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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Guiné 63774 - P13654: Manuscritos(s) (Luís Graça) (39): Portugueses pocos, pero locos... Ou como vemos (e somos vistos por) os outros...O que fazer com tantos clichés, estereótipos e preconceitos idiotas ? E não se pode exterminá-los ?

A.  Portugueses pocos, pero locos... Ou como vemos (e somos vistos por) os outros


Nisto de comparações internacionais, todos perdemos, ao fim e ao cabo... Porque acabamos por reforçar a filosofia de senso comum,  as ideias feitas, os estereótipos que temos uns sobre os outros... A sua origem, às vezes, ou quase sempre, perde-se nos tempos, isto é, na história,..

Por exemplo: o mais internacionalista dos povos,  pretendem os valorosos tugas descendentes do Viriato (mas também de judeus, bérberes, africanos negros subsarianos...)  seria, sem dúvida, o português. Poderíamos apresentar dezenas de argumentos a favor desta tese. Fiquemo-nos por umas 3 dezenas de proposições a favor da tese do "internacionalismo português"..

O mais internacionalista, universal, ecuménico, global, aberto, flexível e... desenrascado  dos povos  à face da terra, seria o  português (também conhecido por portuga, tuga, Zé, Zé Povinho...)... É a  tese da idiossincrasia portuguesa que teria ajudado "a dar novos mundos ao mundo"…

B. De qualquer modo, sendo nós portugueses, correremos também o risco de sermos etnocêntrico, isto é, "caseiros", parciais, como certos árbitros do futebol... Dizem os antropólogos que não há povos que não sejam etnocêntricos...   E nós não escapamos à regra... Mesmo que haja alguns mais do que outros, com um ego muito comprido...

Mesmo assim, vamos tentar fazer aqui um exercício de distanciamento cultural e afetivo,  em relação a esse  povo, afinal tão mal conhecido e pior amado, sobretudo pelos seus próprios filhos e netos...

Em boa verdade, não sabemos por onde ele anda, desde que o mandaram emigrar, ir à vida (que a morte é certa): imaginem que é até na Lapónia há descendentes do Zé Povinho!... No inferno, seguramente que haverá alguns mais... Mas do inferno se diz que tem humor alemão, cozinha inglesa, garrafeira sueca, hotelaria espanhola, economia à grega, finanças à portuguesa, gestão à italiana...

Será verdade ? Ainda não cheguei lá, mas para lá caminho... Ou melhor: só conheço a filial do inferno na terra, ou algumas filiais... (*)

A imortal figura do Ze Povinho, em cerâmica,
criada pelo Rafael Bordalo Pinheiro,
no último quartel do séc. XIX.  Tal como o não menos
famoso boneco das Caldas, que tem muitos usos,
incluindo o da crítica social...
Fonte: Cortesia de Wikipedia
1. Quando um portuga apanha com um grande problema pela frente, ou com um bico de obra, ou tem uma tarefa muito difícil , diz logo que se vê grego para dar conta do recado. Ou então remete a solução para as calendas gregas. Infelizmente, o futuro tem prazos... e nenhum povo pode viver sem fuuro, senhiores reopresentantes da Nação... . Pelo que o futuiro só pode ser português, ou ser escrito, falado e contado também em, português, é o que diz o bom irã acocorado no alto do poilão sagrado da nossa Tabanca Grande!

2. Se a coisa é mesmo complicada de perceber, se ele não percebe patavina do que está a acontecer. ou do que está em jogo, ele desculpa-se logo, afirmando que isso, para ele, é chinês, ao ponto de ficar com os olhos em bico... Daí à depressão, à letargia, à inanição,, ao coma e á morte, pode ser um pulo de lobo...

3. Antigamente, os portugueses iam lá, ao Império do Meio,  fazer negócios da China. Hoje são eles (os chineses) que vem cá fazer negócios de Portugal… São bem vistos e têm vistos Gold…

4. Em Portugal quem trabalha no duro, de manhã à noite, é um mouro de trabalho, mas também já foi um galego ou até um ucraniano.

5. Pelo contrário, o portuga que não gosta de trabalhar e é racista, alega que trabalhar é bom para o preto. Já o carioca, o malandro do Rio de janeirro, diz que ”trabalho se fez para burro e português”…

6. Invenções, modernices, merdas que não interessam a ninguém como a ciência & a tecnologia,  a investigação & o desenvolvimento, são chamadas de … americanices.

7. Se um portuga é gabarolas, se gosta de armar ao pingarelho, ou fazer-se grande demais, é logo apelidado de amigo de espanholadas, ou de construir castelos em Espanha;  se estudou numa universidade estrangeira, é logo apelidado de estrangeirado.pelos indígenas...

8. Se ele faz um esforço de comunicação com os seus amigos e vizinhos espanhóis, riem-se do tipo por que não fala o espanhol de Cervantes mas sim um divertido portunhol (que é um novo dialeto ibérico). Uma coisa que ninguém lhe nega é o sentido e a capacidade de desenrascanço, vocábulo que até agora nbão eqyuivalência noutras línguas cultas...

