Mostrar mensagens com a etiqueta Transmissões. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Transmissões. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18893: Estórias avulsas (90): o meu amigo da Cheret que foi substituir um velhinho que tinha sido apanhado à mão mas que acabou por 'fintar' o PAIGC (Virgílio Teixeira)

1. Mensagens de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) [natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem já cerca de 7 dezenas de referências no nosso blogue]:

Data: 2 de agosto de 2018 às 17:44
Assunto: CHERET

 Luís, lamento o incómodo das férias, mas eu não me dou sem fazer nada, e não gosto de praia, e não tenho quintas. (...)

Ontem estive aqui na biblioteca [em Vila do Conde] onde passo a maior parte do tempo a escrever, não gosto de estar em casa fechado, e encontrei um amigo de longa data e até já falei dele, há poucos dias.

É um rapaz da minha idade, formado antes de ir para a tropa em Engenharia Electrotécnica, opção de Tecnologias Avançadas, mas diz-me que raramente vai ao computador, e o telemóvel dele é mesmo igual ao meu, o mais simples Nokia do mercado, com teclas.

Veio viver para Vila do Conde, mora agora aqui perto, e vai frequentar a Biblioteca, mas só para ler. É um tarado em leituras, e não precisa nada disto porque é de boas famílias. E diz ele que a sua nova companheira - deve ter tido 10 casamentos e 100 companheiras - vive aqui, e ele mudou-se do Porto para cá, é um do grupo do Café Cenáculo, Campo Lindo, Porto 1961.

Ele é um óptimo rapaz, mas deve ter uma 'panca' qualquer que desconheço. É muito inteligente. Fez a tropa mais ou menos na mesma época que eu, esteve na Trafaria e a especialidade dele, não sei explicar bem, mas era o responsável pela segurança das Transmissões, e vivia num bunker no QG de Santa Luzia. Encriptava e desencriptava, não sei bem. Perguntei-lhe agora finalmente qual era a sua missão na Guiné, estava então no CHERET - perguntei-lhe o que era aquilo e ele também não sabia decifrar o que era, fiz umas pesquisas, incluindo o blogue e lá encontrei.

A 'panca' dele começa logo por aqui. Foi mobilizado para a Guiné, casou-se - a primeira vez - com uma miúda linda e jeitosa, que vim a conhecer na Pensão da Dona Berta em Bissau. 

Em vez de viajar de barco por conta da tropa, e porque tinha posses, foi mesmo na TAP e lá chegou 6 dias antes do navio, que ele nem sabe o nome. Quando chegou ao aeroporto com a mulher, em Lua de Mel, perguntaram para onde ia ficar, ele conhecia vagamente o nome do Grande Hotel e lá deu essa morada, e esteve lá um ou dois dias. Depois passou para a Dona Berta, ficava mesmo na Avenida do Império , Praça da República que ia dar à Parça do Império], ao lado do Bento e da Catedral de Bissau, tinha vistas do 1º andar privilegiadas.

Foi passeando e conhecendo a terra, Bissau diga-se, nunca se dirigiu ao QG, ele andava em Lua de Mel, e o clima queima!

Estive uma ou duas vezes com eles, e depois devo ter ido para a minha terra, ele nem sabe em que mês ou dia foi lá parar, passa-lhe tudo ao largo. E assim os dias foram passando, uma semana, duas etc, estava ele um dia com a mulher, no cais do Porto de Bissau sentado a olhar o mar. Ao lado estava outro militar, já velhinho, a olhar também para o mar a ver se chegava o navio com o seu substituto, pois já deveria ter vindo. E contou ao meu amigo que estava ali sem saber o que fazer pois o gajo que o vinha substituir desaparecera, estava dado como desertor. Mas qual é a função dele ali? Era da CHERET, o homem que ia substituir, Com uma calma ele, o meu amigo, lá disse então: "Sou eu mas nem me lembrava o que tinha de fazer"....

Agora é só para ver o que lhe foi acontecendo, era uma missão em que só poderia andar de avião, não era permitido viajar de estrada nem por rios. Foi parar a Catió numa LDM, e depois despachado para Piche, mais ou menos na altura do desastre do Cheche [, que foi em 6 de fevereiro de 1969], e do grande ataque da guerrilha em Piche.

Depois foi evacuado para o HM 241 em Bissau, para a Psiquiatria em Maio de 69, no mesmo mês e datas onde eu também lá estava mas não nos cruzámos, veio evacuado com outro amigo nosso que também estava na Psiquiatria, chegaram a Lisboa e em vez do Hospital da Estrela foram passar uns dias ao Algarve...

Isto talvez tenha pano para mangas, deve ser um caso interessante. Diz algo
Um Ab,
VT

Data: 2 de agosto de 2018 às 17:44
Assunto: CHERET

Voltando ao tema da CHERET, já sei que se chama... "Chefia do Serviço de Reconhecimento das Transmissões2!

Como escrevi depressa, esqueci algumas coisas. Aqui vai a versão, corrigida, da história:

Um elemento da CHERET, um alferes miliciano, numa coluna, em que não devia ir, foi capturado à mão e levado para os santuários do PAIGC.

Feita a lavagem ao cérebro, eles lá sabiam ou souberam a missão secreta dele, e apertaram o dito coitado Cheret.

Ele,  pelos vistos,  embrulhou bem os gajos do PAIGC, trocou-lhes as voltas, pelo que passado pouco tempo todas as comunicações e transmissões do PAIGC eram interceptadas pelas nossas tropas, por qualquer um, não precisavam de ajuda para desencriptar, não sei se é este o termo.

Daí a proibição deste pessoal deslocar-se a pé ou em coluna por terra ou via marítima, só mesmo aérea.

Pelos vistos,  mais tarde a este colega meu [, que enconteri em Bissau e me contou esta história,]  andou sempre em todos os meios menos avião. Ele era tão 'apanhado'  que nem sequer andava de arma, explicou que era muito pesada, não sei o que aconteceu, tenho de explorar bem isto. Mas só o faço se isto tiver algum interesse bloguístico e não sei se ele quer contar mais, mas posso sempre pressionar.

Além de vários problemas na vida dele, e sempre foi professor universitário, com as sucessivas mudanças de mulheres, um filho dele acabou por se suicidar. Quando me contou, nem sabia o que dizer.

Esta função para mim era desconhecida, são aqueles que estão fechados a 7 chaves.

