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quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Guiné 63/74 - P2023: A História da CART 3492 / BART 3873 (Xitole, 1972/74) ou mais de 2 anos em meia dúzia de linhas (Álvaro Basto)


Mobilização

a)-Nota Circular

A Nota Circular nº 4496/PM - procº 18/3873 da 1ª Repartição do Estado Maior do Exército, datada de 4 de Novembro de 1971, ordenou que se procedesse à mobilização do Batalhão de Artilharia nº 3873, o qual renderia,na Província da GUINÉ, o BART 2917 a atingir o termo da sua comissão de serviço.

b)-Unidade Mobilizadora

Foi Unidade mobilizadora o Regimento de Artilharia Pesada nº 2 (RAP 2), em V.N.GAIA

c)-Pessoal

O pessoal que compôs o seus quadros - CCS, CART 3492, CART 3493 e CART 3494 - era metropolitano de origem, natural em grande parte do Norte (Minho e Douro) e Centro (Beiras), particularidade conducente à afirmação de que a Áfruca constituía, para a maioria, quase uma incógnita mais ou menos próxima da imaginação de cada um.

d)-Concentração


A concentração dos novos mobilizados começou a 15 de Novembro de 1971 e terminou a 27 do mesmo mês.

e)- Instrução


A instrução geral decorreu a um nível positivo e satisfatório. Apesar do clima frio e do meio ambiente em nada se assemelharem aos do Continente Africano, deficiência parcialmente suplantada, porque a I.A.O. viria a ter lugar já na Ilha de Bolama, de 29 de Dezembro de 1971 a 27 de Janeiro de 1972, os resultados obtidos foram animadores.

O esforço do Comando e Instrutores visou não apenas consciencializar o Soldado do tipo sui generis de luta a enfrentar, como também ministrar-lhe o adequado endurecimento físico e destreza operacional, de maneira a evitar surpresas fatais no teatro da guerra.

Ensinou-se, exemplificou-se e corrigiu-se: são as três palavras sintetizadoras da actividade preparatória. Aliás, a prévia Escola de Quadros obedecera às mesmas directrizes.

f)-Despedida


A cerimónia de despedida constou de Missa celebrada pelo Capelão da Unidade no Mosteiro da Serra do Pilar; alocução de um Oficial Superior, representante do Exmo. Governador da Região Militar do Porto ao que se seguiu desfile das tropas em parada e almoço de confraternização na Messe de Oficiais do RAP2.


g)-Composição Inicial

-Cap. Mil Nº Mecanográfico 11835857 - António Victor R. Mendes Godinho
-Alf. Mil NM 01028270 - Joaquim Manuel M. Mexia Alves
-Alf. Mil NM 08932566 - José Maria Gambôa Gonçalves Dias
-Alf. Mil NM 17889869 - Manuel Laurindo de Oliveira
-Alf. Mil NM 10305670 - António Carvalhão V. B. Barroso
-1.º Sarg NM 52055011 - Abílio Pereira Dias
-1.º Sarg Art NM 52129911 - João de Alegria Dias Ceia
-Fur. Mil NM 00005170 - Artur Manuel Soares
-Fur. Mil NM 01525771 - António Augusto Borges de Pinho
-Fur. Mil NM 01650171 - José Manuel dos Reis Vilela
-Fur. Mil´NM 05657171 - Abílio Pereira de Brito
-Fur. Mil NM 06032471 - Mário Nunes dos Santos
-Fur. Mil NM 06071271 - Acácio Marcelo Alves Duarte
-Fur. Mil NM 07198071 - Daniel dos Anjos Faceira
-Fur. Mil NM 07861171 - Fernando dos Santos Pires
-Fur. Mil NM 09219171 - Carlos Ernesto Corunha Magalhães
-Fur. Mil NM 13217971 - Manuel Joaquim Novais Maçães
-Fur. Mil NM 16101271 - Carlos Alberto Duarte Nunes
-Fur. Mil NM 17398773 - António José da Silva Costa
-Fur. Mil NM 18951070 - Álvaro Manuel Oliveira Basto
-Fur. Mil NM 13335571 - Carlos Alberto Simões Andrade
-1.º Cabo NM 00395271 - Joaquim Santos Silva
-1.º Cabo NM 01106871 - João Manuel Pires de Arruda
-1.º Cabo NM 01376171 - Manuel Martins Lourenço
-1.º Cabo NM 01976571 - Sezinando Pereira Fernandes
-1.º Cabo NM 02445171 - Artur Ascenção Pereira
-1.º Cabo NM 04982571 - José Estêvão Vasques Agostinho
-1.º Cabo NM 06301973 - Agostinho Antunes Correia
-1.º Cabo NM 07147571 - António dos Santos Costa
-1.º Cabo NM 10484471 - José da Encarnação Silva
-1.º Cabo NM 11158371 - Júlio Augusto Rolo Bicho
-1.º Cabo NM 12451871 - Manuel Fernando dos Santos Moreira
-1.º Cabo NM 12748771 - Carlos Alberto Festas Fernandes
-1.º Cabo NM 13263071 - António Simões Ribeiro
-1.º Cabo NM 13266971 - Abílio Vidal dos Santos
-1.º Cabo NM 13290271 - António Pinto Ferreira
-1.º Cabo NM 13292371 - António Alves Leite
-1.º Cabo NM 13300471 - Armindo Carneiro Simões
-1.º Cabo NM 13311871 - Manuel da Costa Nogueira
-1.º Cabo NM 13320171 - Abel Pereira de Matos
-1.º Cabo NM 13320271 - João Nogueira Mesquita Machado
-1.º Cabo NM 13350471 - Mário Manuel Casimiro Barata
-1.º Cabo NM 13378971 - Albano Tavares Quental
-1.º Cabo NM 13379671 - Amândio José Neves dos Santos
-1.º Cabo NM 13391471 - António Manuel Pereira Moreira
-1.º Cabo NM 13422971 - Orlando Luís Almeida de Oliveira
-1.º Cabo NM 13442871 - António Veloso de Sousa
-1.º Cabo NM 13444471 - Justino Monteiro de Araújo Gonçalves
-1.º Cabo NM 13519171 - Fernando Rodrigues Vasques
-1.º Cabo NM 13528771 - Adriano da Silva Marques
-1.º Cabo NM 13549871 - Horácio Nascimento Fresta
-1.º Cabo NM 14947571 - Adérito dos Santos Possacos
-1.º Cabo NM 15157471 - Jorge Manuel Oliveira Barbosa
-1.º Cabo NM 15801671 - António dos Santos Ferreira
-1.º Cabo NM 18874171 - Jaime Leonardo Pereira Soares
-1.º Cabo NM 19596169 - António Carlos Silva
-Soldado NM 01650971 - Joaquim da Fonseca Ferraz
-Soldado NM 04387971 - Armando Gonçalves Freixo
-Soldado NM 07086471 - Manuel da Cunha Pereira
-Soldado NM 07449071 - Belmiro Fernando Pinto Azevedo e Sousa
-Soldado NM 07687671 - António Arantes Carvalho
-Soldado NM 07865171 - Henrique Casimiro Gomes dos Santos
-Soldado NM 08041871 - Licínio José de Oliveira
-Soldado NM 08224271 - Felismino Marques Cortês
-Soldado NM 08275071 - Evangelista da Conceição Martins
-Soldado NM 09054671 - Eduardo Ribeiro de Oliveira (Morto em Dez/1972, em acidente)
-Soldado NM 09736671 - Agostinho da Silva Machado
-Soldado NM 09768871 - Bernardo Fernandes Lopes
-Soldado NM 09831271 - José Gregório Casal Mendonça
-Soldado NM 10203471 - Salvador António Conceição Soares
-Soldado NM 10709671 - Fernando Augusto Lopes
-Soldado NM 11439971 - Acácio Pereira Medeiros
-Soldado NM 13252671 - António Maria de Almeida e Silva
-Soldado NM 13268971 - Álvaro Manuel Rodrigues Pereira
-Soldado NM 13275971 - Jorge Nelson Borges Loureiro
-Soldado NM 13278071 - Manuel Maria Alves de Oliveira
-Soldado NM 13280271 - Benjamim Soares da Silva Morais
-Soldado NM 13280471 - Agostinho da Silva Amador
-Soldado NM 13282271 - Eduardo Pinto
-Soldado NM 13284771 - Alexandrino José Macedo da Fonseca
-Soldado NM 13307171 - Manuel Ilídio de Oliveira Simões
-Soldado NM 13309671 - Luís Ferreira Coelho
-Soldado NM 13311471 - José Gregório de Oliveira Bernardo
-Soldado NM 13313871 - Manuel Marques da Silveira
-Soldado NM 13332371 - Ramiro de Almeida Braga
-Soldado NM 13332571 - Fernando de Oliveira Soares
-Soldado NM 13335871 - Manuel Carlos Magalhães da Silva Neto
-Soldado NM 13340671 - Carlos dos Santos Miguel
-Soldado NM 13347971 - Jorge da Cunha Pinto
-Soldado NM 13349771 - João dos Santos Zeferino
-Soldado NM 13368271 - Joaquim Moreira Soares
-Soldado NM 13374671 - Manuel Fernando de Sousa Pereira
-Soldado NM 13374871 - Adelino Cordeiro Paraíso
-Soldado NM 13385871 - Eduardo Ramos Leite
-Soldado NM 13391071 - António Maria da Costa
-Soldado NM 13392971 - António Lopes dos Santos
-Soldado NM 13394071 - Agostinho do Carmo Lopes
-Soldado NM 13395571 - Manuel da Silva Queirós
-Soldado NM 13398371 - José Alves de Queirós
-Soldado NM 13405671 - Arcanjo Silva de Oliveira
-Soldado NM 13411071 - Mário Rodrigues de Oliveira
-Soldado NM 13411971 - Eduardo Castro Alves de Pinho
-Soldado NM 13423271 - Fernando Nunes Martins
-Soldado NM 13424271 - António Brochado Mendes
-Soldado NM 13426471 - Joaquim Lopes Cardoso
-Soldado NM 13428271 - Alberto Lincho
-Soldado NM 13428871 - Manuel Moreira de Carvalho
-Soldado NM 13436571 - Alfredo Manuel Gonçalves Quelhas
-Soldado NM 13440471 - Carlos Alberto de Sousa Vieira
-Soldado NM 13444171 - Alcides Tavares Simões
-Soldado NM 13445071 - Antero da Silva Caetano
-Soldado NM 13452271 - Júlio Girão dos Santos Rosas
-Soldado NM 13460171 - António de Sá Alves Fardilha
-Soldado NM 13464771 - César Manuel da Graça
-Soldado NM 13468471 - Horácio Fernandes Pais
-Soldado NM 13470071 - Fernando Ferreira Tavares
-Soldado NM 13477871 - Manuel Francisco Lopes Rocha
-Soldado NM 13479571 - Jorge Manuel Correia da Silva
-Soldado NM 13480471 - António Gonçalves Marques
-Soldado NM 13484771 - Manuel Mendonça Correia
-Soldado NM 13494071 - Abílio Moreira Rosas
-Soldado NM 13499671 - Eduardo dos Santos Pereira
-Soldado NM 13500671 - Américo Ramos Fonseca
-Soldado NM 13502271 - Victor Manuel Soares Ferreira
-Soldado NM 13507971 - Carlos Adelino Nunes de Sousa Mendes
-Soldado NM 13511771 - José Caldeira Salvador
-Soldado NM 13516371 - Domingos Pereira Alves
-Soldado NM 13516671 - Luís da Silva Santos
-Soldado NM 13519771 - António Vieira da Rocha
-Soldado NM 13520471 - Albino de Azevedo Oliveira
-Soldado NM 13521271 - Arcindo dos Santos Perpétuo
-Soldado NM 13521671 - António Marto Lopes
-Soldado NM 13522771 - António da Silva Gomes
-Soldado NM 13567671 - Emídio de Carvalho Gonçalves
-Soldado NM 13570271 - António de Jesus Moreira
-Soldado NM 13575271 - António Costa
-Soldado NM 14905971 - António dos Santos Paroleiro
-Soldado NM 14908871 - José Júlio Costa
-Soldado NM 14926571 - José Ribeiro Barbosa Pinto
-Soldado NM 14935871 - João Carlos Dourado dos Santos
-Soldado NM 14949871 - Américo Duarte Pinho
-Soldado NM 14955371 - António Ribeiro dos Santos
-Soldado NM 14961671 - Joaquim José Baião Bravo
-Soldado NM 15143371 - Serafim Nunes de Sousa
-Soldado NM 15153871 - Toni Carvalho dos Santos Barreira
-Soldado NM 15156571 - Casimiro de Almeida Carvalho
-Soldado NM 15158071 - Serafim Taveira Carvalho
-Soldado NM 15195271 - José Araújo da Costa
-Soldado NM 15201971 - Manuel José Soares de Oliveira
-Soldado NM 15224471 - Manuel José de Almeida Rocha
-Soldado NM 15239271 - António Augusto Rego
-Soldado NM 15252671 - Guilherme Guerreiro Lima
-Soldado NM 15260271 - José António de Jesus Loureiro
-Soldado NM 15261771 - Fernando Amílcar das Neves Ferreira
-Soldado NM 15315771 - David Rodrigues de Oliveira Peixoto
-Soldado NM 16571970 - Augusto Fernando Rodrigues Neiva

