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quinta-feira, 7 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11207: (In)citações (50): "A Voz da População", um filme dos nossos amigos da AD-Bissau, sobre a experiência pioneira das rádios comunitárias... Com a Rádio Voz Quelelé à cabeça, são já 30, cobrindo praticamente todo o país

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Vídeo (26' 23''): "A Voz da População"

© AD - Acção para o Desenvolvimento (2012). Todos os direitos reservados [Cortesia da Margas Filmes]

1. Os nossos amigos e parceiros da ONG  AD -Acção para o Desenvolvimento,  com sede em Bissau (#), no bairro do Quelelé,  estão de parabéns: acabam de lançar um filme sobre a história e o desenvolvimento das “Rádios Comunitárias da Guiné-Bissau”, sob o título "A "Voz da População".(##)

O filme, com a duração de 26 minutos foi financiado pela OXFAM NOVIB. Tem argumento e texto de Lucia van den Bergh e realização e imagem de Andrzej Kowalski. Nele participaram jovens das três televisões comunitárias da AD, lideradas por Demba Sanhá, relatando a evolução deste meio de comunicação comunitário, desde o tempo em que se deu a abertura politica na Guiné-Bissau, até à sua instalação em quase todos os setores administrativos  do país. Cerca de 3 dezenas de rádios comunitárias cobrem hoje praticamente todo o país, desde Bissau ao Boé e do Cacheu ao Tombali  (*)

A Rádio Voz de Quelélé foi a primeira a ser criada, justamente em 4 de Fevereiro de 1994, pela Associação dos Moradores do Bairro de Quelélé, com o apoio da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, cujo diretor executivo é o nosso amigo Pepito (Eng agr Carlos Schwarz). (**)

No sítio da AD, na Internet, pode ler-se: " Para nós, guineenses, é uma enorme alegria poder estar na liderança deste processo em todos os países africanos com os quais fizemos o percurso para a independência nacional. Este filme está disponivel em 3 idiomas: português, francês e inglês. Convidamos todos a aceder a qualquer destas versões e a dá-la a conhecer nos respectivos países".

(#) Contacto: ONG AD – Acção Para o Desenvolvimento
Caixa Postal 606
Bairro de Quelelé
Bissau
República da Guiné-Bissau
Email: adbissau.ad@gmail.com
URL: http://www.adbissau.org/
FB: https://www.facebook.com/adbissau

(##) Ficha técnica:

Realização: Andrzej Kowalsk
Argumento e texto: Lucia van den Bergh
Locução: José H. Neto
Imagem:  Andrzej Kowalsk
Assistente de câmara:
Demba Sanhá
Inácio Mamadu Mané
Edição: Luís Margalhau
Tradução: J. H. Neto
Posprodução: Margas Filmes

Agradecimentos:

Rádio Voz Quelelé (, bairro do Quelelé, Bissau]
Rádio Kassumai [, São Domingos, região do Cacheu]
Rádio Balafom [, Ingoré, região do Cacheu]
Rádio Lamparam [, Iemberém, região de Tombali]
TVK - Televisão Comunitária do Quelelé
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 6 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11202: (In)citações (49): Quando os vencidos é que fazem a história... Ou, como lá diz o provérbio, "dunu di boka más dunu de mala" [, mais vale ter uma grande boca do que uma grande mala] (Cherno Baldé)

(**) Um caso de sucesso, a Rádio Voz Quelelé (RVQ) no combate contra o surto de epidemia de cólera (Bissau, 1994):

(...) Por iniciativa particular de José Henriques, então técnico da ICAO a dar assistência técnica à Guiné-Bissau e que dedicou toda a sua vida, entusiasmo e competência à promoção de novas e modernas tecnologias de comunicação adaptadas ao desenvolvimento do país, a ONG Acção para o Desenvolvimento (AD) envolveu-se na criação desta primeira rádio comunitária que veio trazer ao bairro uma dinâmica de auto confiança e identidade que se está a transformar num instrumento útil de desenvolvimento colectivo.

Foi nesse ano que se dava então início à experiência daquela que passou a ser a primeira rádio comunitária de Guiné-Bissau, a partir de um pequeno equipamento de base; uma consola e uma antena as emissões cobriam um raio de cerca de 4km. Atingindo o bairro de Quelelé, com cerca de 10.000 habitantes, bem como alguns bairros limítrofes como Cumtum, Bairro Militar, Bor e Bra.

A adesão e entusiasmo criado nos habitantes do bairro, particularmente nos jovens que foram os primeiros a aderirem em força, aliados ao facto de se estar em vésperas de eleições presidenciais e legislativas levaram o poder político a interditar o funcionamento da rádio Voz de Quelelé e ordenar o seu enceramento, pretextando o não cumprimento das leis do país.

Com o surgimento de epidemia de cólera em outubro de 1994 e do pânico generalizado que se viveu, a rádio Voz de Quelelé decidiu recomeçar as suas emissões. Se no princípio do ano a rádio Voz de Quelele funcionava apenas aos fim de semana, nas manhãs de sábado e domingo, já nesta fase as emissões passaram a ser diárias, apenas no período da tarde.

O maior sucesso da rádio Voz de Quelele foi sem dúvida o combate à cólera, uma actividade que se baseou em duas vertentes: a) Organização da população para limpeza do bairro, remoção do lixo desinfecção do poços, evacuação dos doentes para o hospital (a AD teve um veículo sempre à disposição), desinfecção em casa dos doentes, visitas diárias dos membros do comité dos moradores a cada residência a fim de detectar casos de cólera; b) Sensibilização da população para uma maior higiene doméstica, para um maior e reforçado acompanhamento das crianças, para a explicação da origem e formas de propagação da doença.

Toda a campanha utilizou fundamentalmente a rádio Voz de Quelelé, onde regularmente vinham médicos da AD que respondiam às questões pertinentes colocadas diariamente pela população em mensagens adaptadas a uma linguagem directa e passadas nas várias línguas das etnias do bairro.

Segundo informações de que se dispõe, o bairro de Quelelé tera sido o menos atingido de Bissau por esta doença, com apenas seis casos confirmados de cólera, um dos quais mortal. (...)

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11089: Agenda cultural (254): Uma sugestão do Eduardo Moutinho Santos: Apresentação de "Os media na guerra colonial", tese de dissertação de mestrado da jornalista Carolina Ferreira... Coimbra, Livraria Minerva, sábado,16, 15h30

1. Com pedido de divulgação por parte do nosso camarada Eduardo Moutinho Santos, advogado com escritório no Porto, cofundador da Tabanca de Matosinhos,  e que no dia passado dia 2 festejou as suas 66 primaveras. Mesmo com um atraso de 10 dias, aqui vão 600 alfabravos de toda a Tabanca Grande. [Desculpa. Eduardo, mas esse teu dado biográfico não constava do nossos ficheiros secretos...].

Só há relativamente pouco tempo, em outubro passado, o Eduardo Moutinho Santos, "regularizou os papéis" como residente da Tabanca Grande. Recorde-se que ele foi alf mil  da CCAÇ 2366 (Jolmete e Quinhámel) e cap mil grad. cmdt da CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada).

Os Media na Guerra Colonial: A manipulação da Emissora Nacional como altifalante do regime, de Carolina Ferreira

Está prevista para Sábado, dia 16 de Fevereiro, pelas 15H30, na Livraria Minerva Galeria em Coimbra, Rua de Macau, 52 (Bairro Norton de Matos) em Coimbra, a sessão de apresentação do livro, de Carolina Ferreira. Vd. convite em anexo.

A apresentação será feita pela historiadora Isabel Nobre Vargues, que dirige a Colecção"Comunicação,
História e Memória".  E conta ainda com João Sansão Coelho e José Manuel Portugal como oradores convidados, para evocar o Dia Mundial da Rádio (13/2),  olhando para a radiodifusão de ontem, de hoje e de amanhã.

