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terça-feira, 17 de setembro de 2013

Guiné 63/74 - P12051: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (18): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2o07) - Parte V: Terra de ecumenismo e tolerância religiosa entre cristãos e muçulmanos (II). A festa do fanado (feminino). Fotos.








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Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Fotos do álbum de José Neto > Guileje 2 >  Festa do fanado (feminino), a que se associaram os militares.

Fotos: © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. Continuação da republicação das memórias do 2º Sargento José Afonso da Silva Neto (, falecido em 2007, com o posto de capitão reformado), relativas à sua comissão na Guiné, quando exerceu funções de 1º sargento da Companhia de Artilharia nº 1613 (Guileje, 1967/68).


2. Memórias de Guileje, ao tempo da CART 1613, por José Neto (1929-2007) > Parte V: Terra de ecumenismo e tolerância religiosa entre cristãos e muçulmanos (II). A festa do fanado. Fotos

(...) Saliento o facto ocorrido durante a festa do fanado em que as meninas foram preparadas para a, para nós bárbara, ablação de parte dos seus órgãos genitais.

Atraídos pela música, os militares metropolitanos acercaram-se do local onde decorria o ritual – as meninas postadas à volta do enorme almofariz enquanto as mulheres, com o pilão, moíam cereais cuja farinha se derramava sobre as cabeças das ainda crianças – e sem quaisquer constrangimentos dançaram e cantaram como se fossem parte da cerimónia.

Houve nesta festa uma excepção que me apraz referir: eu fui o único fotógrafo autorizado a registar as cenas preliminares. Na palhota onde se procedeu à cirurgia nem pensar.

Tal deferência nada tinha a ver com o meu cargo ou posição na companhia, mas sim porque quando o correio me trazia os slides revelados, eu montava o cenário e mostrava à população as suas caras e os seus lugares que provocavam grandes ovações e expressões de alegria dos visados. Era o que chamavam de cenima do nosso sargenti. (*)


3. Comentário, de 17 do corrente,  de Cherno Baldé, nosso amigo e irmão guineense [, foto à direita]:

(...) A guerra colonial travada num meio essencialmente rural/tradicional tinha, também, o condão de provocar efeitos secundários ou colaterais de âmbito sócio-cultural. Só algumas raras pessoas podiam perceber o alcance e a profundidade das transformações sociais que se operavam no seio dessas mesmas sociedades.

Neste caso concreto das imagens [do Zé Neto], o que salta a vista é o facto de as mulheres, no uso da liberdade pontual que a cerimónia [do fanado] autorizava nos idos anos 60, desafiarem a tradição e quebrarem o velho tabu do uso de roupas do sexo oposto e, sobretudo, de homens de guerra. 

No caso da Guiné, o facto não é meramente fortuito, pois tratava-se de uma fase de viragem histórica e que viria a ser bem aproveitado e vulgarizado pelo PAIGC no período pós-independência (...)

Guiné 63/74 - P12050: 9º aniversário do nosso blogue: Os melhores postes da I Série (2004/06) (17): Memórias de Guileje ao tempo da CART 1613 (1967/68), por José Neto (1929-2007) - Parte V: Terra de ecumenismo e tolerância religiosa entre cristãos e muçulmanos (I): A capela






Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Fotos do álbum de José Neto > Guileje 1 > Vistas diversas da capela. Na pequena festa de inauguração da capela,  e a convite do Capitão Corvacho, o Régulo Suleimane compareceu com toda a sua família e vestido a rigor, embora fosse muçulmano.




Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) 1967 > Fotos do álbum de José Neto > Guileje 2 > Início das cerimónias do Ramadão. O régulo em traje de gala.


Fotos: © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


1. Continuação da republicação das memórias do 2º Sargento José Afonso da Silva Neto (, falecido em 2007, com o posto de capitão reformado), relativas à sua comissão na Guiné, quando exerceu funções de 1º sargento da Companhia de Artilharia nº 1613 (Guileje, 1967/68).

O Zé Neto, como era conhecido entre nós, é um dos primeiros 50 camaradas a ingressar no nosso blogue. Hoje somos 12 vezes mais, a maior parte dos tabanqueiros não o conheceram nem têm acesso à sua colaboração, dispersa, incluindo as valiosas fotos do seu álbum . Daí também esta nova edição dos seus postes sobre Guileje, no ano em que celebramos o 9º aniversário. Por outro lado, fez 40 anos, a 22 de maio de 2013, que as NT retiraram de Guileje.

2. Memórias de Guileje, ao tempo da CART 1613, por José Neto (1929-2007) > Parte V:  Terra de ecumenismo e tolerância religiosa entre cristãos e muçulmanos (I)


Uma das boas características do meu pessoal era a de que não gostavam de estar parados nos intervalos das operações. Cada um, nas suas profissões ou aptidões, ia bulindo e foi assim que  (i) se reconstruíram e melhoraram abrigos, (ii) se implantou uma horta que aproveitava a água, depois de decantada, dos chuveiros das praças e (iii) se construiu a obra mais emblemática que deixámos em Guileje: a Capela.

Por sugestão do capelão, Padre João Batista Alves de Magalhães, que apenas pediu um coberto para oficiar a missa quando ia a Guileje, pois dava a volta a toda a área da responsabilidade do batalhão, os Furriéis Maurício (Transmissões) e Arclides Mateus (Atirador), ambos com conhecimentos de desenho de construção civil, planearam e dirigiram a construção do pequeno templo.

Vinte ou trinta anos depois muito se falou em ecumenismo e outras ideias do mesmo sentido, mas nas profundezas da Guiné isso já se praticava.

Na pequena festa de inauguração da Capela e a convite do Capitão Corvacho, o Régulo Suleimane compareceu com toda a sua família e vestido a rigor, embora fosse muçulmano.

As portas da Capela nunca se fecharam. Os europeus iam lá fazer as suas orações e nunca constou que alguém tivesse mexido fosse no que fosse. Do mesmo modo, quando da celebração do fim do Ramadão, com rituais próprios, mas completamente desconhecidos para a quase totalidade dos rapazes, estes comportaram-se com respeito, a que não faltou uma ponta de curiosidade, é certo.

Saliento o facto ocorrido durante a festa do fanado em que as meninas foram preparadas para a, para nós bárbara, ablação de parte dos seus órgãos genitais.

Atraídos pela música, os militares metropolitanos acercaram-se do local onde decorria o ritual – as meninas postadas à volta do enorme almofariz enquanto as mulheres, com o pilão, moíam cereais cuja farinha se derramava sobre as cabeças das ainda crianças – e sem quaisquer constrangimentos dançaram e cantaram como se fossem parte da cerimónia.

Houve nesta festa uma excepção que me apraz referir: eu fui o único fotógrafo autorizado a registar as cenas preliminares. Na palhota onde se procedeu à cirurgia nem pensar.

Tal deferência nada tinha a ver com o meu cargo ou posição na companhia, mas sim porque quando o correio me trazia os slides revelados, eu montava o cenário e mostrava à população as suas caras e os seus lugares que provocavam grandes ovações e expressões de alegria dos visados. Era o que chamavam de cenima do nosso sargenti.