Um Ab, e boas férias, de vez em quando vou chateando para acalmar.
Virgilio Teixeira


2. Comentário do editor LG:

Virgílio, como deves imaginar, nos meses de verão (julho e agosto), em que o pessoal vai a "banhos", o blogue anda muito mais calma, tanto em termos de postes publicados como de acessos e comentários. Pelo que histórias como aquela que  acabas de contar, serão sempre bem vindas... Não precisas de identificar o camarasda, mas dá mais detalhes, se possível, para a a história ser credível: poe exemplo, como é que o 'velhinho'  do PAIGC, depois de ter sido apangado à mão e depois de os ter 'fintado' ?  Deve haver registos de um alferes miliiciano, para mais da arma de transmissões, apanhado à unha pelo PAIGC... Vê zse sabes exatamente quando e onde...

Vou comer uma sardinhada com uns amigos, como uma por ti e bebo um copo à tua saúde (e à saúde do teu amigo, agora reencontrado). Aqui, na Lourinhã, podias vir à praia e ficar na biblioteca, a ler e a escrever... Sobre a aguardente DOC da Lourinhã, tens aqui os  sítios dos pordutores: só há dois, a Adega Coperativa da Lourinhã e a Quinta do Rol... Os preços são variáveis (e altos demais para a minha carteira...) mas o produto é excelente, garanto-te: 

"Durante mais de duzentos anos, as casas produtoras dos melhores Vinhos do Porto beneficiaram da Aguardente de Lourinhã para produzir os seus afamados vinhos licorosos. Nos últimos trinta anos com o apoio científico da Estação Vitivinícola Nacional sediada em Dois Portos foi testada e confirmada a sua superior qualidade, a qual apenas encontra paralelo, a nível europeu nas aguardentes francesas das regiões do Cognac e do  Armagnac".

Há uma confraria que faz a promoção deste produto, e de que faz parte a minha mulher: a Colegiada de Nossa Senhora da Anunciação da Lourinhã... Eu vou aos jantares e festas deles (e delas), e vou aprendendo alguma coisa com estes "confrades"...
______________

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18792: (De)Caras (110): O ex-fur ou 2º srgt de transmissões da CCAÇ 797 / BCAÇ 599 (Tite e Nhacra, 1965/67), hoje com 84 anos, 1º srgt trms ref (Sandra Mendes, filha)


Guiné > Região de Quínara > Tite > CCAÇ 797 (Tite e Nhacra, 1965/67) > Grupo de furriéis e sargentos > O infortunado limiano Júlio Lemos é o primeiro, da primeira fila, ao centro, "aninhado"...



Guiné > Região de Quínara > Tite > CCAÇ 797 (Tite e Nhacra, 1965/67) > Grupo de furriéis e sargentos > O nº  14 é o Henrique Alves Mendes (ou Henrique A. Mendes), na altura fur ou já 2º sargento de transmissões, segundo testemunho da filha, que publicamos a seguir.

Foto (e legenda: © Mário Leitão (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Sandra Cristina Ferreira Alves Mendes 

Data: 27 de junho de 2018 às 14:55
Assunto: Identificação de foto: Guiné 61/74 - P18080 (Guiné >Região de Quínara> Tite>1965> CCAÇ797: (CCAÇ 797 / BCAÇ 599) 4ª foto: Nº 14

Olá, boa tarde,

Tenho vindo a seguir a vossa página há já uns anos: https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

O meu pai reformado do exército, do ramo de Transmissões, passou pelo inicio de Macau, Índia e todo o Ultramar.

É uma pessoa que sempre fez segredo do tempo do Ultramar e sempre fez questão de "fugir" aos encontros. Trocando apenas cartas com alguns dos "colegas" dessa altura, grande parte são do Norte pelo que fui apercebendo-me enquanto crescia, e sendo uma ave rara em relação ao contacto com as novas tecnologias

Existe uma publicação vossa, de 13/12/2017, onde ele aparece. E no seguimento de uma conversa que ele estava a ter desse tempo (são raras as vezes), mostrei-lhe uma foto onde ele aparece e onde o vosso grupo questiona as pessoas da foto.

Dessa foto, até ao momento, apenas consigo identificar o meu pai. (Ele próprio indicou que podiam identificá-lo na foto...)

Guiné 61/74 - P18080 (Guiné >Região de Quínara> Tite>1965> CCAÇ 797: (CCAÇ 797 / BCAÇ 599): 4ª foto:  o  n.º  14 - Henrique Alves Mendes (aparece muitas vezes como Henrique A. Mendes).

Na altura ele diz que já era 1.º sargento 46182355- Henrique Alves Mendes (mas sei que ainda não o era, sendo furriel à data da foto).

Pertenceu, como 1.º sargento, ao a STM - Destacamento Moçambique. Esteve em vários locais, entre eles, Tete.

Quanto à vossa questão (Guiné 63/74 - P12016) sobre as mortes por afogamento dos furriéis em 12/8/1965 no rio Louvado, referiu que não se lembrava disso.

Da entrega do material à FRELIMO, ele indicou, que foi quem fez a lista/relação dos materiais a entregar à FRELIMO.

Como estou a tentar recuperar a história que ele sempre escondeu de todos (...),  para compreender algumas situações e "mazelas" de que padece, e que os médicos pensam ser resultado de acidentes no ultramar, tenho vindo a estudar um pouco a história do STM e,  em conversa com ele, tentando confirmar alguns dados.

Não sei se a identificação da foto será relevante, mas deixo aqui o nosso contributo.

Com os melhores cumprimentos,
Sandra Mendes
Filha de 1º Sargento Henrique Alves Mendes (n. 08-04-1934)


2. Resposta do editor LG:

Sandra, obrigado por nos contactar... O seu pai é um camarada nosso que nos merece todo o respeito, até por ser bastante mais velho que a generalidade daqueles que fazem e leem este blogue... Em geral, os capitães e sargentos do quadro era 12 a 14 anos mais velhos que nós, milicianos e praças... O seu pai está com 84.. Ao tempo da CCAÇ 797,  teria já 31/32 anos... Dê-lhe um alfabravo (ABraço) nosso com votos de saúde e longa vida.

Todos nós, de um maneira ou de outra, estamos a sofrer as sequelas, físicas e/ou psicológicas,  daquela guerra... O seu pai decidiu seguir a vida militar, e seguramente com grande sacrifício da família... Não conheci o seu pai, muito menos a malta da companhia dele, a CCAÇ 797 (Tite e Nhacra, 1965/67)... Ele esteve lá num tempo e lugar bem duros... Tiveram um grande capitão, o Carlos Fabião (que fez três comissões na Guiné)... Eu estive lá, Guiné, relativamente perto de Tite, em Bambadinca, na zona leste, contígua à região de Quínara, mas já em 1969/71. E lembro-me de ter ajudado o meu 1.º sargento, Fragata, com explicações de português, para poder frequentar a Escola Central de Sargentos, em Águeda...

