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sábado, 23 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18769: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulos 57 e 58: futeboladas... e férias na metrópole, em junho de 1973... o pai, biológico, vem despedir-se dele ao aeroporto de Pedras Rubras, no Porto, com a tia e a avó...Queixas em relação ao SPM: a correspondência que não chega ao seu destino...


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > As nossas "futeboladas"...

Foto (e legendagem): © Jorge Pinto (2014). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da pré-publicação do próximo livro (na versão manuscrita, "Em Nome da Pátria") do nosso camarada José Claudino Silva [foto atual à esquerda] (*):

(i) nasceu em Penafiel, em 1950, "de pai incógnito" (como se dizia na época e infelizmente se continua a dizer, nos dias de hoje), tendo sido criado pela avó materna;

(ii) trabalhou e viveu em Amarante, residindo hoje na Lixa, Felgueiras, onde é vizinho do nosso grã-tabanqueiro, o padre Mário da Lixa, ex-capelão em Mansoa (1967/68), com quem, de resto, tem colaborado em iniciativas culturais, no Barracão da Cultura;

(iii) tem orgulho na sua profissão: bate-chapas, agora reformado; completou o 12.º ano de escolaridade; foi um "homem que se fez a si próprio", sendo já autor de dois livros, publicados (um de poesia e outro de ficção);

(iv) tem página no Facebook; é avô e está a animar o projeto "Bosque dos Avós", na Serra do Marão, em Amarante;

(ix) é membro n.º 756 da nossa Tabanca Grande.

2. Sinopse dos postes anteriores:

(i) foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal;

(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, da dos percursos de "turismo sexual"... da Via Norte à Rua Escura;

(iii) passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1.º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3.ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74);

(iv) chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré;

(v) no dia 2 de julho de 1972, domingo, tem licença para ir visitar Bissau, e fica lá mais uns tempos para um tirar um curso de especialista em Berliet;

(vi) um mês depois, parte para Bolama onde se junta aos seus camaradas companhia; partida em duas LDM para Fulacunda; são "praxados" pelos 'velhinhos' (ou vê-cê-cês), os 'Capicuas", da CART 2772;

(vii) faz a primeira coluna auto até à foz do Rio Fulacunda, onde de 15 em 15 dias a companhia era abastecida por LDM ou LDP; escreve e lê as cartas e os aerogramas de muitos dos seus camaradas analfabetos;

(viii) é "promovido" pelo 1.º sargento a cabo dos reabastecimentos, o que lhe dá alguns pequenos privilégio como o de aprender a datilografar... e a "ter jipe";

(ix) a 'herança' dos 'velhinhos' da CART 2772, "Os Capicuas", que deixam Fulacunda; o Dino partilha um quarto de 3 x 2 m, com mais 3 camaradas, "Os Mórmones de Fulacunda";

(x) Dino, o "cabo de reabastecimentos", o "dono da loja", tem que aprender a lidar com as "diferenças de estatuto", resultantes da hierarquia militar: todos eram clientes da "loja", e todos eram iguais, mas uns mais iguais do que outros, por causa das "divisas"... e dos "galões"...

(xi) faz contas à vida e ao "patacão", de modo a poder casar-se logo que passe à peluda; e ao fim de três meses, está a escrever 30/40 cartas e aerogram as por mês; inicialmente eram 80/100; e descobre o sentido (e a importância) da camaradagem em tempo de guerra.

(xii) como "responsável" pelo reabastecimento não quer que falte a cerveja ao pessoal: em outubro de 1972, o consumo (quinzenal) era já de 6 mil garrafas; ouve dizer, pela primeira vez, na rádio clandestina, que éramos todos colonialistas e que o governo português era fascista; sente-se chocado;

(xiii) fica revoltado por o seu camarada responsável pela cantina, e como ele 1º cabo condutor auto, ter apanhado 10 dias de detenção por uma questão de "lana caprina": é o primeiro castigo no mato...; por outro lado, apanha o paludismo, perde 7 quilos, tem 41 graus de febre, conhece a solidariedade dos camaradas e está grato à competência e desvelo do pessoal de saúde da companhia.

(xiv) em 8/11/1972 festejava-se o Ramadão em Fulacunda e no resto do mundo muçulmano; entretanto, a companhia apanha a primeira arma ao IN, uma PPSH, a famosa "costureirinha" (, o seu matraquear fazia lembrar uma máquina de costura);

(xv) começa a colaborar no jornal da unidade (dirigido pelo alf mil Jorge Pinto, nosso grã-tabanqueiro), e é incentivado a prosseguir os seus estudos; surgem as primeiras dúvidas sobre o amor da sua Mely [Maria Amélia], com quem faz, no entanto, as pazes antes do Natal; confidencia-nos, através das cartas à Mely as pequenas besteiras que ele e os seus amigos (como o Zé Leal de Vila das Aves) vão fazendo;

(xvi) chega ao fim o ano de 1972; mas antes disso houve a festa do Natal (vd. capº 34º, já publicado noutro poste); como responsável pelos reabastecimentos, a sua preocupação é ter bebidas frescas, em quantidade, para a malta que regressa do mato, mas o "patacão", ontem como hoje, era sempre pouco;

(xvii) dá a notícia à namorada da morte de Amílcar Cabral (que foi em 20 de janeiro de 1973 na Guiné-Conacri e não no Senegal); passa a haver cinema em Fulacunda: manda uma encomenda postal de 6,5 kg à namorada;

(xviii) em 24 de fevereiro de 1973, dois dias antes do Festival da Canção da RTP, a companhia faz uma operação de 16 horas, capturando três homens e duas Kalashnikov, na tabanca de Farnan.