(Continua)

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quinta-feira, 28 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11325: Notas de leitura (469): Estudos sobre a Etnologia do Ultramar Português (Volume III)”, editado pela Junta de Investigações do Ultramar, Lisboa, 1963... Usos e costumes: a tecelagem, o arrancamento da pele dos cadáveres, as práticas de necrofagia, o fanado, o choro, o bombolom... (Francisco Henriques da Silva, antigo embaixador)

1. Mensagem de Francisco Henriques da Silva, nosso camarada e grã-tabanqueiro, ex-alf mil, CAÇ 2402 / BCAÇ 2851 (,Mansabá e Olossato, 1968/70),  e mais tarde ex-embaixador de Portugal, na Guiné-Bissau (1997/1999)] [, foto à esquerda, 26 de Abril de 2012, Lisboa, Bertrand Dolce Vita Monumental, tertúlia,; foto de L.G.]


Data: 23 de Março de 2013 à40 19:00

Assunto: Estudos sobre a Etnologia do Ultramar Português (Volume  III), editação da  Junta de Investigações do Ultramar, Lisboa, 1963


Meu caros amigos,


Aqui há umas semanas veio-me parar às mãos uma obra do maior interesse  que descobri, por mero acaso, na biblioteca particular de um amigo meu  e para a qual solicito a vossa atenção.Trata-se do livro "Estudos  sobre a Etnologia do Ultramar Português (Volume III)", editado pela  Junta de Investigações do Ultramar, Lisboa, 1963. Um livro de vários  autores,  essencialmente focado em temas de antropologia (entre os quais  sobressai o nome de António Carreira), editado e totalmente dedicado à Guiné então Portuguesa.

Esta obra vem precisamente na linha da correspondência travada com o  Luís Graça, em que ambos reconhecemos que partíamos para as missões de  soberania no chamado Ultramar, qualquer que fosse o local, sem fazermos a menor ideia do que iríamos encontrar. Que povos? Que  línguas? Que religiões? Que usos e costumes? E a lista podia  continuar, sendo a Guiné, atenta a exiguidade do território, de uma  diversidade extraordinária, multifacetada e vibrante.

Explicavam-nos o funcionamento da "Dreyser", como montar uma emboscada  ou como comunicar no rádio, mas nada nos diziam sobre as realidades  geográficas, etnológicas, históricas, religiosas, etc. com que nos  íamos confrontar. Tratava-.se de um ponto essencial, mas os altos  mandos militares da época nunca pensaram nisso ou consideraram-no  desnecessário, como só muito tardiamente pensaram na chamada "acção  psicológica", como é do conhecimento público. Oficiais, sargentos e praças partiam na quase total ignorância do que era a Guiné e os seus  Povos e, no fundo, bastaria um pequeno esforço para dar a conhecer,  por exemplo, mesmo de uma forma resumida, a realidade sociológica da  Guiné. Isso, que eu saiba, jamais foi feito. Partíamos rumo ao
desconhecido, na escuridão total. Recordo que os norte-americanos na  Coreia e no Vietname - e suponho que noutros teatros de operações -  eram instruídos e dispunham de pequenos manuais de divulgação  relativos aos países e povos que iriam encontrar.

O livro em apreço é de um grande interesse e lança-nos muitas pistas  sobre a Guiné. Muitos reconhecerão práticas locais que aprenderam por  experiência própria.  Enfim, aqui vos deixo as minhas impressões.

Com um abraço cordial e amigo e as habituais "mantenhas"

Francisco Henriques da Silva

(ex-Alf Mil Inf  da CCaç 2402, e ex-embaixador de Portugal em Bissau)



Capa do livro  > Junta de Investigações do Ultramar -  Estudos sobre a etnologia do Ultramar português.  Lisboa : Junta de Investigações do Ultramar, 1963. Vol. III, 240 p. : il. ; 25 cm. (Estudos, Ensaios e Documentos. 102).


2. ALGUNS USOS E COSTUMES DA GUINÉ
por Francisco Henriques da Silva


O livro “Estudos sobre a Etnologia do Ultramar Português (Volume III)”, editado pela Junta de Investigações do Ultramar, Lisboa, 1963, é uma obra coletiva de grande interesse, para todos aqueles que se sentem atraídos pela Guiné-Bissau e pelos seus diferentes povos, respetivos usos e costumes. Inserido na coleção “Estudos, Ensaios e Documentos”, cabe referir que é um livro que beneficia do contributo de vários autores da época, investigadores e estudiosos das questões etnológicas, entre os quais avultam nomes conhecidos, como é o caso, por exemplo, de António Carreira. 

Tanto quanto me apercebi teriam sido editados diversos volumes, sob aquele título genérico, cada um sobre uma das províncias ultramarinas sendo este sobre a Guiné, em que só são focados temas exclusivamente guineenses.

Os textos abordam assuntos tão diversos como o estudo da tecelagem, o arrancamento da pele dos cadáveres e as práticas de necrofagia, as mutilações genitais (ou seja, o fanado masculino e feminino – circuncisão, no primeiro caso, e excisão do clitóris, no segundo), as práticas funerárias dos Brames (ou mancanhas), os tambores “falantes” (o bombolom e outros instrumentos de comunicação por percussão à distância) e, finalmente, a etnonímia das populações autóctones da Guiné Portuguesa.

O primeiro texto – “Subsídios para o estudo da tecelagem na Guiné Portuguesa”, elaborado por Maria Emília de Castro Almeida e Miguel Vieira – começa por referenciar os povos tecelões do território: manjacos, papéis, brames, mandingas e fulas, portanto de várias origens étnicas e religiosas (animistas e islamizados). Contrariamente à tradição europeia, trata-se de uma profissão reservada ao sexo masculino. 

Em seguida, ao ser estudada a origem do tear em África e, baseando-se nas descrições dos primeiros cronistas e navegadores portugueses na região, concluem que o tear já existia quando da nossa chegada à Senegâmbia, uma vez que “a indústria do algodão na Guiné era já uma realidade quando os portugueses ali chegaram” (p. 46). Por conseguinte, não sendo de origem europeia seria presumivelmente de origem asiática. Teria tido inicialmente “uma possível mas fraca irradiação já nos princípios da nossa era, cremos, porém, que a verdadeira e intensa introdução do tear de pedais na Guiné seria mais tardia, no tempo da expansão muçulmana em África” (p. 51).

Independentemente da origem – presumivelmente asiática – e da sua transmissão através de povos islamizados, os autores assinalam que “os manjacos e também os papéis são os povos que mais se entregam actualmente à tecelagem e dos que sofreram menos a influência muçulmana” (p. 57). Muito provavelmente os tecelões manjacos terão exportado as suas técnicas para Cabo Verde, concluem também os autores.

Maria Emília C. Almeida e Miguel Vieira tecem alguns comentários sobre os diferentes panos guineenses e fazem a descrição tecnológica relativamente pormenorizada do seu modo de fabrico. O artigo contem mapas da distribuição dos diferentes povos da Guiné e ilustrações dos teares e das respetivas peças, bem como fotos dos tecelões em plena atividade e dos panos já confecionados.