Cpts E Moutinho Santos





CAROLINA FERREIRA:

(i) Nasceu em 1980 em Oliveira do Bairro, cidade onde ainda hoje reside;

(ii) É licenciada em Jornalismo pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC);

(iii) Já a trabalhar, decidiu prosseguir a carreira académica, tendo concluído o Mestrado em Comunicação e Jornalismo da FLUC em 2007, com a dissertação deu origem a este livro;

(iv)  Ainda nos tempos de estudante, colaborou com diversos projectos de media a nível regional, com destaque para a Rádio Universidade de Coimbra:

(v) Mas foi na SIC Notícias que começou a trabalhar em pleno na profissão que a apaixona, com estágio curricular e profissional, entre 2002 e 2003:

(vi) Desde 1 de Outubro de 2003 integra a redacção da RTP em Coimbra, como jornalista de rádio e televisão:

(vii) Entre os directos e as reportagens, a noticiar os acontecimentos com palavras, sons e imagens, é como se sente "em casa":

(viii) Em 2011 recebeu o prémio Rádio "Os Direitos da Criança em Notícia", promovido pelo Fórum sobre os Direitos das Crianças e dos Jovens, com a reportagem "Filhos de Ninguém".

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Nota do editor:

Último poste da série > 9 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11082: Agenda cultural (254): Apresentação dos livros: "Os Resistentes de Nhala", de Manuel Mesquita e "Ultrajes na Guerra Colonial", de Leonel Olhero, dia 14 de Fevereiro de 2013, pelas 16 horas, na Messe de Oficiais, Praça da Batalha - Porto

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10892: Agenda cultural (245): TSF, Grande Reportagem, hoje, às 19h00: "Sem panela, não se coze arroz" (reportagem de João Janes, com sonorização de João Félix Pereira)





TSF > Grande Reportagem > Depois do noticiário das 19h00 > "Sem panela, não se coze arroz"


Sinopse: 


Pobre e politicamente instável, a Guiné-Bissau é um país tomado pela guerra de poder e de costas voltadas para a comunidade internacional. Uma realidade para conhecer na Grande Reportagem da TSF desta quinta- feira.

 «Sem panela, não se coze arroz» dá a escutar os testemunhos de um povo que se habituou a viver com menos de um dólar por dia. A pouca comida disponível mata a fome dos mais novos, porque os adultos assim o querem. Enquanto isso, os políticos preparam o país, um dos mais pobres do mundo, para as eleições de abril.

Ouvir aqui um excerto da reportagem,  da autoria de João Janes, com sonorização de João Félix Pereira.

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Nota do editor:

Ultimo poste da série > 26 de dezembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10865: Agenda cultural (244): O nosso grã-tabanqueiro António Graça de Abreu vai dirigir um curso livre sobre a China de ontem e de hoje (1713-2013), no Museu do Oriente, em Lisboa, aos sábados de manhã, de janeiro a março de 2013

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10561: O PIFAS de saudosa memória (16): Compactos de gravação, Parte II: excerto áudio de "Noite 7" (emissão especial aos sábados) (Garcez Costa, ex-fur mil, 1970/72, ex-radialista)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Abril de 2011:

Queridos amigos,
“Alvorada em Abril” é um testemunho determinante para se entender o desencadeamento das operações que levaram ao derrube do antigo regime.
Otelo Saraiva de Carvalho rememora acontecimentos militares e descreve o que viu na Guiné, teatro de operações que teve um papel crucial na génese do Movimento dos Capitães.
A tal propósito, deixa-nos as suas impressões sobre os acontecimentos de 1970 a 1973, naturalmente controversos mas com uma importância soberana.

Um abraço do
Mário


Otelo Saraiva de Carvalho e a Guiné

Beja Santos

"Alvorada em Abril "é o título das memórias de uma figura lendária do 25 de Abril em torno da história portuguesa dos anos 50 aos anos 70, culminando com a concepção e execução do derrube do regime chefiado por Tomás e Caetano. Temos nestas memórias o que para ele foi determinante, no seu percurso pessoal e no seu modo de interpretar os acontecimentos contemporâneos, a génese e o triunfo do Movimento dos Capitães e como este desaguou no 25 de Abril ("Alvorada em Abril", Editorial Notícias, 4ª Edição, 1998). A sua terceira e última comissão foi na Guiné, pelo que tem todo o sentido fazer o registo das suas lembranças e observações.

Ele parte para a Guiné em Setembro de 1970 e logo recorda que se encontrava em Nova Lamego, em 22 de Novembro, quando soube da invasão da Guiné-Conacri. A notícia deixou-o estupefacto, ele que trabalhava em Bissau de nada sabia e acrescenta que posteriormente veio a saber que o assunto já era discutido pelas mulheres dos oficiais nos cabeleireiros da Baixa de Bissau antes de se ter realizado. Nessa noite, enquanto decorria a operação, houvera vigília em Bissau, Spínola aguardava ansioso das notícias da missão rodeado dos seus leais colaboradores, tenente-coronel Robin de Andrade, major Firmino Miguel e major Jorge Pereira da Costa. E adianta: "Ainda hoje desconheço quais seriam, exactamente, os objectivos da missão, mas parece não restarem dúvidas de que, entre eles, estariam os assassínios de Amílcar Cabral e de Sékou Touré, o silenciamento da Rádio Conacri, a destruição de sede do PAIGC, a destruição de aviões na base aérea local e a libertação de prisioneiros de guerra portugueses retidos nas prisões da cidade".

Dá-nos em água-forte um retrato de Spínola que culmina com uma apreciação corrosiva: "Medularmente vaidoso e autoritário, sempre o reconheci totalmente incapaz de se atribuir o mínimo erro ou de debitar a mais suave autocrítica. Sendo detentor da razão e da verdade absolutas, era com displicência e sem remorso que liquidava o bode expiatório escolhido para arcar com as responsabilidades de qualquer falhanço pessoal... demagogo em extremo nunca entendi com clareza se as qualidades que nele admirava era autênticas e humanas ou se cultivadas com esforço a fim de construir artificialmente uma personagem".

Descreve o seu trabalho no QG e alude mesmo o nome de oficiais milicianos, da extrema-direita, que mais tarde acompanharão Spínola na aventura do MDLP. Colocado na Subsecção de Operações Psicológicas, assistiu ao exibicionismo propagandístico é à construção de imagem que Spínola quis criar em Portugal e internacionalmente, o que ele procurava era sugerir um extraordinário surto de progresso na Guiné com a sua governação e minimizar os êxitos no combate do PAIGC. Narra peripécias com jornalistas internacionais, certames de propaganda, a realização de Congressos do Povo. Refere os efectivos militares, do lado português e os do PAIGC, as argumentações de aliciamento, de um lado e do outro. A narrativa não é cronológica, dá saltos, vai até ao futuro repentinamente, conta histórias passadas, de supetão. Está-se a falar da propaganda do PAIGC, seguem-se referência ao seu programa político, destaca-se a figura de Rafael Barbosa como agitador, que foi preso em Março de 1962, tendo permanecido encerrado num cubículo durante quase 8 anos, onde foi espancado e torturado. Em Agosto de 1969, Spínola ordenou que fosse libertado. Tempos mais tarde, Rafael Barbosa manifestará publicamente o seu arrependimento por ter aderido à luta armada. Em 1977, será julgado em Bissau pelo PAIGC pelo crime de traição ao partido e ao povo e ser-lhe-á comutada para 15 anos de prisão a pena de prisão perpétua a que fora inicialmente condenado.

