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quarta-feira, 7 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17444: Convívios (808): Encontro de RANGERS, alguns antigos combatentes na Guiné. Homens que cruzaram as suas vidas com a guerra colonial. (José Saúde)



1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem. 

Encontro de RANGERS, alguns antigos combatentes na Guiné


Homens que cruzaram as suas vidas com a guerra colonial 
Sábado, 3 de junho de 2017, Restaurante Praxedes, Setúbal, um dia que ficará, com certeza, selado com lacre substancialmente consistente no baú das recordações de antigos RANGERS, cujo destino militar foi frequentarem o 1º Curso de Operações Especiais/Ranger no já distante ano de 1973. 

Foi enorme a maré de emoções. Visualizámos silhuetas humanas que o tempo ousou alterar. Uns com falta (já muita) de cabelo; outros com ele já esbranquiçado; pesos corporais a mais registados em balanças que teimam em não regredir inquestionáveis verdades consumadas; rostos transformados pelo ónus de uma vida que já vai longa, restando porém a certeza que ainda por cá continuamos, felizmente, como seres viventes. 

Recordámos os velhos tempos, dissecámos constantes conversas onde a temática assentou, evidentemente, na dureza militar com a qual nos confrontámos durante o ciclo de uma especialidade que muito nos ajudou a crescer como homens e, claro, como militares. 

Camaradas que cruzaram as suas vidas com a guerra colonial. Entrosaram-se convicções pessoais com estadias em Angola, Moçambique e Guiné. Falou-se da guerra e, logicamente, de Lamego, melhor, de Penude com a sua mítica Serra das Meadas, bíblia sagrada para a comunidade ranger. 

À tona da conversa surgiram, como é absolutamente admissível, as operações levadas a cabo por terras durienses. Falou-se da “Largada”, das “24 horas de Lamego”, da “Dureza 11”, do “Calvário”, enfim, um rol de inestimáveis contratempos que nos preparam para uma peleja que ditava ordem e sobretudo precaução. 

Curioso foi o detentor do encontro ter sido proporcionado pelo camarada, ex-Alferes Miliciano Alberto Grácio, que conheceu os meandros da guerra em solo guineense. O ranger Grácio pertenceu ao BCAÇ 4615, sediado em Teixeira Pinto, e cruzou os anos de 1973/1974, sendo também ele um dos militares que conheceram a guerra e a paz.

Por razões, creio que óbvias, não me vou alargar com a narrativa, direi, de forma sucinta, que em Setúbal, num almoço servido maravilhosamente pelo camarada ranger Praxedes, reencontraram-se condiscípulos de tropa, ou seja, rangers que cruzaram os mesmos espaços em Penude e que não se viam há 44 anos. 

A brilhante ideia do Grácio colheu excelentes opiniões, ficando a certeza que para o ano o nosso almoço (mancebos do 1º turno de 1973) será por terras nortenhas. 

Como nota de rodapé é justo mencionar que fizeram questão em marcar presença três dos nossos instrutores: os então Aspirantes Milicianos Jacob (um Alferes que conheceu o conteúdo da guerra na Guiné) e o Seixal, assim como o Cabo Miliciano Peixoto.

Valeu a pena!... 




Um abraço, camaradas

José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
___________ 
Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

7 DE JUNHO DE 2017 > Guiné 61/74 - P17442: Convívios (807): XIII Convívio da Companhia de Artilharia 1742 (OS PANTERAS), levado a efeito no passado dia 27 de Maio de 2017 em Ribeirão, Famalicão (Abel Santos, ex-Soldado Atirador)

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16127: (De)Caras (41): A Canquelifá da CCAÇ 3545 (1972-1974) e os acontecimentos de janeiro de 1974: a morte do "ranger" fur mil op esp Luís Filipe Pinto Soares (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74)


1. Mensagem, com data de 19 do corrente, do nosso colaborador, amigo, camarada e grã-tabanqueiro, Jorge Araújo, (que, na "vida real", é docente universitário, para quem não sabe, tendo na "outra vida" sido fur mil at inf op esp/ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74):

Caro camarada Luís Graça e demais editores:

Conforme promessa, que te dei conta em comentário escrito hoje no blogue, anexo uma nova narrativa histórica sobre os terríveis acontecimentos de janeiro de 1974 em Canquelifá (*), que guardarei para sempre na minha memória.

Aproveitei para juntar, no mesmo texto, três variáveis da guerra: os factos, os relatórios oficiais (Perintreps) e a comunicação social, com relevância para a morte de mais um camarada meu/nosso. (**)

Um abraço.

Jorge Araújo.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Guiné 63/74 – P8772: Memórias de Gabú (José Saúde) (1): No declinar da nossa presença em terras guineenses… A despedida!


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabú) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem.



NO DECLINAR DA NOSSA PRESENÇA EM TERRAS GUINEENSES…
A DESPEDIDA!


Depois da minha primeira opinião subscrita no blogue, ajudando o seu contexto para uma apresentação formal de um homem que viveu de perto as contingências da guerrilha (*), insiro-me, agora, sobre uma outra perspectiva que refere os momentos da nossa despedida. Isto é: os instantes derradeiros vividos ao serviço da CCS do BART 6523 em Nova Lamego – Gabú – com o PAIGC e a “luta” constatada com as milícias que não aceitavam, em parte, a sua eventual subserviência aos futuros tomadores do “trono” guineense. O pessoal estava armado e, a dada altura, deixaram antever que a ocasião passava por pedir meças àqueles que com eles conviviam amiúde. Porém, tudo não passou de “fumaças” uma vez que o entendimento prevaleceu e “a malta”, ordeiramente, retirou-se. Para trás ficaram pedaços de histórias da nossa presença naquele espaço guineense. Já no trono do descanso registei, e ficou escrito nas minhas memórias, o primeiro contacto com um grupo do PAIGC em pleno tempo de reconciliação.