9. Em matéria de amores, e apesar da vizinhança, o balanço poderia ser bem mais positivo: o Portuga diz que “de Espanha nem bom vento nem bom casamento”… Os espanholitos não entendem os seus vizinhos: “Portugueses, pocos pero locos”…

10. Em Portugal, que é uma terra de gente invejosa, uma pessoa também não pode viver com um mínimo de luxo, conforto e ostentação (Champagne, jaquinzinhos, Mercedes em 2ª mão, lagostins, barraca no Algarve com piscina desmontável, férias na neve em Sierra Nevada...), sem que os seus míseros vizinhos venham dizer que vive à grande… e à francesa.

11. Se o gajo tem um pé de meia, é poupado, tens uns dinheiritos numa conta na Suiça (, sim, porque a banca suiça democratizou-se, é inclusiva, vê bolsas mas não corações…) é por que é agarrado ao dinheiro, forreta, capitalista, corrupto, ganancioso, logo tem uma costela de… judeu. Por outro lado, fazer judiarias é, por exemplo, comer criancinhas ao pequeno almoço como se dizia, que comiam os bolcheviques da rússia soviética e, por extensão, todos os comunistas antes da queda do muro de Berlim. Agora há outros que não comem criancinhas, mas tiram o leite às criancinhas....

12. Pelo contrário, se ele, o portuga,  te faz uma sacanice ou te apunhala pelas costas, logo dirás que é umitaliano, mafioso. Ou no mínimo filho da mãe...ou da outra. Se se arma em esperto, essa esperteza pode ser saloia (do nome dado aos aos mouros de Lisboa, antes da conquista cristã em 1147: de çala ou salab, nome dado as orações que eles faziam)… Saloio, por extebnsão, é o habitante dos arredores de Lisboa, alguém que não é citadino, muito menos sofistiacad ou cosmopolita...

13. Se faz algo para causar boa impressão aos outros, ou manter as aparências,  manter a fachada, acusam-no de o fazer só para… inglês ver. Ou para “Bruxelas ver” [, a partir da entrada na (Des)União Europeia],

14. Quando Portugal entrou (desgraçadamente, para alguns), para a União Europeia, em 1986, fez tudo para se tornar o “bom aluno da Europa” (sic) eem vez de dar lições à Europa... Pel contrário, e até se deu ao luxo de dispensar, muito humildemente, um primeiro-ministro em exercício para ocupar, em Bruxelas, o cargo de Presidente da Comissão Europeia; uma das razões para essa requisição do Zé Durão é por que ele era reconhecidamente um poliglota (falava, além da língua materna, o inglês, o francês, o portunhol e… o cherne).

15. No Algarve, o comum dos portugas adora (ou adorava, nos anos sessenta e setenta) ir até à Quarteira engatar e comer  bifas (inglesas e outras nórdicas, com ou sem sardas). Este lado antropofágico  do portuga parece que lhe dá fama e pro

16. Entre tremoços, amendoins e bejecas, eles (os portugas, machos) adoram passar as férias a jogar… à sueca.

17. Elas, as portugas fêmeas, pelo contrário, preferem gastar o subsídio de férias (ou preferiam, no tempo em que ainda havia subsídio de férias…) no Corte Inglês ou noutros estabelecimentos da estranja como a galega Zara.

18. Em África, nos PALOP que já fizeram parte do seu grande império colonial, o português (m/f) ainda é tratado carinhosamente pelo seu diminuitivo, tuga (m/f).

19. Os da Madeira, vá-se lá saber porquê, chamam cubanos… aos do Continente, mas quem fuma(va) charuto cubano é(era) o Alberto João.

D. Quixote e Sancho Pança, ilustração de 
Gustave Doré. Imagem do domínio público.
Fonte: Wikipedia
20. Quinhentos anos depois de Álvares Cabral ter aportado ao Novo Mundo, os portugueses estavam a redescobrir o Brasil, a falar à moda de lá e a importar os seus indígenas (, os brazucas).

21. Católico de batismo, apostólico e romano, mas pouco cumpridor dos 10 mandamentos da lei de Deus, em matéria de fé o portuga tende a ser mais papista que o Papa.

22. Já quando os gajos (três gatos pingados, segundo dizem) chegaram ao País do Sol Nascente [, Japão], por volta de 1543, os japoneses chamaram-lhe… os bárbaros do sul, porque comiam com as mãos e exprimiam os seus sentimentos em público; em contrapartida, uma fila de turistas japoneses a entrar para uma casa de fados, no Bairro Alto, é uma fila de toyotas.

23. O pobre do lusitano, dizem,  tem um complexo de inferioridade desde a ocupação romana (séc. III a.C.)… Os governadores (romanos) da Lusitânia, muito séculos antes da Troika, queixavam-se a Roma de que os lusitanos não se governavam nem se deixavam governar… Na Lusitânia, ”governar” é “meter a mão ao bolso”… Para um puro alemão, como a sra. Ângela Merckel, este trocadilho é ininteligível…

24. Para os franceses, da geração de 1950/60, as mulheres portuguesas já nasciam com bigode, eram todas Marias, peludas e feias, trabalhavam como "femmes de ménage" (mulheres a dias) ou "concierges"(porteira)  e vestiam de preto… Por isso, o tuga, em França, gostava de depedir-se à francesa, isto é, sair sem se despedir…

25. Em contrapartida, "les portugais sont toujours gais", leia-se: pobretes mas alegretes... E às ostras, os parisienses chama(va)m "les portugaises", as portuguesas... Uma tribo "gourmet", hã, estes  parisienses!... Em contrapartida, os portuguesas, que gostam das portuguesas, detestam "ostras"...e só comem "bacalao" ("morue") com batatas... Seco e salgado! (***)

26. Já a cozinha espanhola resune-se, para os vizinhos portugueses, às tapas, aos bocadilhos, às paelhas e às tortilhas... E já não é nada mau!...

