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quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Guiné 61/74 - P19393: A presença portuguesa no mundo (1): Nyanmar e Bangladesh (Armando Tavares da Silva)



"Os olhos de um António, lisboeta birmanês"


"Uma Dona Maria da Piedade, beirã do Irrawady"


"Um Sr. José, algarvio do rio Mu"

Fotos (e legendas): do fotógrafo Joquim Magalhães de Castro (2009). Fonte: Blogue Combustões, de Miguel Castelo Branco



"James Swe quer que a comunidade de descendentes de portugueses no Myanmar conheça essa herança cultural. O seu livro sobre os portugueses que por lá passaram durante a primeira dinastia birmanesa vai ter lançamento em língua portuguesa no próximo ano". 

Foto e legenda: Jornal Tribuna de Macau, 18 de dezembro de 2017 (com a devida vénia...)



1. Mensagem do nosso amigo e membro da Tabanca Grande, Armando Tavares da Silva, engenheiro,  historiador, prof catedrático aposentado da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, "Prémio Fundação Calouste Gulbenkian, História da Presença de Portugal no Mundo" (, atribuído pelo seu livro “A Presença Portuguesa na Guiné — História Política e Militar — 1878-1926”), presidente da Secção Luís de Camões da Sociedade de Geografia de Lisboa.


Data: 24/12/2018, 14:24


Caro Luís,

Esta é talvez uma boa altura para se publicar o texto anexo, a que junto os meus votos de um Santo e Feliz Natal para todos os gran-tabanqueiros. Não fala da Guiné, nem de África, mas fala da Ásia e da presença portuguesa no Mundo. Talvez funcione de lenitivo para os cépticos e descrentes...

Fêz-me recordar o que ouvi dizer a um guineense com quem me cruzei, não há muito tempo, com grande orgulho e satisfação: “Eu sou português!”. E também o que escreveu em missiva para o governador, em 1891, o chefe beafada Mamadú D’jolá (ou Mamadú Jolá), a propósito de desinteligências com negociantes franceses: “Eu sou português e não francês, porque estou debaixo da bandeira portuguesa!”. Abraço, A.


2. A presença portuguesa no mundo: Nyanmar e Bangladesh

por Armando Tavares da Silva


Passou há pouco um ano sobre a visita do Papa Francisco a Myanmar e ao Bangladesh, o que deu origem a que surgissem na imprensa e outros media notícias de descendentes de portugueses que no século XVI se deslocaram para aquele país com intuitos comerciais. A existência destes descendentes é (era) desconhecida da maior parte dos portugueses. Apenas aqueles que se dedicaram a estudar a presença portuguesa na Ásia teriam dela conhecimento, como é o caso do historiador Miguel Castelo Branco.

A visita do Papa a Myanmar decorreu entre 26 e 30 de Novembro de 2017 e durante ela o Papa celebrou uma missa campal em Rangum na presença de cerca de 150 mil  católicos e uma outra para jovens na Catedral de Santa Maria.

As notícias que vieram a lume contam-nos que a chegada dos primeiros portugueses ao reino que é agora o Myanmar,  não foi fruto de um processo organizado. Como exemplo é referido o caso de Sebastião Tibau, um militar que depois de ter chegado à Índia desertou para procurar fortuna para os lados de Arracão, hoje o estado birmanês de Rakhine. Este é o estado onde tem ocorrido uma perseguição aos rohingya – minoria muçulmana –, e pelos quais o Papa procurou interceder junto das autoridades birmanêses durante a sua visita.

Segundo aquele historiador, Sebastião Tibau “tranformou-se lentamente num rei pirata da ilha de Sundiva, que depois de muitas traições e mudanças acabou por ser destruído pelos birmaneses”. Houve mais tarde o “famosíssimo Rei do Sirião, ou rei do Pegú, que é um Filipe Brito de Nicote, que era também um mercenário, e que ganhou tanto relevo que acabou por ser investido como Senhor do Sirião”.

Ainda segundo aquele historiador, os portugueses – que eram designados por “portugueses à solta” – geravam espontâneamente comunidades, casando com mulheres locais, e cujos filhos recebiam educação portuguesa, incluindo a sua religião. Estas comunidades originavam ”bandéis” inteiramente ocupados por esta população mista luso-birmanesa, a qual tinha uma função especializada no quadro das monarquias locais, sendo soldados e intérpretes.

Constituiam um grupo social estratégico, desempenhando, ao longo de 300 anos, funções administrativas relevantes no palácio, no comércio internacional e no exército.

Em Merguy, Tavoy e Dagon (hoje Rangum, capital histórica do Myanmar), principais portos de mar, a função de shabandar, ou seja, de capitão portuário, foi sempre desempenhada por estes católicos habilitados para o uso das duas línguas francas então usadas no Sudeste-Asiático, o malaio e o português. Depois, com a afirmação do poder britânico a partir de meados do século XVIII, passaram a dominar o inglês e ganharam uma nova competência; transformaram-se em tradutores e intermediários em todas as embaixadas enviadas pelos britânicos à corte birmanesa, assim como em agentes comerciais e diplomáticos dos governantes birmaneses. Não é, pois, de estranhar que a sua influência fosse crescendo, ao ponto de um dos últimos reis da dinastia Konbaung ter tomado como uma das suas mulheres uma rapariga luso-birmanesa.

Mas foi como comunidade marcial que os nossos luso-birmaneses ganharam notoriedade. Nas lutas com o Sião, com o império chinês e, finalmente, durante as três guerras com os ingleses – primeira guerra anglo-birmanesa (1824-1826), segunda guerra anglo-birmanesa (1852-1853) e terceira guerra anglo-birmanesa (1885) – as unidades católicas do exército real birmanês, armadas à europeia, transformaram-se na espinha dorsal do dispositivo birmanês. Para além de unidades de atiradores, constituíram-se unidades de artilharia de campanha cuja eficácia foi repetidamente

Mas não foi só em Ragum que o Papa Francisco celebrou missa perante descendentes de portugueses durante aquela viagem. Depois de visitar Myanmar, o Papa deslocou-se ao Bangladesh, onde permaneceu entre 30 de Novembro e 2 de Dezembro, país onde o cristianismo chegou através dos portugueses do século XVI, e onde existe igualmente uma pequena comunidade de católicos.

Igreja de Santo Rosário, Daca, Bangladesh

Papa no cemitério católico, em Daca


O Papa com estudantes da universidade católica de Daca

Viagem do Papa Francisco  ao Banglasdesh 
(30 de novembro a 2 de dezembro de 2017)

Fotos: recolha de Armando Tavares da Silva (2019)



E é de referir que uma das igrejas onde o Papa esteve presente foi a igreja do Santo Rosário em Daca, capital daquele país, construída pelos missionários agostinhos portugueses em 1677. Nesta igreja o Papa reuniu-se com sacerdotes, religiosos(as), seminaristas e noviças, tendo visitado o cemitério contíguo onde estão sepultados muitas dezenas de missionários e fiéis. De realçar que esta igreja foi objecto de reconstrução no ano 2000, patrocinada pela Fundação Calouste Gulbenkian, no âmbito de um notável esforço de recuperação dos traços da presença de Portugal no mundo, iniciado em 1995, e que mereceu a atenção prioritária da Fundação pela sua importância histórica e religiosa, pois se trata do único edifício do tempo dos portugueses existente na capital da antiga província de Bengala Oriental, que a partir de 1947 foi o Paquistão Oriental e, desde 1971, o Bangladesh independente.

A cerimónia de reabertura da igreja decorreu no dia 17 de Dezembro de 2000, na presença de cinco bispos, vinte padres e cinco mil e quinhentas pessoas, representando uma manifestação de fé cristã em país muçulmano, e que decoreu num ambiente de “alegria esfuziante e fervor religioso”.

Acrescente-se que, quer em Daca quer em Chittagong (duas das principais cidades do país), se notam traços visíveis da presença portuguesa, tanto nos nomes dos mortos gravados nas pedras tumulares dos cemitérios, como nos dos vivos (todos os sete bispos do Bangladesh têm nome de família Rozário, Gomes ou Costa…). Por outro lado, há igrejas dos tempos dos portugueses nos arredores da capital – uma delas, a capela de Santo António de Panjorá, tem bem à vista, no alto da fachada, uma legenda: «Missões Portuguesas de Bengala», a data de 1906 e o escudo da monarquia portuguesa.