A Revolução dos Cravos – 25 de Abril de 1974 – trouxe à ribalta valores morais a um povo deprimente que orava pelo fim da guerra no Ultramar. E se existia uma elite que defendia, intransigentemente, a manutenção do conflito, do outro lado estava uma população deveras ansiosa que temia a chegada da hora para ver partir o seu ente querido para as terras de além-mar. Todavia, as suas evocações não eram vãs uma vez que no interior do exército português havia, também, quem reclamasse eventuais sinais de justiça. Nesta encruzilhada de opiniões perspectivava-se, então, o pressuposto fim do conflito. É certo que os clamores de revolta vindos da elite dos novos capitães, eram sordidamente sufragados pelos agentes do regime. Assim, no breu de uma noite sem sono os “revoltosos” assumiram o comando das operações e romperam com os velhos estatutos de “idolatrados” senhores de colarinho branco. Seguiu-se então a libertação do povo e subsequentemente das colónias portuguesas. Os militares regressaram com euforia à Pátria de Camões.

Após um período deveras conturbado em toda a zona Leste (Guiné), e o ecoar sistemático de bombardeamentos nocturnos às nossas tropas, a que acresce a onda de confrontos no terreno com o IN que se estendiam entre emboscadas e minas, a que acresce o número de baixas registadas, gozava eu, na altura, umas merecidas férias na metrópole quando rebentou o 25 de Abril. Tinha vindo da Guiné a 10 de Abril de 1974. Neste percurso, e por mera curiosidade, deparei-me com a revolução em território luso. Estava em casa dos meus pais, já falecidos, em Aldeia, hoje Vila, Nova de São Bento. Assisti, assim, in loco à exaltação do povo. Todavia, no dia 9 de Maio, tal como estava programado, regressei a solo guineense deparando-me então com as mais díspares situações de revolta após a minha chegada a Nova Lamego. As milícias, e a população em geral, reclamavam segurança. Direitos anteriormente adquiridos. Estavam armados. Os tumultos eram frequentes. Junto à porta de armas abancavam e caprichosamente faziam exigências. Aliás, a porta do quartel registava diariamente um aglomerado de gente que, em coro, reclamava a sua própria defesa. Compreendia-se!

À parte desses tumultos o pessoal começou a preparar, cuidadosamente, o nosso adeus a Nova Lamego. Lembro a tarefa incansável de rebentar o material explosivo contido no paiol. O Santos, furriel de minas e armadilhas, encarregou-se desse trabalho e contou, também, com a minha ajuda e do Rui, furriel ranger, tal como eu. Passávamos manhãs a efectuar tremendos rebentamentos. Havia ordens e nós cumpríamos.

Por outro lado seguiam-se longas palestras com os chefes de tabanca, população, chefes das milícias e, naturalmente, com aqueles que connosco travaram anos de luta armada.

Por fim o desarmamento das milícias consumou-se sem problemas de maior. Tudo correu pela melhor e prevaleceu o velho entendimento entre homens de coração imenso.

Recordo que após o 25 de Abril a ordem, em geral, determinava que o pessoal deixaria de andar armado. E assim foi. Cumpriu-se a ordenação sendo que, como o racional determinava, nós deduzíssemos que do lado do PAIGC a ordem seria levada à letra. Vivia-se, digamos, uma fase algo tumultuosa. Indecisa. As conversações entre as partes protelavam-se e no terreno impunha-se o cumprimento das ordens emanadas pelos respectivos superiores hierárquicos. Havia disposições que os graduados, já informados, tentavam passar aos seus subordinados. Nunca abdicando de princípios acertados o tempo pós revolução de Abril foi fértil em descobertas que para nós constituíram surpresas imensas. Inolvidáveis. A dada altura, travando conversa com um capitão do PAIGC no bar de sargentos em Nova Lamego, o rapaz, ainda jovem, virou-se para mim e disse que me conhecia: “tu és o furriel Saúde, de Operações Especiais”. É verdade, comentei. Concluí que afinal nós éramos alvos, talvez silhuetas, já conhecidos. Uma guerra, ou guerrilha, tem obviamente consequências sempre inacabadas. Impensáveis.

Um belo dia, já em tempo de reconciliação, fizemos uma coluna a Bafatá. A viagem passou por ir buscar mantimentos para a nossa zona, sendo que anteriormente a coluna fazia-se com a uma escolta do pelotão de chaimites sediado em Bafatá. Carregámos o previamente solicitado e toca a fazermo-nos de novo à estrada. No regresso a Nova Lamego, e ao meio da viagem, surgiu-nos pela frente um grupo do PAIGC que nos mandou parar. Cumprimos religiosamente as suas ordens. Queríamos paz e nada mais. Só que de armas em punho os antigos guerrilheiros pareciam desconfiar da nossa franqueza. Pensei: “estamos lixados”. Tanto mais que a forma de abordagem, na minha opinião, não me pareceu correcta. Perguntava-me o comandante do grupo se trazíamos armas. Disse que não, claro. Relembrei-o das normas já em vigor entre as partes. Porém, alguns dos seus soldados, antes inimigos, agora amigos, nada conformados com a minha justificação de que se tratava, apenas, de uma coluna de abastecimento, toca a revistar minuciosamente o “material”. No final, e já numa fase de plena conversação, prevaleceu o entendimento e o abraço saudável entre dois homens que anteriormente se posicionavam em “esquadrões” adversos.

A noite de 3 para 4 de Setembro de 1974 no quartel de Gabú esteve ao rubro. Foi a entrega das nossas instalações ao PAIGC. O pessoal, em uníssono, deu azo a alegrias nunca imaginadas. O convívio foi bonito, recordo. Às 8 horas do dia 4, como era costume, preparou-se em conjunto o render das respectivas bandeiras. De um lado as nossas tropas, no outro, as forças do PAIGC. Nós hasteámos a nossa bandeira, de seguida retirámo-la do mastro, sendo que de imediato o PAIGC içou a deles. Um acto que colocava ponto final às tréguas sentidas ao longo dos muitos anos de guerra.

Momentos inesquecíveis de quem viveu na Guiné o pós 25 de Abril!

Um abraço,
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
Foto: © José Saúde (2011). Direitos reservados.

___________

Nota de M.R.:

(*) Este é o primeiro poste desta série.

Primeiro poste sobre o autor em:

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Guiné 63/74 – P7229: Controvérsias (108): O que era ser ranger entre 1960 e 1974? (2) (Magalhães Ribeiro, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER do BCAÇ 4612/74)



1. Embora co-Editor neste blogue é na qualidade de camarada desta Tabanca Grande que eu - Eduardo José Magalhães Ribeiro -, ex-Fur Mil OpEsp/RANGER da CCS do BCAÇ 4612/74, publico esta mensagem, julgando poder contribuir para o melhor esclarecimento das funções dos homens das Operações Especiais na guerra. Isto enquanto não surgem aqui as considerações de outros camaradas, desta especialidade, mais graduados e melhor instruídos e informados.


