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quarta-feira, 4 de março de 2009

Guiné 63/74 - P3979: Nuvens negras sobre Bissau (15): Morreu o Comandante Nino (David Guimarães)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Xitole > 1970 > Vista aérea do Xitole (aquartelamento, posto administrativo e tabanca), localizado perto da margem direita do Rio Corubal. O sector L1 era essencialmente composto pelo triângulo Xime - Bambadinca - Xitole (havia ainda o Cuor, a norte do Rio Geba). O PAIGC tinha, praticamente desde o início da guerra, uma forte presença, em homens armados e em população civil ao longo na margem direita do Rio Corubal (região rica em bolonhas e em florestas-galeria, como a Mata do Fiofioli). Nino também conheceu bem esta zona. Não sei se alguma vez terá ouvido a viola do Guimarães a gemer o fado de Coimbra... Em contrapartida, o Guimarães levantou-lhe as suas minas e armadilhas... Mas nunca as devolveu...

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados



Porto > Maio de 2006 > O David David Guimarães e o António Marques Lopes, dois históricos do nosso blogue, e que são também figuras conhecidas e populares da Tabanca de Matosinhos, encontrando-se regularmente, todas as semanas, ao almoço de 4ª feira, no Restaurante Milho Rei... Como eu costumo lembrar, foram os primeiros, a atabancar, logo em Maio de 2005, no nosso blogue, por mão do Sousa de Castro (se a antiguidade fosse um posto, entre nós, eles os três já hoje eram generais de muitas estrelas)... Por razões circunstanciais, não têm aparecido este ano no nosso blogue.

Foto: © David J. Guimarães (2006). Direitos reservados



1. Mensagem do camarada nº 3, em termos de antiguidade, da nossa Tabanca Grande, o David Guimarães (ex-Fur Mil At Atilharia e Minas, Xitole, sede da CART 2716 / BART 2917, 1970/73), que vive em Espinho, é funcionário da Segurança Social, reformado, e membro do Grupo de Fado de Coimbra do Choupal até à Lapa.


Assunto - Lamento (*)

Nino Vieira... Morre um Presidente de um País que afinal a nós nos é querido, um país que por força de convicções e época nós todos evitamos que se constituísse mais cedo - era assim.

Para mim hoje morre um homem que ontem lutou em favor de sua Pátria e morre às mãos de seus irmãos guineenses. Não me interessa as circunstâncias porque foi morto e se tinham ou não razão para tanto ódio, mas para matar, NÃO.

Curvo-me perante um Comandante, herói da Guiné Bissau, que, quando da minha comissão, lutou nas fileiras do PAIGC exactamente na região onde perstei serviço - a confirmação era dele... E que viveu em Vila Nova de Gaia e de que Luís Cabral faz menção no seu livro Crónica da Libertação .

Morreu, para nós, ex-combatentes, o Comandante Nino, Presidente democraticamente eleito da Guiné-Bissau, um ser humano e isso é que tem significado - NÃO HÁ DIREITO, que se acabe com ninguém nem ninguém tem o direito de matar.

Toda a argumentação de morte adivinhada, anunciada, etc., etc., não cabe nestes parágrafos sob risco de ingerência, embora eu entenda que haja essa tentação, porque também conheci outros comandantes que morreram também desta forma, mas isso é de outro capítulo que não este.

David Guimarães

Ex-Furr Mil At Artilharia e Minas
Xitole 1970/1972

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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 4 de Março de 2009 >Guiné 63/74 - P3978: Nuvens negras sobre Bissau (14): N' cansa tchora guine (Anastacio di Djens / Luís Graça)

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3320: Historiografia da presença portuguesa em África (8): Abdul Indjai, herói e vilão (Beja Santos)

1. Mensagem de Beja Santos, de 15 de Outubro:

Assunto - Abdul Injai, o maior herói-vilão da Guiné Portuguesa

Nenhuma outra figura guineense do período colonial se revelou tão paradoxal, suscitou tanta paixão nas admirações e ódios, sobretudo no chamado período da «pacificação», que se estende até 1936.

