiredo Pinto)

21 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1389: Testemunhos sobre o Marcelino da Mata a pedido de sua filha Irene (5): Comandos A. Mendes & João S. Parreira

6 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1405: Antologia (56): Marcelino da Mata, o último guerreiro do Império (João Parreira)

4 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1493: Estórias de Madina do Boé (António Pinto) (2): Eu e o Furriel Comando João Parreira

12 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1584: Um choro no mato e as (des)venturas de um futuro comando em Bissorã (João Parreira)

29 de Abril de 2007 > Guiné 63/74: P1710: Tertúlia: Encontro de Pombal (2): Saudades (João Parreira / António Pinto / Vitor Junqueira)


(2) Vd. post de 17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1285: Bibliografia de uma guerra (14): Rumo a Fulacunda, um best seller, de Rui Alexandrino Ferreira (Luís Graça)


(3) Vd. também a apreciação crítica do Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando :

1 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1718: Lendo de um fôlego o livro do Rui Ferreira, Rumo a Fulacunda (Virgínio Briote)

(...) "Do resto, emites algumas opiniões generalizadas sobre os cmds, opiniões a que tens evidentemente todo o direito. "Que corria à boca cheia que num bambúrrio de sorte....", que entraram numa arrecadação, coisa e tal, e que aquilo durou até ao fim da comissão...E perguntas-te a ti próprio se terá sido verdade. "Actuações terrivelmente confrangedoras..." "E se operacionalmente não era aquela CCmds um valor efectivo nem o podia ser nunca, pois ...., mal preparados..." Opiniões.

"A CCmds actuou de Jun 64 a Jun 66. Os efectivos rondaram os 200 homens. Tiveram 12 mortos e 19 feridos. Cerca de 70 armas capturadas, para falar só de armas. Foram estes os resultados. Não são opiniões.

"Àparte esta questão, repito, caro Rui, tive muito gosto em ler o livro. Rever aquelas terras, página a página, os nomes dos intervenientes quase todos meus conhecidos, foi uma leitura muito interessante.Caro Rui Ferreira, um grande abraço e até um dia destes" (...).

terça-feira, 15 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1761: A floresta-galeria na escrita de Rui Ferreira


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > 1969 > Vista aérea: o esplendedor (e o terror) do Rio Geba e das suas margens.

Foto: © Humberto Reis (2005). Direitos reservados.

1. Mensagem do nosso camarada Rui Ferreira, coronel na situção de reforma, residente em Viseu, autor do livro de memórias Rumo a Fulacunda (1) e que, apesar dos actuais problemas de saúde, nos deu a honra e o prazer da sua presença em Pombal, no passado dia 28 de Abril de 2007:

Meu caro Luís:

Passei a olhar com mais respeito e a dar mais valor ao meu computador quando aderi de alma e coração à nossa tertília.

Todos os dias cá subo ao meu sotão onde num soberbo aproveitamento me fiz rodear das minhas recordações, livros, discos e cassetes que constituem o meu mundo e acabo fatalmente a abrir o correio e a ver as novas do nosso contentamento.

Tenho todo o gosto que um dia tu ou qualquer um dos outros que, por acaso ou não, visite Viseu me dê o prazer de me fazer uma visita. Aqui fica o convite.

Mas não só por isso te estou a contactar. Penso que para além das historias, peripécias e acontecimentos por que duma maneira geral todos fomos passando e que são obviamente muito importantes e têm por direito o seu lugar garantido, poderíamos alargar horizontes com a introdução de novos temas.

E para te falar deles começaria por sugerir que de uma forma absolutamente pessoal cada um se referisse como viu e como viveu e sentiu quando confrontado com coisas tão simples como os obstáculos naturais, o terreno, o clima, a humidade, o calor, as chuvas tropicais, a floresta, a guerra de minas, o culto da velhice nas sociedades africanas, o choro, a grandiosidade do nascer ou a beleza do pôr do Sol em África, a existência de Deus, o cheiro da terra depois das primeiras chuvas, o silêncio de morte, o medo, a angústia duma mutilação, ou mais terra a terra sobre o anexo do Hospital Militar de Campolide, a inadaptação da hierarquia militar à guerra de Àfrica, as comissões dos filhos e as dos enteados, enfim um nunca mais acabar de assuntos possíveis.