Já em 1973, o autor descreve a chegada dos mísseis terra-ar Strella e depois depõe sobre o controverso "I Congresso dos Combatentes do Ultramar". Para Otelo, os organizadores eram antigos oficiais milicianos com ideologia de extrema-direita que garantiam publicamente ao regime a entrega devotada dos oficiais das Forças Armadas à nobre missão de, através da continuidade da guerra colonial, assegurar a perenidade da Pátria. Os oficiais do quadro ter-se-ão apercebido da essência da manobra e reagiram. Almeida Bruno terá sido quem mais actividade desenvolveu, promovendo uma resposta concertada. Para os oficiais na Guiné já não subsistiam dúvidas que o Governo procurava tirar dividendos da "entusiástica adesão dos patrióticos combatentes do Ultramar". E escreve: "Enquanto em Lisboa Ramalho Eanes, Hugo dos Santos, Vasco Lourenço e outros encabeçavam um vasto movimento de protesto, eram recolhidas na Guiné 400 assinaturas de oficiais do QP com a mesma intenção, subscrito em primeiro lugar por oficiais possuidores das mais elevadas condecorações”. O autor inscreve estes acontecimentos num processo mais vasto de descontentamento das Forças Armadas que veio a ser ateado pelo Decreto-Lei nº 353/73, nova peça da bola de neve que irá conduzir à queda do regime.

Passando para outro campo de considerações, Otelo de Saraiva de Carvalho fala dos acontecimentos de Guileje, em Maio de 1973, quando o major Coutinho e Lima mandou evacuar o aquartelamento, para tal escrevendo: "Para o major Coutinho e Lima o motivo era suficientemente forte: incontável número de flagelações da artilharia inimiga tinha destruído quase por completo as instalações aquartelamento e o moral do pessoal. Apesar dos pedidos insistentes e aflitivos, o apoio aéreo não fora concedido, no receio de que a acção fosse um chamariz para o abate de mais alguns aviões. Ao ter notícia da evacuação, Spínola não viu outra alternativa senão ordenar a prisão de Coutinho e Lima e mandar instaurar-lhe um auto de corpo de delito por crime essencialmente militar de cobardia: abandono de praça militar ao inimigo". É neste contexto que surge Manuel Monge, graduado em major, foi sobre os seus ombros que caiu a responsabilidade de aguentar a tragédia de Gadamael.

Estamos praticamente no final na sua narrativa referente à Guiné. Marcelo Caetano decidira, em 1972, apoiar a nomeação de Américo Tomás para novo mandato. Spínola considerava que gozava de alguns apoios muito influentes do panorama político e financeiro português (Azeredo Perdigão, Jorge de Melo, Manuel Vinhas, António Champalimaud). Em Agosto de 1973, Spínola regressa a Portugal, é promovido a general de 4 estrelas e nomeado vice-chefe do EMGFA. Spínola mudara, observa o autor. Fizera um longo, longo percurso, fora administrador e colaborador do boletim da Legião Portuguesa, no início da carreira; baseado na sua experiência guineense, sentia-se agora apto a defender o federalismo para contornar uma guerra não susceptível de ter solução militar.

Em Setembro de 1973, Otelo Saraiva de Carvalho participa pela última vez numa reunião do Movimento de Capitães, em Bissau. E escreve: "Exactamente três meses depois da minha chegada a Bissau seguirei para a metrópole em fim comissão. Recebo a incumbência de, em Lisboa, de me integrar no Movimento e ser o porta-voz das preocupações que assaltam os camaradas no TO da Guiné". Preocupações que ele desenha num quadro de tintas carregadas: é previsível que o PAIGC irá proclamar a independência do território. Nas reuniões do Movimento dos Capitães em embrião já se debate o que irá mudar com essa independência reconhecida pela ONU. E escreve: ”O Governo Central não proporcionará às Forças Armadas no TO da Guiné qualquer apoio, provocando a sua derrota calculada para as transformar em bode expiatório da perda da colónia como acontecera antes com o Estado da Índia, e canalizar todo o esforço militar para a defesa de Angola.”

E tece o seu comentário sobre o que se estaria a passar na mente de Marcelo Caetano:” Em entrevista concedida por Marcelo Caetano no Brasil, em 1977, a um jornalista português, o antigo Presidente do Conselho confirma que tencionava na verdade provocar a queda da Guiné através de uma derrota militar para, salvando a face do regime, reforçar a todo o custo a defesa de Angola por tempo ilimitado. Não posso acreditar que Spínola não estivesse perfeitamente consciente de todo este drama. Considero, pelo contrário, que essa seria a razão fundamental que o teria levado a não regressar para concluir o sexto ano do seu mandato. Ele não poderia nunca, após mais de cinco anos de intensa actividade desenvolvida na Guiné e que era para si motivo de orgulho e honraria, transformar-se no comandante-chefe de umas Forças Armadas enxovalhadas e derrotadas em consequência da ineficácia do regime.”
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8209: Notas de leitura (235): O Meu Testemunho, uma luta, um partido, dois países, por Aristides Pereira (3) (Mário Beja Santos)

domingo, 7 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10492: O PIFAS de saudosa memória (15): Compactos de gravação, Parte I (Garcez Costa, ex-fur mil, 1970/72)



Vídeo (6' 23''):  Guiné, Bissau, PFA - Programa das Forças Armadas, s/d []c. 1970/72]... Alojado no You Tube > Nhabijoes

© Garcez Costa (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine. Todos os direitos reservados


1. Mensagem do Garcez Costa, ex-radialista do PFA - Programa das Forças Armadas (1970/72), com data de 21 de setembro último:




De acordo com a promessa seguem anexados 3 compactos de gravações que aqui e acolá foram para o ar...

A compilação está referenciada com os indicativos:
1 - P.F.A. (Programa das Forças Armadas)
2 - P.F.A. Nocturno
3 - Noite 7 (Emissão especial aos Sábados)

Viva o Pifas e quem o apoiar!
G.C.  [Garcez Costa]
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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10393: O PIFAS de saudosa memória (14): Garcez Costa e mais alguns camaradas do seu tempo (1970/72)

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10345: O PIFAS, de saudosa memória (12): Excerto áudio... (Tony Sacavém)



Extrato de uma crónica do PFA - Programa das Forças Armadas. Texto atribuído a Júlio Montenegro. s/d [Julho de 1969? junho de 1971 ?]. Excerto áudio enviado por Tony Sacavém. 

Vídeo (4' 05'') disponível em You Tube > Nhabijões. Edição do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2012).

1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Tony Sacavém,


De: Tony Sacavém [ an_ter_bar@hotmail.com ]

Data: 6 de Setembro de 2012 01:18

Assunto: Blogue - Pifas


As minhas saudações.

Andando eu a pesquisar na Internet algo sobre a Guiné portuguesa, eis que apareceu a tua página. Tanto li e reli as várias insertas no Google que foi com surpresa que de repente figurou o meu nome como fazendo parte da equipa de 70/72, [do PFA].

Tenho fotos da altura e também de um jantar de confraternização nos anos 80. Junto em anexo um pedaço de uma gravação que,  se foi para o ar na sua totalidade,  foi porque nesse dia a censura estava de folga. Parte do texto é da autoria do Júlio Montenegro, nome que creio não está referido, e que foi alguém que me ensinou muito sobre como escrever textos radiofónicos.

Qualquer esclarecimento sobre a história do PFA,  estás à vontade. Por exemplo, o criador do boneco [, o PIFAS,] sempre o conheci pelo nome de Jorge Henrique. Penso que exercia as funções de desenhador junto com o José Avelino. Tinham ambos o curso da Escola António Arroio.

E mais não digo... (como se dizia nos autos da tropa)

Tony Sacavém


2. Comentário de L.G.:

Tony, obrigado pelo envio deste preciosidade... Estamos mesmo interessados em conhecer melhor a história do PFA, de saudosa memória. Por exemplo, não sabíamos que o jornalista, realizador, produtor e apresentador de rádio e televisão Júlio Montenegro tinha feito parte da equipa do PFA. 