Camaradas,

Inicio este texto dizendo, o que ando para fazer há muito, que alguns comentários apostos em diversos postes no blogue, fazem-me rir, outros pensar, outros aprender e uns tantos vomitar… de enjoo e nojo!

Não tenho intervido sobre várias palermices que tenho vindo a ler, porque há matérias de que nada, ou pouco, sei e, assim, caladinho e quietinho tenho ganho muito tempo para outros afazeres (ainda não tenho netos), com esta minha posição, e deixado aos mais entendidos as cabais e merecidas respostas, não acrescentando qualquer mais valia ao blogue, antes pelo contrário.

É óbvio que não estou a falar dos irritáveis e traiçoeiros erros, ou incorrecções, pois como seres humanos que somos nada é mais possível de acontecer, nem das chalaças inócuas e brincalhonas de alguns amigáveis e bem dispostos camaradas.

Agora fala-se de RANGERS e, como vem sendo habitual, surgem logo uns “engraçadinhos” (quase sempre os mesmos anti-especiais e mal-intencionados), a “espetarem” as suas “agulhadazinhas” de inveja e, ou, dor de cotovelo.

Alguns RANGERS que acompanham a vida do blogue lêem as palermices e ligam-me a perguntar quem é este ou aquele “camarada”, que escreveu isto ou aquilo, e como eu nego conhecê-los “encomendam-me” recados para os mandar para sítios muito pouco recomendáveis, que não vou aqui mencionar.

Escusado será dizer que, alguns deles, enquanto não virem aqui nestas páginas respeito mútuo entre todos os participantes, negam-se a escrever e enviar-nos para publicação seja o que for sobre as suas memórias da Guiné.

Como eu JAMAIS farei qualquer comentário depreciativo ou pejorativo, seja de que especialidade for, pelo ENORME respeito que todas me merecem e nas quais conto com grandes amigos, deixo aqui registado o meu total repúdio e desprezo por quem o faz.

Posto isto, passo a expor mais algumas considerações, especificamente para os nossos visitantes em busca de informação, e para aqueles camaradas que eu penso que o merecem, e procuram saber respostas baseadas e factuais às suas mais que normais dúvidas e desconhecimentos.

Atrevo-me a tal, porque sei umas coisitas sobre o assunto – RANGERS (por experiência própria) -, pois frequentei com aproveitamento (14,63 valores) o 4º curso de 1973.

Quem foi RANGER, já leu e se apercebeu que o RANGER José M. Gonçalves foi modesto, comedido e racional q.b. na sua redacção, e só deu uma pequena ideia do que era um RANGER em tempo de guerra e para que servia.

Em tempo de guerra e nos idas de hoje, já que o CTOE continua e bem a formar e excelentes e competentes elementos nos seus quartéis para o que der e vier, quer em eventuais acções hostis ao nosso país, quer em outras missões (paz incluídas) onde e quando for preciso.

Como já foi repetido mais que uma vez aqui neste blogue, não vou voltar a contar como é que os “Operações Especiais” de Portugal, são vulgarmente conhecidos por RANGERS.

Assim, vou contar algumas pequenas lembranças minhas do meu curso, além do que foi dito pelo Gonçalves, para melhor se perceber que os RANGERS não eram, nem são, superiores nem inferiores a ninguém... apenas diferentes no modo se ser e estar na tropa e na vida.
  • Valorizar o que foi dito sobre os cursos RANGERS seria acrescentar que, por exemplo, além da instrução básica de infantaria (exercício físico, luta corpo a corpo, pistas de obstáculos, boxe, etc.) incluía imensas horas de técnicas de combate, prestadas por Alferes dos Grupos Especiais de Moçambique já com algumas comissões no pêlo. Tudo doseado criteriosa e infernalmente com simulações práticas de emboscadas, armadilhas e golpes-de-mão, rodeados de fogo real para melhor nos prepararem para o combate.

    Valorizar o que foi dito sobre os cursos RANGERS seria acrescentar que, por exemplo, só em granadas, explosivos e munições de vários calibres estoiradas na instrução de um RANGER, custava então, a preços de 1973, 137 contos em moeda antiga.

    Valorizar o que foi dito sobre os cursos RANGERS seria acrescentar que, por exemplo só nas centenas de quilómetros percorridos em caminhadas, marchas forçadas e crosses, um RANGER gastava, no mínimo, 1 par de botas ao longo do curso, que como bem se devem lembrar não eram assim tão fraquitas como isso.

    Valorizar o que foi dito sobre os cursos RANGERS seria divagar, ou pormenorizar, os cenários dantescos e macabros das diversas provas que eram lançadas, noite e dia, por vales, rios, montes, cemitérios, campos, etc. aos instruendos e cadetes: Fantasmas, Largadas, Esgotos, Calvários, Gerrilheiras, Durezas 11, 24 Horas de Lamego, etc.

    Valorizar o que foi dito sobre os cursos RANGERS, seria dizer que os seus elementos eram instruídos e adestrados nas várias especialidades militares de então (minas e armadilhas, transmissões, orientação, montanhismo, transposição de cursos de água, todas as armas ligeiras e pesadas - inclusive algumas do IN -, topografia e primeiros socorros), e ficavam prontos a substituir qualquer elemento dentro de um batalhão, inclusive comandantes de companhia como se verificou em várias ocasiões.

  • Valorizar o que foi dito sobre os cursos RANGERS, seria dissertar sobre as muitas aulas de acção psicológica que lhe eram incutidas, periodicamente, alertando-os e instruindo-os para os vastos perigos que iriam defrontar, tipos de populações e terrenos, tácticas e armas inimigas, as origens e efeitos do terrorismo, etc.

    Valorizar o que foi dito sobre os cursos RANGERS, seria elogiar uma disciplina rara até então, mesmo nas grandes empresas e escolas deste país, designada por: “SER CHEFE”.


Partes de um panfleto de acção psicológica
Se com esta bagagem "intelectual" e outra já por mim esquecida (já lá vão 36 anos que saí de Penude), os RANGERS não souberam posteriormente (por burrice, laxismo ou outra qualquer imbecilizada, ou miserável justificação), ou não quiseram transmitir (por politiquices maradas, crime omitivo, cobardia ou traição pessoal) aos seus subordinados o que foi ensinado no CIOE em Lamego, é uma coisa.

