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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12138: FAP (75): Queda, recuperação e destruição, pelas NT, de um T6G, acidentado na região do Boé, com proteção dos paraquedistas (Vitor Oliveira, ex-1º cabo melec, BA 12, Bissalanca,1967/69)



Foto 1 > Este é T6G 1791 que um alferes periquito mandou para o capim perto de Madina do Boé.


Foto 2 > Aqui é pessoal a desmontar o todo o material que foi possivel. Esta operação foi feita sob  a indispensável protecção de tropas paraquedistas [BCP 12].



Foto 3 > Já não me lembro deste pessoal a não ser do sargento ajudante Manuel Matacão




Foto 4 > Este é o avião que o brigadeiro Hélio Felgas [, na altura coronel,] viu quando da retirada de Madina de má memória e que eu assisti [, em 6 de fevereiro de 1969]. Mas através destas fotos também se pode analisar a capacidade técnica dos mecânicos da FAP, apesar da sua tenra idade.


Foto 5 > Esta será a fase em que já se procedia à preparação da aeronave para ser destruída através do incêndio para que o inimigo não pudesse recuperar alguma coisa de útil. A carcaça ficou lá depois de incendiada.

Fotos (e legendas): © Vitor Oliveira (2009). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]

1. Esta sequência fotográfica já foi publicada no nosso blogue, aquando da apresentação do Vitor Oliveira à nossa Tabanca Grande em 13/5/2009. Também foi publicada no blogue dos nossos amigos Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74. Na altura, em formato reduzido e sem o devido enquadramento.

 Não encontrei até agora mais nenhuma referência a este acidente que custou uma aeronave à FAP. E nem sabemos em que ano é que foi (1967 ? 1968? 1969 ?). Sabemos que no ano de 1968 o Vitor Oliveira voava muito com o sargento Honório, em missões de proteção de colunas de Lamego para Beli (, destacamento cuja guarnição é mandada retirar por Spínola, em 15/7/1968). Talvez estas fotos sejam dessa altura, de meados do ano de 1968, o que está por confirmar). Todavia, nada melhor do que esperar um esclarecimento adicional, da parte do Vitor. Fico-lhe desde já obrigado, a ele ou qualquer outro dos nossos camaradas que tenham informações sobre este acidente da FAP.

É natural que o PAIGC tenha, posteriormente,  fotografado os restos da aeronave e tenha reclamado, como mérito seu, o seu abate. No Arquivo Amílcar Cabral, disponível "on line" no portal Casa Comum, desenvolvido pela Fundação Mário Soares,  há diversas fotos de aviões "abatidos"... Um deles poderia ser este T6G,,, Obviamente que era um grande trunfo, em termos de propaganda, interna e externa, independentemente da verdade dos factos...  Muitas das fotos do arquivo (que está integralmente tratado pela FMS) não tem legendas com datas e lugares precisos. Ou muito simplesmente carecem de legenda. LG

2. Sobre este assunto, o Vitor Oliveira mandou-me o seguinte esclarecimento (com conhecimento também ao Vitor Barata, editor do blogue Especialistas da Base 12, Guiné 65/74:).

Amigos Vitor e Luis: 

Deram-me um livro sobre a Guiné que é Batalhas da História de Portugal: Guerra de África: Guiné, em que  na página 120 aparece uma foto de um T6G a ser reparado em MADINA DE BOÉ... Isso não  era possível porque a pista mal dava para aterrar uma DO27. A pista ficava no fundo dos montes.

Eu devo ser dos especialistas que mais vezes esteve em Madina e uma vez mais o meu grande amigo HHonório  estivemos metidos dentro de um abrigo uma hora e tal até que acabasse o tiroteio entre as nossas tropas e o inimigo.

Tenho estes voos registados na minha caderneta de voo.

Sem mais um grande abraço.

Vitor Oliveira

1º Cabo Melec.

3. Comentário de L.G.

Vitor, o livro de que falas é o do Fernando Policarpo (Batalhas da História de Portugal, Guerra de África, Guiné, 1963-1974, Vol. 21, Academia Portuguesa de História, Matosinhos, QuidNovi Editores,2006). A legenda da p. 120 só pode estar errada. Quando vir o Fernando Policarpo (e até pode ser já na próxima segunda feira, se ele for ao mesmo almoço-convívio, a que eu vou, em Ribamar, Lourinhã).De qualquer modo, ficamos sem saber quando (dia, mês e ano) se deu este acidente com o T6G, nas imediações de Madina do Boé.  Um abraço. LG

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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11737: FAP (74): A instrução do AL III no meu tempo: em Janeiro de 68, eu e mais cinco pilotos do P1 de 67, juntamente com quatro pilotos da Academia Militar e o Senhor Dom Duarte de Bragança, iniciamos com o Al II o curso de helis... Saí de Tancos com um total de 291 horas de voo, e no dia 1 de Outubro de 68 fazia uma evacuação (TEVS) em Cabuca.... (Jorge Félix)

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6478: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (13): As primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares (1): As 11 candidatas (Rosa Serra)

1. Este é o primeiro trabalho da nossa camarada Rosa Serra*, ex-Alferes Enfermeira Pára-quedista (BCP 12, Guiné, 1969), para a série "As Primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares". Podendo considerar-se como fazendo parte desta série, o trabalho dedicado à Enfermeira Pára-quedista Ivone Reis, Poste 5971 de 11 de Março de 2010, também de autoria da Enfermeira Rosa, irá ser oportunamente (re)publicado e integrado na série. As Primeiras mulheres portuguesas equiparadas a militares - I As onze candidatas
As onze candidatas a Enfermeiras Pára-quedistas prontas para fazerem provas

As candidatas com o director do curso Capitão Fausto Marques.


Em 2011 faz 50 anos que se formaram as primeiras enfermeiras pára-quedistas. Foi em 1961 que entraram num quartel, que apenas estava preparado para homens, onze jovens mulheres para frequentarem o curso de pára-quedismo. Chegaram ao fim do curso apenas seis, que ficariam conhecidas como “As Seis Marias”. Foram as primeiras mulheres portuguesas a serem equiparadas a militares, e eram todas enfermeiras. Hoje está mais divulgada a sua existência e a sua acção; contudo grande parte das pessoas desconhecem quem são essas mulheres como seres humanos e acredito até, que a maioria nem saiba o seu nome. Eu apareci alguns anos mais tarde, em 1967, mas tenho muito gosto em deixar o meu testemunho sobre estas grandes mulheres, cujos nomes são: Maria Arminda Lopes Pereira, Maria Zulmira Pereira André, Maria Nazaré Morais, Maria do Céu Policarpo, Maria Ivone Quintino dos Reis e Maria de Lurdes Rodrigues.

  Das onze, eis as famosas finalistas com o seu director de curso. Tancos, 8 de Agosto de 1961. Da esquerda para a direita: Maria do Céu, Maria Ivone, Maria de Lurdes, Maria Zulmira, Maria Arminda e o Capitão Fausto Marques (Director Instrutor). Nota: Falta a Maria da Nazaré que torceu um pé no 4.º salto e só viria a acabar o curso alguns dias depois.




Agora com a sexta Maria à Porta da Pensão da D. Guilhermina e do Sr Janeiro onde ficaram alojadas quando chegaram a Angola (Luanda, Outubro de 1961). Da esquerda para a direita: Maria da Nazaré, Maria Arminda, Maria de Lurdes, Maria Zulmira com a Esperança (a afilhada da D. Guilhermina e do Sr Janeiro)
 

 A razão que me leva a falar do primeiro curso, deve-se ao facto de elas estarem quase a fazer meio século de existência (bodas de ouro). E há cinquenta anos atrás, mulheres que entram numa unidade militar num Portugal repleto de mentes fechadas, não hesitarem, não se deixarem intimidar pelo que os outros poderiam pensar e dizerem presente logo que foram convidadas, para mim, são dignas de admiração. A elas devemos a entrada das mulheres portuguesas nas Forças Armadas. 

Afinal foram elas que abriram as portas às fileiras femininas. Falarei apenas das que conheci na vida activa, como enfermeiras pára-quedistas, e que em mim despertaram grande apreço e admiração. Embora conhecesse pessoalmente as seis, foram quatro com quem me cruzei em qualquer lugar por onde andávamos. É para estas que vai o meu olhar, com o respeito e admiração como profissionais e sobretudo como seres humanos maravilhosos que eu tive a sorte de conhecer e continuar a ter contacto frequente com todas, tal como todas elas fazem parte da minha lista de amigas. 

 Além do curso de pára-quedismo, também foi com elas que reforcei a minha aprendizagem na forma de reagir perante as adversidades, a gestão das minhas emoções, dos meus medos e inseguranças e antes que a onda da velhice me leve da lembrança, as pegadas da vida que trilhei em conjunto com elas, quero revelar aqui, algumas particularidades que vão para além do conhecimento geral e como são as 4 Marias que eu tanto admiro. Com a descrição que farei individualmente de cada uma, é minha intenção em jeito de homenagem e apenas a titulo pessoal, revelar àqueles que tiverem gosto ou curiosidade em saber através deste testemunho, algumas das suas características como pessoas e o quanto elas foram importantes na minha vida e se calhar não só na minha, bons exemplos humanos. 

 Não falarei da Maria Nazaré, que infelizmente não está entre nós, porque apenas a conheci muito superficialmente, anos depois de ela ter saído da F.A. e pouco tempo antes de ela partir para outra dimensão. Da Maria do Céu Policarpo também pouco tenho a dizer pois, como quase todos devem saber, o seu desempenho como enfermeira pára-quedista foi muito curto, o que limita o meu conhecimento de como ela era nessa época. Pelo que hoje conheço dela acredito que deveria ser uma jovem aventureira e alegre. Da enfermeira Ivone** também já fiz um depoimento para o blogue da Tabanca Grande (http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com), resta agora manifestar-me sobre o que penso da Maria Arminda, da Maria Zulmira e da Maria de Lurdes.

