Mostrar mensagens com a etiqueta batalha do Vimeiro. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta batalha do Vimeiro. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17546 Agenda cultural (571): Recrição da batalha do Vimeiro, de 1808, e mercado oitocentista: Vimeiro, Lourinhã, 14, 15 e 16 de julho de 2017 (Eduardo Jorge Ferreira, ex-alf mil, Polícia Aérea, BA 12, Bissalanca, 1973/74; presidente da assembleia geral da Associação para a Memória da Batalha do Vimeiro)


A batalha do Vimeiro, de 1808, travado pelo exército napoleónico e as forças luso-britânicas,  vai ser recriada, no local, a 14, 15 e  16 de julho de 2017. Esta batalha, entre o Exército Francês, comandado por Junot, e o Exército Anglo-Luso, sob o comando de Sir Arthur Wellesley, futuro Duque de Wellington, aconteceu justamente no Vimeiro e arredores, no dia 21 de agosto de 1808, quatro dias depois dos combates travados na Roliça, concelho de Bombarral. As baixas (mortos e feridos) foram das 2 mil para o lado francês; 700 para  o lado luso-britânico. A inequívoca vitória dos portugueses  e seus aliados pôs termo à I Invasâo Napoleónica.

Imagem (reproduzida coma devida vénia,,,): © 2017 Município da Lourinhã | Todos os Direitos Reservados



1. É um sugestão (cultural e turística) do nosso amigo e camarada  Eduardo Jorge Ferreira [ex-alf mil, Polícia Aérea, BA 12, Bissalanca, 1973/74, presidente da assembleia geral da Associação para a Memória da Batalha do Vimeiro]


De 14 a 16 de julho, terá lugar no Vimeiro (concelho da Lourinhã) a Recriação Histórica da Batalha ocorrida em 1808 e um Mercado Oitocentista com um vasto conjunto de atividades temáticas que proporcionarão uma viagem até ao início do séc. XIX.

Nestas comemorações o visitante  poderá encontrar ofícios da época, animações de rua, teatro, concertos, workshops para os mais pequenos, visitas guiadas ao Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro, mostra e venda de produtos e gastronomia.

Todos os dias o evento conta muita música e com animação permanente, onde diversos animadores vão dar vida a diferentes personagens, que vão percorrer as ruas do mercado, misturando-se com os visitantes. Neste espaço é possível, ainda, assistir à demonstração de ofícios (tanoeiro, entalhador, curtimenta da pele, oleiro,  entre outros).
A entrada é GRATUITA.


PROGRAMA


SEXTA-FEIRA, 14 DE JULHO

19h00 – Abertura do Mercado Oitocentista - Visita ao Mercado pelo Rei e sua Comitiva (Recinto)

20h00 – "Visita do Rei D. Manuel II ao Vimeiro" (Junto ao Monumento do 1.º Centenário)

20h30 – Banquete em Honra de Sua Majestade (Tenda Real)

22h30 – Concerto: Orquestra Ligeira Monte Olivett (Palco Wellington)

00h00 – Espetáculo de Malabares de Fogo (Junto ao Monumento do 1.º Centenário)

SÁBADO, 15 DE JULHO

10h00 – Abertura do Mercado Oitocentista

10h00 – Hastear das Bandeiras com a presença dos Grupos de Recriadores (Junto ao Monumento do 1.º Centenário)

10h30 – Peddy Paper (Ruas do Vimeiro)

11h00 – Desfile dos grupos de recriadores pelas ruas da Lourinhã em direção à Praça José Máximo da Costa. Cerimónia do hastear de bandeiras junto ao edifício dos Paços Município, seguida de mensagem de boas-vindas do senhor Presidente da Câmara.

15h00 – Visita guiada encenada ao CIBV  Inscrição obrigatória através do e-mail cibatalhavimeiro@cm-lourinha.pt limitada a 50 pessoas. Mediante o número de inscrições, poderá ter lugar uma reedição da iniciativa pelas 16h30].

15h30 às 17h30 – Manobras militares livres, desenvolvidas pelos grupos de recriadores (Acampamento Militar)

16h00 – Workshop "Dançar em tempo de Gerra"

17h00 – Atelier didático infanto-juvenil (CIBV)

18h00 – Concerto: Coro Munincipal (Anfiteatro CIBV)

19h00 – Baile Oitocentista (Junto ao Monumento do 1.º Centenário)

22h00 – Recriação Histórica da Batalha do Vimeiro - combate noturno (Campo de Batalha)

23h00 – Concerto: Orquestra de Sopros e Percussão Jovens do Oeste (Palco Wellington)

00h30 – Espetáculo de Malabares de Fogo (Junto ao Monumento do 1.º Centenário)


DOMINGO, 16 DE JULHO


Encontro do Grupo “Oeste Sketchers” a decorrer ao longo do dia

10h00 – Hastear das bandeiras seguida de cerimónia de homenagem aos mortos em combate (Junto ao Monumento do 1.º Centenário)

10h30 às 11h00 – Manobras militares livres, desenvolvidas pelos grupos de recriadores (Acampamento Militar)

12h00 – Recriação Histórica da Batalha da Vimeiro – combate pelas ruas do Vimeiro seguido de assalto à igreja

15h00 – Jogos de Guerra do Período Napoleónico (CIBV) [Jogos de estratégia com miniaturas (War Games) numa vertente de demonstração/participação que versam o período napoleónico para o público em geral (a partir dos 14 anos).]

