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terça-feira, 24 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15405: Expedição Porto-Dakar, integrada na 2ª edição do Dakar Desert Challenge: Coruche, Marrakech, Bissau, Dakar: 26 de dezembro de 2013- 9 de janeiro de 2014 (Abílio Machado, ex-alf mil, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72) - Parte I

1. Mensagem,  de 31 de agosto de 2015,  do Abílio Machado 

[o nosso "Bilocas" de Bambadinca, grande amigo dos velhinhos da CCAÇ 12, eu, o Tony Levezinho, o Humberto Reis, o Gabriel Gonçalves, entre outros; ex-alf mil, contabilidade e administração, CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/72; e também um dos fundadores do grupo musical Toque de Caixa; vive na Maia; publicou recentemente o Diário dos Caminhos de Santiago, Porto, 2013]

Caro Luis :

Em anexo, segue o texto digital da expedição à Guiné (e não só).

Datando o evento : 26 de Dezembro 2013 a 9 de Janeiro 2014, passando por Portugal, Espanha, Marrocos, Sahara Ocidental, Mauritânia, Guiné-Bissau, Gâmbia e Senegal.

Enviarei depois algumas fotos que possam "engalanar" o texto.

Grande abraço
Bilocas


PS - A passagem pela Guiné foi - não o escondo - um dos motivos maiores que me trouxeram a esta expedição [, do Dakar Desert Challenge]. E a aventura, que sempre me estimula.  A oportunidade de rever amigos e voltar a um território onde, por força da guerra,  gastei dois anos da minha juventude, tornavam esta jornada mais que aliciante.


Abílio Machado, foto atual
2. Porto-Dakar - Parte I

por  Abílio Machado  

[, integrado na 2ª edição do Dakar Desert Challenge: Coruche, Marrakech, Bissau, Dakar: 26 de dezembro de 2013- 9 de janeiro de 2014 ] (*)


Fotos (e legendas): © Hugo Costa (2006). Todos os direitos reservados.  Como o Abílio Machado não nos mandou as fotos a tempo, usamos as da Expedição Porto-Bissau, realizada em abril de 2006, por Xico Allen e A. Marques Lopes. [Edição e legendagem complementar: L.G.].


A expectativa era alta, largos os horizontes, imensa a vontade de partir e rasgar o desconhecido… O jeep, um Land-Rover robusto e fogoso, artilhado e armado para todos os Bojadores, quase intimidava o neófito que mal adivinhava as aventuras que o esperavam. Não fora a carga humanitária que o trotamontes carregava - o que lhe dava um ar quase humano - e o secreto desejo de retornar a um país onde gastara dois dos seus jovens anos, o pobre estreante destas descobertas teria arrepiado caminho na sua decisão.

Partimos … a chuva molhava uma noite, escura como breu, que exigia ao condutor do Land todos os sentidos alerta. Assim melhor sentíamos as ânsias e o temor dos velhos marinheiros de antanho que nos revelaram o mundo.

Revigorados por três horas de sono em Coruche (*) - era o prenúncio das vigílias que nos esperavam - rumamos a Tarifa, porta aberta para Tânger e o exótico de Marrocos.

Porto-Bissau... 6 de Abril de 2016...Dia 2, Marrocos,
Marraquexe: gare ferroviária.
Foto: © Hugo Costa (2006)legenda
Nada nos tolhia o entusiasmo, mesmo os dois furos com que o primeiro dia nos recebeu. Se mal despertos íamos, foi-se-nos o sono : nunca pensei que fossem tão pesados os pneus de um jeep. Esgotamos na primeira etapa a nossa dotação de furos: nem os mais pedregosos tracks do deserto fizeram a mais pequena mossa aos neumáticos do "cavalinho". ("Cavalinho" era o nome com que eu afagava o Land nos apertos das areias ou dos trilhos mais rugosos).

Ainda tonto das novidades, de tudo querer ver e saber, de tudo apreender (o que é um “erg”, oued é djelabha, xocram…), vês-te no turbilhão da Praça Jemaa el Fna, mendigos, serpentes, Marraquexe recebe-te com um chá de menta que te aquieta a alma. A alma perde-se-te nos labirintos da medina, entre tapetes, especiarias, babuchas, fezs, ferragens e frutos secos.
um rio?,

Agadir é já ali, ali é já o dia seguinte, o ”cavalinho” afeito às distâncias nem arfava, arfávamos nós de fome. Num descampado à face da estrada entrava pela janela um aroma conhecido : peixe grelhado. Mesmo a calhar.

Sondamos o peixe e o menu : sardinhas assadas sobre pão marroquino e cebola crua. Tudo sobre um rectângulo de papel, pratos não havia, talheres também não, nem intérprete. O preço apelativo : 5 sardinhas,  1 euro. Será que entendi bem? Não será ao invés, 1 sardinha cinco euros?

Porto-Bissau... 7 de Abril de 2016...Dia 3, Marrocos:
 a caminho de Tânger...o Atlas ao fundo
Foto: © Hugo Costa (2006).
Abancamos. Gordas, grávidas, pediam-nos que as comêssemos. Comemos. O ar de satisfação que os marroquinos exibiam estendeu-se à mesa dos portugueses.  As sardinhas estavam - se o usasse - de se tirar o chapéu, um regalo! Arrematamos com um queijo de Serpa e bolos artesanais. E tangerinas de Marraquexe. Um manjar de Califa.

Não houve refeição que melhor nos soubesse : quase grávidos, sonolentos fomo-nos aos jeeps.