Gostaríamos também de te convidar para integrar esta comunidade virtual dos amigos e camaradas da Guiné. Se aceitares, manda-nos, de acordo com as nossas regras bloguísticas, uma foto do teu tempo de tropa e uma atual. E conta-nos algo mais sobre o teu tempo no PFA - Programa das Forças Armadas... Com quem trabalhaste ? Quando ? Donde vieste ? O que fizeste depois da passagem á peluda ?... Queres contar-nos algo mais ?... Por enquanto blogar não paga imposto à Troika... E já agora, de que data é o programa ? Julho de 1969, pela referência à alunagem da Apolo 11 ? De que são as vozes que se ouvem ? 9 de junho de 1971, a avaliar pela notícia da flagelação de Bissau com um ou mais foguetões 122 mm, por volta das  21h45  ? 

Um grande Alfa Bravo (ABraço).
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9666: O PIFAS, de saudosa memória (11): Também havia relatos da bola, em março de 1970... (Arménio Estorninho)



sexta-feira, 9 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9589: O PIFAS, de saudosa memória (8): "Emoções", programa de música, Antena 1, sábado, 10 de março, das 5 às 7h da manhã: ouvir a voz do João Paulo Diniz, 40 anos depois...

1. Há dias o antigo locutor do PFA - Programa das Forças Armadas, no CTIG, onde cumpriu serviço militar (de agosto de 1970 a agosto de 1972), João Paulo Diniz,  descobriu o nosso blogue e entrou em contacto connosco (vd. poste P9572, de 6 do corrente:


(…) Através de um Amigo que muito prezo, o Joaquim Furtado, soube - há dias - da existência do blogue 'Tabanca Grande', dedicado aos que passaram pela Guiné, como militares. Desde já felicito os seus mentores, não só pela ideia mas também pelo conteúdo, deveras interessante.

Fiquei particularmente feliz pelas referências ao "Programa das Forças Armadas", carinhosamente designado por 'Pifas'. Confesso que, como profissional, foi das experiências mais extraordinárias que tive na minha carreira.

Também fiquei a saber que está previsto um convívio da rapaziada, a ter lugar no dia 21 de Abril, [em Monte Real, Leiria]. Desde já, se me permitem, gostaria de me inscrever. Mas também solicito o favor de que me sejam enviadas, por mail, mais informações acerca da festa, para que possa fazer a sua divulgação no meu programa "Emoções", na Antena-1. (…).

2. Sobre o programa "Emoções" que é pré-gravado (e não tem podcast), sabemos que há camaradas nossos que são fãs, embora ele passe, na Antena 1, aos sábados, a horas pouco sociais, das 5 às 7h da manhã...

Há, aliás,  pouca informação sobre o programa, no sítio da RTP:

"Na transição da noite para o dia, entre as 5 e as 7 da manhã de cada sábado, partilhe as Emoções de um programa de Rádio - feito para si. Emoções, com João Paulo Diniz".


GÉNERO: Música 

FICHA TÉCNICA:
Realização: João Paulo Diniz
Autoria: João Paulo Diniz
Com: João Paulo Diniz

Antena1
Próximo programa: 2012-03-10
05:07h

CONTACTOS:
emocoes@rtp.pt

3. No próximo sábado, dia 10,  o João Paulo Diniz vai falar do blogue e do nosso VII Encontro, segundo a informação que nos deu ao telefone. Já está, de resto, inscrito para o nosso encontro em Monte Real, dia 21 de Abril.

Esperemos nessa altura poder conhecê-lo pessoalmente e partilhar, ao vivo, as "emoções" de um camarada que conheceu por dentro o PIFAS e o ambiente de Bissau, no início dos anos 70. Bem vindo a bordo, camarada!Entretanto, e de acordo com a sondagem, em linha, que temos em curso há dois, e à qual já tinham respondido ao fim da manhã 43 leitores, mais de dois terços (69%)  ouvia o PFA, com maior (todos ou quase todos os dias: 37%) ou menor regularidade (32%)... As restantes  respostas (31%) distribuíam-se do seguinte modo: (i) não se interesssavam (9%), (ii) não tinham aparelho de rádio ou tinha dificuldade, no mato,  em  sintonizar o programa (11%); e, por fim, (iii) não eram do tempo do PIFAS (11%).



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ÚLtimo poste da série:

7 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9576: O PIFAS, de saudosa memória (8): Homenagem aos atuais profissionais da rádio Armando Carvalhêda, João Paulo Diniz e Faride Magide, evocados aqui pelo nosso saudoso camarada Daniel Matos (1950-2011)

quarta-feira, 7 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9574: O PIFAS, de saudosa memória (7): Quando a malta do SPM dava música... e o Armando Carvalheda e o Carlos Fernandes eram locutores... (Hélder Sousa, Armando Pires, António Carvalho)

1. Comentários ao poste P9558


(i) Hélder Valério  


 Caros camaradas:


Sim, também me lembro do PFA  que, na gíria, era mais conhecido pelo PIFAS, conforme comentário anterior do Henrique Cerqueira. Mas, neste momento, a 'sintonia' está fraca, tenho que me esforçar mais para conseguir obter 'imagens radiofónicas' mais nítidas.


O Rodero refere o Vítor Raposeiro como fazendo parte de um grupo que andou tocando pelos aquartelamentos. Disso não tenho ideia, mas já enviei mail ao Raposeiro para me falar disso ou, então, enviar directamente ao Blogue.


Do que sei, e disso com toda a certeza (porque eu estava lá), é que o Vítor não chegou a integrar a Escuta. Esteve em vários locais nas suas funções relacionadas com o STM:  Bissau, Bambadinca, Aldeia Formosa, Bula (ou Buba?), etc. mas na Escuta, não.


Dum modo geral, nessa época, era vulgar encontrar nos elementos das Transmissões camaradas que tinham relação estreita com a música. Faz sentido: a musicalidade do morse podia ser mais facilmente apreendida por essas pessoas.


Assim, naquela época, na Guiné, estiveram o Vítor Barros, o Eduardo Pinto e o Dutra Figueiredo,  elementos integrantes de um conjunto de Viseu, Os Tubarões, que foi um dos que foi à final do Concurso Yé-Yé no Cinema Monumental, em Lisboa. 


O Vítor Raposeiro era também (e é porque ainda está no activo) um excelente guitarrista e tocava num conjunto com alguma projecção aqui em Setúbal, o mesmo sucedendo com o meu amigo e camarada Nelson Batalha. Também o J. Manuel Fanha, que tocava órgão, era dum grupo de Tomar, foi do meu curso e esteve comigo na Escuta mas que me lembre só animava as noites no Chez Toi...


Vou aguardar por eventuais notícias dos meus amigos para poder avançar. Até lá, um abraço.
Hélder S.
  
(ii) Armando Pires

Se os documentalistas da nossa Tabanca Grande procuram que possa escrever a história do PIFAS, também podem contactar o Armando Carvalhêda (*), locutor da RDP-Antena 1,  e o Carlos Fernandes,  também locutor da RDP,  mas já reformado mas que o Carvalheda pode contactar. 


Curiosamente, quando fui para a Guiné, em fevereiro de 69, levava comigo uma carta para entregar à direcção do PIFAS, visto que também era locutor de rádio. Por razões que não interessam para esta história, não entreguei a carta.


(iii) António Carvalho:


Caros Tabanqueiros: Já por estes lados falei do Fernando Eurico Sales Lopes, primeiro Fur Mil Trms da minha companhia. Ele trabalhou no PIFAS  entre julho de 72 e meados de 1974. Nunca mais o vi. Foi por aqui referido que está em Macau. Tentei contactá-lo mas sem sucesso.