15h00 – Workshop de Pintura de Miniaturas Napoleónicas (CIBV)

16h00 – Encenação “A Desfolhada”, pelo Rancho Folclórico Clibotas (Junto ao Monumento do 1.º Centenário)

16h00 – Workshop de modelagem de barro (Mercado - Espaço infantil)

17h30 - Concerto pelos Grupos: Manuk e ZaraGaitaS (Palco Wellington)

19h00 – Cerimónia do arriar das bandeiras pelo Grupo Recriadores da AMBV (Junto ao Monumento do 1.º Centenário)


quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16674: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (105): As tábuas do cor inf ref Carlos Graciano de Oliveira Gordalina: o desfecho da história... (Rui Ribolhos Filipe, historiador e arqueólogo, filho de José Filipe, antigo fuzileiro, DFE 12, 1971/73)


Foto nº 1 > Da esquerda para a direita, o cor inf ref Carlos Gordalina e o antigo fuzileiro, do DFE 12, José Filipe


Foto nº 2 > José Filipe e o filho  Rui Ribolhos Filipe, com as tábuas do cor inf ref Carlos Gordalina



Fotos: © Rui Ribolhos Filipe  (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Rui Ribolhos Filipe, nosso leitor, filho de um camarada nosso, José Filipe, do DFE 12 [Guiné,  1971/73]


Data: 16 de outubro de 2016 às 15:32
Assunto: As Tábuas do Coronel Gordalina - O Desfecho


Caro Luís e camaradas da Tabanca Grande,

Após a nossa busca pelo coronel Carlos Gordalina, com a preciosa ajuda da Tabanca Grande (*), eis o desfecho.

No passado sábado dia 15 [de outubro] encontramo-nos (eu e o meu pai) com o sr. coronel Gordalina na sua casa em Lisboa. O motivo,  como sabemos, era entrega de duas tábuas que pertenceram a uma caixa de transporte do tempo da Guerra do Ultramar.

Foi com grande surpresa e alegria que,  ao abrir o embrulho, o sr. coronel deparou-se com algo que havia preparado há  mais de 40 anos: duas belas pranchas de madeira exótica com nº de transporte (929) / nº de caixa (3 de X) / Posto / Nome / Nº Mec. e  DGA (Depósito Geral de Adidos),
pintados a branco.

Como vieram parar a um sitio ermo como a estrada militar Carnide-Lumiar, perto do desaparecido paiol de Vale do Forno,  é um mistério. Em todo o caso ficamos a saber que o sr. coronel esteve nas
três frentes, Moçambique, Angola e Guiné. Nas mudanças entre colónias e metrópole, acompanhado da esposa, era usual preparar caixas de madeira para fazer transportar os bens pessoais.

A má experiencia quando não havia cuidado no manuseamento das caixas mnos portos, despachante ou navios, levou o nosso coronel a adquirir boas madeiras exóticas (abundantes nas colónias) de boa espessura para construir "caixas-fortes" bem resistentes.

Durante a nossa conversa [, na sua casa, em Lisboa,]  chegou-se à conclusão de que as caixas vinham de camioneta até à residência do sr. coronel. Depois de tirados os pertences, e visto serem demasiado grandes para serem guardadas em casa, as caixas ficavam para a transportadora. O coronel também disse que em ocasião alguma deitaria fora algo com o seu nome tão visível.

É muito possível que a caixa de onde as nossas tábuas vieram, ter estado guardada em algum armazém e em alguma limpeza ter sido despejada no local onde foi encontrada.

O sr. coronel Gordalina agradece a todos os quantos tornaram possível o retorno destas memórias!

Em anexo as famosas tábuas com os dois achadores e no momento da entrega com o coronel de infantaria Carlos Gordalina e José Filipe,  antigo fuzileiro,  DFE 12 [,Guiné, 1971/73].

Grande abraço,
Rui Filipe


2. Comentário do editor LG

Rui (e José Filipe, nosso camarada):

Tudo está bem acaba bem... Obrigado, ao Rui e ao pai, nosso camarada, pelo empenho que puseram nesta história...

Tive também "feedback", pela minha prima Maria da Glória Gordalina, da Gândara dos Olivais, Leiria, de que o nosso coronel (e  primo dela)  ficou muito sensibilizado pelo vosso gesto (e o nosso apoio).

Tínhamos prometido publicar  a história e o seu desfecho. Aqui está.

Aproveito para convidar o Rui a integrar a nossa Tabanca Grande: afinal, descubro agora, por pesquisa na Net, que ele é historiador e arqueólogo, e tem-se particularmente interessado por  história militar e pela batalha do Vimerio. Trabalhou inclusive, na minha terra Lourinhã, como responsável pelo Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro (entre 2008 e 2013). Nasceu em Lisboa, em 1978.

Diga-se de passagem que só uma pessoa com a dupla formação (e sensibilidade) em história e arqueologia, como o Rui,  é que se daria ao cuidado de nos contactar por causa de duas tábuas de um caixote que pertenciam a um oficial do exército português do tempo da já tão esquecida guerra do ultramar. Afinal, Rui, e camaradas, constatamos, mais uma vez, que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!...

Abraço. LG

PS - Obrigado a todos,  pelos contributos dados para a localização do cor inf ref Carlos Graciano de Oliveira Gortalina, a começar pelo nosso colaborador permanente, o José Martins. O nosso camarada ex-alf mil, Vasco Ferreira, também nos indicou ter estado em Cadique, na Região de Tombali, em 1973, na CCAÇ 4540 (Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74) , quando fazia parte do comando [do batalhão] o major Gordalina. Mas tarde, após o 25 Abril, o Vasco encontrou o major Gordalina no Porto, na altura era o 2º comandante da região militar do Porto no quartel situado, na Praça da República.

domingo, 14 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16389: Manuscrito(s) (Luís Graça) (90): Ó Praia de Paimogo da minha infância!...


Lourinhã. Praia da Areia Branca, a caminho de Paimogo > 30 de julho de 2016 > Caprichosa "escultura" escavada na rocha, por efeito da erosão do mar, da chuva, da areia e do vento.



L;ourinhã > Paimogo > Forte de Paimogo (séc. XVII)


L;ourinhã > Paimogo > Forte de Paimogo (séc. XVII) >  Lado sul


L;ourinhã > Paimogo > Forte de Paimogo (séc. XVII) > Lado norte


Lourinhã > Paimogo > Forte de Paimogo (séc. XVII) > Vista para o lado sul


Lourinhã > Paimogo > Forte de Paimogo (séc. XVII) > Vista (deslumbrante) para o lado sul... Mas o forte assenta num morro com problemas geológicos... Desde há muito que se teme a sua derrocada...  Seria uma perda irreparável a desaparição deste forte... que é património de todos nós.