O vale-oásis, mais te fascina que surpreende, sabes que o deserto tem seus segredos, mal esperas e um oásis abre-se para ti ao virar da duna, não há coisa que mais deleite tuaregs e camelos.


Adicionar Porto-Bissau... 8 de Abril de 2016...Dia 4,
Sara Ocidental: 
a caminho de Tantan - Roc Chico, a 73 km
de Tarfaya 
Foto: © Hugo Costa (2006).legenda
Este foi lugar aprazível - fácil é imaginá-lo - para os ocupantes de Fort Bou Jerif que lhe fica sobranceiro, os soldados da Legião Estrangeira [Francesa] que o ocuparam durante anos, não nós que nele pernoitamos uma noite, uma noite limpa, estrelada e de estrelas tão brilhantes que as julgávamos ao alcance da mão.

O deleite dos olhos trouxe-nos o sacrifício do corpo : o briefing do dia sinalizava a passagem na Praia Branca e advertia para a hora da praia-mar, de olhar o oásis, esquecemos o detalhe, enchia a maré quando desembocamos na praia, paisagem de sonho, areia branca mas perigosa, como certas mulheres, fofas mas movediças, ao fim da praia contamos cinco horas para fazer 87 kms, coisa - amigos - ao alcance de um bom maratonista, digo-vos eu.

Atascamos, desatascamos, ajudamos, partilhamos, suamos, cervejamos, mais fácil é escrevê-lo que sofrê-lo.

A praia termina na foz do Oued Aoerora, subimo-lo e como nós, deslumbrados pela beleza, cáfilas de camelos que, na pouca água do rio, matavam sedes de semanas.

Porto-Bissau... 9 de abril de 2016...Dia 5, Roc Chico a 
Nouakchott,  capital da Mauritânia... Um dos maiores 
comboios do mundo  Foto: © Hugo Costa (2006)
Fotos com os pastores, até que alguém grita, ala que se faz tarde!, chegaremos a Smara de noite. Arrancamos, pressurosos… Sustém a marcha, "cavalinho", a noite vem, eu sei, mas deixa que uma outra vez deleite os olhos ao pôr do sol. Há muitos, sabemos, e de vários cambiantes, mas morrer sem um pôr de sol no deserto é morrer cego, cego não morrerei, eu vi o sol pondo-se sobre o deserto de Smara.

Smara é já no Sahara Ocidental, cidade rodeada de quartéis, tantos são que se julga a cidade ela mesma aquartelada, militares nas ruas, desarmados mas visíveis, como visíveis são algumas mudanças : não nas mulheres, que trajam o tradicional, mas nos homens, como se nos dissessem, sou do Sahara Ocidental, como ocidental visto.
AdicionarPorto-Bissau... 9 de abril de 2016...Dia 5, Roc Chico
 a 
Nouakchott,  capital da Mauritânia... O comboio...
Foto: © Hugo Costa (2006)
 legenda

Muda o deserto também, uns taludes de terra acompanham os trilhos que fazemos, muros contra a Frente Polisário, dizem-nos, lemos que este é território em disputa, o povo sarauhi reclama autonomia.

Autónomo, não, não falo do Alberto João!, autónomo foi o nosso jantar. Porquê? - dirão. Vejamos : num lado se compra a carne, noutro se cozinha. Assim mesmo : vai-se ao talho e compra-se 1 kg de bifes e costeletas; vai-se ao restaurante a grelhar e comer. Duas operações, autónomas como as nossas autonomias, mas baratas : 1 kg de carne, 10 euros.

Para os ecónomos, aí vai : 5 sardinhas 1 €, 1 kg de carne 10 €, tagine de borrego 5 €, 1 kg de tangerinas 40 cents, 1 djelabha 15 €, 3 gorros 60 cents, carpete de lã 60 €, a mesma de seda 125 €, 2 punhais 7 €, a dormida foi em quarto duplo Hotel Amine, Smara, com banho privativo e cilindro prestes a rebentar 25 €, para compra e venda de acções direi que 10 dirhans 1 €, 350 oughias cotam-se a 1 €, o franco cfa está cotado a 0,650 do €, cotação de Wall Street acabadinha de abrir, 14 h na Euronext.

Montamos a tenda. Era dia de acampamento, era noite, o dia já se fora e com ele as primeiras miragens : são como as bruxas : no me creo en brujas, mas que las hay, las hay, direi em português : sei que não existem, mas que as vi, vi.

Lagos, largos de água, ao longe, que o deserto, uns metros à frente, esconde.

O deserto dá, o deserto o tira, o deserto é todo ele uma miragem, vasta, bela, um horizonte infindo de fantasia e ilusões.

No brinde da meia-noite desejámo-nos fantasia e sonhos, também saúde e acções, das boas …Hoje é a passagem de ano : 2014 entra pé ante pé, surpreende-nos no deserto, belo mas inóspito e frio, um cozido de bacalhau com grão e batatas aquece-nos o corpo, à alma aquece-a um bagaço odoroso, perfumo o café, repito, nem assim a noite será mais quente, pior será a manhã, negativos os graus, no lavar da loiça caem-nos os dedos, de tão frias logo cairão as mãos. Retorno à infância, não retenho da minha vida momentos de tanto frio, o velho professor esperava que as mãos nos aquecessem para iniciar os trabalhos.