27. A sífilis foi durante séculos uma doença terrível que atormentou os nossos soldados, marinheiros,. exploradores, navegadores, bandeirantes, missionários, comerciantes de além-mar...É, um pandemia pós-feudal, resultante do florescimento das cidades, da economia mercantil, da mobilidade espacial e sobretudo dos Descobrimentos, da primeira "autoestrada" da globalização aberta pelos portugueses: a sífilis conhecdia enter os médicos da época como o morbo gálico (gaulês ou francês) era conhecido como o mal italiano em França, o mal espanhol no Novo Mundo, o mal português  na Índia... E hoje o  ébola ? Será que é apenas um problema da África  negra,  subsariana ? Tal como o HIV/SIDA que, nas décadas de 1980/90,  era visto como um problema de saúde... dos homossexuais e, depois,  dos toxicodependentes...

28. Na lista das “10 palavras estrangeiras mais fixes ["coolest"] que a língua inglesa devia ter”, vem em nº 1 o vocábulo português “desenrascanço”.  O sítio é norte-americano e o artigo (de 13 de abril de 2009) tem quase 3 milhões de visualizações (**)...

“Desenrascanço" (sem cedilha...) seria a arte de encontrar a solução para um problema no último minuto, sem planeamento e sem meios... explica o "site": o exemplo mais próximo seria a célebre personagem da série  televisiva MacGyver.

É um traço da "cultura" portuguesa e terá sido a chave para o segredp da sua sobrevivência ao longo de séculos... “Enquanto a maioria dos norte-americanos  terão crescido  sob o lema dos escuteiros,  'sempre prontos', os portugueses fazem exactamente o contrário... Como eles gostam de dizer, est
ão-se "cagando" para os entrretanos, gostam é dos finalmentes...Em suma, há sempre uma solução de última hora para resolver um problema... Para quê estar a perder tempo com planos que saem furados?

Moral da história: O futuro ? Logo se vê... Viva a arte lusitana do desenrascanço!... Andamos a desenrascarmo-nos há mil anos!

29. E provérbios populares portugueses sobre os negros ? Há três ou quatro de que gosto muito: "Ainda que negros, gente somos e alma temos"; "Branco vem de Adão; e negro, não ?"; "Negro furtou, é ladrão; branco roubou, é barão";  "Os negros pintam os seus demónios de branco"... Recorde-se o cognome de Teixeira Pinto, "capitão diabo"...

30. O que fazer com tantas clichés idiotas ? E não se pode exterminá-los ? ... 

Recordo-me dos meus soldados fulas me dizerem, no TO da Guiné, na CCAÇ 12, em pleno chão fula (Badora): "Furié, um balanta a menos  é um turra a menos"... Sabemos como é que acaba o tribalismo, o fundamentalismo, o racismo,  e muitos os outros ismos!...

_______________

Notas do editor

(*) Últino poste da série > 20 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13630: Manuscrito(s) (Luís Graça) (38): Viagem no vinte e oito da Carris

(**) Clicar em: http://www.cracked.com/article_17251_the-10-coolest-foreign-words-english-language-needs.html

(***) Veja-se esta delícia... no sítio Cityzeum, um idiota de um sítio de "aconselhamento turístico"... Não me peçam para traduzir, que perdia a piada toda!... O "top ten" dos preconceitos sobre os portugueses e as portuguesas...

(,,,) Top 10 des préjugés sur les portugais

En voyage, on rencontre une multitude de nationalités, et chacune porte son lot de clichés, parfois justifiés... mais pas toujours. Retour sur les préjugés envers les portugais.

(i) Les portugais sont poilus... 

Côté Méditerranéen oblige, les portugais sont effectivement assez bruns et leurs poils se voient davantage. 

(ii) ...Et les portugaises encore plus !

Depuis des siècles, les portugaises endurent les pires blagues sur leur supposée pilosité abondante. Pourtant, ce n'est pas une généralité !

(iii) Les portugaises sont femmes de ménage ou concierges

La faute au cinéma qui a trop popularisé la femme de ménage Conchita ou la concierge Mme Martinez.

(iv) Les portugais sont plombiers ou maçons

Là aussi une idée reçue qui date des années 50, pendant lesquelles les immigrés portugais acceptaient les boulots les plus ingrats. Aujourd'hui, ce sont les polonais qui ont hérité de ce cliché !

(v) Ils ne mangent que de la morue

Et ça leur donne une haleine délicate et parfumée.

(vi) Les portugaises sont moches

Un cliché largement lié au fait que les portugaises soient réputées poilues. Pourtant, certaines portugaises sont de véritables bombes !