Deslocamento para o CTIG

a)- Licença de Mobilização

Ainda antes do embarque, entraram os homens do Batalhão e da CART 3492 de Licença de Mobilização, nos termos do Artº 20º das NNCCMU, entre 29 de Novmebro e 8 de Dezembro de 1971, considerando-se em condições de partida depois de 16DEC71, partida verificada a 22 de Dezembro de 1971, após adiamento de 4 dias

b) Vila Nova de Gaia — Lisboa
Com as cerimónias da despedida a 21 de Dezembro , a CART 3492 e o Batalhão de Artilharia 3873 deslocou-se a 22, por caminho de ferro, de V.N.Gaia para Lisboa (Sta Apolónia).
Daqui, viaturas militares transportaram-na para o Cais de Alcântara, onde por volta do meio-dia, a bordo do N/M Niassa, largou rumo à Guiné.


c) Lisboa —Bissau —Bolama
Decorridos 6 dias, atracou-se às vistas de Bissau e logo de seguida tomou-se uma LDG para Bolama.
Desembarcaram no próprio dia as CCS, CART 3492 e CART 3493, enquanto no outro dia coube a vez das CART 3494 e 3521.



d) Recepção


BArt 3483 em Bolama, no CIM

Gen Spínola dá as boas-vindas
Em 02 de Janeiro de 1972, pelas 11hOO, o Governador e Comandante Chefe, General António de Spínola, passou revista às tropas em parada no C.I.M., acompanhado pelo Comandante do BART 3873, pronunciando então uma alocução. Escutaram-se palavras de boas-vindas e exortação perante os obstáculos a vencer. Sucedeu-se uma reunião de trabalhos com Oficiais e Sargentos em conjunto primeiro, separadamente depois.

e) Rumo aos Destinos

Ultimado o período final da Instrução, foi o Contingente conduzido, novamente em L.D.G. até ao Xime, localidade onde aportou a 28 de Janeiro de 1972.


Actividade da CART 3492 no TO


1972

Fevereiro
-Em 13FEV72 grupo IN tentou implantar 1 mina A/C na picada Xitole - Ponte Rio Pulon o que não consumou, graças à aproximação da NT em missão de patrulhamento.
-Em 15FEV72 foi accionada pela 4ª viatura duma coluna de reabastecimentos ao XITOLE urna mina A/P reforçada em (XIME 7B1— 53), danificando aquele veículo militar. A 3 metros do local detectou-se e levantou-se, fora da picada, outra mina A/P sobreposta a uma A/C.
-operação Piriquito Raivoso, de 10 a 11FEV72, com forças das CART 3492 e 2716 que patrulham as áreas de SATECUTA e GALO CORUBAL e forças das CART 3494 e 2715 que patrulham a Ponta do Inglês - Ponta Varela - Poidon.
O 1º agrupamento (E, F) destruiu 16 palhotas e apreendeu 1 granada de RPG; o 2º agrupamento (A, B) sofreu uma flagelação sem consequências e capturou 1 granada de RPG
Nas zonas dos Rios Bissari e Samba Uriel forças da CART 3493 formam o 3º agrupamento (C,D). Em Bambadinca uma DO armada assegurava o apoio aéreo. Não houve contactos IN.
-Operação Trampolim Mágico de 24 a 26FEV72, com 4 Gr Comb da CART 3492 reforçada por 1 Gr Comb da CCAÇ 3489 e outro da CCAÇ 3490, integrando o agrupamento Laranja, 4 Gr Comb da CART 3493 reforçada por 2 Gr Comb da CCAÇ 3491 integrando o agrupamento Castanho, desembarcam conjuntamente na presença do Governador e Comandante Chefe, após batimento de zona pela artilharia da LDG e da FAP. Paralelamente aqueles agrupamentos atravessam as regiões de Ponta Luís Dias e Tabacuta.
Actuaram em apoio, o agrupamento Azul (CART 3494 mais 2 Gr Comb da CCAÇ 12), agrupamento Amarelo (GEMIL’s 309 e 310), agrupamento Preto (CCAÇ 349 (-)), agrupamento Verde (CCP 123), 1 parelha de Fíats de BISSAU, 1 parelha de T-6, 2 helicópteros e 1 heli-canhão (Bambadinca). Foram recolhidos 32 elementos da população, apreendida documentação e material de secundária importância e destruídas várias tabancas. As NT sofreram 11 evacuados por cansaço, insolação e desidratação.



Março
-Em 06 às18H05 um grupo IN não estimado, flagelou durante cerca de 4 minutos o Destacamento da Ponte RPulon, sem consequências.

Abril
-Em 04 às l8H20 um grupo IN, em número não estimado, flagelou durante 5 minutos o Aquartelamento do Xitole, causando 5 feridos ligeiros às NT.
-Em 15 às 19H20 um grupo IN flagelou o Destacamento da Ponte RPulon durante 3 minutos sem consequências.

Maio
-No dia 4 detectou-se e levantou-se 1 mina A/P a 5 metros do pontão do RJagarajá e do lado esquerdo da picada no sentido Xitole/Bambadinca.
-Operação Lanço Nocturno (18/19MAIO72) realizada no corredor do Quirafo / R Pulon / Mina / Galo Corubal por forças da CCAÇ 12 a 2 Gr Comb, da CART 3492 a 4 Gr Comb, da CART 3493 a 3 Gr Comb. e o Pel Caç Nat 52.
Não se viram vestígios nem houve contactos com o inimigo.

Junho
-Em 24, às 21h30, 1 grupo IN não estimado flagelou a A/D de Cambessê por 2 minutos sem consequências.
-Dois dias depois o Xitole e a sua base militar são alvo duma tentativa de golpe de mão, abortada pela descoberta oportuna que a liquidou à nascença.

Julho
- Neste período, o IN não se manifestou na zona.

Agosto
-Em 21, às 08h45, um grupo IN não estimado flagelou durante 8 minutos o Aquartelamento do Xitole com canhão S/R, sem consequências.
-Em 29 das 07H00 às 12H00 executou-se a acção Golias 5 por 2 Gr Comb da CCAÇ 12, 2 da CART 3492, 2 da CART 3493 e 1 Pel Erec da 3431 em segurança à coluna de abastecimento Bambadinca / Mansambo / Xitole / Saltinho / Bambadinca. Não houve contactos, nem se viram vestígios IN.

Setembro
-Em 13 às 06H20 um grupo IN de 75 elementos flagelou durante 6 minutos o Xitole a partir de 3 bases de fogos, sem consequências.
-No dia 27, 1 Gr Comb, quando patrulhava Endorna activou 2 minas A/P, tendo ficado gravemente feridos 2 auxiliares nativos, pouco depois evacuados. Seguidamente detectou-se e destruiu-se outra mina A/P.

Outubro
-A 18 pelas 12h00 o Xitole é de novo flagelado, todavia sem consequências. As manchas de sangue descobertas pelas NT no reconhecimento posterior mostram que os guerrilheiros não ficaram incólumes.
-Acção Golias 8 a 30, das 07h30 às 16h00. Participaram 3 Gr Comb da CCAÇ 12, igual número da CART 3492 e 2 da CART 3493, como segurança à coluna de reabastecimento a Mansambo / Xitole / Saltinho. Decorreu sem incidentes.

Novembro
-Em 12 o Aquartelamento do Xitole foi alvo de uma flagelação durante 20 minutos, não havendo consequência a assinalar.
-Em 22, 1 membro dum grupo IN accionou 01 mina A/P reforçada, implantada pelas NT nas imediações do aquartelamento, sofrendo 2 mortos confirmados.
-Em 30, o Xitole e o seu Destacamento da Ponte RPulon foram simultaneamente flagelados durante 20 minuto, prolongando-se a acção contra o 1º por mais de 25 minutos. Na retirada, 1 atacante accionou 01 mina A/P, colocada pelas NT, falecendo no local. Não houve perdas da nossa parte.

Dezembro
-A 12 às 12h00, o IN activou 1 mina A/P, montada pelas NT, para protecção próxima do aquartelamento, tendo morrido no local 3 elementos e outro ficado gravemente atingido.

1973

Janeiro
-A 6 às 19H05 um grupo IN não estimado flagelou o Xitole, utilizando canhão S/R e armas ligeiras, causando 1 ferido ligeiro à população.
Nota-se a probabilidade de nesta acção terem colaborado com as forças regulares, forças da FAL (Forças Armadas Locais, réplica da nossa Milícia).
-Em 4 das 06H00 s14H30 foi executada a acção Golias 11, por 3 Gr Comb da CCAÇ 12, 3 da CArt 3493 e 3 da CArt 3492 na protecção à coluna de reabastecimento a Mansambo / Xitole / Saltinho. Sem consequências.