[Cartoon, à esuqerda: António Barbosa Carreira, Ilha do Fogo, Cabo Verde, 1905- Lisboa, Portugalo, 1988. Fonte: Página de Barros Brito, com a devida vénia]


O artigo que se segue, da autoria de António Carreira,  intitula-se “Do arrancamento da pele aos cadáveres e da necrofagia na Guiné, Portuguesa”. No primeiro caso estamos perante uma estranha prática ancestral dos manjacos, conhecido na expressão crioula por “descascar defuntos”. Era uma prática, segundo Carreira, já pouco seguida no início da década de 1930 e que, entretanto, terá desaparecido. Ninguém, nem mesmo os mais idosos, era capaz de elucidar as origens deste ritual insólito, nem o objetivo último do mesmo. Apenas se sabe que se tratava de um rito funerário daquele povo e circunscrito em exclusivo aos manjacos, não se tendo verificado tal prática em nenhum outro grupo étnico. 

 Segundo relata Carreira, “ficámos sem saber se o descasque de defuntos fora, desde sempre uma verdadeira modalidade dos ritos funerários dos manjacos ou se seria um derivante ou substituto da antropofagia.” (p. 106). O autor interroga-se: “Da antropofagia – que se admite tenha existido em toda esta área – não teria resultado, por evolução, a necrofagia e, numa fase posterior o descasque de cadáveres?” (ibidem).


Todavia, nem entre os manjacos, nem entre os brames (mancanhas) foram detectadas práticas de
canibalismo, muito embora os felupes a praticassem em tempos remotos. Carreira admite, como mera hipótese de trabalho, que os manjacos a tivessem levado a cabo, muito embora não o possa provar, tendo, ao longo do tempo, evoluído para o descasque de cadáveres.

[ Foto à direita: Um felupe, 1821... Gravura norte-americana, imagem do domínio público, cortesia de Wikipédia]


A cerimónia revestia-se de uma certa complexidade, na medida em que previamente era necessário proceder ao interrogatório do defunto, o anúncio da morte, o sacrifício de vários animais, a que se seguiam danças e outras cerimónias para afastar os maus espíritos. O corpo depois era colocado num estrado, regado com álcool e defumado.

Como relata Carreira, “logo que a decomposição estivesse avançada, o descascador (o profissional chamado Natiêmá) procedia à operação do arrancamento da pele. Para tanto servia-se de enormes unhas, que propositadamente deixava crescer; elas constituíam a ferramenta do ofício” (p. 111). Depois o corpo era envolto em panos e inumado.

Quanto à prática da necrofagia que se verificava ainda na década de 50 entre os Felupes, os cadáveres eram enterrados quase à superfície da terra, durante uma semana, finda a qual, os corpos já putrefactos eram desenterrados, cozinhados e comidos. 

Outro dos costumes ancestrais dos felupes consistia em colecionar crânios dos inimigos caídos em combate e que eram utilizados em libações. Hábito que não nos deverá parecer tão exótico, na medida em que os antigos vikings também o praticavam. Membros de tribos inimigas que penetrassem em território felupe eram “assassinados em condições misteriosas; e a maior parte (dos crânios, entenda-se) provém, precisamente, dos cadáveres desenterrados e comidos nos festins do fanado (circuncisão) ou nos ritos especiais, nos Irãs.” (p. 116). 

Comer carne humana de cadáveres consistia numa cerimónia ritual que se revestia da maior importância entre os membros desta etnia. Comer determinadas partes do corpo do inimigo morto conferiria, a quem as devorasse, as mesmas qualidades do defunto, designadamente de coragem e bravura em combate,. Em regra, eram apenas comidos os corpos das pessoas que faleciam de morte natural ou que morriam em conflito armado, mas, muitas vezes, secretamente, os feiticeiros envenenavam pessoas com o fito de as devorarem, muito embora a tribo não tivesse necessidade de carne, porquanto tinha gado e a caça abundava. A necrofagia era um ritual mágico e envolto no maior secretismo.

A. Carreira conclui que “a influência da cultura portuguesa, da francesa e mesmo da africana não conseguiu vencer práticas milenares que a civilização do Ocidente condena, por repugnantes, como a necrofagia” (p. 121).

“Contribuição para o estudo das mutilações genitais na Guiné Portuguesa” é outro interessante artigo subscrito por António Carreira e bastante abrangente, pois abarca todo o território guineense e confere-nos uma panorâmica da extensão destas práticas. 

O autor divide a população local em 3 grupos consoante a diversidade da prática das mutilações sexuais: 

(i)  o primeiro grupo, é aquele em que se pratica a circuncisão nos indivíduos do sexo masculino e a excisão do clítoris nos do sexo feminino (trata-se de etnias islamizadas: fulas, mandingas, biafadas, nalus, banhuns, cassangas e balantas-mané); 

(ii) o segundo grupo confina-se apenas à prática da circuncisão, não se procedendo à ablação do clitóris (estão neste grupo os animistas: manjacos, papéis, brames, felupes, baiotes, balantas e mansoancas);

(iii) o terceiro e último grupo apenas pratica uma circuncisão de caráter simbólico, “por incisões superficiais na pele do pénis, seguidas de escarificações tegumentares simples” (p. 135) e nas mulheres umas incisões no baixo ventre (apenas os bijagós mantém este hábito ancestral).

Quer no caso da circuncisão, quer no da ablação do clitóris, ambas as cerimónias são genericamente designadas, em crioulo, por fanado.

A circuncisão consiste no corte da pele do prepúcio, em geral, com uma faca afiada de lâmina recta. Trata-se de uma cerimónia ritual de purificação (segundo Bastide, citado por Carreira) que só se realiza com uma periodicidade determinada (depende das etnias) e que implica provas físicas, algumas de grande dureza, e nalguns casos até castigos corporais; provas intelectuais e de conhecimento de vida e sócio-religiosas, como refere o autor. Existem igualmente múltiplos tabus e regras específicas, variáveis de tribo para tribo. Em geral, as cerimónias terminam com uma série de festas públicas.

[Foto à direita: Vaqueira manjaca... Detalhe de postal ilustrado da série Guiné Portuguesa. Cortesia de Joaquim Ruivo]


Dependendo das etnias, a circuncisão pode ocorrer na infância, puberdade, adolescência ou já na idade adulta. O autor não refere, porém, que, em muitos casos, os circuncisos podiam morrer de hemorragia, por inexperiência do “operador” ou de infeção (tanto quanto sei, pessoalmente, no caso dos balantas, eram utilizados emplastros com plantas e lama).

A excisão clitoridiana tem menor expansão que a circuncisão, que como se vê está generalizada a quase toda a população masculina, e segundo A. Carreira alguns elementos femininos de certos grupos étnicos (mandingas e fulas) opõem-se-lhe. Todavia, como sublinha, “o certo é que o costume tem, ainda, grande simpatia e aceitação das massas” (p. 172). 

