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quinta-feira, 5 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13238: (Ex)citações (234 ): A angústia do artilheiro quando tinha de dar apoio às NT, nomeadamente quando estavam sob fogo IN... (Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72, há mais de 4 décadas no Brasil)


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > Agosto de 1972 > O temível obus 14 [140 mm] em ação... à noite.

Foto: © Vasco Santos (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



1. Mensagem, de 25 do passado mês de maio,  do nosso camarada Vasco Pires [ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72; membro da Tabanca Grande, a viver na diáspora, Brasil]

...AINDA A ARTILHARIA DA GUINÉ.

Caríssimos Carlos/Luís,
Éramos poucos e dispersos, e dispersos continuamos, talvez por isso a nossa história seja tão pouco conhecida, digamos mesmo, quase esquecida.

O Comando da Artilharia na Guiné ficava em Bissau, BAC 1, GAC 7, e finalmente GA 7 quando agregou a Artilharia Antiaérea, sob o comando de um Oficial Superior de Artilharia e os Pelotões espalhados no TO, adidos a Companhias ou Batalhões que, penso, chegaram a 27. A tropa era do contingente local, sendo três graduados da tropa continental, um Alferes e dois Furriéis, e, raramente, um Cabo Apontador.

Os Pelotões não podiam sair dos quartéis sem uma autorização expressa do Comando em Bissau, ou - no meu tempo - com uma ordem escrita do Comando Operacional local; os Artilheiros ficavam, segundo alguns, no "bem bom" do arame farpado.

A Artilharia tinha funções de defesa e ataque, incluindo apoio às NT em combate. Eu, com excepção, de dois "passeios" que fiz no começo e no fim da comissão, ao Bachile e a Ingoré, passei a maior parte do meu tempo de serviço na Guiné num quartel da fronteira Sul, Gadamael, também conhecido como Gadamael Porto.

Os quartéis da fronteira Sul  eram "ilhas" rodeadas de arame farpado, no meio de "terra de ninguém", e ao alcance da Artilharia IN além-fronteira. Falar das condições operacionais da fronteira Sul, tornar-se-ia repetitivo, pois já foi feito exaustivamente.

A vigilância constante era apanágio da atividade da Artilharia, durante o dia no apoio às NT, e durante a noite em alerta para uma pronta resposta às flagelações da artilharia IN. Digo pronta resposta, contudo precedida de uma rápida análise da situação, para evitar o fogo de contra-bateria, ou seja evitar que uma resposta precipitada facilitasse a regulação do tiro IN. Em alguns casos extremos - aqui-del-rei que eles querem entrar! - poucos, felizmente, o Artilheiro tinha de dar uma de Clint Eastwood dos Trópicos, e fazer tiro direto.

Contudo, como já disse anteriormente noutro comentário, o momento de maior tensão do Artilheiro era o apoio às NT, principalmente quando estavam debaixo de fogo IN, todos podem imaginar a precaridade do envio de dados naquelas condições operacionais física e emocionalmente.

Quantos militares, até civis, não sentiram alívio quando ouviam o "troar dos nossos Canhões"?

OBSERVAÇÃO: escrevo estas mal traçadas linhas, motivado por um alerta do Camarada Luís Graça sobre a falta de conhecimento da "cultura" da Artilharia; não faz parte, pois, da coletânea "A minha guerra é maior que a tua".

...e siga a Artilharia... (**)

forte abraço a todos
Vasco Pires
Ex-soldaddo de Artilharia (IOL)
____________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

18 de maio 2014 > Guiné 63/74 - P13159: (Ex)citações (232): "Tristes artilheiros solitários" no meio dos infantes... (Vasco Pires, (ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72)

26 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13046: O segredo de... (18): O ato mais irresponsável nos meus dois anos de serviço como soldado de artilharia (Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72)

(**) Último poste da série 20 de maio de  2014 > Guiné 63/74 - P13167: (Ex)citações (233): Venho manifestar o meu apoio ao camarada Veríssimo Ferreira pelo repto que faz ao camarada Manuel Vitorino (Manuel Luís Lomba)

domingo, 18 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13159: (Ex)citações (232): "Tristes artilheiros solitários" no meio dos infantes... (Vasco Pires, (ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72)

1. Mensagem de do 7 do corrente do nosso camarada Vasco Pires (ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72; membro da Tabanca Grande, a viver na diáspora, Brasil]


"Vasco: Se calhar tens que ser... mais explícito... Onde é que o "cerne" da tua irresponsabilidade... Nem toda a malta conhece a "cultura" da artilharia... Abração, Luis" (*)


Caro Luis,

Cordiais saudações.

O teu oportuno comentário, sobre um post meu; me alertou que, realmente, a maioria dos Camaradas não está familiarizada com a "cultura" da Artilharia.

Logo que saímos de Vendas Novas, onde já éramos poucos, fomos para os quartéis, com muitos de nós dando instrução básica de Infantaria, para futuras CART (nominalmente).

Já éramos poucos, e assim continuava quando normalmente três de nós (caso da Guiné) éramos agregados a uma Companhia ou Batalhão de Infantaria, fazendo humor fácil com a letra de uma canção antiga éramos "...tristes Artilheiros solitários..." sem a "âncora" de Companhias ou Batalhões, e assim continuava quando voltávamos para casa, sem os salutares e terapêuticos convívios.

Operacionalmente, tínhamos uma formação "express" na "fábrica" de Artilheiros em Vendas Novas, diga-se de passagem com excelentes instrutores, mas com manuais dos tempos da guerra clássica; eu por exemplo, fui treinado para, supostamente, ser observador e para fazer a ligação do Batalhão ou Brigada com a Artilharia Divisionária. Então, éramos "jogados" em África, numa guerra de guerrilhas, que poucos Oficiais acima de Major, faziam ideia do que fosse.

Na Guiné, a tropa era Africana, nos Pelotões onde estive, éramos somente três da tropa Continental.

Quanto ao material era de bom a excelente, principalmente os Obuses 10,5, porém, mais uma vez, "hardware" e "software", transplantados da gelada Europa, para as tórridas e húmidas bolanhas dos deltas dos rios da África Ocidental.

Não irei discorrer sobre a complexidade do tiro de Artilharia, pois, o Nobre Artilheiro C. Martins já o fez neste Blog, com notável maestria.

Dentro do Aquartelamento, havia ordem expressa para não sair - imaginemos o efeito que teria a propaganda IN apresentar um "canhão" aprendido às NT - basicamente os trabalhos eram de ataque a bases IN, e resposta a ataques ao quartel, o que se tornou relativamente fácil para mim,  pois tive a sorte de ter uma equipe competetente ágil e leal.

Quando de um ataque ao quartel e o Comandante ordenava: todos para as valas e abrigos, o Artiilheiro era o único de pé a descoberto, não porque fosse mais "valente", mas porque era lá, no espaldão, que se sentia seguro.

Dando apoio às tropas de Infantaria, por vezes debaixo de fogo num ambiente com poucas referências, com cartas com a precisão que todos nós conhecemos, era sem dúvida o momento de maior tensão do Artilheiro, com necessidade de decisões e cálculos rápidos, por vezes acumulando as funções de Observador, Chefe do Posto de Comando de Tiro e Comandante de Bataria.

Espero, caro Luis, ter começado a responder à tua "ordem" de Comandante desta " Grande Brigada"!!!

forte abraço a todos

E siga a Artilharia...(**)

Vasco Pires
Ex-Soldado de Artilharia (IOL)

______________

Notas do editor:

(*) Vd. 26 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13046: O segredo de... (18): O ato mais irresponsável nos meus dois anos de serviço como soldado de artilharia (Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72)

(**) Último poste da série  > 6 de maio de  2014 > Guné 63/74 - P13107: (Ex)citações (231): O PAIGC também uma vez, em junho de 1968, "arrasou o campo fortificado de Mansambo" e "matou dezenas de soldados colonialistas", segundo a Maria Turra... Nós éramos apenas... 50 a defender-nos!.. Houve 2 feridos que não figuraram sequer no relatório: o 1º cabo cozinheiro, que se queimou na G3, e eu que me queimei no mort 60... (Torcato Mendonça, ex-alf mil, CART 2339, 1968/69)

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13139: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (29): A Cidadela de Cascais, que conheci em 1967, e de que fui comandante durante 370 dias em 1994/95 e sobre a qual escrevi um livro (António J. Pereira da Costa, cor art ref)






Cascais > A Cidadela de Cascais > 7 de maio de 2014 > Espaço interior e vistas sobre a baía de Cascais.


Fotos (e legendas) © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.