Fevereiro
-Apenas o Destacamento da Ponte RPulon foi pressionado 5 minutos no dia 10 às 14h40 por um grupo não estimado que utilizou RPG e metralhadora ligeira. Apesar da hora, sem consequências.Março
-Acção Gadanha 22 por 2 Gr Comb da CART 3492 em 02, das 05h00 às13h00, com patrulhamento e emboscada, percorrendo Xitoel / Pte RPulon / Culobo / Benate / (XIME 7A8-43). Sem consequências.
-No dia 14 a acção “GOLIAS 14” de protecção à coluna de reabastecimento Bambadinca / Saltinho / Bambadinca, por 2 Gr Comb da CCAÇ 12, 2 Gr. Comb da CART 3493, 3 Gr Comb. da CART 3492 e 1 PEL EREC 3431, empenhados das 07h00 às 17h00.
1 Gr Comb da CART 3492 foi atacado à distância. Sem consequências.

Abril
-Em 11 às 18H40 o aquartelamento do Xitole foi flagelado com 2 canhões S/R durante 18 minutos, s/ consequências. A última flagelação verificara-se em 06JAN73.
-Acção Golias 15 na protecção à coluna reabastecimento Bambadinca / Mansambo / Xitole / Saltinho / Bambadinca, por 3 Grs. comb. da CART 3492, 2 da CART 3494, 1 cedido pelo BCAÇ 5872 e outro da mesma Unidade em reforço à CCS/BART 3873. Sem contactos.
-Em 10 a acção Gabão 9 por forças da CART 3492 a 3 grs. comb. e CART 3494 a 2. Estas últimas detectaram e levantaram 3 minas A/P e 01 A/C em (XIME 7A1-95).
-No mesmo dia, das 05H00 às 16H00, a acção Guarida 28 executada pela CCAÇ 12 a 3 grs.comb. na região da PTA VARELA escutou pelo nosso rádio ONKYO uma transmissão em Espanhol provando a reorganização do IN naquele Zona por especialistas cubanos.

Maio
-Em 27 às 09H15 a segurança à coluna Bambadinca / Xitole foi flagelada durante 4 minutos, s/ consequências.
-Acção “GAMBIARRA-4” realizada em 09 das 23H00 às 17H00 do dia 10, por 3 grs. Comb./CART 3492 na zona da cambança de SECO BRAIMA. Não teve qualquer contacto.
-Acção “GOLIAS-2l’ em 27 das 09H00 às 18H00 na protecção à coluna de reabastecimentos de BAMBADINCA / MANSAMBO / XITOLE / SALTINHO, por 3 grs. comb. da CART 3492, Pel Milícias 370, 1 Gr. Comb. cedido pelo CAOP-2 e 1 Pel. ERec 3431.
1 Gr. Comb. / CART 3492 empenhado na segurança foi flagelado em (XIME 7C5-28), mas s/ consequências.

Junho
-Acção “GARBO-1” de 13 às 17H00 a 14 às17H00 em MANSAMBO / JOMBOCARI / Região de MINA / MANSAMBO pela CAR.T 3494, CCAÇ 12 e CART 3492 que monta emboscada em XITOLE / GALO CORUBAL. A doença súbita dum Soldado, a carecer de evacuação e a recusa do guia prosseguir, não permitiram o avanço até ao objectivo. Cerca das 04H30 ouviram-se 02 tiros na direcção SE.

Julho
-Em 02 às 18H30, 1 grupo IN não estimado flagelou o Aquartelamento do XITOLE, do ponto (XITOLE 9A3-89) durante 22 minutos. As NT reagiram com fogo de Mort 10,7 e 81, desconhecendo-se se provocaram ou não baixas ao atacante. Sem consequências para as NT.
Agosto
-Acção “GUIADOR 1” da CART 3492 a 02 Gr Comb. em coordenação com a CCAÇ 3490 na. Intercepção dum possível grupo Inimigo infiltrado a partir da REP GUINÉ. Foi percorrido o trajecto XITOLE / CAMBESSÊ / AMEDALAI / SINCHA SAIDO / TENDINTO / TANGALI / GUNTIM/ SINCHA LANJAL /XITOLE. Sem vestígios, nem contacto com o IN .

Setembro
-Acção “Guinar 2” pela CART 3492 a 3 Gr Comb na região de SATECUTA/GALO CORUBAL/SECO BRAIMA; CART 3494 a 3 Gr Comb na protecção à retaguarda; PMIL 370 na picagem do itinerário MANSAMBO/PTE R.TIMINCO. Sem contactos.

Outubro
-A 29, O XITOLE voltou a ser flagelado da margem esquerda do R.CORUBAL. A população teve 1 morto, 1 ferido grave e 2 feridos ligeiros.
-Acção “GUINAR 3” da CART 3492 a SATECUTA e BISSAU NOVO na qual se espalharam panfletos de A. Psicológica

Novembro
- Acção Golias 3 pelas CART 3492, 3494, 1 Gr Comb do BCAÇ 3872, 1 Pel Rec Fox e Pel Mil 370, de interesse logístico, em reabastecimento a Mansambo / Xitole / Saltinho.
- Acção “GUINAR 8” pela CART 3492 na região de SATECUTA./GALO CORUBAL em que foram destruídas 04 palhotas

1974

Janeiro
-Em 31, 17h45, o Xitole foi flagelado durante 25 minutos com 4 Canhões S/R incendiando 8 palhotas. NT sem consequências.
-Acção Lua Nova da CART 3492 a Setecuta. Sem consequências.

Fevereiro
-A 06 às12h30, 1 grupo IN calculado em 20 guerrilheiros flagelou o Destacamento da PE do Rio Pulon com RPG e armas ligeiras aproximadamente durante 10 minutos. A nossa reacção, através dos Mort 81 do destacamento e 10,7 do Xitole foi completada pela saída de 2 Gr Comb deste último aquartelamento que detectando a presença do inimigo se lançou prontamente em sua perseguição, obrigando-o a retirar desordenadamente e a abandonar 14 granadas de RPG e a sofrer várias baixas, como o provam os rastos de sangue deixados. NT sem consequências.
- A 19 às 08H00 a segurança à coluna Bambadinca/Xitole, encontrando-se emboscado 1 Gr Comb da CART 3492, trava contacto com uma força de guerrilheiros que progredia em direcção à picada. Foi comunicado ao Xitole o que se passava, tendo logo saído 2 Gr Comb em reforço. Entretanto o Gr Comb emboscado tentou o envolvimento, dispersando o inimigo em várias direcções o que dificultou a. perseguição. As NT capturaram 2 carregadores de Espingarda ática e 1 granada de RPG, provocando provavelmente baixas, como o atestam as rastos de sangue observados. NT sem consequências.

Março de 1974– o Regresso

Do Xitole para Bissau

Findos os 24 dias da sobreposição com o BCAÇ 4616/73 (iniciados a 13 de Fevereiro e terminados a 8 de Março), partiu a CART 3492 do Xitole via Bambadinca para o Xime em coluna auto e dali até Bissau numa LDG. Ficaram os seus homens alojados no D.A. de Brá.

Em Bissau

Na sua estadia em Bissau, a CART 3492 conjuntamente com a CART 3494 prestou ainda serviços de protecção ao cais de Bulola em 12, 13, 14 e 15, durante a descarga de munições do navio Arraiolos e, de 21 a 25, segurança ao Niassa.

Cerimónia de despedida

Às 09 horas da manhã do dia 21, teve lugar no Quartel do D.A. o cerimonial de despedida das tropas, na presença do Gõvernador e Com-Chefe, do Cmdt Militar e de outras altas patentes do Exército.
O General Bettencourt Rodrigues, acompanhado pelo Cmdt do BART 3873, passou revista às tropas em parada, seguindo-se a leitura dos Factos e Feitos mais importantes, a evocação dos mortos em combate, a leitura do louvor colectivo, conferida pelo Comdt Militar do CTIG, o discurso pronunciado pela autoridade máxima da Província e o desfile.
Nas palavras que então proferiu, o Governador reconheceu, enalteceu e agradeceu, em nome da Nação, todo o esforço e sacrifício dos Militares que compunham o Batalhão, pelo País e pela sua Província da Guiné.

De Bissau para Lisboa
O regresso da CART 3492 à Metrópole, via aérea TAM, efectuou-se no dia 1 de Abril de 1974.

Fixação de texto: Co-editor vb

sábado, 24 de fevereiro de 2007

Guiné 63/74 - P1545: Lista do pessoal de Bambadinca (1968/71) (Letras A/B) (Humberto Reis)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > Natal de 1969 > Sargentos e furriéis da CCAÇ 12 e da CCS do BCAÇ 2852:

(i) da esquerda para a direita, na 1ª fila: o Jaime Soares Santos (Fur Mil SAM, vulgo vagomestre); António Eugéndio da Silva Lezinho, Fur Mil At Inf; António M. M. Branquinho, Fur Mil At Inf; Humbero Simões dos Reis, Fur Mil Op Esp; Joaquim A. M. Fernandes, Fur Mil At Inf);

(ii) da esquerda para a direita, 2ª fila, de pé: 2º sargento Inf José Martins Rosado Piça; Fur Mil Armas Pesadas Inf Luís Manuel da Graça Henriques; um 2º sargento, de cujo nome não me lembro; 1º Sargento Cav Fernando Aires Fragata; Fur Mil Enfermeiro João Carreiro Martins; e um outro 1º sargento de cujo nome também já não me lembro mas que julgo ser da CCS do BCAÇ 2852... (LG)

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados.


O Humberto Reis mandou-me uma lista com nomes e moradas, conhecidos em 2002, do pessoal que passou por Bambadinca, nos anos de 1968 a 1971, coincidindo basicamente com a comissão da CCS do BCAÇ 2852 (1968/70) e com a da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (1969/71) (1). Publicam-se s seguir os primeiros nomes, correspondentes às letras A e B, seguidos da morada e dos contactos telefónicos. A lista está e actualização permanente (LG).

Luís: Eu indiquei a unidade daqueles que sabia de cor. Quanto à divulgação da listagem, julgo não haver problema pois esta lista já foi feita por mim e pelo Vacas de Carvalho há uns anos e tem sido passada todos os anos aos novos organizadores das almoçaradas da malta. Por isso não é segredo.