Era e espero que ainda seja e esteja bem disposto. Se ele aceder a este blogue  aproveito para lhe mandar um grande abraço. (**)


Carvalho de Mampatá

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Notas do editor:

(*) Armando Carvalhêda [, foto à esquerda, cortesia do blogue Expressões Lusitanas]:

(...) "Música ao vivo cantada na nossa língua. Um programa de Armando Carvalhêda.Desde 1996, a ANTENA 1 tem no ar o programa VIVA A MÚSICA!, único espaço regular no panorama áudio-visual nacional que apresenta semanalmente, durante uma hora música cantada na nossa língua, ao vivo e em directo. O programa desenrola-se no Teatro da Luz, em frente ao Colégio Militar, em Lisboa, todas as Quinta-feiras, entre as 15h00 e as 16h00 [, com repetição aos Domingos às 14:07], e é produzido por Ana Sofia Carvalhêda e realizado e apresentado por Armando Carvalhêda. Por aqui desfilaram já quase todas as grandes figuras da música cantada em português como são os exemplos de: Carlos do Carmo, Pedro Abrunhosa, Ala dos Namorados, António Chainho, Vitorino, Jorge Palma, Mariza, Gal Costa, Tito Paris, Sérgio Godinho, Paulo Gonzo, Pedro Barroso, Camané, GNR, Rui Veloso, Paulo de Carvalho, Rio Grande e Delfins, entre muitas dezenas de outros. Endereço de email: viva.musica@rtp.pt  (...) (Fonte: RTP)




(**) Vd. último poste da série > 6 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9568: O PIFAS, de saudosa memória (6): Recebia, via Marconi, a chave do Totobola e transmitia-a depois ao camarada João Paulo Diniz, do PFA (Álvaro Vasconcelos, Centro Recetor do Agrupamento de Transmissões de Bissau, jun 71/jul 72)

terça-feira, 6 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9568: O PIFAS, de saudosa memória (6): Recebia, via Marconi, a chave do Totobola e transmitia-a depois ao camarada João Paulo Diniz, do PFA (Álvaro Vasconcelos, Centro Recetor do Agrupamento de Transmissões de Bissau, jun 71/jul 72)

1. Mensagem do nosso  camarada Álvaro Vasconcelos,  ex- 1.º Cabo Transmissões do STM (Aldeia Formosa e Bissau, 1970/72)
Data: 4 de Março de 2012 00:10
Assunto: PIFAS



Amigo Luís:

Sou "piriquito" nestas aventuras de escrever mensagens no correio electrónico: mas lá vai...
 

Quando estive no Centro Recetor do Agrupamento de Transmissões  de Bissau (de Junho de 71 a Julho de 72), recebia, via Marconi, a Chave do Totobola. Depois transmitia-a ao camarada João Paulo Diniz, locutor do PIFAS [, foto atual à direita, cortesia de RTP Memória], para ele dar a novidade o mais rapidamente possível aos ouvintes da Rádio no Programa das Forças Armadas (PIFAS). Recebia a dita logo depois das seis da tarde de cada domingo.

Luís, espero não estar a ser inconveniente para com o João Paulo Diniz, mas este camarada é apresentador de um programa da Antena Um, transmitido todas as madrugadas de cada sábado [, das 5h às 7h]. O nome do programa é Emoções, do qual eu sou ouvinte (quando não adormeço!...). Já tive oportunidade de o cumprimentar por esta via e ele teve a amabilidade de o focar no programa. Aconteceu vai para um ano! É um camaradão que certamente estará disponivel para camarigar connosco.

Desafio-te - com o devido respeito-, a, se te for possível, o contactares, aí em Lisboa. Tanto quanto julgo saber, ele é funcionário da RDP.

Luís, não tenho o prazer de te conhecer pessoalmente, mas permito-me solicitar que perdoes o meu infortúnio de não poder comprometer-me em ser mais útil. Nesta, para mim, complicada informática, mesmo a nível de simples utilizador, sou um "cepo" e não há meio de me desenrascar melhor.

Aprecia a minha limitada experiência: já tentei contactar mais de uma vez com o João Paulo e não voltei a conseguir!...

Assim, por favor, se for realmente possível aproveitar a informação que aqui deixo, espero ter contribuido para essa nova realidade da Tabanca Grande.


Um reconhecido agradecimento e Bem Hajas!


Álvaro Vasconcelos
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Nota do editor:

Último poste da série > 5 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9564: O PIFAS, de saudosa memória (5): Quando o Autocarro do Amor fazia escala na Guiné (Augusto Silva Santos)

segunda-feira, 5 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9563: O PIFAS, de saudosa memória (4): Discos pedidos: Para o Mamadu Djaló que firma no Catió, a canção de Gianni Morandi 'Não sou digno di bó'... (Luís Borrega / Joaquim Mexia Alves)

1. Comentário do Luís Borrega, ao poste P9558 (*)

Camaradas

Ainda me lembro do seguinte:

Numa programa de Discos Pedidos do PFA, foi mais ou menos isto:

Boa noite!
Aqui Programa das Forças Armadas...
Discos pedidos... 
Vamos dedicar a Mamadu Djaló que firma no Catió, a canção de Gianni Morandi "Não sou digno di bó "

... E depois tocou o disco (*)...

Abraço
Luís Borrega


2. Comentário de L.G.:

Já há uns bons atrás o Joaquim Mexia Alves se tinha lembrado dessa frase célebre que corria a toda a hora, no programa dos discos pedidos (vd. Poste P1322, de 27 de novembro de 2006):


(...) Li agora o último poste do Jorge Cabral e à conta da música e do crioulo, lembrei-me da célebre frase que corria na Guiné, dita na rádio (qual rádio?), no programa de discos pedidos, e que era assim, mais coisa menos coisa:
- Para Mamadu Djaló qui firma no Catió, Gianni Morandi canta Cá sou degno di bó!!!
Lembremo-nos que era uma célebre música desse cantor italiano, Gianni Morandi [n. 1944], do ano de 1964, e que tinha por título Non sono degno di te [Não sou digno de ti]. (...).

Também o Jorge Portojo se lembra de ouvir o Não sou digno di bó, lá em Catió, no Bar do Libanês, o que só vem  comprovar a fama e a longevidade quer do Gianni Morandi quer do Mamadu Djaló...

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Notas do editor:


(**) Gianni Morandi (n. 1944, Monghidoro,Emilia-Romagna, província de Bolonha, norte de Itália) (Vd. sítio oficial do cantor; mas também a Wikipédia).

 
Letra e música: Non son degno di te (Ver vídeo, aqui, no You Tube, com legendas em português)... A canção ganhou o Primeiro Prémio do Festival delle Rose, 1964...

O vídeo começa com um  militar de carreira,  já de idade madura, de bigodinho à moda dos anos 50/60, e acentuadas entradas na testa, a recordar o seu grande amor dos verdes anos, não correspondido... com Gianni Morandi, vestido de magala, aos 20 anos, fazendo serenata à janela da pequena... Um sucesso estrondoso nos anos 60, e um dos discos mais pedidos no PIFAS... ainda no início dos anos 70 (nesse ano, Gianni Morandi, representou a Itália no Festival da Eurovisão)... Recorde-se aqui o bel ragazzo, destroça-corações...

NON SON DEGNO DI TE
Migliacci-Zambrini

Non son degno di te
non ti merito più
ma
al mondo non esiste nessuno
che non ha sbagliato una volta

E va bene così
me ne vado da te
ma
quando la sera tu resterai sola
ricorda qualcuno che amava te.


Sui monti di pietra può nascere un fiore
in me questa sera è nato l’amore per te 

E va bene così
me ne vado da te
ma
al mondo no non esiste nessuno
che non ha sbagliato una volta
amor!