(vii) Les portugais sont petits

Les femmes sont laides et les hommes sont petits : aucun portugais n'est épargné par les stéréotypes ! Mais c'est vrai que les portugais sont généralement moins grands que, disons au hasard... les suédois !

(viii) Les portugais font tout frire

Forcément, la morue c'est tellement mauvais qu'il faut bien l'accommoder d'une manière mangeable : avec de l'huile !

(ix) Les portugais portent une moustache

C'est pour aller avec le look de plombier : salopette, casquette et moustache. Comment ça, on dirait Mario ?

(x) Les portugais parlent fort

C'est l'origine méditerranéenne qui veut ça : les portugais se croient obligés d'élever la voix à 250 décibels pour interpeller quelqu'un qui se trouve à deux mètres.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10620: Questões politicamente (in)correctas (41): A origem da palavra Turra (António Rosinha)

1. Mensagem do António Rosinha, de 13/1/2007, que esteve para ser publicada na série Questões politicamente (in)correctas, sob o poste P1426, e que por qualquer razão (falha técnica ou erro humano, os dois bodes expiatórios do costume) não o foi... 

O poste  [ Guiné 63/74 - P1426: Questões politicamente (in)correctas (17): A origem da palavra Turra (António Rosinha)] estava em rascunho, em fase de edição, creio até que chegou a ser publicado... O nº 17 da série acabou por ser atribuído a um poste do Amílcar Mendes (*). E o texto do Antº Rosinha acabou por ir para ao "limbo" (, mas não para o lixo)... Cinco anos no limbo!...  Fomos recuperá-lo. Vê agora a luz do dia, com outra numeração por causa da cronologia... . Com o nosso pedido de desculpas ao Antº Rosinha (que está connosco, de pleno direito, desde 29 de novembro de 2006) (**) e,claro,  também aos nossos leitores. Na numeração dos nossos postes fica em branco o nº 1426... (LG)


2. A origem da palavra Turra,
por António Rosinha

Tuga, portuga, caputo, chicoronho, cabeça de porco, baranco, chindele, e por fim cubano, já ouvi esses nomes dirigidos a mim e a outros,  ao vivo e a cores. In loco. Nem todos eram depreciativos, mas alguns eram. Logo que sejam ditos em português, ou crioulo, madeirense ou carioca ou baiano, para mim é fabuloso.

Isto tudo para dizer qual o mês e o ano em que surgiu uma palavra que para muita gente não tem justificação: TURRA (terrorista) e a sua motivação. Pois, apesar da muita informação descarregada neste Blogue, penso que esta explicação que vou dar, e é dos livros, não foi lida aqui.


15 de Março de de 1961. Pois houve um movimento, União dos Povos do Norte de Angola, UPNA, depois UPA, depois FNLA, que provocou actos de terrorismo, contra brancos, mulatos, negros que não fossem Bacongos (***), que a par de outro terrorismo que se desenvolvia nos vizinhos Congo Belga, Ruanda e Burundi, explica uma grande parte do apoio popular que o Governo Português teve em todas as frentes, que sem esse apoio não aguentaríamos...13 longos anos.

Para quem assistiu "tudo a meter o rabo entre as pernas"e a fazer as malas, eu não era excepção, e saber que o 1º classificado do meu pelotão do CSM, angolano, mestiço, uma simpatia, já na sua actividade civil, foi na leva, toda a gente tinha alguém conhecido que tinha morrido (nem descrevo os processos usados, e depois a reacção).


Para quem assistiu, ficou no ar a palavra terrorismo (TURRA). E por uns pagam outros. Foi tão revoltante que todos os mestiços, negros assimilados com estudos que já enchiam as repartições e escritórios, brancos angolanos, guineenses e moçambicanos de várias gerações, e que todos eram pela independência das colónias - não o escondiam, tanto na tropa como no desporto como no ambiente profissional (posso noutro ambiente mencionar nomes públicos, vivos uns e falecidos outros)- , todos se viraram contra as independências de qualquer maneira, e não alinharam com Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Lúcio Lara, Chipenda, etc. Até porque todos os vizinhos independentes viviam em constantes matanças étnicas.(Será que acabou?).

A origem da palavra foi só esta, e justificadíssima. Essa palavra foi aproveitada para todos os fins. Muitos conhecem esta história,  concerteza. Outros, verifico que não (****).
________

Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 16 de janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1435: Questões politicamente (in)correctas (17): Matei para não ser morto (A. Mendes, 38ª CCmds)

Último poste da série > 15 de agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6854: Questões politicamente (in)correctas (40): A guerra colonial: todos querem ser heróis! (Carlos Geraldes)
(**)  Vd. poste de 29 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1327: Blogoterapia (7): Furriel Miliciano em Angola, em 1961; topógrafo da TECNIL, em Bissau, em 1979 (António Rosinha)

(***) Etnia do norte de Angola, que outrora (antes da conferência de Berlim, de 1885, que retalhou o continente africano pelas principais potências coloniais europeias, era o povo que vivia no Reino do Congo):

(...) "A luta anticolonial divide-se em três grupos que refletem diferenças étnicas e ideológicas: o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), multirracial e marxista pró-URSS, com predomínio da etnia quimbundo; a Frente Nacional para a Libertação de Angola (FNLA), anticomunista, sustentada pelos EUA e pela República Democrática do Congo (ex-Zaire), com base na etnia bacongo (norte do país); e a União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita), com forte presença da etnia ovimbundo (centro e sul), inicialmente de orientação maoísta, que depois se torna anticomunista e recebe o apoio do regime sul-africano do apartheid. Independência" (...).