Nesta procura do que resta da presença portuguesa no oriente é indispensável mencionar o trabalho do escritor, jornalista e fotógrafo Joaquim Magalhães de Castro, autor do livro ”Os Filhos Esquecidos do Império” (2014). Este, em 2002, percorreu a Birmânia (Myanmar) em busca dos vestígios da minoria portuguesa-católica bayingyi, que ainda sobrevive no vale do rio Mu, afluente do Irrawady. O resultado deste notável trabalho de campo foi, a todos os títulos, inesperado. A sensibilidade do artista captou com intensidade os rostos dessa gente que orgulhosamente ainda exibe os traços do sangue e herança portugueses. Quatrocentos anos de obstinada resistência, apego à memória, práticas gastronómicas, indumentária, farrapos de língua e uma profunda demarcação religiosa transformaram em relíquia antropológica a comunidade remanescente do trânsito de aventureiros, comerciantes e missionários vindos da Roma do Oriente (Goa) a caminho de Malaca e Macau.

Um livro onde se desvenda a presença portuguesa na Birmânia, mais de 500 anos depois, é o livro de James Myint Swe, "Cannon Soldiers of Burma", e aí se pretende divulgar o papel de exploradores, comerciantes e soldados vindos de Portugal a partir do século XVI na estrutura actual da Myanmar. Com primeira edição em inglês em 2014, deste livro espera-se uma versão portuguesa a ser lançada pela Gradiva.

Ouçamos este birmanês descendente de portugueses, formado em ciência política pela Universidade de Western Ontario, Canadá, onde vive desde 1976, em entrevista à Lusa, a propósito do seu livro:

"É extraordinário que, na mesma zona onde os portugueses se estabeleceram pelo ano de 1633, em Ye U, uma localidade situada entre os rios Chindwin e Mu [norte da Birmânia], as populações continuem a sentir-se portuguesas", sem qualquer contacto e a mais de nove mil quilómetros de distância.

"Não se sabe ao certo a dimensão destas populações... cerca de 200 a 300 pessoas por aldeia, o que nas localidades maiores poderá ir até às duas/três mil. As autoridades estão a tentar fazer um levantamento para saber quantas aldeias existem e quantas pessoas ali vivem", acrescentou James Swe, que nasceu Chan Tha Ywa, na zona de Ye U, em 1947.

As pessoas desta zona "parecem europeus, o cabelo e a pele são mais claros, alguns têm olhos verdes" e são maioritariamente católicos, disse, lembrando que, nos anos 1970, o Governo não reconhecia esta população como birmanesa, considerando-a estrangeira.

À medida que a aposta das autoridades no ensino cresce no país e que os acessos à zona melhoram, os elementos mais jovens destas comunidades deslocam-se para as cidades para entrar nas escolas e "esta relação com Portugal começa a perder-se", alertou.

Mas este afastamento já vem de longe e está retratado na declaração atribuída pelo investigador ao capitão António do Cabo que, em 1628, em Ava, no norte birmanês afirmou: "Muitos de nós nascemos em Portugal, ou pelo menos em Goa [Índia]. Passámos muitos anos aqui na Birmânia. Sempre nos sentimos como prisioneiros, ou hóspedes, ou visitantes. Agora chegou a altura de aceitar que a Birmânia é o nosso país. Ainda somos portugueses, mas nunca voltaremos a ver Portugal. Alguns de vós nunca viram".

"Com as armas que trouxeram e as alianças que cimentaram com os reinados Mon, Arakan [Rakhine, na actualidade] e Bama/Birmanês, os portugueses foram determinantes na construção da actual Birmânia", sublinhou James Swe.

Os 300 anos que medeiam entre a chegada dos portugueses (1500) e os ingleses (1800) foram quase eliminados da história oficial do país, acrescentou.

"Eu só conheci estas histórias porque, durante as férias do verão, os meus avós falavam da vida de Paulo Seixas ou Luísa de Brito", afirmou, referindo-se a alguns dos longuínquos protagonistas de guerras, alianças, traições e comércio no país, que faz fronteira com a China, o Bangladesh, o Laos e a Tailândia.

"Foi no Canadá que descobri que a História e aquilo que os meus familiares contavam coincidiam", disse, sublinhando as dificuldades de estender a pesquisa realizada ao longo de dez anos entre o Reino Unido, o Canadá e Portugal, aos arquivos birmaneses, fechados desde 1962 pelo regime militar. Impedido de entrar nos últimos 40 anos na Birmânia, Swe contou com a ajuda de amigos e familiares no país para investigar a história dos seus ancestrais. Neste período, voltou pela primeira vez a Myanmar, em 2012.

James Swe voltou novamente ao seu país natal para estar presente durante a visita do Papa Francisco, e em entrevista concedida na altura, depois de reconhecer o contentamento dos católicos birmaneses com aquela presença e de assegurar que as aldeias católicas do Myanmar estavam vazias por esses dias, comenta que se os bayingyi estivessem ainda nas suas aldeias, é muito possível que estivessem a fazer chouriço, iguaria que é uma das poucas heranças gastronómicas que sobrevive dos seus antepassados.

Sobre a sorte que teve em visitar Portugal, James Swe diz: “A primeira sensação que tive quando cheguei a Portugal foi de reunificação. Há 400 anos que os meus antepassados não sabiam se alguma vez voltariam a Portugal, mas passado este tempo todo, eu, enquanto herdeiro espiritual, estava a regressar a Portugal. Foi isso que senti. Posso não parecer português, mas sinto-me português, foi como regressar a casa”.

domingo, 10 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18731: (In)citações (119): Coisas e Loisas acerca da nossa Guerra de África, das nossas Forças Armadas e da Descolonização e dos seus Destroços (1) (Manuel Luís Lomba)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) com data de 31 de Maio de 2018, trazendo-nos uma reflexão intitulada Coisas e Loisas acerca da nossa Guerra de África, das nossas Forças Armadas e da Descolonização e dos seus Destroços.


Coisas e Loisas acerca da nossa Guerra de África, das nossas Forças Armadas 
e da Descolonização e dos seus Destroços

I 

Pertencemos à geração, ora grisalha, que “FOI ATÉ ONDE A PÁTRIA FOI”, que fez o 25A74 e o 25N75, a destituir governos que não gostava e que reconstruiu Portugal dos destroços da Descolonização e do PREC.

Somos uma fonte da nossa história, depomos na primeira pessoa, como actores vivos dos seus factos acontecimentais. Ninguém é obrigado a condescender com o branqueamento da que vem sendo escrita “sob o manto diáfano da fantasia” ideológica, nem com a sua perversão por parte dos complexados “cientistas sociais” emergentes.

De facto, tudo o que nos séculos XV e XVI os Portugueses descobriram já existia – mas estava encoberto. A gesta dos Descobrimentos, em primeiro; a saga e a diáspora da Expansão, depois. E sempre. A guerra africana dos Portugueses tem designação matricial: do Ultramar para nós e de Libertação para quem combatíamos. A terceira designação de Guerra Colonial pertence a terceiros, é semântica, mesquinha, redutora, com carga depreciativa sobre o nosso país e a nossa própria cidadania. Aos discordantes: ao menos aceitem essa realidade como aceitam o Novo Acordo Ortográfico…

Os mesmos que montavam emboscadas e faziam cercos, assaltos, etc a grupos armados, portadores do armamento mais evoluído, que manobravam segundo as mais avançadas tácticas de guerra, arriscavam as vidas e integridade física a proteger as populações indefesas, as sementeiras e as colheitas da subsistência das suas comunidades, garantiam-lhe a mobilidade por terra, ar e água, construíam-lhes casas, infra-estruturas urbanas, postos médicos de serviços universais, escolas, estrada e em escoltas para salvar doentes e parturientes. Jamais os países da CPLP beneficiaram de cooperação tão eficiente, extensa, profunda e inclusiva – e a custo zero. Existia um Estado e obrigámo-nos a fazê-lo funcionar. Essa realidade era uma guerra colonial?

De personalidade complexa, Salazar (e a sua circunstância), para além de ditador suave (comparável a De Varela, da Irlanda, a grande distância da de Franco, da Espanha, Mussolini da Itália, Hitler, da Alemanha, Estaline da URSS ou da de Fidel Castro, de Cuba) foi um grande patriota. Pegou num Estado em falência total, consequência da nossa guerra na África e participação na Europa – a nossa derrota em La Lys aconteceu há 100 anos - e da irresponsabilidade dos “progressistas” da I República, lidou com a Guerra Civil da Espanha e com II Guerra Mundial.