1. Comentário do nosso camarada António J. Pereira da Costa ao poste P13134 (*):

[foto atual à esquerda: alf art na CART 1692/BART 1914,Cacine, 1968/69;  e cap art cmdt das CART 3494/BART 3873, Xime  e Mansambo,  e CART 3567, Mansabá, 1972/74; 
hoje cor art ref]

Olá, Camaradas
Fui comandante desta unidade durante 370 dias (1994-95) e tive o máximo prazer nisso.

Conheci-a em 1967 quando ali fiz um estágio de Artilharia Anti-Aérea e depois voltei lá episodicamente até vir a ser o comandante (**).

Escrevi um livro sobre ela que o Exército e a Câmara Municipal apoiaram (o que quer dizer que não era assim tão mau) e que se chama "A Cidadela de Cascais: Pedras, Homens e Armas". Podem vê-lo e comprá-lo no posto de vendas da Câmara. Pela minha saudinha que não ganho nada com a venda...

Quanto às legendas... Ficam à imaginação dos observadores.

Um Ab.
António J. P. Costa


2. Comentário de L. G.:

Bingo!!!... Não tem nada que enganar!... É a Cidadela de Cascais... E merece bem uma visita demorada... Desde o Palácio da Presidência da República, à Pousada (a maior do país, com 120 e tal quartos), gerida pelo Grupo Pestana. Não percam a visita à cisterna da Cidadela... E às galerias de arte.

Com as minhas limitações de locomoção, não pude andar por todo o lado... Mas fiz uma visita, guiada, demorada, ao Palácio... (Vejam aqui mais informação no sítio da Presidência da República).

Sobre o historial militar (mais recente) da Cidadela de Cascais, ver o que diz o nosso assessor militar, o Zé Martins:

(i) Na Cidadela de Cascais cuja história remonta ao séc. XVI (se não mesmo antes), foi constituído o Grupo de Artilharia contra Aeronaves, nº 1, em 1937 e 1939.

(ii) Depois, em 1959, esta unidade foi transformada em Centro de Instrução de Artilharia Anti-Aérea e de Costa (, designação alterada para Centro de Instrução de Artilharia Anti-Aérea de Cascais, em 1977). 

(iii) É extinto CIAAAC em 1993.

O nosso D. Luís, pai do D. Carlos I, e avô do D. Manuel II, passou a frequentar o palácio do governador da cidadela, por razões da saúde (sofria de renite, se não erro) a partir do início da década de 1870. A época balnear, na altura, era mais tardia do que hoje: setembro, outubro, novembro... A família real voltava a Lisboa para a "rentrée", ou seja, a abertura da temporada da ópera no São Carlos... Bons tempos!... "Belle époque"!...


3. Mensagem de ontem, do António J. Pereira da Costa

Olá, Camarada:
Aqui vai a capa do meu livro sobre a Cidadela. Foi lançado em 2003 no Palácio Conde de Castro Guimarães em vez de ter sido na cisterna na qual não há qualquer vestígio da "ocupação militar".

Havia um conjunto de brasões de barro da autoria da ceramista Maria de Lurdes Valente. Eram brasões de todas as unidades de artilharia e do governo militar de Lisboa. Aí havia um brasão de grandes dimensões com as armas de Portugal e respectivos "tenentes".

No meu tempo, havia um pequeno museu com as imagens de Santa Bárbara, do Santo António, um pendão para as procissões do dia 13 de junho e vários guiões das unidades mobilizadas pelo GACA 2 (Torres Novas) e outras unidades.

Creio que as coisas reverteram para o RAA 1 (Queluz) se eram de AA e para a EPA, se eram de Artilharia de Campanha.
As peças os obuses e o morteiro do Bartolomeu da Costa reverteram para um ou outra

Um Ab.
António J.P. Costa

Título: "A Cidadela de Cascais: pedras, homens e armas"
Autor: António José Pereira da Costa;  Prefácio: Rui Carita.
Publicação: Lisboa:  Direção de Documentação e História Militar, 2003
Descrição física:  481p. : il.; 23 cm
ISBN:  972-8347-02-2 (brochado)
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 12 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13134: Fotos à procura... de uma legenda (27): Alguns de nós, poucos, passaram por lá... Foi centro de instrução militar...

(**) Último poste da série > 8 de maio de  2014 > Guiné 63/74 - P13115: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (28): Caldas da Rainha onde frequentei o 1.º Ciclo do Curso de Sargentos Milicianos até me magoar, baixar ao HMP e regressar a casa com licença registada (António Tavares)

terça-feira, 8 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12949: Em busca de... (240): À procura dos Artilheiros de 1969 em Gadamael (Manuel Vaz)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67), com data de 7 de Abril de 2014: 

Amigo Vinhal:
Como sabes, há meses que procuro contacto com alguém do Pel Art 13º (Gadamael, MAR/69). 
Até ao presente nenhuma pista se mostrou remuneradora e pensei apresentar no Blogue uma "petição pública" nesse sentido. 
Se falhar, só resta a pesquisa no Arquivo Militar em Lisboa. 
Pedia-te que, respeitando o protocolo seguido nestas circunstâncias, publicasses este Poste no Blogue, a ver se finalmente surgem boas notícias. 

Um abraço e Boa Páscoa para ti e família.
Manuel Vaz


À Procura dos Artilheiros de 1969 em Gadamael

A extinção de Aquartelamentos das NT na linha da Fronteira Sul, criou uma situação nova em Gadamael. Pela primeira vez, depois de obtido o controlo da estrada Cacine/Gandembel, o IN via alargado o seu campo de ação, numa zona sensível. O setor de Sangonha/Cacoca fora distribuído por Gadamael e Cacine, mas a proximidade da fronteira, a existência de estradas de penetração e as distâncias geradas criaram problemas novos.

 A 07/FEV/69 o Pel Rec 2085 é deslocado de Guileje para Gadamael e em Março seguinte é aqui colocado o Pel Art 13º. Tudo isto faz parte da memória da passagem dos Pelotões Independentes por Gadamael. Não foi muito difícil recolher elementos sobre os Pel Rec, mas ao abordar a presença dos Pel Art a pesquisa “encravou”.

Quando o Pel Art 13º chegou em MAR/69, estava em Gadamael a CART 2410 que em JUN/69 permutou a posição com a CCAÇ 2316 de Guileje. Esta, por sua vez em Setembro, é rendida pela CART 2478. A curta permanência das duas primeiras com o Pel Art impediu referências e contactos duradouros. Já a CART 2478, não tendo nenhum representante no Blogue nem tendo conseguido nenhum contacto, dificultou a recolha de informações(1)  sobre o que se passou em Gadamael entre SET/69 e DEZ/70, relativamente ao Pel Art 13º. Apesar da abordagem de vários camaradas, tentando encontrar contacto com os graduados do Pel Art 13º, o que se conseguiu recolher, limita-se a pouco: três fotografias e um nome.

Fotografias dos dois Furriéis do Pel Art 13º, gentilmente cedidas pelo camarada Luís Guerreiro

Pesquisando o nome de Fernando Lima, nas Páginas Brancas da PT, encontrei 13 telefones atribuídos, mas nenhum dos assinantes estivera em Gadamael. Já sobre o camarada da fotografia da direita, ainda não encontrei quem soubesse dizer sequer o nome.

Sobre o Alferes, comandante do Pel Art, o Camarada Vasco Pires sugere no Poste P11148, que o artilheiro que ele rendeu deve ser quem está na foto, nas suas costas “à paisana”, mas não sabe o nome dele. Há portanto forte probabilidade(2) do Pel Art 13º ter sido rendido pelo Pel Art 23º, talvez em SET/70 e termos na foto o Alf. do Pel Art 13º.

Fotografia publicada pelo Camarada Vasco Pires no Poste 11148, onde aparecem em destaque os Alferes artilheiros de Gadamael com o Vasco Pires à frente. Conhecidos, para além destes, estão ainda o Capitão Videira e o Alf. Mil. do Pel Rec, A. Costa Gomes, de óculos.

É esta a situação da pesquisa sobre o início da Artilharia em Gadamael. O que é imprescindível saber para reconstituir a memória do Pel Art 13º? Precisava saber: o nome do Alferes e as datas de chegada e partida de Gadamael do Pel Art 13º. Era ainda necessário saber quando o armamento do Pel Rec foi reforçado com o 3º Obus 10,5 e quando os Obuses foram agrupados em três espaldões, junto ao rio, do lado direito da saída do Aquartelamento e qual a razão desse local e desse agrupamento.

Será que algum leitor do Blogue pode dar uma ajudinha, esclarecendo estas dúvidas ou levando-nos ao contacto com alguém que saiba(3)  resolvê-las?