Os relatos são muito contraditórios, é patente a falta de objectividade das diferentes fontes de exaltação e detracção. Abdul Injai era um djalôfo (oriundo do Senegal, não da Gâmbia, como às vezes se lê), trabalhou como criado em Bissau e aparece em 1913 ao lado de Teixeira Pinto, na campanha do Oio, onde se distingue pela sua incontestável bravura. Acompanha Teixeira Pinto em novas surtidas, sobretudo em Bissau e arredores, é reconhecido como herói, à semelhança de Mamadu Sissé.

O prémio foi a sua nomeação para régulo do Oio e do Cuor, nesta última região terá tido um comportamento bárbaro, deu provas de saqueador e chefe de bando que praticava roubos abomináveis. Depois, começou a ser contestado no Oio pelas arbitrariedades, desafiou as autoridades de Bolama, o governador mandou uma coluna militar, em 1919, veio preso, foi desterrado primeiro para Cabo Verde, veio a morrer na Madeira.

O seu nome é referido como de combatente destemido que se corrompeu seduzido pelo oiro, por se ter posto à frente de rapinantes. Ele que garantira morrer a combater foi capturado e deixou-se levar como um qualquer preso de delito comum.

Lânsana Soncó, o almani de Missirá, foi a 1ª pessoa que me falou da sua lenda. Prometo estudar melhor tão contraditória e paradoxal figura.
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Nota de L.G.:

(1) Vd postes anteriores desta série:

18 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P882: Historiografia da presença portuguesa (1): Infali Soncó e a lenda do Alferes Hermínio (Beja Santos)

7 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P944: Historiografia da presença portuguesa (2): Colaboradores, precisam-se (Nuno Rubim)

14 de Setembro de 2006 >Guiné 63/74 - P1071: Historiografia da presença portuguesa (3): Mandingas soninqués, animistas, islamizados à força (Paulo Santiago / Beja Santos)

19 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1089: Historiografia da presença portuguesa (4): Mitos e realidades (Beja Santos)

20 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1615: Historiografia da presença portuguesa (5): O Capitão Diabo, herói do Oio, João Teixeira Pinto (1876-1917) (A. Teixeira-Pinto)

27 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2586: Historiografia da presença portuguesa (6): O Prof René Pélissier e o Mário Inácio Góis (Virgínio Briote)

11 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3194: Historiografia da presença portuguesa (7): Alf Marques Geraldes, um homem de honra e de carácter (Beja Santos)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2569: Tugas - Quem é quem (3): João Bacar Djaló (1929/71) (Virgínio Briote)

Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério (colonial) > Abril de 2006 > Restos de lápides funerárias de soldados portugueses cujos corpos por aqui ficaram. Como o guineense Capitão Comando João Bacar Jaló, natural da Guiné, morto em combate em 16 de Abril de 1971.

Foto: © A. Marques Lopes (2006). Direitos reservados


João Bacar Djaló (ou Jaló), ou só João Bacar, foi um dos nomes que passou à história da Guerra na Guiné. De quem, todos ou quase todos de nós, ouviram falar.

João Bacar Djaló

Até ser graduado em capitão, João Bacar participou em cerca de 350 operações. De Quinara a Cacine (Tite, Cufar, Cachaque, Caiora, Darsalame, S. João, Como) não havia trilho nem aldeia que não conhecesse.-

Da sua folha de serviços constam numerosos louvores, realçando não só a actividade militar mas também os esforços que fez para subtrair e proteger as populações do aliciamento da guerrilha.

De Comandantes de Batalhão com quem trabalhou até ao Comando-Chefe, de todos recebeu elogios pela capacidade operacional de que foi dando provas ao longo da Guerra que travou, desde o início do conflito até à sua morte em combate, em Abril de 1971.

A cumular as duas Cruzes de Guerra com que já tinha sido agraciado, foi-lhe atribuído em 10 de Junho de 1970, na Praça do Comércio em Lisboa, o grau de Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.

E na cerimónia do 10 de Junho do ano seguinte, o Governador e Comandante-Chefe, General António de Spínola, condecorou-o a título póstumo, na pessoa do irmão, Saído Jaló, com a Medalha dos Serviços Distintos com Palma.

Em 16 de Abril de 1971, segundo o relatório da operação Nilo, (…)João Bacar ao correr abnegadamente em socorro de um soldado que fora ferido, indiferente ao fogo cerrado, foi vítima de uma explosão que lhe causou a morte (…).