Aparentemente, os rituais destas cerimónias são bastante mais simples e menos violentos que os da circuncisão, aparte a operação de excisão propriamente dita. O autor descreve-a da seguinte forma: “Consiste na ablação do clítoris por um corte transversal, dado com uma lâmina recta. Para o efeito, puxam o clítoris para fora, depois de seguro por uma espécie de anzol sem rebarba. Em uns grupos a ablação é total e em outros está limitada a uma pequenina porção da ponta.” (p. 144). 

A extracção ou corte dos lábios da vulva não é de todo em todo levada a cabo por nenhuma etnia guineense. Registe-se que a excisão do clítoris não constitui um mero rito de passagem, mas uma condição “sine qua non” para o casamento. Sem embargo de Carreira descrever com minúcia a operação, as cerimónias e as regras a observar, não regista em qualquer parte do texto o menor sinal de repúdio ou de horror perante o barbarismo e a crua brutalidade deste costume ancestral.

Para além de apresentar um mapa das mutilações sexuais na Guiné Portuguesa, o autor traça um quadro de cada uma da tribos e dos diferentes processos e cerimónias que nesta matéria que levam tradicionalmente a efeito.

O investigador José Lampreia elaborou um estudo intitulado “Da morte entre os Brames”. Segundo nos conta, no passado remoto, entre os Brames (mancanhas) na cerimónia do “choro” (funeral) chegava a ser sacrificado um casal de crianças se o defunto fosse um régulo. Essa prática terá desaparecido, mas o sacrifício de animais manteve-se e o abate do gado do defunto para alimentar toda a comunidade também, o que, aliás, como se sabe, não é costume exclusivo dos brames. 

Uma cerimónia com algumas semelhanças à do descasque de cadáveres dos manjacos também se praticava, contrariando, de algum modo, o que refere António Carreira que a considera exclusiva daquela etnia. É interessante saber-se como era determinado o local propício ao enterro do corpo. O ritualista acompanhava uma cabra e no local onde esta urinasse cravava-se uma estaca e era esse o sítio designado para se abrir uma galeria funerária onde seria enterrado o defunto.


[Imagem à esquerda: O bombolom...Cortesia do sítio italiano Parrocchia San Leonardo Murialdo di Milano]

“Talking drums in Guiné” é um texto em inglês da autoria de W. A. A. Wilson da Universidade de Londres e que menciona, entre outros instrumentos de percussão (tambores) para transmissão de mensagens à distancia, o bombolom. Seis tribos da Guiné comunicam por este meio – manjacos, papéis, mancanhas, bijagós, balantas e mansoancas. Trata-se de um método muito utilizado em várias partes de África. Contrariamente ao que se possa pensar, não se trata de um qualquer código morse ou algo de aparentado, mas a reprodução de uma língua em que cada sílaba é pronunciada, nesta caso tocada, num tom alto ou baixo, “cada palavra ou frase tem uma melodia particular: os tons altos e baixos são tão importantes como a posição do acento tónico em português ou inglês” (p. 216), como refere o resumo. 

O bombolom é um tronco de madeira escavado com uma frincha que se estende a todo o comprimento. O tocador com dois paus extrai os sons cavos ou mais agudos do instrumento. O som pode ser ouvido a vários quilómetros de distância.

Finalmente, o artigo “Sobre a etnonímia das populações nativas da Guiné Portuguesa” da autoria do professor António de Almeida. O autor defende a tese de que as designações de quase todos os povos da Guiné é de origem mandinga, com várias alterações introduzidas pela língua portuguesa ou pelo crioulo. Também existiriam etnónimos de outras origens designadamente fulas.
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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11309: Notas de leitura (468): Catarse, por Abel Gonçalves (Mário Beja Santos)

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11078: (Ex)citações (210): Fanado, circuncisão, excisão: diferenças interétnicas (Pepito)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Catesse > 2010 > Bajuda, a frequentar a 6ª classe da escola local. Legenda: " O ano de todas as esperanças. Djari Queita é a jovem rapariga do Grupo Teatral de Catesse, em plena floresta de Cantanhez, que se distingue pela animação e dinamização das actividades culturais de rapazes e raparigas, em especial de teatro, dança e música tradicional. Está a estudar na escola local, tendo transitado para a 6ª classe, nível muito elevado para uma jovem daquela zona rural, que tem como principal profissão a produção de óleo de palma Anda muito contente e diz que este ano, é o ano de todas as esperanças".Foto tirada em 1 de dezembro de 2010, usando uma Canon Difgital IXUS 85 IS. Foto da Galeria da AD - Acção para o Desenvolvimento. Reproduzida com a devida autorização...

Foto (e legenda): © AD - Acção para o Desenvolvimento (2013). Todos os direitos reservados.




Pepito, ao canto superior direito... Reprodução parcial de imagem constante do artigo do magazine da TAP, Up, disponível no sítio da AD - Acção para o Desenvolvimento. (Com a devida vénia...).

  1. A propósito do poste P11075, e da foto do fanado em Darsalame, da galeria da AD - Acção para o Desenvolvimento, segue-se um comentário do nosso amigo Pepito (que ontem encontrei no Colombo, com o seu filho Ivan, e um casal amigo, quando íamos, eu e o João, para a nossa sessão de ginásio... Como veem, meus amigos e camaradas, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!... O Pepito está cá porque a senhora sua mãe, decana do nosso blogue, a dra. Clara Schwarz, vai fazer 98 (!) anos no dia 14 deste mês):

Caro Luís

Para as pessoas menos atentas à cultura africana, há o hábito de confundir fanado com circuncisão, o que não é correto.

Nos balantas o fanado é uma cerimónia de passagem de idade, em que o jovem se torna adulto e já pode usar o barrete vermelho (entre outras coisas). Durante a cerimónia, há de facto o fanado, isto é, o corte do prepúcio [, dobra de pele que reveste a glande do pénis,] , tal e qual o fazem os judeus. E ninguém quer eliminar estas cerimónias. O que se quer é conferir maior higiene e evitar a transmissão do HIV/SIDA através da "faca".

É nas etnias muçulmanas, sobretudo, que se dá o fanado das mulheres, isto é a excisão. Essas sim, aplicam o corte do clitóris e são atentórias da dignidade feminina. Pessoalmente acredito que, um dia, esta prática deixará de existir. Até porque cada vez se encontram mais jovens que se recusam ir ao fanado. Vai ser uma luta entre gerações e é lá que ela vai ser decidida. 

Comparando, e uma comparação tem sempre limites, é o que se passa na Europa com a violência física dos homens sobre as mulheres. É uma questão cultural e só a esse nível é que poderá ser combatida definitivamente.

Por isso mesmo deve-se notar que a foto da AD [, à direita,] se refere ao fanado dos homens balantas. 
abraço
pepito

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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11075: (Ex)citações (209): O fanado, visto porcolons e colonizados...(António Rosinha / Cherno Baldé)

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11075: (Ex)citações (209): O fanado, visto por colons e colonizados...(António Rosinha / Cherno Baldé)



Guiné-Bissau > Região de Quínara > Darsalame (vd. carta de Cacine) > Festa do fanado ou cerimónia de iniciação dos jovens em Darsalame.  Foto da Galeria da AD - Acção para o Desenvolvimento, em Bissau, e parceira do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Esta foto foi tirada em 15 de abril de 2009 usando uma Canon Digital IXUS 90 IS. Foto reproduzida com a devida vénia...