Um abraço

Humberto


1________________________________

ABEL MARIA RODRIGUES (ex-Alf Mil, CCAÇ 12)
Urbanização do Juncal - Lote 20
5210-209 MIRANDA DO DOURO
273432263 / 967037338


2._______________________________

ABÍLIO VIEIRA FILIPE (CCS / BCAÇ 2852)
Bairro S. Miguel 2480-308 PORTO MÓS
244402938 / 934913803

3._______________________________

ADELINO AFONSO LOBO COSTA
Rua Rosas, 51 - Pedra de Cima 2430-255 MARINHA GRANDE
244569392

4. ______________________________

ADELINO GONÇALVES MONTEIRO
Avenida Misericórdia 3600-202 CASTRO VERDE
232381392/917507595

5. ______________________________

ADELINO MARQUES FERNANDES
Rua Dr. Manuel Arriaga - Lote JPT - R/C Esq. 2700-296 AMADORA
214937004

6.________________________________

ADELINO SOUSA MARTINS
Rua das Cordas, 15 / 4740-351 FÃO
253981032

7.________________________________

ADÉLIO GONÇALVES MONTEIRO
Rua Padre Monteiro (Junto ao Tribunal) 3600 CASTRO DAIRE
232381392 / 917507595


8.________________________________

AGNELO PEREIRA FERREIRA
Avenida Patrão Joaquim Lopes, 24 R/C Drt. / 2780-616 PAÇO DE ARCOS
214414017

9._________________________________

ALBERTO MANUEL NASCIMENTO
Rua do Cemitério de Baixo 5180-105 FREIXO DE ESPADA A CINTA

10.________________________________

ALBERTO MARTINS VIDEIRA (ex-2º sargento, CCAÇ 12)
Praça Diogo Cão, 6 R/C 5000-599 VILA REAL
259373472

11. _______________________________

ALCINO CARVALHO BRAGA (CCAÇ 12)
Rua Norte Júnior - Lote 235 - 5º F 1900-767 LISBOA
218371350

12. _______________________________

ALFREDO DUQUE LOPES
Presa 2230-010 ACARAVELA (SARDOAL)


13. _______________________________

AMÉRICO FONSECA TAVARES
Avenida 12 de Julho, Nº 149 - Gala de S. Pedro 3080-739 FIGUEIRA DA FOZ

14.________________________________

ÂNGELO A. CUNHA RIBEIRO, Coronel (ex-major, CCS / BCAÇ 2852)
Largo de António Ramalho, 34 - 1º. 4100-070 PORTO
226095451

15._______________________________

ANTÓNIO ALVES
Rua Meripinho, 67 - Bairro Santiago 3810 AVEIRO
256428508

16._______________________________

ANTÓNIO BENTO RODRIGUES
Rua Lusiadas, 37 - 3º Esq. 2745-155 QUELUZ
214350274

17. ______________________________

ANTÓNIO DOM. RODRIGUES
Avenida das Amoreiras, 29 - 2º Esq. 2350-598 TORRES NOVAS
249823614
919528023

18. ______________________________

ANTÓNIO DUARTE ADÃO
Rua Visconde Asseca, 15 - Covas de Ferro 2715-313 ALMARGEM DO BISPO
219622086

19. ______________________________

ANTÓNIO EUG. SILVA LEVEZINHO (ex-fur mil CCAÇ 12)
Rua Dr. João Barros, 2 -1º Esqº. - Reboleira 2720-202 AMADORA
214954593

20. ______________________________

ANTÓNIO FERNANDO P. NUNES (CCS / BCAÇ 2852)
Rua Duque Saldanha, 615 - 2º Esq. 4300-466 PORTO
225363164

21. ______________________________

ANTÓNIO FERNANDO R. MARQUES (ex- fur mil, CCAÇ 12)
Rua das Perdizes, Lote 11 - 2º B - Quinta Bicuda 2750-704 CASCAIS
214844041 / 933599115

22. ______________________________

ANTÓNIO GONÇ. PEREIRA, Dr. (CCS / BCAÇ 2852)
Avenida 5 de Outubro, 73 - 1º Drt. 4440-503 VALONGO
224221283 / 939596053


23. _____________________________

ANTÓNIO J. ABRUNHOSA BRANQUINHO
Rua Grupo 1 - Recreio Edificio 2 - 2º Esq. 6200-446 COVILHÃ
275335723

24. _____________________________

ANTÓNIO JESUS MARQUES
Rua João de Deus, 313 - 1º Esq. 4400-185 VILA NOVA DE GAIA
225370620

25. _____________________________

ANTÓNIO J. ESTEVES CAETANO, Dr. (Pel Mort)
Rua Conde Almoster, 44 - 2º Esq. 1500-195 LISBOA
217740202

26. _____________________________

ANTÓNIO JOSÉ SIMÕES GREGÓRIO
Casal do Espirito Santo - Lousã 3200-372 VILARINHO LOUSÃ
239993585

27. _____________________________

ANTÓNIO M. M. BRANQUINHO (ex-Fur Mil, CCAÇ 12)
Avenida Herois do Ultramar, 76 7000-720 EVORA
266705902

28. _____________________________

ANTÓNIO MANUEL CARLÃO (ex-Alf Mil, CCAÇ 12)
Rua das Cordas, 1 4740-351 FÃO
253982275 / 917543842


29. ____________________________

ANTÓNIO MANUEL LAPA CARINHAS (Pel Intendência)
Quinta Santa Catarina - Lote 44 R/C 7000-173 EVORA
263333373


30. ____________________________

ANTÓNIO PAULA OURIVES
Bairro Ladeirinha 6200-785 TORTOSENDO
275954460 / 914643997


31. ____________________________

ANTÓNIO R. CURADO COUTINHO
Rua António Pires,8-2º.Esq.-Laveiras Caxias 2780-489 PAÇO DE ARCOS
214427503

32. ____________________________

ARLINDO TEIXEIRA RODA (ex-Fur Mil, CCAÇ 12)
Rua Alfredo Lima, 37 - º3 B 2910-388 SETUBAL
265238354

33. ____________________________

ARMÉNIO MONTEIRO DA FONSECA (ex-Sold, CCAÇ 12)
Rua Presa Velha, 112 - Casa 6 4300-443 PORTO
225363371

34. ____________________________

BERNARDO MANUEL O. VALENTE (ex-Fur Mil, Pel Rec, CCS do BCAÇ 2852 )
Rua Herois do Ultramar, 14 - Leiria Gare 2400-287 LEIRIA
244881779/ 965242480
______________________________

Nota de L.G.:

(1) Sobre a composição da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, vd. seguintes posts:

29 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXIV: Ao Fernando Sousa: Sei que estás em festa, pá(Luís Graça)

21 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXV: Composição da CCAÇ 12, por Grupo de Combate, incluindo os soldados africanos (posto, número, nome, função e etnia) (Luís Graça)

sexta-feira, 29 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25315: Um conto de António Graça de Abeu: "Lai Yong e Bernardo, uma História Simples" (2018) - Parte I


O escritor (n. Porto, 1947) quando jovem 
(c. 30 e poucos anos)


António Graça de Abreu, na China (c. 1981)

1. Mensagem do António Graça de Abreu, com data de  26 do corrente: 

Luís, segue o texto dos primeiros amores luso-chineses. Acho que dá para publicar, lê-se com gosto, e como dizia o Camões “melhor é experimentá-lo que julgá-lo/mas julgue-o quem não pode experimentá-lo.”

Creio que podes dividi-lo em três ou quatro partes. As fotos são todas minhas, excepto a do padre Teixeira que é da net. Mas não deve ter direitos de autor.

Abraço,

António Graça de Abreu


Depois da Guiné, 1972/74, com largas estadias em Canchungo, Mansoa e Cufar, regressado a Portugal a 20 de Abril de 1974, era tempo de esquecer as charangas da guerra e recomeçar nova vida. 

Com a democratização da sociedade portuguesa, surgiram os partidos políticos e em 1976 foi tempo de me aproximar dos maoistas do Partido Comunista de Portugal (marxista-leninista), o único que mantinha um relacionamento institucional com Pequim, com o Partido Comunista Chinês. 

Em finais de 1977 fui convidado pelo Eduíno Vilar, secretário-geral do PCP (m-l), conhecia bem a sua esposa, a Ana Faria,  minha colega de Faculdade de Letras – para ir trabalhar na China, nas Edições de Pequim em Línguas Estrangeiras. 

Depois de muito pensar aceitei, o contrato era de quatro anos e acabei por ficar seis anos na capital chinesa e em Shanghai, tendo mudado completamente a minha vida. 

Dediquei-me a estudar a China, a escrever sobre a China, a dar aulas em diferentes universidades portuguesas sobre estudos chineses. 

Conheço pouco, mas a China não me é estranha.

O meu primeiro mergulho no feminino chinês é este texto, este conto, 80% verdadeiro, passado em Macau, que deixo à consideração dos nossos camaradas da Guiné. Prometo leitura exaltante, agradável, edificante.

António Graça de Abreu


Capa do livro "Lay-Yong, Bernardo e outros poemas", de António Graça de Abreu (Póvoa de Santa Iria,  Lua de Marfim Editora, 2019, 91 pp.)

Email do autor: abreuchina@netcabo.pt


2. Segue-se o conto, " Lai Yong e Bernardo, uma História Simples" (pp. 36-57), uma história de encontro e separação de duas culturas,  e de amores efémeros de um homem (Bernardo, português, com formação universitária, e já na casa dos 30 e tal, claramente um "alter ego" do escritor) e uma jovem chinesa de Cantão e Macau,  de 24 anos, Lai Yong. 

Estamos em 1981 em  Cantão  e em Macau (território ainda sob administração portuguesa,  até 1999).  

Vamos dividir o conto em três partes, devido à sua extensão. E agradecemos ao autor, nosso camarada, um histórico do nosso blogue, a sua gentileza e generosidade. O conto foi publicado num dos seus últimos livros, já aqui objeto de uma primeira nota de leitura (*) 

 O António Graça de Abreu tem cerca de 340 referências no nosso blogue.  Foi alf mil, CAOP1 ( Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74).  Escritor, poeta  tradutor e professor universitário, é um reputado sinólogo, especialista em língua, cultura e história da China. (LG)



A menina de Cantão e Macau: (...) "Em Santiago da Barra, / desagua um rio de ternura, / para eu navegar
no jade do mar, na tua formosura." (...) 


Fotos (e legenda) : © António Graça de Abreu (2024). Todos os direitos reservados . [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Lai Yong e Bernardo, uma História Simples - Parte I

por António Graça de Abreu


Se não trazem amantes para os quartos, 

as vidas dos anjos não passam de um sonho.

Li Shangyin (813-858)


Grave e leda no gesto, e tão fermosa 

Que se amansava o mar de maravilha.

Camões, Os Lusíadas, Canto VI, 21


I

Cantão, ano de graça de 1981, Outubro.

Diante da cidade, no pequeno cais fluvial do outro lado do braço do rio das Pérolas, o barco da ligação nocturna Cantão-Macau está prestes a partir.

A polícia chinesa procedeu à rigorosa verificação de passaportes e salvos condutos, vistoriou as bagagens dos cidadãos, cerca de duas centenas, que viajam no ferry da noite rumo à pequena cidade portuguesa, na península do Santo Nome de Deus, na China.

Sou o único estrangeiro a bordo. Cheguei esta tarde a Cantão, depois da longa viagem desde Pequim, trinta e nove horas, 2.700 quilómetros na carruagem yingwoche 硬卧车, ou seja, “cama dura”, no beliche do meio de um comboio ronceiro, fumegante e sujo. 

Agora, o naviozinho, uma espécie de cacilheiro meio alindado, acomoda os passageiros para o possível sono da noite numa vasta camarata, com dois pisos iguais em convés coberto, tipo salão, cada andar com uma centena de camas, todas unidas umas às outras.

Depois do comboio, antevejo uma noite tranquila, embalado pelo navegar ritmado do barco, nos cento e trinta quilómetros até Macau por águas escuras, barrentas,mas bonançosas, no delta do rio das Pérolas.

Cabe-me em sorte o leito número 8 no piso inferior do “cacilheiro” chinês. Oito é   um bom número, associado à prosperidade e à riqueza. Deposito a mala, apalpo acama, instalo-me. 

Mesmo ao lado, no número 9  outro número de excelsas qualidades a apontar para longa vida, poder e harmonia, – está uma menina chinesa aí de vinte anos, de pernas cruzadas, bonitas, sentada no colchão. Esplendorosa. Surpreende-se, curiosa com a minha presença, tal como eu me espanto face à sua inesperada aparição.