Na foto em questão, e que reenvio, com mais resolução, o seu pai
está num grupo de furriéis (milicianos) e sargentos (do quadro). Em geral nas companhias havia dois segundos sargentos e um 1.º sargento, do QP (Quadro Permanente)... As divisas do furriel são 3 V apontados para baixo. A do 2.º sargento são 3 V apontados para cima. A do 1.º sargento, são 4 V apontados para cima.... Pela foto que lhe envio, a maior parte dos camaradas são furriéis, milicianos, o seu pai parece ter divisas de 2º sargento... O 1.º sargento da companhia, a CCAÇ 797, parece ser o camarada que está na segunda fila, de pé, de óculos, a contar da esquerda para a direita... O seu pai, de perfil, está em em 7.º lugar e tem debaixo do braço dois grossos volumes... Podem ser livros de estudo...

Foi muito importante identificar o seu pai. E pode ser que, com a sua sábia ajuda, ele nos forneça mais alguns elementos sobre o Júlio Lemos, o fur mil, que ele devia conhecer muito bem, que morreu afogado, juntamente com o 1º cabo Ferreira, no rio Louvado... Estes elementos são importantes para todos nós porque não queremos que nenhuma camarada nosso fique na "vala comum do esquecimento"... O Mário Leitão, nosso camarada, acaba de publicar um livro com as histórias de todos os limianos, os naturais de Ponte de Lima, que morreram na guerra colonial. O Júlio Lemos é um deles... Vou pôr a Sandra em contacto com o Mário Leitão... Ele inclusive já falou com dois elementos desta lista de contactos da companhia:

Abílio Abrantes, telef 238 691 390;
José Bayó, tm 917 291 778;
Jorge Duarte, tm 962 397 036;
Santos Costa, tm 917 415 288.

Infelizmente, nenhum deles faz parte da nossa Tabanca Grande.

Quanto ao resto, e à história que me conta (e que não publicamos aqui).. Bom, somos um blogue de amigos e camaradas da Guiné, não somos juízes de ninguém, não julgamos nem condenamos ninguém... Pelo contrário, procuramos ajudar quem precisa...

Já que o seu pai (e nosso camarada) nos autoriza, vamos identificá-lo, neste poste e neste blogue (**). Se a Sandra tiver histórias ou fotos dele, e se quiser publicá-las no nosso blogue, ficar-lhe-íamos gratos. Espero que esta minha mensagem também ajude a Sandra (e nós) a aproximar-se mais do seu pai, e nosso camarada.

Um beijo, os filhos dos nossos camaradas nossos filhos são...
Luís Graça
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de  13 de dezembro de  2017 > Guiné 61/74 - P18080: Em busca de... (284): Veteranos da CCAÇ 797, "Os Camelos" (Tite e Nhacra, 1965/67), comandada pelo cap inf Carlos Fabião, e em especial os 8 elementos da secção do fur mil Júlio Lemos Pereira Martins, do 1º Gr Comb, comandado pelo alf mil inf Américo de Melo Pinto Lopes (Mário Leitão, autor do livro em 
elaboração "Heróis limianos da guerra do ultramar")

(**) Último poste da série > 26 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18679: (De) Caras (108): A história da Kalash apanhada pelos Kimbas a um "Don Juan" do PAIGC, contada pelo António Ramalho, o "pira" da CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71), que andou sempre com "gente aprumada e de alto gabarito"...

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17555: Serviço Postal Militar (SPM): o aerograma... multiusos: da simples correspondência postal ao marketing político, comercial, religioso e... artístico... Continuo a guardar quase todos os aerogramas e cartas que enviei aos meus pais... Talvez a pensar nos meus netos... (Belarmino Sardinha, ex-1º cabo radiotelegrafista STM, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, 1972/74)






Um exemplo de como o famoso aerograma, nascido em 1961 no seio do Movimento Nacional Feminino, podia ter (ainda tem...) múltiplos usos, para além da sua função principal que era facilitar a correspondência postal entre os militares mobilizados para o ultramar e as suas famílias e amigos.

Fotos: © Belarmino Sardinha (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de 4 do corrente, de  Belarmino Sardinha  (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista STM, Mansoa, Bolama, Aldeia Formosa e Bissau, 1972/74),

Boa tarde Luís e Carlos,

Lembrei-me de escrever isto e enviar-vos. Como estamos a falar de SPM (*), aproveito para vos lembrar de um anterior texto que enviei e foi publicado. Tratava-se de um aerograma que recebi na Guiné, enviado por alguém de uma religião, sem que eu soubesse quem, com palavras de conforto ao mesmo tempo que procurava catequizar-me para a causa (**).

Além dos aerogramas de familiares e amigos havia estes e eventualmente outros.

E como de aerogramas se fala, aproveito para vos apresentar um trabalho cujo catálogo foi inspirado no correio aéreo (aerograma) dos militares em serviço, à data, nas províncias ultramarinas, que me foi entregue num almoço da Tabanca do Centro e que eu guardei por achar interessante. Trata-se de uma escultura levada a efeito por Nuno Sousa Vieira e Rita Gaspar em Novembro de 2004, a convite da Câmara Municipal de Leiria, cujo presidente da Câmara foi também militar na Guiné, trabalho esse que pretende homenagear o papel da mulher no contexto da guerra.

Falo agora dos aerogramas por mim enviados. O conteúdo nunca manifestou qualquer interesse, ao contrário de alguns camaradas que já aqui publicaram, eu nunca falei sobre as condições que tinha ou aquilo que fazia ou o que se passava, limitava-me a perguntar como era o estado de saúde dos meus pais e referindo que a minha saúde ia bem como sempre, lamentava a falta de assunto e lembrava que o mais importante era a passagem do tempo.

Desconheço se a censura era apertada ou não sobre este tipo de correio. Já com o correio pago, carta, posso dizer que uma vez dei por haver algo estranho, umas fotos que enviei nunca chegaram, mas foram caso único e desconheço a razão, suspeito, mas nunca consegui apurar a verdadeira causa. Quanto à circulação do correio, em termos de tempo, aerogramas ou cartas, sempre me pareceram normais, havia alguma demora apenas quando mudava de SPM.

Continuo a guardar quase todos os aerogramas e cartas que enviei aos meus pais. Por mais que uma vez estive tentado a deitá-los fora, mas depois dá-me um remoque e acabam por ficar, talvez a pensar que os netos poderão interessar-se e gostar de saber o que se passou, não com o avô, mas sobre a história do País, aquela que parece quererem apagar ou esquecer. Mas mesmo mantendo tudo interrogo-me, valerá a pena?