Lourinhã > Paimogo > Forte de Paimogo (séc. XVII) > Interior


Lourinhã > Paimogo > Forte de Paimogo (séc. XVII) > Interior



Lourinhã > Paimogo > Forte de Paimogo (séc. XVII) > Escadaria para o terraço



Lourinhã > Paimogo > Forte de Paimogo (séc. XVII) > Vista do terraço


Lourinhã > Paimogo > Forte de Paimogo (séc. XVII) > Cisterna



Lourinhã > Paimogo > Forte de Paimogo (séc. XVII) > Cisterna




Lourinhã> O Mar do Cerro, a sul de Paimogo > Vista das imediações do Forte de Paimogo


Lourinhã> Praia de Paimogo > Emseada > Vista do Forte


Lourinhã> Praia de Paimogo > Vista do Forte

.

Lourinhã> Praia do Caniçal (entre a praia de Paimogo e a praia do Vale de Frades) > Vista do Forte de Paimogo


Fotos (e legendas): © Luís Graça(2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Ó Praia de Paimogo da Minha Infância

por Luís Graça


Não preciso de ser geólogo
para te amar,
ó praia de Paimogo
da minha infância.
Nem de ser paleontólogo
para desenhar na areia
as pegadas da tua errância
de dinossauro do Jurássico Superior.
Nem muito menos biólogo ou sociólogo
para te conhecer aí onde
se alimenta o recolector-caçador,
e o polvo, o povo, se esconde
nas marés vivas de lua cheia.

Fugi de terramotos e tempestades,
procurei abrigo na tua enseada,
domei as ondas e o vento,
desfiz lendas e mitos,
adorei divindades,
vendi a alma ao diabo,
esculpi a esfinge alada
que guarda a porta do teu templo.
Andei na pesca ao candeio,
fui pescador de lagosta,
camponês, 
jornaleiro, 
camarada,
andarilho de costa a costa,
negociante de peixe,
almocreve,
apanhador de algas,
caçador submarino,
amigo do fado e da boémia,
poeta, pirata e frade,
mulher e fêmea,
viúva de vivo e de morto,
Zé-Ninguém, cidadão, clandestino
.


Vim da Bretanha em barcos a vapor,
remei do estuário do Tejo,
em bateiras,
costa acima,
e avieiro fui nos teus longos meses de verão,
na pesca da raia.
Fui fenício, cartaginês, romano,
visigodo, bérbere, moçárabe,
português do mundo em cada porto.
Fui moço de convés nas caravelas e naus dos Descobrimentos,
armei navios, enriqueci, trafiquei,
de escravos fui senhor,
e dono de engenhos nos Brasis,
feitorias e pontas na Guiné, 
roças e fazendas em Angola.
Embarcadiço e capitão do norte,
aventureiro e explorador colonial,
bandeirante, roceiro e garimpeiro,
prostituta e proxeneta,
e até de príncipes fui conselheiro.


Carreguei vinho em barris
no bojo da nossa Nau Catrineta,
para a corte russa, imperial.
Naufraguei em ilhas longínquas, polinésias,
adubei as inférteis terras
com o limo do mar dos sargaços.
Fiz o meu ninho de ave de rapina
no alto das tuas falésias,
fui presa e predador,
dos contrabandistas segui, à noite, os passos.
Lavrei o mar,  semeei a morte,
sobrevivi a mil e uma guerras,
e os meus mortos enterrei
nas tuas areias.


Vigiei o mar, o céu e a terra
do alto setecentista do teu forte.
Tive visões, vi monstros, seduzi sereias,
fugi das garras dos terópodes,
escapei dos mandíbulas dos crocodilos,
lutei contra muitas outras feras,
fiz a paz, fiz a guerra,
e ao teu seio retornei,
minha Mátria, Frátia, Pátria amada.
Da vida conheci todo os estilos,
fui condenado às galeras
e quase devorado por gigantes gastrópodes,
peguei de caras o auroque e o minotauro,
estive cativo do mouro
nas longínquas Mauritânias,
choquei os teus ovos de dinossauro,
construí castros, citânias, 
andei à deriva dos continentes,
fui maçarico, checa e periquito
nas guerras coloniais,
sobrevivi à fome, à cólera e à peste
(e ao bispo da nossa terra!)
aos vulcões e aos tsunamis,
andei a monte, fugi a salto,
lutei pela liberdade,
pus os pontos nos ii
das letras do nosso alfabeto,
pela lei e pela grei gritei bem alto,
de norte a sul, de leste a oeste,
e o teu chão te defendi,
contra todos os invasores e usurpadores,
piratas e corsários.

A verdade, a verdade,
é que cobiçada por muitas gentes,
desejada por muitos senhores,
nunca nenhuma armada invencível te venceu,
ó Praia de Paimogo da minha infância.
Se te perdeste,
se alguma vez te perdeste,
foi só por amores.
Quando eu era criança,
quando eu tive a sorte de ser criança
como diria o Fernando Pessoa,
as sardinhas voltavam sempre,
em frágeis cardumes de prata e luar,
à praia onde haviam desovado.
Quando eu era menino e moço,
no tempo em que ainda partiam soldados
para as nossas índias, para as nossas goas,
havia uma princesa, moura, encantada,
numa das tuas grutas submarinas,
o corpo coberto de ágar-ágar.
Era fonte de água pura, quente e doce,
alimentando mares interiores e lagoas,
donde bebiam os ofegantes cavalos alados,
com as suas enormes narinas.
E o vento, a nortada,
nas velas dos barcos e dos moinhos,
falavam-me da tragédia antiga,
mas ainda viva,
da filha do teu capitão
que se havia matado do alto da arriba,
dizem que por amor e solidão
.