Passamos o trópico de Câncer, um tronco de madeira, artisticamente esculpido, assinala o ponto. Um dia passarei, sou Capricórnio - passaremos - o outro, não nos negue a vida vontade para tal feito. Alguém faz anos na caravana.

Porto-Bissau... 9 de abril de 2016...Dia 5, Roc Chico
 a Nouakchott, capital da Mauritânia... Sarauís...
Foto: © Hugo Costa (2006)
r legenda
Hoje direi das acácias a cada dia mais magras e ressecas, da ave bip-bip (sem coiote), das beduínas tendas, nómadas, dos cães selvagens, das mariolas, dos pneus e montes de terra, balizas-guias no deserto, dos bebedouros, das duas ovelhas perdidas e seus anhos de um dia, como se dissessem vamos ali ter um filho e já vimos e na volta se vissem abandonadas da família, da vasta planura do deserto sarauhi, infindo, uma colina, vaidosa, exibe-se no horizonte, de uma penugem verde que cobre o deserto, não me dás de comer hoje?, dou o que tenho, também o céu não me dá água, come essa ervinha tenra, chamar a isto erva, vê-se bem que nunca foste à Europa, não posso ir, não tenho pernas como tu, o aventureiro não vê só miragens, também ouve as conversas que têm as ovelhas e o deserto, é do sol que abrasa e lhe coze o cérebro, das conversas das mulheres sarauhis quando se encontram - um beijo na face direita, dois na face esquerda - , ou dos homens - dois beijos em cada face, a mão posta sobre o coração do amigo -, ouve, mas nada entende, também aqui Deus confundiu as línguas, outro dia direi de outras coisas mais, longo vai já o dia. Dito está.

Um almoço no deserto. Lembro o filme de Bertolucci, “Um chã no deserto”. Se de italianos falamos, em italiano comemos : spaghetti alla bolognese.

Resgatamos do Land mesas e cadeiras, fogão e panela, talheres e guardanapos, o deserto não nos verá comer à mão, isto não são sardinhas marroquinas.

Abeiramo-nos de uma acácia-abrigo, alguém, os animais comendo ou os homens rasgando, abriu uma entrada para o interior da acácia, junto dela é visível a estada de animais e humanos, um bebedouro perto indica-a como poiso de descanso e alimento. Comemos, bem. Fruimos, melhor. Não reservará a vida muitos momentos iguais, gozemo-los. Gozamos.

Em Dakhla [, Villa Cisneros, no período colonail espanhol,] estás em casa, tens o mar e o vento, o surf, o wind, o kite, a cidade recebe-te na ponta de uma península estreita que, afoita, rasga as entranhas do mar adentro, 40 kms de terra que a noite te esconde, adivinhas o mar de um e outro lado, em Dakhla, capital do Sahara Ocidental, podes ser dakhliano, no ocidente estás. Tanto mar, peixe tem, vamos ao peixe, que a fome aperta.

O Samarcanda - nome mítico para outros povos - desdobra-nos um menu variado, não lhe damos atenção, sabemos ao que vamos : um misto de peixes vários, sobre o qual repousam duas pequenas lagostas dissecadas. Como tuaregs esfomeados, lançamo-nos aos bichos, trucidamo-los, na travessa restam umas tristes folhas de alface, um pitéu para as ovelhas, o que a uns abunda a outros falta, é assim o mundo, mas bem não está…

Aos curiosos ou especuladores : 4 refeições 170 dirhans. Abençoamos o Samarcanda e prometemos retornar. Cumprido foi.

Como as miragens, afirmo sem receio de contradita que as terras de ninguém existem, e, sendo embora de ninguém, é certo que lá vive gente, vive e prospera.

Venham comigo. Mas sem pressas. Vamos passar uma fronteira e as fronteiras fizeram-se para que o people espere, canse, desista e não passe além…

Ou caia de sono, morra de fome ou de tédio… Para isso os estados têm um tirano a seu mando : a burocracia. Despótica, autoritária, inexorável, definitiva… Irónico,  o bicho homem : quanto mais pobre é, mais predador se torna.

É assim nas fronteiras de África. E nas fronteiras de todos os países onde à pobreza juntas o atraso, o subdesenvolvimento, o analfabetismo…

Se a isto acrescentares uma pitada de religião, tens o panorama que as notícias diariamente te dão do mundo : radicalismos políticos, fanatismos religiosos…
- Maintenant, on va prier!

Eram duas da tarde. Os funcionários da alfândega, na fronteira da Mauritânia, não intervalam para comer mas para rezar, e entre abluções - passam água pelas mãos, pela cara, pelas orelhas, pelos braços, pelos pés, entre os dedos dos pés, também no mindinho - e orações, passou meia hora, a fila engrossou e estendeu-se, o ajudante prepara aos senhores da douane um chá de menta no fim da reza. Sem pressas.
Porto-Bissau... 9 de abril de 2016...Dia 5, Roc Chico a Nouakchott,
capital da Mauritânia... Foto: © Hugo Costa (2006)

Vamos, é a nossa vez.

Passamos a fronteira. O que temos à frente é um terreno escalavrado, pedras salientes, agressivas, até o mais corpulento jeep tem de pisar com cuidado não vá criar calos nos pneus : é a terra de ninguém, zona-tampão, espaço com 4 kms de largura imposto pela ONU, para que os vizinhos desavindos, Marrocos e Mauritânia, só se vejam ao longe, assim as mulheres de um e outro lado não se puxam os cabelos nem os homens as armas. O Land pisa lento, cauteloso, olha pensativo as carcaças ferrugentas, carros esventrados, pneus velhos, capots abertos, enfim, corpos mortos a cada lado do estradão, o nome é um favor meu!