Guiné-Bissau > BIssau > Campa de João Bacar Djaló. As minhas desculpas e os agradecimentos devidos ao autor da foto que ainda não consegui identificar. Julgo que não seja do nosso camarada A. Marques Lopes que esteve no antigo cemitério de Bissau, aquando da sua viagem à Guiné-Bissau, em Abril de 2006 (O co-editor vb).

Notícias da época dão conta das circunstâncias em que decorreu o funeral. Um autêntico choro colectivo de milhares de pessoas, militares e civis, um acontecimento nunca visto até então na Guiné.

Nasceu em Cacine (Catió) em 2 de Outubro de 1929, filho de Sajo Jaló e Fatuma Só.

Alistado no Exército, voluntariamente aos vinte anos, prestou serviço de 1 de Março até Junho de 1951 (2ª CCAÇ, Bolama).

Nesse mesmo ano ingressou na Administração Civil de Bissau. Primeiro, durante 1952, como funcionário no Palácio do Governo, depois, até 1958, na Administração Civil, em Bissalanca, Antula, Prábis e Safim.

Entre 1958 e 1961 foi fiscal de fronteira no Sul, e em 1961 foi nomeado Comandante de ronda na vila de Catió, onde desempenhou também as funções de oficial de diligências do Julgado Municipal.

Com o início das acções armadas, João Bacar, então com 33 anos, alistou-se de novo, passando a ser o Comandante de Caçadores Naturais da Província.

Muito depressa ganhou fama. Em 8 de Junho de 1965 foi graduado em Alferes de 2ª linha, numa cerimónia em Catió, onde há pouco tempo tinha ascendido a régulo.

Várias vezes aliciado por Comissários Políticos do PAIGC, sempre disse não, apesar das ameaças e represálias de que ele e os familiares foram alvo.

João Bacar foi depois nomeado Comandante da Companhia de Milícias nº 13, onde continuou a revelar-se, segundo os documentos militares e os testemunhos da época, um combatente de excepção.

Um ano depois era Tenente de 2ª linha e, nessa altura, foi convidado, juntamente com alguns naturais do território, a frequentar um Curso de Oficiais.

Catió, 1967. Tenente João Bacar Jaló.

Foto e legenda: © Benito Neves, ex-Fur Mil da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67). Direitos reservados.

Em 4 de Junho de 1970, já como Capitão do Exército Português, foi-lhe confiado o comando da 1ª Companhia de Comandos Africana.

Com anos e anos de experiência de acções armadas, João Bacar tornou-se conhecido em toda a Guiné e, segundo relatos de antigos guerrilheiros do PAIGC, o seu nome metia respeito.

Terminou a sua vida como um ídolo, odiado e amado.

Virgínio Briote,
Ex-Alf Mil Comando, Brá, 1965/66
__________

Nota de vb:

Ver artigos de:

10 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2340: Pami Na Dondo, a Guerrilheira, de Mário Vicente (5) - Parte IV: Pami e Malan são feitos prisioneiros (Mário Fitas)

4 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2239: Tugas - Quem é quem (2): António de Spínola, Governador e Comandante-Chefe (1968/73)

23 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2207: Tugas - Quem é quem (1): Vasco Lourenço, comandante da CCAÇ 2549 (1969/71) e capitão de Abril

Ver também:

20 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1769: Estórias do Gabu (4): O Capitão Comando João Bacar Jaló pondo em sentido um major de operações (Tino Neves)

8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1502: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (8): Com Bacar Jaló, no Cantanhez, a apanhar com o fogo da Marinha

30 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXIX: Do Porto a Bissau (23): Os restos mais dolorosos do resto do Império (A. Marques Lopes)

31 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXXVII: A 'legenda' do capitão comando Bacar Jaló (João Tunes)

11 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - CIII: Comandos africanos: do Pilão a Conacri (Luís Graça)

domingo, 20 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2461: Pensar em Voz Alta (Torcato Mendonça (7): Dois heróis, dois homens com valores, Domingos Ramos e Mário Dias

Guiné-Bissau > Nota de cem pesos, já fora de circulação, com a efígie de Domingos Ramos, herói nacional, e amigo do nosso Mário Dias. Em primeiro plano, a imagem também de uma moeda, com a efígie do Domingos Ramos (1).

