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quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13743: Os nossos médicos (80): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (12): Até a Maria Turra dizia que o antipalúdico Pirimetamina, do Laboratório Militar, fazia mal à tusa...


Guiné > Zona leste > Setor L5 (Galomaro) > BCAÇ 3872 (1972/74 > Saltinho > O jovem alf mil med Rui Vieira Coelho no Rio Corubal, no Saltinho, em 1973. O Saltinho era o aquartelamento mais distante do Setor L5, sendo abastecido através do Setor L1 (Bambadinca)... Os abastecimentos eram desembarcados no Xime, e depois as forças do BCAÇ 3872 tinham que atravessar todo o território do Setor L1; Xime - Bambadinca - Mansambo - Xitole - Saltinho. O troço Xime-Bambadinca já era asfaltado (c. 10/12 km)... O pior eram os restantes 60/70 km...

 Foto: © Rui Vieira Coelho (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]

1. Resposta,  a um comentário de LG. (*), enviada pelo  Rui Vieira Coelho, médico reformado, ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74) [, foto acima, em 1973, no mítico Rio Corubal, no Saltinho]


Data: 16 de Outubro de 2014 às 01:30

Assunto: Desidratação


Na Guiné pedia aos operacionais para não se esquecerem de tomar um anti-palúdico do Laboratório Militar, de nome Pirimetamina,  ás quintas e domingo,para evitar as crises palúdicas, que por vezes tomavam características graves como o Paludismo Cerebral.

Por vezes sentia-me a pregar aos peixes como Santo António, pois o pessoal achava que se tomassem os comprimidos teriam alterações negativas no seu desempenho sexual.

Enfim,  boatos que corriam em surdina entre os operacionais e que prejudicavam o desempenho da operacionalidade dos grupos de combate, das companhias e dos Batalhões .

A Maria Turra na emissão da Rádio do PAIGC utilizava por vezes o prejuízo que acarretava a toma de determinados medicamentos pelos nossos militares, explorando psicologicamente o temor fazendo com que os boatos se tornassem realidade tentando agravar a saúde psicológica e física das nossas forças. A contra-informação era uma realidade e uma arma poderosa da guerrilha também a ser explorada.

A pressão sobre os profissionais de saúde era grande e por vezes a desconfiança era a má conselheira, fazendo no meu caso pessoal com que tomasse os comprimidos na frente do pessoal na altura das refeições, para anular os boatos que pudessem persistir.

Nas crises palúdicas o tratamento era feito com Resochina em soro polielectrolítico e aplicação endovenosa e dava sempre uma incapacidade de alguns dias, sobrecarregando os colegas e diminuindo a capacidade operacional do grupo de combate a que pertenciam ou levando á substituição por outro pessoal o que moral e eticamente era reprovável no caso de serem feridos em combate.

O meu Gin Tónico pela manhã tinha o efeito de,  além de me sedentar, desentupir a gorja e também como medicamento visto a água tónica ter Quinino,  outro anti-palúdico.

Pela noite depois do jantar lá vinha o wisky com água Perrier, para acompanhar um bom bate papo no alpendre da messe de oficiais fazendo correr o tempo até chegar o grupo de combate que diariamente saía para patrulhamento. Só depois de ter a certeza que todos tinham chegado bem,  é que eu me recolhia para dormir depressa, pois acordava sempre pelas 6 horas da manhã, seco como as palhas á espera de um novo Gin para me restaurar a esperança de que esse dia seria muito melhor que o anterior.

Um abraço do Rui Vieira Coelho

Enviado do meu iPad

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Nota do editor:


Comentário de Luís Graça:

Meu caro Rui:

 (...) Quanto às tuas preocupações de médico com o risco de desidratação do pessoal em operações no mato... Em Bambadinca nas messes de oficiais e sargentos, a distribuição dos pacotinhos de sal e da pastilha de quinino estava assegurada pelo pessoal de serviço que punha a mesa ... Mas as praças, será que não se esqueciam frequentemente de tomar as "pastilhas" ? Os nossos soldados tinham mesmo que se desenrascar...