Mas há vida aqui : junto à parte marroquina, carros novos, usados, marcas francesas a maior parte, não sei, não quero saber, recuso-me a saber o que fazem os seus donos, sentados, alheados, esperando o quê em terra de ninguém…

Vendem, compram, cambiam, traficam - diz-me o jeep, vai por mim que já sou velho nestas andanças, aqui é a 2ª vez que passo.

Ao Land não o contrario, é ele que nos leva, se lhe dá uma birra ainda nos deixa em terra, mas não é birrento o cavalinho, um trabalhar suave que deixaria dormir não fosse o acidentado dos tracks, a suspensão poupa-nos o rabo a cada solavanco…

Passamos a via férrea - aqui prestamos a nossa homenagem - do comboio mais longo e mais lento do mundo : carruagens que podem estender-se por 3 kms, 45 minutos de lentidão a passa…a…a…ar. Num mundo cada vez mais apressado, o comboio da Mauritânia - transporta minério do interior para o porto de Nouadhibou - ensina-nos a virtude da espera e obriga-nos à reflexão do que persegue o homem com tal sofreguidão…

Pelo deserto da Mauritânia, uma voz, como surgida do mais fundo da terra, embalava os ares, um
chamado de acasalamento, camelos e ovelhas levantavam os narizes, não era ainda o tempo de procriar :

Vem viver a vida, amor
Que o tempo que passou
Não volta, não.
Sonhos que o tempo apagou
Mas para nós ficou
Esta canção.

O condutor do Land espantava o sono e, romântico mas não trôpego, lembrava os primeiros amores. Fugiam camelos e pastores, as ovelhas protegiam as crias…

O Land, solidário, parou…
- Algum problema?
- No. Han visto uns amigos atras, un Toyota parado…
- No, nada - disse o cavalinho.

O Land não quer saber de Toyotas, e se os vê, com risco nosso, ignora-os.

Tem sido assim desde o início, a cada passo rosna, é um deles que nos passa, ri-se-lhe o motor quando os deixa para trás.
- Podemos seguir con vosotros…
- Claro, vamonos… diz o condutor do Land, mirando a espanhola.

Eram catalães, um catalão e uma catalã.

O dia bafeja-nos com um trilho ameno e uma passagem pela praia.

Ao longe, aldeias de pescadores e, poisados no mar, cansados da faina, os mesmos barcos que cruzavam o mar da Póvoa e a minha infância : a vela latina enfunava ao vento. E pelicanos, cansados também.

O mar convidava a um banho azul, tão azul era a água.


Mapa dp Parque Nacionao do Banco de Arguim (**)... Imagem do domínio público.

Fonte: Cortesia de Wikimedia Commons



Mas algo nos intimidava : a Maité - o marido, Tomás - não era Eva, nem nós Adão, o decoro exigia calções que nenhum de nós tinha. Caberia ao Tomás a decisão.
- En calzoncillos, amigos…
- Em cuecas, pois seja…

Todos trazíamos cuecas, felizmente. A Maité acompanhou-nos no gesto, os homens tiraram as calças, pois ela tiraria a camisa…

Exibido o músculo e encolhida a barriga, fomo-nos ao banho, entramos mar adentro, água
convidativa, cálida… Como lembrar que estamos em Janeiro? Demos umas braçadas a espantar a preguiça.

Alá, lá onde mora, olhando a praia, três machos em cuecas, uma mulher em soutien :
- Então, não querem lá ver… Estes pensam estar no paraíso terreal…

E era, amigos, palavra de Alá! era o paraíso terreal, estivemos no Éden naquela tarde… A praia - 50 kms - integrava um parque natural, o Banc d’Arguin, e foram garças, pelicanos, gaivotas, barcos, pescadores, até uma praga de gafanhotos, esvoaçavam à nossa frente, faziam negaças, brincavam com o cavalinho.

Era noite, à chegada a Nouakchott, a capital mauritana.

 (Continua)

______________

Notas do editor:

(*) 28 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12214: Ser solidário (153): Expedição solidária Dakar Desert Challenge arranca de Coruche, em 26/12/2013, e apoia a AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau. Inscrições até 31 do corrente.

(**) "Arguim é uma ilha na Baía de Arguim, Mauritânia, costa ocidental de África. Com apenas 12 km² de área, a ilha é alongada, medindo cerca de 6 km de comprido por 2 km de largura média. Está situada a 12 km da costa, dela separada por canais arenosos repletos de recifes e de bancos de areia que se movem com as correntes.

"A ilha faz parte do Arquipélago do Golfo de Arguim e está incluída no Parque Nacional do Banco de Arguim, uma vasta zona dedicada à protecção da natureza, classificada pela UNESCO como património mundial graças à sua importância como local de invernada de aves aquáticas.

"Nela localizou-se a primeira feitoria portuguesa na costa ocidental africana, a partir do qual os portugueses trocavam tecidos, cavalos e trigo, produtos essenciais para as populações locais, porgoma-arábica, ouro e escravos, que traziam para a Europa.