"À semelhança de muitas outras etnias, os jovens balantas fazem das cerimónias de iniciação, os chamados Fanado, momentos importantes da sua vida.

É nesta ocasião que lhes são transmitidos os valores individuais e colectivos tradicionais, os segredos que devem guardar, as normas de conduta social, as leis comunitárias e onde os jovens fazem prova da sua coragem e valentia, relatando e demonstrando actos relevantes praticados antes de entrarem para o Fanado.

Durante cerca de 2 meses, os jovens recolhem-se no meio do mato, na barraca do fanado, onde ninguém os volta a ver, limitando-se as respectivas famílias a levar a alimentação de que necessitam. Antes de entrarem, os jovens brincam, fazem jogos e danças, mostrando os seus trajes de rebeldia, muito apreciados por toda a população."

Foto (e legenda): © AD - Acção para o Desenvolvimento (2013). Todos os direitos reservados.

1. Comentários do António Rosinha e do Cherno Baldé ao poste P11070:

(i) António Rosinha:

Estas práticas cerimoniais africanas que hoje se pretende eliminar, eram praticadas no tempo colonial, discretamente, um pouco às escondidas das autoridades coloniais, no caso das ex-colónias portuguesas.

No caso da Guiné, após a independência, passaram a ser praticadas publicamente e com datas próprias assinaladas pelas próprias autoridades.

Só que passou a ser testemunhado passivamente, como se fosse um inofensivo folclore, durante décadas pela UNICEF, OMS, AMI, MSF, médicos e paramédicos de Cuba, que apoiavam aquelas autoridades sanitárias incondicionalmente.

Só agora? antes tarde que nunca.

Antº Rosinha

(ii) Cherno Baldé:

Caros amigos,

Este tema já aqui foi objecto de discussão mas nunca é demais voltar a rebatê-lo pois é importante a sensibilização das pessoas a volta dos nossos problemas sociais e culturais.

Sobre esta problemática já Cabral nos dizia, mais ou menos nestes termos: "devemos manter os aspectos bons da nossa cultura, mas devemos combater e abandonar os que concorrem para manter o nosso povo no atraso e no obscurantismo".

Claro que na altura não tinham declarado guerra aberta a estas práticas, suponho que, pelas mesmas razões porque o Governo colonial não o fazia.

Do meu ponto de vista a excisão feminina resultou, históricamente, de uma simples transposição da circunscisão (fanado masculino) por iniciativa e vontade próprias da mulher, como uma instituição social de purificação, como diz o Luis Graça e também de educação ou socialização das meninas para o exercicio da função e do papel de mulher e como tal não podia ser anterior a islamização do mesmo modo que a circunscisão resulta de uma prática bem conhecida e intimamente ligada a religião que remonta até Abraao, este é o primeiro ponto.

Mas, ao mesmo tempo, a excisão feminina não resulta de nenhuma imposição ou fanatismo religioso como, erradamente, se pode pensar e o "fatwa" proferido pelos Imames no Parlamento, é demonstrativo deste facto. Da mesma forma que também ela não resulta de uma discriminação ou imposição dos homens em relação as mulheres nas nossas sociedades.

A luta contra a MGF, antes de mais, deve ser travada no seio da própria camada feminina, mas também no campo do desenvolvimento integral do Homem em geral (homens e mulheres) e, sobretudo, no dominio da educação.

Lembro que o meu pai não era letrado e vivia no campo, mas o simples contacto com comerciantes Lusos (portugueses e Caboverdianos) nos anos 60 foi o suficiente para abrir os olhos e mudar a sua filosofia de vida e o caminho escolhido para os seus filhos numa época em que as forças do obscurantismo ainda reinavam.

Assim, para as novas gerações da Guiné, a batalha contra a MGF e as práticas culturais consideradas nefastas só poderão ser ganhas se o combate contra a pobreza e o analfabetismo for encarado com firmeza e determinação, mas para isso precisamos de mais e melhor organização, de mais e melhor estado que possa conceber politicas e fixar metas que sejam económica e socialmente exequíveis.

Bem, depois de todo esse trabalho, esperamos que, a seguir, não nos venham a dizer para legalizarmos o casamento gay porque, convenhamos, isto dos direitos humanos pode ser uma verdadeira caixa de pandorra.

Um abraço amigo,

Cherno Baldé
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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11049: (Ex)citações (208): Monóculo de Spínola oferecido ao Museu Etnográfico de Silgueiros - Viseu (Amaral Bernardo)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11070: Recortes de imprensa (64): Ontem, Dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina, cerca de 200 imãs guineenses decretaram, em Bissau, uma fatwa contra o fanado (Lusa / Público)


Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Foto nº 80:  Mulheres, de rosto tapado, na festa do fanado (?)... Ignora-se o que faziam junto ao edifício do comando do batalhão... Fotos do álbum do José Carlos Lopes, ex-fur mil reabastecimentos.

Foto: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Editadas e legendadas por L.G.)

1. Ontem foi o Dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina... A MGF é também conhecida por corte dos genitais femininos, circuncisão feminina, excisão, fanado, sunna, circuncisão faraónica...E ainda se pratica em cerca de três países de África, Próximo Oriente e Sudeste asiático... Portugal, França  e outros países europeus que acolhem imigrantes, nomeadamente da África Ocidental, são também países de risco. Este ano a Organização das Nações Unidas está otimista quanto à possibilidade de, num futuro próximo, ainda se poder pôr fim a esta prática não só atentatória dos direitos humanos como altamente nociva à saúde sexual e reprodutiva das raparigas e mulheres excisadas.

Dados fornecidos pelo International Day of Zero Tolerance of Female Genital Mutilation/Cutting, das Nações Unidas, parecem indicar um decréscimo da prevalência desta prática, em geral, estando a geração mais jovem menos vulnerável  hoje do que no passado.

Nos 29 países da África e do Médio Oriente onde a prática da MGF está concentrada, uma média de 36% de raparigas,  na casa dos 15-19 anos, foram excisadas, percentagem essa bastante inferior à estimada (53%) para as mulheres da faixa etária dos 45-49 anos.  Esse declínio é mais evidente em países como o  Quénia em que a percentagem de mulheres excisadas é três vezes superior à das raparigas entre os 15 e os 19 anos.

Para o director executivo da UNICEF,  Anthony Lake, "este progresso mostra que é possível acabar com a MGF". Estas estimativas recentes produzidas pela UNICEF mostram que pelo menos 120 milhões de meninas e mulheres sofreram MGF / Circuncisão, nestes 29 países. Dadas as tendências atuais, pelo menos 30 milhões de meninas com menos de 15 anos de idade ainda poderão  estar em risco.  

Em  dezembro passado, foi adotada por unanimidade uma resolução da Assembleia Geral da ONU , c condenando a MGF / Circuncisão e convidando os Estados membros a intensificar os esforços para a sua eliminação completa. (A MGF/Circuncisão engloba 4 tipos de práticas: vd. Quadro 1, a seguir).