 A todas elas deixo um grande abraço de agradecimento por serem minhas amigas e peço que não se zanguem por revelar algumas das vossas características à grande caserna de militares que entram neste blogue e talvez a tantos outros portugueses que, sabendo ou não da vossa existência, se por acaso entrarem neste mundo informático actual tomem conhecimento de quem eram e ainda são estas Marias de mão cheia, que apareceram em 1961 dentro das valorosas Tropas Pára-quedistas. Rosa Serra Ex-Enfermeira Pára-quedista 
__________ 

 Notas de CV: 

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11143: Para que a memória não se perca (1): Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (José Martins)



1. Iniciamos hoje a publicação de mais um trabalho de pesquisa e compilação do nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), desta feita sobre a História da Guiné na dobragem do Século XIX para o Século XX, que se irá prolongar por quatro postes. Este trabalho foi enviado ao nosso Blogue em mensagem de 13 de Fevereiro de 2013.



Para que a memória se não perca…

Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (1)

Brasão da Guiné Portuguesa 
Foto: Portal UTW 

Mesmo muito antes de ser a nossa vez de partir para a Guiné, muitos antes de nascermos e nascerem os nossos pais, talvez, os nossos avós ainda não tivessem nascido, já na Guiné se batalhava, fruto das decisões da Conferência de Berlim, reunião em que Portugal esteve presente e marcou, indelevelmente, uma época e marcaria uma “viagem de não retorno” que só viria a terminar com uma revolução gerada no seio das Forças Armadas que avançaram, primeiro a “dar tempo aos políticos” para uma solução negociada que fracassou, por indecisão politica.

As “palavras” que se seguem são reflexo, como todos os combatentes sabem, retiradas de relatórios, que não mencionam o “sangue, suor e lágrimas” daqueles que “estando no fio da navalha” não deixaram de honrar a seu juramento à Bandeira das Quinas, quer fossem africanos quer fossem europeus.

O Tenente-coronel Bello de Almeida deixou, no seu livro "MEIO SÉCULO DE LUTAS NO ULTRAMAR", muitos “apontamentos” retirados de vários relatórios de várias operações e de vários pontos do Império Português, que aqui se resumem, no que respeita à Guiné. Esta é mais que uma forma de os combatentes honrarem os seus pares, que lutaram num espaço que meio século depois, vieram a palmilhar.
No caso da “nossa Guiné”, abrange o período de 1871 a 1919.

Convém referir aos menos avisados que, até 1937, só existiam duas classes: “Oficiais” e “Praças” sendo que, “Praça de Pré”, era a designação geral para os postos dos sargentos, cabos e soldados.

Nota:
• Ao créditos do texto devem ser atribuídos ao Tenente-coronel Bello de Almeida, que realizou um grande trabalho, porque teve necessidade de consultar centenas, para não dizer milhares de páginas, manuscritas por diversos copistas e de diversas sensibilidades, que além de abrangerem 50 anos da nossa história, referiam-se a todas as colónias portuguesas, não só as de África – Angola, Guiné e Moçambique - mas também da Índia, Macau e Timor. O trabalho foi realizado para uma edição da Sociedade de Geografia de Lisboa, na comemoração da semana das colónias, em 1937.

• Os créditos fotográficos ficam a dever-se, na maior parte, ao fotógrafo José Henriques de Mello, filho de Vítor José de Mello, baptizado em Lisboa em Santos-o-Velho, e de Maria José Henriques de Melo, baptizada na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, na ilha cabo-verdiana do Fogo. Sendo José de Mello um entusiasta da fotografia, acompanhou a força expedicionária de Infantaria 13, de Vila Real, na sua ida à Guiné, tendo havido uma colaboração com o jornal O Século que, alem do Jornal publicava o semanário Ilustração Portuguesa. De notar que à época, o equipamento fotográfico era pesado e de difícil manuseamento, para mais em ambiente de guerra. José de Mello esteve na Guiné em 1907 e 1908.

© Imagem: História da Guine, de Américo Campos (2012)

Sublevação do Cacheu em 1871
Os povos do Cacheu sublevam-se e o governador, Capitão Teles Caldeira, manda organizar uma força de Caçadores nº 1 e auxiliares nativos, comandadas pelo Capitão J. A. Marques, tendo a cooperação de navios da Armada, atacando e arrasando a povoação. Foram louvados o Capitão J. A. Marques e o Alferes J. J. Figueiredo

Defesa da Praça de Buba em 1 de Fevereiro de 1880
No primeiro dia de Fevereiro, a praça de Buba foi atacada por inúmeros fulas, tentando conquistar a praça. Dispondo de uma força pequenas, só foi possível evitar a tomada da localidade, com a colaboração da população civil, entre eles alguns civis franceses. Foram louvados os Alferes Manuel Pedro dos Santos, comandante da praça, e os civis César Medina e Henri Galembert.

Operações Militares em Buba em 1882
Em Julho de 1882, na região de Buba, a gente de Manadé-Paté praticou actos rebeldes e devastações na zona. Uma força comandada pelo Tenente-coronel Francisco José da Rosa, foi ao Furreá para castigar os desmandos, tendo destruído várias tabancas, estando entre elas a de Elgui do régulo Bakar-Quidali, que os indígenas julgavam ser segura e inexpugnável. Acabaram por pedir a paz e terem sido obrigados a pagar indemnizações e a pagar despesas de guerra.

Operações em Cacanda em 1884
O Tenente-coronel Eusébio Catela do Vale foi incumbido de organizar uma coluna para se bater contra o gentio de Cacanda, que se havia rebelado contra o governo provincial em fins de Junho de 1884. Conseguiu desaloja-los do seu acampamento, levando-os a internar-se na floresta, onde foram também batidos.

A Conferência de Berlim, que havia de mudar o conceito de “descoberta” no conceito de “ocupação”, o que gerou a “corrida a África”. 
© Foto: http://pt.wikipedia.org/wiki/Confer%C3%AAncia_de_Berlim

Operações Militares em Geba em 1886 
O filho do régulo Umbuco, em 19 de Junho de 1986, seguido de cerca de 500 fulas, atacou tabancas no território de Sancoria, que estavam guarnecidas por gente de Mussá-Molo. Como represália, este régulo, atacou as populações das imediações do Presídio de Geba, que nada tinham a ver com o que havia acontecido. Para punir estes ataques, o chefe do Presídio organizou uma força de cerca de 200 homens e atacou as tabancas do régulo Umbuco, pondo em fuga os seus defensores, mas não conseguindo consolidar a paz na zona. Assim, recolheu ao presídio e organizou nova força, composta por cerca de 80 militares de 1ª linha e de cerca de 4500 auxiliares das etnias beafadas, mandingas e fulas fiéis. Apesar das operações terem sido realizadas em plena época das chuvas, e quem passou pela Guiné sabe das dificuldades que essa época apresenta, a força atacou as posições fortificadas de Massá-Molo em Fancá, tendo vencido este régulo infringindo-lhe uma derrota e retirando-lhe a “lenda de invencibilidade”.
Distinguiram-se nesta operação o Tenente do Quadro Colonial e Chefe do Presídio de Geba, Tenente Francisco António Marques Geraldes, que foi promovido, por distinção, ao posto de Capitão e atribuída a Condecoração com a Ordem Militar da Torre e Espada, ao Alferes Manuel do Amaral Gomes de Araújo. Foram louvados os negociantes Agostinho Pinto, Domingues Gomes de Araújo, Estevam de Pina Araújo, António Santy, Joaquim António da Costa e Manuel de Barros, assim como os Grumetes João Mendes, João Lopes e Cristóvão e António Pereira.

Operações Militares em Geba em 1889
Corrain, régulo de Canadú propagandeava a sua desobediência ao Governador da Guiné Joaquim da Graça Correia e Lança e às restantes autoridades provinciais, pelo que foi ordenada a prisão do régulo e dos seus conselheiros.
Mesmo com o régulo preso, as suas gentes iniciaram hostilidades de grande violência, obrigando o governador a suspender as garantias na região de Geba, em 12 de Junho de 1889, e organizar uma coluna para bater os revoltosos.
Sob o comando do Capitão António José Machado, e com os subalternos Tenente Joaquim António Pereira e o Alferes Afonso Sebastião Casqueiro, à frente de praças de Caçadores nº 1 e da bateria da artilharia da Guiné assim como de irregulares fulas e mandingas, dominaram os rebeldes.

Diligência Policial em Buba em 19 de Junho de 1890
O Alferes João Moreira do Carmo recebe a incumbência, do comandante militar da praça de Buba, para intimar o régulo Mamadi-Paté, de Furriá, a prestar informações acerca de uma ocorrência, mas o régulo só não se recusou a prestar as informações solicitadas, como tentou matar o oficial. Perante esta tentativa, um 2º Sargento e um soldado, ao tentarem frustrar o acto, foram feridos por Mamadi-Paté que estava muito excitado. Outras praças, perante a tentativa de agressão, abateram o régulo a tiro.
Dado o alarme, foi destacada para o local uma força sob o comando do Tenente Policarpo Augusto da Silva, que dominou os indígenas de Furriá, que pretendiam vingar a morte do seu régulo. Pela sua rápida e enérgica acção, foi louvado o Tenente Policarpo Augusto da Silva.