Já não me recordo com que frequência se tomava o medicamento para a prolilaxia do paludismo... Já não me recordo do nome... Já quanto ao "comer sal" todos os dias ao almoço, tornou-se um hábito saudável... Hoje é um das coisas que evito, o sal, o acúcar e a gordura...

Em todo o caso, a nossa alimentação era desiquilibrada... À boa maneira portuguesa, procurávamos fazer uma boa refeição ao almoço... E o resto era petisqueira, para quem podia... O pior era quando andavámos no mato: aí rapava-se fome, mas a tensão era grande, e a preocupação com o regressar são e salvo ao quartel amigo mais próximo inibia-nos de sentir fome... Um homem pode passar vários dias sem comer, mas não sem beber... Gerir 2 cantis de água para um operação de 2 dias era dramático... Por isso fazíamos a guerra de noite e de madrugada...

A desidratação e a perda de peso eram dois grandes problemas com se defrontavam os operacionais como eu... Cheguei a perder 4 a 5 kg. numa só operação... Por sistema, não levava ração de combate, mas apenas fruta e às vezes um frasquinho de uísque...

Gosto de gin tónico mas na Guiné preferia a água (filtrada) com uísque ou o uisque com água de Perrier. Pequenos luxos que nos ajudaram a sobreviver. Mais difícil era o "desmame", depois de passarmos à peluda... Hoje não bebo (ou só raramente bebo) um uísque. Na Guiné tinha outro sabor, outro encanto (...)

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13733: (In)citações (69): Amigos das ONGD Ajuda Amiga e Tabanca Pequena, é importante abrir poços, mas se a água não for "Iagu Sabi", a população abandona-os (Cherno Baldé, Bissau)



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > O fur mil at inf Arlindo Roda, apurando a sua técnica de beber "iagu di bolanha, manga di sabi"...

Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


1. Comentário de Cherno Baldé ao poste P13728 (*)

Caros amigos,

Esta água de bolanha de cor de leite e sabor ligeiramente adocicado era muito utilizada e, de certa forma, bem apreciada pelas populações nativas que eram obrigadas a passar a maior parte do tempo no mato (nos campos de lavoura, guarda do gado ou nos trabalhos da bolanha).

No entanto ela bem podia ser apelidada de água assassina, pelos graves prejuízos que causou e ainda continua a causar na saúde dos Guineenses.

Para quem não saiba, informo que uma grande proporção dos doentes que, através das juntas médicas, procuram tratamento especializado no exterior, sobretudo em Portugal,  tem a ver com doençaas dos rins e muitos acabam por lá ficar, porque não temos no país condições para a necessária hemodiálise que o sangue precisa com regularidade para sua purificação.

Em recentes análises de sangue que eu mesmo realizei, por razões profissionais, informaram-me que tenho uma elevada concentração de creatinina, que é uma amostra de possíveis problemas de rins devido a acumulação de impurezas.

Felizmente, para mim, não há muitos motivos para alarme, pois que já ultrapassei a casa dos 50, que é o limite máximo da esperançaa de vida de um Guineense.

Ao pessoal da Ajuda Amiga [e da Tabanca de Matosinhos] quero alertar que, sendo importante a criação dos poços melhorados de água potável para melhorar as condições de saúde das populações, não é menos importante a qualidade da mesma, pois se não for "bebível" (Iagu Sabi), o mais provavel é que seja abandonado pelas mesmas populações que, aparentemente, careciam da mesma. Para o Guineense a água tem que ser Iagu Sabi com um gosto especial para os seus paladares.

Com um abraco amigo,
Cherno Baldé (**)
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Notas do editor:


segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13728: (Ex)citações (238): Água da Bolanha... quem a não bebeu ?! (Mário Pinto, ex-fur mil at art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71)

1. Mensagem do Mário Pinto [ex-fur mil at art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá", Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71]

Data: 12 de Outubro de 2014 às 15:46

Assunto: Água da Bolanha quem a não bebeu (*)

Caro Luís Graça

O tema "água da bolanha quem a não bebeu?"  remete para  mais um dos sacrifícios que nós, os ex-combatentes, estávamos sujeitos nas nossas muitas missões pelas matas e bolanhas da Guiné.