Fonte: Yasmina Gonçalves - Mutilação Genital Feminina. Lisboa: Associação paar o Planeamento da Família. 2004.


2, Também na Guiné-Bissau surgem algumas boas notícias neste campo. Reproduzem-se aqui excertos de uma notícia da Lusa, publicada no Público, de ontem;


(...) "Líderes islâmicos guineenses pronunciaram esta quarta-feira, no parlamento do país, uma fatwa (um decreto religioso) proibindo a prática de excisão, que afecta cerca de 50% de raparigas e mulheres.

"Cerca de 200 imãs vindos de todas as partes do país assistiram, no parlamento, à leitura da fatwa e declararam solenemente que, a partir de hoje, vão reforçar o apelo para o abandono da prática da excisão, por não ser uma recomendação do Islão".

O influente imã Mamadu Aliu Djaló, da mesquita central de Bissau, que é também o segundo vice-presidente do Conselho Superior dos Assuntos Islâmicos,  declarou que "a excisão não está no Islão, e nos ensinamentos do profeta Maomé também não vimos nada disso, até porque as filhas do profeta, as filhas dos seus discípulos, não foram submetidas à excisão. Isto é um uso e costume de certas comunidades islâmicas”.

Segundo a fonte que estamos a citar (Lusa / Público),  "o presidente do parlamento guineense, Ibraima Sory Djaló, que presidiu ao acto, declarou que se alcançou “um grande marco” no país com a adopção da fatwa, o que, disse, vai ao encontro da lei aprovada pelos deputados em 2011 criminalizando a prática. “Esperamos agora que a lei seja respeitada, para que não seja necessário que se prendam pessoas por causa da excisão” na Guiné-Bissau, declarou Sori Djaló, apelando, contudo, para o reforço da divulgação da lei.

Ainda segundo a Lusa / Público:

(...) Para Fatumata Djau Baldé, presidente do Comité Nacional para o Abandono de Práticas Tradicionais Nefastas à Saúde da Mulher e da Criança, um consórcio de 18 ONG guineenses e estrangeiras, “hoje é um grande dia” na luta contra “a tragédia silenciosa que afecta cerca da metade das raparigas e mulheres” da Guiné-Bissau. “Hoje é um dia histórico. Não ganhámos a guerra contra a excisão, mas alcançámos uma grande conquista contra essa prática degradante para a saúde da mulher guineense”, disse Djau Baldé, emocionada. [Ela própria foi vítima, em criança, da MGF].

O ministro da Saúde Pública guineense, Agostinho Cá, considerou o dia de hoje como sendo aquele em que se prestou um dos melhores serviços ao povo com a adopção da fatwa “pelos chefes religiosos” islâmicos, “proibindo uma prática secular” que se caracteriza pela submissão da mulher a situações “atentatórias da sua dignidade”.

Assistiram à leitura e adopção da fatwa, a primeira a ser pronunciada na Guiné-Bissau, elementos do corpo diplomático e o representante adjunto do secretário-geral das Nações Unidas, Gana Fofang, que é também o coordenador do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) no país.

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Nota do editor:

Último poste da série > 12 de janeiro de 2013 > Guiné 63/74 - P10931: Recortes de imprensa (63): Homenagem, em maio de 2008, ao tenente capelão Joaquim Ferreira da Silva, jesuíta, natural de Santo Tirso, que pela sua coragem e lucidez terá evitado um banho de sangue no campo de prisioneiros de Pondá, Goa, em 19 de março de 1962 (JN- Jornal de Notícias, 12/5/2008)

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Guiné 63/74 - P10663: Álbum fotográfico de Armindo Batata, ex-comandante do Pel Caç Nat 51 (Guileje e Cufar, 1969/70) (11): População civil da região de Tombali


Foto nº 71


Foto nº 74


Foto nº 75


Foto nº 76


Foto nº 77


Foto nº 83


Guiné > Região de Tombali > s/l > c. 1969/70 > Últimas  fotos do álbum do Armindo Batata, ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 51 que esteve em Guileje (desde janeiro de 1969) e depois em Cufar (1970, provavelmente, cerca de 9 meses). Em Dezembro 1969/Janeiro 1970 estava em Cacine, vindo de Gadamael, em LDM, "em trânsito para Cufar". Ficaram "uns dias em Cacine", antes de prosseguirem viagem, também em LDM, para Catió. (*) 

Estas fotos fazem parte de um lote de largas dezenas, cedidas pelo Armindo Batata ao Núcleo Museológico Memória de Guiledje. Não tinham legendas, estando distribuídas por 4 grupos: (i) Guleje, (ii) Cacine (Dez 69); (iii) Cufar e (iv) Outros locais. As fotos que hoje reproduzimos, pertencem a este último grupo, e retratam população civil.  Aguardamos que o fotógrafo nos ajude a legendá-las. As fotos nº 71, 74 e 75 podem estar relacionadas com a festa do "fanado" feminino... Em princípio, terão sido tiradas em Guileje ou Cufar, as duas localidades onde o fotógrafo passou mais tempo

Fotos: © Armindo Batata (2007) / AD - Acção para o Desenvolvimento. Todos os direitos reservados [Fotos editadas por L.G.]

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Nota do editor:

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8959: (In)citações (35): Ainda a Mutilação Genital Feminina (MGF), Excisão ou Fanado Feminino (J. Pardete Ferreira)



S/l > s/d > "Esta é uma imagem do 'peditório' para ajudar o 'ronco' do fanado. Neste caso masculino". [Imagem possivelmente retirada do livro Le noir d'Afrique, 1943].






Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto ou Canchungo > 1969 > "Nha manjaco arfero Mil Médico José Pardete Ferreira com mininos pró fanado fora do arame farpado"


Fotos (e legendas): © J. Pardete Ferreira (2011). Todos os direitos reservados.

1. Sobre o tema  candente, atualíssimo, da Mutilação Genital Feminina - problema de grande conflitualidade teórico-etnológica, de saúde pública, de direito penal e de direitos humanos - , já aqui abordado diversas vezes no nosso blogue, recebemos ontem, 27, o seguinte texto do nosso camarada, médico, reformado, José Pardete Ferreira (ex- Alf Mil Med, CAOP, Teixeira Pinto; HM241, Bissau, 1969/71):


Assunto - Ainda sobre a  MGF

A MGF [, Mutilação Genital Feminina], por vezes chamada de Excisão e mais raramente Fanado Feminino, pese embora o facto de, nos tempos que correm, ser uma verdadeira barbaridade, na sua origem foi uma necessidade fisiológica.


Assim, [apontam] os estudos antropológicos dos médicos do Serviço de Saúde das Colónias, quase todos, se não mesmo todos médicos, médicos do exército francês. 

Este texto é apenas uma súmula extraída do livro Le noir d’Afrique, anthropo-biologie et raciologie, escrito pelo Dr. G. Lefrou, Médico Chefe de 1ª classe do Corpo de Saúde Colonial, distinguido pelo Instituto e pela Academia das Ciências Coloniais. O livro foi publicado em 1943 pelo editor Payot, Paris [429 pp.], vd. páginas 235/236. [, foto da capa à esquerda].