Outra coisa, como em tudo na vida, é sabermos que alguns RANGERZitos se exacerbaram e, ou, exorbitaram nas doses adequadas e necessárias a uma boa retransmissão de conhecimentos e experiência adquirida nos seus cursos, aos instruendos que lhes tocaram, daquilo que mais ou menos atenta e correctamente aprenderam, não é segredo para ninguém.

Quantas mais especialidades, além dos comandos, páras e fuzileiros (nas suas variantes e especificidades instrutivas) eram assim eram instruídas?

Na minha sincera opinião, reiterando o que o RANGER Gonçalves diz, toda a tropa foi máquina de guerra (cada um no seu poleiro) e contribuiu para o sacrifício e esforço da guerra que nos foi exigido, mas os treinos e as instruções de cada uma das especialidades eram completamente diferentes, como não podia deixar de ser.

Eram ou não importantes os homens que nos faziam chegar o correio muitas vezes a buracos no cu de judas, os que nos transportavam em barcos, os que bombardeavam com os seus aviões em situações aflitivas o IN, os que nos faziam chegar os materiais, equipamentos, alimentos, munições, etc.

Agora, quem não sabe do que fala pode é questionar e tentar informar-se dos porquês (origens, objectivos, finalidades, etc. das várias especializações), junto de quem sabe, ou conhece bem, ou então deve calar-se e não pronunciar-se leviana e cegamente sobre matérias de que nada, ou quase nada, sabe!

Como eu costumo fazer e.. bem, digo eu!

Um abraço,
Magalhães Ribeiro
ex-Fur Mil OpEsp/RANGER da CCS do BCAÇ 4612/74
__________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
5 de Novembro de 2010 >
Guiné 63/74 – P7226: Controvérsias (107): O que era ser ranger entre 1960 e 1974? (José Gonçalves, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 4152)

Guiné 63/74 – P7226: Controvérsias (107): O que era ser ranger entre 1960 e 1974? (José Gonçalves, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 4152/73)


1. O nosso Camarada José Gonçalves, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER, CCAÇ 4152/73 (Gadamael e Cufar, 1974), enviou-nos, em 30 de Outubro de 2010, a seguinte mensagem:


Camaradas,

Já há muito tempo que estou faltoso em enviar as fotos da praxe, uma das condições do “alistamento” no Blogue.

Aqui as envio agora, com mais uma que já havia enviado, da cerimónia da entrega do aquartelamento de CUFAR ao PAIGC.
O que era ser ranger entre 1960 e 1974?
Camaradas de armas,

Ultimamente tenho estado a pensar nas condições e formação militar que a nossa tropa tinha para enfrentar, um inimigo com uma experiência profunda do terreno, armamento melhor e uma experiência que em alguns casos era superior a 10 anos de combate, assim como uma cultura e formação de guerreiro. Acho que já aqui foi escrito que, para certas tribos na Guiné, um homem, para ser homem, tinha que beber por um crânio humano.

Como todos nós sabemos, os nossos soldados, na sua maioria, eram agricultores, pedreiros, pastores, etc. e iam para a guerra com cerca de 6 meses de treino e os oficiais e sargentos milicianos com cerca de um ano de instrução e uma idade muito perto dos 20 anos.

Na minha opinião este treino era absolutamente inadequado, principalmente quando era administrado por pessoas que não tinham vontade, capacidade nem conhecimentos para o fazer como era o caso dos milicianos.
Muitos dos oficiais milicianos eram recrutados no curso de sargentos milicianos e não tinham idade e, ou, maturidade suficiente para assumirem as responsabilidades de comando.

Vejamos: um alferes miliciano, que era responsável por administrar uma recruta e depois a especialidade aos soldados que eventualmente iam consigo para a guerra, aprendia o “ofício” de militar instrutor e comandante em 6 meses (dos quais 3 eram para a sua própria introdução no Exército e os outros 3 para frequentar um curso intensivo - a especialidade), no meu caso “Operações Especiais”.

A maior parte dos milicianos não tinha convicção para esta guerra e o seu principal objectivo era sobreviver, ele e aqueles que serviam sob o seu comando.

Isto era totalmente demonstrado pela dedicação que a grande maioria dos milicianos dava à formação dos praças, que eventualmente iam arriscar a vida na Guerra do Ultramar.

A formação militar era insuficiente e inadequada!

Isto era sabido pelos escalões do nosso Exército e um dos remendos que tentaram fazer, foi colocar pessoal de operações especiais na formação de companhias para que, estes milicianos melhor treinados mas muito longe de profissionais, conseguissem uma melhor formação operacional nas suas companhias.

Esta filosofia era-nos transmitida em Lamego, mas eu penso que era uma “táctica” muito mal pensada, pois os Rangers nunca foram aceites e não queriam, nem se podiam impor, aos seus demais camaradas e aos capitães milicianos que, na sua maioria, não tinham conhecimento de tal estratégia ou ignoravam-na por completo. Na minha opinião não havia metodologia implementada para esta integração.

Os 10 Mandamentos RANGER lidos todos os dias em Penude, na formatura matinal
Então o que era um Ranger nos anos da guerra?

Um Ranger, era um miliciano recrutado nas fileiras dos milicianos (após prestação de testes às suas capacidades físicas e psicológicas), para serem chefes militares de elite, preparados e treinados para isso, e que no fim de cursos duríssimos e altamente exigentes (a nível de equipa, grupo de combate e companhia de instrução no C.I.O.E.), eram distribuídos pelas diversas unidades de tropa normal.

Esta política, na minha opinião pessoal, não fazia absolutamente sentido nenhum a não ser que houvesse uma estratégia perfeitamente definida e melhor delineada, para que os conhecimentos que os Rangers adquiriam (apesar de eu os achar inadequados), fossem disseminados por todos os militares que compunham uma companhia.

Isto estava muito longe do que acontecia na realidade, pois quando da formação das companhias, aos Rangers eram-lhe atribuídos uma equipa (no caso de um 1º Cabo Miliciano) ou um pelotão (no caso de um Aspirante Miliciano), para serem treinados para a guerra.

Os outros pelotões e equipas eram treinados pelos outros milicianos que não tiveram o treino de Ranger.