No meu sector não era a falta de água que nos afligia, pois existia muita e felizmente em quantidade. o problema é que a maioria dos poços existentes a sul de Mampatá estavam todos minados ou inquinados pelo PAIGC o que limitava o nosso abastecimento quando das nossas deslocações. Era preciso uma atenção redobrada e uma picagem maciça do terreno quando era necessário o seu abastecimento nas nossas missões a sul de Mampatá e não nos podemos esquecer dos famosos comprimidos que nos eram distribuídos para colocar na água inquinada das bolanhas e poços.

Tivemos alguns dissabores na procura do precioso líquido, lembro-me de uma vez o 1.º Cabo Enf Alves que seguia no 4.º Grupo de Combate e que regressava do corredor de Missirã, depois de lá ter permanecido 24 horas ter caído numa mina A/P na nascente de Iroel, já perto de Mampatá, quando procurava abastecer-se devido à sede que apertava.

Eram muitos os perigos que assolavam as NT à procura de saciar a sede, porque dois cantis de água que levávamos à cintura para 24 horas era muito pouco para quem com o calor tórrido da Guiné se desidratava a cada minuto que caminhava sob aquela temperatura de 45º e de uma hostilidade sem piedade para quem não estava habituado àquela intempérie. Nem a rudeza da maioria dos nossos soldados, oriundos do Alentejo e habituados ao sol e ás temperaturas elevadas da sua terra em pleno verão, aguentavam tamanha contrariedade que era a sede.

No mato que eu me lembre fomos sempre deficitários quanto a água excepto no período das chuvas, aí sim havia com fartura ás vezes até em demasia. Existia outra situação que não ajudava nada a nossa necessidade de matar a sede era a ração de combate que nos distribuíam quando saíamos, derivado à sua constituição à base de salgados e doces, o que não admirava a maioria optar por a deixar no aquartelamento e não se alimentar durante a saída.

Uns mais outros nem tanto, mas o certo é que nós todos tivemos a nossa cota parte nas águas das bolanhas.

Um abraço
Mário Pinto (**)
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 12 de outubro de 2014 > Guiné 63/734 - P13722: Fotos à procura de... uma legenda (38): Estrada Nova Lamego-Bafatá, maio de 1970: Fomos à água... Água das Pedras ou da Bolanha ? (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)

domingo, 12 de outubro de 2014

Guiné 63/734 - P13722: Fotos à procura de... uma legenda (38): Estrada Nova Lamego-Bafatá, maio de 1970: Fomos à água... Água das Pedras ou da Bolanha ? (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]

Guiné > Zona leste > Estrada Nova Lamego- Bafatá > Maio de 1970 > CART 11 (1969/70) > 'Fomos à àgua: água das Pedras ou água da Bolanha'?


Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]


1. Texto e foto enviados hoje pelo Valdemar 
Valdemar Queiroz
Queiroz [ou Valdemar Silva][, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]:


Ora viva, caro Luís Graça.


Esta fotografia foi tirada, em Maio  de 1970, no percurso de Nova Lamego/Bafatá, numa coluna civil, com a segurança do 4º. Pelotão da CART 11, na paragem para 'arrefecimento' junto dum poço de água fresca (??!!).

O poço era de 'água da bolanha' (seca).: água fresca, barrenta, como se fosse água leitosa, sem bicharada, com abelhas a sobrevoarem, com os nossos soldados a dizer 'podi beber' e nós 'quero lá saber',  vai de bebermos uma água refrescante a caminho de Bafatá.

Lembro-me de, nos anos 62/63/64, ir acampar para Troia. Campismo selvagem, campismo de liberdade.(A PIDE andava por lá). Lembro-me de haver poços escavados no chão para tirarmos água, água leitosa, água sem bicharada, água com abelhas a sobrevoarem, mas água fresca e para beber.
Quem me dera estar acampado, em Troia, e a ouvir os Beatles nuns bailaricos de fim de semana. Quem me dera.

Nesta fotografia, 'Fomos á água', mais parece uma representação teatral, mas não é:

(i)   o ex-Fur Mil Macias,  o primeiro da esquerda,  com a arma à caçador, está admirado; ele, exímio caçador, alentejano, da Aldeia Nova de S. Bento [, concelho de Serpa,], não podia ter outra postura.