Operações militares na Circunscrição de Geba, entre 7 de Dezembro de 1890 e 11 de Março de 1891 
Os fulas da região de Geba, sabendo que os papeis se encontravam em escaramuças e ataques à fortaleza de Bissau, ocupando as tropas, resolveram colocar em causa a autoridade portuguesa.
Um dos principais chefes fulas, o régulo Mali-Boiá, auxiliado por outros régulos faz ataques as populações, amigas dos portugueses, e tentam expulsar de Ganadú o régulo Sambol-Serandim, nosso amigo e aliado.
Para evitar a alastramento da rebelião, o Governador mandou organizar uma expedição com as forças disponíveis da guarnição e de irregulares que, com o auxilio das guarnições das canhoneiras “Rio Ave”, “Flecha” e “Zagaia”, castigaram os revoltosos em combates sangrentos nas povoações de Jaladú, Denadú, não conseguindo prender o régulo Mali-Boiá, que conseguiu fugir. A força foi comandada pelo Capitão Zacarias de Sousa Lage.

Composição da força:
• Comando e Estado-maior: 2 oficiais e dois soldados ordenanças;
• Marinha de Guerra: canhoneira Rio Ave e lanchas canhoneiras Flecha e Zagaia, com as respectivas guarnições;
• Bateria de Artilharia da Guiné: 2 oficiais e 28 cabos e soldados e 1 corneteiro;
• Batalhão de Caçadores nº 1: 1 oficial, 2 sargentos, 104 cabos e soldados e 3 corneteiros;
• Destacamento de Bissau: 1 oficial, 1 sargento, 1 corneteiro e 27 cabos e soldados;
• Guarnição do Presídio de Geba: 1 oficial, 2 sargentos, 118 cabos e soldados;
• Serviço de Saúde: 1 oficial, 2 sargentos e três soldados
• 1200 Auxiliares indígenas (grumetes e gentes de Tigili e Sambol Serandi), e
• 30 Civis europeus voluntários.

Foram louvados os seguintes oficiais, praças e civis: 
Marinha de Guerra:
• 1ºs Tenentes Cristiano Sousa Barcelos, Filipe dos Santos Nunes e Policarpo José de Azevedo; 2ºs Tenentes Álvaro Herculano da Cunha, João Baptista Ferreira, António Ernesto da Fonseca Rodrigues, Jorge Fradezo Salazar Moscoso, Benjamim Paiva Curado e Hopfer Xavier Clemente Gomes; Aspirantes António da Câmara Melo Cabral, Henrique Augusto Metzner, António Rafael da Rocha Rodrigues Bastos, José Maria da Silva Estrela, Raul Correia de Bettencourt Furtado e Flávio Monteiro da Fonseca; Facultativo [médico] Dr. Benévolo Luiz da Fonseca; 1º Tenente Administração João Pedro de Andrade Martins; Aspirantes Administração João Gregório Fernandes e José Pereira Diniz; Maquinistas Júlio José dos Santos, António Januário da Silva, Artur Iria Rosa e Francisco Pereira; 2º Marinheiro Porfírio Pereira; Chegador Elísio.

© Mapa da Guiné Portuguesa – inicio da 2ª metade do Século XX (D.R.)

Exército de Terra:
• Capitães Zacarias de Sousa Lage e Heitor Alberto de Azevedo; Tenentes António Jorge de Lucena (morto) e Eduardo Augusto Perfelim; Alferes Gonçalves e António Caetano; Facultativo [médico] Dr. Luiz Caetano Sant’Ana Álvares; 2ºs Sargentos António Maria dos Santos, Francisco Monteiro Barbosa, Camilo Lima da Costa, Máximo José da Costa, Francisco de Barros Cardoso, José Carlos de Almeida, Belmiro Ernesto Duarte Silva; 1º Cabos José Augusto, António Ramos e José Pacheco; Soldados António Ramos, José Leocádio Lança, Bartolomeu Morais Pinheiro, João Maria, Teodoro Mendes, Manuel Afonso, João António, Manuel de Sousa Pedro, Gonçalo Gomes e Félix Agostinho.

Civis Combatentes:
• Zuzimo Morato (juiz); Nicolau Bernardino Monteiro e César da Silva Gonçalves (funcionários da Alfândega); Domingos Gomes de Araújo (ferido mortalmente), João Cabral Avelino, João José Rodrigues Pereira, Luiz de Araújo Ribeiro, Henrique Augusto da Silva e Remecilio de Carvalho (negociantes); Francisco José Rodrigues, António Rodrigues Afonso Santy, Justino Correia, Lino Cardoso, Clarimundo Barbosa Martins, Joaquim da Costa, João Rosa, Nicolau José Timas, Estevão de Pina Araújo, José Duarte Ribeiro, Fidélio José Mendes, Salomão José Monteiro, Pedro da Silva Morais, Luís Cabral de Brito, Maurício Rodrigues Quaresma, Domingos da Silva, Tomé Vieira, Henrique Pegado Gomes, Nicolau Bernardino Monteiro, Rufino Pereira Barreto, João Cabral Avelino e João José Rodrigues Pereira (diversas profissões).

Chefes de guerra indígenas:
• Galona, chefe de mandingas e beafadas; Sambel-Sirandy, régulo de Ganadú e seu irmão Gambú.

Civis não combatentes, valiosos auxiliares da coluna:
• Gentil Maffrá e Benjamim Potin (Franceses); Otto Schacht (Alemão); José Sebastião Sena e Ricardo Barbosa Vicente (Portugueses)

Oficiais da bateria de artilharia da Guiné 
© Foto: José Henrique de Mello

Defesa da Praça de Bissau e sortida sobre Antim e Bandim em Março e Abril de 1891
No mês de Fevereiro de 1891, na ilha de Bissau, havia fortes indícios de uma revolta mas o Governador, Augusto Rogério Gonçalves dos Santos, não queria ser apanhado de surpresa, pelo que mandou reunir em Bissau o Batalhão de Caçadores nº 1 e a Bateria de Artilharia da Província.
O gentio inicia diversos ataques à fortaleza, que origina um alerta permanente, não só pela guarnição da praça, mas também das guarnições das canhoneiras “Zagaia” e “Flecha” que cruzavam fogos com a artilharia da praça.
Para “aliviar a pressão” colocada pelas forças atacantes, a 19 de Abril, sob o comando do Capitão Joaquim António Carmo de Azevedo foi organizada uma coluna composta por 1 oficial e doze praças de artilharia, com uma boca de fogo de 7 c, e uma pequena peça de marinha; 120 praças de infantaria com 8 oficiais e de um oficial de infantaria que se voluntariou. A alguns auxiliares indígenas que acompanhavam a força, foi destinado o flanqueamento e a exploração do terreno.
A força dirigiu-se a Antim e, sem tomar as devidas precauções de segurança e mesmo sem a força de exploração ter avançado previamente, entrou na povoação sendo recebida a tiro pelos habitantes que se encontravam emboscados, sendo a coluna envolvida por grande numero de defensores.
Perante a superioridade dos defensores da tabanca e a fuga precipitada de auxiliares e alguns soldados indígenas, a coluna não tem outra forma de evitar uma chacina, decide retirar, não sem ter sofrido vários mortos e feridos. Da praça de Bissau saiu uma coluna de socorro, composta por oficiais, praças e moradores, sob o comando do Capitão.

Tombaram na operação os seguintes oficiais:
• Capitão Joaquim António Carmo de Azevedo, Capitão Heitor Nozolinho de Azevedo e Alferes José Honorato Moreira

Embarque de auxiliares num batelão 
© Foto: José Henrique de Mello

Foram louvados os seguintes oficiais, praças e civis:
• Capitão de Cavalaria Caetano Alberto da Costa Pessoa; Tenentes Pedro Rogério Leite e Júlio César Barata Feio; Alferes José de Pina, Miguel Lourenço de Carvalho Peres, Carlos Ribeiro Nogueira Ferrão, Manuel de Almeida; os Soldados da Policia de Cabo Verde Pedro Fernandes e Apolinário dos Ramos; e o Farmacêutico Militar Justiniano de Sousa Gonzaga.

(Continua)

domingo, 2 de abril de 2006

Guiné 63/74 - P656: In Memoriam: Depoimentos sobre Carlos Fabião (1930-2006) (Luís Graça)

1. Amigos e camaradas:

Morreu o Carlos Fabião, nesta última noite. Foram o Zé Teixeira e o José Martins que me fizeram chegar a triste notícia, que eu ainda não tinha ouvido na comunicação social.

Nunca o conheci pessoalmente mas ele foi nosso camarada de Guiné, e isso é que importa. Era uma figura pública. Julgo que foi um grande militar e um grande português. A nossa caserna está mais pobre. Curvo-me à sua memória.

Publicarei os vossos depoimentos. L.G.


Carlos Fabião (1930-2006)

Ingressou na Escola do Exército em 1950. No dia 25 de Abril de 1974 era tenente-coronel e prestava serviço no D.R.M. de Braga, para onde tinha sido transferido na sequência da denúncia de um golpe de Estado, que fez no IAEM - Instituto de Altos Estudos Miliatres, sito em Pedrouços, em 17 de Dezembro de 73. Foi membro activo do Movimento dos Capitães.

Foi nomeado governador da Guiné, cargo que exerceu até 15 de Outubro de 1974. Na sequência dos acontecimentos do 28 de Setembro foi nomeado para a Junta de Salvação Nacional (e por inerência para o Conselho de Estado). Em fins de 1974 passou a integrar a estrutura informal do Conselho dos Vinte e a partir de 14 de Março de 75 o Conselho da Revolução, sempre por inerência das funções que desempenhou. Passou à Reserva em Dezembro de 1993, no posto de tenente-coronel.

Fonte: Universidade de Coimbra > Centro de Documentação 25 de Abril > Biografias > Carlos Fabião

Sobre o Carlos Fabião, escreve o coronel Fernando Policarpo no seu livro sobre as Guerras de África: Guiné (1963/-1974) (Matosinhos: QuidNovi. 2006. 58-59. Academia Portuguesa de História: Batalhas da História de Portugal, 21) o seguinte:

"Terá sido Carlos Fabião um dos miliares portugueses que melhor conheceu a Guiné, tantos foram os anos que lá permaneceu, antes e depois da guerra. Conta que quando foi para Bissau, em 1955, ainda conheceu antigos guerreiros das 'Campanhas de Pacificação' do início do século.