Non son degno di te
non ti merito più
ma quando la sera tu resterai sola
ricorda qualcuno che amava te
amore amor
amore amor.


Tradução livre (LG):

Não sou digno de ti,
não te mereço mais,
mas,
no mundo não existe
quem não tenha errado uma vez!


E está bem assim,

deixo-te,
mas,
quando à noite estiveres sozinha,
lembra-te de alguém que te amava.
Num monte de pedras pode crescer uma flor,

em mim, esta noite,   nasceu o amor por ti.

E está bem assim,
deixo-te,
mas,
no mundo, não, não existe ninguém, amor,

que não tenha errado uma vez!

Não sou digno de ti,

não te mereço mais,
mas, quando à noite estiveres sozinha,

lembra-te de alguém que te amava,
meu amor,

meu amor!

domingo, 4 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9558: O PIFAS, de saudosa memória (2): Depoimentos de David Guimarães, Joaquim Romero e António J. Pereira da Costa


Imagem à direita: O PIFAS - Cartoon, de autor desconhecido, enviado pelo Miguel Pessoa

1. David Guimarães [ex-Fur Mil Art Minas e Armadilhas, CART 2716/BART 2917, Xitole, 1970/72]:

Sobre o assunto em questão [, o PIFAS,]  proponho que procurem o João Paulo Diniz (ainda há dias o vi na televisão), vive por esses lados de Lisboa, creio eu. Ele mesmo foi locutor dos anos de 70/72 nessa rádio que conhecemos... 


Creio que por aí será fácil chegar a ele e ele terá então muitas histórias... E está vivo...


2. Joaquim Rodero [, ex-Fur Mil Trms, STM/QG, 1970/72]: Amigo Luís,  penso que um dos elementos a contactar, para te esclarecer sobre as actividades do PIFAS, será o ex-fur mil Vitor Raposeiro (, muito bom guitarrista!).  Fez parte do conjunto musical das Forças Armadas, que percorreu a Guiné em espectáculos ligados há acção psicológica , e era também elemento ligado à escuta das emissões da rádio Conacri , e que a partir do QG faziam o empastelamento dessas frequências de transmissão.


Também o Hélder Valério de Sousa esteve ligado à escuta, mas creio que não participou no Pifas, mas nada melhor que lhe perguntar. 


Recebe um abraço do Joaquim Rodero, extensivo a todo o corpo redactorial do blogue. 


3. António José Pereira da Costa [,  cor art ref, ex-alf art na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69,  e ex-cap art, cmdt da CART 3494/BART 3873, Mansabá, Xime e Mansambo, 1972/74] 


 Camarada,  sugiro um contacto com o locutor João Paulo Diniz que foi locutor do PFA-Noctuuuuuurrrrno! em 1971/72/73(?). Ele é capaz de ter bobines ou cassettes do tempo e contar aventuras. Por volta de Jun 72 havia programas dedicados às unidades que eram identificadas pelo nome de guerra e localidade.

Tenho um PIFAS que ainda guincha. Era um boneco de borracha que guinchava quando se apertava, vagamente parecido com [a mascote do programa televisivo] Zip Zip, mas de camuflado, rádio e gravador portátil. (...)



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Nota do editor:

Vd. poste anterior da série > 4 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9557: O PIFAS, de saudosa memória (1): Depoimentos de José da Câmara, Carlos Carvalho e Carlos Cordeiro

Guiné 63/74 - P9557: O PIFAS, de saudosa memória (1): Depoimentos de José da Câmara, Carlos Carvalho e Carlos Cordeiro



O PIFAS - Cartoon, de autor desconhecido, enviado pelo Miguel Pessoa


1. Já tínhamos, aqui no nosso blogue, três ou quatro referências ao PIFAS, acrónimo de Programa de Informação das Forças Armadas, que passava na rádio, na Guiné, no início dos anos 70... 


Alguns postes, avulsos, já foram aqui publicados sobre esse programa: recordo-me, por exemplo, do poste P6106, de 4 de abril de 2010, do Miguel Pessoal, com um história engraçada que envolve a Giselda; e de um outro mais antigo, o poste P3488, de 20 de novembro de 2008, da autoria do António Matos... Também o José Manuel Dinis se refere ao PIFAS, no seu poste de apresentação à Tabanca Grande (Poste P3147, de 24 de agosto de 2008)

" (...) Em Bajocunda criei a jornal Jagudi, que expandia textos de diversos camaradas, bem como, por vezes, transcrevia artigos de orgãos da comunicação social. O Jagudi ganhou alguma notoriedade porque era lido pelo João Paulo Diniz no PIFAS." (...) 

Mais recentemente o PIFAS veio à baila, a propósito do poste P9531 (veja-se o comentário do José da Câmara, a seguir no ponto 2). Tivemos necessidade de saber algo mais sobre esse programa radiofónico. Daí o nosso apelo, através de mensagem de 27 de fevereiro último, enviada pelo correio interno da Tabanca Grande:


Amigos e camaradas: Queremos saber (mais) coisas sobre o PIFAS - Programa de Informação das Forças Armadas... Artigos, notas, memórias, conteúdo dos programas, locutores, responsáveis, músicas que lá passavam... Obrigado pela vossa colaboração... Vamos abrir uma série sobre o PIFAS, se houver material... Um Alfa Bravo. Luis Graça

As respostas não se fizeram tardar, sob a forma de diversos depoimentos, informações, historietas, esclarecimentos, apontamentos, detalhes... Temos já aqui um conjunto interessante de informação que vamos começar a partilhar com todos os nossos amigos e camaradas. A quem já respondeu, o nosso muito obrigado. De quem tiver informação adicional, ficamos a aguardar que no la enviem, para publicação. Obrigado. (LG)

 2. Comentário de José da Câmara ao poste P9531

Caros amigos,

A programação do PIFAS era feita em Bissau, num edifício cercado de muros, que ficava um pouco acima do Clube de Oficiais da Força Aérea. Admito que a memória me falhe no pormenor da localização.

A segurança ao PIFAS, como era conhecida a Estação de Rádio, esteve a cargo da CCaç 3327, nos meses de Fevereiro e Março de 1971.

Nunca estive ligado àquela segurança, pelo que não posso acrescentar muita coisa de útil.
 Julgo saber que, ligados à Rádio na Guiné, durante algum tempo da sua comissão, açorianos foram dois: o Jorge Cabral, micaelense, já falecido, e o Álamo Oliveira que vive na Ilha Terceira.

Por Eurico Mendes, combatente em Angola, locutor e jornalista dos OCS portugueses, de New Bedford, soube que o Álamo lhe dissera que o Gen Spínola gostava de passar algumas horas nocturnas na estação do PIFAS.

A rubrica Discos Pedidos era, sem dúvida alguma, a mais popular entre os militares.

Naquele programa, em 1971/1972, também houve uma voz feminina.

Um abraço amigo,
José Câmara



A mascote do PIFAS, da autor desconhecido - Imagem enviada pelo Carlos Carvalho

3. Carlos Carvalho:

O PIFAS ficava situado em Bissau, tendo como locutor dinamizador nos programas de música pedida, e com concursos, entre 1970/1972, o conhecido locutor da Antena 1, João Paulo Guerra [ou João Paulo Diniz ?]. (*)

Tinha como boneco representativo, um boneco - o PIFAS - cuja imagem anexo.

4. Carlos Cordeiro:

Além do Jorge Nascimento Cabral, que faleceu há cerca de dois anos (na época era já funcionário do Emissor Regional dos Açores da Emissora Nacional),  também o António Lourenço de Melo, antigo locutor do ERA-EN, lá trabalhou (ambos de S. Miguel). Pedi-lhe já para nos fazer uma conferência integrada no ciclo: ainda não se decidiu, mas lá chegará. Julgo que não trabalhavam só na parte militar, mas também na civil, mas não tenho a certeza.