Vamos dormir, lado a lado, separados por um estreito tabique de madeira, ao rés dos nossos corpos. A chinesa não é bem menina, mais uma mulher jovem, 'mignonne', o rosto cheio, os olhos amendoados e fundos, os cabelos descendo pelos ombros e um sorriso que passeia na fissura da almofada dos lábios, e chega até mim. Sorrio também.

O barco vai descendo o rio. A meu lado, que sorte, que formosa mulher!

Ajeitamo-nos nas camas, é quase hora de fechar os olhos para um possível sono descansado.

No meu catastrófico chinês mandarim, saúdo a inesperada companheira de tãopróximos espaços a compartilhar.

– Boa noite, como te chamas?

–  Li Yang, mas em cantonense chamo-me Lai Yong.

 Eu sou Bernardo, português, vivo há quatro anos em Pequim, onde trabalho e tenho a minha vida. Esta é a minha terceira viagem a Macau. Ni ne? E tu?

 Nasci em Cantão, vim pequena para Macau, com os meus pais.

 O que é que fazes, Lai Yong?

– Trabalho numa loja de arte chinesa, pintura tradicional, caligrafia e livros.

Este o essencial arrevesado da conversa. Estamos apresentados. Outra vez o fíníssimo sorriso a baloiçar nos lábios da Lai Yong e ela a enroscar-se no edredão, preparando o sono da noite. Pergunto-lhe em mandarim, depois em inglês:

 Que língua vamos falar?

 Não vamos falar, vamos dormir. Falo cantonense e mandarim, mais umas palavras de inglês. Mingtian jian, 明天见, “até amanhã”, good night.

 Mingtian jian, sleep well.

Vivendo em Pequim desde 1977, habituara-me a uma existência dura em tempo de rigores políticos, à extremada separação entre chineses e estrangeiros, à quase impossibilidade de um relacionamento com estas meninas de jade e de seda, alvas e perfeitíssimas. 

Recordei como, desde há quatro séculos e meio, este feminino de assombros -- sublimes criações dos deuses , tem povoado o imaginário e a realidade quotidiana de tantos portugueses em Macau, diante de depuradas mulheres, mesmo se de origem humilde, mas quase sempre dedicadas e meigas, tão superiores à mediania e à mediocridade de incontáveis gentes.

A três palmos de mim, no barco da carreira Cantão-Macau, dorme uma primorosa filha das terras da China. O rosto sereno no travesseiro diminuto, creio que nenhum sonho, nenhum sobressalto. Bela e adormecida, Lai Yong parece porcelana.

Apetece tocar.

O barco desce por meandros e curvas do rio das Pérolas. Luzes dispersas, mais anegritude no horizonte, no vasto delta a abrir-se para o mar. Vou também tentar dormir.

Adormeço no sonho de uma chinesa vestida de nuvens coloridas aproximando-se de mim. Um braçado de flores, uma fada imaculada, erva fofa e tenra.

Acordo com um amanhecer difuso. Lá fora, a leste, o céu levemente azul, levemente rosa. Tudo ainda muito escuro. Cá dentro, na penumbra, ao lado, a Lai Yong continua a dormir. É uma ninfa descida de paragens celestiais, veio por detrás do debruar da noite para adormecer junto de mim.

No barco, a estibordo, adivinham-se ainda distantes as primeiras luzes de 9Macau, perfurando o clarear do dia. O farol da Guia a lampejar no alto, depois o traço iluminado dos hotéis Presidente e Lisboa, mais a linha da baía da Praia Grande.  

“cacilheiro” passa sob a ponte Nobre de Carvalho, circunda o extremo sul da península, rodeia a Penha, a Barra, o templo de Amá e encontra o cais para acostar, no Porto Interior. Os passageiros, ainda meio ensonados, deixam as camas para trás, carregam malas e embrulhos, aceleram o passo, saem do barco. É a debandada ligeira e rápida para dentro de Macau, sem nenhuma barreira ou fiscalização, os chineses da polícia e alfândega de Cantão já controlaram tudo. E Macau tem o privilégio de ser um porto livre.

É dia claro. Lai Yong e eu não temos pressa, somos quase os últimos a deixar o barco. Ajudo-a no transporte das suas muitas trouxas e pergunto-lhe:

 Logo à noite, queres jantar comigo?

Lai Yong espera uns vinte segundos, parece hesitar na resposta. Mas o sorriso macio, adocicado, brilha outra vez nos olhos, nos lábios, enche-lhe o rosto todo. Depois diz:

 Keyi, pode ser. Onde nos encontramos?

 Em San Ma Lou, a avenida Almeida Ribeiro, em frente ao Leal Senado.

Um aperto de mão cordial e bye bye, até logo.

II

Sete da noite. Chego ao Leal Senado, no centro da cidade, e questiono-me: Será que a Lai Yong vai mesmo aparecer, ou esfumar-se-á para sempre nos atalhos escondidos das sombras de Macau?

A mulher lá está, os mesmos sapatinhos pretos de Bela Adormecida, saia justa azul arredondando-lhe as formas do corpo, uma blusa vermelha apertada, com o botão de cima aberto no decote sobre o levantar dos seios perfeitos, uma pequena gola de folhos, os olhos de veludo castanho voluptuosamente pintados, a boca rubra entreaberta.

Outra vez o sorriso perfumado, acariciante e leve que não se desprende apenas do abrir dos seus lábios, quero crer que lhe circula no sangue. São os ténues entendimentos de um português romântico, hoje completamente fora de moda, homem da estranha casta lusitana, mas espantado, encantado, embriagado diante de possíveis enxertias em bacelos do sul da China.

Onde vamos jantar?

O Hotel Metrópole está na moda. O restaurante do hotel, o Beira-Mar, é uma sala enorme com um palco e um palanquim lateral onde jovens cantoras de Hong Kong, com voz de rouxinol afinado, entoam modinhas chinesas em cantonense, às vezes em mandarim. Degustamos umas tantas iguarias de comida meio ocidental, meio chinesa, bebemos uma garrafa de vinho verde Gatão, bem fresquinho, o néctar das encostas das terras de Amarante, em Macau, no seu melhor. Lai Yong tende mais para o lado do chá, mas decide fazer companhia ao amigo recente, em suaves libações vínicas. À nossa saúde, Ganbei, 干杯, brindamos à felicidade em nossas vidas.

Bernardo é o primeiro português que conhece nos seus quase vinte e quatro anos de idade, muitos deles já vividos em Macau. Falamos, falamos, falamos num linguajar de trapos, meio mandarim, meio inglês.

Quem és tu Lai Yong, mulher da China, de Cantão, de Macau? Quem sou eu, Bernardo, português dos distantes mares do Ocidente, ancorado em Pequim, agora de passagem por esta estranha cidade do sul do império, com portugueses lá dentro, e mais gente, macaense e chineses, todos filhos das singularidades do mundo e de dez mil desvairos?

Ao modo da velha China trocamos dados sobre os nossos signos, identificamo-nos, descobrimo-nos pelos animais do zodíaco chinês que estão por detrás do ano emque nascemos e que, quase de certeza, nos condicionam as vidas e nos fazem ser o que somos. Recordamos qualidades, esquecemos, por completo, os muitos defeitos.

 Lai Yong é Cabra, um animal simpático, de bom coração que irradia vontade de viver,

Bernardo nasceu no ano privilegiado do Porco Dourado, sob o elemento Fogo, tem por isso um ror de qualidades. É generoso e honesto, por muitas voltas que a vida dê, o dinheiro não lhe costuma faltar, é sensual e corajoso. 

Sorrimos ambos face ao que vamos descobrindo. Não será difícil a aceitação de um pelo outro. Sabemos que temos quase tudo para entendimentos sinuosos mas sublimados, para nos darmos bem porque deverão existir baús e baús de compatibilidades e interesses comuns.

Falo-lhe do meu trabalho em Pequim, na minha danwei 单位 comunista, a entidade de trabalho, a Foreign Languages Press onde tenho bastante liberdade e passo os dias a cerzir textos em razoável português. Pagam-me um magro salário que, no entanto, chega, é suficiente para viver, até dá para viajar e vir a Macau.

Lai Yong é uma mulher quase letrada ao modo do velho Império, ocupa o seu labor cirandando pela pintura tradicional chinesa, a exercitar caligrafia, a ler e a copiar poesia clássica. 

Falo-lhe nos grandes poetas da dinastia Tang (618-907) que também vou descobrindo e que gostaria um dia, ocupando parte dos meus ócios, de traduzir para língua portuguesa. São Li Bai, Du Fu, Wang Wei, Bai Juyi. 

Conhece-os todos, fala-me de Wang Wei: 当一个人品味王玮的诗,有画在他们, “A sua poesia é pintura, a sua pintura é poesia”, e diz-me, também em mandarim, a brincar, um famoso poema de Li Bai, ou Li Po que as crianças chinesas costumam aprender na escola primária. Assim:

床 前 明 月 光

疑 是 地 上 霜

举 头 望 明 月

低 头 思 故 乡

e que, em mandarim, soa deste modo:

chuang qian min yue guang
yi shi di shang shuang
ju tou wang ming yue
di tou si gu xiang

A tradução livre será mais ou menos esta:

“Li Bai, em viagem, acorda numa estalagem longe de sua casa. De madrugada,vem à janela e tem a geada diante dos seus olhos. Ou serão reflexos do luar? O poeta, triste, pensa no seu lar”.

Lai Yong fala-me de outros poetas da dinastia Tang, grande parte deles eu nem sequer conheço. Ela sabe dezenas de poemas de cor. Ah, mulher bonita, eu agarro em ti e levo-te comigo, debaixo do braço, para darmos a volta ao mundo!

Deixamos o restaurante do Hotel Metrópole. Acompanho a Lai Yong, a pé, até casa. Mora na rua da Praia do Manduco, por baixo de S. Lourenço, lá no extremo sul, ao lado do Porto Interior, quase a chegar ao templo de A Má. 

Vamos descendo pela marginal, circundando a Praia Grande, passando a Penha, até à Barra, caminhando lentamente sob árvores seculares num dos espaços mágicos de Macau. 


O meu braço direito sobe e rodeia o ombro de Lai Yong. Puxo-a para mim, a menina de Cantão e Macau aconchega-se suavemente na espalda do amigo recente. Caminhamos enlaçados.

Quase ninguém na noite de Santiago da Barra. Bernardo, os pés em Macau, o coração entre céu e terra, abraça a mulher chinesa, beija a polpa dos lábios da ancestral e presente filha do dragão, lábios perfeitíssimos humedecidos por milénios de águas da chuva, espantos e carícias. Alegria, prazer. O português de Pequim sorve a língua da fada chinesa, de jade, menos fria, tão macia. Flutuamos ambos, como nuvens.

Lai Yong chega a casa, na Praia do Manduco, por detrás do templo da Barra, onde a deusa A Má, chegada da província de Fujian, de quando em quando, promete fortuna, paz e felicidade. A despedida, um beijo agora leve levado pela brisa da noite.