Quanto ao citado, encontramos o facto de, na Abissínia, Somália e certas regiões do Sudão, as mulheres terem um clítoris de tal maneira desenvolvido que fazia lembrar a dos indivíduos hermafroditas. No coito, tal anomalia tornava extremamente difícil a penetração do pénis na vagina, com todas as consequências que tal situação implica, nomeadamente a propagação da espécie, pelo que a MGF se tornou uma necessidade.

Vem descrito por Loth, publicado por Hyrtl em 1881,  que quando o cristianismo foi introduzido na Abissínia [, hoje Etiópia,] , a Igreja proibiu esta mutilação, o que provocou a revolta dos homens e teve como consequência o envio pelo Papa de uma missão especial que inquiriu e acabou por aprovar a necessidade de tal operação.

Assim, o que foi uma necessidade fisiológica, rapidamente se espalhou por toda a África, passando a aplicar-se a torto e a direito, de forma indiscriminada, nalguns casos por espírito de imitação, eventualmente tornado religioso, entre as etnias animistas e algumas muçulmanas (esta última citação é minha e não vem no texto).

José Pardete Ferreira

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8501: Os nossos médicos (33): O meu grupo de combate: um forcado, um fanateca... (J. Pardete Ferreira)

1. Mensagem de J. Pardete Ferreira:
Data: 1 de Julho de 2011 16:37
Assunto: Forcado! Circuncisão! Jeep GT





Desculpa-me,  caro camarigo, mas com o entusiasmo já não encontro o texto, que suponho ser do António Paiva.

Com efeito, no que eu chamava o meu Grupo de Combate, composto por três soldados/cabos europeus e dois africanos, eu tinha um que tinha sido forcado e foi talvez, quem lhe enfiou o tal supositório até ao pescoço. Tinha força que nem uma besta, cento e tal quilos de peso e os touros já lhe tinham fracturado nove costelas.

Uma noite, oiço um cagarim infernal... era sua excelência que estava a partir os vidros dos armários que estavam nas escadas e que continham o material para a sala de Pequena Cirurgia:
- Ah! Chefe!!! - Era a maneira como ele me chamava...Bêbado que nem um odre, mas com um sorriso de puto que fez uma burrice.

Bem, arranjamos as coisas como podemos e, em conjunto com o Sargento de Dia e mediante o pagamento dos vidros e a limpeza e arrumação daquela montureira, deixámos a coisa por ali. No Hospital, se tivesse havido participação, pelo menos uma ida para o Mato estava assegurada e para um local de "férias" asseguradas (porrada todos os dias!).

Já que falei em grupo de combate e em soldados africanos, disseram-me que um dos meus meninos era o "fanador" [, fanateca, em crioulo, ] lá do sítio.

Com a minha maluqueira, um dia, indo fazer uma circuncisão, intervenção que era feita, usualmente, na sala de pequena cirurgia, indiquei-o para me ajudar: ensinei-o a desinfectar-se, a pegar nos instrumentos, transmiti-lhe a proibição de fazer qualquer gesto antes de eu mandar e lá fomos.

A intervenção foi feita sem qualquer incidente e, no final, pedi-lhe um comentário:
- Assim dá muito trabalho, como eu faço é mais rápido!

 Ora toma!!! E a malta cá fora, ria a bom rir.

Camarigo António Paiva, o teu substituto era doido por mecânica. O teu jipe passou a GT, com um cantar conhecido e que, com o pára-brisas sobre o capô, tinha o melhor ar condicionado do mundo. Podes estar tranquilo: o teu jipe ficou em boas mãos.

Alfa Bravo para o interessado.

José Pardete Ferreira

PS - Antes de acabar: o Helder Sousa é de Setúbal e ainda não dei por ele. Seria giro encontrarmo-nos e irmos cravar um copo ao Benjamin [Durães]. Valeu?

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Nota do editor:

sábado, 7 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8238: Tabanca Grande (279): Manuel Domingos Santos, ex-Fur Mil da CCAÇ 1684/BCAÇ 1912 (Susana e Varela - 1967/69)

1. Mensagem do nosso novo camarada e amigo Manuel Domingos Santos, ex-Fur Mil da CCAÇ 1684/BCAÇ 1912, Susana e Varela, 1967/69, com data de 4 de Maio de 2011:

Camarada Luís Graça
Depois de ter feito o meu primeiro contacto com os Camaradas da Tabanca Grande em Dezembro último (P7451 - Livro de visitas 104*), venho agora com grande desejo de entrar na grande família da TABANCA GRANDE.

Apresento-me:
Manuel Domingos Santos
Ex-Furriel Miliciano
Batalhão 1912-Companhia 1684
Guiné - Susana e Varela
Maio de 1967 a Maio de 1969
E-mail: domingossantos44@gmail.com


Entrei na vida militar em 11 de Janeiro se 1966 no CISMI em Tavira, onde fiz a recruta e a especialidade, até Junho do mesmo ano.

Depois da especialidade de atirador (não havia outra especialidade nessa altura) ou não nos deram outra a escolha, fui com outros camaradas obrigado a fazer testes para ir formar uma Companhia de Comandos para Lamego. Fizemos os testes ainda em Tavira, testes bastante difíceis e rigorosos, basta dizer que no meu grupo de vinte e cinco só ficamos seis aprovados.

Depois de uns dias de férias a descansar em casa, lá fui de comboio até Lamego, mais propriamente Lamelas, um pouco afastada de Lamego, no cimo de um monte junto a um cemitério. Aqui permanecemos durante uns tempos a treinar tudo o que nos esperava nas guerras do Ultramar. Aprendiamos e aperfeiçoávamos a lidar com as várias armas, enfermagem, minas e armadilhas, pára-quedismo e tudo o que dizia respeito a poder sobreviver no mato vários dias sem comer nem beber.

Só para dar uma ideia do que era, basta dizer que não tínhamos horas de descanso nem de noite nem de dia. A qualquer hora da noite íamos fazer patrulhamentos, dar uns tiros na carreira de tiro, fazer instrução para dentro do cemitério, tudo isto e muito mais. Nesse tempo tudo isto era realmente difícil e complicado, mas depois já no cenário de guerra foi realmente muito útil para mim e para os que eu levava para o mato.

Depois no final, não segui com a Companhia de Comandos para Angola, aqui já não obrigado, mas sim se tivesse essa vontade. Falava-se nessa época que iríamos dar instrução a futuros Comandos em África.

Como não segui com essa Companhia, fui para o RAL 1 em Lisboa dar instrução durante dois meses. Depois vim para perto de casa, RI 7 em Leiria, onde estive dois meses, até que fui para Santa Margarida para me incorporar no Batalhão que me levou a terras da Guiné.

No dia 8 de Abril de 1967 embarcámos no velhinho "UIGE" e desembarcámos em Bissau a 13 do mesmo mês.

O Batalhão seguiu para Mansoa e a minha Companhia ficou um mês em Bissau no quartel da Amura, à espera de ir para Susana e Varela.