(xix) é-lhe diagnosticada uma úlcera no estômago que, só muito mais tarde, será devidamente tratada; e escreve sobre a população local, tendo dificuldade em distinguir os balantas dos biafadas;

(xx) em 20/3/1973, escreve à namorada sobre o Fanado feminino, mas mistura este ritual de passagem com a religião muçulmana, o que é incorreto; de resto, a festa do fanado era um mistério, para a grande maioria dos "tugas" e na época as autoridades portuguesas não se metiam neste domínio da esfera privada; só hoje a Mutilação Genital Feminina passou a a ser uma "prática cultural" criminalizada.

(xxi) depois das primeiras aeronaves abatidas pelos Strela, o autor começa a constatar que as avionetas com o correio começam a ser mais espaçadas;

(xxii) o primeiro ferido em combate, um furriel que levou um tiro nas costas, e que foi helievacuado, em 13 de abril de 1973, o que prova que a nossa aviação continuou a voar depois de 25 de março de 1973, em que foi abatido o primeiro Fiat G-91 por um Strela;

(xxiii) vai haver uma estrada alcatroada de Fulacunda a Gampará; e Fulacunda passa a ter artilharia (obus 14); e o autor faz 23 anos em 19 de maio de 1973; a 21, sai para Bissau, para ir de férias à Metrópole; um grupo de 10 camaradas alugam uma avioneta, civil, que fica por um conto e oitocentos escudos [equivalente hoje a 375,20 €];

(xxiv) considerações sobre o clima, as chuvas; em 19/5/1973, faz 23 anos... e vem de férias à Metrópole, com regresso marcado para o início de julho de 1973: regista com agrado o facto de o pai, biológico, ter trazido a sua tia e a sua avó ao aeroporto de Pedras Rubras para se despedirem dele. 


3. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 57 e 58


[O autor faz questão de não corrigir os excertos que transcreve, das cartas e aerogramas que começou a escrever na tropa e depois no CTIG à sua futura esposa. E muito menos fazer autocensura 'a posterior', de acordo com o 'politicamente correto'... Esses excertos vêm a negrito. O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, quem o criou. ]


57.º Capítulo  > A FERRADELA NO CU


Foi muito estranho para mim ser precisamente no dia do meu 23.º aniversário que me refiro ao Plácido. No entanto, antes quero que saibam que foi nesse dia que pela primeira vez soube de alguém que mordeu outro, num jogo de futebol.

“Houve hoje uma zaragata entre dois camaradas meus que foi castiça. Num jogo de futebol um rasteirou o outro e o rasteirado deu-lhe uma ferradela no cu. Imagina só, alguns de nós, até se estão a transformara em cães”.


Voltando ao Plácido: foi um furriel e, embora eu não tenha essa referência, penso que era o furriel de transmissões.

Embora apenas de forma subtil, no meu romance “DESERTOR 6520”existe uma grande influência do Plácido. Eis a minha primeira referência a esse senhor. Exactamente, esse senhor.

“Lembra-me para eu te contar umas coisas acerca do furriel Plácido, pois eu acho-lhe uma piada imensa, dado que ele é uma das figuras mais interessantes da companhia.

Diz ele que não anda aqui para ajudar o exército e por tal faz de conta que as ordens não são para ele. Cumpre algumas porque quer pois ninguém manda nele.

Acho que foi a primeira vez que ouvi estas coisas e que me fez pensar. Se faço aqui estas observações é só para mais tarde poder recordar através destas palavras o excelente camarada que é o Furriel Plácido”.


Acho que estava a começar a conhecer as pessoas. Talvez mais adiante encontre por aqui o Silva de Almada que agora vive nas Caldas da Rainha e… olhem, até dia 3 de Julho vou de férias.


58.º Capítulo  > TAP,  THE INTERCONTINENTAL AIRLINE OF PORTUGAL


Foi numa carta com este logótipo que escrevi as primeiras palavras no meu regresso à Guiné.

“Quero que saibas que o meu pai trouxe a minha tia e a minha avó ao aeroporto de Pedras Rubras para se despedirem de mim confesso que gostei da atitude dele mas custou-me despedir-me novamente da minha avó. Também vieram despedir-se de mim ao aeroporto os pais do Zé Leal foi muito comovente. Tive pena que tu não viesses”.