De regresso ao provisório lar, Bernardo escreve o seguinte poema:

Obrigado aos deuses,
deram-me o que eu não merecia.
No silêncio iluminado da noite de Macau,
o bem-querer dos amantes principia.
Em Santiago da Barra,
desagua um rio de ternura,
para eu navegar
no jade do mar, na tua formosura.

António  Graça de Abreu

 (Continua) 

(Seleção,  revisão / fixação de texto para efeitos de publicação neste poste: LG)

______

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 25 de março de  2024 > Guiné 61/74 - P25305: Notas de leitura (1678): "Lay Yong, Bernardo e outros poemas", de António Graça de Abreu (Lua de Marfim Editora, 2018, 90 pp.) (Luís Graça)

terça-feira, 8 de julho de 2014

Guiné 63/74 - P13377: Efectivos que fizeram parte da CART 2732 (Carlos Vinhal)

A CART 2732 em desfile antes de embarcar com destino ao CTI da Guiné


CART 2732 - Mansabá, 1970-1972

EFECTIVOS QUE FIZERAM PARTE DA CART 2732                
               
COMANDANTES DE COMPANHIA
Cap Prego Gamado - Baixou ao HMP antes do embarque no Funchal
Cap Inf José Leonardo S. Carreto Maia - CMDT da CART de 22ABBR a 02JUL70 - Fim de comissão
Cap Art José Maria Belo - CMDT da CART de JUL a SET70 - Evacuado para o HMP
Cap Inf Domingos Alberto Pinto Catalão - CMDT da CART de OUT70 a AGO71 - Evacuado para o HMP
Cap Mil Jorge Manuel Simões Picado - CMDT da CART entre 08MAR e ABR71 - Transferido para o CAOP 1
Cap Mil Armando Vieira dos Santos Caeiro - CMDT da CART de OUT71 a 19MAR72, data de regresso da Companhia

OFICIAIS SUBALTERNOS
Alf Mil Art Manuel António Casal
Alf Mil Art Américo Almeida Nunes Bento
Alf Mil Op Esp Luís Filipe Nunes de Oliveira Rodrigues
Alf Mil Art MA José Armando Santos do Couto - Morreu em combate em 06OUT70
Alf Mil Inf José Manuel C. C. Meneres - Em JAN71 substituiu o Alf Mil Couto - Foi transferido para o COMCHEFE
Alf Mil Art Francisco Maria Magalhães Baptista - Em SET71 substituiu o Alf Mil José Manuel Meneres

SARGENTOS
1.º Sarg Salvador Nunes Pinto - Integrado na CART em AGO70 - Transferido posteriormente
2.º Sarg António da Piedade dos Santos
2.º Sarg João da Costa Rita
Fur Mil Art Alberto Manuel Gardete Correia   
Fur Mil Art Minas e Armadilhas Carlos Esteves Vinhal
Fur Mil Art Fernando José da Silva Nogueira Nunes   
Fur Mil Art Francisco Gomes da Fonseca  
Fur Mil Mecânico Auto Gabriel da Silva Dias dos Santos   
Fur Mil Art Ismael Neves Ferreira dos Santos   
Fur Mil Armas Pesadas Joaquim Nogueira da Silva - Integrado já na Província
Fur Mil Art José Augusto Torres de Araújo Branco - Evacuado para o HMP em MAR71 por doença
Fur Mil TRMS José de Sousa Lourenço   
Fur Mil Alimentação José Gabriel Amorim da Costa
Fur Mil Art José Manuel Martins Carneiro   
Fur Mil Comando José Manuel M. Mendonça - Em OUT71 substituiu o 1.º Sarg Pinto
Fur Mil Op Esp Luís António Pires   
Fur Mil Enfermeiro Luís da Costa Marques   
Fur Mil Inf Manuel Augusto F. Ramos - Em ABR71 substituiu o Fur Mil José Augusto T. A. Branco
Fur Mil Art Minas e Armadilhas Rui Filipe Ribeiro Gonçalves de Sousa   

PRAÇAS
1.º Cabo At Abel Gaspar Vieira  
1.º Cabo At António Fernandes Gomes Vieira  
1.º Cabo At António Jorge S. S. Leitão - Em NOV70 substituiu o 1.º Cabo At Manuel Freitas Gouveia
1.º Cabo Reab Mat António Jorge Silveira Pereira
1.º Cabo Ap Met António José de Menezes  
1.º Cabo At António Miguel Ferreira Paiva Cunha  
1.º Cabo Cozinheiro Armindo Ferreira Lopes
1.º Cabo At Arnaldo Ferreira de Góis  
1.º Cabo Op Cripto Carlos Henrique Veiga Brito Miralles  
1.º Cabo Escriturário Duarte Moreira de Oliveira
1.º Cabo Mec Auto Fernando de Matos Martins  
1.º Cabo Radiotelegrafista Fernando José Correia Bandeira - Integrado já na Província
1.º Cabo Ap Met Inácio Rodrigues da Silva
1.º Cabo At João Abel de Gouveia
1.º Cabo At João Carlos Rodrigues Freitas  
1.º Cabo At João de Jesus Alves
1.º Cabo At João Gomes  
1.º Cabo At João Manuel de Gouveia  
1.º Cabo At João Samuel Rodrigues dos Ramos
1.º Cabo Aux Enf Jorge Manuel Valentim Rodrigues  
1.º Cabo Mec Auto José Alves da Costa
1.º Cabo Mec Armas Lig José Carlos Carvalho Jorge  
1.º Cabo Cond Auto José Fernando Ferreira Gouveia
1.º Cabo At José João Pereira Pontes
1.º Cabo At José Juvenal Pereira  
1.º Cabo At José Luís Gomes  
1.º Cabo At José Manuel Ornelas da Silva
1.º Cabo At José Manuel Rodrigues Vieira
1.º Cabo Aux Enf José Mateus dos Reis Pedro
1.º Cabo Corneteiro José Pedro de Oliveira Barge  
1.º Cabo At José Tiago de Sousa Pestana  
1.º Cabo At Juvenal Afonso  
1.º Cabo At Lourenço Teixeira Maciel  
1.º Cabo At Luís Quintino Neto Duarte  
1.º Cabo At Manuel de Freitas Gouveia - Em SET70 foi evacuado para o HMP
1.º Cabo Aux Enf Manuel José Nunes de Matos - Em FEV71 foi evacuado para o HMP
1.º Cabo Op Cripto Mário Romana Soares
1.º Cabo At Sílvio Nicolau Fernandes Mendes  
Sold At Acácio Carmo Lopes - Em JAN71 substituiu o Sold João Gregório de Jesus
Sold At Adelino de Viveiros Franco
Sold Básico Adérito dos Santos Bastião  
Sold Mec Auto Agostinho Caires Jorge - Em OUT70 foi evacuado para o HMP
Sold At Agostinho da Encarnação Andrade
Sold At Agostinho Fernandes de Sousa
Sold At Albertino da Ponte
Sold Corneteiro Alexandre Bento dos Santos Pedroso  
Sold Básico Alfredo Morais Ribeiro  
Sold Trms Inf Álvaro Gonçalves Dias  
Sold Cond Auto António Aniceto da Silva  
Sold Aux Cozinheiro António Carlos dos Ramos
Sold At António de Abreu Andrade
Sold At António de Freitas  
Sold At António de Góis Perestrelo
Sold At António de Oliveira e Silva - Em JUN71 substituiu o Sold Artur Malcata de Matos
Sold At António Fernandes Barradas  
Sold At António Fernandes de Sousa
Sold Básico António Pereira Gonçalves - Integrado já na Província
Sold Cond Auto António Pereira Magalhães  
Sold Cozinheiro António Pereira Mendes  
Sold At António Ribeiro Teixeira
Sold Cond Auto António Rodrigues da Silva
Sold At António Vicente Lemos  
Sold At Arlindo Correia Tavares - Em JUN71 substituiu o Sold José Silvestre Nunes Vieira
Sold At Arlindo de Sousa e Freitas  
Sold Cond Auto Arlindo Freire Bicho - Em SET71 foi evacuado para o HMP por ferimentos em combate
Sold At Arlindo Spínola Pereira  
Sold At Armando Pita dos Santos  
Sold At Artur Malcata de Matos - Em FEV71 substituiu  o Sold José de Sousa Jardim - Em MAI71 faleceu vítima de doença
Sold At Avelino Gonçalves Pinto
Sold At Avelino Moniz Teixeira  
Sold Cond Auto Belmiro dos Santos Ferreira  
Sold At Benjamim Viveiros da Costa
Sold At Carlos Olim Menezes  
Sold At Carlos Simão Soares de Abreu - Evacuado para o HMP em JAN72 por ferimentos em combate
Sold At Conceição Franco Saldanha  
Sold Cond Auto Daniel da Silva Lopes  
Sold At Daniel França  
Sold At Dionildo Viveiros Pestana do Vale  
Sold Cond Auto Domingos da Silva Dores  
Sold Ap Met Domingos Martins Perestrelo
Sold At Eusébio Elmano da Silva Rodrigues  
Sold At Ezequiel da Rosa Filipe - Integrado na CART em JAN71, além Q.O.
Sold At Ezequiel Santos Pestana  
Sold At Fernando Batista Lopes
Sold Cond Auto Fernando Costa Oliveira
Sold At Fernando da Costa
Sold At Francisco de Jesus Caires  
Sold Trms Inf  Francisco Félix Marques da Silva - Evacuado para o HMP em JAN71
Sold At Francisco Fernão Abreu  
Sold Ap Met Francisco Ferreira  
Sold At Francisco José de Gouveia
Sold At Francisco José de Sousa  
Sold Trms Inf Francisco da Silveira Rebelo
Sold At Isidro Batista Rodrigues Nóbrega  
Sold At Jaime Figueira Camacho - Evacuado para o HMP em OUT71
Sold At João Adriano da Costa  
Sold At João Alcâncio Nóbrega de Vasconcelos  
Sold Cond Auto João Batista  
Sold At João Batista Correia
Sold At João Bruno Couchinho - Em NOV70 substituiu o Sold Agostinho Caires Jorge - Posteriormente foi tansferido por motivos disciplinares
Sold At João Costa de Sousa  
Sold At João da Costa Correia
Sold At João de Freitas Ferreira  
Sold At João Ernesto de Freitas Barreto  
Sold At João Ferreira de Freitas  
Sold At João Figueira da Silva  
Sold At João Gregório de Jesus Júnior - Transferido para o S.A.
Sold Trms Inf João Marcelino Malhão Gonçalves
Sold Ap Met João Martinho Oliveira de Freitas - Em NOV70 foi evacuado para o HMP
Sold At João Orlando Marques  
Sold At João Vasconcelos Melim  
Sold Cond Auto Joaquim Alves Tiago  
Sold At Joaquim Maria Carvalho Teixeira - Em NOV70 substituiu o Sold José Fernandes do Nascimento
Sold Cond Auto Joaquim Sousa Santos
Sold At José Aires da Silva  
Sold At José Alberto Gonçalves Quintal  
Sold At José Alfredo Castro Gouveia  
Sold Radiotelegrafista José Augusto Pinheiro Miranda - Integrado já na Província
Sold At José Bernardo Rodrigues Espírito Santo
Sold At José Brito Ferreira  
Sold Cond Auto José Carlos Lírio Batista - Em JAN72 substituiu o Sold João Bruno Couchinho
Sold Aux Enf José de Oliveira Torrinha - Em ABR71 substituiu o 1.º Cabo Manuel José Nunes Matos
Sold At José de Sousa Jardim - Transferido por motivos disciplinares
Sold At José Dias de Freitas Alves
Sold Trms Inf José Dionísio Coelho Brás   
Sold At José do Espírito Santo Barbosa - Morto em combate em DEZ71
Sold Corneteiro José dos Santos Barreto  
Sold At José Fernandes do Nascimento - Evacuado para o HMP em AGO70 por motivo de doença
Sold At José Figueira da Silva
Sold Ap Met José Francisco de Castro - Em ABR71 substituiu o Sold José Pestana de Freitas
Sold At José Gonçalves Diogo - Evacuado para o HMP em JAN72 por ferimentos em combate
Sold Radiotelegrafista José Manuel Capela Pereira da Cunha - Integrado já na Província
Sold At José Manuel de Oliveira - Evacuado para o HMP em JAN72 por ferimentos em combate
Sold At José Patrício Caldeira - Evacuado para o HMP em JAN72 por ferimentos em combate
Sold Cond Auto José Peixoto Nogueira  
Sold At José Pereira
Sold At José Pereira de Abreu Namora
Sold Ap Met José Pestana de Freitas - Em MAR71 foi evacuado para o HMP
Sold At José Silvestre Nunes Vieira - Em MAI71 faleceu vítima de acidente
Sold Ap Met José Teixeira  
Sold Trms Inf Júlio Álvaro C. Correia - Em ABR71substituiu o Sold Francisco Félix Marques da Silva
Sold At Júlio Vieira de Freitas Muchacho
Sold Cond Auto Manuel António Neves dos Santos  
Sold Cond Auto Manuel da Silva Azevedo  
Sold Ap Met Manuel de Andrade  
Sold At Manuel de Jesus - Evacuado para o HMP em JAN72
Sold At Manuel de Jesus Vasconcelos  
Sold At Manuel dos Reis Pinto de Abreu  
Sold At Manuel Fernandes Luís - Transferido por motivos disciplinares
Sold At Manuel Gonçalves Faria
Sold At Manuel Jesus Ferreira
Sold Cond Auto Manuel Joaquim Lopes de Oliveira  
Sold Ap Met Manuel Pereira Gonçalves - Em JAN71 substituiu o Sold João Martinho Oliveira Freitas
Sold At Manuel Vieira - Morto em combate em DEZ71
Sold At Manuel Vieira da Silva  
Sold At Raimundo Pestana Gomes Malho  
Sold At Ricardo Rodrigues de Gouveia  
Sold At Silvestre Santos Pinto - Em JAN71 substituiu o Sold Manuel Fernandes Luís
Sold Aux Coz Virgílio Anastácio Abreu
____________