Enfim, quem cá ficar que decida o que fazer com estes papéis.

Belarmino Sardinha
___________________


Leiria > O projeto SPM, dos artistas plásticos Nuno Sousa Vieira e Rita Gaspar Veira, com apoio da Liga dos Combatentes .- Núcleo de Leiria e Junta de Freguesia de Leiria
___________________


Prezado Jovem

Que neste momento, quando receber este aero, esteja de boa saúde junto dos seus amigos, são os nossos votos. 

Somos como já deve saber, pelo carimbo que está na parte de fora, “O Correio Áureo”.
O Correio Áureo é um departamento das Assembleias de Deus, formado por dezenas de jovens que pretendem que os militares possam receber através do serviço de correspondência, apoio moral, revistas “Novas de Alegria” e “Caminhos”, literatura, Bíblias, Novos Testamentos etc.
A criação deste departamento foi ideia de um furriel miliciano, membro da Assembleia de Deus de Lisboa, quando prestava a sua comissão na província da Guiné. 

A missão do “Correio Áureo” é além de tudo, a de edificar espiritualmente os militares incrédulos. Isto é, aqueles que ainda não andam neste maravilhoso caminho. 

Talvez o jovem esteja agora a pensar a que caminho eu me estou a referir. (...)

sábado, 1 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17532: O nosso livro de visitas (191): Américo Santos, ex-Fur Mil TRMS, retratado, enquanto recruta do CSM, em foto publicada no nosso Blogue (Américo Santos, Fur Mil TRMS / César Dias, Fur Mil Sap Inf)

Tavira > CISMI > Almoço do dia do Juramento de Bandeira > Meados de 1968 > Tony Levezinho de lado (elipse encarnada), César Dias, de frente (a azul) e, em segundo plano, o Fernando Hipólito (a amarelo). O Hipólito, que descobriu o César Dias através do nosso blogue, foi mobilizado para Angola. O António Levezinho, por sua vez, vou conhecê-lo, mais tarde, no Campo Militar de Santa Margarida, nos princípios de março de 1969, aquando da formação da nossa companhia (independente), a CCAÇ 2590/CCAÇ 12. Foi um dos grandes amigos que eu fiz na Guiné.

Foto: © César Dias (2010). Todos os direitos reservados
Legenda: Luís Graça

************

1. Mensagem do nosso camarada e leitor Américo Santos, com data de 28 de Junho de 2017, a propósito da foto que acima se reproduz referente ao Juramento de Bandeira do 3.º Turno de 1968, da Recruta do CSM, no CISMI, em Tavira, publicada pelo nosso camarada César Dias no Poste 12703[1]

Boa tarde,   Camarada Luís Graça,

Sou o Américo Branco dos Santos, moro no Montijo, trabalhei na TAP e estou reformado.

Assentei praça no dia 16 de julho de 1968 no 3.º turno no CISMI em Tavira, na 3.ª Companhia, se não me engano. Lembro-me que era a primeira caserna do lado direito quando se entra na parada. Se não estou enganado, tinha o n.º 435/68.

Agora passo a explicar como cheguei aqui. Andava na Net e lembrei-me de ver se existia ainda o CISMI, pensava eu que já tinha sido vendido para construção. Pois fiquei a saber que ainda não através do teu blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné.

Ao percorrer o blogue vejo uma foto em que apareço eu e restantes camaradas no jantar do dia do juramento de bandeira, nem queria acreditar no que estava a ver, quase me vieram as lágrimas aos olhos, pois passados tantos anos e de tantas vezes me ter interrogado do que seria feito dos camaradas do meu pelotão.

A última vez que vi alguns foi em 1969, em Santa Margarida na messe de sargentos, quando lá fui fazer uns trabalhos no posto de transmissões daquela unidade, estavam a tirar o IAO para depois embarcarem para o ultramar.

Pela foto dá para depreender que fizeste parte do mesmo pelotão e da mesma companhia, tivemos destinos diferentes, eu sai de Tavira e vim para o Batalhão de Telegrafistas em Lisboa, estive quase a ser mobilizado para a Guiné, escapei por um triz porque entretanto chegou pessoal novo e fiquei aliviado até passar a peluda.

Posto isto,  vão ai umas fotos que tenho cá em casa e onde identifico alguns camaradas, já não me lembro de todos porque os anos passam e a cabeça já não funciona bem.


Foto n.º 1 - Com o n.º 1 está o comandante de pelotão, que não me lembro o nome (encontrei-o em 1980 ou 81 na Olivetti em Lisboa trabalhava com as ATM); com o n.º 2 sou eu; com o n.º 3 o Filipe de Lisboa (Alfama?) tinha pavor a saltar para o galho; com o n.º 4 o Cavaco do Algarve (Quarteira?); com o n.º 5 conheço mas não sei o nome; com o n.º 6 penso que era o Luís que acompanhava muito comigo e com o Filipe, eram ambos de Lisboa; com o n.º 7 o camarada que marchava no meu lado direito, não me lembro o nome.




Fotos: © Américo Santos (2017). Todos os direitos reservados

Para terminar, gostava que o camarada se identificasse na foto e identificasse os que se lembrar e, qual a situação de todos ou alguns.

Adeus, um abraço
Obrigado
Américo Santos

************

2. Comentário do editor

Caro camarada Américo Santos_

O lema no nosso Blogue é: O Mundo é pequeno... e a nossa Tabanca é Grande, logo não admira que encontrasses aqui uma fotografia onde estás entre camaradas de recruta, no CISMI de Tavira, no almoço do Dia de Juramento de Bandeira.

Vamos recorrer ao César Dias, com quem ainda contemporizei na Guiné, para ver se ele reconhece mais malta do vosso tempo, e se sabe dos seus paradeiros.

Queremos agradecer o teu contacto e as fotos que nos enviaste, aqui publicadas.

Esperamos que nos continues a ler,  apesar de teres sido um dos sortudos a quem não foi oferecida viagem e estadia em África durante 2 anos. Nem sabes o que perdeste.

Em nome da tertúlia e dos editores, deixo-te um abraço.
Carlos Vinhal
____________

Notas do editor

[1] Vd. poste de 10 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12703: CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, 1968: Guia do Instruendo (documento, de 21 pp., inumeradas, recolhido por Fernando Hipólito e digitalizado por César Dias) (1) : Parte I (1-6 pp.)