Foi a partir da minha vinda de férias e porque senti que as pessoas na metrópole, embora o negassem, pouco se preocupavam connosco, Excepto, claro, os familiares, deixei de me referir ao que comigo ou com os meus camaradas acontecia. Nos aerogramas e cartas escritos nos dias seguintes, apenas falo de amor, de literatura, de poesia ou música. Também escrevo anedotas, participo em concursos e até jogos e quebra-cabeças envio, via correio, para a namorada.

Noto, pelo que leio, que nessa altura o correio não chegava como era normal e muito do que enviávamos pura e simplesmente não chegava ao destino. Ainda possuo um mapa da correspondência enviada e recebida. Alguns amigos queixam-se do mesmo e até pequenas encomendas desaparecem, mormente cassetes de áudio que eu passara a enviar de vez em quando, mesmo sabendo que em casa da Amélia não havia luz eléctrica. Ela haveria de me ouvir em casa de alguém que tivesse um leitor. O certo é que a Maior parte delas não chegaram às suas mãos.

Cito o que disse no dia 23:

“Isto é uma cambada de sornas os tipos do SPM” (Serviço Postal Militar).

(Continuação)
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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18320: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XVI: Visita, a Bissau, do presidente do Conselho de Ministros, prof Marcelo Caetano, em 14 e 15 de abril de 1969 (I)



Foto nº 1 A


Foto º 1


Foto nº 2 A


Foto nº 2


Foto nº 3A


Foto nº 3


Foto nº 4A


Foto n º 4


Foto nº 5A


Foto nº 5



Foto nº 6 A


Foto nº 6



 Foto nº 7




Foto nº 8A


Foto nº 8


Foto nº 9


 Foto nº 9A


Guiné > Bissau > 14 de abril de  1969 >  Visita presidencial do Professor Marcelo Caetano a Bissau (I)

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Virgílio Teixeira, foto atual

1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), e que vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado. (*)

Anotações e Introdução ao tema > Fotos numeradas de  1 a 30 (Parte I,  fotos de 1 a 9, renumeradas pelo editor, seguindo um critério cronológico).

Este conjunto de fotos numeradas aleatoriamente, sem critérios de qualquer ordem dos acontecimentos,  refere-se à visita de Estado do Presidente do Conselho de Ministros, Professor Dr. Marcelo Caetano, realizada à Guiné, em Bissau,  no dia 14 de abril de 1969,  no início de um périplo pelo Ultramar, que terminará a 21 de abril.

Marcelo Caetano viajou de avião da TAP, tendo chegado a Bissalanca, onde se encontrava uma enorme multidão da população, Forças Armadas de todos os ramos, Policia - Militar e Civil – todas as entidades Civis e Oficiais e Militares da época, entre eles o António Spínola, governador-geral e com-chefe.

Feita a recepção, a comitiva percorreu de automóvel o percurso entre o aeroporto e a cidade de Bissau, uns 10 quilómetros aproximadamente, sendo visível ao longo de todo o percurso nas bermas da estrada um grande número de pessoas guineenses apoiando com bandeiras e outros adornos e roncos o Presidente Caetano, com grandes manifestações de carinho.

A população recebeu bem o nosso Presidente Caetano, demonstrado por vídeos e pelas fotos de arquivo oficiais, bem como pelas minhas fotos pessoais,  de minha autoria. Não estive em todo o lado porque não era possível, dadas as dificuldades de passar barreiras que eram enormes, mas ainda assim pude fotografar Marcelo Caetano no carro nas Avenidas de Bissau.

Cada uma vale o que vale, são histórias e acontecimentos que farão em 14 de abril de 2019, 50 anos. Pude acompanhar a comitiva graças ao uso da minha motorizada, por is as fotos cobrem o espaço desde o aeroporto até às principais passagens pela cidade. Esta reportagem só foi possível porque nessa data o fotógrafo estava lá de passagem.

As viaturas civis em que se deslocavam os membros do Governo, Marcelo Caetano, Ministro do Ultramar, Governador-geral e outras entidades, julgam que terão chegado de Portugal, pois nunca mais foram vistas, nem antes, nem depois. Em 2 de fevereiro de 1968,  a Guiné recebera a  visita do Presidente da República Almirante Américo Tomás, que viajou no paquete Funchal.

À consideração dos visualizadores, podem fazer as críticas que entenderem, pois sei que se trata de matéria sensível, que pode não agradar a todos, mas é a nossa história, e a história daqueles militares que prestaram as honras militares ao Chefe do Governo legítimo de Portugal.

Em, 14-02-2018

Virgílio Teixeira

«Propriedade, Autoria, Reserva de Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BATCAÇ1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69».

[Continua]

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 12 de fevereiro de  2018 > Guiné 61/74 - P18310: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XV: Parte pesos, nosso alfero...

terça-feira, 11 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17567: Inquérito 'on line' (121): O aerograma ?... "Era rápido mas não seguro" (José Brás)... "Acabou por justificar a existência do Movimento Nacional Feminino" (António J. Pereira da Costa)... "A malta chegava a solidarizar-se e fretar a avioneta civil para trazer o correio" (Henrique Cerqueira)



Foto nº1


Foto nº 2


Guiné > Região do Oio > Farim > Canjambari > CCAÇ 2533 (1969/71) >

Foto nº 1 > Viagem de avioneta civil, até Bissau, para gozo de licença de férias na Metrópole. O Luís Nascimento é o mais alto, o segundo a contar da esquerda Não se consegue distinguir o logo do saco de viagem: se era o logo da TAP - Transportes Aéreos Portugueses, se era o da TAGP - Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa (voos internos). Mas devia ser da TAP, vi um exemplra, no  sábado passado no núcleo museológico da Tabanca dos Melros, oferta do nosso camarada Carlos Silva.