Susana era uma tabanca não muito grande, mas tinha um povo muito grande, muito guerreiro, muito unido e muito do nosso lado. Armados com arco e flecha nada os fazia temer. Guardavam bem o seu chão "O CHÃO FELUPE".

Na minha passagem por Susana, não posso deixar de falar do amigo João Uloma, o grande guerreiro Felupe e chefe de toda a zona Felupe, que ao sair para patrulhamentos era sempre o primeiro e todos os outros o seguiam logo atrás. Era temido por aqueles que combatiam contra nós e contra os Felupes, e nessa época já tinha a cabeça a prémio, isto dito por alguns combatentes do PAIGC que apanhamos em operações.

Vim a saber mais tarde por camaradas nossos que por lá passaram depois, e confirmado por um amigo susanense que se encontra em Portugal a trabalhar, que o tinham matado. Foi um grande guerreiro e um grande condutor de homens. Veio à metrópole em 1968 com o prémio Governador da Guiné, e no dia 10 de Junho em Lisboa recebeu uma medalha de Grande Mérito Militar.

Nesta foto, João Uloma no dia dos seus anos. Não era normal ele festejar os anos, mas nesse dia aconteceu. Eu e mais dois camaradas fomos a casa dele fazer esta surpresa.

Aqui está a prova de como os Felupes agiam com os ataques. Depois de sermos atacados durante a noite, ei-los vindos de Tabancas bem longínquas a chegarem para nos ajudar a combater o inimigo. Alguns caminharam a pé durante várias horas para aqui chegarem, armados de arco e flecha

Havia também em Susana outras pessoas que nos marcaram nesse tempo. Falo de um casal maravilhoso que era a D. Helena e seu marido José Valente, que foi militar antes de nós e que por lá fico com essa Senhora que tinha um negócio de vários artigos. Era tudo para nós. Mãe, Madrinha, Namorada, enfim tudo aquilo que nós não tínhamos lá. Fazia-nos grandes petiscos bem apetitosos á sua maneira, e acolhia-nos como seus filhos se tratasse.

Nesta foto José Valente com o seu bigode característico. De vez em quando também nos fazia companhia na nossa messe. Era homem da casa.

Aqui estamos no seu terraço a comer um petisco. Ao fundo, penso ser a sua filha, que segundo sei será hoje a senhora que tem a residencial CHEZ HELENE em Varela.

Aqui também nos honrou com a sua presença na passagem do ano de 1967 para 1968. Está ao fundo com o seu bigodito.

Nesta foto, a sua residência que nos vários ataques que sofremos também não escapou aos efeitos da guerra.

Estrada de Susana para Varela > Esta situação era vulgar acontecer no nosso tempo. Havia uma grande extensão de bolanhas que nos meses das chuvas ficavam cobertas de água. Era também uma boa oportunidade para sermos atacados como aconteceu algumas vezes.

Foi bem perto de Cassolol que tivemos uma mina na ponte e de seguida confronto de tiroteio, de que resultaram dois mortos e vários feridos. A viatura onde seguíamos ficou neste estado.

Cassolol > Deixamos lá este pequeno monumento dedicado à nossa Companhia "Pantera 1684", com os nomes dos nossos mortos.

Susana > Monumento aos mortos da CCAÇ 1684

O Fanado > Eu e o mais novato dos que foram fazer a circuncisão.

Ao falar de Susana e dos Felupes, é obrigatório também falar do Fanado, ou Circuncisão que se realiza de trinta em trinta anos. Eu tive o privilégio de assistir no ano de 1968, pois o seguinte foi em 1998.

Recordo-me que nessa cirurgia que era feita aos Felupes, nesse ano não houve mortes porque fomos autorizados a assistir e a fazer a higiene necessária, ao contrário dos anos anteriores que houve sempre mortos.

No final do Fanado, em que os Felupes estão isolados na mata durante cerca de dois meses sem poderem ver os familiares, há festa e apresentam-se aos familiares e amigos em traje de gala.

Durante o tempo que estão na mata depois da circuncisão, eles fazem festa durante o dia e noite. Diziam que era para não sentirem as dores do acontecido. E diziam que durante o tempo que estavam por lá, não seriamos atacados. Foi o que aconteceu. Tinham medo dos Felupes nessa altura, pois ganhavam mais força, e tornavam-se ainda mais agressivos.

Susana > O fim do Fanado > Estes são os adultos vestidos a rigor prontos para o fim da festa. À frente está o chefe dos Felupes que era o pai do grande amigo João Uloma.

Os Felupes e as lutas > Eu no meio dos vencedores

Eu a apreciar as lutas

A morte > Na etnia Felupe era normal o defunto ser colocado numa poltrona e ser velado pelos familiares com cânticos antes de ser enterrado. Ali estava uns dias e depois desaparecia sem nos apercebermos de mais nada.

Aqui era o cemitério dos crânios e dos objectos de feitiçaria.

Fotos: © Domingos Santos (2011). Todos os direitos reservados


Este é um pequeno resumo do que foi a minha passagem na vida militar. Foram 1225 dias com a farda militar vestida. Uns dias melhores outros menos bons como todos os camaradas que por lá passaram. Todos nós temos imensas histórias para contar, só que por vezes não temos a coragem de as deitar cá para fora.

Estão cá dentro guardadas, e não temos a coragem de as contar, a não ser em convívio com outros camaradas que também por lá passaram.

Um forte abraço para todos aqueles que trabalham e procuram dar voz aos que combateram em terras de África.

2/05/2011
Domingos Santos

[Edição de fotos, revisão e fixação de texto: Carlos Vinhal]


2. Comentário de Carlos Vinhal:

Caro Domingos Santos,
Bem-vindo à família do Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné. Instala-te na Tabanca e continua com as narrativas da tua vivência numa das zonas mais características da Guiné, o Chão Felupe. A tua apresentação promete.

Como muito bem dizes no fim deste teu trabalho ora publicado, as nossas histórias, só as ouvem e entendem quem passou por experiências similares. Portanto este é o local ideal onde, à vontade, poderás escrever as tuas memórias porque estás entre pares.

Temos na tertúlia um camarada que se dedicou a observar os usos e costumes dos Felupes, pois como tu, também esteve em Susana, estou a falar do ex-Fur Mil TRMS Luís Fonseca da CCAV 3366/BCAV 3846, que embora há muito não nos mande nada, deixou-nos uns óptimos apontamentos sobre esta etnia. Podes aceder a eles clicando nas palavras Felupes e/ou Luís Fonseca, na cor laranja e sublinhadas.

Porque este poste está já muito longo, deixo-te um abraço de boas vindas em nome da tertúlia e dos editores, e os votos de uma colaboração profícua.

Deste teu camarada e novo amigo segue também um abraço fraterno
Carlos Vinhal
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 16 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7451: O Nosso Livro de Visitas (104): Camaradas da Guiné (Domingos Santos)

Vd. último poste da série de 21 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8145: Tabanca Grande (278): Jorge Manuel Magalhães Coutinho, ex-Alf Mil OpEsp/RANGER da CCS/BCAÇ 4610/73 (Piche, Bissau – 1974)