Levantou o Estado Português “orgulhosamente só”, começando por mandar regressar de Genebra os diplomatas, que penosamente negociavam um empréstimo emperrado na Sociedade das Nações, obviamente à “custa dos mesmos” do costume; entrou da nossa história como estadista de primeira água, até mais até pela sua seriedade – não se apropriou do que pertencia a todos; o invés dos políticos poltrões e corruptos desta era “Pós Verdade”, desde deputado a presidente da câmara, (salvo muitas e honrosas excepções), que além de conduziram o país à falência, em época de paz e prosperidade, colocaram o Estado Português sob o protectorado do FMI, do BCE e da Comissão Europeia, com a tarefa de levantarem de novo o Estado Português, também às “custas dos mesmos” do costume, obviamente.

Não me esqueço ter sentido arrepios ao ver do General Garcia Leandro, grande capitão da Guiné, do 25A74 e do 25N75, a dizer na televisão, ainda comovido, ter chorado na madrugada da chegada desse dia da chegada da “troika”!

Sem lhe desculpar o modo esdrúxulo como se auto-impôs Presidente do Conselho, no contexto do tufão Humberto Delgado, um dos seus ex-capitães, Salazar terá lidado com o caso da Índia e com o desencadear da guerra africana num estádio de acentuada senilidade.

(Lembremo-nos o desempenho político do notável Mário Soares, nos seus últimos tempos de vida).

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18442: (In)citações (118): sociocoreografia de um batuque (Cherno Baldé / Valdemar Queiroz)

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Guiné 61/74 - P16994: Camaradas da diáspora (16): Votos de Bom Ano Novo Chinês! Kung Hei Fat Choi ! 新年快樂!恭喜發財! Happy Chinese New Year! (Virgílio Valente. Macau, China)




1 Mensagem do nosso camarada Virgílio Valente [Wai Tchi Lone, em chinês], que vive e trabalha em Macau, região autónoma da China, há mais de 2 décadas; foi alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74; é o nosso grã-tabanqueiro nº 709.

Date: 2017-01-27 2:32 GMT+00:00

Subject: Bom Ano Novo Chinês! Kung Hei Fat Choi ! 新年快樂!恭喜發財!Happy Chinese New Year!




Amigos,

親愛的大家

Dear all,

Desejo um Feliz e Próspero Ano Novo Chinês!

在歡樂的佳節,獻上我誠摯的祝福。

祝您新春快樂!萬事勝意!

I wish you a very Happy and Prosperus Chinese New Year!

恭喜發財!

Kung Hei Fat Choi!

Virgílio Valente

韋子倫


"Ama-me quando menos o mereça, pois é quando mais o necessito."  (Provérbio chinês) / "Love me when I least deserve it, because that's when the more need." (Chinese proverb)
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Nota do editor:

Último poste da série > 27 de janeiro de 2017 > Guiné 63/74 - P16993: Camaradas da diáspora (15): Um belo e perfeito soneto, "Hibernação", datado de Bissau, abril de 1965... (Augusto Mota, Brasil)

domingo, 30 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16658: Atlanticando-me (Tony Borié) (14): O nosso encontro em Águeda

Águeda, 18OUT2016 - Rio Águeda
Foto: © Dina Vinhal


Décimo quarto episódio (especial) da série "Atlanticando-me" do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66).



O nosso “Encontro”

Uff, nem sabemos bem como nos vamos “atlanticar” de novo, um rio de emoções deixa-nos abalados, era bonita aquela paisagem, o rio dos nossos avós, aquele cartaz turístico do rio Águeda, que quer voltar a ser “a Linda”, do poeta Adolfo Portela, naquela manhã fresca, do mês de Outubro.

Ao fim de uma dezena de anos, voltámos por uns dias à Pátria Mãe, ainda hoje não sabemos ao certo, se era a tal “promessa a Fátima”, da Isaura, nossa companheira e esposa há cinco décadas, se era a vontade de comer de novo, os tais “carapaus fritos em molho de escabeche da Ti’Gloria”, claro, são pequenos “fenómenos” da vida de emigrante!

O Carlos Vinhal, que por alguns anos nos “aturou”, sempre com paciência para corrigir e dar um aspecto mais agradável aos resumos, por vezes eram só um aglomerado de palavras, que ele transformava em textos, que se podiam ler, fazendo com que chegasse ao conhecimento dos nossos companheiros, algumas mensagens de tempo de guerra e não só.

O Carlos, na companhia da sua querida esposa Dina, mostrando a sua qualidade de pessoa de bem para com as pessoas que ao longo de alguns anos com ele contactam, na primeira oportunidade que surgiu, tirou tempo da sua vida, fez alguns quilómetros e veio ver-nos a Águeda, calculam a alegria, um abraço, emoções, a Dina, sua querida esposa, uma “autêntica pessoa de relações publicas”, logo a colocar boa disposição no nosso pequeno grupo, dizendo: “falem, falem, contem lá tudo da guerra que lá viveram na então Guiné Portuguesa, eu e a Isaura, vamos falar de coisas mais agradáveis, olha que linda paisagem o rio nos oferece”! Assim começou o nosso encontro, que se prolongou pela tarde, com o nosso grupo a aumentar, com outras pessoas de Águeda, que iam aparecendo e, conhecendo-nos, alguns do tempo da Escola Primária, íamos falando, trocando abraços, e claro, “molhando a palavra”.

Que convívio agradável, oxalá se possa repetir, com a mesma boa disposição, com saúde e alegria de viver, nesta nossa avançada idade, em que a memória nos recorda a juventude passada neste cenário de Águeda, onde passa um rio, que no inverno engordava, trazendo lá da Serra do Caramulo alguma lama, restos de árvores e outras coisas, parecidas com o que víamos em alguns rios da então nossa Guiné.

Consideramos que este foi um dos momentos mais bonitos desta nossa “autêntica maratona” de alguns dias, que terminou com uma longa viajem de 8 horas e 27 minutos, entre Madrid e Miami, onde entre outras coisas, lemos o livro do José Saúde, que o Carlos gentilmente nos ofereceu, com prefácio do “comandante” Luís”, onde muito bem diz, é um testemunho privilegiado de um português e militar que soube fazer tanto a guerra como a paz.





 

 Bem hajam, Carlos e Dina, pelos momentos agradáveis que nos fizeram passar.

Tony Borie, Novembro de 2016.

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2. Águeda, 18 de Outubro de 2016
Memorável encontro com o casal Borié
Carlos Vinhal

Águeda, 18 de Outubro de 2016 - Tony Borié
Foto: © Carlos Vinhal

Mal podia esperar pelo dia em que iria conhecer um dos camaradas que mais trabalho me dá no Blogue, no melhor dos sentidos, claro. Ainda por cima alguém que há tantos anos atravessou o Atlântico, em busca de uma vida melhor, e descobriu na nossa página um meio de contacto com camaradas da Guiné, com os quais pode falar e aos quais pode contar aquilo que já ninguém quer ouvir.
São já 247 as entradas que nos levam às memórias dos tempos em que militava no CMD AGR 16, anos de 1964 a 1966, em Mansoa, até às mais recentes viagens e aventuras por aquele imenso país, os Estados Unidos da América.

Na hora aprazada, o Tony estava já no local do encontro, eu estava do outro lado da rua, não o vendo. Resolvi procurá-lo e vejo alguém de costas que só podia ser ele.
Chamei: - Borié.
As suas primeiras palavras foram: - Julguei que não pudesses vir.
Trocámos um abraço sentido, daqueles que só amigos e camaradas, com um passado comum e duro, como nós os que estivemos na guerra, somos capazes de trocar.

Apareceu de seguida a esposa Isaura, fizeram-se as apresentações das respectivas esposas, trocaram-se lembranças e começou logo ali uma sessão de fotografias. Não havia tempo a perder, a tarde ia ser pequena.

Águeda, 18OUT2016
Foto: © Dina Vinhal

Fomos almoçar e logo se juntou um casal amigo da família Borié, o Lino e a Virgínia, ele também de Águeda e ela de Lisboa, ambos da também da diáspora americana.

Do almoço, de excelência, deixo esta foto.