Fonte: Sítio brasileiro Mulheres Negras: do umbigo para o mundo > Angola

Segundo o sítio da CIA, com dados estatísticos sobre Angola,  
os bacongos representariam 13% da população. Restantes: Ovimbundos: 37%; quimbundos: 25%; mestiços: 2%; Europeus: 1%; outros: 22%. [Consult. em 4/11/2012].

(***) Vd. também a opinião do linguista Rui Ramos, colaborador do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa:


(...) [Pergunta] Li algures que a palavra tuga era pejorativa. Não a encontro em nenhum dicionário mas de facto tornou-se conhecida pois foi o nome dado à Selecção Nacional aquando do Mundial 2002.  A pergunta é: a palavra existe? E é pejorativa? Manuela Couto, Portugal
[Resposta] A palavra «tuga» é de facto pejorativa. Surgiu em contraponto à palavra «turra» («terrorista») que os colonos portugueses em África usavam para designar os que, com armas, se opunham ao colonialismo. 

Surgiu na década de 60, já em plena luta armada de libertação nacional. Eu próprio a usava, já inserido na luta clandestina do MPLA em Luanda, para falar dos «soldados portugueses em Angola». «Turra-Tuga» é uma dicotomia que faz parte integrante da luta anticolonial e que, já se vê, define o «lado mau» da luta.

Por isso eu desde o início considerei que a palavra tinha sido muito mal escolhida para a selecção portuguesa devido à carga guerreira, colonial e incivilizada, porque parece homenagear um dos períodos mais tristes da História de Portugal.

Em sentido mais amplo temos a expressão «pula» (os imigrantes africanos tratam, invariavelmente, os brancos por esta palavra) (*****). 
Rui Ramos (2003) (...) 



(*****) Vd. poste de 26 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10074: Em bom português nos entendemos (8): O angolês, termos angolanos que pode dar jeito integrar no nosso léxico (Luís Graça, com bué de jindandu para o Raul Feio e demais kambas kalus)

(...) Pula. Pessoa branca (pejorativo). O mesmo que braga, cangando, tuga.(...)

O termo "turra" já está  grafado nos dicionários de língua portuguesa (por ex., o Priberam) como substantivo, com o significado de "guerrilheiro dos movimentos independentistas africanos nos tempos da guerra colonial portuguesa".

Vd.  também a Infopédia:  Turra, forma de turrar;

(i) turra, nome feminino: 1. popular, pancada com a testa; cabeçada; marrada; 2. figurado,  teima; birra; disputa (...)

(ii) turra, nome masculino: gíria, depreciativo, nome atribuído pelos militares portugueses aos combatentes independentistas africanos, durante a guerra colonial portuguesa;
(iii) andar às turras, andar desavindo

(Derivação regressiva de turrar) (...)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7789: Portugalidade(s) (4): Os nossos mútuos estereótipos lusófonos (Cherno Baldé / Antº Rosinha)

1. Comentário de Cherno Baldé e de António Rosinha, de 14 do corrente, ao poste P7769:


(i) Cherno Baldé [, foto à esquerda, enquanto estudante, Kiev, Ucrânia, 1989]:



Caro Mais velho Rosinha,

Há muito tempo que a gente não discutia, não é verdade? Ultimamente não tenho acompanhado com regularidade o Blogue.

Na minha opinião, todas as utopias são descomunais e nascem e crescem e morrem sem serem absorvidas ou compreendidas pelo povo a quem se destinam pois não é dado a todos enveredar pela senda dos percursores.

Certamente o povo português absorveu e compreendeu a utopia dos Afonso Henriques e outros logo no inicio da aventura do que viria a ser "as grandes descobertas das terras dos outros".


Um abraço amigo,


Cherno Baldé


(ii) António Rosinha[, Fur Mil, Angola, 1961]:

Amigo Cherno, para já é um prazer saber que ainda aí estás (há tanto tempo!)...

Agora vou dizer-te a primeira impressão que tive quando com 18 anos cheguei a Luanda (África) em 1957.
Fiquei com a ideia que os luandenses de todas as cores conheciam melhor Portugal e todos os portugueses desde o Minho ao Funchal, do que eu, que nunca tinha saído da minha parvalheira.

Isto em 1957, e mais tarde em Bissau no tempo de Luís Cabral e de Nino, confirmei que os guineenses detinham a mesma perspicácia sobre o tuga, que os luandenses.

E hoje chego à conclusão que aprendi com os guineenses, brasileiros, caboverdeanos e angolanos a olhar para Portugal e portugas, tugas, caputos, cabeças de porco, etc. etc.


Nem fazes ideia de quantos amigos e colegas porreiríssimos que deixei no Brasil, Luanda, e Bissau.