Por outro lado muitos dos Rangers que foram integrados nas companhias “de tropa macaca como alguns lhe chamavam”, com as suas melhores formações físicas e psicológicas incutidas na sua especialidade, impunham treino rigoroso e muito exigente a homens mal alimentados que, como é óbvio, os debilitava nas suas melhores aptidões físicas e pior animados nas suas capacidades mentais.

Cometeram-se muitos disparates que, por vezes, resultaram em ferimentos graves nos soldados que estavam sob os seus comandos.

Como devem saber, porque acho que aqui já foi referido, o treino dos Rangers era realizado, na sua quase totalidade, com bala real, mas havia muita preocupação por parte do pessoal instrutor e monitor, altamente competente em minimizar a eventualidade de provocação de acidentes.

Vários Rangers, acabada a especialidade e integrados nas unidades a que eram destinados, decidiam incutir o mesmo treino que lhes foi ministrado em Penude, aos soldados que lhes foram destinados, mas sem as condições (alimentação, equipamento, armamento, munições e outros sistemas de suporte), que lhes permitissem que estes treinos obtivessem os sucessos desejados.

Em diversos casos estes métodos foram completamente desastrosos devido, essencialmente, às faltas de capacidade de transmissão das técnicas e conhecimentos adquiridos, pelo lado dos instrutores e, por outro lado, à falta de poder de assimilação dos instruendos.

Grande quantidade dos soldados que eram incorporados nunca se convenceram que iam lutar feroz e mortalmente contra outros homens, numa guerra (ainda por cima de guerrilha), perigosa e traiçoeira, que os poderia mutilar ou que lhes poderia ser fatal.

Eu tive militares que foram comigo para a Guiné, que não consegui no seu período de instrução que dessem uma simples cambalhota. Ao forçá-los a fazerem isso, caíam mal e, num caso específico, um deles inclusivamente partiu a clavícula.

Pensei na altura que talvez 50% ou 60% tivessem reunidas as capacidades mínimas (físicas e psicológicas), para enfrentar a guerra.

Mas era óbvio que isso, para o poder político e militar, não era importante e o que se pretendia era carne para canhão e formar os tais dispositivos de quadrícula (linha dianteira da guerra espalhada por todo o lado na Guiné).

Era assim que se formava a “tropa macaca portuguesa”, que aguentou 3 frentes de guerra durante 14 anos, apesar de todas as vicissitudes, como treino insuficiente, fraco armamento, péssimas acomodações, transportes deficientes e uma alimentação de bradar aos céus.

Quero só acrescentar um acontecimento que se passou numa das poucas vezes que fui em patrulha, antes do 25 de Abril, e que me foi relatado por um dos oficiais do PAIGC, em Gadamael-Porto, durante uma das nossas conversas.

Qual não foi o meu espanto, quando um chefe do PAIGC nos perguntou, se nos lembrávamos de uma patrulha que tínhamos feito no dia X, pelas tantas horas, na região de Unsiré e Gadamael fronteira.

Respondemos que sim e perguntamos porque nos fazia essa pergunta.

Mais espantado fiquei, quando ele nos disse que, nesse dia, tínhamos passado por uma emboscada montada por eles nessa zona.

Perguntamos logo porque não abriram fogo e a resposta foi algo que ainda hoje me regozijo: “NÃO ABRIMOS FOGO PORQUE PENSAMOS QUE ERAM COMANDOS”.

Como oficial que fui, quero dizer a terminar que nunca mais quero ir para uma guerra, nem comandar ninguém, mas se tivesse que ir de novo hoje só aceitaria desde que me acompanhassem os mesmos militares portugueses desse tempo, porque demonstraram capacidades invulgares de enorme de sacrifício, tolerância e adaptação às circunstâncias mais adversas.

Espero que este texto gere novos “postes” sobre este assunto, pois considero-o como um dos pontos fundamentais, para compreendermos como conseguimos aguentar uma guerra daquelas durante tanto tempo.


Cufar > 07SET1974 > Cerimónia da entrega do aquartelamento ao PAIGC
Cumprimentos para todos
José Gonçalves
Alf Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 4152/73
__________

Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

29 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 – P7190: Controvérsias (106): Venho aqui para vos dizer que estou vivo! (António Matos)

sábado, 11 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P6972: Patronos e Padroeiros (José Martins) (14): C.T.O.E (Centro de Tropas de Operações Especiais) – Nossa Senhora da Conceição

1. O nosso Camarada José Marcelino Martins, (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviou-nos mais uma mensagem, com data de 10 de Setembro de 2010, da série “Patronos e Padroeiros do Exército”:
Patronos e Padroeiros do Exército
C.T.O.E (Centro de Tropas de Operações Especiais) – NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO

Memorial aos militares da Unidade (Caçadores Especiais, Comandos e Rangers), falecidos nas campanhas de África - C.T.O.E. © Foto José Félix

A Imaculada Conceição, comemorada em 8 de Dezembro, é invocada como Padroeira de muitas organizações. Foi definida como uma festa universal em 1476 pelo Papa Sisto IV. A Imaculada Conceição foi solenemente definida como dogma pelo Papa Pio IX em sua bula Ineffabilis Deus em 8 de Dezembro de 1854.

Nas instalações onde foi criado, em 16 de Abril de 1960, pelo Decreto 42926, o Centro de Instrução de Operações Especiais [hoje, Centro de Tropas de Operações Especiais], existe a Igreja dedicada a Nossa Senhora da Conceição.

Sob a sua invocação, foi criada a Irmandade Militar de Nossa Senhora da Conceição que, após a sua investidura de novos membros, dirigem-se à parada onde, durante as homenagens militares prestadas aos militares caídos no Campo da Honra, rezam a Prece dos militares Rangers:

Dai-nos, Senhor, tudo aquilo que nunca Vos é pedido.

Não Vos pedimos o descanso, nem a tranquilidade do corpo, nem tão pouco a do espírito.

Não Vos pedimos riqueza, nem o êxito e as honrarias, nem sequer o reconhecimento dos homens.

De tudo isto, que insistentemente Vos pedem, talvez quase nada já Vos reste.

Dai-nos, pois, ó Deus, o que ninguém quer, o que todos rejeitam:

A insegurança, a incomodidade, a inquietude, a tormenta e o risco. A vereda estreita e agreste que vai até Vós.