"Nascido em 1930, Carlos Fabião viveu seis anos de paz na Guiné. Mas viveu também os tempos da guerra, já que, depois de 27 meses a combater em Angola, voltou ao território por duas vezes (1965-1967 e 1971-1973).

"Serviu sob o comando de dois generais bem distintos na manobra militar, Arnaldo Schultz e António Spínola, incumbindo-o este último de chefiar as milícias, uma força nativa constituída por elementos responsáveis pela defesa das suas próprias povoações" (...).

"Militar de grande confiança do General Spínola", denunciou em Dezembro de 1973 um alegado planoo de Kaúlza de Arriaga para desencadear um golpe de Estado da extrema-direita, numa altura em que o MFA desenvolvia os seus próprios planos para derrubar o governo de Marcelo Caetano.

Voltou à Guiné, depois do 25 de Abril, para assumir, em Maio de 1974, os poderes de governador-geral. Umas semanas antes, Spínola tinha-o incumbido de ir a Paris, para um encontro com Leopoldo Senghor. Este insistiu na necessidade de Portugal reconhecer, pura e simplesmente, o novo Estado da República da Guiné-Bissau, conselho que Spínola obviamente não aceitou. O velho general atribiu-lhe então a missão de disciplinar o MFA na Guiné e impor um plano de autodeterminação com a necessária consulta às populações locais. "Missão impossível". Fabião rende-se à vontade do MFA, negoceia a paz com o PAIGC e gere no terreno a transição...

Como já foi acima referido, depois do 28 de Setembro de 1974, integra a Junta de Salvação Nacional e, em Março de 1975, o Conselho da Revolução. Passa à reserva em Dezembro de 1993.


2. Do Zé Teixeira (2 de Abril de 2006, 12h53)

Caro Luís:

Saúde, paz e felicidade!

Como deves calcular o teu/nosso blogue continua a ser para mim um ponto de encontro diário. São contínuos momentos de reflexão e revivência dum tempo que marcou profundamente a juventude da época e consequentemente a minha Pátria até aos tempos que correm e continuará a ser uma marca perene.

Aprecio imenso os camaradas que continuam a vir a lume com as suas histórias e reflexões. É a nossa história em construção. A ti o devemos, deve ser dito e sentido por todos os bloguistas e leitores. Há muitos leitores que não se atrevem a escrever. Daqui os desafio a pôr em comum o que viveram e o que sabem e o que sentem. Só assim a verdadeira história da guerra da Guiné será construída.

Por mim, ainda há estórias de caserna e outras para contar, mas creio que devo dar espaço aos periquitos para se imporem. Todos, e somos muitos, serão poucos para tão grande história.

Hoje resolvi reentrar no Blogue para me curvar perante um homem que tive o prazer de conhecer lá na Guiné e que acaba de partir para o acampamento eterno. As notícias de hoje dão como falecido o Tenente Coronel Carlos Fabião, o nosso Major. Tive o prazer de ser comandado por ele em Buba.

Homem de poucas palavras, muito observador e de uma rectidão extrema e sobretudo muito humano. Nos contactos que tive com ele, que não foram muitos - um simples enfermeiro tinha de se render à sua insignificância! - encontrei um homem preocupado com os seus homens, em todos os aspectos (segurança, saúde, alimentação). Bom estratega. Um grande militar. A minha singela homenagem.

Zé Teixeira


3. Do José Martins (2 de Abril de 2006, 13h08)

Esta noite no Hospital Militar de Belém morreu o Coronel Carlos Fabião, nossso camarada combatente da Guiné.

Cada vez mais há necessidade dos vivos contarem a história, para não corrermos o risco se serem outros, menos informados, a fazê-lo.

R.I.P.
Martins


4. Do Carlos Vinhal (2 de Abril de 2006, 21h38)

Caro Luis

Por uma questão de justiça informo-te que ouvi no Rádio Clube Português, da parte da manhã, a notícia da morte do Coronel Carlos Fabião, precisamente quando estava a consultar o 1º. volume de A Guerra de África, páginas 371 (onde está uma sua fotografia) a 373. Consultava este livro para tirar elementos sobre a guerra da Guiné, a fim de falar sobre os 3 majores mortos em Abril de 1970 e enviar-te um texto, como o fiz.

Às 13 horas, julgo que na RTP1, a notícia foi dada novamente.

Um abraço fraterno de
Carlos Vinhal


5. Do Virgínio Briote (2 de Abril de 2006, 22h47)

Viva Luís,

O Cor Carlos Fabião estava doente há uns tempos e sabia-se que era uma daquelas coisas que raramente perdoam. Conheci-o na Guiné (o que não é para admirar uma vez que ele cumpriu lá, salvo erro, 3 comissões), era ele capitão. Numa das saídas do meu grupo para os lados de Tite, ainda nos finais de 65, ele comandou os dois grupos de combate que nos foram apoiar e recolher.

Recordo-me de ver um sujeito sob o forte, com uma varinha na mão, ar calmo. Via-se que lidava muito bem com o pessoal dele. Sentia-se que o rodeava uma aura mística, tinha carisma. E tu sabes o valor que isso tem nos soldados, o poder de os fazer acreditar que estavam protegidos. E tive oportunidade de constatar pesoalmente que os soldados tinham motivos, ele merecia que acreditassem nele.

Durante a minha comissão ainda tive o gosto de o rever mais duas vezes. E depois com o 25 de Abril, o Carlos Fabião tornou-se conhecido de quase toda a gente que viveu aqueles tempos, odiado por uns, amado por outros. Do que conheci dele, penso que a história não o tratou muito bem. Aqueles ventos chamuscavam os que andavam longe dos acontecimentos, quanto mais os que estavam no centro da fogueira.

Um bem-hajas por o teres recordado.

Um abraço para a tertúlia que tão bons momentos me tem dado.
vb


6. Do João Carvalho (3 de Abril de 2006, 23.30h)

Olá Luis e camaradas

Não tive a felicidade de conhecer pessoalmente o nosso ex camarada Carlos Fabião.
Pelo pouco que fui ouvindo sobre ele, penso que era uma pessoa íntegra.

A minha pequena contribuição para que não seja esquecido mais um nosso camarada está e em: Wikipédia > Biografias > Carlos Fabião .

A todos os camaradas que saibam mais promenores da sua biografia agradeço, caso tenham tempo e paciência para isso, que acrecentem mais informação.

Um grande abraço
João Carvalho

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Guiné 61/74 - P21596: Notas de leitura (1327): "A Caixa de Correio de Nossa Senhora", por António Marujo; Círculo de Leitores e Temas e Debates, Outubro de 2020 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Novembro de 2020:

Queridos amigos, 

É uma incursão inédita sobre o culto a Nossa Senhora de Fátima na envolvente da guerra colonial, militares, familiares e amigos, todos envolvidos. António Marujo é um jornalista credenciado na temática religiosa, "enfrentou" a leitura de cerca de 50 mil mensagens entre as milhões existentes, privilegiou o período que vai de 1917 a 1974, consultou personalidades avisadas, os temas da paz e da guerra são dominantes nos pedidos à Mãe de Deus, sem detrimento de muitos outros que vão desde a conversão da Rússia a pedidos de saúde ou de emprego, amores proibidos e confessados, crimes escondidos, desilusões amorosas, angústias existenciais, até afloram situações de pedofilia, mas há muito mais. 

Um livro que nos permite ir conhecendo melhor o país através do analfabetismo, da pobreza e da falta de proteção social, uma obra que nos permite igualmente entender o papel desempenhado por Fátima na fé dos combatentes, seus pais, mulheres, noivas e namoradas, madrinhas de guerra e grandes amigos. Até hoje.

Um abraço do
Mário



Mãe, Senhora, ouve-me, que o meu filho venha são e salvo da guerra:
Uma assombrosa viagem pelo correio dirigido a Nossa Senhora de Fátima


Mário Beja Santos

A obra de investigação de que resultou esta reportagem jornalística intitula-se "A Caixa de Correio de Nossa Senhora", é seu autor António Marujo, um jornalista com largos créditos e pergaminhos na área da temática religiosa; afoitou-se à leitura de um bom número de dezenas de milhar de mensagens dirigidas a Nossa Senhora de Fátima, com os temas mais díspares (declarações, pedidos de saúde ou de emprego para o próprio ou para outras pessoas, amores proibidos e confessados, crimes escondidos, orações pela paz no mundo e pela conversão da Rússia, pedidos angustiantes para que filhos, maridos e familiares envolvidos nas guerras viessem sem beliscadura, obra editada pelo Círculo de Leitores e Temas e Debates, outubro de 2020. (*)

Investigação estimulante, o próprio autor observa que estas mensagens revelam muito do que era o país, há poucas décadas, marcado ainda pelo analfabetismo, pobreza e falta de proteção social.

Antes de nos centramos nas mensagens em tempo de guerra colonial, atenda-se às observações do autor. O país que estas mensagens revelam num acervo como não existe outro em Portugal, podemos ver quem era escolarizado ou não, saber que predominavam as mulheres, pois quem escrevia era quem ficava, não que os jovens que partiam não levassem a incumbência de rezar o terço ou ter no peito a medalhinha de Nossa Senhora ou contarem com ela as horas de aflição.

 Há depois a natureza da comunicação, mais a intimidade que a pura veneração, daí as invocações de Mãe, Mãezinha, Mãe Adorada, Querida Mãezinha do Céu, Minha Mãe Santíssima, Adorada Mãezinha do Céu, Minha Querida Nossa Senhora de Fátima, e muito mais. 