Foto: © Torcato Mendonça (2008) . Direitos reservados.


1. Mensagem do nosso amigo, camarada e habitual colaborador Torcato Mendonça (Fundão):

Caro Editor e Co-Editores:

Podia não escrever; podia anexar só a foto com um abraço; podia ficar mudo e quedo, como o fiz após a leitura do Post – 2435, de 12 de Janeiro último (Série PAIGC - Quem foi Quem), sobre Pansau Na Isna, herói da Guiné e cujo teor, em parte discordo, noutra interrogo-me e, noutra ainda, prefiro nada mais dizer.

Questionei-me só no seguinte: quantos portugueses, tão letrados como o tal guineense, sabem quem foi D. João I, II, IV ou VI, ou o Aristides Sousa Mendes, o General Sousa Dias, ou citar o posto e o nome de 6 (seis), 5 (cinco) ou 4 (quatro) Capitães de Abril… Podem começar, como geralmente começam: Senhor Coronel…

Outras Vidas de Tantas Vidas… só queria mandar a foto… Haverá heróis portugueses da dita guerra do ultramar, colonial ou de libertação!?

Há um, perdão dois Homens, que são a principal razão do escrito: um o que tem o seu rosto na moeda e na nota, e o outro o nosso Camarada Mário Dias. Dois Homens com uma História fabulosa e digna de figurar como Símbolo da Grandeza de Homens que foram Combatentes.

Foi, curiosamente, um ex-comando (6ª, 7ª Companhia de Comandos, Angola e Moçambique?) meu velho amigo, proprietário de uma lojita de antiguidades e afins que, sabendo-me coleccionador numismático, ajuntador de eteceteras e ex – combatente da Guiné me mostrou hoje, entre outras, estas duas peças. De pronto as agarrei e fiz agora a foto.

Quem for a Guileje deve, com facilidade, encontrar estes espécimes mas, encontrem ou não, envio a foto em humilde e singela Homenagem a dois Homens, Amigos/Irmãos, a servirem de exemplo a todos os ex-combatentes, num Mundo tão carenciado de certos valores…

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Notas dos editores:

(1) Vd. poste de 12 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2343: PAIGC - Quem foi quem (5): Domingos Ramos (Mário Dias / Luís Graça)

(2) Vd. postes de:

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCI: Domingos Ramos, meu camarada e amigo (Mário Dias)

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIII: Domingos Ramos e Mário Dias, a bandeira da amizade (Luís Graça / Mário Dias)

2 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCIV: O segredo do Mário Dias, ex-sargento comando

sábado, 12 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2435: PAIGC - Quem foi quem (6): Pansau Na Isna, herói do Como (Luís Graça)

1. Texto do editor L.G.:

PAIGC - Quem foi quem > Pansau Na Isna, herói do Como (1)

- Pansau Na Isna… Sabe quem foi ? – pergunto eu a um médico, guineense, meu aluno, filho de um antigo comandante da guerrilha, que actuou no Morés, entre 1963 e 1974.
- Sim, sei que é um dos nossos heróis nacionalistas.
- Sabe quando e onde morreu ? E em que circunstâncias ?
- Infelizmente, não sei…

Para a população, fracamente escolarizada da Guiné-Bissau (que tem quase 50 % de analfabetos) e sobretudo para os mais jovens (mais de 40% da população tem menos de 15 anos e apenas 3% tem mais de 65), população essa que já não têm quaisquer memórias da luta de libertação, Pansau Na Isna é apenas o nome de uma das principais avenidas da capital, Bissau (onde, por exemplo, a OMS tem a sua representação e onde fica o Hospital Nacional Simão Mendes, e a sede de diversas organizações nacionais e estrangeiras).

Eu também não sabia responder à pergunta, para vergonha minha… (Nunca ouvi o nome dele, no meu tempo de Guiné, 1969/71; também nunca estive no sul, do outro lado do do Rio Corubal). Só soube, há dias, através do episódio da série A Guerra, que passou na RTP 1, no dia 18 de Dezembro de 2007, que o Pansau Na Isna era um dos três comandantes do PAIGG que combateram os portugueses, na Ilha do Como, durante a Op Tridente.