Último poste da série de 12 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16950: O nosso livro de visitas (190): Evaristo Pereira dos Reis, 66 anos de idade, residente em Setúbal... Ex-1º cabo condutor auto, de rendição individual, esteve no QG (1971/73), mas na maior parte da comissão foi mestre de obras da Câmara Municipal de Bissau, ao tempo do maj cav Eduardo Matos Guerra, como presidente

domingo, 11 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17454: (De) Caras (71): Também eu fiz parte dessa rede de "contrabando de ternura" que permitia, aos nossos familiares, fazer-nos chegar a Bissau e ao 'mato' as suas "encomendinhas"... (Hélder Sousa, ex-fur mil trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72; criado em Vila Franca de Xira e a residir hoje Setúbal)

1. Comentário deixado no poste P17453 (*), pelo nosso colaborador permanente Hélder Valério de Sousa (ex-fur mil trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72, ribatejano a viver em Setúbal, com página pessoal no Facebook)


Uma história deliciosa (não só por causa do bacalhau...) que demonstra bem a capacidade inventiva do 'português típico' que é capaz de descortinar uma saída qualquer para os 'milhentos' problemas com que muitas vezes se depara.

Essa cadeia de solidariedade, de boas vontades, funcionou. E funcionou bem.

Em Vila Franca de Xira, onde vivi até ir para a Guiné e ainda algum (pouco) tempo depois, havia (e ainda há) um rapaz do meu tempo (1 ou 2 anos mais velho),  o Orlando Levezinho, que julgo ser primo do Tony. Tocava num daqueles conjuntos que proliferavam na década de sessenta e acho que ainda hoje está ligado a actividades musicais.

Mas o que me levou a fazer este comentário foi o apelo do Luís para que aparecessem mais histórias de remessas de produtos que chegavam por diversas formas e meios.

É claro que para quem estava em Bissau as coisas eram muito mais facilitadas, mas no interior também chegavam coisas. Acontece é que para o Levezinho a cadeia de solidariedade era mais complexa mas, mesmo assim, não teve quebras...

Uma das formas como as coisas chegavam era pelo 'portador'.

Quando se regressava de férias lá havia umas 'lembranças', fosse em bacalhau, chouriços, queijos, etc.

Quando fui para a Guiné (já contei aquando da minha apresentação aqui) fui portador de um garrafão de água-pé, castanhas e outras coisas, pois calculava-se que chegaria lá a tempo para o S. Martinho e de facto assim aconteceu pois cheguei no dia 9 de Novembro.

Essa 'encomenda' foi para o meu conterrâneo José Augusto Gonçalves, colega de turma na EICVFXira [, Escola Industrial e Comercial de Vila Franca de Xira] que era Fur Mil no Pelotão de Transmissões (tratava da montagem dos rádios e assistência à aparelhagem),  cujo quarto (que ele partilhava com outros dois Fur Mil,  o Vítor Ferreira, também de Vila Franca e meu parceiro/competidor de bilhar na "Brasileira", e o já aqui várias vezes referido Pechincha, da CART 11) fui usufruir.

Mais tarde, também foi a minha vez de receber alguma coisa, desta vez por intermédio de um tripulante do T/T "Niassa". Era avisado por carta (ou aerograma) de que isso ia acontecer, estava atento à chegada dos navios, entrávamos em contacto e lá recebia a encomenda.

Também tinha a sorte de ter um primo (aí já em terceiro grau...) na Base Aérea [,BA 12, em Bissalanca], o Sargento Salgado Valério (acho que era Valério Salgado, não sei bem) e que também de vez em quando recebia coisas por via aérea e que me facultava parte quando calhava.

Mas a maior parte e mais interessante, eram as encomendas que o meu camarada das Transmissões e da Escuta, o Fur Mil Nelson Batalha,  recebia.

O seu pai era funcionário de um Despachante aqui de Setúbal, o Fernando Pedrosa, que foi dirigente do Vitória de Setúbal e também com responsabilidades federativas.

Algumas vezes foi possível enviar, já quando estávamos em Bissau, na Escuta, umas caixas isotérmicas em barcos que passavam por Setúbal, por exemplo o "Ana Mafalda". Nessas caixas iam imensas coisas variadas que o Nelson partilhava connosco. Fruta da época (lembro-me bem dos melões, que o pessoal nativo dizia ser "papaia da metrópole"), compotas, bolachas, enchidos, etc..

Havia também patês variados de coisas que não estava habituado, como veado, javali e outros (isso agora é corriqueiro mas na época o que havia eram os de sardinha e atum e de presunto) e também várias espécies de salsichas, da Baviera, suecas, etc, que provinham das amostras que os fornecedores deixavam na Alfândega e que,  pronto!,  lá seguiam até à Guiné.... para se fazer o teste e aprova de qualidade.

Quando estive no interior, no 'mato', em Piche, lembro-me que de vez em quando havia quem recebesse coisas da 'Metrópole' mas não me lembro qual o meio utilizado.

Abraços
Hélder Sousa

_______________

Nota do editor:

Vd. poste de  10 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17453: (De) Caras (77): O "contrabando" da... ternura ou como o "fiel amigo", o bacalhau, chegava à Bambadinca, ao Tony Levezinho, utilizando uma vasta rede de intermediários, do navio-tanque da Sacor à Casa Fialho - Parte II

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Guiné 61/74 - P17276: Blogues da nossa blogosfera (77): Alda Cabrita, em 24/4/2015, à conversa com o gen trms ref Pena Madeira: uma história com h pequeno dentro da História com H grande, a colocação do cabo de transmissões no Posto de Comando do MFA, na Pontinha... (Uma homenagem à arma de transmissões: a não perder, amanhã, às 21h00, na RTP1, o documentário "A Voz e os Ouvidos do MFA")


Odivelas > Pontinha > Núcleo Museológico do Posto de Comando do MFA, no Regimento de Engenharia 1. Imagem: cortesia da União das Freguesias  de Pontinha e Famões



O ator João de Brito e o ex-fur mil Carlos Cedoura, em 16/1/2017, na rodagem do documentário "A Voz e os Ouvidos do MFA", de António-Pedro Vasconcelos e Leandro Ferreira.  Fonte: cortesia da página do Facebook de João de Brito.


 



1. Página da escritora Alda Cabrita... Este texto ("À conversa com... Um dos primeiros passos para o sucesso do 25 de Abril"), datado de 24 de abril de 2015,  merece ser lido e divulgado. É uma homenagem à arma das transmissões e ao seu papel, discreto mas decisivo, no sucesso (operacional) do movimento dos capitães, em 25 de abril de 1974.