"A ilha foi sucessivamente ocupada por portugueses [de 1445 a 1633], holandeses, ingleses, prussianos e franceses, até ser abandonada, dada a crescente aridez e as dificuldades de acesso a navios de grande calado, resultantes dos perigosos bancos de areia e extensos recifes que a rodeiam. Na actualidade a ilha encontra-se quase deserta, com excepção da pequena povoação de Agadir, na sua costa oriental, habitada por cerca de uma centena de pescadores-recolectores da etnia Imraguen." (Fonte: Wikipedia)

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12226: Crónicas das minhas viagens à Guiné-Bissau (José Martins Rodrigues) (3): A minha primeira viagem em 1998 - A descoberta da nova realidade

1. Terceiro episódio da série do nosso camarada José Martins Rodrigues (ex-1.º Cabo Aux Enf.º da CART 2716/BART 2917, Xitole, 1970/72), dedicada às suas viagens de saudade à Guiné-Bissau, a primeira efectuada em 1998.




CRÓNICAS DAS MINHAS VIAGENS À GUINÉ-BISSAU


A PRIMEIRA VIAGEM - 1998

3 – Acompanhem-me na descoberta da nova realidade, porventura imaginada, entre Bissau e Bafatá.

Bem cedo, porque tínhamos pela frente uma viagem de 150 quilómetros até Geba, a cerca de 10 quilómetros de Bafatá, e ainda era preciso trocar escudos por francos CFA, descemos ao piso térreo do Hotti Bissau para o pequeno-almoço. De seguida, à porta do hotel, fomos receber o jipe que havíamos contratado. Para meu espanto, aparece-nos uma Pick-Up que sabia ser muito incómoda e sem o ar condicionado exigido. Recusei com veemência a viatura, exibindo cópia do fax em que constava o que tínhamos acordado. Após alguma discussão e, com a ajuda de Candé, o nosso condutor, guia e segurança, conseguimos que nos entregassem um jipe Nissan Patrol, praticamente novo e todo artilhado de cromados, imagem a condizer com o estatuto que o seu proprietário aparentava. Fomos até ao mercado, zona comercial no centro da cidade de Bissau.

Aqui adquirimos os necessários Francos CFA e percebi que as viaturas eram a imagem da ostentação na cidade. Neste percurso, tivemos que passar junto do mercado de Bandim. Era uma imensa confusão de viaturas misturadas com pessoas. Ultrapassagens sem regras, buzinadelas constantes e nas bermas de tudo se vendia. Plásticos, calçado, roupas, mobílias, frutas, etc. etc. etc.
A caminho do centro da cidade, fui registando imagens de abandono e degradação de vivendas, edifícios e estabelecimentos comerciais. O que não tinha utilidade para a vida possível, foi definhando ao longo dos anos. As necessidades agora eram outras.

Partimos para Bafatá. Estava previsto chegarmos ao Club Capé a tempo do almoço que nos esperava. A estrada era alcatroada mas, em muitos troços, era um verdadeiro calvário de cavernas, o que obrigava a circular pelas bermas por ser o mal menor. Enquanto se ouvia música guineense e notícias no rádio do jipe, a imagem mais marcante em muitos quilómetros deste trajecto, para além das tabancas, das bolanhas e cursos de água, eram as verdadeiras florestas de cajueiros. O sol a pique, um calor abrasador que o ar condicionado tornava suportável, especialmente para as senhoras, e uma vegetação que lutava contra a secura, compunham a paisagem que desfilava perante o nosso olhar. Já próximos de Bafatá, a rádio anunciava a decisão do Presidente Nino Vieira de demitir Ansumane Mané da chefia do Estado Maior por alegada venda de armas aos guerrilheiros de Casamanse.

De Bafatá e até ao Club Capé, aldeamento turístico em que iríamos ficar alojados durante três noites, o trajecto era efectuado em picada, a espaços bastante maltratada. Chegamos tarde, cerca das quinze horas para almoçar e muito cansados pela dura viagem. Após um delicioso e retemperador banho, foi-nos servida uma deliciosa refeição de bife de gazela acompanhada da “nossa” indispensável Superbock bem fresquinha. Esta unidade turística era composta por quartos bungalow inseridos num belo jardim, com vários mangueiros e com os seus frutos ali bem à nossa mão. Num bungalow central ficavam a sala de estar, de jogos e a sala de jantar. Uma bonita e bem cuidada piscina completava o equipamento. Um pequeno paraíso na Guiné. Após a refeição, o “nosso” Candé iria regressar a Bissau. Ajudou-nos a resolver o problema do jipe, fez baixar as cordas das ”fronteiras” que fomos passando e transmitiu-nos um grande sentimento de segurança.

Saciado o apetite e relaxados do corpo, surgiu o espaço e o tempo para os primeiros comentários sobre as aventuras até aí vividas. Para o meu irmão e esposa que já tinham estado no Senegal dois anos antes, o que mais salientaram, pela negativa, foi a pobreza das infra-estruturas patente nas cidades de Bissau e Bafatá. Para a minha esposa, tudo era estranho. Desde a elevadíssima temperatura, à hora em que almoçámos, até à paisagem, que ela jamais imaginara. Para ela, o mundo era a imagem da terra que a viu crescer e eu não esperava outra reacção. Até esse momento fui “bebendo” todos os sinais que tocavam os meus sentidos. Sentia uma enorme alegria interior. Há momentos na vida para os quais não se encontra explicação razoável. Eu estava a viver um desses momentos. Passámos o resto da tarde confortavelmente instalados nas espreguiçadeiras da piscina. Ao jantar, junto à piscina, foi-nos servido um grelhado de caça, que incluía porco de mato e rolas. As senhoras estranharam o paladar da carne de caça. Olhando o horizonte, afastado das luzes, contemplei aquela noite tão escura, tão escura. Até isso ficou gravado.