No antigo reino mouro,
e. depois franco e fero, da Lourinhã,
também os búzios me diziam
que à noite as luzinhas,
a sul das ilhas das Berlengas,
eram as alminhas
dos que morriam
no mar, sem sepultura cristã.
Pobres náufragos,
marinheiros, pescadores,
poetas loucos, errantes, noctívagos,
imigrantes clandestinos,
desterrados, degredados das guinés e dos timores,
soldados perdidos das batalhas da Roliça e do Vimeiro,
corsários, contrabandistas, 
pecadores, mariscadores.
à deriva,
sem um ui nem um ai,
agarrados às tábuas do barco Deus é Pai.

Hoje não acredito mais
nessas lendas das alminhas
que eu ouvia aos ceguinhos das feiras,
vendedores de letras de fado
e do Borda-d’Água:
afinal essas luzinhas,
lá longe e ali tão perto,
nada têm de fétiche,
são apenas as traineiras,
ao largo do Mar do Cerro,
que andam atrás dos cardumes de sardinhas,
e depois regressam a Peniche.

Lourinhã, 12/8/2004

Versão 11, 14 ago 2016



Lourinhã > Vimeiro > 8 de agosto de 2011 > Monumento comemorativo e centro de interpretação da Batalha do Vimeiro > Azulejo alusivo ao desembarque das tropas luso-britânicas, na Praia de Paimogo, em 19 de Agosto de 1808... A batalha do Vimeiro desenrolou-se em 21 de Agosto de 1808. Azulejo desenhado e pintado à mão por Salvador (2000). (*)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados.

_______________

Notas de LG:

Deus é Pai - O concelho da Lourinhã também tem a sua quota-parte na história trágico-marítima deste país. Entre 1968 a 2000, foram contabilizados seis naufrágios de barcos de pesca onde morreram três dezenas de filhos da terra, com especial destaque para as gentes de Ribamar (fora outros acidentes de trabalho mortais, cujo número se desconhece). 

Um desses naufrágios foi o do barco Deus é Pai, em 26 de março de 1971, ao largo do Cabo Carvoeiro. Os restantes foram os do Certa (15 de maio de 1968), Altar de Deus (6 de novembro de 1982), Arca de Deus (17 de fevereiro de 1993), Amor de Filhos (25 de julho de 1994) e Orca II (antigo Porto Dinheiro) (19 de julho de 2000). Entre estes homens há parentes meus, da grande família Maçarico, de Ribamar, donde era oriunda a minha bisavó paterna (nascida em 1864).

Fonte: Cipriano, Rui Marques (2001) – Vamos falar da Lourinhã. Lourinhã: Câmara Municipal da Lourinhã.

[Dizia-se na época que o barco Deus é Pai fora cortado ao meio à noite por um cargueiro russo, e que os náufragos teriam sido levados, vivos,  para aquele país da "cortina de ferro", na altura a URSS... Em vão esperaram por notícas deles, as "viúvas dos vivos",  vestidas de preto... Os únicos destroços que deram à praia terão ao sido restos de redes  e a tabuleta com os dizeres "Deus é Pai".]

Dinossauros - A região do Oeste (e em particular o concelho da Lourinhã) é rica em vestígios paleontológicos dos dinossauros do Jurássico Superior (c. 150 milhões de anos). Em 1993, foi descoberto na zona de Paimogo aquilo que viria a ser considerado o maior ou um dos maiores  ninhos de ovos de dinossauro do mundo. Segundo o jovem paleontólogo e meu amigo, o Doutor Octávio Mateus, a jazida de Paimogo tem cerca de 120 ovos. “Existem ovos ou cascas de ovos mais antigos, mas o ninho de Paimogo é a mais antiga estrutura de nidificação. É o único com embriões na Europa e possui os mais antigos ossos com embriões do mundo (150 milhões de anos)”. Além disso, misturados com os ovos de dinossauro, “descobriram-se três ovos de crocodilo, os mais antigos do mundo". Essa ocorrência, conclui o jovem cientista lourinhanense, "permite-nos pensar numa relação de comensalismo entre dinossauros e crocodilos durante o Jurássico”. [Vd. Museu da Lourinhã > Paleontologia]

Mariscadores - Em agosto de 2005 foi lançado um livro interessante sobre A Apanha Artesanal de Recursos Marinhos Costeiros no Concelho da Lourinhã, da autoria da bióloga marinha Ana Silva, natural do concelho da Lourinhã. Esta actividade, embora complementar (da agricultura, da pesca, etc.), ainda hoje é um dos traços da identidade cultural das gentes ribeirinhas deste concelho. A edição do livro é da Câmara Municipal da Lourinhã (2005).

Paimogo -  A presença humana em Paimogo está documentada por vestígios arqueológicos, remontando pelo menos ao Calcolítico. A região da Lourinhã também foi habitada por povos como os iberos, os fenícios, os gregos, os túrdulos e os cartagineses. A passagem mais marcante foi, todavia, a dos romanos e, depois, a dos mouros. Na reconquista destas terras, D. Afonso Henriques foi ajudado por cavaleiros francos (isto é, oriundos da antiga Gália), entre eles D. Jordão [Jourdain, em francês], que irá ser o primeiro donatário da Lourinhã.

O Forte de Paimogo, construído em 1674, durante a regência do príncipe D. Pedro, futuro rei D. Pedro II, “fazia parte de uma linha defensiva da costa portuguesa, que começava na Praça Forte da vila de Peniche e se estendia até ao Forte de São Francisco de Xabregas, na cidade de Lisboa” (Cipriano, 2001.143).  Embora classificado como imóvel de interesse público pelo Decreto nº 41191, de 18 de Julho de 1955, encontrava-se até há uns largos anos  em estado de ruína. Foi, entretanto, objeto de recuperação pela Câmara Municipal da Lourinhã, mas está novamente em estado de abandono... (**)
_____________

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16252: Agenda cultural (494): Mercado oitocentista e recriação histórica da batalha do Vimeiro (1808): Lourinhã, Vimeiro, 15-17 de julho de 2016 (Eduardo Jorge Ferreira, sargento do RI 19, Vimeiro, 1808; ex-alf mil, PA, BA 12, Bissalanca, 1973/74)