(ii) a seguir o ex-1º Cabo Silva também está espantado;

(iii)  e a seguir estou EU, quero lá saber 'com mais um copo' ;

(iv) depois o Fur Mil Arm Pes Canatário, de Alpalhão [, concelho de Nisa], de tronco nu, também a interrogar que água é esta;

(v) atrás está o Demba Jau, o nosso homem da Bazuca, do nosso Pelotão [, o 4º];

(vi) depois um militar que ia, de certeza a caminha da 'peluda';

(vii) mais atrás, à esquerda um condutor civil duma viatura empanada,  a precisar de água para o radiador .
E, então, do poço ninguém fala ? Este era um grande poço, antigo, para abastecer por quem lá passava.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10799: Ser solidário (140): A Tabanca Pequena de Matosinhos - Mais uma Tabanca do sul com água potável, Cautchinké, na Mata de Cantanhez.

1. Por mensagem do nosso camarada José Teixeira da Tabanca Pequena ONGD, chegou ao nosso conhecimento a concretização de mais uma iniciativa daquela organização, ao dotar com água potável mais uma tabanca da Guiné-Bissau, cabendo agora a vez de Cautchinké, na Mata de Cantanhez.

Com a devida vénia à AD ONGD, transcrevemos a notícia do acontecimento.



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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 DE DEZEMBRO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10749: Ser solidário (139): A Tabanca Pequena de Matosinhos dá novo apoio à ONG guineense AD - Acção para o Desenvolvimento

domingo, 30 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10460: Dossiê Guileje / Gadamael (24): O abastecimento de água ao aquartelamento e tabanca de Guileje (Manuel Reis, ex-Alf mil, CCAV 8350, 1972/74)

1. Mensagem de Manuel Augusto Reis, com data de hoje, e em resposta a um pedido meu, formulado no poste P10456 (*)

Caro Luís:
Terei muito gosto em responder ás questões por ti solicitadas. Muito me espanta que este assunto ainda não tenha sido referido neste espaço. Já foi dissecado noutro espaço, dada a sua importância e influência que teve na decisão final da retirada de Guileje.
O poço localizava-se em Áfia, a 4 Km de Guileje, e a recolha da água era feito por um pequeno grupo de 8 homens (secção), que garantiam uma falsa protecção pois, se detectados pelo inimigo, eram facilmente apanhados à mão.

Nunca houve qualquer problema, emboscadas, minas, etc, era necessário que sucedesse uma vez,  para redobrar os cuidados, bem típico dos portugueses. Era assim nas companhias anteriores, a sobreposição foi feita deste modo rotineiro e assim continuou no meu tempo.

Como era feita a nível de secção, só me recordo de lá ter ido uma vez à água. Passei por lá outra vez de regresso a um patrulhamento que efectuámos ao Quebo, nas imediações do Mejo, onde supostamente se localizaria um novo aquartelamento, que apresentaria algumas facilidades logísticas, dada a proximidade de um largo rio que fazia fronteira com o Cantanhez.
A recolha da água era feita uma vez por dia, só excepcionalmente se ia a Áfia duas vezes. No caso de obras, por exemplo, tornava-se necessário mais água e havia necessidade de lá voltar.
Os homens, os bidões e a bomba eram transportados em viatura através de uma picada em estado muito razoável.
A população abastecia-se de água nas imediações do aquartelamento, mesmo junto do arame farpado, onde existiam uns pequeços poços. Era aí também, nessa bolanha, que as lavadeiras lavavam a roupa, nossa e delas. Foram atacadas no dia 21 de Maio de 1973, tendo recolhido ao aquartemento, apavoradas, sem ferimentos, pois tratou-se de uma pequena intimidação.

As mulheres que lá se deslocavam tinham sido por nós informadas que a partir de 19 de Maio, à tarde, o caminho estava bloqueado pelo PAIGC (3º Corpo do Exército), que receberam  ordens para se deslocarem para lá, quando lá se encontravam nas matas do Mejo.