Concedei-nos isto, nós Vos suplicamos, definitivamente, porque a fraqueza, fruto do egoísmo humano que em nós existe, talvez nos tire a coragem de o solicitar de novo.

Dai-nos, Senhor, o que Vos sobra, aquilo que ninguém quer, nem sequer Vos pedem mas, dai-nos, ao mesmo tempo, o valor, a vontade, a força e a fé que temperam a alma do soldado na grandeza da sua servidão.

Por ultimo, Vos rogamos, ó Senhor, por aqueles que, de entre nós, em todos os tempos, caíram no campo da Honra e derramaram o seu sangue pela Independência e Liberdade da Pátria.

Nós Vos pedimos, ó Deus dos Exércitos, que, no Vosso Seio, repousem na paz eterna as almas destes bravos.

(Adaptação feita pelo Tenente Coronel António Cor. Feijó, sobre um tema de uma poesia do General Mac Arthur - C.I.O.E. em Lamego, Junho de 1986)

José Marcelino Martins

Fur Mil Trms da CCAÇ 5

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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

26 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6788: Patronos e Padroeiros (José Martins) (13): Avós - Santa Ana e S. Joaquim

terça-feira, 23 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4566: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (10): Obrigado, camarigos!... Obrigado, António Bonito! (Joaquim Mexia Alves)

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > (*) O grito do ranger... No grupo, reconheço, da esquerda para a direita, o Luís Raínha, o Casimiro Carvalho, o J. Mexia Alves, o José Pedro Neves, o António Pimentel (de que só se vê a cabeça, entre o Mexia Alves e o Pedro Neves), o Santos Oliveira (de boina), o Benjamim Durães e o Eduardo Magalhães Ribeiro. Cada um da sua época e sítio: o mais antigo é o Santos Oliveira, e o mais pira dos piras, o Eduardo, o nosso pira de Mansoa (embarcou para a Guiné já depois do 25 de Abril de 1974)...

Vídeo (12''), fotos e legendas: © Luís Graça (2009). Direitos reservados

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O homem da massa, graveto, grana, carcanhol, guita, patacão, milho, maçaroca, cheta, caroço, arame, arjã, cacau, pastel, vil metal, tusto, cobres, prata, lecas, nota preta, papel, aquilo-com-que-compram-os-melões (como é rica, ao menos, a língua da gente!)... Na hora da dolorosa, passaram-lhe pelas mãos, dele Joaquim e dos seus ajudantes, cerca de 4 mil aéreos... Não faltou um cêntimo...


O Nelson Domingues (Monte Real / Leiria), membro da nossa Tabanca Grande e hoje advogado estagiário, fez questão de se inscrever no nosso IV Encontro Nacional, homenagenando mais uma vez a memória do seu tio, Manuel Sobreiro, Alf Mil de Minas e Armadilhas, CART 1612 (1967/69), morto numa acidente com um granada defensiva, em Mampatá, em Fevereiro de 1968... Ele é um exemplo extraordinário de dedicação a uma causa, a da preservação da memória do seu tio, o Sobreirito, natural de Leiria.

O Joaquim Mexia Alves, recebendo o patacão de um Homem Grande, António J. Pereira da Costa, que mais uma vez veio ao nosso encontro, com a sua amável esposa, Isabel (esteve na Guiné, entre 1972/74, e nomeadamente em Mansoa: também já a desafiei a escrever sobre esse tempo e lugar...).

O meu querido amigo e camarada da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71), o ex-Fur Mil Trms, José Fernando Almeida que veio com a sua Suzel (vivem em Óbidos e vão organizar para o ano o convívio da malta de Bambadinca 1968/71, CCS/BCAÇ 2852, CCAÇ 12 e outras subunidades).


O ex-Fur Mil António Sousa Bonito, do Pel Caç N 52, que esteve no Mato Cão, com o Joaquim Mexia Alves...(Aqui à conversa com o Jaime Machado, ex-Alf Mil Cav do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70, que o J. L. Vacas de Carvalho foi substituir...

O Bonito pertenceu originalmente à CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo (1971/74), companhia a que pertenceu ao nosso tertuliano nº 2, o Sousa de Castro, que infelizmente não pôde vir este ano ao nosso Encontro... O Bonito, que vive em Montemor-O-Velho, veio de propósito fazer uma surpresa ao Joaquim... Também falei com ele sobre a CCAÇ 12 do seu tempo... Gostaria de o convidar para ingressar no nosso blogue.

O sempre bem disposto J. Casimiro Carvalho, ex-Pirata de Guileje (CCAV 88350, 1972/74), com outro ranger de Lamego, o nosso Joaquim...


1. Mensagem do Joaquim Mexias, elemento da Comissão Organizadora do Nosso IV Encontro Nacional:

Meus caros camarigos

Já agradeci via mail, ao Carlos Vinhal, ao Miguel Pessoa e ao Luís Graça, a festa linda que tivemos no Sábado dia 20.

Dizia-lhes eu que recebi alguns elogios, mas que todos lhes eram devidos.

Vós, meus camarigos, não fazem ideia do trabalho que o Carlos Vinhal teve na organização e acerto das inscrições, dos nomes das dormidas! Quantos telefonemas e mails a marcar e desmarcar, a dar nomes só com nome próprio e por aí fora!

Vós não sabeis também da dedicação e trabalho do Miguel Pessoa, em não querer que nem um só ficasse sem cartão de identificação e preocupando-se se os nomes dos camarigos, mas também das camarigas, estavam certos!

E ainda foi fazer mais uns cartões para colocar nas portas da Pensão de modo a que cada um “não se enganasse” no seu quarto!

Vós não sabeis que o Luís Graça andou nestes últimos dias por esse Portugal fora, mas sempre deixando uma mensagem, uma lembrança, uma palavra, um estímulo, um elogio!
Sempre com uma calma impressionante, uma sensatez cativante, um apoio permanente!

Por isso lhes enviei a minha mensagem de agradecimento, mas quero, (se eles me permitirem), deixá-la aqui publicamente.

E a vós todos camarigos que responderam á chamada, com o vosso empenho, com a vossa boa vontade em achar tudo muito bem, com as vossas histórias, fazendo história, o meu obrigado também!

E às vossas camarigas, que arrostaram com o sol, que arrostaram com as histórias intermináveis e tantas vezes repetidas, mas que emprestaram a graça e a beleza ao nosso almoço, o meu agradecimento profundo!