De origem camponesa e de etnia balanta, lá encontrou a morte. Ele e outro comandante. Percebi isso do depoimento do único sobrevivente dos três, cujo nome não retive (Agostinho ?). Pansau Na Isna terá sido morto pelos fuzileiros navais. Os seus restos mortais repousam hoje, no Forte da Amura, ao lado de outros heróis da luta de libertação como Amílcar Cabral, Domingos Ramos e Titinha Silá.

A seguir à independência, Pansau Na Isna foi efígie de uma nota de 50 pesos (de que reproduzimos uma parte), moeda que hoje já não circula, substituída pelo CFA, uma moeda regional…

Foi também título de canção, criada e interpretada pelo popular conjunto musical, dos anos 70/80, Super Mama Djombo, no seu álbum Super Mama Djombo (2003, etiqueta: Cobiana). Este grupo musical, sob a liderança de Adriano Atchutchi, estilizou a música tradicional e deu ao conhecer ao mundo (e às gerações mais novas da população guiense), ao ritmo do estilo Gumbé, o que foi o sonho de Amílcar Cabral, a luta de libertação e a esperança dos guineenses no futuro... A origem do grupo remonta a 1973...

Diga-se, de passagem, que é (ou foi) um grupo carismático, mítico, cuja música merece ser conhecida por nós, ex-combatentes, cotas... Aqui fica uma cheirinho desse fabuloso grupo e do seu mítico álbum de 2003 (gravado em Portugal em 1979), que é obrigatório comprar e ouvir muitas vezes... Na canção sobre sobre Pansau Na Isna diz-se que ele foi um um homem grande... Sobre a importância do grupo pode ler-se aqui:

One of the great West African electric roots bands of the 70's and early 80's. With five interlocking electric guitars and several-part vocal harmonies, this fifteen-person orchestra blazes through fresh interpretations of traditional rhythms (...).

Retomando o 9º e último episódio da 1ª Série do programa A Guerra (1):

Do lado português, bem gostaria de ter ouvido o testemunho do meu querido amigo e nosso camarada Mário Dias, que tem três notáveis textos, na 1ª série do nosso blogue, sobre a Op Tridente (e que merece ser reproduzido, novamente, nesta 2ª série: como eu já escrevi na altura, o Mário Dias é o único dos membros da nossa Tabanca Grande que pode dizer "Eu estava lá") (2). Mas não, não ouvi. Joaquim Furtado e a sua equipa privilegiou os depoimentos dos militares portugueses de alta patente, a começar pelo homem, que comandou as nossas forças terrestres, o tenente-coronel Fernando Cavaleiro, hoje coronel de cavalaria na reforma. Na altura era também o comandante do BCAÇ 490.

A justificação para a mobilização de vastos meios terrestres, aéreos e marítimos, numa operação de dois meses e tal (14 de Janeiro de 1964 a 24 de Março de 1964) teria a ver com a necessidade de impedir, ao PAIGC, a autoproclamação da República Independente do Como

A ilha, o melhor, o conjunto de ilhas (Caiar, Como, Cantungo), era um intrincado puzzle de rias, braços de mar, bolanhas, lalas, ilhotas, floresta-galeria, tarrafo, de cerca de 200 Km, onde o PAIGC não teria mais do que 400 homens armados (300, segundo o Mário DIAS), controlando no entanto uma vasta população e os seus recursos.

A ilha do Como era farta em gado e arroz, como muito bem frisou o Almirante Ribeiro Pacheco. Talvez ainda mais importante, o Como era um ponto vital para as linhas de reabastecimento do PAIGC, dada a sua proximidade com a Guiné-Conacri. E o seu controlo afectava seriamente o reabastecimento das posições portuguesas na região de Tombali.

Outro oficial da Marinha entrevistado foi o comandante (?) José Luís Gouveia, dos Fuzileiros, que também participou na batalha do Como. Um dos mitos que caiu por terra era existência de bunkers, de cimento armado, onde os guerrilheiros do PAIGC se entrincheiravam e resistiam aos bombardeamentos da aviação e da marinha portuguesea. Não havia bunkers nenhuns… Dos meios navais, retive que eram compostos por uma Fragata (Nuno Tristão), 4 Lancha de Fiscalização, 4 LDP e 2 LDM.