Notas:

- Na data de embarque faltavam no Quadro Orgânico da CART 2732 sete militares, a saber:
- o Capitão (Comandante de Companhia) que depois de nomeado deu baixa ao HMP,
- o 1.º Sargento e o Furriel de Armas Pesadas que ainda não tinham sido nomeados,
- um Cabo e dois Soldados Radiotelegrafistas já nomeados, mas a integrar a CART só no CTIG e,
- um Soldado Básico.

- Embarcaram no Funchal 160 homens.

- Fizeram parte da CART2732 190 militares para uma dotação de 167

- Compilação de Carlos Vinhal com elementos retirados da História da Unidade da CART 2732

sábado, 26 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13044: (Ex)citações (227): A guerra vista de Bafatá. O edifício-sede do batalhão (António Bernardo, CCS / BART 2920, Bafatá, 1970/72)

1. A propósito da mensagem: Guiné 63/74 - P13034: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (88): O senhor Camilo da Bafatá, da autoria do nosso Camarada Fernando Gouveia, que foi Alf Mil Rec e Inf, em Bafatá, 1968/70), com data de 24 de Abril de 2014, recebemos do Sr. António Bernardo a seguinte mensagem:


Caro Fernando,

Permite-me emendar-te na legenda das fotos. O edifício-sede do batalhão é o assinalado na foto que envio em anexo e defronte do qual, situava-se a casa do Sr. Camilo. De estilo colonial, composta de dois pisos. No rés-do-chão, o estabelecimento comercial; no piso superior, a residência.

Era do conhecimento geral, os "lautos jantares à oficialidade lá do sítio", tanto assim, que foi no lauto almoço do domingo de Páscoa de 1972 (2 de abril) que o cmdt do BART 2920, tomou conhecimento do acontecido na CART 2742 em Fajonquito e relatado no poste 5932. 




Cumprimentos.


António Bernardo

[ CCS / BART 2920, Bafatá, 1970/72]



___________

Nota de M.R.: 

Vd. Também o poste em referência: 


Vd. último poste desta série em: 


sábado, 30 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25318: Um conto de António Graça de Abeu: "Lai Yong e Bernardo, uma História Simples" (2018) - Parte II

Retrato do artista quando jovem... António Graça de Abreu, 
nascido no Porto, em 1947, licenciado em línguas germànicas 
pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 
trabalhou na China, como tradutor, na Editora Pequim 
em Línguas Estrangeiras.  Viveu em Pequim 
e Xangai de 1977 a 1983. Esteve no  CTIG como alf mil, 
CAOP1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar,  1972/74). 
Escritor, poeta, tradutor, professor universitário...
e "globe-trotter", tem mais de 20 títulos publicados,


Capa do livro. 
Contacto do autor:
abreuchina@netcabo.pt
1. Segunda  parte do  conto, " Lai Yong e Bernardo, uma História Simples" extraído do livro "Lay-Yong, Bernardo e outros poemas", de António Graça de Abreu (Póvoa de Santa Iria,  Lua de Marfim Editora, 2018, pp. 36-57) (capa â direita).

É uma gentileza do autor e nosso camarada, a quem agradecemos. É uma história de encontro e separação de duas culturas,  e de amores efémeros de um homem (Bernardo, português, com formação universitária, e já na casa dos 30 e tal, claramente um "alter ego" do escritor) e uma jovem chinesa de Cantão e Macau,  de 24 anos,   Lay Yong.

Estamos em 1981 em  Cantão  e em Macau (território ainda sob administração portuguesa,  até 1999). 

Lay Yong e Bernardo conheceram-se quando  viajaram juntos, em 1981. na "ferry-boat" que fazia a viagem, de 120 quilómetros, entre  Cantão e Macau, ao longo do rio das Pérolas (*)

 

Lai Yong e Bernardo, uma História Simples - Parte II

por António Graça de Abreu (*)


 II


Monsenhor Manuel Teixeira
 (1912-2003),
figura proeminente da comunidade
 macaense e da cultura luso-chinesa.
Foto: Cortesia de Jornal Tribuna
 de Macau (2018)
Bernardo decide, com alguma originalidade e ousadia, levar Lai Yong na visita ao padre Manuel Teixeira e ao Seminário de S. José.

Conhecera o velho missionário na primeira vinda à cidade do Nome de Deus
na
hina, em 1979, num jantar em casa de um engenheiro português da CEM (Companhia de Electricidade de Macau). 

No fim do repasto, enriquecido com iguarias luso-chinesas, e uns olorosos tintos de excelsa cepa portuguesa, o bom sacerdote despediu-se dos convivas e regressou ao seu Seminário de S. José sobraçando uma garrafa de bom whisky velho. 

Informaram Bernardo que uma garrafinha do depurado néctar escocês, domelhor, trinta anos de casco, rótulo não sei de qual cor, era  a normal recompensa para se poder contar  com a presença do nosso clérigo em jantares, com gente importante (ou tida como tal!).

O padre Manuel Teixeira haveria de me confirmar que, para combater o calor nestas terras subtropicais do sul da China, nada melhor do que uns valentes copázios de “chá da Escócia” ou seja, de bom whisky, com umas pedrinhas de gelo.

O excelente sacerdote, nascido na transmontana Freixo de Espada à Cinta, chegara a Macau em 1924, com apenas 12 anos de idade. Aqui havia estudado no Seminário de S. José, aqui havia sido ordenado padre e, para além de uma passagem pelas missões de Malaca e Singapura, a Macau dedicara quase toda a sua longa vida.

Conhecia, como ninguém, as singularidades da fascinante História de Macau. Eescrevia, escrevia dezenas e dezenas de volumes sobre a presença portuguesa em terras do Extremo Oriente.

Inconfundível na sua batina branca, umas longas barbas também brancas, meão de altura, os olhos curiosos a cintilar por detrás de uns óculos pequenos, de aros pretos, o sacerdote simpatizara com Bernardo, a quem chamava “o homem de Pequim”, esse estranho rapaz português, habitante lá das paragens do norte da China que nunca deixava de o visitar, cada vez que vinha a Macau.

Era tempo do falsamente denominado pequinense ir ao encontro do padre Manuel Teixeira levando a Lai Yong como companhia. A menina de Cantão, como quase toda a gente chinesa, macaense e portuguesa desta zona sul da cidade, conhecia oreligioso de vista, pousara os olhos na sua figura única atravessando as ruas de Macau, sabia das longas caminhadas que fazia cruzando a ponte Nobre de Carvalho. 

A caminho de casa, na Praia do Manduco, a Lai Yong passara incontáveis vezes pelo largo de Santo Agostinho, descera, subira mil vezes a ladeira e calçada anexa ao seminário de S. José. Mas jamais sonhara entrar um dia naquele vasto espaço fechado onde residia o padre Teixeira.

Toquei à campainha da escola religiosa e um empregado, já idoso, veio abrir. Mandou avançar o português e a chinesa. Rapidamente subimos as escadas e entrámos no seminário. À esquerda, cruzámos um longo corredor ladeado por pinturas religiosas dos séculos XVII e XVIII, que conduzia aos aposentos do sacerdote, situados ao fundo, à direita, num quarto que eu já conhecia de visitas anteriores. A porta estava entreaberta,   espreitei para o interior. O padre Teixeira sentava-se à sua secretária onde se montoavam papéis desordenados e muitos livros antigos. Vestia umas calças brancas emuma simples t-shirt colorida, com a imagem de uma praia e os dizeres I love California.

Ao dar pela inesperada chegada dos visitantes, levantou-se célere, rodou no quarto, foi ao cabide e vestiu apressadamente a batina branca, de velho missionário, por cima damsua original t-shirt. Estava pronto para nos receber.

Alguma surpresa ao ver Bernardo acompanhado por uma formosa mulher chinesa. Os cumprimentos de circunstância e logo quis saber quem era a moçoila. Uma amiga, uma jovem de Cantão enraizada em Macau, a viver com os pais ali na rua da Praia do Manduco, quase paredes meias com o seminário de S. José. Conhecia o padre e o admirava-o.

– Sim, mas onde é que foi buscar esta mulher, Dr. Bernardo? – perguntou o sacerdote.

O “homem de Pequim” lá desbobinou a história do encontro recente no barco da carreira Cantão-Macau e a descoberta da simpática Lai Yong.

–  A rapariga é muito bonita. Então, porque é que não fica cá por Macau? Até pode casar com ela, e ela pode dar à luz uma data de macaenses que tanta falta fazem nesta nossa terra.