E, tal como em Portugal, é difícil encontrar nessas terras políticos que respeitem o povo. E foi nessas terras que ouvi que em Portugal não nos sabemos governar, como é que queriamos governar outros?

E Amilcar tambem escreveu mais ou menos isso, e era uma das justificações dele para fazer a guerra da independência. Mas guerra sem armas tinha sido a verdadeira utopia posta em prática, como aconteceu em Caboverde.

Ouvi isto a um angolano na RTP no 4 de Fevereiro,  50º aniversário da revolução de Luanda. O angolano que disse isso foi o escritor Agualusa.


Um abraço e não desapareças por tanto tempo.

Antº Rosinha

____________


Nota de L.G.:

Último poste desta série > 8 de Janeiro de 2011 >
Guiné 63/74 - P7574: Portugalidade(s) (3): Salut le copain Vasco!...

sábado, 27 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7350: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (21): Cap Teixeira Pinto e as guerras de pacificação

1. Texto de Cherno Baldé:


Data: 23 de Novembro de 2010 12:43
Assunto: Cap Teixeira Pinto e as guerras de pacificação na Guiné (*)

Caro Luis Graça (*),

Como deves saber, nós africanos, pelo grande respeito que dá-mos a idade e aquele que nos é mais velho, nunca nos podemos considerar iguais aos mais velhos, é uma questão cultural, sim senhora, mas também filosófica, metodológica, antropológica etc. 


Nunca posso esquecer o facto de que, quando eu ainda deambulava quase nú no quartel,  já alguns de vocês eram oficiais do exército. Sobre isto nada se pode sobrepor, nada, nem a idade entretanto adquirida, nem a experiência acumulada, nem a formação académica. O respeito e admiração que tive por vocês ficou gravado para sempre na minha memória.
Lembro-me que nós reproduziamos nas nossas brincadeiras o comportamento das hierarquias militares tal qual observávamos no quartel:


(i) O Capitão era o mais sério, o mais corajoso, o primeiro que seguia para a frente do combate no seu pequeno Jipe,  em pé,  ao lado do condutor (esta era a reprodução da figura do Cap Carvalho); quando passeava punha sempre uma das mãos, normalmente a esquerda,  atrás das costas ou copiando o General Spínola, tinha uma bengala ou chicote na mão direita;


(ii)  O Alferes era o que sempre estava muito perto do Capitão,  pronto para o substituir em caso de...


(iii) Os furriéis eram os mais aprumados, impecáveis, bem parecidos, mulherengos... 


(iv) Os Sargentos eram identificados com a figura do Vagomestre, um pouco mais velhos, maus por norma e barrigudos, era raro encontrar um Sargento que fosse também bom atleta; eram mais ou menos solitários, mais ou menos melancólicos, cara de poucos amigos, até os soldados fugiam deles, nem oficiais nem subalternos, uma posição complicada, eram bons na aplicação de castigos. 


Perdíamos horas a fio nessas brincadeiras de figurinos teatrais do comportamento da tropa metropolitana. Por serem nossos, desvalorizávamos os milícias que não passavam de réplicas sem grande jeito, mas quando era preciso ir para a guerra, socorrer uma aldeia, sabíamos que eles é que iam a frente. 

No intuito de seguir o teu conselho e ver alguns trabalhos sobre o Cap Teixeira Pinto,  acabei por cair no poste P1615: Historiografia da presença Portuguesa(5): Capitão Diabo, herói do Oio, João teixeira Pinto (1876-1917). 


[ Foto à esquerda: João Teixeira Pinto (1876-1917), com barbas compridas e os galões de alfres; foto com uma dedicatória manuscrita do oficial português "à sua querida mulher com um beijo do seu marido muito amigo. 27 de Maio de 19__(?). Oferece João Teixeira Pinto".]

[ Foto«: © A. Teixeira-Pinto (2007). Direitos reservados.]

Penso que há um erro de localização do Sancorlá na frase que diz: "Fulas Forros de Sancorla (No Cuor, a nordeste de Missirá". Aqui, com toda a certeza,  faz-se referência ao regulado que mencionei nas minhas memórias, da casa real de Canhámina, cujas ligações com a minha familia também falei. 


O Boram Jame do texto é o Patriarca e régulo de Sancorlá, nosso avó comum (Buran Djame ou Braima Djame) dos tempos do Administrador de Geba, Calvet de Magalhães. Durante o seu reinado, o regulado de Sancorla foi um aliado fiel da administração colonial e amigo do Governador Muzanty, tendo combatido ao lado desta entre os rios Geba e Cacheu, com Sousa Lage (1891-1892) contra Mussa Molo, Graça Falcão (1897) no Oio/Morés e João Teixeira Pinto (1913-1915) em toda a Guiné.


Tudo o que sei de concreto sobre o Cap Teixeira Pinto, encontrei em livros, com destaque para o livro, história da Guiné,  de René Pelissier. As nossas fontes tradicionais,  além de escassas (os griots são os fieis depositários), normalmente, são mitológicas e algo deformadas com o passar dos tempos. 