Recorde-se que a 2 de setembro de 1965 foi criado o serviço autónomo Transportes Aéreos da Guiné (TAG), visando a exploração dos transportes aéreos de passageiros, carga e correio naquela província ultramarina. Na realidade foi a criação da primeira companhia aérea da Guiné. O seu nome será posteriormente alterado para Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa (TAGP).

Foto nº 2 > Aqueles que se podiam dar ao luxo de uma escapadela até Bissau, ou gozar um mês de licença para férias (em Bissau ou na Metrópole), esqueciam,  por uns tempos, a dura e obscura vida no mato... Dura e obscura mesmo para um 1º cabo cripto, que mal podia ser sair do quartel e não era operacional... Na foto, o Luís Nascimento na "esplanada (sic) do centro cripto", escrevendo uma carta ou mais provavelmente um aerograma... O correio era tão importante que houve companhias que, em caso de atrasos excessivos, chegaram a fretar as avionetas dos TAGP... (*)

Fotos (e legendas) : © Luís Nascimento (2013). Todos os direitos reservados. [Edição  e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mais comentários sobre o SPM e o areograma (**)


(i) José Brás


Em Medjo, eram semanas! Ir de Medjo a Guiledje não era coisa que apetecesse, sobretudo quando o DO27 voava à vertical de Medjo abanando a asas. A mensagem dele nessa manobra não era lida apenas pela nossa tropa. o complexo de Salancaur ficava a "meia dúzia de passos" e havia ainda Xim-idari e outras aldeias no Corredor ainda mais perto de nós. Não conto aqui uma maluqueira de "uma vez", porque...

Quanto a mim o aerograma era tão rápido e tão seguro como o outro correio e, dadas as circunstância, sempre o achei rápido mas não seguro

7 de julho de 2017 às 08:27


(ii) António J. Pereira da Costa 


O Mê-Nê-Fê [Movimento Nacional feminino] aparece muitas vezes ligado aos aerogramas.
Contudo, se o respectivo transporte era uma "oferta" - justa e lógica - da TAP aos soldados de Portugal, a produção e distribuição dos aerogramas poderia ter sido feita por outra entidade, nomeadamente pela cadeia logística do Exército.

A rede do Mê-Nê-Fê era pouco densa, pelo que os aerogramas eram distribuídos pelas Juntas de Freguesia e entidades similares.

A "distribuição" de aerogramas era um maneira do Mê-Nê-Fê se sentir útil...

7 de julho de 2017 às 09:34


Havia a experiência da I Guerra Muidial em que o correio não funcionou assim tão bem... e com más consequências.Além disso o governo do tempo,  num dos seus (raros) momentos de lucidez,  descobriu que, sendo o correio um dos grandes sustentáculos do moral das tropas, se não o principal, não quis comprar uma fonte de revolta que não lhe daria popularidade.

E, no fundo, não era uma coisa que onerasse a guerra que era preciso embaratecer, especialmente através das PPP do tempo, a maioria delas retribuídas em género e não em dinheiro.

O Mê-Nê-Fê... associava-se,  justificava a sua existência.


8 de julho de 2017 às 09:57


(iii) Henrique Cerqueira

Na verdade até que o SPM funcionava muito benzinho , talvez melhor (olhando ás condições na época) que hoje,  pelo menos aqui na minha zona.(refiro-me à distribuição dos CTT ).

Reconheço também que o Estado da altura preocupava-se que não faltasse certos apoios "morais" e materiais aos militares destacados nas guerras do ultramar.

Dou o exemplo: tabaquinho, cerveja,whisky, comprimidos LM e o correio... Fosse de avião (DO 27) ou por coluna militar, o correio era das coisas mais indispensáveis em qualquer aquartelamento. Poderia haver fominha de certos alimentos,mas o correio não podia faltar nem que para isso a malta se solidarizasse e fretasse avioneta civil [dos TAGP]] .Era assim que funcionava na minha companhia do Biambe em 1972.

Assim sendo e com todas as condicionantes da altura o SPM era um bom serviço prestado às nossas tropas.