Poderão fazê-lo através do Blogue, enriquecendo o intercâmbio e o conhecimento de todos ou então para os meus contactos: familia.vaz@gmail.com // 252 615 517

Se mais esta tentativa falhar, resta remover resmas de O.S. no Arquivo em Lisboa!...
Obrigado
Manuel Vaz
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(1) - A HU desta Companhia é também muito sucinta, não registando nada sobre os Pelotões Independentes do seu tempo.

(2) - O Camarada Vasco Pires lembra-se que a Companhia que estava em Gadamael, quando lá chegou, era a CART 2478 e que o Pel Art que comandou foi o Pel Art 23º, mas não se lembra que Pel Art rendeu, nem tem a certeza da data/mês em que chegou.

(3) - A partir de Abril, terão lugar muitos encontros de Companhias, associando camaradas dos Pelotões Independentes. Seria uma boa altura para localizar alguém do Pel Art 13º
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Nota do editor

Último poste da série de 5 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P12933: Em busca de... (239): Alfredo Custódio António, ex-Condutor Auto da CCAÇ 2660/BCAÇ 2905 (Teixeira Pinto, 1970/71) procura o seu camarada e amigo Silva de Lisboa

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12218: Historial das Escolas Práticas do Exército (José Marcelino Martins) (4): Escola Prática de Artilharia de Vendas Novas




1. Historial da Escola Prática de Artilharia, localizada em Vendas Novas, trabalho de compilação do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), integrado na sua série Historial das Escolas Práticas do Exército.



















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Nota do editor

Último poste da série de 26 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12204: Historial das Escolas Práticas do Exército (José Marcelino Martins) (3): Escola Prática de Cavalaria de Abrantes

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11081: (Ex)citações (211): Ainda o P11033 (Vasco Pires)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 9 de Fevereiro de 2013:

Caro Carlos Vinhal,
Fico muito grato por tua atenção, ao criar essa secção "Fantasmas ...". Pois, tal como o velho Fernão Mendes Pinto, quarenta anos depois, alguns factos da nossa juvenil aventura Africana ficam nebulosos na nossa memória, outros ficam bem vividos.


Ainda o P11033

Do P11033:
"A outra suposta tentativa de invasão, penso "in the best of my recollection" (lá vem o recurso ao famigerado anglicismo), que o Comando já era do então Capitão de Artilharia Morais Silva, lembro ainda, que lá estavam os Comandos Africanos sob o comando do então Alferes Zacharias Sayeg. Julgo, que foi nessa data que fizemos disparo direto com o obus (10,5) para o fim da pista, num total do dia de cerca de 200 disparos, o que foi um erro meu, pois, entrei na "reserva estratégica" (que me perdoem os Artilheiros se não é este o termo exato); soube mais tarde por Oficiais lotados no comando da Artilharia, que por esse erro, o "Paizinho" pensou em me punir, o que não se concretizou."

Esses supostos disparos de obus 10,5, foram feitos, num dia (noite) de intenso ataque do PAIGC, à distância, e com aproximação ao quartel.

Fiz alguns disparos diretos para o começo (fim) da pista, o disparo direto, é um recurso extremo, e como tal só deve ser feito em situações extraordinárias.

Quanto aos cerca de 200 disparos durante o dia, foram feitos comprometendo a reserva mínima, o que foi um erro, principalmente num quartel com as dificuldades logísticas de Gadamael.

O Comandante do Aquartelamento de Gadamael, considerou a minha resposta adequada à intensidade do ataque IN, provavelmente foi o seu relatório que inibiu o "Paizinho" de me dar a sempre adiada porrada.

Quanto à quantidade de disparos dados durante o dia, nenhum Oficial do Comando da Artilharia (e lá em Bissau tinha muitos), considerou que o número de disparos (cerca de 200) feitos por 3 obus de 10,5 comprometessem o material.
Contudo, certas infrações em tempo de guerra não prescrevem, podem sempre seguir para uma instância superior. Foi o que para meu azar aconteceu, a absolvição do "Paizinho" foi revisada, e o camarada C. Martins me deu a tão adiada "porrada":


Do comentário ao P11033:
Enfiares 200 tiros de obus 10,5 em tiro directo no fundo da pista ...é obra...merecias uma "porrada".

Paciência... quem vai à guerra...

Forte abraço
Vasco Pires
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 31 DE JANEIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11033: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (4): Quem vem lá?

Vd. último poste da série de 9 DE FEVEREIRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11078: (Ex)citações (210): Fanado, circuncisão, excisão: diferenças interétnicas (Pepito)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10796: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (42): Quem roubou o nosso canhão?


Gadamael > Obus 14
Foto: © José Casimiro Carvalho(2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso amigo tertuliano Cherno Baldé com data de 10 de Dezembro de 2012:

Caro amigo Luis Graça,
Junto envio mais um texto que podem publicar na continuação das memorias do Rafeiro Chico, menino e moço.
Também copiei algumas imagens da época que foram gentilmente cedidas pelo amigo e Grão-Tabanqueiro José Cortes, ex-furriel miliciano da CCAÇ 3549, Deixós-Poisar que passou por Fajonquito entre 1972-74.

Um grande abraço com votos de um feliz Natal e um ano novo próspero.
Cherno Baldé
(Chico de Fajonquito)


QUEM ROUBOU O NOSSO CANHÃO?

No periodo da guerra colonial, pouco antes ou durante a permanência da CÇAC 3549 “Deixós-poisar” (1972-74) em Fajonquito, pequeno povoado com um aquartelamento militar, rodeado de arame farpado e torres de vigia construídos com troncos de palmeira, certo dia, no regresso da coluna que regularmente ia a cidade de Bafatá, sede do batalhão, trouxeram em reboque dois canhões muito grandes. Normalmente, tudo que a coluna trazia era suposto ficar na localidade.

Atrelados aos veículos, os canos largos, ameaçadores, olhavam para trás, virados na direcção contrária do sentido da marcha, o que, nas nossas cabeças de crianças, parecia ser, sem dúvida nenhuma, uma tolice dos nossos militares brancos, tão insensata como a ideia descabida de obrigar as nossas milícias a carregar na cabeça, granadas pesadas de morteiro ou bazooka, nas saídas ao mato, com as armas nas costas, sabendo de antemão que em caso de uma emboscada traiçoeira, a vida e a morte se jogavam em milésimos de segundos.

No caso dos canhões, se de repente, numa emboscada do inimigo, tivessem que ripostar rapidamente, iam fazer o quê? – Ficávamos a imaginar a reacção dos artilheiros. Primeiro iriam parar, virar o engenho, apontar ao alvo e depois disparar. Mas, havia uma questão importante, no entanto, sem resposta. Será que teriam tanto tempo?... Perguntas de crianças que tinham nascido e crescido no teatro de uma guerra que se teimava em eternizar e onde viviam como se de uma grande escola se tratasse, caldeirão efervescente que, de certeza absoluta, haveria de consumir gerações inteiras, caso não a tivessem posto fim, em boa hora.

Mas, voltando à nossa coluna, nesse dia, a nossa atenção não foi para os militares, cobertos de pó vermelho da estrada, à cata de novos amigos nem para os extravagantes jovens da Mocidade Portuguesa que regressavam dos festejos de 10 de Junho, nas suas novas fardas, camisas verdes, calções castanhos, o emblema das quinas ao peito, cor de ouro brilhando ao sol e, nem sequer nos lembramos de fazer o nosso trabalho de rotina que era recolher por baixo dos bancos de conduzir as armas e o cinto pesado de cartucheiras dos nossos patrões condutores. Os nossos olhos ficaram presos naquelas máquinas, engenhos escuros de metal, montados sobre gigantescas rodas, Caterpillars de pólvora, fogo e de morte que, finalmente, tinham chegado. Doravante a barraca de Samba-ulencunda estava ao alcance das nossas mãos. Desde a porta d’armas, acompanhamo-los, cuidadosamente, parando quando paravam, correndo atrás quando andavam, até ao centro do quartel onde foram estacionados. Deixando os apressados condutores partir, aproximamo-nos ligeiros, abraçando os canos enormes, encostando os nossos corpinhos franzinos a frieza metálica daqueles monstros impassíveis que nos pareciam velhos conhecidos.

Mesmo ali ao lado e rodeado de tanques repletos de areia, estava instalado o morteiro 81 que, em vista das novas e imponentes armas, fazia uma figura pálida, quase inútil na sua pequenez, boca ao ar, pedindo chumbo para cuspir ao céu. Tantos anos a viver com ele, estávamos por demais familiarizados com o “poc” da saída das suas granadas que caíam algures, perto das nossas bolanhas de arroz, quando batiam a zona para afastar o medo que crescia nas noites de chuva, calor e humidade.