O nosso grã-tabanqueiro Eduardo Jorge Ferreira,
que na reconstituição histórica da batalha do Vimeiro
é sargento do exército português.
Começou como 1º cabo, do RI 19,
Com a genica e o entusiasmo que ele tem tido ,
nestas andanças,
muito rapidamente chegará  ao generalato.
Foto: LG (2015)
1. Informação enviada, em 24 do corrente, pelo  nosso amigo, camarada e grã-tabanqueiro, Eduardo Jorge Ferreira [ex-alf mil, PA, BA 12, Bissalanca, 1973/74,  presidente da assembleia geral da Associação para a Memória da Batalha do Vimeiro]


Caros(as) amigos(as)

Junto envio em anexo o programa do evento que terá lugar no fim de semana de 15, 16 e 17 de julho próximo, Se puderem deem um saltinho até cá, motivos não faltam e é sempre um grande prazer cumprimentar os meus amigos(as). Há tb programas especiais para crianças.
Abraços e bjinhos do  Eduardo




História > Batalha do Vimeiro (1808)

A Batalha do Vimeiro foi travada no dia 21 de agosto de 1808 entre o Exército Francês, comandado por Junot, e o Exército Anglo-Luso, sob o comando de Sir Arthur Wellesley, futuro Duque de Wellington.

Após os combates na Roliça no dia 17 de agosto, Sir Arthur marcha para a zona do Vimeiro a fim de fazer o desembarque de reforços na Praia de Porto Novo.

As tropas anglo-lusas mantiveram uma posição defensiva no Vimeiro, aproveitando a geografia do terreno. Os franceses, reunidos em Torres Vedras, decidiram tomar a ofensiva, chegando à Carrasqueira na manhã de 21 de agosto. A partir desse ponto, Junot deu ordem de marcha para a batalha.



Sem conhecimento da situação do flanco esquerdo, duas brigadas francesas confrontaram os britânicos nos altos da Ventosa. Uma vez mais, os franceses viram-se forçados a recuar.

A Batalha do Vimeiro foi uma vitória inegável do Exército Anglo-Luso sobre as forças da França Imperial, pondo termo à Primeira Invasão Francesa. Junot perdeu cerca de 2000 homens, entre mortos, feridos e prisioneiros e o exército anglo-luso cerca de 700.

Esta batalha foi decisiva visto que colocou termo à Primeira Invasão Francesa de Portugal.

(Cortesia da página ofcial do evento)

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14928: Manuscrito(s) (Luís Graça) (62): "I want you, dead or alive"




Vídeo (0' 06'') > Alojado em You Tube > Luís Graça


Lourinhã, Vimeiro, 18 de julho de 2015_Reconstituição histórica da batalha de 21 de agosto de 1808 e mercado oitocentista. Vídeo: Luís Graça (2015)




"I Want you, dead or alive"
por Luís Graça (*)


À memória do Umaru Baldé, (que morreu de sida e tuberculose, no terminal da morte que dá pelo nome de Hospital do Barro, em Torres Vedras);

do Abibo Jau (, o gigante do 1º Gr Comb da CCAÇ 12., fuzilado em Madina Colhido);

do Abdulai Jamanca (, cmdt da CCAÇ 21, fuzilado em Madina Colhido);

do Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015);

do Iero Jaló (, o 1º morto em combate, da CCAÇ 12, em 8/9/1969);

do Manuel da Costa Soares (, sold cond, da CCAÇ 12, morto em Nhabijões, em 13/1/1971, por uma mina A/C, sem nunca ter chegado a conhecer a sua filha);

do Luciano Severo de Almeida ( que terá morrido de morte violenta, já como paisano);

e dos demais camaradas da CCAÇ 12 e da CCAÇ 21,
brancos e pretos,
mortos em combate
ou abandonados à sua sorte,
depois do regresso a casa
ou da independência da Guiné-Bissau;

ao José Carlos Suleimane Baldé,
felizmente ainda vivo, espero,
a morar em Amedalai, Xime
(e o único camarada guineense da CCAÇ 12
a integrar a Tabanca Grande);

a todos os demais camaradas da Guiné
que ainda hoje estão (sobre)vivos.




Foderam-te, meu irmão!
Enganaram-te, irmãozinho!
Traíram-te, amigo!
Deixaram-te para trás, camarada!

Não, não era este país milenário
que vinha no cartaz de promoção turística,
com montes, vales e charnecas,
com rios, praias e enseadas,
com fama de gente patriótica,
riqueza gastronómica
e forte sentido identitário.

“I want you”,
disseram-te eles,
e tu respondestes sem hesitar:
“Pronto!”.

Meu tonto,
disseste "presente!",
mesmo sem poderes avaliar
todas as consequências presentes e futuras
da tua decisão,
em termos de custo/benefício.

Decidiste com o coração,
não com a razão,
deste um passo em frente,
abnegado e generoso,
mesmo sem saberes
onde era o distrito de recrutamento,
e sem sequer conheceres
o teatro de operações,
o estandarte,
o fardamento,
a ciência e a arte da guerra,
o comandante-chefe
ou até mesmo a cara do inimigo.

Um homem não vai para a guerra
sem fixar a cara do inimigo,
sem reconhecer a voz do inimigo,
pode ser que seja teu pai,
mãe, irmão, irmã,
vizinho, amigo,
ou até mesmo um estrangeiro,
um pobre e inofensivo estrangeiro,
apanhado à hora errada no sítio errado.

Camarada,
um homem não mata outro homem
só porque é estrangeiro,
ou só porque não pensa ou não sente como tu,
um homem não puxa o gatilho
ou saca da espada,
sem perguntar quem vem lá!

Enfim, não se mata um homem,
de ânimo leve,
gratuitamente,
só porque alguém o elegeu como teu inimigo.

Não, meu irmãozinho,
não eram estes outdoors
e muros grafitados,
ao longo da picada,
não, não era este trilho,
que era pressuposto levar-te
do cais do inferno
às portas do paraíso.

Sim, porque no final, 
meu irmão,
há sempre alguém a prometer-te
o paraíso,
o olimpo,
o panteão nacional
ou cruz de guerra com palma,
em troca da dádiva suprema
da tua vida,
do teu corpo,
da tua alma.