A mãe é protetora, é uma espiritualidade que se entrelaça com maternidade, envia-se mensagens a alguém que nos está próximo, pronto a ouvir, capaz de perceber que estes milhares de modos de escrever e falar, os pedidos são inúmeros, tem a ver com a saúde, com as fraquezas e traições, com as dúvidas de fé, pedidos de arrimo para os estudos, para se conseguir o amor dos pais, dos filhos ou do marido, pedidos para sair da pobreza, para curar a doença, pedido de amor quando se está em desespero. 

Há também nestas mensagens uma ligação estreita com a doutrina dos Papas, Paulo VI, surpreendentemente, em 13 de maio de 1967, centrou a sua mensagem na paz, Fátima nascera na I Guerra Mundial, houvera depois outra mais mortífera e o Papa tem conhecimento que Portugal vive numa guerra colonial, importa não esquecer que as primeiras questões postas por Lúcia tinham a ver com o fim da guerra.
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Nucleo Museológico Memória de Guiledje > Capela > 2010 > O Luís Branquinho Crespo e o António Camilo colocando a imagem na sua base.
Imagem de Nossa Senhora de Fátima, na capela do  Núcleo Museológico Memória de Guiledje.  Foi doada pelos nossos camaradas Luís Branquinho Crespo e António Camilo.  
Imagem do nosso blogue (**)


Consolidadas as mensagens de Fátima, e esta transformada em santuário com fama universal, desenvolveu-se cumulativamente a evocação anticomunista, falava-se na conversão da Rússia, não esquecer que se vivia em Guerra Fria e a imprensa portuguesa fazia o possível para revelar as perseguições da Igreja na Rússia. 

E António Marujo discorre sobre as cartas de mães aflitas a pedir que os filhos regressem salvos da guerra. É vasto o correio de Nossa Senhora quanto a testemunhos de angústia no tempo da guerra colonial, e logo desde 1961.
 
O autor escreve:

“As cartas que se referem à guerra dão conta da aflição ou da dúvida, do pedido genérico de paz ou da súplica dos mais próximos, da convicção ideológica alinhada pelo discurso oficial ou, mesmo se residualmente, da contestação ao regime e à guerra, de uma diversidade enorme: o soldado que envia a fotografia com uma mensagem escrita no verso, a mãe que pede pelo filho, a noiva que lembra o seu prometido, o soldado que quer regressar para ver os filhos, as madrinhas de guerra ou as crianças que nas escolas fazem trabalhos a pedir a paz no mundo e para Portugal. Neste último caso, há vários exemplos de mapas de Portugal e dos então territórios ultramarinos, desenhados em folhas de papel para as crianças colorirem ou preencherem com pequenas frases, junto a uma representação da Nossa Senhora de Fátima”.

Há também mensagens em que se pede para o filho não ir para a tropa ou não ir à guerra, há mensagens a pedir paz para todos os soldados que combatem nas frentes, há pedidos como este: “Salvai Portugal e os soldados que dão a vida pela Pátria”

Outro aspeto curioso que o autor regista são as mensagens referindo a guerra como um castigo pelos maus comportamentos da humanidade, há guerra porque os pecadores ainda não se converteram, há guerra porque é um castigo de Deus, porque ainda não se cumpriu a mensagem, perdoa Mãe Santíssima a estes filhos desavindos. E mais adiante:

  “Quando falam da guerra colonial, a esmagadora maioria das cartas são escritas por mães e irmãs, há depois as esposas, avós ou outras familiares aflitas, namoradas ou noivas esperançadas”.

Está hoje bem identificado que a mulher foi um grande apoio dos combatentes, procuravam dar estímulo e esperança no seu correio para o familiar na guerra, até conjuntamente se faziam promessas para ir agradecer a Nossa Senhora quando ele regressasse são e salvo.

Mais adiante, o autor fala dos jovens que regressaram são e salvos e que “reavivaram uma religiosidade de gratidão”. E veja-se um exemplo:

“A gratidão é o sentimento de Manuel Antunes, das Caldas da Rainha, hoje emigrante em Wasaga Beach (Canadá), onde casou. Todos os anos faz questão de estar no santuário português, acompanhado da esposa e do filho. Nos seus anos de guerra (Moçambique, 1967-69) rezava todos os dias a Senhora de Fátima. ‘Era a minha protetora, a minha fé foi fortificada na guerra e Nossa Senhora de Fátima fortificou a minha fé’, diz ele, durante a estadia em Portugal que o levaria ao santuário, em 10 de maio de 2019.

Consigo, Manuel transportava sempre um pequeno papel com os dados pessoais, para o caso de lhe acontecer alguma coisa. ‘Choro, lamento, mas amanhã irei para o mato. Mas irei: Nossa Senhora de Fátima me acompanha’, escreveu na pequena folha, hoje ainda legível. ‘Regressei, regressei, mas alguns ficaram lá…’, recorda, comovido. ‘Venho cá todos os anos e venho sempre a Fátima, rezo na Capelinha… Não vou pagar nada, só agradeço, tudo, tudo, agradeço por aquilo que me tem feito. É a minha fé”
.
Imagem do Santuário nos anos 1970

António Marujo também recorda episódios dolorosos como o de António Guerreiro Calvinho, antigo presidente da Associação dos Deficientes das Forças Armadas  (ADFA), que não esqueceu Fátima na sua poesia. Sempre equacionando o papel da Mãe de Deus com a Mãe Natural, o autor recorda a importância da canção “Mãe” do Conjunto Oliveira Muge. Escrita por António Policarpo, a sonoridade da composição era semelhante a outras baladas pop de estrutura simples desses anos 1960. 

E há as madrinhas e namoros, envolvendo Nossa Senhora de Fátima. Há a história de Joaquim Gregório, taxista na Batalha, que embarcou nos primeiros contingentes enviados para Angola. Participou na tomada de Nambuangongo, todos os dias rezava o terço com vários camaradas, invocando a Senhora de Fátima. Ferido com gravidade, Gregório chega a ser dado como morto. Depois de regressar foi a Fátima várias vezes em agradecimento. E António Marujo lembra o poema “Nambuangongo, meu amor”, de Manuel Alegre, provavelmente o mais poderoso poema de toda a literatura da guerra colonial, que assim começa:

“Em Nambuangongo a gente pensa que não volta
cada carta é um adeus em cada carta se morre
cada carta é um silêncio e uma revolta.
Em Lisboa na mesma isto é a vida corre.
E em Nambuangongo a gente pensa que não volta.”


O autor discorre sobre a relação de Fátima com o tema da guerra e da paz logo encetado em 13 de maio de 1917, quanto à guerra colonial nem tudo era linear entre católicos, com o evoluir da guerra a chamada linha do catolicismo de vanguarda afrontou o regime, primeiro refletindo sobre o direito dos povos à autodeterminação e depois condenando a inflexibilidade em não se dialogar com quem queria ser livre.

Tratando-se de uma investigação inédita, julgo que também é inédito o alargado olhar sobre o papel de Fátima na guerra colonial. Uma leitura estimulante para entender a fé dos combatentes e dos seus familiares.
____________

Notas do editor

(* Último poste da série de 26 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21584: Notas de leitura (1326): família, casamento e sexualidade, comentário de Cherno Baldé a uma das "Estórias cabralianas" ["Cabral, salvador das bajudas desfloradas"], da autoria de Jorge Cabral (Lisboa, ed. José Almendra, 2020, pp. 93-94)

quarta-feira, 10 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21063: Tabanca da Diáspora Lusófona (11): Procuro, desde 1967, o Luís Filipe, que foi meu camarada, no COM, 1º turno de 1964, 3ª Companhia, 5º pelotão, EPI, Mafra... Encontrei-o na estação de caminho de ferro de Vila Franca de Xira, deu-me um grande abraço, julgava-me morto na Guiné, passámos um fim de semana no Algarve, tenho ideia que era alentejano, de boas famílias... Quem saberá o seu nome completo, e outros dados que me permitam ainda poder encontrá-lo ? (João Crisóstomo, Nova Iorque)


Ministério do Exército > Praças nas Fileiras > EPI [, Escola Prática de Infantaria,] > Bilhete de Identidade militar do João Francisco Crisóstomo, soldado cadete nº 1064/64, emitido em 20 de abril de 1964. Nº de matrícula: E-86804. O Comandante, assinatura ilegível [, Manuel Ribeiro de Faria, foi cor inf, foi o comandante da EPI, de 8/1/1963 a 25/9/1969] [Anotações: Grupo sanguíneo B].



Mafra > EPI > 1º Turno do COM > 3ª Companhia > 5º Pelotão > 27 de janeiro de 1964, dia de São João Crisóstomo > Cópia das notas da agenda do soldado cadete João Crisóstomo

Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2020) Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de João Crisóstomo [luso-americano, natural de Torres Vedras, conhecido ativista de causas que muito dizem aos portugueses: Foz Côa, Timor Leste, Aristides Sousa Mendes... Régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, foi alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): vive desde 1975 em Nova Iorque; é casado, em segundas núpcias, desde 2013, com a nossa amiga eslovena, Vilma Kracun]

Date: sábado, 9/05/2020 à(s) 16:40
Subject: Luis Filipe, soldado-cadete do 1º turno do COM, 3º Companhia, 5º Pelotão, EPI, Mafra, 1964, 

 Caro Luís Graca,

Todos nós temos direito "a ter a nossa telha". No meu caso sou um privilegiado nesse aspecto  (ou desprivilegiado, conforme a maneira que o encararmos), pois nunca  me faltaram "telhas a necessitar cuidados". Uma delas é a mania de não gostar de estar sem saber de alguém que  em qualquer altura na minha vida foi meu amigo e com quem depois perdi contacto. E é  para mim,   e sem dúvida para muitos outros, sempre uma experiência hilariante quando reencontramos alguém.