Águeda, 18OUT2016 - Virgínia, Lino e Isaura. De pé: Vinhal e Borié
Foto: © Dina Vinhal

Não se pense que por se estar fora de Portugal há mais de quatro décadas, as pessoas se esquecem umas das outras. Qual quê? Fui testemunha dos amigos que passavam e, reconhecendo o Borié, o cumprimentavam afavelmente, parando para lembrar tempos idos, bem idos. Um dos companheiros de escola primária, o amigo Canas, dono de um estabelecimento comercial na baixa de Águeda, alterou a sua tarde de trabalho para se juntar ao grupo. As mulheres conversavam por um lado, os homens por outro, sendo grupo já de oito.
A determinada altura, o amigo Canas convidou o grupo inicial, mais dois outros amigos que entretanto se nos juntaram, para um copo no seu cantinho, uma pequena dependência anexa à sua residência, por onde passou gente famosa nas várias vertentes artísticas: cantores, instrumentistas, jogadores de futebol, etc, conforme as muitas fotos penduradas nas paredes.
Porque estávamos no norte, sobressaíam inúmeras fotos antigas com as diversas equipas de futebol do "FêCêPê", e até uma do Rui Veloso, que ali mesmo tocou, cantou e, com certeza, encantou. E aquele emblema do FCP, bordado a ponto de cruz, ficava ali mesmo muito bem.

Águeda, 18OUT2016 - Vinhal, Lino, Canas e Borié. Na foto faltam três senhoras e mais dois amigos também presentes.
Foto: © Dina Vinhal

E, de repente, tinham passado mais de 6 horas. A tarde correu sem darmos por isso. Excelente convívio, quase todo ao ar livre, com temperatura amena, apesar do céu encoberto.
O Tony, que tinha anulado compromissos por minha causa, ainda tinha pessoas de família à sua espera.
Chegou o momento da despedida, um pouco tenso, mas com a esperança, quase certeza, de que este foi só o primeiro encontro.
O regresso a Leça da Palmeira, relativamente perto de Águeda, tornou-se penoso, demorando mais de duas horas, apesar de feito todo em autoestrada, mas valeu a pena. Conhecemos pessoalmente o Tony e a sua simpática esposa, e ganhámos dois amigos para a vida.

Um comentário final só para dizer que se outras virtudes não tivesse, a vinda do Borié à sua terra natal, fez com que ele voltasse a escrever para nós.
Caro Tony, não percas o balanço, porque me disseste que tens em caixa outra aventura para narrar.

Foi um enorme prazer estar contigo. Espero ver-te em breve.
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16039: Atlanticando-me (Tony Borié) (13): O que não te mata, faz-te andar como um coxo

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Guiné 63/74 - P16428: Convívios (766): Os "tugas" de Bafatá... Agosto de 2016, restaurante "Ponto de Encontro", do casal Célia e João Dinis a quem prestamos uma emocionada homenagem (Patrício Ribeiro, Impar Lda)




Guiné-Bissau > Bafatá > Agosto de 2016 > Restaurante "Ponte de Encontro" > João e Célia Dinis, os donos anfitriões, e os tugas mais antigos




Guiné-Bissau > Bafatá > Agosto de 2016 > Restaurante "Ponte de Encontro" > Foto nº 2 > Da direita para a esquerda, Célia, Dinis, Sebastião, Nuno, Aprilio e Patrício...  


Fotos (e legenda): © Patrício Ribeiro  (2016) Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. Mensagem do nosso grã-tabanqueiro Patrício Ribeiro [, da empresa Impar Lda]

[Foto à direita: Patrício Ribeiro, de 68 anos de idade, português de Águeda, vivido, crescido, educado e casado em Angola, Nova Lisboa / Huambo, antigo fuzileiro naval, que retornou ao "Puto" depois da descolonização, fixando-se entretanto na Guiné-Bissau, há 3 décadas, país onde fundou a empresa Impar Lda, líder na área das energias alternativas; é um daqueles portugueses da diáspora que nos enchem de orgulho e nos ajudam a reconciliarmo-nos com nós mesmos e afugentar o mau agoiro dos velhos do Restelo, dos descrentes, dos pessimistas; é de há muito tratado carinhosamemte como o ´pai dos tugas´, pelo apoio que dá aos mais jovens que chegam à Guiné-Bissau, em visita ou em missões de cooperação]


Data: 28 de agosto de 2016 às 22:55
Assunto: Os "tugas" de Bafatá


Homenagem:

Junto fotos do nosso almoço de jhm domingo de Agosto, com o petisco que nos brindou a Célia [Dinis].

Este grupo é frequente (, quase todos os dias),  no Restaurante Ponto de Encontro,  de Bafatá.

Somos tugas que por lá trabalhamos há muitos anos e,  como habitualmente, o nosso convívio é no Ponto de Encontro.

Quase todos os dias telefonamos de Pirada, Buruntuma ou Canquelifa.

Depois do nosso almoço, "lata de atum com pão"...
- Ó Célia, hoje à noite há sopa?

Ela lá responde que alguma coisa se há-de arranjar...

Assim sendo, aqui vai uma homenagem a este casal que,  de dificuldade em dificuldade, adoram a sua cidade de Bafatá. Fazem todos os sacrifícios para poderem ajudar os tugas que por lá trabalham, ou que apenas estejam de passagem...

Fotos : 1. João e Célia Dinis; 2. Célia, Dinis, Sebastião, Nuno, Aprilio e Patrício.

Patricio Ribeiro
IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau , Guiné Bissau
Tel, 00245 966623168 / 955290250
www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com

PS - Neste almoço, não estiveram presentes os tugas que trabalham nas ONG, porque já estavam de férias em Portugal

2. Comentário do nosso editor LG:

Patrício(s):

Ficamos sem palavras... A milhares de quilómetros de Portugal, essa é seguramente uma "casa portuguesa"... E de repente salta-nos à mente a letra e a música da Amália, tão "maltratadas" antes do 25 de abril... No fundo, podia parecer que esse famoso fado, da Amália, era o elogio, miserabilista,  da pobreza honrada associada ideologicamente ao Estado Novo...

Camarada e amigo Patrício Ribeiro, diz ao nosso camarada João Dinis e à sua companheira Célia que eles já ganharam o direito de figurar, a partir de hoje, e com todo o mérito, no quadro de honra da Tabanca Grande, passando a ser os grã-tabanqueiros nºs 724 e 725. Diz-lhes que é a nossa singela homenagem, a do blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné, não só ao seu portuguesismo como também  à sua grande capacidade de  trilhar as duras picadas da vida, e de sobreviver as todas as minas e armadilhas. O seu exemplo comove-nos e honra-nos... Um abraço fraterno para todos os  demais "tugas" de Bafatá. Um xicoração para ti,  que és o "pai dos tugas" da Guiné-Bissau....LG
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[Imagem à esquerda: cartaz de propaganda do Estado Novo, Cortesia de Susana Simões]


Uma casa portuguesa

Música: V. M. Sequeira; Artur Fonseca

Letra: Reinaldo Ferreira [Barcelona, 1922- Lourenço Marques, 1959]



Numa casa portuguesa fica bem
Pão e vinho sobre a mesa,
E, se à porta humildemente bate alguém,
Senta-se à mesa co'a gente.
Fica bem esta franqueza, fica bem,
Que o povo nunca desmente,
A alegria da pobreza
Está nesta grande riqueza
De dar, e ficar contente.

Refrão:

Quatro paredes caiadas,
Um cheirinho à alecrim,
Um cacho de uvas doiradas,
Duas rosas num jardim,
Um são josé de azulejo
Mais o sol da primavera,
Uma promessa de beijos
Dois braços à minha espera...
É uma casa portuguesa, com certeza!
É, com certeza, uma casa portuguesa!


No conforto pobrezinho do meu lar,
Há fartura de carinho
E a cortina da janela é o luar
Mais o sol que bate nela...
Basta pouco, poucochinho p'ra alegrar
Uma existência singela...
É só amor, pão e vinho
E um caldo verde, verdinho
A fumegar na tigela


Refrão:

domingo, 6 de dezembro de 2015

Guiné 63/74 - P15451: Libertando-me (Tony Borié) (46): O Bairro de Ironbound, Newark, N.J. - USA

Quadragésimo sexto episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66, enviado ao nosso blogue em mensagem do dia 18 de Novembro de 2015.




“We Speak English”

Cada País tem o seu idioma oficial, todavia em alguns, praticam-se diversos, mas, por vezes, pelo menos por aqui, tirando a normal conversação entre pessoas que se querem compreender, pelo menos nós emigrantes, ao ouvir esta frase, vinda da boca de algumas personagens em certas ocasiões, mostra um pouco de, “arrogância”, “xenofobismo”, “querer ser mais”, “mostrar que a pessoa com quem se fala, não tem suficiente educação escolar”, ou única e simplesmente, “querer mostrar-se”.

