Guiné - Zona Leste - Sobreviventes da tragédia de Cheche, no Rio Corubal, na retirada de Madina do Boé
Foto (e legenda): © Paulo Raposo (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Em mensagem do dia 6 de Janeiro de 2019, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5, "Gatos Pretos", Canjadude, 1968/70), lembra o dia 6 de Fevereiro do já longínquo mas inesquecível ano de 1969, como ele próprio diz, uma data indelével para os combatentes da Guiné e familiares dos militares que sucumbiram na catástrofe durante a travessia do rio Corubal.
No cinquentenário da Passagem do Corubal
Todos temos uma, ou mais, datas que são indeléveis. Para mim, e para muitos que estavam nas imediações do destacamento do Che-Che, junto ao rio que divide a zona sul de Nova Lamego e o Boé, é o dia 6 de Fevereiro do ano de 1969.
Foi nessa fatídica tarde que, quando se cumpria a parte mais difícil da retirada das tropas que ocupavam Madina do Boé e o destacamento do Ché-Che, se deu um dos maiores desastres militares da guerra que ocupou mais de um décimo da população portuguesa.
Passados 50 anos, ainda não há consenso sobre o que aconteceu, nem será agora que iremos tecer teorias para encontrar a causa: essa é a que consta, se constar, dos relatórios da "Operação Mabecos Bravios”.
Foram 47 “miúdos” que sucumbiram nas águas do Corubal, que, vindo da Guiné Conacri, atravessa toda a zona do Boé, para casar com o Geba, que vem do norte, das terras do Senegal, e entrarem, de braço dado, no Atlântico depois de banharem Bissau.
O mais velho tinha 28 anos e os 3 seguintes tinham, 27, 26 e 25 anos, sendo naturais da então província e já com alguns anos de guerra. Com 24 anos pereceram 4 militares, com 23 anos foram 25, e os mais novos, com 22 anos, 14 militares.
Passados estes anos, meio século, já “perderam” a patente; “perderam” o número de identificação, “perderam” o direito a pertencer a uma Unidade Militar. Agora são HERÓIS NACIONAIS e pertencem ao BATALHÃO CELESTIAL DO EXÉRCITO PORTUGUÊS, que conta, cada vez mais, com novos membros que, terminada a sua comissão de serviço regressaram às suas terras, e foram por sua vez partindo.
Os seus nomes permanecerão escritos, em letras de ouro, na Galeria dos Heróis.
São de militares de origem europeia ou guineense e soldados milícias africanos:
Adul Embalo
Adulai Silva
Alberto da Silva Mendes
Alfa Jau
Alfredo António Rocha Guedes
Américo Alberto Dias Saraiva
Aníbal Jorge da Costa
António de Jesus Silva
António Domingos Nascimento
António dos Santos Lobo
António dos Santos Marques
António Marques Faria
António Martins de Oliveira
Augusto Caril Correia
Augusto Maria Gamito
Avelino Madail de Almeida
Carlos Augusto da Rocha
Celestino Gonçalves Sousa
David Pacheco de Sousa
Francisco da Cruz
Francisco de Jesus Gonçalves Ferreira
Gregório dos Santos Corvelo Rebelo
Indique Embuque
Joaquim Nunes Alcobia
Joaquim Rita Coutinho
Joel Santos Silva
José Antunes Claudino
José da Silva Coelho
José da Silva Góis
José da Silva Marques
José de Almeida Mateus
José Fernando Alves Gomes
José Ferreira Martins
José Loureiro
José Maria Leal de Barros
José Pereira Simão
José Simões Correia de Araújo
Laurentino Anjos Pessoa
Luís Francisco da Conceição Jóia
Manuel António Cunha Fernandes
Manuel Conceição Silva Ferreira
Manuel da Silva Pereira
Octávio Augusto Barreira
Ricardo Pereira da Silva
Tijane Jaló
Valentim Pinto Faria
Victor Manuel Oliveira Neto.
Foram estes os nomes que foram escritos no impresso de mensagem e apresentados ao Comandante da Unidade, que assim autorizava o seu envio para o batalhão e deste, para o Comando-Chefe.
Pouco tempo depois, foram enviados pelo radiotelefonista que, após cada nome parava. Não apenas para respirar, mas sobretudo para limpar mais uma lágrima que não conseguia reprimir.
6 de Janeiro de 2019
José Marcelino Martins
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Nota do editor
Último poste da série de 17 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19203: Efemérides (296): No 1º centenário da Grande Guerra: fomos revisitar o Diário de Lisboa, de 5 de abril de 1924: a mediatização do herói. o Soldado Milhões