À conversa com o major-general ref Pena Madeira, então  jovem capitão de transmissões  em 1974, Alda Cabrita conta-nos uma  história dentro da História que é agora retomada em documentário "A Voz e os Ouvidos do MFA",  realizado por António-Pedro Vasconcelos e Leandro Ferreira, a ser emitido no próximo 25 de abril, às 21h00 na RTP1. (*)

Com a devida vénia à autora, aqui vão alguns excertos:

(i) "A 20 de Abril de 1974, foi [...] determinado [ao Capitão Pena Madeira], pelo então Tenente-Coronel Garcia dos Santos, que estabelecesse a integração na rede telefónica automática militar do Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas, que iria ser montado no Regimento da Pontinha, para que pudesse ficar ligado a todas as unidades do Exército. Analisado o problema, foi decidido que essa incorporação iria ser feita com recurso a um cabo telefónico aéreo de 5 pares, que teria o seu início no Instituto dos Pupilos do Exército e iria percorrer uma distância aproximada de 4,5 km." (...)

(ii) "Os trabalhos, a cargo da secção de guarda-fios, [de que era chefe o furriel miliciano Carlos Cedoura,] iniciaram-se ao crepúsculo de segunda-feira, 22 de Abril. Pelas 4 horas da manhã do dia 23, tinha-se conseguido lançar o cabo telefónico até ao Colégio Militar, sendo que a tarefa foi facilitada pelo facto de ter sido apoiado nos postes telefónicos militares já existentes ao longo de todo o percurso. Durante a manhã foram efectuados trabalhos de consolidação, tendo esta primeira fase sido dada como concluída pela hora do almoço do dia 23." (...)

(iii) "Cerca das 20 horas, deste mesmo dia, foi iniciada a segunda fase de lançamento que iria ligar o Colégio Militar à Pontinha. Nesta fase, tudo se tornou mais complexo, dado não existirem pontos de apoio onde o cabo pudesse ser amarrado. A juntar a estas dificuldades, o tempo galopava. Assim, o cabo foi lançado com recurso à capacidade de improviso que parece ser típica dos militares de Transmissões, passando por postes, esquinas dos prédios e até pela copa das árvores. Acresce que as actividades que estavam a ser executadas tinham carácter secreto e não podiam levantar qualquer suspeita." (...)

(iv) (...) "Às 6 da manhã do dia 24, o cabo telefónico chegaria, como previsto, à porta do Quartel da Pontinha, onde uma pequena equipa procedeu à sua consolidação, seguindo-se ensaios de continuidade nos locais mais importantes, tais como o Quartel-General da Região Militar de Lisboa, os Pupilos do Exército, o Serviço de Telecomunicações Militares em Sapadores e no Posto de Comando na Pontinha." (...)

(v) "Das cinco linhas telefónicas instaladas, duas ficaram ligadas à central automática do Quartel-General, outras duas à central automática da Escola Prática de Transmissões em Sapadores, e a última destinava-se a fazer a ligação ponto-a-ponto entre a sala de operações do Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas e a central automática da Escola Prática de Transmissões, onde iriam ser efectuadas escutas telefónicas, designadamente, às comunicações entre os Ministros da Defesa e do Exército, o Chefe de Estado Maior do Exército e as linhas militares que serviam a PIDE-DGS." (...)

O texto merece ser lido por inteiro, na página pessoal de Alda Cabrita. No final da conversa (com visita e fotos tiradas no Núcleo Museológico do Posto de Comando do MFA, no Regimento de Engenharia 1, na Pontinha, Odivelas), o maj-gen trms ref Pena Madeira "considerou importante fazer referência aos elementos que também estiveram directamente envolvidos neste processo", a saber:

(...) "Tenente-Coronel Garcia dos Santos, Comandante das Transmissões da operação e que apresentou aos dois oficiais do Serviço Telefónico do Exército, o requisito operacional da necessidade de telefones automáticos ligados à rede telefónica militar que foram colocados no Posto de Comando do MFA na Pontinha;"

(...) "Capitão Veríssimo da Cruz que, com ele, foi corresponsável pela organização e concretização das actividades descritas. Desenvolveu uma acção notável dentro do quartel no aliciamento da secção de guarda-fios e do seu chefe;

(...) "Furriel Miliciano Carlos Cedoura que, como chefe da secção de guarda-fios, aceitou executar o trabalho de lançamento do cabo telefónico, apenas sabendo que era urgente e clandestino." (...)
2.  Nota do editor:

O "trailer" do documentário sobre a colocação do cabo de transmissões no Posto de Comando do MFA, pode ser visto aqui, na página do Facebook da produtora, a JustUp:

https://www.facebook.com/justup/videos/750370961812397/

A partir de informação dada pelo general trms ref Garcia dos Santos,  que identificou o ex-fur mil Carlos Cerdoura, foi possível a sua localização, através do Arquivo Militar.  O realizador António Pedro Vasconcelos interessou-se de imediato por esta história de dentro da História, onde o protagonismo foi de atores até agora desconhecidos dos portugueses,  militares de baixa patente, de transmissões,  de uma arma discreta mas fundamental em qualquer operação militar. O documentário, com a reconstituição deste episódio, tem um título feliz,"A Voz e os Ouvidos do  MFA". (**)

______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série >  12 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17044: Blogues da nossa blogosfera (76): Operadores Portugueses Lançam Guiné-Bissau (Ilhas Bijagós) como destino de férias 2017 (Tabanca do Centro)

(**) Vd. poste de 18 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17255: Agenda cultural (554): "A Voz e os Ouvidos do MFA", documentário realizado por António-Pedro Vasconcelos e Leandro Ferreira, a ser emitido no próximo 25 de abril, às 21h00 na RTP1

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16805: Inquérito 'on line' (95): Texto e contexto: batota, balda, ronha, cobardia, indisciplina, traição?... Ou às vezes, também bom senso, experiência, velhice, sensatez ? (Hélder Sousa, ex-fur mil trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72)



Guiné > s/l > c. 1970/72 > Algures, o nosso Hélder Sousa, fur mil trms TSF, em funções de radiolocalização... Um trabalho onde, teoricamente,  era fácil (?)  fazer batota (*)...

Foto: © Hélder Sousa (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário.ao poste P16800 (**), nosso colaborador permanente Hélder Valério de Sousa (ex-fur mil trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72): 

Texto e contexto: batota, balda, ronha, cobardia, traição ?... Ou às vezes,  também bom senso, experiência, velhice, sensatez ?... [Título do editor]

Desta vez não participei no inquérito.

Não por qualquer reserva mental ou discordância. Apenas porque a minha situação no CTIG (rendição individual), o meu enquadramento 'operacional' (enquanto no 'mato' dependente da Direcção de Bissau e depois em actividade tipo repartição funcionando em turnos) e o próprio tipo de acção (centro de escuta e guerra electrónica) não configuravam nenhuma das opções para escolha.