Nessa noite, demoramos algum tempo a pegar no sono, devido à curiosidade que nos consumia antecipando o gozo de ouvir os estampidos da nova artilharia, mas dormimos melhor, embalados pela segurança que as máquinas de guerra nos proporcionavam. Ter canhões de guarda, nessa época, mais que segurança e prestígio, era uma questão de honra. Os mais velhos contavam que em terras de Gabú, mesmo as localidades mais insignificantes tinham canhões para terrorizar as povoações fronteiriças do Senegal onde habitavam os bandidos, lançando suas granadas compridas e grandes, um pouco maiores que o pénis de um jumento.

Mas, para nossa desilusão, e da mesma forma como tinham vindo, atrelados aos veículos, os canos largos, ameaçadores, insensatamente virados para trás, na direcção contrária do sentido da marcha, as máquinas de guerra tinham retomado sua marcha tenebrosa mais ao norte, para Cambaju, aldeia situada a menos de 500 metros da fronteira, o que, nas nossas cabeças de crianças, parecia ser, sem sombra de dúvida, mais uma tolice dos nossos militares, tão insensata como a ideia descabida de entregar armas repetitivas “Mauser” às populações civis para enfrentar guerrilheiros armados com Akas e metralhadoras automáticas, assim diziam os mais velhos.

No dia seguinte, voltando ao quartel para o habitual café com leite, as crianças constataram com grande tristeza que os seus canhões não só não estavam no local do dia anterior mas tinham sumido do pequeno aquartelamento, rodeado de arame farpado e torres de vigia construídos com troncos de palmeira. Estupefactas e inconformadas as crianças interrogavam-se entre si:
- Quem foi o …ȹɎψ₳… que roubou os nossos canhões?

Ao menos deixassem ficar um para salvar a honra da aldeia, afastar o espectro do medo que crescia nas noites de chuva e conquistar o respeito dos nossos vizinhos, Samba-ulencunda ali tão perto de nós.

Bissau, 7 de Dezembro 2012
Cherno Baldé (Chico de Fajonquito)



O Furriel José Cortes da CCAÇ 3549 “Deixós-Poisar” (1972-74), exibindo uma granada de obus estacionado em Cambaju.

Fajonquito > Refeitório geral > Os nossos amigos condutores. Da esquerda para a direita: Torres, Sérgio e Moreira da CCAÇ 3549 “Deixós-Poisar” (1972-74). 

Os nossos amigos condutore Dias, à esquerda, e Oliveira, à direita. No meio, os Rafeiros Seko (filho de um alferes milícia), Chico (eu) e Aliu (filho de um auxiliar nativo da cozinha geral).

Aquartelamento de Fajonquito > Furriel das transmissoes Farraia da CCAC 3549 (Deixós-Poisar) 1972/74, junto ao poste da bandeira. Ao fundo estamos, eu e um colega de infância, junto a porta da arrecadação de material de guerra, vendo-se cunhetes de granadas de obus ao redor.

Memorial aos soldados da CCAC 3549 a 2 de Abril/74:
1. Cap. Carlos Borges Figueiredo
2. Alferes Mil. José Fernando Rodrigues Félix
3. Furriel Mil. Alcino Franco Jorge da Silva
4. 1.º Cabo Antonio S. Alves
5. Sold. José S. F. Serra
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 17 de Novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10687: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (41): Poemas da juventude (IV): Desgraçada esperança, Kiev, novembro de 1988... (E tão atual: Vivemos tempos difíceis, tão difíceis que fazem pensar na descrição bíblica dos tempos derradeiros quando o irmão se vira contra o irmão e o filho contra o pai)

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9889: O Nosso Livro de Visitas (136): Lázaro Ferreira, ex- fur mil art, GA 7, Bissau, Gadamael e Ingoré (de 23 de março a 8 de setembro de 1974), advogado em Braga



Guiné > Região de Tombali > Carta geral da província (1961) (Escala 1/500 mil) > Posição relativa de Cacine, Gadamael Porto e Guileje, junto à fronteira com a Guiné-Conacri.

1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Lázaro Ferreira:

De: Lázaro Ferreira 


Data: 8 de Maio de 2012 17:26
Assunto: Guiné 23/03/1974 a 08/09/1974


Luí
s Graça, Camarada.

Há dias recebi um telefonema de Manuel Vaz, da Póvoa de Varzim, que conseguiu o meu contacto através de um camarada dos lados de Barcelos que me conhecia.

Pediu-me umas informações sobre a Guiné e fez –me umas perguntas, ao que julga relacionadas com o ataque a Gadamael 1973, ao que lhe respondi que cheguei à Guiné, [já em 1974. ] em rendição individual, era da artilharia pesada e estive em Gadamael, depois em Ingoré, e em 8 de Setembro, 2 dias antes da independência, regressei a Portugal.

Gosto do teu blogue. Neste momento não tenho mais tempo para fazer algumas narrativas, mas num dia destes e. se possível ao fim de semana, procurarei contar algumas coisas porque todos nós temos sempre qualquer coisa a ser avaliável por leitor atento e se possível um qualquer historiador da grã-tabanqueira.

O Manuel Vaz [mostrou]  elevada simpatia e curiosidade por encontrar mais um dos piras que esteve nos lados da África Ocidental, em algures da Guiné, nos anos 74.

Algumas minhas referências: 

(i) bfui furriel miliciano (, ecusei ser oficial);
(ii) sou advogado, licenciado pro Coimbra;
(iii) tenho gabinete na cidade dos arcebispos e dos (…), em Braga, junto ao Banco de Portugal / Caixa Geral de Depósitos;
(iv) já estive em alguns casos mediáticos e procurei sair-me bem.

Contacto do escritório: telef. 253 617 048.

Um abraço e bem ajas.
 Lázaro Ferreira

2. Comentário de L.G.:

Já contactei o Lázero, por tefone... Pareceu-me um tipo porreiro, descontraído, com imensa vontade de contar história do seu tempo do GA 7 (Bissau), Gadamael e Ingoré. 

Pelo que me contou,  a sua partida para a Guiné foi adiada com a revolta das Caldas da Rainha, em 16 de Março de 1973. Partiu a 23. Antes disso, passou pelas Caldas da Raínha e Vendas Novas. Estudou no seminário de Braga, tinha habilitações e aproveitamento, na  recruta,  para ir para o COM. Não quis aceitar a proposta do comandante da companhia de instrução, no CSM, porque achava que corria o risco de ir parar a atirador de infantaria.

Passou pelo GA 7, e esteve três meses em Gadamael, julgo que de abril a junho... Pelas minhas contas,  pertenceu ao 23º (ou 15º) Pel Art, comandado pelo nosso camarada C. Martins. Acontece que o Lázaro não se lembra (o que é normal) do nome do alferes do Pel Art.  Apanhou os primeiros contactos com a malta do PAIGC. Diz que era um tipo popular, bom jogador de pingue-pongue, esquerdino... 

Relata-me um episódio que o marcou-..Já com os obuses desativados (possivelmente em junho de 1973), o nosso "pira" foi para fora do quartel, mais uns tantos melros, dar uns tiros ao alvo, no mato... O que causou, naturalmente, algum alvoroço no quartel... O que valeu é que tinham levado rádio... Podiam ter apanhado com umas obusadas, se a ariilharia não estisse já deativada... Falou-me de alguns nomes, como o cozinheiro Tin-tin, de um jogador de futebol (cujo nome não fixei)... Talvez o C. Martins se lembra deste seu furriel, o que também é pouco provável, dado o pouco tempo que estiveram juntos...

Depois disso, foi para Ingoré, na fronteira com o Senegal,  onde fez a retração do aquartelamento. Passou lá muita fominha, ele depois nos contará os detalhes,  Voltou à metrópole em 8 de setembro... Estudou e viveu em Coimbra (a partir de 1978). Ficou de mandar fotos de Gadamael. E de se inscrever no blogue, na sequência do meu convite pessoal.

Quero dizer ao Lázaro que foi um prazer  falar com ele e que à volta cá o espero... Cá o esperamos...

PS - A prova de que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande: quando estava a falar, disse-me que tinha, naquele momento, um cliente, que também tinha estado na Guiné, em 1967/69, em Mansoa... e que a sua esposa era  uma das libanesas da terra.

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Nota do editor:


Último poste da série > 8 de maiode 2012 > Guiné 63/74 - P9868: O Nosso Livro de Visitas (135): José Ferreira, ex-1.º Cabo (Bafatá e Teixeira Pinto, 1967/68)

sábado, 5 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9857: Memórias da minha comissão (João Martins, ex-alf mil art, BAC 1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69): Parte III - BIssau e férias em São Martinho do Porto, em agosto de 1968



Guiné > Bissau > Quartel-General > O velho forte da Amura > Entrada principal > Foto nº  17/199 do álbum Guiné, disponível na página do Facebook, do João Martins.