Nas novas gerações, em qualquer País, é normal falar inglês e, claro, sem o perceberem, estão a esquecer o idioma da sua Pátria, todavia, não é o caso dos emigrantes que viveram ou ainda vivem no Bairro do Ironbound, na histórica cidade de Newark, do lado de lá do rio Hudson, no estado de Nova Jersey.

Muito antiga, fundada no ano de 1666, a cidade de Newark é a cidade com mais habitantes no estado de Nova Jersey e, dada a sua localização, é uma das principais cidades da região metropolitana de Nova Iorque, além de centro comercial, industrial e financeiro, que é a Baía do Rio Passaic que abriga um dos maiores portos de mar, inaugurado no ano de 1831, onde chegava o carvão das minas do estado de Pensylvania para sustentar as unidades fabris da região. Também aqui está localizado o segundo principal aeroporto que é o conhecido mundialmente, o Aeroporto Internacional de Newark, que movimenta quase 30 milhões de passageiros anualmente.

Mas hoje companheiros, não estamos aqui para falar das potencialidades da cidade, mas sim de nós, portugueses, emigrantes do século passado, onde quase todas as conversações entre nós era, trabalho, trabalho e quase só trabalho, onde a palavra “yes”, (sim), ou “overtime”, que neste caso, quer dizer mais ou menos “horas extrordinárias”, era sempre uma das primeiras que se aprendia.

Portanto, cá vai.

Existe por aqui o tal bairro operário chamado Ironbound, mais conhecido pelo bairro português, no qual existe grande concentração de portugueses, onde a principal rua é a Ferry Street, cujo segundo nome é “Portugal Avenue”, ou seja Avenida de Portugal.


À medida que os emigrantes Portugueses foram chegando à cidade, atraídos pela concentração de indústria que existia na altura, principalmente no tal bairro do Ironbound, que quer dizer mais ou menos “rodeado de ferro”, com intensa actividade comercial e industrial, cercado de linhas férreas, era um lugar muito atractivo, para quem tinha desejos de trabalhar, onde estes homens e mulheres, de descendência portuguesa, com a sua força física e dedicação, por vezes destruindo a sua própria saúde, compensavam a falta de educação escolar.

As raízes portuguesas na área são profundas, com os primeiros emigrantes, talvez chegados na década de 1910, mas o grande afluxo de portugueses veio na década de sessenta e setenta do século passado, porque hoje, a emigração de Portugal é praticamente inexistente, mas o idioma português mantém-se estável e, se voltássemos àquelas décadas do século passado, podíamos ver e ouvir, em qualquer rua do bairro do Ironbound, este cenário:
“...a Gracinda, casada com o Manuel Murtosa, que é encarregado de uma “gang” de construção de valas para esgoto, homem robusto e respeitado, até tem “pic-up” da companhia, onde todos os dias, por volta das quatro ou cinco horas da manhã, pois o trabalho é longe, lá para os lados de Riverville, transporta os outros cinco companheiros do seu grupo. Hoje é domingo, eles, os homens, estão para a “Ferry Street”, foram ouvir o relato e beber uns copos, ela, a Gracinda, neste momento de domingo à tarde, está sentada nas escadas de entrada do edifício onde residem, num compartimento de cave, que repartem com a Ermelinda e o João de Verdemilho, anda sempre vestida de preto, gosta desta cor, às vezes, quando vai à missa, até põe qualquer coisa de outra cor, especialmente uma blusa branca, que uma vizinha lhe trouxe da “fábrica da costura”, onde trabalha, está sol, começou por pentear-se, desfez, tornando a fazer as tranças, deu-lhe duas voltas, fazendo um “carrapito”, os dedos das suas mãos, já estão um pouco tortos, é dos calos, tem que falar com a Nazaré, que trabalha na “fábrica das peles”, para lhe trazer umas luvas, pois ela, trabalha na “fábrica dos colchões”, ganha mais que as outras, compete com os homens, trabalha à peça, monta o esqueleto dos colchões, encaixa as molas, “tudo a pulso”, ali, em frente ao “boss”, que é o seu chefe, mas é “cheap”, pois não lhe dá, lá muito “overtime”.
Ali sentada, entretem-se a falar com a Ermelinda, está um pouco enjoada, pois comeu uns chocolates que a Alzira lhe trouxe, aquela das “ilhas”, que trabalha na “fábrica dos chocolates”, parece que lhe “caíram” mal, vai remendando umas meias do seu Manuel, até nem precisava, pois tem mais três pares, que lhe trouxe a Manuela, aquela rapariga alta, que tem cara de homem, pois dizem que corta o bigode, que trabalha na “fábrica das meias”, mas está a guardá-las para levar para Portugal, quando lá for, por altura das vindimas, pois a sua casa, que ela diz a todos que é uma pequena “mansão”, lá em Portugal, precisa de ser aberta e arejada e, talvez necessite de pintura, pois à beira do mar, o vento e a chuva, às vezes traz sal”.

E continuando, diz: Porra, Caral.., que já me espetei na agulha, Santíssima Nossa Senhora de Fátima me perdoe que hoje é “Sunday”, (Domingo), e estou a dizer asneiras, já me esquecia, lembra-me por favor, o meu Manuel tem que chamar o Eurico, aquele da Agência, que fala muito bem inglês, para ir com ele terça-feira ao aeroporto, para “grab” (agarrar) o José Maricas, que foi a Portugal, creio que lhe morreu um irmão, pois ele não sabe o caminho e, já agora, tu sabes se a Filomena, aquela solteirona, que anda “in love” (apaixonada) com aquele “bonitinho”, que anda a estudar, que trabalha em “part-time” (meio tempo) na farmácia, ainda trabalha na fábrica da “meat” (carne), em Jersey City, queria ver se ela ”bring” (trazer) umas chouriças italianas, o meu Manuel “like” (gosta muito) fod.-.., caral.. que já me espetei outra vez, olha, precisamos de uma panela maior para cozinhar as batatas, couves e a carne de porco salgada, tu sabes, caldo e conduto ao mesmo tempo, para todos nós, vamos falar com a Isaura, aquela que trabalha na “fábrica das cafeteiras”, para ver se nos arranja uma, das grandes, o meu Manuel já tem quase cinquenta garrafões vazios, daquele vinho da Califórnia “Paisano”, que parece português, para “send” (mandar) para Portugal, quando houver lugar no Contendor da agência do Eurico, que sai do porto de Newark, pelo menos quatro vezes ao ano, tu sabes que o Orlando da mercearia, na Ferry Street, já não põe as coisas em “vegas” (cartuchos) de papel, que eram tão jeitosas, eu até andava a guardá-las para levar para Portugal, agora usa “vegas” de plástico, aquela merda rompe-se toda.

Voltando aos dias de hoje, esta linguagem era corrente e comum, as ditas “asneiras” eram normais, o bairro do Ironbound é um bairro onde o idioma inglês é pouco ouvido, sendo superado pelo idioma português, com palavras em inglês pelo meio, ou mesmo espanhol, tornando-se num bairro famoso, chegando a ser considerado uma das maiores concentrações de portugueses, fora de Portugal, aqui existia tudo o necessário para se poder viver, falava-se, e ainda se fala em alguns lugares, português com sotaque do Minho ao Algarve, com algumas palavras de inglês pelo meio, nos restaurantes, bares, casas de mercearia, alfaiatarias, sapatarias, peixarias, galinheiros, padarias, lojas de fruta, farmácias, lojas de ferramentas, consultórios de doutores, dentistas ou advogados, hospital local e agências de viajem. Construiu-se uma igreja, ao domingo havia e continua a haver, missa em português, oficinas mecânicas e venda de carros e, muito mais, em algumas ruas, em alguns estabelecimentos, onde só viviam portugueses havia letreiros, dizendo: “WE SPEACK ENGLISH”.

Pois às vezes, também por lá passava uma pessoa de origem americana.

Tony Borie, Dezembro de 2015.
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15422: Libertando-me (Tony Borié) (45): Antes éramos cowboys

sábado, 10 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15231: Blogpoesia (420): Farol das Rosas (J. L. Mendes Gomes)


O poeta J. L. Mendes Gomes, ex-alf mil, CCAÇ 728,
Cachil, Catió e Bissau, 1964/66; autor de Baladas de
Berlim
 [Lisboa, Chiado Editora, 2013, 229 pp.]
Farol das rosas…

por J. L. Mendes Gomes

No ponto alto e extremo da terra,
Coberta de verde da erva,
Escarpada a pique,
Levantaram um farol,
Formoso e altivo,
Voltado para o mar.