7 de julho de 2017 às 10:12 

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Notas do editor:

(**) Último poste da série > 10 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17565: Inquérito 'on line' (120): Mesmo com ficha na PIDE/DGS, nunca me inibi de escrever cartas e aerogramas, sem autocensura nem receio de represálias... E foram mais de 300!... Contei, a quem gostava, tudo o que acontecia no CTIG no meu tempo (António Graça de Abreu, ex-alf mil, CAOP 1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74)

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17555: Serviço Postal Militar (SPM): o aerograma... multiusos: da simples correspondência postal ao marketing político, comercial, religioso e... artístico... Continuo a guardar quase todos os aerogramas e cartas que enviei aos meus pais... Talvez a pensar nos meus netos... (Belarmino Sardinha, ex-1º cabo radiotelegrafista STM, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, 1972/74)






Um exemplo de como o famoso aerograma, nascido em 1961 no seio do Movimento Nacional Feminino, podia ter (ainda tem...) múltiplos usos, para além da sua função principal que era facilitar a correspondência postal entre os militares mobilizados para o ultramar e as suas famílias e amigos.

Fotos: © Belarmino Sardinha (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de 4 do corrente, de  Belarmino Sardinha  (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, 1972/74),

Boa tarde Luís e Carlos,

Lembrei-me de escrever isto e enviar-vos. Como estamos a falar de SPM (*), aproveito para vos lembrar de um anterior texto que enviei e foi publicado. Tratava-se de um aerograma que recebi na Guiné, enviado por alguém de uma religião, sem que eu soubesse quem, com palavras de conforto ao mesmo tempo que procurava catequizar-me para a causa (**).

Além dos aerogramas de familiares e amigos havia estes e eventualmente outros.

E como de aerogramas se fala, aproveito para vos apresentar um trabalho cujo catálogo foi inspirado no correio aéreo (aerograma) dos militares em serviço, à data, nas províncias ultramarinas, que me foi entregue num almoço da Tabanca do Centro e que eu guardei por achar interessante. Trata-se de uma escultura levada a efeito por Nuno Sousa Vieira e Rita Gaspar em Novembro de 2004, a convite da Câmara Municipal de Leiria, cujo presidente da Câmara foi também militar na Guiné, trabalho esse que pretende homenagear o papel da mulher no contexto da guerra.

Falo agora dos aerogramas por mim enviados. O conteúdo nunca manifestou qualquer interesse, ao contrário de alguns camaradas que já aqui publicaram, eu nunca falei sobre as condições que tinha ou aquilo que fazia ou o que se passava, limitava-me a perguntar como era o estado de saúde dos meus pais e referindo que a minha saúde ia bem como sempre, lamentava a falta de assunto e lembrava que o mais importante era a passagem do tempo.

Desconheço se a censura era apertada ou não sobre este tipo de correio. Já com o correio pago, carta, posso dizer que uma vez dei por haver algo estranho, umas fotos que enviei nunca chegaram, mas foram caso único e desconheço a razão, suspeito, mas nunca consegui apurar a verdadeira causa. Quanto à circulação do correio, em termos de tempo, aerogramas ou cartas, sempre me pareceram normais, havia alguma demora apenas quando mudava de SPM.

Continuo a guardar quase todos os aerogramas e cartas que enviei aos meus pais. Por mais que uma vez estive tentado a deitá-los fora, mas depois dá-me um remoque e acabam por ficar, talvez a pensar que os netos poderão interessar-se e gostar de saber o que se passou, não com o avô, mas sobre a história do País, aquela que parece quererem apagar ou esquecer. Mas mesmo mantendo tudo interrogo-me, valerá a pena?

Enfim, quem cá ficar que decida o que fazer com estes papéis.

Belarmino Sardinha
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Leiria > O projeto SPM, dos artistas plásticos Nuno Sousa Vieira e Rita Gaspar Veira, com apoio da Liga dos Combatentes .- Núcleo de Leiria e Junta de Freguesia de Leiria
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Prezado Jovem

Que neste momento, quando receber este aero, esteja de boa saúde junto dos seus amigos, são os nossos votos. 

Somos como já deve saber, pelo carimbo que está na parte de fora, “O Correio Áureo”.
O Correio Áureo é um departamento das Assembleias de Deus, formado por dezenas de jovens que pretendem que os militares possam receber através do serviço de correspondência, apoio moral, revistas “Novas de Alegria” e “Caminhos”, literatura, Bíblias, Novos Testamentos etc.
A criação deste departamento foi ideia de um furriel miliciano, membro da Assembleia de Deus de Lisboa, quando prestava a sua comissão na província da Guiné. 

A missão do “Correio Áureo” é além de tudo, a de edificar espiritualmente os militares incrédulos. Isto é, aqueles que ainda não andam neste maravilhoso caminho. 

Talvez o jovem esteja agora a pensar a que caminho eu me estou a referir. (...)

domingo, 18 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17484: Tabanca Grande (439): João Cerina, ex-Fur Mil da CCAV 1615/BCAV 1897, passou à disponibilidade em 1972 como Segundo-Sargento Miliciano, vive na Guiné-Bissau e é o 746.º Grã-Tabanqueiro da nossa tertúlia

1. Mensagem do nosso camarada João Correia Cerina, ex-Fur Mil da CCAV 1615/BCAV 1897, Olossato, 1967/68, com data de 4 de Fevereiro de 2017:

Sou João Correia Cerina, ex-furriel miliciano da CCAV 1615 - BCAV 1897 (Olossato) chegado à Guiné em 25.07.1967 (rendição individual).
Após regresso do batalhão a Portugal fiquei em Bissau na Chefia de Intendência.