Guiné > Bissau > BAC 1 [, Bateria de Artilharia de Campanha] > Obuses 8.8 e viaturas, de fabrico alemão, do tempo da II Guerra Mundial. Foto nº  30/199 do álbum Guiné, disponível na página do João Martins no Facebook.





Guiné > Bissau < Junho de 1968 > Piscina do Quartel General. Foto nº 7/199.





Guiné > Bissau < Junho de 1968 > Capela do Hospital Militar 241 > Foto nº 9/199.






Guiné > Bissau < 10 Junho de 1968 > Desfile militar > Início do 'consulado' do brig e depois gen António Spínola, governador-geral e comandante-chefe do CTIG (1968-1973) . Foto nº 44/199.




Fotos (e legendas): © João José Alves Martins (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. (Fotos editadas e parcialmente legendadas por L.G.) 





Memórias da minha comissão na Província Ultramarina da Guiné - Parte III (*)

por João Martins (ex-Alf Mil Art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69)


6 – Regresso a Bissau para gozar férias na Metrópole (Julho de 1968)



As férias aproximavam-se e regressei a Bissau a tempo de assistir às comemorações do 10 de Junho, de dar uns mergulhos na Piscina do Quartel-General (QG), de conhecer Mansoa, de ir até Nhacra, de passar por Quinhamel, e de tomar banho num local rodeado por uma paliçada, que, a certa altura, quando eu estava agarrado a ela e sem pé, tremeu toda, não cheguei a perceber se tinha sido por efeito de algum jacaré que teria dado pela minha presença e que ao ir ter comigo com ela teria chocado, mas é possível. 

Como não era um sítio propriamente agradável para se estar, e queríamos estar mais perto do mar, continuámos para oeste até ao fim da picada, a Ponta Biombo. Descemos até à praia e constatámos que, à nossa frente, havia uma duna de areia a uns cem metros, e que só a partir dela é que se via bem o mar.

A maré estava baixa e o chão, de lodo ressequido pelo efeito do calor, permitia-nos caminhar sem qualquer dificuldade. Passada cerca de uma hora, percebemos que a maré estava a encher e que a água nos rodeava completamente. Achámos conveniente regressar à praia, e assim fizemos. O problema é que o terreno ressequido por onde tínhamos passado já tinha cerca de meio metro de água, o que não dava para andar porque nos enterrávamos até ao joelho ferindo-nos nas conchas que estavam enterradas no lodo, e, também não dava para nadar porque a altura da água não era suficiente; só havia uma alternativa, era rastejar, e assim fizemos com o receio de algum de nós ser apanhado por algum jacaré. 

Com a maré mais cheia tomámos uma rica banhoca com a vantagem de termos por perto algumas “sereias” de tez bem clarinha, com muito bom aspeto, e que dava gosto ver depois de termos passado por tanta “escuridão”…

Finalmente, chegou o dia da partida para Lisboa para gozar umas mais que merecidas férias. A viagem correu da melhor maneira, mas, no aeroporto, à passagem pelo controlo de passageiros, algo de anormal se passou porque fui abordado por um senhor que me mostrou uma identificação. Concluí que devia ser da PIDE/DGS, pois “pediu-me” que o acompanhasse, enquanto eu ouvia uns comentários, estilo “aquele já vai preso”, é claro que não dei grande atenção aos comentários porque não tinha nada a recear, nunca tinha feito nada que justificasse aquela receção, a não ser dizer sempre tudo o que penso, e prontifiquei-me a acompanhar o tal senhor que me conduziu a uma sala.

Ao fim de algum tempo, que me pareceu exagerado, resolvi sair, ele estava cá fora e informou-me que não tinha autorização para sair porque eu estava detido.
 
Bem, nunca me tinha acontecido tal coisa de modo que resolvi aguardar pacientemente a evolução dos acontecimentos. Chegou então o meu pai que vinha atrasado contra o seu costume e que me vinha receber e levar até ao Ministério da Defesa Nacional [MDN], onde estava colocado na altura. É claro que o meu “guarda” temporário percebeu o ridículo da situação e se desfez em desculpas.

Chegados ao MDN, compreendi que pretendiam conhecer as minhas impressões sobre a evolução do TO da Guiné. Como estava de mau humor depois daquela detenção inesperada como receção, quando esperava recompor-me do “stress” acumulado em horas de combate, resolvi desabafar.







Quadrante 1 (Norte,  Noroeste): Principais localidades: Bissau (capital),  São Domingos, Farim, Bissorã, Mansoa, Teixeira Pinto e Fulacunda  (sedes de concelho ou circunscrição). Outras localidades que eram postos administrativos: Sedengal, Bigene, Olossato, Bula, Calequisse, Caió. Binar, Safim, Injante, Quinhamel, Prabis, Encheia,  Olossato, Mansabá, Porto Gole, Tite...






Quadrante 2 (Sudoeste): Principais localidades: Bolama, Bubaque, Catió  (sedes de concelho ou circunscrição)... Localidades que eram postos administrativos, excluindo os Bijagós: São João, Empada, Bedanda, Tombali, Cabedu, Cauane, Cacine...


Quadrante 3 (norte e noroeste): Principais localidades: Bafatá, Nova Lamego  (sedes de concelho ou circunscrição)... Postos administrativos: Bambadinca, Xitole, Darsalame (pertencia a Fulacunda), Galomaro, Bengacia, Beli, Piche, Pirada, Sonaco, Contuboel, Colina do Norte, Gã Mamudo..




 Quadrante 4  (sudeste): Principais localidades:  Nenhuma sedes de concelho ou circunscrição:  Apenas 2 localidades fronteiras, com a categoria de posto administrativo: Quebo, Guilege (com g)...

 
Mapa da Guiné que foi oferecido  ao João Martins, por seu pai, oficial da Marinha, quando esteve estava destacado no Ministério da Defesa Nacional (MDN), e o filho foi mobilizado para o TO da Guiné... Não tem data, escala, nem legendas, não se podendo perceber, por exemplo, o significado nem das cores nem das linhas a vermelho que delimitam porções do território. O mapa é claramente anterior à guerra, seguramente dos anos 40/50.


 Recortámo-lo em quatro partes para simbolizar a ideia de "puzzle"... Ontem como hoje, a Guiné é um "puzzle", uma quebra-cabeças... pensando na conversa (algo surreal) que o João Martins teve no MDN, à chegada a Lisboa, na sua viagem de férias, e que tenta reconstituir - mais de 40 anos depois - neste texto das suas memórias... (LG).
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E fui dizendo que estávamos numa guerra em que os nossos responsáveis políticos e militares não estavam à altura das circunstâncias, e que o desconhecimento do sentir das populações e a falta de competência das chefias para enfrentarmos aquela guerra era mais do que evidente, que uma guerra de guerrilhas apadrinhada, implementada, promovida e incentivada pelas grandes potências que eram de facto o nosso principal adversário, não devia ser conduzida com tanta incompreensão do que se passava no TO e dos sentimentos profundos das populações.


Transmiti a minha convicção de que aquela guerra tinha a sua origem num cariz político e que só podia ser ganha se tudo se fizesse para melhorar o nível de vida das pessoas, incentivando e apoiando o desenvolvimento económico e social, e que era fundamental, para o efeito, que se organizasse todo o apoio possível à produção e se limitassem as margens de comercialização.

Afirmei que era de primordial importância que se criassem postos de trabalho que contribuiriam para uma vida melhor e uma felicidade a que todo o ser humano tem direito. Expliquei que era imprescindível dar emprego a toda a gente e atender à satisfação das necessidades básicas que são a alimentação e a habitação, e que para isso era necessário desenvolver a agricultura, as pescas e a agropecuária, e era necessário cultivar produtos passíveis de exportação tais como o arroz, a manga, o abacaxi e o amendoim, para equilibrar a balança de pagamentos.

Também era óbvio que o sector energético e o dos transportes deveriam ter pessoas competentes a geri-los, entendendo-se por gestores competentes aqueles que, não endividando as empresas, colocavam no mercado os seus serviços e os seus produtos a preços de venda realmente baixos, contribuindo desse modo para o acréscimo da viabilidade financeira das empresas suas clientes, aliviando a necessidade de recorrerem ao crédito, permitindo o aumento dos vencimentos e do poder de compra das populações, o que traria o fortalecimento da atividade económica, e, em consequência, o aumento da cobrança dos impostos, fundamental para atender às necessidades básicas dos mais desprotegidos, nomeadamente em termos de saúde, e também, e finalmente, para contribuir para o financiamento do esforço de guerra.