Não sabia que o Álamo de Oliveira também tinha trabalhado no PIFAS. 


Desculpa a minha “suspensão” das lides bloguísticas. Mas, “nesta fase da vida”, meti-me em demasiadas alhadas para as quais a pedalada já vai escasseando – por muito que me queira convencer de que não.

Um abraço do  Carlos (este e não o nosso Vinhal, para quem vai o meu abraço também)

PS - Penso que os dois não trabalharam simultaneamente. O Jorge era mais velho do que o Lourenço. Na altura em que o Lourenço de Melo lá esteve, quem controlava a Emissora era Otelo Saraiva de Carvalho (nada de certezas, pois foi em conversa de há tempos e posso estar a imaginar). 

[Continua]
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Nota do editor:

(*) Sobre o jornaliste radialista João Paulo Diniz [, que tem um programa de música, "Emoções", aos sábados, às 5h às 7h da manhã, na Antena 1]:

(...) "João Paulo Diniz trabalhou cerca de 30 anos da Radiodifusão Portuguesa (RDP), tendo na noite de 24 de Abril de 1974, aos microfones dos Emissores Associados de Lisboa, lançado a música "E Depois do Adeus", de Paulo Carvalho, a senha que fez avançar a revolução que viria a derrubar o regime, então liderado por Marcello Caetano. Depois, na década de 1980, esteve na BBC, em Londres, e, entre Julho de 1997 e Dezembro de 1999, em Macau". (...) Fonte: Lusa, 11 de janeiro de 2008.

Ver também  Camões  - Revista de Letras e Culturas Lusófonas, Número 5 · Abril-Junho de 1999 > Cronologia do 25 de Abril

Dia 22 [de Abril de 1974]


c. 11H00 - O capitão FA Costa Martins contacta João Paulo Diniz, no Rádio Clube Português (R.C.P.), por incumbência de Otelo, que o tivera como subordinado no Comando Chefe na Guiné, com o objectivo de emitir um sinal radiofónico para desencadear o movimento. O radialista, que desconhecia o emissário, desconfia da sua identidade, mas aceita, depois de muito instado, aprazar um encontro entre os três, nessa noite, num bar lisboeta.

Dia 23 [de Abril de 1974] 
00h15 - Otelo Saraiva de Carvalho e Costa Martins, protegidos pelo major FA Costa Neves, avistam-se, no Apolo 70, com João Paulo Diniz. Este esclarece que apenas colabora no programa matutino Carrocel do R.C.P., razão pela qual não poderá emitir a senha pretendida. Obtêm, contudo, a garantia de transmissão do seguinte sinal, entretanto combinado, "Faltam cinco minutos para a meia-noite. Vai cantar Paulo de Carvalho «E depois do adeus»", através dos Emissores Associados de Lisboa (E.A.L), que apenas dispõem de um raio de alcance de cerca de 100 a 150 quilómetros de Lisboa. A limitada potência do emissor torna, assim, necessária a emissão de um segundo sinal, através de uma estação que alcance todo o País.

- Deslocam-se, seguidamente, para junto da Penitenciária de Lisboa, onde aguardam que o ex-locutor do Programa das Forças Armadas em Bissau obtenha informação no Rádio Clube Português sobre a constituição da equipa que entrará de serviço na madrugada de 25. Este apura que o serviço de noticiário estará a cargo de Joaquim Furtado mas, conhecendo-o mal, não arrisca estabelecer contacto.


Dia 24 [de Abril de 1974]:

(...) 11h00 - Carlos Albino adquire na então livraria Opinião o disco «Cantigas de Maio», para garantia, já que, desde Dezembro de 73 havia indícios de que a PIDE se preparava para um assalto aos escritórios do Limite, na Praça de Alvalade.

- O capitão Costa Martins contacta João Paulo Dinis e informa-o que o sinal foi antecipado em uma hora. (...)

22h55 - 1ª senha: a voz de João Paulo Diniz anuncia aos microfones dos Emissores Associados de Lisboa Faltam cinco minutos para as vinte e três horas. Convosco, Paulo de Carvalho com o Eurofestival 74 «E Depois do Adeus». Era o primeiro sinal para o início das operações militares a desencadear pelo Movimento das Forças Armadas. (...)

Dia 25 [de Abril de 1974]:

00h00 - João Paulo Dinis conclui o programa nos E.A.L. e regressa a casa, seguindo instruções do chefe militar do MFA.

00h20 – Nos estúdios da Rádio Renascença, situados na Rua Capelo, ao Chiado, Paulo Coelho, que ignora os compromissos assumidos pelos seus colegas do programa Limite, lê anúncios publicitários. Apesar dos sinais desesperados de Manuel Tomás, que se encontra na cabina técnica acompanhado de Carlos Albino, para sair do ar, o radialista prossegue paulatinamente a sua tarefa. Após 19 segundos de aguda tensão, Tomás dá uma "sapatada" na mão do técnico José Videira, provocando o arranque da bobine com a gravação que continha a célebre senha: a canção Grândola Vila Morena, de Zeca Afonso. (...)

Sobre o jornalista João Paulo Guerra, vd. entrada da Wikipédia.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9531: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (10): As vozes da nova música popular portuguesa (incluindo o Zeca Afonso) que chegavam ao CAOP1 através das ondas hertzianas da rádio

1. Pela rádio chegavam ao TO da Guiné vozes, música, notícias... de todo o mundo. Captava-se, em onda curta,  a BBC, mas também-se a Emissor Nacional, a Voz da América, a Rádio Moscovo... Pelo menos, em Teixeira Pinto, Mansoa, Cufar, que foram sucessivamente sede do CAOP1...

 No seu diário, o António Graça de Abreu (ex-Alf Mil do CAOP1, 1972/74) dá-nos conta de alguns desses encontros hertzianos com o mundo... A internet ainda estava para nascer, dali a 20 anos, mas o mundo já era cada vez mais global. E em 1973 acabava a época dos 30 gloriosos, os trinta anos de crescimento económico ininterrupto, os anos do milagre económico do Ocidente... A primeira grande crise petrolífera, a de 1973,  era também o primeiro grande sinal de alarme sobre o esgotamento de um certo modelo de produção e de consumo... 

 José Afonso (1929-1987), que morreu fez agora  25 anos, em 23 de fevereiro de 1987, é referido pelo AGA como tendo passado na emissora nacional (Bissau) com o seu belíssimo Traz Outro Amigo Também, um verdadeiro hino à amizade e à camaradagem (Do álbum do mesmo nome, gravado em Londres, nos estúdios da PYE, e editado em 1970; o que muita gente não sabe é a forte ligação, emocional e musical, do Zeca Afonso, a Africa, e em especial a Angola e Moçambique).

Por gentileza, generosidade e camaradagem do AGA, aqui ficam aqui mais quatro excertos do seu Diário da Guiné, 1972/74, de que temos um ficheiro em word, o mesmo que serviu de base à edição do seu livro Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp) (*).



(....) Canchungo, 17 de Julho de 1972

Soube pelo “Diário Popular” de anteontem, que traz fotografia e tudo, que em Cabo Ruivo foram postas bombas em treze camiões Berliet destinados ao nosso exército que sofreram assinaláveis estragos. É um protesto contra a política bélica do Marcello Caetano.

Na rádio, ouvi também o relato do sucedido. Tenho no meu quarto uma ligação a uma antena com 40 metros de altura, montada pelo meu companheiro, alferes Tomé, o chefe das transmissões do CAOP. Com o rádio em onda curta captam-se inúmeros postos com uma nitidez sensacional, é a BBC, Moscovo, a Voz da América, Tirana, a Rádio Voz da Alemanha, Argel, etc. Mais um entretenimento útil de que benificio e sou rapidamente informado do que acontece nos quatro cantos do mundo.