Por razões de ordem sentimental (falecimento da minha mãe em Janeiro de 1969) continuei no serviço militar até Dezembro de 1972, data em que passei à disponibilidade com o posto de segundo-sargento.

Até á presente data encontro-me na Guiné-Bissau.

Envio algumas fotografias que consegui guardar pois a minha companheira, aquando do 25 de Abril, queimou tudo que eu tinha, fardas militares, fotos etc., com receio de represálias por parte do PAIGC.
João Cerina

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2. Mensagem do co-editor CV enviada ao camarada Cerina em 19 de Fevereiro

Caro camarada e amigo João

Desculpa só agora estar a responder.

Julgo ser tua intenção aderires à tertúlia do nosso Blogue. Para seres apresentado devidamente, precisava que me enviasses uma foto actual. Pode ser?

As tuas fotos estão uma lástima. Vou tentar recuperar minimamente algumas delas, mas outras nem as publicarei. Queria que na 30004, onde estais à mesa com a farda número 2, me dissesses qual deles és tu.

Aquela viatura (foto 239) quase destruída, em que situação ficou assim e em que estrada?

Se puderes acrescentar algo mais ao facto de teres ficado em Bissau, seria bom para satisfazeres a nossa curiosidade. Que fazes (ou fizeste aí) e se tencionas voltar a Portugal.

Ficamos a aguardar ansiosamente as tuas notícias mais pormenorizadas.

Abraço em nome dos editores e da tertúlia do nosso Blogue.

O amigo e camarada
Carlos Vinhal

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3. Mensagem  de João Cerina com data de 5 de Junho de 2017:

- Foto 30004 - eu sou o primeiro à esquerda.

- Foto 239 - a viatura sofreu o impacto do rebentamento (fornilho) à frente do lado directo. O pessoal que seguia em cima do carregamento (géneros) foi projectado havendo a registar um soldado morto por esmagamento (roda da frente do lado esquerdo). Eu seguia na primeira viatura Unimog com a minha secção. A viatura atingida foi a segunda.

A coluna seguia de Bissau para o Olossato, e o rebentamento deu-se a seguir ao aquartelamento de Nhacra, a caminho de Mansoa.

Após falecimento da minha mãe, decidi ficar em Bissau, só passei à disponibilidade em Dezembro de 1972. Em 1973 arranjei colocação na sucursal das Oficinas Gerais de Fardamento e Equipamento, em Bissau, onde trabalhei até Abril 1974 (fui pago até Outubro), data em que procurei novo emprego, tendo começado a trabalhar no Grande Hotel em Bissau, no dia 01 de Novembro de 1974, até 31 de Maio de 1979.

No dia 01 de Junho de 1979 comecei a trabalhar na TAP (Aeroporto) até Maio de 2006 (data em que fui despedido com a invocação de justa causa, acusado dum crime que não cometi, tendo posteriormente ganho a questão em tribunal local e recebido indemnização, que não cobriu os danos morais a que fui sujeito.)

Em principio, não tenciono voltar em Portugal pois nada tenho (nem família próxima, nem bens de qualquer espécie).´

Tinha uma hipótese remota de partilhas em Vila Real de Santo António, de onde sou natural, mas por falta de acordo duma cunhada, tudo foi por água abaixo! Azares da vida!

Abraco para a tertúlia
João Cerina.

P.S.- Não sei se será possível obter contacto do General na Reserva Carlos Azeredo - ex. CMDT da CCAV 1616?!

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4. Comentário do editor

Caríssimo João

Muito obrigado por te juntares a nós, és o primeiro camarada da CCAV 1615 a apresentar-se à tertúlia.

Vê se gostas das fotos, tive que rejeitar duas delas que estavam mesmo em mau estado, o que não admira pela idade delas e por estarem sujeitas a esse clima húmido.

Pelo que nos dizes, és um dos resistentes que ficaram na Guiné-Bissau e apostam em ajudar o país que já é vosso. As tuas raízes aqui serão já ténues, aí terás a tua vida familiar e profissional organizadas pelo que não é de estranhar a tua opção. Com certeza conhecerás imensos portugueses que fizeram da Guiné-Bissau a sua primeira pátria.

Poderás, se quiseres, falar-nos das tuas memórias enquanto militar e da tua actividade enquanto civil, experiências únicas, tanto mais que até prolongaste a tua vida militar até Dezembro de 1972. Acabei por ser teu contemporâneo, já que estive na Guiné entre Abril de 1970 e Março de 1972, 23 meses portanto, dos quais 22 passados em Mansabá, que conhecerás muito bem.

Foste tu e muitos camaradas do teu tempo que fizeram segurança aos trabalhos de asfaltagem do troço final da estrada Mansoa-Mansabá, que mesmo assim não evitou que se continuasse a morrer por ali, principalmente na zona de Mamboncó.