Nino Vieira, que também é entrevistado, era o comandante militar da Região da Sul, mas não participou directamente na batalha do Como, por se encontrar hospitalizado, na Guiné-Conacri, segundo percebi. Ora, ele é muitas vezes apresentado como o herói do Como, o que não corresponde à verdade histórica... A haver um herói - e os movimentos nacionalistas e os povos que lutam pela sua identidade, emancipação e liberdade precisam, historicamente, de heróis e de mitos - foi o Pansau Na Isna e os seus guerrilheiros-camponeses... Nino Vieira, de qualquer modo, terá sido, à distância, o principal responsável pela estratégia de defesa da Ilha do Como. Enfim, os louros da vitória (a havê-la, para um lado ou para o outro) terão que ser analisados e discutidos, com objectividade e rigor, pelos historiadores.

Ao que parece, em balanta, Pansau Na Isna (ou N'Isna) quererá dizer a tabanca que está a morrer. Pansau era muito próximo de Amílcar Cabral, mas analfabeto. Também li algures que ele não morreu no Como, mas mais tarde, em Nhacra, num bombardeamento da aviação portuguesa. A ter morrido em Nhacra, morreu como ele teria gostado de morrer: vestido de maneira excêntrica, cheio de roncos, de cores garridas, muito ao gosto dos balantas... Enfim, provavelmente mais um lenda... De qualquer modo, a versão da morte do Pansau Na Isna em Nhacra, posteriormente à batalha do Como, não bate certo com o depoimento que ouvi no 9º episódio do programa da RTP...

Na batalha do Como, o grande inimigo dos portugueses foi a falta de água potável, as dificuldades de reabastecimento, as rações de combate, os mosquitos, o terreno… Muitos militares portugueses já não podiam com a intragável carne de vaca à jardineira, que faziam parte da invariável ementa das NT... Valeu-lhes, de alguma maneira, o suplemento de carne de vaca, porco e cabrito que abundava pela ilha, deixada para trás pelas populações em fuga estratégica...

A G3, que fez a sua estreia em combate, também não se portou muito bem: era muito sensível, às poeira, à areia, etc. ... A densa floresta-galeria com árvores de grande porte, seculares, frondosas, tornou praticamente inofensivos os bombardeamentos da aviação portuguesa, à parte o terror que as nossas bombas inspiravam, sobretudo nas mulheres, crianças e velhos…

Por outro lado, os guerrilheiros cedo aprenderam a defender-se dos bombardementos, escondendo-se atrás de bagas-bagas. Alguém confirmou que foram utilizados aviões da NATO (F86 e PV2 e 2-5), operando a partir de Cabo Verde. Não ficou claro o uso de napalm. A FAP fez cerca de 850 missões, largou mais de mil bombas.

O PAIGC terá perdido 150 homens e 6 armas. O Mário Dias fala apenas em 7 dezenas de mortos confirmados. Os mais de 1200 militares regressaram a Bissau, depois da mais cara e mais longa operação, levada a cabo na Guiné-Bissau. Os oficiais portugueses entrevistadaos consideram a um operação um sucesso absoluto.

O PAIGC, por sua vez, transformou em mito a batalha do Como. Luís Cabral considerou a Ilha do Como como a primeira região libertada (4). Usando as clássicas tácticas da guerrilha, o PAIGC evitou o confronto directo com as NT, pondo a sua população a recato.

Pelo lado do PAIGC também foi entrevistado o Comandante Gazela, recentemente falecido em Portugal. Também foi dado o testemunho do médico da CCAÇ 557, Rogério Leitão.

2. Comentário de Pezarat Correia a este último episódio, o nono, da 1ª série do programa RTP sobre a guerra colonial:

Creio que chegou ao fim a 1.ª série do programa “A Guerra”, de Joaquim Furtado, na RTP 1. Estamos já em condições de fazer um primeiro balanço e penso que a “expectativa positiva” que registei no meu “Giro do Horizonte 6” de 17 Out, se justificou. O programa, no conjunto dos 9 episódios, merece-me um julgamento favorável.