(...) Canchungo, 31 de Agosto de 1972

Na Guiné existe apenas uma emissora de rádio, prolongamento da Emissora Nacional. É divertida, tem anúncios locais, passa discos pedidos, acção psicológica, etc.

Há dias ouvi por várias vezes o seguinte mimo, mais ou menos nestes termos: “A Casa Pinto lamenta informar os seus excelentíssimos clientes que a aguardada remessa de camisas Lacoste foi mais uma vez desviada entre a origem e a cidade de Bissau pelo que não poderá ainda desta vez satisfazer as encomendas dos seus estimados clientes e amigos.” Onde foram parar as Lacoste, desviadas para onde e por quem?

Ao fim de quase dois meses a ouvir música fraquíssima, fui hoje surpreendido ao ouvir o meu bom amigo e colega de faculdade António Macedo cantar o “Cavaleiro cavalgando no meu sonho” e o José Afonso, o homem da “Grândola”,  a cantar “Traz outro amigo também”. Quer isto dizer que os discos existem em Bissau, só que os passam pouco. Deve ser por causa do calor e dos mosquitos que pousam no vynil dos LPs.

Outra surpresa nas minhas leituras de hoje, foi encontrar uma citação do Antigo Testamento. Diz: 'Os teus seios são semelhantes a dois filhotes de gazela pastando no meio de lírios'. Isto foi escrito há dois mil e novecentos anos pelo rei Salomão, no Cântico dos Cânticos e publicado, quem diria!, no Jornal do Exército português, número de Junho de 1972.

(....) Mansoa, 1 de Março de 1973

Escrevo deitado na cama, a prancha de contraplacado a servir de escrivaninha, por cima tenho a ventoinha a mandar vento.

Ouvi o Festival da Canção em directo de Lisboa, via rádio de Bissau. Ganhou a “Tourada” do Fernando Tordo e do Ary dos Santos, e muito bem. Se há reacções dos reaccionários é sinal de que vale a pena espetar “as bandarilhas da esperança” na fera cavernosa que há tantos anos decide o destino político de Portugal, este regime velho e caduco. Seremos um dia livres, na “Praça da Primavera”.

A poesia do Ary dos Santos, “poeta castrado, não!”, mas engordado e feminino, parece-me por vezes demasiado fácil, demagógica. É inferior a muita outra poesia aparentemente “chata” que se escreve em Portugal, mas a do Ary tem uma vantagem, chega facilmente à compreensão de grande número de pessoas. É importante porque abala as gentes, intervém.


(...) Cufar, 7 de Março de 1974

Neste exacto momento em Portugal, há milhões de pessoas especadas diante do televisor à espera do Festival da Canção.

Aqui na guerra do sul da Guiné, acabou de morrer um homem, outro está moribundo. Oiço o roncar dos motores do Nordatlas que, com a pista iluminada acabou de aterrar e vai levar gente ferida para Bissau.

Lá longe, satisfeitos, os portugueses deliciam-se com melodias, músicas capazes de enternecer uma mula ou um burro. Neste pequeno lugar do mundo, em África, um homem retalhado tem o corpo a arfar nos estertores da morte. Vim há pouco da enfermaria, vi tudo, continuo a ver demais.

Foi em Caboxanque, os nossos vizinhos do outro lado do rio Cumbijã. (...)  Na noite de luar, os barcos sintex trouxeram os feridos para Cufar. Neste momento o Nordatlas levanta de voo levando os homens de Caboxanque para o hospital de Bissau. No rádio, no Festival da Canção, o Artur Garcia canta a “Senhora Dona da Boina”. (...)

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 20 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9511: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (9): Circo... e bombas que não eram de carnaval ... em 1974

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8202: Agenda cultural (117): Programa da Antena 1, "O Amor é...", de Júlio Machado Vaz: O stresse pós-traumático de guerra e as suas implicações na família



Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (Abril de 1968/Janeiro de 1969) > 1968 > Início da construção do aquartelamento (que seria abandonado em menos de nove meses, depois de 372 ataques e flagelações)> Os homens que fizeram das tripas coração... Os homens-toupeira, os homens de  nervos de aço...Que preço pagaram os combatentes da guerra colonial (ou do ultramar, como quiserem) ? Elevado, em sangue, suor e lágrimas, em mortos, feridos  e em sofrimento físico e psíquico... Há um "inimigo invisível" que alguns deles (10%, dizem os estudos epidemiológicos, 100 mil num milhão de combatentes) continuam a combater, no silêncio das quatro paredes das suas casas, ao fim de 40 e tal anos...


Foto: © Idálio Reis (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.






1. É um dos meus programas de rádio preferidos... O Amor É... (de 2ª a 6ª feira, na Antena 1). Fresco, irreverente, sério, rigoroso, descontraído, bem humorado, profissionalíssimo... Um sucesso em termos de comunicação radiofónica. Um caso sério em termos de longevidade na rádio (Não conheço a versão televisiva, que passa na RTP Norte, continuo de qualquer modo a preferir o modelo radiofónico, ou melhor, gosto mais de ouvir o Júlio Machado Vaz na rádio do que vê-lo e ouvi-lo na televisão).

O amor e a sexualidade nas conversas do Prof. Júlio Machado Vaz:  O Amor É... De segunda a sexta, Júlio Machado Vaz conversa sobre amor e sexualidade com a conhecida jornalista e radialista Inês Meneses. O programa é repetido diariamente, de 2ª a 6ª feira, às 03:40 / 09:20 / 11:20 / 22:20.


Hoje, de manhã, como habitualmente, estava sintonizado na Antena1, enquanto conduzia o meu carro na 2ª Circular, a caminho do local de trabalho,  e tive a sorte de ouvir mais uma das conversas do conhecido sexólogo e psiquiatra do Porto, desta vez sobre "Os traumas de guerra na família" (os transtornos da síndroma pós-traumática, em inglês PTSD, Post Traumatic Stress Disorder)... 


Fiquei logo de ouvido atento e tomei logo boa nota desta emissão, para poder partilhar o seu conteúdo com os amigos e camaradas da Guiné... Podem ouvir aqui os 5 minutos de conversa do Prof Júlio Machado Vaz com a Inês Meneses. (Mais exactamente, 5' 52'').



O sofrimento psíquico ocasionado pela guerra nos antigos combatentes (e suas famílias) continua a ser um tema, senão tabu, pelo menos algo marginal e incómodo, que é difícil abordar em voz alta, na primeira pessoa, em público,... com rigor e com pudor. 


Por exemplo, no nosso blogue  não temos muitos postes sobre o tema... Reconheço que não é fácil falar disto, do nosso sofrimento psíquico,  de maneira descomplexada, aberta, espontânea, frontal ...  Há chagas, invisíveis, que não queremos ou não podemos mostrar aos outros, a começar pelos nossos próprios camaradas... 


Já agora, vejam aqui um conjunto de vídeos com o conteúdo de um programa que passou, há uns anos, na RTPN; e é justo também referir aqui o papel da Associação Apoiar, que desde 1994 tem dado apoio psicossocial, clínico e terapêutico a muitos camaradas nossos.

2. Informação adicional sobre o programa O Amor É...

Género > Reflexão
Ficha técnica:
Realização: Júlio Machado Vaz
Autoria: Júlio Machado Vaz
Com: Júlio Machado Vaz e Inês Meneses

Próximas Exibições: Antena1 > 2011-05-02 | 07:12h
Últimas Exibições: Antena1 > 2011-04-29 | 20:12h

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Nota do editor:

Último poste da série > 2 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8200: Agenda Cultural (117): Início, no próximo dia 6, do ciclo de conferências-debate Os Açores e a Guerra do Ultramar, 1961-1974: história e memórias(s), organizado pela Universidade dos Açores (Carlos Cordeiro)