E a vós também camarigos, que ficaram por lá, porque não puderam vir certamente, com grande pena vossa e nossa também, o meu obrigado porque estivestes connosco no pensamento, no coração, nas histórias contadas!

Pois é, estes encontros, têm muito de tudo, e sobretudo têm muito de emoção.

O Carlos Vinhal pregou-me uma surpresa como poucas vezes tenho tido! Escondeu-me sempre, colocando apenas parte do nome, a presença no almoço do meu Furriel António Bonito! Ia-me matando do coração!!!

Disse-o então e digo-o agora: Se alguma sanidade mental conseguia manter, devo-o à presença do Bonito, e à sua companhia no Mato Cão!

Não preciso de estar com ele muitas vezes, nem ele comigo, para ambos sabermos que em cada uma das nossas vidas há um quarto, há um espaço, que tem o nome de ambos gravado.

A guerra tem destas coisas, constrói amizades, que vão para além do tempo, do espaço, do encontro.

Obrigado Carlos Vinhal, obrigado António Bonito!

Como a Tabanca não deve ter outra fotografia do Fur Bonito aqui deixo esta no Mato Cão, ao fim da tarde, quando o sol se punha e a melancolia atacava... (Foto à esquerda, do JMA).


Já sei que devem estar a dizer ao lerem isto:
- E o gajo, que não lhe desse para o sentimento!!!

Abraço camarigo do tamanho do sentimento que nutrimos uns pelos outros, por Portugal e pela Guiné.

Joaquim Mexia Alves

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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 23 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4565: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (9): Em busca de letras de fado, perdidas no restaurante da Quinta do Paúl (José Brás)

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4495: A Tabanca Grande no 10 de Junho de 2009 (3): O pira de Mansoa, ranger, praticante de desportos radicais... (Luís Graça)

Lisboa, Belém, Forte do Bom Sucesso > 10 de Junho de 2009 > Mini-encontro do pessoal da Tabanca Grande

Eduardo Magalhães Ribeiro: "o homem que chegou à Guiné, em 1974, e que acabou com a guerra"... Mito ? É a sua coroa de glória, a estória que um dia há-de contar aos seus netos... Em contrapartida, há quem - como o David Guimarães - o acuse do crime de alta traição à Pátria... De facto, foi ele quem arreou a última bandeira portuguesa... Em Mansoa, no dia 9 de Setembro de 1974... Na presença da Maria Turra e dos altos dirigentes do PAIGC, imaginem!... Ele, bem mais modesto, não reivindica para si senão o epíteto de Pira de Mansoa, pelo qual de resto é conhecido e tratado, carinhosamente, na Tabanca Grande...

É co-editor do nosso blogue, estagiário, periquito ainda, ... Prometeu-me nunca mais se envolver em polémicas sobre as Operações Especiais, os Rangers, e outros temas ditos fracturantes... Nas fotos vemo-lo com outros camarada como Mário Fitas, Silvério Lobo, Helder Sousa e um militar do pelotão de artilharia que estava em Guileje no dia 22 de Maio de 1973... Amadu Jaló, se bem fixei o nome... O Mário Fitas tomou notas da sua história e prometeu enviar-mas...

O Eduardo também fez parte, este ano, da organização deste evento, que são as comemorações do 10 de Junho, em Belém...

Fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservados

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Notas de L.G.:

Vd. postes anteriores desta série:

10 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4403 - P4494: A Tabanca Grande no 10 de Unho de 2009 (2): Cabral só há um, o de Missirá e mais nenhum (Luís Graça)

10 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4493: A Tabanca Grande no 10 de Junho de 2009 (1): Estes sons que ainda mexem connosco (Luís Graça)

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3880: Blogoterapia (91): Eu, Ranger, me confesso: todos iguais, todos diferentes (Paulo Salgado / Magalhães Ribeiro)

Guiné-Bissau > Maqué > 26 de Fevereiro de 2006 > " O mais belo poilão que conheço da Guiné" (Paulo Salgado, ex-Alf Mil Op Esp, sentado, ao lado do ex-1º Cabo Moura Marques; ambos pertenceram à CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72; o comandante da companhia era o Cap Cav Mário Tomé ) (*)

Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Estrada S. Domigos-Varela > Edjim (ou Igim, de acordo com o mapa geral da Guiné, de 1961)> 10 de Fevereiro de 2006 > O Paulo Salgado, administrador hospitalar, cooperante, com um colega do Hospital Nacional Simão Mendes, à beira do Rio de Edjim, conversando com um antigo soldado guineense, apanhador de ostras. (**)

Guiné-Bissau >Olossato > 26 de Fevereiro de 2006 > O Grão-de-bico, ontem criança, hoje Homem Grande, pai de filhos, reencontra o Moura Marques e o Paulo Salgado... (*)

Fotos: © Paulo Salgado(2006). Direitos reservados


1. Do nosso camarada e amigo Paulo Salgado, que tem andado arredio do blogue (por viver e trabalhar neste momento em Angola) (Juntei três pequenos mails que ele me enviou nos primeiros dias de Fevereiro; e daqui vão as nossas melhores saudações bloguísticas).

Viva, Luís Graça,

Como dizem os brasileiros que por aqui pululam, nesta Angola que tanto cativa, que tanto apela ao negócio, e que seria um bom laboratório para a tua área: faz tempo!

Na verdade, ainda estou por Luanda, julgando que ajudo, julgando que querem o meu trabalho, julgando que há possibilidade de me sentir útil.

(...) Da celeridade que pões nos assuntos, do teu empenho e do teu sentido de solidariedade - ninguém pode duvidar. Já não assim do meu desleixo face ao que prometi quando almoçámos na Escola faz um ano. E também tenho sido um miserando bloguista! (...)

Põe lá este (pouco) saboroso naco de prosa, por favor. A propósito de uma mensagem de um 'ranger'.

Paulo Salgado


Já há muito que não escrevo nada para o blogue que o sempre sereno Luís Graça iniciou com tanta humildade intelectual. Por vezes somos confrontados, camaradas, com opiniões diversas - o que é absolutamente salutar. Afirmei isto, por diversas ocasiões, em 2005 e 2006, na altura presente na Guiné em trabalho de cooperação, a propósito de encararmos as actividades das NT e do IN sob diversos ângulos, e tive mesmo oportunidade de contar episódios concretos (ainda que não descritos na sua totalidade pelo respeito que a História me merece), os quais eram narrados de forma diferente pelos militares que participavam numa emboscada, num patrulhamento, num golpe de mão, ou caíam numa emboscada ou eram alvo de ataques ao aquartelamento.