Foi uma festa
Quando começou a rodar.
As gentes em volta vieram em cortejo,
Com flores à cabeça,
Açafates de vime.
Estralejaram foguetes.
A banda de música,
Houve um repasto,
Petiscos e vinho.

As moças dançaram travessas,
Com saias rodadas,
E mostraram as pernas.
Até o prior,
De rosto risonho e festivo,
Batina comprida,
Dançou uma volta,
Como se fosse um rapaz.

Só arredaram o pé,
Na madrugada da noite,
Quando os feixes de luz
Inundavam o mar,
Como se houvesse luar…

Farol das Rosas
Assim se chamou. (*)



Ouvindo Paco de Lúcia

Berlim, 23 de setembro de 2015, 7h30m

Joaquim Luís Mendes Gomes


(*) Segundo a intuição do editor, o poeta, a caminho de Berlim,  ter-se-á inspirado no Far des Roses (em catalão), o farol das Rosas, na Catalunha, Girona, Costa Brava, Punta de la Batería ou Punta Blancals, construído  em 1864. Desde  que chegou a Berlim, o poeta nunca mais deu notícias. Interpretamos este silêncio como sendo o de uma sabática poética criativa. Para ele vai um alfabravo fraterno.  Sei que ele, lá longe na terra dos teutões,  morre de saudades desta sua querida Pátria que é santa Mátria e e caloorosa Frátria, mas também, algumas vezes, e para alhuns dos melhores dos seus filhos, é Puta e  Madrasta. (LG)

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Nota do editor:

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14231: Recortes de imprensa (72): Portugual e Espanha: parecenças e diferenças... Esterótipos: (i) "Portugueses, pocos, pero locos"; (ii) "De Espanha nem bom vento nem bom casamento...

1. Quem somos nós, portugueses ?

A pergunta é difícil de responder, porque não somos decididamente o somatório dos 10 milhões que aqui vivem, neste retângulo de 89 mil km quadrados, incluindo os arquipélagos da Madeira e dos Açores, mais o ex-faroleiro das Berlengas...  E mais os cinco (?) milhões de "portugas" que vivem, na diáspora lusitana, em cerca de 200 países diferentes...

É mais simples começar pelos "estereótipos" que os outros têm de nós... Neste caso, os que nos estão mais próximos, geográfica, genética, cultural e historicamente falando: os "nuestros hermanos!", os únicos vizinhos terrestres que, de resto,  temos, do lado poente e setentrional da Europa...

Veja-se (e já agora comente-se) este artigo, publicado há menos de seis meses, no jornal diário espanhol, de Mdrid, o ABC...  (LG)

PS - Acabei por não ir, ontem,  à última das "7 conversas sobre a humanidade", organizadas pela Fundação EDP na véspera do encerramento da vídeo-exposição "7 mil milhões de outros", porque à última da hora houve troca de "artistas"... A conversa era sobre os "portugueses"... (*)




ABC > Sociedad > Diferencias entre portugueses y españoles
Belén Rodrigo, corresponsal en Lisboa.
Día 14/09/2014 - 23.38h (**)


Somos parecidos pero no iguales. Compartimos un territorio pero cada uno tiene sus propias costumbres. De forma divertida y entretenida se pueden contar, a rasgos generales, lo que más nos diferencia

Hermanos, primos, amigos, vecinos, compañeros, socios, cómplices o aliados. Son muchas las formas de relacionar a españoles y portugueses, dos pueblos ibéricos que comparten un territorio y muchos años de historia. Evidentemente hay similitudes entre ambos, por tratarse de dos países fronterizos dentro de Europa, pero a veces se comete el error de pensar que somos en todo iguales o muy parecidos, porque tenemos nuestras diferencias.

Existe siempre el riesgo de generalizar demasiado y no se debe olvidar que no hay ni dos españoles ni dos portugueses iguales, por lo que no se puede hacer de una generalidad una regla. Y al hablar de estos temas nos basamos también en nuestras propias vivencias y experiencias por lo que cada uno puede tener una visión distinta. Además de ser diferentes, unos y otros nos enfrentamos a mitos y estereotipos que se han ido creando a nuestro alrededor. Y no siempre es fácil acabar con esas ideas que pueden perjudicar nuestras relaciones.

Empezando por la forma de ser de cada uno, se tiende a definir al español como una persona alegre y al portugués como una persona triste. Pero ni todo es fiesta en España ni todo es fado en Portugal. Sin embargo, sí que hay rasgos muy diferentes al definirnos.

Los españoles somos más extrovertidos, charlatanes, gritones, expresivos, informales y besucones. Expresamos más abiertamente nuestros sentimientos. Los portugueses por su parte, son más reservados, hablan mucho menos y más bajito, muy educados y formales. En esto de las formalidades nos ganan, sigue siendo el país de doctores e ingenieros, donde el título tiene mucha importancia, demasiada. Los españoles prefieren el tuteo y hasta nos ofendemos si nos tratan de usted.

En Portugal ir de chatos no está muy generalizado. 

En los horarios tampoco nos ponemos de acuerdo, y no sólo porque en Portugal sea una hora menos. A las 12 del mediodía en España se toma un pinchito de tortilla con una caña o una tostada con tomate y aceite, por poner un ejemplo. A esa hora en Portugal ya se empiezan a poner los manteles para comer aunque los restaurantes se llenan alrededor de las 13 horas. Comer a las tres de la tarde y cenar a las diez de la noche es algo muy habitual en las familias españolas pero no en las portuguesas donde ya son horarios muy tardíos.

Y en España, quien puede, después del trabajo se toma una cañita con los compañeros u amigos antes de ir a cenar. En el país vecino eso de ir de chatos no está muy generalizado aunque cada vez hay más lugares para ir de tapas y cañas. Y ya que hablamos de comida aunque ambos compartimos la dieta mediterránea existen algunos matices, sobre todo en la forma de elaborar y de presentar los alimentos.

Y hay que acabar con mitos. Los portugueses son los reyes del bacalao pero no consumen únicamente este pescado. Y los españoles no comemos solo fritos ni estamos todo el día con pinchos y raciones, como a veces se piensan nuestros vecinos. Si nosotros no perdonamos el primer, segundo plato y postre, en Portugal no pierden la costumbre de mezclar todo en un mismo plato en el que normalmente no falta el arroz.

Donde los portugueses nos sacan una gran ventaja es en el café. Nosotros utilizamos mezcla de café natural y torrefacto y se nota mucho en el sabor y en la intensidad. El café solo y expreso forma parte de la cultura lusa, toman dos, tres y hasta cuatro por día. Después de comer en casa, en vez de estar de sobremesa, la familia entera se marcha a tomar café al local de costumbre. Ayuda el precio, una media de 0,60 euros por café.

Idiomas

Y por seguir hablando de ventajas portuguesas, capítulo aparte es el de los idiomas. La fonética lusa es mucho más rica que la española lo cual les facilita mucho las cosas a la hora de aprender idiomas. A eso hay que sumarle el hecho de que a excepción de los dibujos animados, todas las series y películas se emiten en versión original, tanto en el cine como en la televisión.

Es cierto que los españoles tenemos un oído mucho más cerrado pero tampoco se pueden hacer milagros cuando de pequeños nos dan clase de inglés profesores españoles y en general es el único idioma que escuchamos en nuestro día a día. El oído está poco o nada habituado a escuchar los otros idiomas.

Pero este problema español se exagera bastante en Portugal donde nos critican además por traducir todo a la española. Entre los mitos de los que hablaba, muchos portugueses siguen afirmando que decimos “Piedras Rodadas” en lugar de “The Rolling Stones” y “Juanito caminante” en vez de “Johnnie Walker”.

Como ocurre con muchos idiomas, entre el español y el portugués existen los llamados falsos amigos. Si un portugués le dice a una chica que está espantosa significa que está espectacular, apabullante. Y cuando los españoles decimos que la comida está exquisita para un portugués no significa que está deliciosa sino que es rara o extraña.


Los niños

Diferentes somos también a la hora de cuidar a los más pequeños. En Portugal siguen a pie de la letra la recomendación médica de no sacar a los bebés las primeras semanas de vida, a excepción de lo necesario, como son las revisiones médicas. El médico español, por el contrario, te recomienda paseo diario con el bebé, haga frío o calor, le tiene que dar el aire. Apenas se ven capazos por las calles de Portugal, sino las maxicosi o “huevos”, pero los tapan con una mantita o una gasa de tal forma que difícilmente al niño le llega un poquito de aire.