Também expliquei que os portugueses, tanto os da Metrópole como os do Ultramar, o que pretendiam era uma vida melhor, mais digna, com desemprego nunca superior a 3%, limite que, quando ultrapassado, deve levar qualquer regime político a ser substituído por um mais competente que evite a saída para o estrangeiro de portugueses, quer dos menos qualificados quer dos mais qualificados e que a emigração que se verificava em Portugal era uma verdadeira vergonha nacional que revelava a grande incompetência dos responsáveis políticos, e a possível falência do regime a curto prazo.

Continuei dizendo que a dívida externa nunca deveria ultrapassar os 30% do Produto Interno Bruto, porque se isso se verificasse, os juros da dívida representariam um custo adicional dificilmente suportável, e que era pois premente promover a produção de modo a evitar as importações e a consequente saída de divisas que poderiam pôr em causa o equilíbrio financeiro da balança de transações correntes.

E acrescentei que, para apoiar devidamente aqueles setores da economia era absolutamente necessário que o governo controlasse a taxa de juro dos empréstimos. Por outro lado, considerava que era completamente errada a política de baixos salários da maioria dos portugueses, na medida em que é o poder de compra que permite o desenvolvimento das trocas comerciais, da atividade económica e a arrecadação por parte do Estado do imposto de transações que lhe permitiria fazer face aos seus compromissos, e, para isso, tornava-se necessário que o dinheiro fosse gasto na aquisição de bens e serviços produzidos no país a começar por aqueles que se destinam à satisfação das necessidades básicas. 

Por outro lado, devia-se evitar salários e ordenados demasiado elevados, muitas vezes não merecidos, mas que se justificavam apenas pela sua natureza “política” (afilhados) ou de “grupos de interesse ou de pressão”. E precisei que estes rendimentos são na maioria das vezes canalizados para paraísos fiscais, ou, na aquisição de bens de luxo e de importação como sejam os automóveis de elevada cilindrada e as viagens ao estrangeiro. Portanto, era fundamental, para bem do país, diminuir a diferença de rendimentos entre ricos e pobres, promover o crescimento económico, aumentando o poder de compra das populações, diminuir o desemprego, a dependência energética e os custos de exploração das empresas.

Acrescentei que felizmente havia a preocupação de manter a moeda forte e a inflação baixa, pelo que se justificava poupar e investir, porquanto, se tal não ocorresse, por exemplo, se a inflação fosse da ordem dos 30%, quem tivesse poupanças no valor de 100$00, ao fim de um ano valeriam 70$00, e ao fim de dois anos valeriam 49$00, isto é, bastariam dois anos para valerem menos de metade, o que é uma maneira de tornar as pessoas mais pobres retirando poder de compra a quem consegue “poupar” e é um nítido convite ao consumo em detrimento da poupança que possibilita o investimento, e em consequência, a criação de postos de trabalho.

Para quebrarem este meu discurso que já ia longo, perguntaram-me o que é que eu pensava do Amílcar Cabral.

 Resolvi responder que em minha opinião era um herói nacional, porque, pelos comunicados do PAIGC, na rádio, afirmava a sua condição de português e o que pretendia não era propriamente a independência, mas sim, uma vida melhor para o povo da Guiné, o que era próprio de qualquer português bem-intencionado, e que a independência que advogava só se justificava como reação ao regime político em que nos encontrávamos que não se esforçava por obter um futuro melhor para as populações.

E acrescentei que era essa a razão que levava muitos africanos a acreditarem na propaganda de que eram alvo e a passarem-se para o IN. Não terão gostado muito de ouvir estas minhas considerações sobre política económica, possivelmente concluíram que eu era um comunista ao serviço do KGB e dos interesses imperialistas de Moscovo, ou, o que ainda seria pior, socialista ao serviço da CIA e do imperialismo norte-americano, porque me disseram que, depois de terem ouvido o que eu disse, tinham que me deter. É claro que não estava à espera de uma reacção destas, e pensei como é que havia de sair daquela embrulhada.

Foi então que respondi: 
- Ainda bem, fico muito satisfeito, porque se estiver preso já não terei que ir combater e ficar sujeito a levar um tiro ou apanhar com um estilhaço de alguma granada. 

Tal como imaginei, face a esta resposta, o oficial que me interrogou lá pensou duas vezes e disse: 
- Realmente é melhor ir combater mas não transmita essas suas ideias a ninguém. 

É claro que aceitei a sua recomendação, e fui finalmente de férias, procurando esquecer o que tinha passado na Guiné.

Em férias, foi-me apresentado alguém que, sabendo que eu andava por terras da Guiné,  me foi dizendo o que sabia sobre aquela realidade. Fiquei atónito com o que ouvia, como era possível aquela “suposta autoridade” dizer tantos disparates. Mas dando mais atenção ao que dizia cheguei à conclusão de que fazia algum sentido, e, depois de o ouvir comentei transmitindo-lhe as minhas conclusões sobre as suas opiniões, disse-lhe que “era óbvio que nunca tinha estado em África e muito menos na Guiné, que tinha estado em Paris, na Sorbonne, onde lhe teriam feito uma lavagem ao cérebro, e que era evidente que se limitava a reproduzir a propaganda comunista”. É claro que eu tinha acertado em cheio.









Portugal > Alcobaça > São Martinho do Porto > Um lugar mágico...  A baía de São Martinho do Porto onde o João Martins passa férias há dezenas de anos... Na foto, Graça Martins, a sua esposa. Foto (nº 83/88) do álbum São Martinho do Porto, de João Martins, disponível na sua página do Facebook...


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Passei o Agosto em S. Martinho, como de costume, e regressei a Bissau num avião da TAP. Nova aventura, estávamos a sobrevoar Sesimbra quando o avião ficou como se os motores tivessem deixado de funcionar, o avião perdeu altura muito rapidamente, afocinhando na direção do mar. Uma hospedeira, convencida de que íamos todos entrar em pânico, apareceu vinda da cabina do comandante com um ar muito desesperado e apostada em nos sossegar. Olhou para mim, porque eu ia num dos bancos da frente, e ficou espantada com a nossa reação, sorri-lhe, e comentou: 
- Vê-se mesmo que são militares e andam na guerra.

E voltou para a cabina do comandante. Tivemos que aterrar nas Canárias e depois em Cabo-Verde onde vi um avião com uma frente que me lembrou os olhos de um gafanhoto e que, segundo o que comentavam, operava na guerra do Biafra.

Chegado a Bissau, novo pelotão e novo destino me esperavam, em Piche [, em setembro de 1968] .

(Continua)






Guiné > Ilha de Bissau > Agosto ou setembro de 1968 > Regresso a Bissau, em avião da TAP >   Foto aérea da região de Bissau > Foto (nº 3/199 do álbum Guiné, de João Martins, disponível na sua página do Facebook...


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Nota do editor: 

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9834: Memórias da minha comissão (João Martins, ex-alf mil art, BAC 1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69): Parte I: De Mafra (EPI) a Bissau (BAC1)




São Martinho do Porto > s/d > Página do Facebook de João José Alves Martins, foto nº 23/88 do seu álbum sobre São Marinho do Porto (onde tem casa de verão). O João é um apaixonado pela baía de São Martinho do Porto, uma das mais belas do mundo, e pelo mar... ou não fora ele filho de oficial da marinha... Conheci-o há dias, em Lisboa. Com ele temos mais um camarada na Tabanca de São Martinho do Porto - para além dos Schwarz (Pepito e Clara) e do JERO - , tabanca essa que se costuma reunir, solene e festivamente, pelo menos uma vez por ano, em meados do mês de agosto.


Foto: © João Martins (2012). Todos os direitos reservados





Memórias da minha comissão na Província Ultramarina da Guiné - Parte I
João Martins  (ex-Alf Mil Art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69) .

[Texto enviado em 19 do corrente; será publicado em várias partes]


Dedico estas minhas memórias ao Jornal “Defesa da Beira”, e muito particularmente a Pinheiro Salvado, seu ilustre colaborador, que não tenho o prazer de conhecer pessoalmente, mas cujos artigos leio com o maior agrado e reconhecimento.

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ÍNDICE

1 – Curso de Oficiais Milicianos

1.1 – Mafra – Escola Prática de Infantaria

1.2 – Vendas Novas – Escola Prática de Artilharia – Especialidade: PCT (Posto de Controlo de Tiro)

2 – Figueira da Foz – RAP 3 - Instrução a recrutas do CICA 2

3 –Viagem para a Guiné (10 de Dezembro de 1967)

4 – Chegada à Bateria de Artilharia de Campanha Nº. 1 (BAC 1) e partida para Bissum

5 – Bissum-Naga

6 – Regresso a Bissau para gozar férias na Metrópole (Julho de 1968)

7 – Piche

8 – Bedanda

9 – Gadamael-Porto

10 – Guilege

11 – Bigene e Ingoré
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1 – Curso de Oficiais Milicianos (COM) e colocação no RAP 3

1.1 – Mafra, EPI



Nos primeiros dias de Janeiro de 1967, entrei na Escola Prática de Infantaria em Mafra, como soldado cadete nº mecanográfico 00325165.