O "destino" tem sido particularmente generoso comigo como sabes;  entre a meia dezena pessoas amigas que depois de dezenas de anos  reencontrei já,   de  vários conhecimentos/amizades feitos em Paris, Londres e Stuttgart , o melhor acontecimento foi reencontrar a que é  agora a minha esposa. Vilma Kcracun. Este  caso de  de tão invulgar  até levou o New York Times a escrever/contar  a "nossa história" para os seus leitores  em longo artigo  que foi depois reproduzido nos quatro cantos do mundo.

Aliado aos muitos "encontros organizados por antigos combatentes,  o teu/nosso  blogue tem proporcionado  a muitos de nós reencontrar   camaradas/amigos   de quem, não fora este blogue   talvez  nunca teríamos mais ouvido falar. No meu caso não só reencontrei velhos amigos, como o Lopes e  o Zagalo - recordas-te da campanha que foi para finalmente o encontrar? -   como  directa ou indirectamente vim a fazer novas amizades, hoje muito queridas para mim e que enriquecem agora tanto a minha vida!

Mas ainda há pessoas a quem ainda não consegui chegar e a quem não desisti reencontrar. Entre estas conta-se um indivíduo que fez o curso de cadetes em Mafra comigo. Deixa-me contar-te:

 Entrei para o quartel de Mafra  onde fiz a preparação de cadete em Janeiro de 1964.  A minha "memória de gato"  há  muito  perdeu  quase tudo:  Lembro o entrar: a fila; e o "exame"; lembro ter recebido um conjunto de "farda";  e, vagamente já,  o que foi depois durante seis meses  esse período de preparação… mas de resto pouco lembro já, incluindo os nomes dos meus colegas cadetes, excepto um, por um inesperado  acontecido mais tarde que te vou contar a seguir.

Recordo que o comandante/instrutor do meu pelotão era um alferes  de nome Cera;  e do capitão da Companhia não lembro muito,  excepto que pela sua apresentação sempre esmerada,  pela  "dedicação" e  exigências  sem o mínimo de desculpas fosse para o que fosse, nós o alcunhávamos de "tesão de mijo militar"…

Acabado o curso, feitos "aspirantes"  cada um seguiu o seu rumo. Eu fui parar à Guiné. E passados dois anos, em 1967,  regressámos a Portugal.  Eu resolvi ir "dar uma volta pela Europa" para aperfeiçoar línguas. O meu primeiro poiso  foi em Londres, onde iria a permanecer dois anos e onde voltei para casar em 1971  depois de ter feito estágios em  Paris e em Stuttgart.

Na minha primeira ida, de férias,   a Portugal um dia fui ao Porto; e de regresso a Lisboa,  tomei o comboio. Lembro que estávamos parados na estação de Vila Franca de Xira e eu vim ao corredor . E de repente vejo à minha frente o Luís Filipe…

Reconheci-o como  um antigo cadete de Mafra do meu pelotão: alto, magro, olhou para mim, cara e olhos esbugalhados… e só disse: "João Crisóstomo"!…. ao mesmo tempo que se agarrava a mim e me apertava com um abraço sufocante…

Quando ele me libertou e eu olhei  para ele, confuso e espantado, vi que as lágrimas  lhe caiam, ao mesmo tempo que dizia:  "Eh pá..., disseram-me que tinhas morrido na Guiné!"….  e então compreendi e fui eu que o abracei emocionado…

Sei que me convidou e fui  ao  Algarve com ele. Tenho a ideia de que ele era alentejano, mas que a família tinha  residências / quintas  no Algarve… onde passei um fim de semana com ele.

Depois voltei a Inglaterra e até hoje nunca mais soube dele. Quando a ocasião se apresenta,  tenho "perguntado" por ele… depois que entrei no teu/nosso blogue surgiu-me a esperança, mas até ao momento sem qualquer resultado: há lá vários nomes "Luís Filipe " , mas nada que me leve a agreditar que seja ele ( há um capitão, mas as datas não coincidem…); mesmo sem  fé no Facebook, já andei lá muitas vezes divagando/investigando  naquele labirinto, sempre perdido… 

Como vês os dados são poucos… mas às vezes o "destino"  acontece com ainda com menos  bases… Andei à procura de alguma coisa que pudesse ajudar  e encontrei o meu  primeiro "Bilhete de Indentidade", ( emitido em Mafra a 20 de Abril de 1964)  cuja foto junto.

E encontrei também uma velha agenda que junto  igualmente   ( eu tenho a mania de guardar "micheroquices" que me ajudam a lembrar e reviver o meu passado…) na qual eu apontei  os dados do dia da entrada em Mafra e o relato do nosso  primeiro dia (que por pura casualidade era o dia de S. João  Crisóstomo, como se pode ler na velha agenda).

João Francisco Crisóstom,o, soldado-cadete,
 EPI, COM, 20/4/1964
Menciono esta agenda porque nela eu escrevi,  no dia 26 de janeiro de 1964, Domingo:

"Às  16.00 cheguei a Mafra. Às 11.30 da noite dei entrada na E.P.I., Mafra. COM. 3ª Com. 5ª Pel.".


E na página seguinte está o horário e descrição das actividades desse nosso primeiro dia [, 27 de janeiro de 1964,], onde menciono ter chegado atrasado para o pequeno almoço e ter apanhado o meu primeiro raspanete…

6,15 - Levantar
7.10 - Pequeno almoço (atrasado) e 1º [raspanete]
7.35 - 1ª instrução
12.10 - 1º almoço (ótimo)
13.20 - Instrução da tarde
16.20 - Fim da instrução da tarde
19.00 - Jantar (ótimo)
21.30 - Cama

Talvez estas datas (o meu número de soldado cadete nº  1064/64 ); a data de emissão deste ID ( 20 de Abril de 1964) ;  como  eu e o Luís Filipe  pertencíamos ao mesmo pelotão ( 5º  pelotão da 3a Companhia) deste pessoal ingressado no dia 26 de Janeiro de 1964… Será que alguém tem alguma idéia de como "chegar" a algum arquivo militar com estes dados?  

Se fôr o caso, por favor digam-me. Muito dificilmente poderei ir pessoalmente  fazer alguma investigação, mas creio que através do velho telefone, apoiado com e-mails,  e o mais que for preciso, eu poderei chegar  a saber o nome completo do Luís Filipe, sua antiga  morada , e outros detalhes  que me permitam reencontrá-lo…

Um grande abraço. A Vilma esteve-me há pouco a lembrar que a não esquecesse num beijinho para a Alice também!

João C. (*)

2. Nota do editor LG:

João, como te disse uma vez o futuro cardeal patriarca de Lisboa, o João Policarpo, tu és um "berbequim", uma verdadeira força da natureza, persistente, teimoso, perseverante... Vamos, com a ajuda dos nossos camaradas da Tabanca Grande, e demais leitores, encontrar o teu amigo "Luís Filipe" (ou Felipe?)... A única coisa que eu  até agora descobri foi o nome do comandante do EPI do teu tempo, o que assinou o teu BI militar: era o cor inf Manuel Ribeiro de Faria... (, foi o dono da Máfrica, de 1963 a 1969).

Mas sobre o EPI e o COM tens muitos postes no nosso blogue. Dá uma vista de olhos a estes, para refrescar a tua "memória de gato" (**)... Sei que não desistirás facilmente, mais difícil foi encontrar, no Velho Mundo, a tua querida Vilma Kracun, ao fim de mais de 40 anos...

Bom dia 10 de Junho, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Abraços e chicorações meus, da Alice e demais malta da Tabanca de Porto Dinheiro / Lourinhã, em particular o Joaquim Pinto Carvalho e o Jaime Bonifácio Marques da Silva, com quem me tenho encontrado na Lourinhã, nestes tempos de pandemia da COVID-19...
_____________

Notas do editor:
  
(*) Último poste da série > 5 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20943: Tabanca da Diáspora Lusófona (10): Notícias da pandemia de COVID 19, em Queens, Nova Iorque, e dos meus camaradas da CCAÇ 1439 (João Crisóstomo)

(**) Vd. postes de:

18 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13003: Mafra, EPI, COM: Instruções para os instruendos (Mário Vasconcelos): Parte I: Finalidade, Funcionamento, Provas de aptidão, classificação e Faltas

25 de abril de 2014 > Guiné 63774 - P13041: Mafra, EPI, COM: Instruções para os instruendos (Mário Vasconcelos): Parte II: Averbamentos; Serviço interno; (...); Salas de estudo; Comportamento; Saídas do quartel; Passaporte de dispensas ou licenças; Cartas de recomendação, pedidos feitos por interpostas pessoas, etc.. etc., [vulgo, "cunhas"].

28 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13055: Mafra, EPI, COM: Instruções para os instruendos (Mário Vasconcelos): Parte III :vi - Serviço interno; vii -Dispensas, pretensões; viii- Fardamento; ix - Uniformes, equipamento e armamento; x- Revista de saúde e curativos

2 de julho de 2014 > Guiné 63/74 - P13355: Mafra, EPI, COM: Instruções para os instruendos (Mário Vasconcelos): IV (e última) Parte: A Máfrica como "total institution", no sentido sociológico forte do termo...

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15738: Notas de leitura (807): “Spínola”, de Luís Nuno Rodrigues, A Esfera dos Livros, 2010 (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Abril de 2015:

Queridos amigos,

Não é incomum negar o óbvio quando se faz uma leitura à procura de fundamentos para certas tomadas de posição. Lendo esta biografia do investigador Luís Nuno Rodrigues, ganha meridiana clareza a permanente atitude de Spínola de avisar os seus superiores sobre a evolução do teatro da guerra. Esses superiores nem sempre aceitarão esses argumentos, consideravam que Spínola pintava o quadro em tons melodramáticos, o que ele queria era mais meios humanos e materiais e os seus escritos funcionavam como intimidações.