Todos te querem,
todos te queremos,
“I want you”,
sim, quero-te, mas por inteiro,
quanto mais não seja
para tirar uma fotografia contigo,
não vales nada
cortado às postas,
decepado,
decapitado,
ou, pior ainda,
perdido, errático,
com stress pós-traumático
sem bússola nem mapa,
apanhado à unha pelo inimigo,
ou fuzilado no poilão de Bambadinca
ou de Madina Colhido.
Fuzilado, és um cadáver incómodo,
apanhado, és um embaraço diplomático,
pior do que tudo isso,
doente psiquiátrico.



Não, não foi este destino
que compraste,
com o patacão do teu sangue, suor e lágrimas,
enganaram-te, os safados,
os generais
e os seus ajudantes de campo,
os burocratas da secretaria,
os recrutadores,
a junta médica,
os instrutores
e até os historiadores.

“Guinea-Bissau, far from the Vietnam”,
alguém escreveu no poilão de Brá
ou na estrada de Bandim,
a caminho do aeroporto, tanto faz,
“Tuga, estás a 4 mil quilómetros de casa”.
Ou então foi imaginação tua,
pesadelo teu,
deves ter sonhado com essa placa toponímica,
algures,
numa noite de delírio palúdico,
deves tê-la visto
a sul do deserto do Sará.

Alguém sabia lá
onde ficava a Guiné,
longe do Vietname,
alguém se importava lá
com o teu prémio da lotaria da história,
mesmo que em campanha
te tenhas coberto de glória!

Acabaram por te meter
num avião “low cost”
ou num barco de lata,
ferrujento,
deram-te um pontapé no cu
ou cravaram-te a tampa do caixão de chumbo.
"Bye, bye, my friend.
Fuck you, man”.
Nem sequer te desejaram
"Oxalá, inshallah, enxalé,
que a terra te seja leve!"

País de merda"...
Tinha razão o polícia, racista,
que te quis barrar a entrada
no aeroporto de Saigão
(ou era Lisboa ?
ou era Amsterdão?).

Quem disse que os polícias
de todo o mundo
são estúpidos ?
Até o polícia racista
entende o sofisma
do país de merda:
“Pensando bem,
soletrando melhor,
país de merda,
país de merda,
só pode ser o meu”.

Os gajos estavam fartos de ti,
meu irmão,
meu camarada,
meu amigo.
Os gajos pagavam-te,
se preciso fosse,
para se verem livres de ti,
vivo ou morto,
devolvido à procedência.

“I want you, alive ou dead”,
porque na contabilidade nacional
tudo tem de bater certo,
diz o cabo arvorado.
Todo o que entra, sai,
é o deve e o haver
do escriturário, encartado,
mesmo que seja merda:
“Garbage in, garbage out”,
se entra merda, sai merda.

Procuraram-te por toda a parte,
do Minho ao Algarve
do Cacheu ao Cacine,
só te queriam bem comportado,
escanhoado,
ataviado,
de botas engraxadas,
se possível herói de capa e espada,
medalhado, condecorado,
de cruz de guerra ao peito,
mesmo que viesses amortalhado.

E tu ?
Sabias lá tu
o que era a pátria,
onde ficava a tabanca da pátria,
onde começava e acabava o chão da pátria ?
Muito menos sabias
a geografia da guerra,
Aljubarrota,
Alcácer Quibir,
Vimeiro,
Waterloo,
La Lys,
lha do Como,
Guidaje,
Gadamael,
Dien-Bien-Phu,
Madina do Boé,
Ponta do Inglês,
Madina Belel...

Conhecias lá tu
da pátria a anatomia e a fisiologia ,
o intestino grosso e delgado,
o que é que a pátria comia,
o que é que a pátria defecava,
ou até mesmo o que é que a pátria sentia e pensava,
se é que a pátria deveras sentia e pensava.

Queriam-te sedado,
anestesiado,
amnésico, de preferência,
sobretudo amnésico.
alienado,
aculturado,
desformatado,
paisano,
só assim eles te queriam de volta
ao teu anódino quotidiano,

Meu irmão,
meu pobre camarada,
fizeste por eles
o trabalho sujo
que compete a qualquer bom soldado
em qualquer guerra.
Mas nem como soldado eles te trataram,
nem sequer como mercenário
te pagaram,
em espécie ou em géneros.

Afinal a guerra acabou,
como todas as guerras acabam,
até mesmo a guerra dos cem anos
teve um fim
com o seu rol de mortos, feridos e desaparecidos.
“Para quê mexer agora na merda, ó nosso cabo ?”,
pergunta o sorja da companhia.
“Boa pergunta, meu primeiro,
mas há muito já que eu não cheiro,
a guerra embotou-me os sentidos”.

Luís Graça
Lourinhã, Vimeiro, 18/7/2015,
Reconstituição histórica da batalha do Vimeiro (21/8/1808)
____________

Nota do editor:

Último poste da série > 8 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14846: Manuscrito(s) (Luís Graça) (61): Poema interpretativo da batalha do Vimeiro (, dedicado ao Eduardo Jorge Ferreira)

Guiné 63/74 - P14927: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (11): Vimeiro, Lourinhã, 17 a 19 de julho de 2015: recriação histórica da batalha do Vimeiro (1808) e mercado oitocentista - Parte II: Fogo à peça!... Oxalá, inshallah, enxalé a gente se possa voltar a encontrar para o ano!



Vídeo (0' 35''). Alojado no You Tube > Luís Graça



Vídeo (2' 00''): Alojado em You Tube > Luís Graça


Lourinhã, Vimeiro > 18 de julho de 2015 > Reconstituição histórica da batalha do Vimeiro (21 de agosto de 1808) e mercado oitocentista > O "valente soldado" Eduardo  Jorge Ferreira, nosso grã-tabanqueiro, amigo e camarada... No "bar do soldado 1808",  depois da "batalha"...

Foto e vídeos: © Luís Graça (2015) Todos os direitos reservados.