O que recordo desta recruta é o de ter tido um comandante de companhia bastante duro, alguns fins-de-semana sem ter ido a casa por chegar ao refeitório para tomar o pequeno-almoço, em cima da hora, uma subida por um riacho em grande velocidade ultrapassando rapidamente alguns obstáculos e muitos camaradas bem mais lentos, e, pelo frio que apanhei, uma valente gripe que me atirou para a enfermaria. Também me recordo de umas marchas finais no Barril com muita chuva e lama, e de uma noite dormida ao relento num caminho de carros de bois, tal era o cansaço, depois de ter caminhado uns 60 quilómetros.

Não sei se era do capitão ou se fazia parte da instrução, o que recordo é que não me sentia enquadrado no ambiente que caracterizava aquela disciplina militar. Na minha opinião, demasiado rude e autoritária, um tanto na continuação da Mocidade Portuguesa que também não me tinha deixado quaisquer saudades, tal o espírito que a enformava. Tive a oportunidade de constatar que o sentimento que caracterizava aquela instrução também estava impregnado de uma filosofia que atravessava transversalmente todo o Estado Novo, e que me causava tal repugnância que me admirava que muitos camaradas meus não pensassem em desertar. Face ao que sentia, compreendia que vontade não lhes faltaria.

Era também minha opinião que o facto de sentir tal espírito de aversão a todo o ambiente que me envolvia era contrário ao espírito de “união” e de “amor à Pátria” que permitem vencer uma qualquer guerra; portanto, bastava esse facto para concluir que a guerra de guerrilhas que nos era imposta estava perdida. E recordava que, ainda no liceu, no 5º ano, tinha afirmado na prova oral de história, que para se vencer uma guerra, e esta adivinhava-se, era importante não só a conjugação de esforços de toda a Nação, o que incluía, evidentemente, governantes e governados, mas também era fundamental o merecimento da vitória. Na EPI, em Mafra, o que constatávamos era uma total ausência de motivação e de sentimentos de “Unidade Nacional e de patriotismo”.

Esperava-nos uma guerra de guerrilhas, vulgo “terrorismo” ou “guerra de libertação”, enquadrada no confronto mais global entre as duas grandes potências da altura que se digladiavam nos mais diferentes pontos do globo na defesa dos seus interesses, nomeadamente, pelo domínio e controlo das matérias-primas, em particular pelo controlo das áreas petrolíferas, invocando as mais variadas razões, tais como as ideológicas supostamente justificáveis, como seja a conquista da “independência”, da “liberdade” e da “democracia”, confrontação que ficou conhecida por “guerra fria” e que opunha os países do ocidente aos da cortina de ferro, muito particularmente os USA à URSS e que se iniciou imediatamente a seguir à capitulação da Alemanha e dos seus aliados, a Itália e o Japão, que marcou o fim da 2ª Grande Guerra Mundial em 1945.

É muito significativa a invasão pela URSS de países do Leste Europeu, constituindo o bloco do pacto de Varsóvia, completamente dominado a ferro e fogo pela ditadura comunista, e recordo o muro de Berlim, onde muitos cidadãos foram abatidos ao quererem fugir para o ocidente; e até recordo a “Rádio Livre”, emitida de Bucareste para Portugal anunciando a “Terra Prometida”, como se fosse uma oportunidade para um “Mundo melhor” em alternativa ao regime republicano autoritário, com uma polícia política repressiva que pretendia impor respeito, que não consideração, pelas numerosas detenções, muitas vezes sem justa causa.

A história ensina-nos que os povos quando unidos e bem chefiados, enchem-se de força para se expandirem e conquistarem novos territórios; foi assim com os Gregos, os Romanos, os Mouros, os Portugueses e Espanhóis, os Franceses, os Alemães, e não podemos esquecer a forma como a América do Norte foi colonizada, em que muitos índios foram perseguidos, abatidos e espoliados das suas terras.

Quanto à URSS, não ficou atrás dos USA, com milhões dos seus habitantes a serem assassinados por ordem de chefes que se tonaram ídolos para muita gente, e também recordo a “anexação e o domínio” de países europeus com uma história própria muito rica que lhes permitiu cimentar uma identidade específica.

Nos dias de hoje ainda constatamos que há povos que combatem pela independência e pela liberdade relativamente à Rússia e à Turquia, ou, o caso do Tibete relativamente à China que o anexou há relativamente poucos anos sem grande oposição da Comunidade Internacional, mas muitos outros há que conseguiram finalmente adquirir o estatuto de independência e recordo a desintegração da antiga Jugoslávia, nos Balcãs, amálgama de povos com diferentes origens e diferentes especificidades, dominada pelo ditador Marechal Tito. Quanto aos espanhóis, sabemos quão barbaramente trataram os povos da América Central e do Sul, incas, aztecas e outros.

As épocas são diferentes e o que é desculpável numa época já não o será noutra, é por isso que a história deve ser contada tendo em consideração os usos e costumes do período em que ocorrem. O conhecimento da história e particularmente da história económica é particularmente importante para cimentar a cultura de um povo, transmitir-lhe identidade, transmitir-lhe valores, dar-lhe razões para lutar por uma causa, pelo país. Caso contrário, esse povo será facilmente dominado e explorado por outros que se aproveitarão das suas fraquezas e das suas divisões.

Os portugueses, tal como todos os outros povos, têm a sua história, e os factos ocorridos no século XX, foram a continuação dessa história. Mas, para compreendermos o presente temos também que conhecer o passado e raciocinar a partir desse conhecimento. Portugal conheceu a sua Fundação em 5 de Outubro de 1143, graças à vontade de um pequeno grupo de homens e do seu primeiro Rei, D. Afonso Henriques, que enfrentou a oposição da sua mãe cujas tropas teve que derrotar. Portanto, divisões internas, diferentes interesses e opiniões ocorreram desde a Fundação da Nacionalidade, e repetiram-se durante muitos reinados, mas o que caracteriza particularmente a Nação Portuguesa é que ela tem a sua génese na força das armas, em que a componente religiosa assume primordial relevo; com efeito, foi aproveitando a passagem dos cruzados que vindos do Norte da Europa se dirigiam aos lugares santos da Palestina que, com o seu apoio militar, D. Afonso Henriques e os seus sucessores conquistaram Lisboa e muitas outras terras ao sul do Tejo. A presença de combatentes pela implantação e expansão da Fé Cristã, prontos a dar a vida pela mesma, foi crucial na conquista de territórios até ao Algarve. 



Na defesa da Pátria, desde a sua fundação, foi muitas vezes invocado São Jorge, e os artilheiros invocam, em sua proteção, Santa Bárbara. A Fé cristã esteve presente em muitos confrontos não só com os Mouros mas também com Castelhanos. Por exemplo, D. Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável, rezou profundamente antes de enfrentar alguns dos seus próprios irmãos na célebre batalha de Aljubarrota em que o exército castelhano era muito superior ao exército português.

Também o Infante D. Henrique assumiu a missão que Cristo confiou aos Cristãos “Ide e Evangelizai”. E talvez por “inspiração divina”, contribuiu decisivamente para que os portugueses levassem Cristo ao conhecimento de outros povos.

Dá-se assim início à expansão ultramarina com Naus e Caravelas ostentando a Cruz de Cristo. No dizer do poeta, os portugueses propõem-se mais uma vez irem por esses “mares nunca dantes navegados” a “dilatar a Fé e o Império”.

Sabemos que a religião cristã tem como primeiro e fundamental mandamento: “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos”, e sabemos que os cristãos são chamados à “missão de evangelizar”, transmitindo essa “mensagem” que acreditam ter a sua origem no próprio Deus. É por isso que, além de procurarem desenvolver trocas comerciais numa relação de convivência e de amizade, também tiveram como objetivo, por meio dos missionários, a conversão dos povos autóctones.

Relativamente aos interesses das grandes potências, recordo que já nos finais do século XIX tínhamos tido uma disputa com a Inglaterra porque pretendíamos o domínio de todos os vastos territórios entre Angola e Moçambique. Face ao grande potencial bélico britânico, tivemos que capitular. Esta nossa pretensão ficou conhecida por “Mapa cor-de-rosa” e a nossa derrota é apontada com sendo uma das razões da queda da monarquia.