Quanto ao contacto do senhor General Carlos Azeredo, não acho que o devas contactar porque ele está com muita idade e já bastante debilitado. Costumava aparecer aos convívios dos Combatentes do Concelho de Matosinhos, mas há muito declinou os nossos convites. [Tem meia dúzia de referências no nosso blogue; nascido em Marco de Canaveses, vai fazer,  em outubro,  87 anos; não temos o seu contacto].

João, fico ao teu dispor para qualquer esclarecimento. Vai dando notícias e envia-nos material escrito ou outras fotos para publicação. Por falar em fotos, se quiseres acrescentar legendas às agora publicadas manda que eu acrescento. Podes identificar os camaradas, os locais, datas, etc.

Por agora deixo-te o abraço de boas-vindas em meu nome pessoal, dos restantes editores e da tertúlia.
CV
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17432: Tabanca Grande (438): Ernesto Marques, leiriense de Ancião, vive no Cartaxo, foi Soldado TRMS Inf, CCAÇ 3306 / BCAÇ 3833 (Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73)... Novo grã-tabanqueiro n.º 745

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17467: (De) Caras (75): "Contrabando de ternura": os tentáculos da minha rede não chegavam ao mato, funcionavam entre Moscavide e Bissalanca... graças a um amigo piloto da TAP... (José Colaço, ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)

1. Mensagem do José [Botelho] Colaço,  ex-soldado trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), membro da nossa Tabanca Grande desde 2 de junho de 2008; tem 7 dezenas e meia de  referência no nosso blogue.

Data: 12 de junho de 2017 às 16:14

Assunto: "Contrabando de ternura" que permitia, aos nossos familiares, fazer-nos chegar a Bissau e ao 'mato' as suas "encomendinhas"...


Caro Luís, aqui vai parte que ficou da minha rede de "contrabando de ternura"...  porque, passados 54 anos e 74 de idade, muita coisa se apagou, mas achei o tema bastante interessante. Também eu fui um dos beneficiados, embora os tentáculos da minha rede não atingissem o mato, ficavam-se por Bissau.

Como funcionava o meu sistema ? A minha família morava em Moscavide, e em Moscavide morava também um senhor amigo, piloto da TAP,  que fazia a carreira semanal da TAP para a Guiné. Assim que soube que eu ia para a Guiné, prontificou-se a levar uma encomenda todas as semanas. A encomenda tinha uma norma: não podia pesar mais do que 500 gramas.

Ele deixava a encomenda no aeroporto de Bissalanca, numa secção de confiança dele e do meu conhecimento, eu era avisado com a antecedência possível pela minha família via SPM e, logo que tivesse disponibilidade, ia lá, identificava-me, levantava ou davam-me a encomenda.

O normal da encomenda era ser presunto, linguiça e queijo e tudo funcionava às mil maravilhas e a festa com os amigos e alguns "amigos do bornal"... Só que a ordem de ir para o mato não tardou e a terceira encomenda, como eu não a fui levantar, regressou a Moscavide pela mesma via.

Passados cerca de 11 meses regressei a Bissau, em Dezembro de 1964, activei novamente o sistema que durou até fim de Abril de 1965, altura em que fui para Bafatá.

Um abraço,  Colaço.

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Vd. postes anteriores:

13 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17464: (De) Caras (80: Também levei uma encomenda, no regresso de férias em novembro de 1963, a pedido da mãe de um camarada... Era uma lata de salpicões em azeite, para um soldado que estava em Fulacunda e que, infelizmente, morreria entretanto numa emboscada... Acabámos por comer os salpicões em Cantacunda... (Alcídio Marinho, ex-fur mil, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65)

12 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17456 (De) Caras (79): em outubro de 1972, vim de férias e uma vizinha meteu uma cunha à minha mãe para eu levar uma encomenda para o namorado da filha que era furriel e que eu não conhecia de lado nenhumm... Quando a encomenda chegou ao destino, já o namoro se tinha desfeito, como vim a saber 17 meses depois... (Juvenal Amado, autor de "A tropa vai fazer de ti um homem!"... Lisboa, Chiado Editora, 2016)


10 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17453: (De) Caras (77): O "contrabando" da... ternura ou como o "fiel amigo", o bacalhau, chegava à Bambadinca, ao Tony Levezinho, utilizando uma vasta rede de intermediários, do navio-tanque da Sacor à Casa Fialho - Parte II

9 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17451: (De) Caras (76): O "contrabando" da... ternura ou como o "fiel amigo", o bacalhau, chegava à Bambadinca, ao Tony Levezinho, utilizando uma vasta rede de intermediários, do navio-tanque da Sacor à Casa Fialho - Parte I

domingo, 9 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17224: Historiografia da presença portuguesa em África (73): Subsecretário de Estado das Colónias em visita triunfal à Guiné, de 27/1 a 24/2/1947 - Parte II: Prosseguem as inaugurações, em 29 e 30 de janeiro... Nessa época havia uma linha área, a Linha Imperial, entre Lisboa e Lourenço Marques....








Recorte da 1ª págima do Diário de Lisboa, nº 8683, ano 26, quarta-feira, 29 de janeiro de 1947, diretor: Joaquim Manso (Fonte: Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivos > Diário de Lisboa / Rua Ramos > Pasta 05780.044.11034(  (com a devida vénia...)