 O dia 18 de Maio, de tarde, foi a última vez que se efectuou essa deslocação sob o comando do então Major Coutinho e Lima. A secção destacada para esse serviço tentou esquivar-se, devido à turbulência que se verificou, umas horas antes, com uma violenta emboscada, nas imediações do aquartelamento, na picada para Gadamael, e que envolveu 3 grupos de combate.
No dia 21 já não existia água e a sua necessidade esteve na origem do risco que a população assumiu.
Na época das chuvas, com a picada intransitável, o reabestecimento era efectuado na bolanha pelas NT e população.
À pergunta que formulas sobre a inexistência de um poço de água no aquartelamento não te sei responder em concreto. De facto, nas imediações, os pequenos poços utilizados pela população poderiam ser uma solução com um pequeno investimento.  
Julgo que te respondi a tudo.
Um abraço.    
Manuel Reis
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Notas do editor

(*) Camaradas de Guileje:  Não temos aqui descrições detalhadas da ida á "fonte de Guileje"... É uma questão que me intriga...

Como é que era no vosso tempo ? Quantas vezes por semana ou por dia é que se ia buscar água ? Ia sempre um grupo de combate a fazer segurança ? E no caso da população ? As mulheres e crianças eram escoltadas pela mílícia ? Qual era a distância exata do de Guileje até à fonte (no Rio Afiá) ? 4 km ? A pé, era mais do que uma hora... Houve emboscadas, minas, percalços, etc., no vosso tempo ? Quando é que a bomba a motor ? Por que razão é que em tantos anos (19634/73) nunca se abriu um poço dentro do perímetro da tabanca e do aquartelamento de Guileje ?...

Provavelmente nunca ninguém pensou que um dia poderiam "morrer à sede"... (Desculpem a ironia, mas os nossos comandantes eram pagos para pensar, decidir, comandar, prevenir, prever, liderar)...

sábado, 29 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10456: Álbum fotográfico de Armindo Batata, ex- comandante do Pel Caç Nat 51 (Guileje e Cufar, 1969/70) (4): Guileje: abastecimento de água...








Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 (1969/70) > Em 1972/73, a fonte que abastecia o aquartelamento e a tabanca de Guileje, distava  cerca de 4 km.  Ficava no Rio Afiá. No tempo da CART 2140 (1969/70 e do Pel Caç Nat 51, o abastecimento era manual e  fazia-se com recurso a bidões, jericãs e garrafões. No tempo da CCAV 8350, a companhia que retirou de Guileje em 22/5/1973, havia já um bomba de água de água, a motor. Fotos  (nºs 1,2 3, 4) do álbum do Armindo Batata, comandante do Pel Caç Nat 51.

Fotos: © Armindo Batata / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Todos os direitos reservados [Fotos editadas por L.G.]


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) >  Em primeiro plano, junto à bomba de água, o Fur Mil Op Esp J. Casimiro Carvalho. A aparente descontração dos militares, em tronco nu, sem armas, a avaliar pela foto, sugere que ir à água era um ato de rotina... Desconhecemos se tanto em 1970 como em 1973, o grupo de serviço à água levava escolta armarda, como mandavam as mais elementare regras de segurança. Parte-se do princípio que sim, não aparecendo a escolta nas fotografia. A população civil abastecia-se também na mesma fonte, no rio Afiá (em 1972/73).

Recorde-se aqui que, antes da retirada de Guileje, em 22 de Maio de 1973, o último abastecimento de água ao aquartelamento e tabanca tinha sido feito em 19 de Maio de 1973. Os guerrilheiros do PAIGC, a avaliar pelas declarações de alguns dos protagonistas dos acontecimentos, prestados no filme-documentário As Duas Faces da Guerra (Diana Andringa e Flora Gomes, 2007), tinham o controlo da fonte a partir dessa data (ou até mesmo antes)...