1. Lourinhã, Vimeiro > 18 de julho de 2015 > Reconstituição histórica da batalha do Vimeiro (21 de agosto de 1808) e mercado oitocentista.(*`)

O nosso grã-tabanqueiro Eduardo Jorge Ferreira e o seu grupo de recriadores históricos do Vimeiro, tiveram  o seu "batismo de fogo" no "assalto à igreja", reconstituição que se realizou no dia 18/7/2015, sábado. Nesse dia, também se realizou, pelas 16h00, a cerimónia de homenagem aos combatentes junto ao Padrão Comemorativo da Batalha do Vimeiro.

Na véspera, dia 17, 6ª feira, já se tinha efetuada, às 22h00,  a encenação, prevista no programa,  “A corte que parte e o invasor que chega” (referência à partida da corte para o Brasil em 1807; por  um triz, o destacamento avançado das tropas napoleónicas, comandadas por Junot, não apanhou a rainha, o príncipe regente, demais família real e o seu séquito de cortesãos e cortesãs... Daí a expressão popular "ficar a ver navios"). (**)

O forte dos 3 dias foi a reconstuição da batalha do Vimeiro, ao meio dia de domingo, dia 19, em campo aberto (evento a que não assistimos) (***)... 

A reportagem completa dos 3 dias de festa está aqui disponível, por iniciativa do Município da Lourinhãfotos (131) e vídeos (4).

Parabéns ao nosso grã-tabanqueiro Eduardo Jorge Ferreira, voluntários locais e demais lourinhenses ( a começar pelo muncipio e a Associação para a Memória da Batalha do Vimeiro) que deram corpo e alma a esta iniciativa, de interesse histórico, cultural e turístico.  Alguns aspetos relacionados  com a segutança de pessoas e bens terão de ser melhor acautelados em futuras recriações, como já tive ocasião de  transmitir pessoalmente ao Eduardo... (LG).

PS - Parabéns também aos nossos novos grã-tabanqueiros Helena ("do Enxalé") e Álvaro Carvalho que aguentaram,  de pé firme, estes três dias... O Álvaro, num gesto generoso, fez uma completíssima reportagem (fotos e vídeos) que vai pôr à disposição do Eduardo... A  Maria Helena vai-nos mandar fotos digitalizadas do seu tempo de menina e moça no Enxalé, algumas das quais me trouxe para mostrar... O casal vive entre as Caldas da Raínha e a Amoreira de Óbidos...

Oxalá, inshallah, enxalé a gente se possa voltar a encontrar para o ano!
_____________

Notas do editor.

(*) 19 de julho de  2015 > Guiné 63/74 - P14898: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (8): Vimeiro, Lourinhã, 17 a 19 de julho de 2015: recriação histórica da batalha do Vimeiro (1808) e mercado oitocentista - Parte I: Com o nosso 1º cabo Eduardo Jorge Ferreira, promovido a sargentos por feitos heroicos em campanha...

(**) "Ficar a ver navios", não obter o que se deseja, ver as suas suas expectativas goradas ou frustradas, esperar inultilmente.... É uma expressão, ao que parece, muito mais antiga... A sua origem muito provavlemenmte remonta ao tempo em que os armadores portugueses, e os populares (com destaque para as mulheres), na época Descobrimentos e das grandes viagens marítimas, tinham por costume ficar no alto de Santa Catarina, em Lisboa, à espera do regresso das caravelas e das naus que vinham das Índias, da África ou do Brasil. Outra hipótese tem a ver com o mito sebastiânico, o rei (o "Desejado") que haveria de regressar numa manhã de nevoeiro , depois do desastre de Alcácer Quibir (em 1580)...

No caso da partida da corte para o Brasil (que implicou na prática a primeira e única transferência, na história,  da capital de um império para a sua colónia...), estamos a falar de uma diferença de horas... Junot não conseguiu aprisionar o príncipe regente Dom João (filho de Dona Maria I, e futuro rei de Portugal), como estava nos seus planos: a corte embarca, no rio Tejo,  a 27 de novembro de 1807, mas a frota só parte a 29, por causa da falta de ventos...Junot, vindo do Ribatejo, entra em Lisboa às 9h00 da manhã do dia 30...

domingo, 19 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14898: Nas férias do verão de 2015, mandem-nos um bate-estradas (8): Vimeiro, Lourinhã, 17 a 19 de julho de 2015: recriação histórica da batalha do Vimeiro (1808) e mercado oitocentista - Parte I: Com o nosso 1º cabo Eduardo Jorge Ferreira, promovido a sargentos por feitos heroicos em campanha...



Vimeiro, 18 de julho de 2015 > Mercado oitocentista > 
Atuação dos gaiteiros da Freiria

Vídeo alojado em Luís Graça > You Tube.



Foto nº1 > A Alice e o 1º cabo Eduardo Jorge Ferreira, "patrão" da reconstituição histórica da batalha do Vimeiro (21 de agosto de 1808) e mercado oitocentista,. que se está a realizar este ano, no Vmeiro, Lourinhã (17-19 de julho)


Foto nº 2 >  A> Alice, o Álvaro Carvalho e a Helena do Enxalé (que vieram das Caldas da Rainha de propósito para assitir ao evento e fazer, o Álvaro, vestido de frade fransciscano, a cobertura fotográfica)


Foto nº 3 > A "tomada da igreja": reconstituição 


Foto nº 4 > A "artilharia francesa",,,


Foto nº 5 > À esquerda, o nosso 1º cabo, do RI 19, Eduardo Jorge Ferreira, que foi promovido a sragento por feitos valorosos em combate,,,

Lourionhã, Vimeiro > 18 de julho de 2015 > Reconstituição histórica da batalha do Vimeiro (21 de agosto de 1808) e mercado oitocentista...