Amanhã será um dia muito especial. Irei visitar o “meu” quartel, as tabancas e a “minha gente”. Carrego no peito o desejo incontido de abraçar a população do Xitole e, tentar encontrar alguém que tenha partilhado comigo aquela fase da minha vida. Este desejo esteve aprisionado anos demais e iria finalmente ser solto. Quantos de nós não sufocam perante a impossibilidade de o fazerem.

Fomos dormir. Amanhã será o dia de todas as emoções. Até me assusta o que me espera.

(Continua)

Negociando a troca da viatura

Na cidade, para trocar moeda

A caminho de Bafatá

Picada entre Bafatá e o Hotel Capé

Já próximo do Capé, paragem para recolher e saborear Caju

Fim de tarde, na piscina do Capé

Clube Capé, arredores de Bafatá

Avenida principal de Bafatá

Este filme mostra os momentos da partida do aeroporto de Sá Carneiro, as primeiras impressões de Bissau e a ida até Bafatá
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Nota do editor

Último poste da série de 24 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12195: Crónicas das minhas viagens à Guiné-Bissau (José Martins Rodrigues) (2): A minha primeira viagem em 1998

domingo, 27 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12208: Coimbra Hotel & Spa- Bissau – Preços especiais para os ex_Combatentes.



1. Camaradas, recebi do Miguel Lopes Nunes, gerente do Coimbra Hotel & Spa- Bissau, um pedido de divulgação, entre a malta ex-Combatente, da qualidade e preços que nos são oferecidos por aquela instituição.

Exmo senhor, Muito obrigado por ter aceite o convite de amizade. De Bissau venho por esta forma oferecer os n/s préstimos, enquanto hotel sito em Bissau, (Coimbra Hotel & Spa- Bissau ) para acolher eventuais viagens de v/s colaboradores e companheiros de armas (que tenham estado na GB no tempo da Guerra ), que visitem ou queiram visitar a GB. Manifestamos a n/ disponibilidade para ajudar logisticamente nas viagens. O meu email é : zulupreto@gmail.com

M cumtrs Miguel Lopes Nunes

Noites/ estadias no Coimbra Hotel & Spa em Bissau – três pessoas em suites , ou seja, há suites que têm uma sala com sofá-cama e o quarto com duas camas de solteiro. Nestas suites podem ficar alojadas 3 pessoas. Temos 5 suites novas nestas circunstâncias; 2 suites especiais; 3 suites normais ; ou seja 10 suites onde se podem alojar comodamente 30 pessoas. Faríamos neste caso um preço especial para 3 pessoas em suite, com pequeno-almoço para os 3, a 120 euros por suite. Cada noite ocupada, 120 euros. Daria pois 40 euros por pessoa.

No caso de quererem um quarto com duas camas para duas pessoas apenas em regime de alojamento e pequeno-almoço, contaríamos com 100 euros por quarto, dando pois neste caso 50 euros por pessoa.

Para vossa orientação os nossos preços são 115 euros para uma pessoa em promoção de pensão completa e 130 euros para uma pessoa sem promoção, alojada em quarto normal ou 187 euros em suite quando 1 pessoa alojada em suite simples. Estes preços permitem dar-vos uma orientação sobre os preços que se praticam e como os preços que lhes estou a dar são de facto muito bons para este caso específico.

Na eventualidade de quererem almoçar e jantar no restaurante do hotel, teriam de contar com 6.000 francos cefas (1 euro = 656 francos, logo 6.000 francos são 9,14 euros por almoço ou jantar por pessoa em regime de buffet c/ tudo incluído).

Os jipes para os passeios não são nossos ; nós temos uma amiga que no-los alugam. O preço normal seria 180 euros por dia com motorista por cada Jipe. Mas estou em crer que, se forem vários jipes e se não calhar numa época de eleições em que eles estão todos alugados, poderíamos alugar jipes a 100 euros por dia. Cada Jipe tem 2 lugares à frente, 3 a meio e 2 lá atrás. Contamos pois com 100 euros Jipe incluindo um motorista. O Jipe é entregue com o depósito cheio; teremos de o reencher para o devolver à dona no final do passeio. 

Mais informação em:


quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12195: Crónicas das minhas viagens à Guiné-Bissau (José Martins Rodrigues) (2): A minha primeira viagem em 1998 - O primeiro dia em solo da Guiné-Bissau

1. Segundo episódio da nova série do nosso camarada José Martins Rodrigues (ex-1.º Cabo Aux Enf.º da CART 2716/BART 2917, Xitole, 1970/72), dedicada às suas viagens de saudade à Guiné-Bissau, a primeira efectuada em 1998.




CRÓNICAS DAS MINHAS VIAGENS À GUINÉ-BISSAU

A PRIMEIRA VIAGEM - 1998 

2 - Acompanhem-me, até ao nascer do primeiro dia em solo da Guiné-Bissau

Éramos quatro pessoas, dois irmãos e suas esposas. Aprazamos a data da partida do Porto com destino a Bissau para o dia 5 de Abril de 1998. Já na posse dos bilhetes de avião, dos seguros e das vacinas, a minha cunhada, uma senhora francesa pouco dada a arriscadas aventuras, convenceu-me a contratar os serviços de um guia/segurança, exigência que me apressei a concretizar. A minha esposa, preparava-se para ter o seu baptismo de voo. A viagem do Porto a Lisboa, apesar de curta, foi bastante turbulenta devido ao tempo invernoso da época. Foi um tormento para ela. Enquanto aguardávamos o voo de ligação a Bissau, segredava-me que, se os 40 minutos do Porto a Lisboa haviam sido tão difíceis, o que não seriam as mais de 4 horas até Bissau. Tentei serená-la. Partimos depois das 21h30 em voo da TAP numa viagem que se revelou muito confortável.