A las mamás españolas les encanta presumir de carritos y de bebés, con vestimenta mucho más emperifollada, sobre todo si son niñas. Los pendientes y los lazos están presentes prácticamente desde el primer día. Y como somos muy de estar en la calle, pues los niños igual. Los portugueses son mucho más estrictos con los horarios de los peques y no pierden detalle con el cuidado. Es casi imposible ver a un peque sin su gorrito si da un poquito el sol y llegan a la playa a las 9 y se van a las 12, si van con bebés. Los españoles sabemos que es lo más adecuado para nuestros niños pero nos relajamos bastante más, son más todoterrenos y no les protegemos en exceso.

La puntualidad no es un punto fuerte ni para unos ni para otros pero en Portugal hay un rasgo muy peculiar a la hora de convocar un evento. En las invitaciones aparece “pelas 12 horas”, por ejemplo. Es decir, sobre las 12. Con esta costumbre tan generalizada nadie sabe muy bien a qué hora empieza un acto y esto ocurre hasta en las invitaciones de boda.

Juntos somos una mezcla interesante, logramos un buen equilibrio

Como forma de resumen, se puede decir que los españoles confiamos mucho en nosotros mismos, nos consideramos en muchas cosas los mejores. Somos, en pocas palabras, muy echados para adelante. El portugués suele ver la botella medio vacía, se lamenta de sus problemas, es bastante envidioso y se fija demasiado en lo que hacen los otros sin darse cuenta de las muchas virtudes que tiene. Y juntos podemos vernos como una mezcla interesante porque lo que en uno exagera el otro se queda corto. Logramos un buen equilibrio aunque normalmente no nos damos cuenta. Tenemos mucho que dar y recibir y sobre todo que aprender de los que están tan cerca de nosotros.

[Reproduzido com a devida vénia. Fixação de texto: LG] (***)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de  31 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14207: Agenda cultural (377): Nós, os portugueses, e os 7 mil milhões de outros: Fundação EDP, Museu da Eletricidade, Lisboa, 7 de fevereiro, 16h00... A não perder!

(**) Último poste da série > 7 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14227: Recortes de imprensa (71):Hepatite C: ex-combatentes são um grupo de risco: antes de embarcarem para África levavam, em grupo, uma vacina, que era administrada sem os cuidados necessários (SOS hepatites Portugal, fundada em 2005)

(***) Vd. também  poste de 26 de setembro de  2014 > Guiné 63774 - P13654: Manuscritos(s) (Luís Graça) (39):Portugueses pocos, pero locos... Ou como vemos (e somos vistos por) os outros...O que fazer com tantos clichés, estereótipos e preconceitos idiotas ? E não se pode exterminá-los ?

(...) Nisto de comparações internacionais, todos perdemos, ao fim e ao cabo... Porque acabamos por reforçar a filosofia de senso comum, as ideias feitas, os estereótipos que temos uns sobre os outros... A sua origem, às vezes, ou quase sempre, perde-se nos tempos, isto é, na história,..

Por exemplo: o mais internacionalista dos povos, pretendem os valorosos tugas descendentes do Viriato (mas também de judeus, bérberes, africanos negros subsarianos...) seria, sem dúvida, o português. Poderíamos apresentar dezenas de argumentos a favor desta tese. Fiquemo-nos por umas 3 dezenas de proposições a favor da tese do "internacionalismo português"..

O mais internacionalista, universal, ecuménico, global, aberto, flexível e... desenrascado dos povos à face da terra, seria o português (também conhecido por portuga, tuga, Zé, Zé Povinho...)... É a tese da idiossincrasia portuguesa que teria ajudado "a dar novos mundos ao mundo" (...)

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13602: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (88): Notícias dos nossos camaradas João Crisóstomo (Nova Iorque) e Horácio Fernandes (Porto)... Anúncio do próximo convívio das famílias Crispim e Crisóstomo, em 30/8/2015, em Paradas, A-dos-Cunhados, Torres Vedras







Anúncio publicado (ou a publicar) no jornal "Badaladas". de Torres V edras



Vilma e João Crisóstomo [ex-alf mil, CCAÇ 1439,
Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/66]
1. Mensagem do nosso querido e ilustre amigo e camarada João Crisóstomo (que me telefonou de Nova Iorque mas não me apanhou em casa)


Data: 10 de Setembro de 2014 às 12:07
Assunto: Horácio Fernandes


Caro Luis Graçaa,

Tentei o teu telefone, mas tenho de recorrer-me do e-mail...

Decidi ficar hoje em casa (, são agora 6.00 AM, )  para poder tratar de coisas em atraso.  Como  é o  caso do Horácio com quem acabo de falar ao telefone.

Ele vai responder e explicar o porquê da confusão: pelo que compreendi,  ele não fazia parte dos quadros  do Batalhão de Caçadores 2852 [Bambadinca, 1968/70] ele esteve em Bambadinca  como "agregado" pois o batalhão dele [, o BART 1913, Catió, 1967{69] já tinha regressado à metrópole e ele teve de ficar mais seis meses  para cumprir  o tempo dele.  Coisa bem normal como te deves lembrar , muito  frequente   nos tempos  de guerra na Guiné...

Espera  um e-mail dele.

Fiquei com inveja (e saudades) ... Valmitão, Ribamar... e amigos com quem   estiveste lá.  Haja saúde para podermos repetir todos juntos  na próxima vez...

Abraço grande
João e Vilma


2. Em 29 de agosto últimom, tinha mandado a seguinte mensagem ao João Crisóstomo, que é amigo de longa data do Horácio Fernandes [ex-alf mil, capelão, BART 1913, Catió, 1967/69, e BCAÇ 2852, Bambadinca, 1969; foto atual à direita]

João:

Como vais ? Tudo bem ? E a tua Vilma ?... Falei há dias de ti, ou melhor falámos, em Valmitão, Ribamar, eu, o Álvaro Fernandes e a Filomena, um casal de Ribamar que vive em Nova Iorque, em Yonkers. A Filomena é afillhada da tua mana, se bem percebi, e fez campanha contigo pela causa da independência de Timor Leste. É minha prima, do clã Maçarico. Descobri-a, por acaso, a ela e ao  marido [, professor primário, amigo do Manuel Filipe], bem como aos pais e ao mano Paulo, que também vive na EUA,,, Estavam de de férias em Valmitão... Como vês, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!

Quanto ao Horácio, preciso que me deslindes esta história... Eu não tenho o contacto dele (telemóvel e email): a questão é de confirmar em que altura exata (e por quanto tempo) esteve ele em Bambadinca: maio a dezembro de de 1969 ? O seu nome não conta da história do BCAÇ 2852, o batalhão que estava nessa altura em Bambadinca...

Um abraço. Bj para a Vilna. Luis

3.  Mail anterior do João Crisóstomo,  com data de 10 do corrente,  com conhecimento ao Horácio Fernandes:


 Caro Luis Graça, desculpa não ter respondido ainda. É que ainda não tive ocasião de falar com o Horácio. Sucede que tenho muita correspondência dele e quero ver se por acaso tenho alguma carta ( (aerogramas, lembras-te ?) escrita por ele que pudesse lançar luz sobre isso. 

Mas ainda não tive tempo. Estou (,ando sempre...) abarrotando de trabalho...mas agora reparo que dizes não tens os contactos dele. Aqui estão:vai i endereço de email, o telefone fixo, o telemóvel dele e o da Milita [...] 

Coloquei há duas semanas um anuncio no jornal Badaladas, de Torres Verdas, anunciando o nosso convívio para 30 de Agosto de 2015 [, Imagem inserida ao alto].   Destina-se primeiramente aos meus familiares espalhados pelo mundo para que, se for possivel, façam as ferias nessa altura... mas evidentemente que quero incluir os meus amigos, como fizemos no ano passado e quando estivermos mais perto farei outro anuncio com tudo bem clarinho...

Um abraço grande (e com muitas saudades ) para todos vocês.... tu e tua esposa Alice, para o Horácio e a Milita...

João e Vilma

4. Fotos das nossas praias do oeste estremenho ("costa de prata", "silver coast"...), para a Vilma e João Crisóstomo, mas também para a Filomena e o Álvaro  Fernandes, nova-iorquinos,  "matarem saudades"... Sem esquecer a Milita (que é de Fafe) e o Horácio Fernandes (que é de Ribamar, Loruinhã), e que vivem no Porto há 4 dácadas... Com, um xicoração muito especial do Luís Graça e da Alice.