Encerrou bem com a “Operação Tridente” na ilha do Como, T.O. da Guiné, em que o confronto entre opiniões dos responsáveis portugueses e do PAIGC puseram em destaque um paradigma da guerra colonial. Tinham razão os primeiros quando, na sua perspectiva, diziam que a operação tinha sido um sucesso, pois cumpriram as missões atribuídas, apesar dos insignificantes resultados em baixas ao IN e material capturado. Mas foram ao objectivo e, naquelas operações, os objectivos não eram para se conquistarem, eram para se ir lá. Tinham também razão os segundos quando se congratulavam por, afinal, depois da operação as tropas portuguesas terem retirado e os guerrilheiros reinstalado no terreno, tornando insustentável a vida da reduzida guarnição portuguesa que lá ficou num extremo da ilha, sem poder sair do seu buraco.

Esta controversa foi paradigmática da guerra, disse eu, porque, de facto, esta foi, para nós, militares portugueses, um somatório de sucessos de operação em operação, até ao inevitável insucesso final.

Os sucessos que os responsáveis pelas três maiores operações nos três T.O. reclamaram, “Tridente” na Guiné, “Quissonde” em Angola e “Nó Górdio” em Moçambique, às quais poderemos acrescentar a “Mar Verde” na Guiné com a particularidade de esta ter ocorrido em território da Guiné-Conakri, foram, afinal, rotundos fracassos estratégicos.

Aqui reside o fulcro da questão guerra ganha/guerra perdida, que me parece que este programa ajuda a esclarecer. Este será um dos seus méritos.


Extractos de: Blog a A25A > Pezarat Correia > 19 de dezembro de 2007 > Giro do Horizonte 17 - Guerra Colonial 2 (com a devida vénia...)
________________

Notas de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores desta série:

30 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2142: PAIGC - Quem foi quem (1): Amílcar Cabral (1924-1973)

30 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2143: PAIGC - Quem foi quem (2): Abílio Duarte (1931-1996)

6 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2159: PAIGC - Quem foi quem (3): Nino Vieira (n. 1939)

18 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2190: PAIGC - Quem foi quem (4): Arafan Mané, Ndajamba (1945-2004), o homem que deu o 1º tiro da guerra (Virgínio Briote)

12 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2343: PAIGC - Quem foi quem (5): Domingos Ramos (Mário Dias / Luís Graça)


(2) Vd. post de 23 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2375: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (8): A Batalha do Como (Mário Dias / Santos Oliveira)

(3) Vd. o dossiê sobre a Operação Tridente, da autoria do Mário Dias, que participou nessa famosa operação:

15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXII: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): Parte I (Mário Dias)

16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXV: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): II Parte (Mário Dias)

17 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXX: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): III Parte (Mário Dias)

17 de Novembro 2005 > Guiné 63/74 - CCXXVI: Antologia (25): Depoimento sobre a batalha da Ilha do Como

(4) Vd. post de 1 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1907: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (2): A libertação da Ilha do Como (A. Marques Lopes / António Pimentel)

Vd. também outros postes do Mário Dias sobre a Ilha do Como e a Op Tridente:

17 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXCV: A verdade sobre a Op Tridente (Ilha do Como, 1964)

15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXX: Histórias do Como (Mário Dias)

15 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLI: Falsificação da história: a batalha da Ilha do Como (Mário Dias)

terça-feira, 23 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P786: Os heróis de Gandembel (José Neto)

Guiné-Bissau > Guileje > 2005 > Restos do corredor da morte... "Apropriação": foi o termo (apropriado) que o Pepito usou para legendar esta foto (já famosa aqui no nosso blogue) (1)... Disse o fotógrafo: "Depois de vir ontem de Guiledje, onde tirei esta fotografia, posso-te falar de apropriação pela natureza: uma carcaça de camião com mais de 30 anos, envolvida por uma árvore que entretanto por lá nasceu. Nem que se queira, não se pode tirar o esqueleto de lá"...

Foto: © Carlos Schwrz (Pepito) (2005)

Texto do Zé Neto a quem eu há dias disse: "Grande Zé! Como é bom receber notícias tuas! Se voltaste a escrever e a ‘emailar’ é bom sinal!"... Pois é, ele está de volta, o nosso primeiro de Guileje, e hoje valente capitão em guerra contra o tabaco!... Parabéns, Zé (e permite-me esta inconfidência: o teu bom exemplo deve ser conhecido e seguido por outros amigos e camaradas).. Sê bem vindo, de regresso, à nossa caserna (agora já não preciso de te pedir para deixar o cigarro lá fora!...). (LG)

Meu caro Luis:

Não. Não desapareci. Apenas hibernei para vencer o tabágico vício. E estou a conseguir. Vou a caminho do quarto mês sem cigarro.