Chegámos a Bissau ao início da madrugada. Desse momento guardo imagens e emoções de grande impacto. À saída do aparelho e, apesar da hora, eram aquele calor e aqueles odores que senti tão familiares. Era a primeira confrontação com os registos que a minha memória retinha. Sentia uma imensa e inexplicável alegria, como aquela criança a quem oferecem o brinquedo que já não sonhava receber. Só por vergonha e algum pudor, não beijei o solo que acabara de pisar. Era um momento único. Percebi que amava aquela terra, que senti também como minha. Amo esta terra não porque tivesse que ser. Mas porque, pela mais singela das ofertas ou por cada abraço partilhado com as suas gentes recebemos em troca demonstrações de gratidão e afecto. E, quando nos tocam assim, ficamos rendidos ao brilho de felicidade daqueles olhares, que é a forma mais genuína de nos dizerem como somos bem-vindos na sua terra. Só quem como nós, que aqui deixamos parte da nossa juventude, entenderá este turbilhão de emoções. Sentia-me tão feliz e tão jovem, que cheguei a duvidar que já haviam passado 26 anos desde que havíamos partido.

Os que me acompanhavam, limitavam-se a gerir o sufoco do calor, a tentarem decifrar o que conseguiam ver e, a registar as minhas reacções.

O dia da chegada do voo semanal da TAP era uma verdadeira romaria junto da antiga gare do Aeroporto Osvaldo Vieira. Era um mundo de gente que nos olhava com naturalidade, era o amarelo e azul dos táxis e dos toca-toca, na expectativa de um serviço. As primeiras impressões diziam-me que havia uma ligação muito forte a tudo o que vinha de Portugal. Não senti qualquer sentimento de insegurança. Tinha sido a terra de todos os medos e agora era a terra da descoberta de tudo e de nada. Lá estava o guineense que nos iria transportar, ostentando uma placa identificando o Hotti-Bissau. Assim se chamava o Hotel em que ficaríamos alojados na primeira noite, ou o que dela sobraria.

Deitamo-nos já alta madrugada. Dormir não seria propriamente a minha prioridade. O que mais ansiosamente desejava era assistir ao nascimento daquele primeiro dia, aos primeiros brilhos do Sol por detrás daquela palmeira que estava no caminho do meu olhar, lá para os lados da cidade de Bissau. Debruçado na janela do terceiro piso do hotel virada para a avenida e, munido da minha Sony, esperei por esses momentos. Defronte do hotel ficavam dois edifícios de três ou quatro pisos, que na época eram ocupados pela cooperação dos países de Leste e, um pouco mais à esquerda, uma estrada cruzava a avenida. Registei os primeiros raios do Sol, até que o seu brilho me castigou, e assisti assim ao nascimento daquele desejado dia que se adivinhava prometedor. Junto à vedação, do lado exterior do hotel, uma papaieira exibia os seus frutos e logo ao lado, lá estava uma paragem dos transportes de passageiros. Era o amarelo e azul dos táxis e dos toca- toca. De todas as direcções surgiam pessoas. Começava o formigueiro humano, num vai-vem agitado de quem procura sobreviver conforme as condicionantes desta terra.

Todos os meus sentidos estavam agora preparados para saborear novas emoções.

Bem cedo, começamos a fazer os preparativos para desfrutarmos do primeiro dia de viagem, que nos iria levar até Bafatá.

(Continua)

Já a bordo, a caminho de Bissau

A boa disposição a bordo, a caminho de Bissau

Fachada do Hotel Hotti-Bissau

Assistindo ao nascer do dia, na varanda do Hotel

O movimento ao início do dia em Bissau
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Nota do editor

Primeiro poste da série de 17 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12162: Crónicas das minhas viagens à Guiné-Bissau (José Martins Rodrigues) (1): A asfixiante e inadiável ideia de voltar

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9428: Turismo de saudade (3): Fotos da cidade Bissau em 07 de Janeiro de 2012 (TCor José Francisco Robalo Borrego)

1. Dizia-nos no poste* anterior o nosso camarada José Francisco Robalo Borrego (Ten Cor (R), que pertenceu ao Grupo de Artilharia n.º 7 de Bissau e ao 9.º Pel Art, Bajocunda , 1970/72) que no dia 7 de Janeiro de 2012 fez em Bissau um passeio a pé, ida e volta, recordando outros tempos, desde o Quartel-general, Santa Luzia, até ao cais do Pidjiguiti, aproveitando para tirar algumas fotos na cidade.