Também não iria entrar aqui pela porta do 'ouvi dizer' ou do 'houve uma vez um camarada que me disse que...'
Portanto, aguardei as conclusões do inquérito e o meu comentário não foge muito ao que os antecessores disseram.

O que o Carlos Vinhal diz é muito justo, "marcar operações pelo mapa é uma coisa, progredir no terreno é outra", pelo que admito que algumas vezes fosse bastante ajuizado não cumprir à risca as determinações abstractas. 

Seria isso 'balda'? Depende da forma se abordar. Se se tratou de uma acção deliberada do género "quero que as ordens se lixem, eu quero é defender a integridade da pele", sem qualquer outro tipo de situação que em certa medida justificasse esse 'contorno' das ordens, pois certamente que seria 'balda'. Caso contrário pode ser enquadrado numa atitude de sensatez de comando no local, em função das circunstâncias.

Claro que não faltarão os 'vigilantes', almas boas zelosas do cumprimento cego dos regulamentos, que apontarão o dedo acusador a tais camaradas e sentenciarão "cobardes, traidores" e outros mimos.
Como de costume, há de tudo!

Lembro-me de ter relatado aqui o que me aconteceu ainda não teriam decorrido duas semanas (nem tenho já a certeza de não ter sido mesmo ao fim de uma semana) em que fui incumbido de acompanhar um dos dois elementos da Racal [Eletronics] que estavam em Bissau a promover a venda de um dos seus equipamentos. 

Como disse na altura, um era um Oficial do exército da África do Sul e o outro engenheiro da Rodésia (ou vice versa, para o caso isso agora é irrelevante) e eu, com meia dúzia de dias, acompanhei no interior fechado duma viatura das transmissões o Oficial e o rádio lá instalado e ia-se fazendo comunicações em vários locais à volta de Bissau para o 'posto director' onde estava o Engenheiro com o outro aparelho de rádio instalado numa tenda no pátio do STM. 

Durante o dia correu tudo normalmente. Foi necessário fazer também as experiência à noite para verificar quanto as interferências nocturnas seriam, ou não significativas. 

Hélder Sousa, hoje
Como disse, estava há duas semanas, no máximo, na Guiné, apenas em Bissau, de onde ainda não tinha saído, pouco ou nada conhecia para além dela e para além das notícias e deturpações que se costumavam contar (havia também os ecos dos embrulhanços do outro lado do Geba) e estava dentro do espaço fechado da viatura. Na cabina de condução, para além do condutor ia também um outro Furriel, periquito como eu, totalmente desconhecedor dos procedimentos, dos perigos e dos mitos.

Em certa altura do processo apercebi-me que se andava para a frente e para trás, no mesmo percurso, e depois que se andava em círculos. O Oficial também percebeu, procurámos saber o que se passava e o condutor disse que assim era melhor, mais seguro, pois para onde nos estavam a mandar ir não era seguro à noite. 

Relatei isto e logo os 'vigilantes' caíram em cima com observações de exacerbado patrioteirismo... não tiveram em conta o enquadramento, só tinham como alvo a crítica.

Portanto, formas de 'tornear ordens' houve muitas. O que eu relatei, que se passou comigo, será, ou não, uma delas. (***)

Hélder Sousa
________________

Notas do editor:

(*)  Vd.postes de radiolicalização:


12 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5636: Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (8): Como fui parar ao Centro de Escuta

26 de abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1702: A guerra também se ganhava (ou perdia) nas ondas hertzianas (Helder Sousa, Centro de Escuta e de Radiolocalização, Bissau)

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16643: Estórias avulsas (86): O velho problema da falta de meios nas Transmissões (José Luís Gonçalves, ex-Soldado Radiotelegrafista, 2ª CCAV/BCAV 8320/73, Olossato, 1974)

Chegada de correio ao Olossato
Foto: © José Luís Gonçalves


1. Mensagem do nosso camarada José Luís Gonçalves (ex-Soldado Radiotelegrafista da 2.ª CCAV/BCAV 8320/73, Olossato, 1974), com data de 23 de Outubro de 2016:

Boa tarde meu caro Carlos Vinhal.

Só agora estou a responder, ao teu convite, porque muito embora acompanhe o blogue no Facebook, não tenho muito tempo livre. Posso aos poucos contar alguns episódios que se passaram durante o tempo que estivemos no Olossato e quando depois ficamos aquartelados na Amura.

Como deve ser do conhecimento de todos que na altura estavam ligados às transmissões, principalmente os radiotelegrafistas e os operadores de cripto, foram meses em que todos os dias recebíamos mensagens extensas a comunicar deserções de elementos de milícias, com armas e fardamento, para não falar das outras mensagens com ordens e outros assuntos.

No Olossato só tínhamos a trabalhar o rádio "STORNO" e os "Bananas" que utilizávamos para comunicar com os helis e as avionetas que nos levavam o correio da Metrópole.

Os outros radiotelefones Racal, e um da marca Marconi, que tinha uma série de relés, e que nunca conseguimos saber como funcionava, estavam avariados. Por isso não tínhamos hipóteses de utilizar telegrafia, porque só me lembro de ter visto um "AN-GRC9" em Bissorã, quando numa deslocação em serviço à CCS do Batalhão, para receber ordens de como devíamos preparar a entrega do nosso material de transmissões antes de fazermos a transferência do aquartelamento para o PAIGC.

Bom, isto tudo serve para contar um pequeno incidente que aconteceu no nosso posto de rádio.

O nosso furriel de transmissões, sportinguista dos quatro costados, quando saiu do avião deve ter tido um choque de calor que lhe deve ter "toldado" um pouco o juízo, e, apesar de ter conhecimento de que os Racal estavam avariados, vinha invariavelmente altas horas da noite, quando não tínhamos operador de serviço, (por não termos rádio), e começava a chamar por Bissorã em altos berros.
Até que um dia, aliás uma noite, fomos acordar o nosso Capitão para pôr fim àquele abuso.
O furriel acabou por ser enviado para Bissorã e nós ficamos sem chefe de transmissões na companhia.

Junto vou enviar uma foto, da chegada de uma avioneta, à nossa pista, onde estou eu e dois radiotelefonistas com os famosos "Bananas (AVP1)" a tiracolo.

Um grande abraço. e prometo não demorar a contar outra história.
José Luís da Silva Gonçalves
____________

Nota do editor

Último poste da série de 9 de junho de 2016 > Guiné 63/74 - P16183: Estórias avulsas (85): "Naja nigricollis" emboscada no Xime na cama de um furriel… teve um fim triste e dramático (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp /Ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74)

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16514: Tabanca Grande (496): José Luís da Silva Gonçalves, ex-Soldado Radiotelegrafista da 2.ª CCAV/BCAV 8320/73 (Olossato, 1974), 729.º Grã-Tabanqueiro

1. Mensagem do nosso camarada e novo amigo tertuliano, José Luís da Silva Gonçalves (ex-Soldado Radiotelegrafista da 2.ª CCAV/BCAV 8320/73, Olossato, 1974), com data de 12 de Setembro de 2016:

Boa tarde.