É estranho que,  desde 1964, altura em que se instalou a primeira subunidade em Guileje, nunca se tenha equacionado (e sobretudo tentado resolver) o problema do abastecimento da água, requisito vital... Coutinho e Lima, nas onze razões que evoca para decidir retirar Guileje, apresenta em 5º lugar "a falta de água no aquartelamento" (Alexandre Coutinho e Lima, Cor Art Ref - A retirada de Guileje: a verdade dos factos. Linda-A-Velha: DG Edições. 2008. p. 78):

(...) "O abastecimento de água era feito a cerca de 4 kms na direcção de Mejo; o último fora realizado na manhã de 19 de maio de 1972 e não mais foi feita nenhuma tentativa, devido à presença muito provável do IN na área e igualmente ao facto da não evacuação das previsíveis baixas, se as houvesse, o que poderia acontecer, com alto grau de probabilidade."É do conhecimento geral que se pode viver durante algum tempo sem comida (esta estava assegurada pelas rações de combate), mas sem água, o tempo de sobrevivência é reduzido" (...).


Foto: © José Casimiro Carvalho (2007). Todos os direitos reservados.




Guiné > Região de Tombali > Guileje > Carta de Guileje (1956) > Escala 1/50 mil > Detalhe: localização provável da fonte de Guileje, a 4 km a noroeste do aquartelamento e tabanca de Guileje, na estrada Guileje-Mejo. Era aqui que em 1972/73 se fazia o abastecimento de água necessário para a vida de 800 pessoas (200 militares e 600 civis).


1. Em 26 do corrente, escrevi ao Armindo Batata o seguinte mail:

Armindo: Não tenho tido notícias tuas... Fui "ressuscitar" e "refrescar" as tuas belas fotos, em arquivo,,, Infelizmente, chegaram-nos, em 2007, via Pepito, sem legendas...Também não tenho nenhuma foto tua, atual... Sei que és um homem discreto, mas gostava que aparecesses mais vezes... Este é também o teu contributo, valioso, para o enriquecimento deste espaço de partilha de "memórias e afetos" dos camaradas da Guiné...Um abraço. Luís Graça


2. O Armindo teve a gentileza de me responder de imediato. Desse mail, pessoal, que muito agradeço e que muito me alegrou, reproduzo apenas o seguinte excerto:

Caro Luís Graça: Grato pelo teu email. De facto não sou frequentador assíduo do blog. (...)

Notei a exagerada adjectivação das fotografias. Agradeço. Irei então um dia destes vasculhar o baú e tentar organizar uma mão cheia delas. Mas a memória das coisas da Guiné perdeu-se quase toda nos 15 ou 20 anos de enterramento. A exumação foi parcial, muito por lá ficou, naqueles 15 ou 20 anos. Um abraço, Armindo Batata. (...).


3. Explicação dada pelo próprio Armindo Batata sobre as fotos em questão, já depois da publicação do poste:



(...) Creio serem oportunos alguns aditamentos no que concerne às minhas fotografias. O abastecimento de água documentado teve lugar no primeiro pontão na estrada Guileje/Gadamael. Era aí que em 1969 nos abastecíamos. A segurança era mantida por um pelotão (que também procedia ao abastecimento propriamento dito) e uma viatura do pelotão de cavalaria (enquanto guarneceu Guiledje). 

No entanto, observando melhor as fotografias, julgo reconhecer um dos alferes da companhia em cima da GMC e alguns dos militares metropolitanos não são do Pel Caç Nat 51. Seriam dois pelotões? É provável, até porque o local está no lado "mau" do quartel (o lado do cruzamento). Na ultimas destas fotografias, o militar metropolitano em pé no solo, é um dos cabos (Pires?) do Pel Caç Nat 51. 

Com o advento da época seca, a água rareava nesse local, sendo então o abastecimento (muito mal) garantido num poço que a população também utilizava e que ficava junto a uns terrenos de cultivo a SW do quartel, do lado "bom" portanto. 

Quando tal acontecia, a água era recolhida mais do que uma vez por dia, já que se esgotava no fundo do poço, e a distribuição da água no quartel era supervisionada por um alferes que, em cima da viatura, e depois de satisfeitas as prioridades (cozinha/padaria), a ía distribuindo em muito parcas quantidades, pelos muitos que dela necessitavam. E não era fácil. (...)
 
 
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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10452: Álbum fotográfico de Armindo Batata, ex- comandante do Pel Caç Nat 51 Guileje e Cufar, 1969/70) (3): As refeições, em Guileje