Nos anos 40 do século passado, o general Norton de Matos, conhecedor das pretensões das grandes potências, tinha pugnado pela transferência da capital do Império para Nova Lisboa, em Angola, mas, Salazar, com receio de se criar um novo Brasil, não concordou e quando teve conhecimento do petróleo existente no ultramar compreendeu que dificilmente o manteríamos. Mandou tropas “para Angola e em força”; era no entanto tarde demais, durante muitos anos tinha evitado a concessão de vistos que permitissem aos portugueses irem para lá; só nos anos sessenta é que permitiu o rápido desenvolvimento e determinou investimentos muito significativos como foi o caso da barragem de Cabora-Bassa em Moçambique e do porto de Sines na Metrópole, porto de águas profundas, destinado a receber grandes petroleiros com ramas de petróleo extraídas no enclave de Cabinda, a partir do qual seguiria a gasolina com destino a toda a Europa. Cabinda que, por sinal, depois de toda a parafernália de vozes vociferando na Organização das Nações Unidas pelo direito dos povos à “autodeterminação e à independência” ainda se encontra à espera das mesmas. Será que foi por esquecimento, ou será que os políticos e a Comunidade Internacional (USA) se fazem de esquecidos porque o que conta verdadeiramente são outros interesses?

E foi nos anos sessenta que este regime político altamente repressivo e com uma política económica de investimento e crescimento com grandes perspetivas mas ainda em estado embrionário para garantir a criação de postos de trabalho para todos, que americanos e soviéticos implementam, fomentam, apoiam e armam os designados “movimentos de libertação”.

Era fundamental explicar ao país a conjuntura política internacional movida por interesses expansionistas das duas grandes potências; em vez disso, a governação salazarista preferiu mantê-lo na ignorância deixando-o à mercê dos imperialismos americano, soviético e chinês (caminho de ferro da Tanzânia), por desconhecimento generalizado de todo o jogo estratégico de interesses pelas matérias-primas a nível mundial. O povo não tomou consciência do perigo que o país corria, e muito menos, do futuro que lhe estaria reservado com a perda de muitas riquezas que o País não soube explorar, nem em seu proveito nem em proveito das populações.

Nos anos 60, o MPLA e a Unita em Angola, e a Frelimo e a Renamo em Moçambique, passam a ser os braços armados dos interesses das três grandes potências, e podemos finalmente entender, não só as circunstâncias, a origem e a natureza da guerra que tínhamos que enfrentar, mas também, quais os nossos verdadeiros inimigos.



Esta é a razão pela qual esta guerra estava perdida desde o seu início, é que, à medida que o tempo passava, nos íamos confrontando com um material de guerra cada vez mais sofisticado. O nosso verdadeiro inimigo eram as grandes potências que conseguiam “virar elementos das populações contra nós” convencendo-os que iriam ter enormes vantagens. É óbvio que a guerra tinha que ser conduzida explicando às tropas e às populações a sua verdadeira razão de ser, e portanto, todo este jogo de interesses.


Era necessário explicar quais os beligerantes, e, muito particularmente, era fundamental obter a adesão de homens como Amílcar Cabral, que escutei muitas vezes e percebi que tinha motivações e um discurso muito semelhante ao do General António de Spínola; ambos estavam firmemente apostados em contribuir para uma “Guiné melhor”, que oferecesse melhores condições de vida às populações.


Quero acreditar que eram ambos pessoas muito bem-intencionadas e que desenvolveram esforços no sentido de entabular conversações e negociações, mas não tiveram o discernimento de o fazer da melhor maneira, pois minimizaram os interesses e a ausência de valores de outros grupos mais enfeudados nos interesses da URSS, sendo a designação de “grupos terroristas” bem mais adequada ao que de facto eram. Aliás, as disputas pelo poder entre cabo-verdianos, as múltiplas etnias e os vários grupos de interesses, com o recurso, inclusivamente ao assassínio, tem sido uma realidade até aos dias de hoje, tal é a natureza das pessoas em causa, e é como diz o ditado “quem com ferros mata com ferros morre”.


1.2 – EPA – Escola Prática de Artilharia em Vendas Novas 


Seguiu-se o curso de Posto de Controlo de Tiro (PCT). Ali a alimentação era melhor, mas a dureza da instrução era uma realidade que não dá para esquecer, penso que se justificava pela dureza de guerra que nos esperava no Ultramar.


Em minha opinião, o tratamento a que éramos sujeitos também nos trazia um sentimento de revolta, absolutamente contrário à compreensão e aceitação da defesa dos interesses da Pátria. 


Lembro-me de ter feito um trabalho sobre geoestratégia, e, para a sua concretização, ter estudado alguns livros do meu Pai que entretanto tinha concluído o Curso Superior Naval de Guerra e tinha sido colocado no Ministério da Defesa Nacional. Nessa altura, contrariamente a muitas opiniões, sobretudo de pessoas de esquerda e ligadas ao partido comunista, não me foi difícil prever a invasão de países do Leste Europeu pela União Soviética.


Relativamente a Vendas Novas, não posso deixar de recordar e prestar homenagem ao meu camarada de nome Resende, que, nas marchas finais, foi colocado a fazer guarda à bateria constituída por três obuses, e que aceitou trocar de posição comigo porque me recusei a ficar à frente das bocas-de-fogo. Aconteceu que, num dos disparos, uma granada rebentou à saída do obus e ele morreu no lugar que me tinham destinado.


2 – Figueira da Foz – RAP 3 - Instrução a recrutas do CICA 2


Como Aspirante a Oficial Miliciano, fui colocado no Regimento de Artilharia Pesada Nº 3 (RAP 3), na Figueira da Foz, onde dei instrução a um pelotão de futuros condutores-auto (CICA 2), originários da Madeira, em Julho, Agosto e Setembro, de 1967, pelo que tive a sorte de apanhar o período de verão, o que me permitiu passar alguns fins-de-semana em S. Martinho do Porto e estar com os meus pais e amigos.


Foi no RAP 3, que me deram a notícia de que tinha sido colocado na Província Ultramarina da Guiné. Pensei na altura: “quanto mais depressa me despachar desta vida tanto melhor”, e vim gozar em Lisboa as férias que antecederam a partida para a Guiné.


3 – Viagem para a Guiné


Em 10 de Dezembro de 1967, numa manhã invernosa, embarquei no navio “Alfredo da Silva” com outros dois alferes do meu curso, também idos em rendição individual e com destino à Bateria de Artilharia de Campanha Nº 1, em Bissau. Do navio, disse adeus ao meu pai e pensei na possibilidade de não o tornar a ver nem à ponte Dr. Oliveira Salazar, que, na altura, se nos afigurava como sendo a grande obra do regime.


Embora me considere um homem de mar, durante o jantar, quando o navio saía a barra do Tejo, depois de ter comido a sopa, e porque o navio balouçava fortemente, tive que a deitar fora porque não me assentava no estômago pois andava de um lado para o outro, e, para apanhar ar, subi ao convés, constatei então que, apanhando as ondas de través, estas galgavam a amurada e passavam por cima do navio.


Pensei nos marinheiros de antigamente, alguns, antepassados meus que, em tempos idos em autênticas “cascas de noz” enfrentaram em muito piores condições estes mares e muitos outros bem piores. Realmente, não lhes damos o devido valor e muito dificilmente compreendemos todos os sacrifícios que enfrentaram e o muito que fizeram pelo nosso País.


No dia seguinte, chegámos ao Funchal, demos uma pequena volta, e a partir daí, em termos de navegação, a viagem decorreu com normalidade. Vimos peixes-voadores, o que para mim era uma novidade e lembro-me de uma rapariga, muito bonita, que acompanhava o pai na sua ida para uma comissão na Guiné.


Pareceu-me adoentada, já tinha ido ao médico mas sem grandes resultados, a comida que ingeria não fazia o percurso normal. Ocorreu-me convidá-la para jogarmos ping-pong; ao princípio recusou-se desculpando-se que não se sentia bem, mas, face à minha insistência, anuiu. Jogámos algum tempo, mas depressa teve que se ir embora.Mais tarde, veio agradecer-me, pois lhe tinha salvado a vida na medida em que tinha vomitado a comida que já estava em decomposição no estômago.


Chegámos a Cabo Verde, é um arquipélago em que a população, apesar das dificuldades inerentes à escassez de água, ou para esquecer as dificuldades da vida, dá grande valor à música e à dança. Sem ter quaisquer conhecimentos de música, diria que a saudade que os cabo-verdianos cantam tem alguma semelhança com a saudade que muitas vezes caracteriza o “fado” deste povo da Lusitânia que se lançou, logo que dispôs de naus e de caravelas, à aventura, deixando para trás, pais, mulheres e filhos. Muitos desses homens partiram para nunca mais voltarem.


Os cabo-verdianos possivelmente cantam a saudade que os seus antepassados viveram por terem sido arrancados dos seus locais de nascimento no continente africano, e contra a sua vontade terem sido transportados para o arquipélago de Cabo-Verde.


(Continua)