Recortes da edição do "Diário de Lisboa, nº 8685, ano 26, sábado, 1 de fevereiro de 1947, diretor: Joaquim Manso (Fonte: Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquivos > Diário de Lisboa / Ruella Ramos >  Pasta: 05780.044.11036 (com a devida vénia...) .


1. Em 29 e 30 de janeiro de 1947, prosseguia a visita, à Guiné, do subsecretário de Estado das Colónias, engº  Sá Nogueira, sendo então governador-geral o futuro ministro das Colónias  (1950) e depois do Ultramar (em 1951) Manuel Sarmento Rodrigues. (Repare-se: só em 1950, os territórios ultramarinos têm um "ministro", até então eram representados por uma obscura subsecretaria de Estado...).

 Sublinhámos  em poste anterior a importância política de que se revestia esta  demorada visita, de  quae um mês, quer  para o governo de Salazar, na conjuntura do pós-guerra e no início do movimento de descolonização, como para o governador geral Sarmento Rodrigues, um prestigiado oficial da marinha, considerado com um "conservador liberal", com "ligações à Maçonaria" e que apoiava o Estado Novo... 

Natural de Freixo Espada à Cinta, era conotado como sendo um homem "à esquerda" do regime, com afinidades com o Marcelo Caetano, o então ministro das Colónias . Foi governadorgeral da Guioné entre 1945 e 1949. Será o preferido de Salazar para o lugar de Ministro das Colónias, em 1950, e depois do Ultramar, em 1951.  [Foto à direita, cortesia da Revista Militar].

É reconhecido o trabalho que Sarmento Rodrigues desenvolveu na modernização de Bissau e outras cidades, e na ganização do território. Destaque, no seu tempo,  para os estudos relacionados com a Guiné e a África Ocidental, ao criar, com a colaboração de Avelino Teixeira da Mota, o Centro de Estudos da Guiné. 

 O engº Sá Nogueira tinha chegado no dia 27. Dois depois,  fazia uma série de inaugurações, com destaque para o abastecimento de água a Bissau e para o bairro de Santa Luzia. O representante do governo da Metrópole e a sua comitiva visitava de manhá as obras do Museu,do Palácio do Governador e moradias dos funcionários "que transformarão radicalmente a fisionomia da cidade, dando-lhe o aspeto de um centro urbano moderno", lê-se na primeira página do "Diário de Lisboa" desse dia, segundo despacho da agência noticiosa Lusitânia... A residência do delegado do ministério público também foi objeto de visita, sendo considerada "a última palavra da nova arquitetura colonial" (sic).

Não faltaram os vivas e as aclamações dos "indígenas de diversas tribos, que tocaram o hino nacional em instrumentos gentílicos", bem como dos "colonos"... Houve ainda visita aos depósitos de construção do Alto Crim, bem como às obras do porto do Pigiguiti (sic) (era assim que o topónimo era grafado: hoje há variantes para todos os gostos!).

A 30, foi feita uma visita ao Asilo de Bor, uma obra de assistência às crianças abandondas, dirigida pelas irmãs franciscanas missionárias. E foi inaugurado o posto administrativo de Prábis. Na edição do "Diário de Lisboa", de 1 de fevereiro de 1947, dava-se também a notícia, do regresso a Lisboa, no "avião da Linha de África" (sic), do correspondente do jornal, o dr. Norberto Lopes. À chegada,o jornalista manifestou a sua "agradável impressão tanto pelo que viu na Guiné" (sic), como pela "regularidade e excelente funcionamento da carreira aérea entre Lisboa Lourenço Marques". O avião era um Douglas C-47, CS-TDD,  o 1º Dakota da TAP, pilotado pelo comandante Rodrigues Mano, e trazia 7 passageiros.



TAP - "Uniforme da linha imperial" (1946-1953). Era feito de caqui leve e fresco, Era usado exclusivamente nas linhas áreas para África. A inspiração eram as expedições e safarias em terras de África. (Foto e legenda: cortesia de Jornal TAP, edição nº 119, abril de 2015 > "Hangar da história: 70 anos de moda".)


Recorde-se que o  pretexto desta  visita ao territíório da "colónia", a primeira de um membro do governo de Salazar, foi o encerramento das comemorações do descobrimento da Guiné, em 1946 (uma data, de resto, polémica, para os historiadores, a da pretensa chegada de Nuno Tristão ao território). A iniciativa das comemorações locais foi do comandante Sarmento Rodrigues, tendo por trás  equipe dinâmica, criativa e entusíástica que se abalançou à tarefa hercúlea de conhecer, desenvolver e modernizar a Guiné, reforçando  a presença portuguesa no território, num conjuntura geopolítica, a do pós-guerra,   que se inicia o processo de descolonização.   Destaque, nessa equia, para o então 2º tenente da marinha, Avelino Teixeira da Mota, responsável pelo "Boletim Cultural da Guiné" Portuguesa" (que irá dedicar um nº especial, em outubro de 1947, a esta efeméride, o V Centenário).