Quando regressava para Santa Luzia, pedi uma informação a um guineense, na casa dos 60, sobre uma rua o qual se prontificou a informar-me e depois de eu lhe dizer que tinha lá estado, há quarenta anos, na guerra colonial, ele disse-me que também tinha sido combatente da liberdade da pátria, ou seja, do PAIGC, mas que agora éramos amigos, o que eu concordei plenamente com ele. Fomos andando no mesmo sentido e ele amavelmente ia-me transmitindo as alterações geográficas, entretanto, ocorridas. No fim, abraçámo-nos desejando boa sorte mútua.na sua mensagem de 19 de Janeiro de 2012:

Aqui ficam algumas fotos da cidade de Bissau actualmente:

Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira da Guiné-Bissau

Forte da Amura

Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau

Mercado de Bandim

Catedral de Santa Luzia

Estátua de Amílcar Cabral na Rotunda do Aeroporto

Ex-Batalhão de Intendência

Ex-Liceu Honório Barreto

Os Toca-toca, popular meio de transporte da Guiné-Bissau

CONCLUSÃO:

Foram cinco dias intensos e à excepção de Santa Luzia e das unidades e órgãos militares que dela faziam parte, todos os outros locais que visitei, fi-lo pela primeira vez. Por falta de tempo não visitei Bajocunda, minha primeira saída para o mato, mas quem sabe, talvez numa próxima oportunidade!

Despeço-me com um abraço de amizade a todos os ex-combatentes portugueses e guineenses.
José Francisco Robalo Borrego
TCOR (R)
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 30 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9420: Turismo de saudade (2): Mini-diário e fotos da minha visita à Guiné-Bissau (José Francisco Borrego)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9420: Turismo de saudade (2): Mini-diário e fotos da minha visita à Guiné-Bissau (TCor José Francisco Robalo Borrego)

1. Dizia-nos o nosso camarada José Francisco Robalo Borrego*, Ten Cor (R), que pertenceu ao Grupo de Artilharia n.º 7 de Bissau e ao 9.º Pel Art, Bajocunda (Guiné, 1970/72), na sua mensagem de 19 de Janeiro de 2012:

Há uns anos a esta parte, despertou em mim o desejo de voltar à Guiné, volvidos 40 anos, para matar saudades dos locais por onde andei e conversar com os guineenses de quem guardo boas recordações.

Era uma questão de tempo e de oportunidade para concretizar a minha vontade. Esse dia chegou e lá fui eu até Bissau de 4 a 12 de Janeiro do corrente ano.

Aqui está o seu mini-diário, pretexto para vermos algumas das fotos que testemunham a sua visita de saudade à Guiné-Bissau.


05-01-2012
Chegada à Guiné pelas 14 horas. Deslocação para os aposentos e descanso, após o almoço.

A famosa Pensão Central

06-01-2012
Viagem ao Canchungo (Ex-Teixeira Pinto) com passagem por Safim, Có e Pelundo. De assinalar que o Rio Mansoa tem uma bela ponte, construída por espanhóis, ao que consta, com portagem e tudo! A estátua de Teixeira Pinto foi retirada e guardada num museu, segundo me disseram, restando a pedra que a suportava.

Canchungo (Ex-Teixeira Pinto)

Ponte sobre o Rio Mansoa

07-01-2012
Passeio a pé, ida e volta, recordando outros tempos, desde o Quartel-general, Santa Luzia, até ao cais do Pidjiguiti, aproveitando para tirar algumas fotos na cidade.

Quando regressava para Santa Luzia, pedi uma informação a um guineense, na casa dos 60, sobre uma rua o qual se prontificou a informar-me e depois de eu lhe dizer que tinha lá estado, há quarenta anos, na guerra colonial, ele disse-me que também tinha sido combatente da liberdade da pátria, ou seja, do PAIGC, mas que agora éramos amigos, o que eu concordei plenamente com ele. Fomos andando no mesmo sentido e ele amavelmente ia-me transmitindo as alterações geográficas, entretanto, ocorridas. No fim, abraçámo-nos desejando boa sorte mútua.

(Nota do editor: As fotos deste dia, referentes a Bissau, serão publicadas em próximo poste)

08-01-2012
Passeio a Quinhamel onde almocei e pude saborear a bela ostra com uns amigos.

09-01-2012
Visita à minha antiga unidade (GA7), transformada em escola secundária – a Unificada Escola 23 de Janeiro. Conversei alguns instantes com o director a quem pedi autorização para visitar o estabelecimento;

Antiga Casa da Guarda do ex-Grupo de Artilharia N.º 7

10-01-2012
Visita ao hospital de Comura, antiga leprosaria, assim denominado, quando foi fundado e que sempre foi campo de acção pastoral dos Frades Franciscanos. Aliás, presentemente o Director Clínico é um frade médico português – Frei Vítor Farinha Henriques. Como ficava em caminho, aproveitei e dei uma saltada a Prabis.

Hospital de Comura

11-01-12
Visita relâmpago, com uns amigos, da parte da manhã, ao quartel do Cumeré com passagem por Nhacra, onde fomos muito bem recebidos pelo senhor comandante que nos mostrou a unidade e que me autorizou a tirar algumas fotografias. O Cumeré é um local conhecido de muitos camaradas nossos, porque era ali que geralmente o senhor general Spínola dava as boas vindas às tropas que chegavam à Guiné e fazia as suas habituais exortações patrióticas! Da parte da tarde foram feitas as despedidas, arrumar a mala, descansar um pouco, porque o voo de regresso saiu de Bissau pelas 02h30 da madrugada, aterrando em Lisboa cerca das 06h30 do dia 12 de Janeiro.

Edifício Rec. Cumeré

Ruínas da Igreja do Quartel de Cumeré

Parada do Quartel de Cumeré

Porta D'Armas do Quartel de Cumeré

(Continua)
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 23 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9391: Turismo de saudade (1): Gostei de voltar à Guiné e ver pessoalmente algumas melhorias, mas a Guiné precisa de muita estabilidade para atingir o tão benéfico desenvolvimento (José Francisco Borrego)