Fotos ( e legendas): © Luís Graça (2015) Todos os direitos reservados.
____________

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Guiné 63/74 - P14846: Manuscrito(s) (Luís Graça) (61): Poema interpretativo da batalha do Vimeiro (, dedicado ao Eduardo Jorge Ferreira)

Poema interpretativo da batalha do Vimeiro

por Luís Graça (*)


[para o Eduardo Jorge Ferreiraex-alf mil, PA, BA 12, Bissalanca, 1973/74, natural do Vimeiro, Lourinhã; e o último descendente dos bravos da batalha do Vimeiro;  diz a lenda que os patriotas, portugueses, eram poucos mas bons; todos os demais, de um lado e do outro,  eram estrangeiros, franceses, espanhóis, ingleses, mercenários](**)


Casas caiadas paradas,
o silêncio escorrendo pelas paredes,
nas águas furtadas
já não dormem as criadas
e na praça, ah!, da liberdade,
já não se ouve o frufru das sedas
roídas pelo bicho da traça.
“Esquecei o que vedes”,
diz um aviso ao povo, 
apregoado pelo almotacé da cidade,
poeta, cego, negro, escravo,
enquanto, não longe,  em Porto Novo
o mar é de labaredas,
e há turistas, voyeuristas,
espreitando por ruelas e veredas.

Há bonecas de porcelana,
quiçá das Chinas,
às janelas,
e os dedos delas
confundem-se com as rendas de bilros,
as teias de aranhas,
as cortinas,
os brocados de cetim,
os deveres e os lavores femininos,
as máscaras de Arlequim,
as fantasias de antigos carnavais,
e as façanhas
dos soldadinhos de chumbo imperiais.

Dedos que teceram intrigas e redes,
redes de pescadores
há muito perdidos nas colinas
do alto mar.
Ou dedos que alimentaram outras redes,
clientelares, sociais, clandestinas,
sob os portais,
os corredores e as esquinas  
dos paços,
dos passais,
das celas conventuais
e dos passos perdidos
das antecâmaras reais.

O silêncio não para
ou só vai parar
a um metro do chão,
na barra azul
dos moinhos de vento
mais a sul,
entre pomares e vinhedos,
os búzios 
e o  cavername
das  barcas naufragadas.
À entrada.
fora das muralhas,
o cemitério,
cofre forte de segredos.
Aqui acabam-se todos os medos,
e os heróis da última das batalhas
não têm sequer honras de mortalhas.


Valhe-te a brisa do mar
que te faz algum refrigério
na canícula do fim de estação
da tua civilização.
Casas paradas caiadas
com a mesma cal viva
das valas comuns,
pelos claustros do convento,
entre suspiros, sussurros e zunzuns,
esquivam-se furtivos noctívagos
trânsfugas,
pecadores,
esbirros,
hereges,
iluministas e iluminados,
proscritos
desertores,
jacobinos e ultramontanos  
penitentes,
mouros, judeus e ciganos,
almas penadas,
poetas malditos,
almocreves,
almoxarifes,
santos inquisidores,
quiçá bruxas e duendes.

A calçada, outrora portuguesa,
gasta pelos cascos dos cavalos
dos invasores,
picam-se os brasões dos solares
da mui antiga nobreza,
corta-se cerce
a árvore genealógica
dos velhos senhores
e salgados são,  
até à ponta do mais fundo alicerce, 
os seus doces lares.

Um estranho odor
a incenso, mirra, maresia
e pólvora dos fuzis,
sobe pelos ares.
Violadas as filhas,
raptadas as servas,
acorrentados ao pelourinho os criados,
passados a fio de espada 
os primogénitos,
fundido o ouro e a prata dos brasis,
postos os novos deuses nos altares,
pergunta a jovem guia do centro interpretativo
o que é pior,
se a triste e vil desonra do presente
ou se o silêncio premonitório do futuro.

Por ti, nada de bom auguras,
não sabes que lugar é este
sem memória
nem glória,
à beira da estrada
do Atlântico oeste
da tua infância revisitada,
o mar do Cerro em frente.

Não há mais quem cante o cante
dos poetas,
a doce cantilena das Naus Catrinetas,
o fero cântico dos últimos guerreiros
do Império,
ou até a última oração,
de raiva, lamento e impropério,
em canto chão,
que é devida
aos bravos
que pela pátria deram a vida.
"Ninguém morre pela pátria, minha querida,
morres pelos teus,
que te estão mais próximos, 
a família, os vizinhos, os amigos, os camaradas".


Fora de portas,
num atalho ou trilho
que leva ao monte das forcas,
compras o último pão de centeio
e a última boroa de milho
à última padeira de Aljubarrota
que ainda estava viva,
à hora do pôr do sol.
Padeira, 
viandeira, 
mãe coragem, 
altiva,
que nem sempre o que parece é,
a vitória ou a derrota,
medindo forças no tribunal da história.

Águas paradas do rio Alcabrichel,
tingidas de verdete e de sangue,
no fim de tarde de todas as batalhas.
"Pour Monsieur Junot,
c' était encore trop tôt!",
manda dizer o ajudante de campo, 
enquanto sobe para a carruagem.
Saqueada a  cidade,
enchem-se as tulhas,
despejam-se as talhas,
ainda a guerra é uma criança,
e quem não viu não vê,
acrescenta o enviado especial da TV
em apontamento de reportagem.

O último terno de cornetins
da fanfarra do exército dizimado
toca a silêncio,
enquanto te despedes
na parada, em ruínas,  do quartel.
Em boa verdade, 
a música do silêncio 
é a única linguagem universal 
que tu conheces 
na Torre de Babel.

Luís Graça
Lourinhã, Vimeiro, fim de verão, 2014. Versão anterior: Extremadura(s)
v19, revisto, 6/7/2015.

___________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 5 de julho de 2015 > Guiné 63/74 - P14836: Manuscrito(s) (Luís Graça) (60): Se todos os pescadores do mundo...

(**)  Vd. poste de 7 de julho de  2015 > Guiné 63/74 - P14842: Agenda cultural (413): Vimeiro, Lourinhã, 17 a 19 de julho: recriação histórica da batalha do Vimeiro (1808) e mercado oitocentista... Com apoio da, entre outros parceiros, Associação para a Memória da Batalha do Vimeiro (AMBV) (Eduardo Jorge Ferreira, ex-alf mil, PA, BA 12, Bissalanca, 1973/74)