Ora, estudos posteriores vieram reconhecer que Spínola, de um modo geral, advertia aos seus superiores sobre a gravidade da situação sem bazófia. Tem pela frente um inimigo ideológica e militarmente bem preparado para destruir e retirar para pontos ermos ou para território estrangeiro. E nessa correspondência vemos claramente a evolução da guerra até ao rodopio final. Mas não pior cego do que aquele que não quer ver.

Um abraço do
Mário


Spínola e a evolução militar da Guiné (1968-1973) - (1)

Beja Santos

É uma pura banalidade dizer-se que há releituras que permitem um olhar remoçado sobre a qualidade de um romance, de uma obra poética ou de uma investigação histórica. Li a biografia “Spínola”, de Luís Nuno Rodrigues, A Esfera dos Livros, 2010, com a compreensível atenção de que este investigador, dois anos antes, dera à estampa, também em A Esfera dos Livros, o livro "Marechal Costa Gomes", um trabalho irrepreensível.

Na leitura que fiz de Spínola, vai para cinco anos, pareceu-me que era uma investigação asseada, bem documentada, mas que não trazia a palpitação de factos novos. Agora, que estou a trabalhar numa história da Guiné portuguesa que chega à independência efetiva, todos os acontecimentos da guerra da libertação têm que ser reposicionados à luz de obras de mérito indiscutível, com as de Fernando Policarpo, Leopoldo Amado e Julião Soares Sousa. 

Inevitavelmente, reli o trabalho de Luís Nuno Rodrigues e revelou-se-me, como em clarão, que o investigador, ao mostrar a correspondência de Spínola com governantes e altas chefias militares, deixou iniludivelmente registado a evolução militar da Guiné, e o que escreveu é seriamente desconfortável para aqueles que continuam a jurar a pés juntos que a evolução militar não caminhava para o caos total.

No seu encontro com Salazar, em Maio de 1968, Spínola não tece equívocos quanto ao seu pensamento: a guerra na Guiné já tinha atingido uma fase em que o “problema militar” se sobrepunha a qualquer outro, mas era no campo político social que estava o fulcro da contrassubversão. Nessa mesma conversa recordou a Salazar que um insucesso na Guiné teria efeitos devastadores, e apresentou condições através de um documento intitulado “Alguns aspetos que condicionam a solução da presente situação na Guiné". Salazar ouviu tudo sem comentários e limitou-se a dizer: “É urgente que embarque para a Guiné”

Em 26 de Junho de 1968, Spínola escreve a Salazar: “Se não enfrentarmos o problema da Guiné em regime de exceção, a Nação perderá esta guerra, não obstante a possamos ganhar, com base nas qualidades do nosso soldado”.

Spínola encarou com otimismo a nomeação de Caetano, os militares conheciam a posição que este defendera quanto à criação de uma “federação de Estados”, no início da década de 1960. A Guiné de 1968 correspondia a uma implantação do PAIGC na região Sul, a uma presença segura em áreas designadas como santuários entre o Corubal e o Boé. O conceito de manobra adotado por Schulz arrecadara resultados manifestamente insatisfatórios, com perda de controlo do território e o PAIGC a alargar as suas ações ao Leste, no Chão Manjaco, a beneficiar da tolerância senegalesa que passou a permitir abertamente a passagem de armamento pela fronteira Norte. A partir de 1966, Cuba é uma presença técnica constante para o uso da artilharia. 

Luís Nuno Rodrigues recorda o conteúdo das primeiras diretivas, apelava-se ao governo central o tratamento da Guiné como território em situação crítica, sob pena de Portugal acabar por perder o controlo efetivo da Guiné. Recriminava o velho armamento utilizado, a falta de meios de transporte de assalto, nomeadamente helicópteros. Era uma guerra em duas frentes: o desenvolvimento económico do território, quebrando argumentos de propaganda ao inimigo e reconquistar e manter o controlo efetivo da província. É uma tecla que vai ser sempre martelada, reforço dos meios operacionais, constituição do núcleo de forças de intervenção, revisão do esquema de instrução dos militares europeus, alargar o recrutamento africano e implantar estruturas de autodefesa das populações; solicita insistentemente armamento e equipamento antiaéreo e a instalação de um centro emissor para difundir a propaganda portuguesa. 

Numa reunião do Conselho Superior de Defesa Nacional, no início de Novembro de 1968, Spínola apela que se defina claramente a missão a desempenhar pelas Forças Armadas. Se tal não acontecesse, “corremos, a passos largos, para a perda da Guiné”.

Alguns dos políticos presentes consideraram o cenário como demasiado negro, seja como for houve resposta favorável a parte dos seus pedidos. A pressão que irá exercer sobre o governo central será permanente, alega que pretende reduzir drasticamente a capacidade militar do PAIGC, começa por apear vários coronéis e tenentes-coronéis, exige um “Comando Operacional Único”, que Marcello Caetano sanciona em Julho de 1969. 

Jamais irá abdicar da prerrogativa de escolher os seus oficiais. E quando necessário ameaça com a demissão. Apercebe-se que o transporte através dos rios é fulcral e autorizou Alpoim Calvão a levar por diante operações de destruição de lanchas rápidas do PAIGC. A africanização da guerra acelerou-se, enquanto em 1968 esse número era de 3280, em 1973 subira para 6425. Tratou-se de uma africanização que encontrava correspondência no discurso ideológico de Spínola assente na construção de uma “Guiné melhor”. Carlos Fabião reorganizou as milícias, nasceram os Comandos Africanos, e mais tarde os Fuzileiros.

É facto que com a chegada de Spínola à Guiné houve alterações significativas. Ao longo de 1969 e 1970 encontra-se correspondência entre Spínola e o Ministro da Defesa e as queixas não param, exige mais médicos, faz alusões ao caso da Índia. Caetano assiste em Bissau, em 14 de Julho de 1969, a uma reunião extraordinária de Comandos e pergunta a Spínola qual a evolução que este previa para a Guiné num futuro próximo. O cenário apresentado pelo Governador foi manifestamente negativo. Era necessário retomar a iniciativa no campo militar, já que a situação dava sinais de se tornar “extremamente crítica”. 

Caetano e Spínola reencontram-se em Lisboa em 8 de Maio, Spínola sentiu-se ufano, parecia que iria receber mais reforços em prejuízo de Angola e Moçambique. Reencontram-se a 24 de Setembro, em Lisboa, Spínola alerta o Presidente do Conselho para o agravamento da situação militar. E os meios humanos e materiais pedidos não obtêm resposta. Em Abril de 1970, ocorre o massacre de oficiais na região de Jolmete, o sonho de uma fração do PAIGC ser incorporada nas Forças Armadas evapora-se. 

Em Julho de 1970, Spínola alerta o Chefe do Estado-Maior e o Ministro do Ultramar para o facto de estarem a enfrentar uma nova ofensiva militar. Bate na tecla da insuficiência de meios materiais e humanos. Em Novembro de 1970, Spínola volta a insistir num agravamento da situação militar, e é nesse contexto que decorrem os preparativos da Operação Mar Verde que se saldou num revés diplomático em toda a linha, fez crescer o isolamento da diplomacia portuguesa. Por essa altura, e verdadeiramente desencantado com a situação militar, Spínola dá prioridade às soluções políticas.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de fevereiro de 2016 Guiné 63/74 - P15722: Notas de leitura (806): Textos de Carlos Schwarz (Pepito), na Revista Sumara, publicação da responsabilidade da Fundação João Lopes, Cabo Verde (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11667: Quem dirigiu os destinos da Guiné (3/3): Governadores e Independência (José Martins)

1. Último poste da série dedicada ao trabalho "Quem dirigiu os destinos da Guiné" compilado e enviado ao Blogue pelo nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70):


QUEM DIRIGIU OS DESTINOS DA GUINÉ (3)

GOVERNADORES DA GUINÉ
(Continuação)

ALVARO ALEXANDRE DA CUNHA – 1.º Tenente da Armada, retoma a sua governação a 17 de Janeiro de 1899. Entre 2 de Novembro desse mesmo ano e 7 de Fevereiro do ano seguinte, veio à metrópole, ficando a governação entregue ao Major Fernando Augusto Liso Santana. Quando regressou, era acompanhado pelo naturalista Francisco Newton e do novo Secretário-geral Joaquim José Duarte Guimarães, a quem entregou a governação quando, em 14 de Março de 1900, foi de novo chamado ao reino.

JOAQUIM PEDRO VIEIRA JÚDICE BIKER – .1º Tenente foi nomeado por carta de lei de 7 de Junho de 1900, tomando posse em 12 de Julho. Foi substituído, interinamente, pelo médico naval, Dr. António Alves Oliveira, que servia de Secretário-geral, no período de 5 de Maio a 6 de Dezembro de 1901. Chamado à metrópole em 20 de Maio de 1903, ficou encarregado do governo o Capitão Lapa Valente.

ALFREDO CARDOSO SOVERAL MARTINS – 1.º Tenente, toma posse em 23 de Julho de 1903. Com a sua vinda à metrópole, em 23 de Abril de 1904, ficaram a responder pela governação Joaquim Corte Real Pires e, seguidamente, o Dr. António Marques Perdigão. A vinda à metrópole do governador, Soveral Martins, prendia-se com a necessidade de obter recursos para ocupar a colónia como desejava. Não conseguindo obter os meios necessários, em Agosto de 1904, apresenta a demissão.

JOSÉ MATEUS LAPA VALENTE – Capitão e Chefe do Estado-maior da Guiné, ocupa o cargo, interinamente, por decreto de 9 de Agosto de 1904, entregando o cargo ao novo governador em 2 de Fevereiro de 1905. [Há registos que mencionam o seu primeiro nome como João].