Contam-se muitas histórias sobre estas guerras e há referências a certos locais e pessoas que se destacaram numa ou outra batalha, em especial a última repressão aos Canhabaques (Bijagós) mas sem muito rigor nem datas e locais precisos. Seria preciso fazer uma vasta colecta e depois comparar as narrativas de diferentes fontes orais.   

Com um grande abraço,
Cherno Baldé

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Nota de L.G.:

(*) Na sequência de comentários ao poste de 21 de Novembro de 2010

(i) Comentário do Cherno Baldé:


Caros amigos,

Desculpem a intromissão em assuntos de mais velhos mas, na minha opinião, Portugal, cometeu erros estratégicos na Guiné por não ter dado a devida atenção as lições do Capitão Teixeira Pinto.

Eu sei que o contexto não era o mesmo mas ele teve o mérito de, em pouco tempo, fazer uma avaliação correcta da situação e decidir que, para o caso da Guiné não precisava de batalhões de tropas metropolitanas nem de muitos Grumetes a mistura. Claro que esta decisão teve suas consequencias boas e más, todavia ele foi eficaz e os efeitos foram, de certo modo, duradouros.

De resto, todos estamos de acordo que a solução final só podia ser política. Cherno Baldé.



(ii) Comentário de L.G.:


Cherno:

A Tabanca Grande é uma "sociedade de iguais"... onde não há a classe dos "mais velhos" (com excepção do Rosinha, mas só por graça...) nem dos "djubis" (com excepção de ti, por que para nós serás sempre o Chico de Fajonquito, "menino e moço"...).

Humor à parte, conta-nos lá a "tua" história sobre o Capitão-Diabo (como ficou conhecido entre os guineenses) (...).
 

Último poste da série > 18 de Setembro de 2010

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5492: Historiografia da presença portuguesa em África (34): Roteiro (Parte II) (Santos Oliveira / Luís Graça)

Bissau > "Estádio Sarmento Rodrigues"
Bafatá > "Pontre Salazar, sobre o Rio Geba"



Bissau > "O aeroporto de Bissalanca" [, a 10 minutos do centro]



Bissau > "Aldeamento indígena perto de Bissau"






Bissau  > Edifício do Centro de Estudos
Bissau > Laboratório da doença do sono





Homerm fula da região do Boé; Mulher futa-fula do Gabu








Fonte: Excertos de Roteiro do Ultramar, 1958 > pp. 5-10. (Com a devida vénia...)


1. Segunda e última parte da publicação de excertos do livro Roteiro do Ultramar, relativamente à Guiné, que nos foram enviados pelo nosso camarada Santos Oliveira, em 16 de Fevereiro de 2008 sob a forma de imagens digitalizadas (*).  Trata-se de uma publicação da autoria de Manuel Henriques Gonçalves (Lisboa, s.n., 1958, 131 pp. + ilustrações).

Vejam-se alguns dados económicos sobre a província (1952), que funcionava basicamente como um fornecedor de matérias-primas (basicamente produtos agrícolas) para a indústria portuguesa, e com um relação praticamente de monopólio com a CUF - Companhia União Fabril, cujos interesses eram represenatdos a nossa Casa Gouveia. Destaque para as exportações das oleaginosas (amendoím, coconote, óleo de palma)...  Destaque ainda para a  produção de arroz, num  total de 100 mil toneladas, o que significava 200 quilos "per capita". Hoje com o tripo plo da população (c 1,5 milhões), a produção der arroz terá aumentado em menos de 180% (c. 175 mil toneladas).

Outro apontamento que resulta da leitura deste "roteiro" é o fascínio que a Guiné exercia sobre os portugueses, antes da guerra colonial, e de algum modo a sua redescoberta, após a II Guerra Mundial, com o desenvolvimento discreto de Bissau  e o plano de obras públicas do Estado Novo. Paralelamente, é de reter e analisar as "representações sociais" de cada um dos grupos étnicos-linguísticos que compunham a população guineense, e a reprodução (que chegou até aos nosso tempo) dos "estereótipos" que lhe estão associados, e aqui reproduzidos numa citação do melhor Governador-Geral do pós-guerra, Sarmento Rodrigues:  (i) os felupes, "bravios, honestos e sóbrios"; (ii) os balantas, "ladrões sentimentais, trabalhadores foliões e bêbados"  [três atributos] [ou cinco ? ..."ladrões, sentimentais, trabalhadores, foliões e bêbados" ?]; (iii) os bijagós, "cheios de pitoresco"; (iv) os fulas e os mandingas, herdeiros da cultura "árabe"... (LG)

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Nota de L.G.:

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2289: Antropologia (2): A literatura infanto-juvenil dos anos 40 e os estereótipos coloniais (Beja Santos)

Capa do livro de Emília de Sousa Costa, No Reino do Sol. Lisboa: Ática. 1947. Ilustrações de Ofélia Marques.


1. Texto e imagens de Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70)

No Reino do Sol, é um livro deslumbrante, quer por um discurso sensível ao imaginário infantil quer pelas ilustrações, de elevado nível artistico, todas da Ofélia Marques.

Emília de Sousa Costa (1877-1959) foi uma autora de nomeada no seu tempo, tendo gozado de grande prestígio. Os seus livros foram ilustrados por artistas conceituados como Raquel Roque Gameiro, Emárico Nunes, Francisco Velença, Alfredo Morais, Ofélia Marques, entre outros.