PS1 - Espero poder abraçar o Horácio na festa de Ribamar, no próximo mês de outubro... Já sei que a Miloita não pode vir... Há uma caldeirada à nosssa espera, no dia 13!...A organização é do nosso incansavel e insuperaável Eduardo Jorge Ferreira, ex-PA [, Bissalanca, BA 12, 1973/74], também membro da nossa Tabanca Grande [, foto atual à esquerda].

PS2 - A Flomena, de seu nome completo Maria Filomena Fernandes Eugénio, casada com Álvaro Filipe Fernandes (que era professor primário e fez o serviço militar em Angola, tendo regressado na véspera da independência...), a viver nos EUA desde 1977, é prima direita do Horácio Fernandes (as mães são irmãs,  Elvra Neto, a mãe do Horácio, e a Maria da Conceição Fernandes, mãe da Filomena,)...

A bisavó (do lado Maçarico) de ambos era a Maria da Anunciação, casada com Manuel Fernandes. A Maria da  Anunciação era irmã da minha bisavó paterna, Maria Augusta (Ribamar, 28/10/1860- Lourinhã, 26/7/1920). O avô do Horácio, António Fernandes (Maçarico) foi o último construtor naval de Ribamar, emigrou para os Estados Unidos e lá morreu, deixando cá a esposa e três filhos que nunca mais tiveram notícias dele.. Deve ter nascido por volta de 1890. e emigrado nos anos 20.

Em suma, através do blogue descobri mais dois primos, o Horácio e a Filomena, e ambos amigos do João Crisóstomo. Quando era miúdo o João era visita da casa dos pais do Horácio... Ainda fala com muita saudade do Ti Zé Fernandes Nazarté... Embora petencendo a concelhos diferentes, mas vizinhos (Lourinhã e Torres Vedras), Ribamar e Paradas ficam perto uma da outra...

É caso para dizer que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande!.


Portugal > Lourinhã > Agosto de 2014 > Praia do Caniçal... A seguir, para sul,  é a Praia de Vale de Frades, Praia da Areia Branca, Praia do Areal Sul, Paraioa da Peralta...Para norte, é o Paimogo...



Portugal > Lourinhã > Setembro  de 2014 > Praia do Areal Sul, entre a Praia da Areia Branca e a Praia da Peralta... Ao fundo, o forte de Paimogo...


Portugal > Lourinhã > Setembro  de 2014 > Praia da Peralta... A seguir é o Porto das Barcas, Porto Dinheiro, Valmitão, Porto Novo (esta paria já na na freguesia de A-dos-.Cunhados, Torres Vedras)... Todas estas falésias são da época do Jurássico (200/150 milhões de anos) e
são verdadeiros "cemitérios" de dinossauros...

Fotos: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13412: Blogoterapia (255): Em homenagem a dois transmontanos, bravos soldados, o José Tomás Costa (CCAÇ 2533, Canjambari e Farim, 1969/71), e o Tomás Baptista, meu irmão (Moçambique, 1966/68) [Francisco Baptista, ex-alf mil inf, CCAÇ 2616 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72)]

Francisco Baptista
1. A propósito da figura do José Tomás Costa (*), de quem publicámos dois pequenos textos, e que foi sold at inf da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71), transmontano, que não sabia ler nem, escrever quando foi para a tropa, outro transmontano, o nosso grã-tabanaqueiro Francisco Baptista [, ex-alf mil inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72)] , escrebeu o seguinte:

O José Câmara por algumas intervenções que já li no blogue reconheço que é dos maiores humanistas da
Tabanca Grande.

O Carvalho de Mampatá, fez um comentário tão perfeito que a mim tirou-me as palavras, se eu as conseguisse encontrar. Porém o Carvalho  tem um defeito que é exceder-se ao ouvir falar em Trás-os-Montes. Eu perdoo-te mas os outros camaradas não sei.

 O Luís Graça, já todos o sabemos,  é o santo ou feiticeiro que tem sempre a palavra certa para todas as ocasiões.

Ao Joaquim Luís Fernandes, camarada muito sensível, aplica-se bem o verso da Fado Tropical do Chico Buarque da Holanda: "Sabe no fundo eu  sou um sentimental".

Por mim digo que como transmontano, orgulhoso das minhas origens, por vezes um pouco só nesta Tabanca Grande, senti um grande orgulho ao ler as crónicas e as experiências do José Tomás da Costa.

Tomás, se me leres, quero dizer-te que tu apesar de aprenderes a ler e escrever tarde, aprendeste depressa a lição e sabes expressar-te como poucos. Falas com emoção, quando referes a tua família e com humanidade quando referes as gentes da Guiné. Tomás, gostei muito dos teus textos, tu com outras condições e motivações podias escrever um grande livro.

Conheci outro Tomás, em Brunhoso, na minha aldeia, era três anos mais velho do que eu. Foi um grande amigo, com quem passei bons e maus momentos. Juntos passámos muitos momentos de trabalho e outros de  borga. Ele, como mais velho, apesar das nossas quezílias frequentes, convidava-me sempre para todas as farras que organizava com amigos. Muitas vezes eram linguiças ou salpicões que roubávamos no fumeiro da nossa casa e iamos comer com três ou quatro amigos para uma casa desabitada que tinha sido duns avós. Fumeiro dessa qualidade é muito  difícil encontrar hoje. A minha mãe nunca se queixou da falta deles e lembro-me que uma vez roubamos-lhe o salpicão maior. Os transmontanos do nosso tempo sabem qual é. Eu não o digo porque tem um nome pouco simpático, apesar de normalmente ser também o mais saboroso. Em dias de festa da terra, a mesa em nossa casa estava sempre posta. O Tomás levava sempre, durante a tarde e a noite, muitos amigos das  terras próximas para comerem. Hábitos antigos de hospitalidade que a minha mãe encarava com simpatia e naturalidade 

Era temperamental e excessivo na amizade e na festa que ela podia proporcionar. Um pouco diferente dele e com alguns conflitos, de proximidade e  temperamentos, sei há muitos anos que foi um grande amigo que tive e  que perdi. Em 1966 foi como soldado para o norte de Moçambique, Mocimboa da Praia, na fronteira com a Tanzânia. Escreveu-me alguns aerogramas onde falava da vida difícil que tinha por lá. Falava também duma correspondente brasileira que penso que seria a única que tinha.

Quando regressou, após 28 meses. trouxe muito chá, trouxe um gravador de cassetes, novidade em nossa casa. Trouxe ainda fotos que me mostrou da correspondente do Brasil. Gostei da fotografia, achei que a moça era linda, feita de uma mistura de raças, india, africana e europeia. Leu-me cartas dela, havendo somente uma relação de amizade entre eles, era meiga e sedutora como se isso fizesse parte da sua natureza. Talvez nesse tempo se ele tivesse asas teria ido conhecê-la ao Brasil. As viagens intercontinentais eram caras e não havia dinheiro para  elas. 

Tantos conterrâneos nossos que imigraram para lá e nunca mais voltaram à terra. Nesses tempos de miséria as familias que emigravam para o Brasil despediam-se para sempre, até à eternidade. 

Este Tomás Baptista, como é fácil adivinhar, era meu irmão, o irmão masculino que pela idade tive mais próximo de mim. Tivemos os nossos choques e desentendimentos mas sempre houve uma grande amizade entre nós. Era um homem muito trabalhador, temperamental e folgazão. Porque não estudou, trabalhou muito como lavrador em benefício da comunidade familiar.
Infelizmente, morreu cedo, com 53 anos, há 16 anos, duma doença que o fez sofrer muito, durante meses. Paz à sua alma!

Este texto escrevo-o em homenagem a ele e ao camarada transmontano, José Tomás Costa

Para os camaradas da Tabanca que gostem de fado, descobri um da  Celeste Rodrigues que se chama "Praia de Outono" [,Música de Nóbrega e Sousa e poema de David Mourao Ferreira,] acho-o também  bastante adequado à nossa idade.

A todos um grande abraço,
Francisco Baptista (**)
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Notas do editor:

(*)~Vd. comentário do Francisco Baptista ao poste de 16 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13404: Histórias da CCAÇ 2533 (Canjambari e Farim, 1969/71) (Luís Nascimento / Joaquim Lessa): Parte XVI: A "sorte de um soldado", transmontano, que não sabia ler nem escrever quando foi incorporado (José Tomás Costa, sold at inf, 1º pelotão)