Mas o assunto é a chegada do Idálio Reis ao blogue (2). Como se pode verificar, eu já tinha referido aqueles bravos nos meus escritos. Veja-se no Post 423 a blague do 1º Martins que calçou a cagadeira (3). Este senhor é meu companheiro de férias de Setembro em Lagos e, nas conversas do bar, faz sempre questão de evidenciar a colaboração que lhe prestei, porque, confessa, na altura não estava muito calhado nas funções do seu posto à frente duma companhia.

Mais adiante, no Post 544, registo algumas considerações sobre a CCAÇ 2317 e a sua odisseia (4)ex-alferes Reis deve ter muito que contar!!!

Para ajuda vou anexar um pequeno trabalho de elaborei a partir da preciosa obra intitulada (e já toda desencadernada e rascunhada) História da Unidade - BART 1896.

Por agora resta-me mandar um abraço muito forte à tertúlia. Outro para ti do Zé Neto.


OS HERÓIS DE GANDEMBEL

Estou certo de que seria reconfortante para um punhado de bravos do Exército Português que algum dos Comandantes do PAIGC de então contasse, com a sua dignidade de militar, o que foi para eles a campanha de Gandembel e Ponte Balana em 1968/69.

Como interveniente muito próximo da gesta dos rapazes da 2317, sirvo-me da História da Unidade (BART 1896) para trazer à tona da memória alguns pormenores duma batalha pouco conhecida. É uma pequena achega com a qual quero reafirmar a minha profunda admiração pelos camaradas que foram deliberadamente atirados para o massacre pelos senhores de Bissau.

A Operação Bola de Fogo destinou-se “à implantação de um aquartelamento para efectivo de companhia, no Corredor de Guileje”.

Desenvolveu-se entre 8 e 14 de Abril de 1968, com a seguinte “Força executante”:
- CART 1613
- CART 1689
- CCAÇ 2316 (-) (3 Gr Comb)
- CCAÇ 2317
- 3ª COMP COMANDOS (-) (2 GR.COMB.)
- 5ª COMP COMANDOS (-) (2 GR.COMB)
- PEL REC FOX 1165
- PEL SAPADORES/CCS /BART 1896
- PEL CAÇ NAT 51
- PEL CAÇ NAT 67
- PEL MILÍCIAS 138 e 139
- ELEMENTOS DO BENG 447
- APAR (Apoio Aéreo)

Instalado o Aquartelamento em GUILEJE 8 D4 -93 (Coordenadas de Gandembel)

Durante a operação o IN flagelou 7 (sete) vezes a posição, causando às NT 2 mortos, 13 feridos graves e 34 ligeiros.

Até 25 de Junho de 1968, data em que o BART 1896 foi substituído no sub-sector pelo BCAÇ 2835 (a que a CCAÇ 2317 pertencia), o aquartelamento de Gandembel foi flagelado com fogo de Mort 82 e Canhão S/R por 52 (cinquenta e duas) vezes.

Normalmente os ataques duravam entre 8 e 15 minutos. São de destacar os três de 19 de Abril de 1968 às 3h45, 4h20 e 5h00; os três de 30 de Abril, às 2h15, 21h20 e 22h15 e os quatro de 14 de Maio (não houve registo das horas).

José A S Neto
___________

Notas de L.G.

(1) Vd. post de 14 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXVI: A Nossa Foto de Natal 2005

(2) Vd. posts de

19 de Anbril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXIV: Um sobrevivente de Gandembel/Ponte Balana (Idálio Reis, CCAÇ 2317)

18 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXX: Um pesadelo chamado Gandembel/Ponte Balana (Idálio Reis, CCAÇ 2317, 1968/69 )

(3) Vd. post de > 23 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXIII: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto)(4): os azares dos sargentos

(4) Vd. post de 16 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXLIV: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto) (9): a Operação Bola de Fogo