A Emília escrevia ao gosto da época, era um fraseado para fazer deslumbrar a pequenada: "Ressoam no espaço infinito, com desusado clangor, as trombetas da Ursa-Maior, tocando a alvorada. No seu leito fulgurante de púrpura e oiro, tendo como dossel o enastrado colorido de inúmeros arco-iris, acordo a sua majestade o Rei Sol".

Ora, a autora resolve falar da Guiné. Para a autora o indígenas da Guiné têm "língua de trapos", não é a nossa doce língua portuguesa. Fala-nos na história de um casal sem filhos que procurava descendência até que surgiu Himbo-Inéné. Se a mãe falava uma "lígua de trapos" no conto passa a falar a doce língua portuguesa. Prevendo ser castigado, o menino pede ao régulo: "Sei que vais matar-me. Mas antes uma coisa te rogo: que me dês uma folha grande de bananeira, para me cobrir".

O menino desaparece e vai encontrar-se com o lobo, elefante, o tigre, o leão e a cabra (escusado será dizer que, tirando a cabra, os outros animais não existem na Guiné).

Himbo-Inéné é um meio para explicar como é que estas cinco espécies de animais passaram a viver em separado, segundo afirma o "gentío" da Guiné. Eram estes alguns dos preconceitos ou estereótipos em que foi educada a nossa geração...



2. Comentário de L.G.:

Obrigado ao Mário, homem de grande sensibilidade cultural, bibliófilo, escritor, e sobretudo amante da Guiné e das gentes, para além de nosso camarada e amigo.

A história do nosso mútuo (des)conhecimento, entre portugueses e guineenses, tem muito destas coisas: os muitos anos de convívio, ora pacífico ora belicoso, com os povos da Senegâmbia, por nossa parte - desde meados do Séc. XV - são natualmente pontuadas de coisas boas, de coisas menos boas e de coisas más...

A pior de todos foi a violência (física)... Mas também há/houve violênca psicológica, verbal, cultural... onde se incluem os estereótipos, os preconceitos, as representações que temos uns sobre os outros. Hoje, como países independentes, em pé de igualdade, numa base de respeito e de amizade, podemos olhar paras as coisas que escrevemps e dissemos - os nossos antecessdores, pais, avós, bisavós... - com outra sabedoria, com outro olhar, com outro conhecimento... Mas nós próprios - é bom não esquecê-lo - também tínhamos muitas ideias estereotipadas sobre a Guiné, a terra e os seus povos - quando lá fomos para lá, formatados e equipados para fazer a guerra...

Em sociologia e psicologia social, fala-se em estereótipos como sendo um conjunto de generalizações inapropriadas, simplistas, redutoras, acerca de um grupo de indivíduos (por ex., ciganos) permitindo aos outros (neste caso, os não-ciganos) a categorizar os membros desse grupo (os ciganos) e a tratá-los sistematicamente de acordo com as expectativas criadas: por exemplo, os ciganos são falsos, fechados, etnocêntricos, etc.; sou abordado por um cigano e julgo logo sumaraimente como façso, fechado, etnocêntrico, etc.

E a propósito dos nossos preconceitos (ou pré-conceitos) sobre a Áftica e os africanos, deixem-me evocar aqui o nosso saudoso capitão Zé Neto (1929-2007) que um ano e picos antes de morrer me escrevia o seguinte mail (em 8 de Janeiro de 2006):

Meu caro Luis: Depois de muito meditar cheguei à conclusão de que, pelo menos tu, mereces a minha confiança para partillhar contigo uma parte muito significativa das memórias da minha vida militar.

São trinta e três páginas retiradas (e ampliadas) das 265 que fui escrevendo ao correr da pena para responder a milhentas perguntas que o meu neto Afonso, um jovem de 17 anos, que pensava que o avô materno andou em África só a matar pretos enquanto que o paterno, médico branco de Angola, matava leões sentado numa esplanada de Nova Lisboa (Huambo). Coisas de família...


Sobre a Emília de Sousa Costa, vd. sitografia (sumária):

Blog da Rua Nove > 19 de Setembro de 2007

Ecrivaines africaines lusophones / A Bibliography of Lusophone Women Writers Joanito africanista / / Emília de Sousa Costa ; ilustrações de ...

La educación femenina: una escala para alcanzar la categoría de ciudadana. Portugal y los Congresos Feministas y de Educación (1924-1928)". por: Rosa Mª BALLESTEROS GARCÍA
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Notas de L.G.:

(1) Vd. post anterior desta nova série Antropologia [ a disciplina das ciências socais que estuda as estruturas e as culturas produzidas pelo Homo Sapiens Sapiens, a única espécie humana - raça, dizíamos nós até há pouco tempo - a que pertencemos todos nós: nharros, tugas, gringos, chinocas, etc... Na Europa também é sinónimo de Etnologia]:

9 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2252: Antropologia (1): A guerrilha invisível ou o Poder da Invisibilidade (Virgínio Briote / Wilson Trajano Filho)

(2) Vd. post de 30 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1801: Capitão José Neto (CART 1613, Guileje, 1967/68), a última batalha