– Vou pensar, meu caro amigo, vou pensar nisso.

O padre Manuel Teixeira conta-nos então a história de um casamento recente que fez ali na igreja do seminário de S. José.

– Sabe,  Dr. Bernardo, aqui ao lado no Teatro D. Pedro V, temos, todas as noites, o espectáculo do Crazy Horse Club Show. São umas bonitas bailarinas francesas que dançam todas nuas. Já me convidaram a assistir, mas eu sou padre, não posso ir a essas coisas. Uma das moças fala muito comigo, é devota a Deus, e pediu-me ajuda para a casar com um dos rapazes, também bailarino. Há duas semanas fizemos um bonito casamento aqui na igreja de S. José, com a presença destas lindas mulheres francesas, todas muito bem vestidas.

Pois, o fluir das vidas, os insondáveis mistérios da fé e as damas “pecadoras” que se despem todos os dias, com engenho e arte, para agradar aos olhos gulosos dos homens. Tudo ao de leve, passageiro. Ou talvez não.

Num outro contexto, ou talvez não, num dos muitos artigos que escreveu para osjornais de Macau, o padre Manuel Teixeira, investigador, historiador e sacerdote,conclui a sua prosa nos seguintes termos: 

“O homem é pó. A fama é fumo e o fim é cinza (…) Só os meus livros permanecerão (…) essa é a minha consolação.”


IV

Lai Yong e Bernardo vão esta noite jantar a uma espécie de taberna chinesa situada num recanto do Porto Interior. Foi decisão da menina que conhece todos os esconsos do quarteirão, cresceu ali ao lado, na Praia do Manduco. Esta mulher gosta de jogar, de ludibriar os enredos simples e complexos do quotidiano. Faz-se agora acompanhar de um português bem parecido, que vive em Pequim, e que até fala um pouco de mandarim, coisa raríssima em Macau.

 No meio do seu povo, mostra o rapaz e mostra também o distanciamento que convém, nem mão na mão, nem uma carícia, nem um olhar mais quente, ou simplesmente tépido. Apenas amigos, ou conhecidos, hoje para um jantar de negócios, com sopa de fitas, peixe frito, legumes e camarão.

No tasco, aparece e mete conversa um sujeito chinês, nascido em Macau que a Lai Yong me diz ser “o rei do camarão”, comerciante de peixe e dono de não sei quantos barcos de pesca. O empresário, especialista em moluscos e crustáceos, esteve ecentemente em Pequim, pela primeira vez na vida, e num mandarim das docas, quase tão mau como o de Bernardo, fala na capital da China como sendo “tudo em grande”, as normes e largas avenidas onde cabia, com facilidade, toda a cidade de Macau. Pois, mas na opinião de Bernardo, as cidades são muito diferentes, uma é a enorme capital do velho Império do Meio, outra um pequenino abcesso exótico, com portugueses lá dentro, no sul da excêntrica província de Guangdong.

A minha amiga Lai Yong nunca foi a Pequim, nem a Xangai. Em toda a sua vida na China quedou-se sempre por estas terras do sul, Macau, Hong Kong e Cantão. Não conhece mais nada. Digo-lhe que talvez um dia seja possível partirmos os dois pela China dentro, eu a servir de cicerone, a mostrar-lhe os recantos do Império a que ela pertence. Eu, a fingir que sou especialista em cultura chinesa, que conheço razoavelmente o mundo chinês, e ela a duvidar, o sorriso outra vez a bailar nas frestas dos olhos, na comissura dos lábios.

Bem comidos, é tempo de devolver a Lai Yong ao seu lar, logo ali ao lado do Porto Interior. Mas fazemos uma caminhada mais longa até à Barra, e regresso. O braço de Bernardo sobre os ombros da mulher chinesa, apertando-a na carícia do humilde e mais do que humano desejo. Ela, na aparência sempre meio tímida e surpreendida, aconchega o seu corpo no meu. 

Pergunto-lhe se tem, ou tem tido namorados. Sim, dois ou três, mas nada de importante, não confia muito nos homens, não prestam, agora não tem namorado nenhum. Então e eu, o Bernardo, o homem de Pequim? Não és meu namorado, apenas um português que conheci no barco da Cantão para Macau. És muito kind (Lai Yong utiliza o adjectivo inglês!) para comigo. Gosto de te conhecer e de, pela primeira vez na minha vida ter, conversando comigo, um homem de Putaoya 葡萄牙 (Portugal), o país lá do Ocidente.

Bernardo responde dizendo, tu também és a primeira mulher chinesa que eu tenho, a sério, por isso, todo este prazer em te agasalhar nos meus braços, de te beber como um manancial de vida, de te beijar a testa, a boca, o colo, de desejar a viagem pelom teu corpo inteiro, da cabeça aos pés, dos pés à cabeça.

V

Para a menina de Guangdong, chegada de surpresa no apogeu do dia:


Vieste, branca e pura
como a água de um regato escondido
nos requebros e esconsos da montanha.
O teu corpo aberto como um prado
no resplandecer do sol nos meus olhos.
Fazia calor,
a humidade escorria pelas paredes da tarde,
mas toda a frescura nascia no lótus do teu sorriso.
As minhas mãos correndo na tua pele de seda,
a tua cintura deslizando como uma serpente num lago.
Houve regatos chilreantes, gritos de pássaros,
ocarinas, timbales e gongos.
Depois, uma taça de caldo de peixe.

VI

Hoje, depois de uma grande volta, de mão dada, pela fortaleza do Monte e pelo jardim de Lou Lim Ioc, voltámos a jantar no restaurante do Hotel Metrópole, com aquelas meninas cantoras de Hong Kong de voz delicodoce, bem timbrada, mais os petiscos luso-chineses, e vinho verde. Ao lado, a companhia da Lai Yong, do infindável sorriso e do corpo perfumado a pó de pérolas. 

Ah, Macau, Macau! Bernardo que vem de três anos de quotidianos em Pequim, a capital do Império, austera e fria, puritana e falsa, já não sabe o que dizer.

Faltam dois dias para o seu regresso à capital chinesa. Lai Yong tem uma pequena oferta para o seu amigo português. Escreveu sobre um tecido de seda, usando cuidadosamente o pincel e a tinta da China -- na sua caligrafia arredondada e insinuante --, um poema de Du Fu (712-770), com Li Bai, os maiores poetas de toda a história literária da China. São três dezenas de versos sobre a amizade entre letrados, sobre o respeito, a admiração entre pessoas que se querem bem. Diz-me que o poema terá mais a ver comigo do que com ela.

Lê-me o poema, mas são tantas as palavras, os caracteres que eu não conheço! Peço-lhe ajuda. Meio em mandarim, meio em inglês, lá vamos desbravando os versos.

Continua a haver tanta coisa que eu não entendo! Não faz mal. Lai Yong diz-me para eu levar o poema de Du Fu e, para em Pequim, com a ajuda dos meus companheiros de trabalho chineses, tentar traduzi-lo para a minha língua.

Sentados num recanto do jardim de Lou Lim Ioc, a menina chinesa pega na mão direita de Bernardo, levanta-a e passa-a, acariciante, pelo jade do seu rosto. Pousa depois a mão do rapaz português na polpa da sua perna, e deixa-a ficar.

O poema do grande Du Fu é assim:

醉時歌

諸公袞袞登臺省

廣文先生官獨冷

甲第紛紛厭粱肉

廣文先生飯不足

先生有道出羲皇

先生有才過屈宋

德尊一代常轗軻

名垂萬古知何用

杜陵野客人更嗤

被褐短窄鬢如絲

日糴太倉五升米

時赴鄭老同襟期

得錢即相覓

沽酒不復疑

忘形到爾汝

痛飲真吾師

清夜沈沈動春酌

燈前細雨檐花落

但覺高歌有鬼神

焉知餓死填溝壑

相如逸才親滌器

子雲識字終投閣

先生早賦歸去來

石田茅屋荒蒼苔

儒術於我何有哉

孔丘盜跖俱塵埃

不須聞此意慘愴

生前相遇且銜杯



Ébrio, uma canção

Muitos ascenderam ao topo da hierarquia,
tu, meu amigo, continuas a padecer ao frio.
Nas grandes mansões, empanturrados com iguarias,
tu, meu amigo, mal consegues uma malga de arroz.
A tua filosofia, um coração cristalino, pouca ambição,
o teu talento, superior ao dos letrados do passado.
Respeitado pela tua virtude, condenado, sem glória,
a deixar o teu nome para além dos séculos.

Sou um rústico que não é desta terra,
de cabelos finos, motivo de mofa e zombaria.
Quero arroz, vou ao celeiro imperial,
obtenho ainda cinco colheres por dia,
mas se quero abrir o coração,
vou ter contigo, meu amigo.
Quando ganho umas tantas moedas,
cuidamos de nós, vamos gastá-las em vinho.
Que nos interessa a pompa, o luxo, as cortesias,
somos gente simples, descuidada e livre!...

Meu mestre, enchemos, bebemos as taças até ao fim,
no silêncio da noite da Primavera.
Lá fora, a chuva fina como flores
caindo dos telhados, apagando as lanternas.
Entoamos cânticos, animados, iluminados
por espíritos a montante, a jusante do rio.
Para quê pensar tanto no destino?
Sim, a fome, e por túmulo, uma vala qualquer.

Outrora, um grande poeta lavava canecas e pratos,
um ilustre letrado lançou-se de um torreão.
Quem somos nós, no fim de tudo?
Melhor retirarmo-nos cedo, voltar a lavrar a terra,
cuidar dos telhados de colmo, dos caminhos, do musgo.
Os ensinamentos de Confúcio, afinal para que servem?
Sábio, salteador de estradas, todos regressam ao pó.

Para quê tanta tristeza, tanto queixume?
Estamos vivos, vamos beber umas taças de vinho. (#)

António  Graça de Abreu

(#) Nota do autor: Numa posterior revisão à tradução do poema, procurei substituir a sobrecarga de nomes e apelidos que Du Fu usa  conhecidos de qualquer cidadão chinês medianamente culto , por palavras e títulos semelhantes, sem o nome em chinês, o que creio, ajuda o fluir da tradução para língua portuguesa. 

Assim, o “amigo” de Du Fu é o mandarim Zheng Qian, seu contemporâneo, os “letrados do passado” são o imperador mitológico Fuxi (sec. XXVIII a.C.), mais os poetas Qu Yuan e Song Yu (sec. III a.C.). 

“rústico que não é desta terra” é o próprio Du Fu, habitante do lugar de Duling, nos arredores de Chang’an.

O “poeta que lavava canecas e pratos” e o letrado que se “lançou de um torreão”, são respectivamente Sima Xiangru (179 a.C. – 117 a.C.) e Yang Xiong (53 a.C.- 18 d.C.). 

Por último, Du Fu fala de Confúcio (551 a.C. – 479 a.C.) e de Zhi, o “salteador de estradas.”

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 (Continua) 

(Seleção,  revisão / fixação de texto para efeitos de publicação neste poste: LG)

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 25 de março de  2024 > Guiné 61/74 - P25305: Notas de leitura (1678): "Lay Yong, Bernardo e outros poemas", de António Graça de Abreu (Lua de Marfim Editora, 2018, 90 pp.) (Luís Graça)