E para inaugurar, se assim o entenderes aqui te vou transcrever o que sobre a floresta escrevi
( In Rumo a Fulacunda, pag 218):

(...) a floresta- essa sim bem especial, pois, em alguns recantos perdidos e remotos da nossa área de acção, ela sendo senhora e soberana, em absoluto interferia na nossa actividade. Virgem, brava e selvagem, sôfrega na conquista dos espaços devolutos, desgovernada na expansão, abandonada ao acaso, perdida nas vastidões inocupadas das terras que não eram de ninguém, intocada, altiva e serena, misteriosa e sombria, era de um profundo espanto observar o contraste entre o soturno melancólico das sombras, dos escuros e dos tons de cinzento e negro do seu interior face ao luxo e ao esplendor do verde deslumbrante que ao Sol se expunha.

Crescendo ao deus-dará, resistindo à penetração e indiferente ao correr dos anos, numa amalgama de formas e tamanhos, numa profusão de variedades e numa imensidão de espécies que, disputando o mesmo espaço, a um tempo se irmanavam no mesmo propósito e antagonizavam na conquista da luz que mais não era que a própria vida.

Enlaçando-se, acomodando-se, coabitando, lutando e crescendo, lado a lado, fetos e arbustos, lianas e trepadeiras, canaviais e palmeiras, ramagens e raízes, frutos e flores, folhagens de recorte tão diverso, do ínfimo ao grandioso, do ridículo ao monumental, árvores novas e de pequeno porte, espinheiras, enfim um verdadeiro e absoluto matagal, intrincado e sem sentido, desordenado e sem solução.

Sobressaindo, tudo culminando e suplantando as demais, majestosas e frondosas, dominando em seu redor, se erguiam árvores de tão grande como inimaginado porte. Junto delas nos sentiamos pouco menos que insectos numa confrontação entre as suas impensáveis alturas e a nossa ridícula pequenez, entre a sua longevidade milenar e a nossa curta passagem por este mundo de Deus.

Na floresta não eramos mais que ínfimos seres desambientados e no seu interior, tão denso como se numa noite cerrada se tivesse entrado, pavorosamente tão sombrio, o que negro já era, se voltava a sentir não os mesmos infantis e inocentes temores da meninice ao escuro associados, mas um imenso e real pavor, tanto mais assustador quanto consciente, face ao desconhecido e misterioso. (...).


E por aqui me fico por hoje . Num grande abraço toda a consideração e a amizade do
Rui

________

Nota de L.G.:

(1) Sobre o autor e o livro, vd posts:

17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1285: Bibliografia de uma guerra (14): Rumo a Fulacunda, um best seller, de Rui Alexandrino Ferreira (Luís Graça)


1 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1718: Lendo de um fôlego o livro do Rui Ferreira, Rumo a Fulacunda (Virgínio Briote)

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Guiné 63/74 - P1285: Bibliografia de uma guerra (14): Rumo a Fulacunda, um best seller, de Rui Alexandrino Ferreira (Luís Graça)






FERREIRA, Rui Alexandrino - Rumo a Fulacunda. 2ª ed. Viseu: Palimage Editores. 2003. [1ª ed., 2000]. (Colecção Imagens de Hoje). 415 pp. Preço: c. 20€.


Recebi há duas ou três semanas, pelo correio, um exemplar autografado do livro acima referenciado. Rumo a Fulacunda era o grito de guerra, muito pouco guerreiro, da Companhia de Caçadores 1420, em cujas fileiras ingressou o Alf Mil Ferreira, substituindo um camarada "desaparecido em combate", o Vasco Cardoso, nado e criado em Angola, como o Rui. Rumo a Fulacunda é o título, irónico, da "história, igual a tantas [outras], da comissão dum Alferes por terras da Guiné", escreve o autor... O livro é também uma crítica mordaz da instituição militar da época onde a falta de formação, na arte e na ciência de comando, era por mais evidente numa boa parte dos oficiais do quadro permanente, incluindo os comandantes de companhia (como era o caso da CCAÇ 2402).

Já em tempos tínhamos aqui feito uma breve recensão desta obra, pelo mão do nosso camarada Jorge Santos (1). Por outro lado, no encontro da nossa tertúlia, na Ameira, em 14 de Outubro de 2006 (2), o Carlos Santos - ex-Furriel Míl da CCAÇ 2701, sedeada em Saltinho (1970/72) - falou deste livro do antigo alferes miliciano, depois capitão e agora coronel, na reforma, Rui Alexandrino Ferreira, em luta hoje contra um inimigo mais traiçoeiro e poderoso que é a doença... Um exemplar do livro circulou entre os presentes, com muita curiosidade e apreço.