Para mim, isto não é ciência nem representa qualquer melindre. Faço um parêntesis para vos dizer que na guerra de 14-18 estiveram dois homens da minha aldeia, juntos no norte de Moçambique, jovens que eu já conheci idosos, como é óbvio, e de que guardo recordações de grande humanismo. Pois bem: mesmo estando juntos na mesma guarnição lá junto do Rovuma, as histórias que contavam eram sempre diferentes...apesar de vividas lado a lado. As coisas relatadas dependem do clima emocional, da capacidade de olhar para as coisas, que sei eu?!

Mas vamos ao caso deste camarada [, Magalhães Ribeiro]: o de os ditos operações especiais não serem referidos nas crónicas dos bloguistas. Tem razão na mágoa que sente, ao não serem falados, julgo mais por esquecimento do que por acinte.

Eu fui Alferes Operações Especiais, comandei a companhia alguns meses, sofri como o caraças, tive medo que nem imaginais, participei em patrulhamentos e outras acções mesmo sem o meu grupo de combate. Não me sentia superior, em nada, aos outros camaradas alferes. Talvez sofresse mais, pelo menos antes das acções, pois sabia de antemão o que se iria passar nos dias seguintes e nas operações que desciam do Alto Comando em Bissau. Talvez sofresse mais pela responsabilidade de comandar 150 camaradas na ausência do Mário. Porra, noites sem dormir...

Havia um furriel que andou comigo em Lamego - nutríamos uma relação de proximidade, e ele gostava de dizer que era ranger... Era compreensível, julgo.

Por isso, camarada Ribeiro, não te zangues, os bloguistas vão repor os factos e relembrar que havia lá uns rapazes que tinham andado em Lamego, e que sem serem melhores, eram diferentes.

Mantenhas pa tudus. Salgado

Post scriptum: a espaços retomarei o meu lugar de bloguista,com vossa licença, sobretudo para falar de aspectos não militares que emolduravam a nossa presença na Guiné, que acabei por calcorrear meses e meses (anos até) como cooperante, sem ressentimentos, do meu lado e do de muitos combatentes que vim conhecer nas tabancas do Morés, de Buruntuma, de Mansoa...


2. Mensagem que circulou pela nossa Tabanca Grande, em 3 do corrente, enviada pelo nosso camarada Eduardo Magalhães Riberio, o pira de Mansoa (Trabalha no Porto, vive em Matosinhos; fez parte do 4º turno de 1973 do Curso de Operações Especiais/RANGER; missão na Guiné em 1974; criador e editor do blogue COISASDOMR > OPERAÇÕES ESPECIAIS/RANGERS DE PORTUGAL/GUERRA DO ULTRAMAR).

Asunto - O novo site da Guerra do Ultramar/Colonial (***)

Amigos bloguistas,

Já dizia o meu falecido pai (Sargento do Exército Português durante cerca de 50 anos), que "Quem não se sente, não é filho de boa gente". Ora, como eu penso que sou, aqui vai:

O nosso camarada/bloguista Pedro Lauret lançou e bem, digo eu, um poste que recebeu a referência P3829, onde se convida o pessoal para a apresentação do novo sítio da Guerra do Ultramar/Colonial, com o endereço: http://www.guerracolonial.org/(***).

Para vos ser franco, após uma primeira análise, para MIM (mim em letras maiúsculas para frisar que esta é uma opinião pessoal), nada traz de novo, é só mais um site, e passo a explicar porquê.

Dizem os camaradas que estiveram na guerra e, se calhar com muita razão, que os RANGERS/Operações Especiais eram, salvo raríssimas excepções, extremamente discretos.

Esta discrição, chamem-lhe qualidade ou defeito, é, ainda nos dias de hoje, incutida na instrução em Lamego, por motivos óbvios e inerentes à própria especialidade, e porque as missões a que eram destinados assim o impunham.

E se, por exemplo, os temíveis COMANDOS, os formidáveis PÁRA-QUEDISTAS, e os não menos terríveis FUZILEIROS eram treinados a nível de companhia, e assim permaneciam em actividade até ao fim das suas comissões, os RANGERS eram disseminados pelos diversos batalhões e companhias, de infantaria, cavalaria, etc. (****).

Muitos já no Ultramar, por convite ou voluntariado, integravam os famigerados e eficazes Grupos Especiais e Grupos Especiais Pára-quedistas, tanto em Moçambique, como Angola e na Guiné.

Não vou aqui falar dos feitos dos RANGERS, tanto nas companhias como nos diversos batalhões, nem sequer nos grupos especiais, que são sobejamente conhecidos por todos aqueles que passaram pela guerra, e porque há conceituadas altas patentes militares bem mais habilitadas para o fazer do que eu.

O que me surpreende e aos milhares de RANGERS que prestaram serviços de suma relevância nas 3 frentes da guerra, é que tanto o presente site, como os livros, as reportagens, etc. sobre o assunto Guerra do Ultramar/Guerra Colonial, são omissos, ou por ignorância, ou por outro motivo qualquer, na parte que lhes devia tocar, no tratamento da parte dedicada às tropas especiais.
Talvez por este motivo os meus camaradas desta especialidade, os seus familiares, simpatizantes e amigos, quando são chamados a ver estas coisas limitam-se a um encolher de ombros e a soltar uma, ou mais palavras de depreciação e desprezo.

Eu só digo:
- É pena ver isto tão incompleto!

Eduardo José Magalhães Ribeiro
Ex-Furriel Mil Operações Especiais/RANGER
CCS/BCAÇ 4612/74 - Mansoa/Guiné (1974)
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 2 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCI: Crónicas de Bissau (ou o 'bombolom' do Paulo Salgado) (12): reviver o passado em Olossato

(**) Vd. poste de 30 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXI: Estrada de São Domingos: as minas de ontem e as de hoje (Paulo Salgado)

(***) Vd. último poste da série Blogoterapia > 1 de Fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3874: Blogoterapia (90): Natal é quando o Homem quiser (Santos Oliveira)

(****) Vd. sítio Guerra Colonial (1961-1974)> Forças Portuguesas