Como disse na minha comunicação anterior, quando confirmei as afirmações do Nelson Cerveira[1], sobre os acontecimentos decorridos aquando a nossa partida da Guiné-Bissau em Outubro de 74, encontrei o Blogue por acidente, e quis logo inscrever-me nele. Não sei se fiquei inscrito mas pelo menos tenho recebido os vossos mails.

Prometi que mandaria imagens desse embarque no Niassa e vou tentar enviá-las em anexo assim como as minhas actual e na altura.

Pertenci à 2.ª Companhia do BCAV 8320/73 e era Operador Rádiotelegrafista.

Não sei o que é preciso mais para poder colaborar, mas de qualquer forma aqui deixo as minhas saudações, para todos os ex combatentes da Guiné-Bissau.

José Luís da Silva Gonçalves

************

Nota do editor:

[1] - Meus caros, Acidentalmente, quando procurava os brasões, do BCAV8320/73, vim dar com este blogue, e aproveito para confirmar as declarações do Nelson Cerveira, na sua narrativa, sobre o 25 de Abril de 74 e o nosso embarque no Niassa, de regresso. Tenho algumas fotos desse embarque das lanchas para o navio, que se me ensinarem como se faz terei todo o gosto em enviar. Eu era operador rádio telegrafista na 2ª companhia que esteve estacionada no Olossato. Saudações para todos e disponham sempre.

************



Centro de Transmissões do Olossato



A bordo das LDG que nos levaram até ao Niassa - Dia de muito nevoeiro

************

2. Comentário do editor de serviço:

Caro José Luís
Estás apresentado à tertúlia.
Foste dos felizardos que foram para a Guiné já em tempo de paz. A vossa missão foi praticamente entregar parte do espólio do Império, destino há muito traçado a um Portugal, cujo regime já apodrecido, fazia prever. Diga-se o que se disser, o modo como se procedeu à descolonização não foi o melhor, mas manter ou acabar a guerra competiria ao poder político. Como este não não resolveu a situação, foram os militares que tiveram de tomar em ombros essa missão.
Cumpriu-se o destino, mas de modo atabalhoado, com todos os inconvenientes para ambos os lados.

Regressaste em Outubro já de um país independente, a Guiné-Bissau, com a missão cumprida e sem baixas como se queria.

Gostava que nos contasses pormenores desses tempo, lá no Oio, por onde também passei nos idos anos de 1970/71/72, e também já em Bissau enquanto faziam todos os preparativos para a retirada final. Como era o clima em relação às nossas tropas, tanto da parte dos civis como dos militares do PAIGC, e qual a perspectiva dos nossos camaradas guineenses para os tempos de paz que se avizinhavam?
Tens muito para nos contar.

Como não podia deixar de ser, ao terminar, deixo-te um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores.

Ao teu dispor o camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
____________

Nota do editor

Último poste da série de 19 de setembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16502: Tabanca Grande (495): Jorge Ferreira, ex-alf mil, 3ª CCAÇ (Bolama, Nova Lamego e Buruntuma, 1961/63), nosso grã-tabanqueiro nº 728...

domingo, 4 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16447: Efemérides (234): Cerimónia de imposição de Medalhas Comemorativas das Campanhas a Combatentes da Guerra do Ultramar, levada a efeito no passado dia 21 de Abril de 2016 no Regimento de Transmissões do Porto (José Firmino, ex-Soldaddo At da CCAÇ 2585)

Vista panorâmica do Regimento de Transmissões do Porto


1. Mensagem do nosso camarada José Firmino (ex-Soldado Atirador da CCAÇ 2585/BCAÇ 2884, Jolmete, 1969/71) com data de 22 de Agosto de 2016:

Teve lugar no passado dia 21 de Abril do ano 2016, no Regimento de Transmissões – Porto, a entrega tardia, mas diz o ditado que vale mais tarde que nunca, da entrega de diversas Medalhas Comemorativas de Campanha com Legenda, na qual eu também marquei presença para receber aquilo que há muito tinha direito.

Numa cerimónia bonita e bem conduzida, onde não faltou a presença do Exmo. Comandante da Unidade, acompanhado por diversos oficiais, sargentos e praças.

Depois de impostas as respetivas medalhas, seguiu-se o desfile das tropas em parada, com a fanfarra à frente, e ai senti como que um arrepio, lembrando outros tempos que já lá vão e em que gostei de ser militar, defender o meu País e honrar a nossa bandeira.

Finda a cerimónia, seguiu-se uma visita guiada ao Museu da Unidade. Sem dúvida, gostei de rever por lá algum material de transmissões que também usámos no cumprimento da nossa comissão de serviço.

Cumprimentos a todos os ex-Combatentes, familiares e amigos.
José Rodrigues Firmino.
Ex-Soldado Atirador da CCAÇ 2585/BCaç 2884
Jolmete, Guiné
1969/1971


Compasso de espera

Preparativos

Alinhados já em formatura

Comportamento à altura dos acontecimentos

Ponto mais alto

Já com as Medalhas impostas

O Comandante da Unidade, Senhor Coronel de Transmissões Carlos Jorge de Oliveira Ribeiro, a dirigir palavra aos medalhados

Foto de família


Equipamentos de Transmissões em exposição

************

2. Comentário do editor

Diz o camarada Firmino que recebeu tardiamente a sua Medalha, tem razão, mas não há alternativa se não fazer o requerimento para a receber, já que ninguém sabe se ainda somos vivos e onde moramos.
Há ainda a opção de a comprar nos estabelecimentos da especialidade, tendo para o efeito de ser apresentada a Caderneta Militar, onde consta a OS da atribuição da Medalha e da respectiva legenda.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 15 de julho de 2016 > Guiné 63/74 - P16305: Efemérides (233): 15 de novembro de 1970, às 11 da noite, o quartel e a vila de Nova Lamego são violentamente flagelados com fogo de 4 morteiros 82, durante 35 minutos... 3 mortos entre as NT, 4 feridos graves, 8 ligeiros; 8 mortos entre a população, 50 feridos graves, 30 ligeiros... Valeram-nos os Fiat G-91 estacionados em Bafatá... Spínola mandou construir um quartel novo, fora da vila, inaugurado em 31/1/1971 (Tino Neves, ex-1º cabo escriturário, CCS/BCAÇ 2893, 1969/71)