Montemor-o-Novo > Ameira > Hotel da Ameira > 14 de Outubro de 2006 > O Virgínio Briote folheando um exemplar do livro Rumo a Fulacunda, da autoria do nosso camarada Rui Alexandrino Ferreira (2).
Fotos: © Luís Graça (2006) . Direitos reservados.



A obra pode ser adquirida através do editor ou no mercado livreiro: a Palimage (3) é uma jovem editora, criada em 1997, em Viseu, e é um caso de sucesso, pela quantidade e qualidade das obras que tem lançado, originais de autores portugueses, nos mais diversos domínios, desde a crónica da guerra colonial (como é aqui o caso), até à ficção, à poesia, à história, à sociologia, etc.

Já depois do encontro da Ameira, o Rui teve a amabilidade de me mandar, pelo correio, um exemplar da o seu livro, com um dedicatória que muito me sensibilizou. Não posso deixar de a reproduzir aqui, tanto mais que ela não é estritamente pessoal:

"Ao ilustre camarada e antigo combatente, Luís Graça, na esperança e na expectativa de o poder ajudar no muito que tem feito para não deixar cair no esquecimento o marco que influenciaria a vida colectiva dos Portugueses na segunda metade do Séc XX, que já lá vai - a guerra colonial.

"Com a alegria de quem sente renascer uma sã e leal amizade, no desejo de reviver os nossos vinte anos, e sentir o orgulho de termos sido o que fomos e o orgulho de o termos feito. Com um grande abraço do Rui A. Ferreira, Viseu, 23 /Out /2006".

Peço desculpa ao Rui se me enganei numa palavra ou outra. Habituado que estou à letra de médico, não tive grande dificuldade em decifrar a tua mensagem, escrita em letra muito miudinha e estilizada. Creio que captei bem a tua mensagem, que é um estímulo poderoso para todos nós, para toda a nossa tertúlia, e para todos os demais camaradas que combateram na Guiné, e que lutam pelo direito à memória...

O livro do Rui é já um best-seller, vai na segunda edição, e é neste momento o meu livro de cabeceira. O Rui, com duas comissões na Guiné, primeiro como Alferes Miliciano (CCAÇ 1420, 1965/67) e depois como Capitão Miliciano (CCAÇ 18, 1970/72), é um profundo conhecedor da Guiné e das suas gentes. Esta obra - apresentada pela editora como crónica de guerra (colonial) - tem, como particularidade, o facto de ser sido prefaciada por dois dos furriéis milicianos do Grupo de Combate do Alf Mil Ferreira, na CCAÇ 1420 - O José da Silva Monteiro e o Carlos Luís Martins Rios. O Monteiro explica-nos por que é que Rumo a Fulacunda é sobretudo um hino à amizade...

Prometo em breve voltar a esta publicação, fazendo uma análise mais detalhada e crítica da obra. Este post pretende ser uma homenagem ao nosso camarada e, mais do que isso, um acto singelo de solidariedade. Ficam aqui duas sugestões: (i) ponham o livro do Rui no saco do Pai Natal; (ii) vamos propor ao Rui que aceite o nosso convite para, desde já, integrar a nossa tertúlia e autorizar-nos a publicação, no blogue, de um ou dois pequenos excertos do seu livro. Até lá, força, Rui!... Será um privilégio também podermos vir a ser considerados, por ti, como parte integrante da tua frota de amigos!...
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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 12 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - CVII: Bibliografia de uma guerra (3) (Jorge Santos)

(3) Vd. auto-apresentação da Palimage:

"Quem somos

"Um livro: Um amigo... dedicado. A Palimage Editores foi fundada na cidade de Viseu em 1997. Resulta da concretização de um sonho antigo daqueles que pensam a edição e a divulgação do livro como um verdadeiro projecto de desenvolvimento cultural. A poesia e o romance, os trabalhos científicos, ensaios nas diversas áreas do saber e imagem são os géneros e temas que elege como principais objectos de publicação. Lentamente, livro a livro, a Palimage Editores vai conquistando o seu espaço na implantação sucessiva das obras editadas e na sua distribuição por todo o País e estrangeiro. Livros que marcam o panorama editorial pela qualidade e beleza dos seus conteúdos, pelo cuidado e atenção na forma, pelo rigor e talento das obras de investigação.



"A Palimage Editores valoriza sobretudo a profunda ligação da obra ao seu autor. Assim, é dada nestas páginas uma atenção muito especial aos criadores, investigadores e artistas, tornando especialmente dinâmico o vínculo anímico do autor com os seus leitores. Autores e Editora apresentam-se a todo um público leitor através das obras que criam e editam. Toda a crítica é bem vinda, toda a sugestão é bem aceite... A Editora".