CARLOS DE ALMEIDA PESSANHA – Capitão de Cavalaria foi nomeado por decreto de 15 de Dezembro de 1904. Regressa à metrópole em meados do ano de 1905, voltando a responsabilidade da província ao Capitão Lapa Valente. Regressa ao cargo em 13 de Fevereiro de 1906, cessando funções em 21 de Abril, a seu pedido.

JOÃO AUGUSTO DE OLIVEIRA MUZANTY – 1.º Tenente da Armada, foi nomeado por decreto de 8 de Junho de 1906 e tomou posse a 13 de Agosto seguinte. Veio à metrópole durante o período que mediou entre 19 de Julho e 18 de Novembro de 1907. Voltou a Lisboa, durante alguns meses de 1908, respondendo à chamada do Ministro da Marinha e Ultramar. Foi exonerado, a seu pedido, em 28 de Janeiro de 1909. Durante as suas ausências, a governação foi assegurada pelos Secretários-gerais Corte Real Pires e Joaquim Guimarães.

FRANCELINO PIMENTEL – Capitão de Infantaria foi nomeado em 4 de Março de 1909, e tomou posse em 29 de Junho. No decurso do seu governo vem, em 12 de Outubro desse ano, a Lisboa ficando o Chefe dos Serviços de Saúde, Marques Perdigão, na gestão da província. Voltou a estar ausente da província de 22 de Maio a 22 de Agosto de 1910. Em Outubro desse ano seria exonerado do cargo, pelo Governo saído da implantação da república.

CARLOS DE ALMEIDA PEREIRA – 2.º Tenente da Armada nomeado logo a seguir à implantação da República, vindo a tomar posse a 22 de Outubro seguinte. Com base nos termos do artigo 6.º do Decreto de 21 de Maio de 1832, regressou a Lisboa a 17 de Março de 1912, com autorização ministerial, deixando encarregado, o Secretário-geral Sebastião José Barbosa, até ao regresso do governador. Regressou a 23 de Outubro e foi exonerado, a seu pedido, em 16 de Agosto de 1913, voltando o encargo da governação ao referido secretário-geral.

Dr. JOSÉ ANTÓNIO DE ANDRADE SEQUEIRA – Oficial Médico da Armada, foi nomeado em 13 de Setembro de 1913, tomando posse em 22 de Novembro. Como o Senado anulou a portaria da sua nomeação, regressou à metrópole no mês de Abril de 1914.

JOSUÉ DE OLIVEIRA DUQUE – Coronel de Artilharia, foi eleito pelo Senado, nomeado em 14 de Abril de 1914 e tomou posse em 7 de Maio. Em 14 de Julho de 1915 é exonerado a 14 de Julho de 1915, e a 24 de Agosto abandona a Guiné, entregando a administração ao secretário-geral Sebastião José Barbosa, em 24 de Agosto.

Dr. JOSÉ ANRÓNIO DE ANDRADE SEQUEIRA – É nomeado, pela segunda vez, em 17 de Julho de 1915, tomando posse em 25 de Agosto seguinte. Em Junho de 1916 vem à metrópole, entregando o governo ao secretário-geral Sebastião José Barbosa.

MANUEL MARIA COELHO – Coronel de Infantaria, toma posse em 10 de Janeiro de 1917, primeiro para fazer um inquérito e, posteriormente, como governador interino, por ordem ministerial, tendo a nomeação sido publicada em 20 de Janeiro desse ano. Por ter de prestar provas para o posto imediato, foi exonerado em 3 de Julho de 1917.

CARLOS IVO DE SÁ FERREIRA – Tenente-coronel de Infantaria, nomeado governador interino, foi empossado em 13 de Julho de 1917.

JOSUÉ DE OLIVEIRA DUQUE – Coronel de Artilharia, é nomeado em 8 de Maio de 1918, toma posse em 9 de Agosto, o que acontecia pela segunda vez. Foi exonerado em 12 de Abril de 1919.

JOSÉ LUIS TEIXEIRA MARINHO – Capitão-tenente da Armada, é nomeado governador interino em 19 de Abril de 1919 e toma posse dois dias depois.

HENRIQUE ALBERTO DE SOUSA GUERRA – Capitão de Infantaria, é nomeado governador em 12 de Abril de 1919, tomando posse no dia 31 de Maio. Quando o General, na reforma, Barros, chega a Bolama, para proceder a um inquérito aos concessionários de Bambaiá, fica no governo, nos termos da carta orgânica, o vice-presidente do Conselho Sebastião José Barbosa e embarca, em 16 de Junho de 1920, com destino a Lisboa.

JORGE FREDERICO VELEZ CAROÇO – Tenente-coronel de Infantaria, antigo senador e antigo deputado, foi nomeado em 20 de Maio de 1921, tomando posse em 21 de Junho. Com a vinda do governador a Lisboa, a 1 de Junho de 1923, ficando encarregado do expediente o chefe dos Serviços de Saúde Dr. Alfredo Vieira. Pediu a exoneração, que foi aceite, em Novembro de 1923. Em Fevereiro de 1924 é reconduzido no cargo, tomando posse em 5 de Abril, voltando a pedir a exoneração, que foi aceite pelo Ministro das Colónias Capitão-tenente João Belo, em Dezembro de 1926.

ANTÓNIO JOSÉ PEREIRA SALDANHA – Capitão de Infantaria, chefe da Repartição Militar da colónia, tomou posse como encarregado do governo, pelo governador, em 20 de Dezembro de 1926. 

ANTÓNIO LEITE DE MAGALHÃES – Major de Infantaria e antigo deputado, foi nomeado por decreto de 25 de Março de 1927, tomando posse em 10 de Abril desse ano. Vindo a Lisboa conferenciar com o ministro, a 1 de Setembro de 1928, foi nomeado interinamente o Inspector da Fazenda José Manuel de Oliveira de Castro. Regressa à Guiné em Dezembro de 1928. Volta a Lisboa no período de Outubro a Dezembro de 1929, ficando encarregado o vice-presidente do Conselho do Governo o Dr. José Alves Ferreira. Em consequência do movimento revolucionário, o governador embarcou para Lisboa em 17 de Abril de 1931.

JOÃO JOSÉ SOARES ZILHÃO – Major de Artilharia, foi encarregado do governo, através de ordem telegráfica do Ministério das Colónias, tomando posse a 8 de Maio de 1931. A posse foi conferida pelo Dr. Alves Ferreira, Vice-presidente do Conselho.

JOSÉ DE ASCENÇÃO VALDEZ – Major de Infantaria e Veterinário, foi nomeado em 30 de Maio de 1932, encarregado do governo, por retirado o governador. Exerceu o cargo cerca de um ano.

LUIZ ANTÓNIO DE CARVALHO VIEGAS – Major de Cavalaria, é nomeado por decreto de 8 de Dezembro de 1932 e tomou posse em 10 de Março. No dia 10 de Maio veio a Lisboa e entregou o governo a José Peixoto Ponces de Carvalho, director da Administração Civil, reassumindo as funções em Setembro seguinte. Em Agosto de 1936 entrega a governação ao Capitão José Salvação Barreto, inspector administrativo, a fim de tomar parte na Conferência dos Governadores Coloniais. Regressou a Lisboa para prestar provas para o posto imediato, tendo sido nomeado para o substituir, com carácter interino e por despacho ministerial de 19 de Março de 1938, o chefe dos Serviços de Saúde Dr. Augusto Pereira Brandão.

RICARDO VAZ MONTEIRO – Tenente-coronel de Artilharia, esteve nas campanhas de Moçambique em 1917 e participou no 28 de Maio de 1926. Depois de ter sido Governador Civil de Portalegre, entre 1929 e 1933, foi governador de S. Tomé e Príncipe entre 1933 e 1941, sendo, nos anos de 1941 a 1945, governador da Guiné, dedicando-se seguidamente à carreira parlamentar.

MANUEL MARIA SARMENTO RODRIGUES – Capitão-de-mar-e-guerra, depois de exercer funções na Índia e no comando naval em Moçambique, assim como Chefe do Estado-maior da Força Naval, exerceu o cargo de Governador da Guiné de 25 de Abril de 1945 até ao ano de 1949. Depois de deixar o cargo na Guiné foi Ministro das Colónias de 2 de Agosto de 1950 a 7 de Julho de 1955.

RAIMUNDO ANTÓNIO RODRIGUES SERRÃO – Oficial da Arma de Engenharia, desenvolveu várias actividades em Angola, nomeadamente no sector dos transportes marítimos e ferroviários, sendo Director do Porto do Lobito e Governador do Distrito da Província do Bié. Governou a Guiné nos anos de 1949 a 1953.

DIOGO ANTÓNIO JOSÉ LEITE PEREIRA DE MELO E ALVIM – Capitão-de-fragata, comandou forças expedicionárias em Timor e cargos em Macau. Em Moçambique, foi governador da província da Zambézia. Entre 1954 e 1956, exerceu o cargo de Governador da Guiné.

ÁLVARO RODRIGUES DA SILVA TAVARES – Advogado, foi magistrado do Ministério Público e Judicial na Guiné, Moçambique, Angola e Goa. Foi Governador da Guiné entre 1956 e 1957. Foi, depois, Subsecretário de Estado da Administração Ultramarina.

ANTÓNIO AUGUSTO PEIXOTO CORREIA – Oficial da Armada, desenvolveu parte da sua actividade na Guiné, destacando-se de entre eles, chefe de gabinete do Governador Sarmento Rodrigues e presidente da Câmara Municipal de Bissau. Depois de ter governado Cabo Verde, foi nomeado, no período de 1958 a 1962, Governador da Guiné. A seguir foi Ministro do Ultramar.

VASCO ANTÓNIO MARTINS RODRIGUES – Oficial da Armada, era Governador do Distrito de Lourenço Marques antes de ser nomeado Governador da Guiné, exercendo o seu mandato ente os anos de 1962 e 1964. Quando deixou a Guiné, foi nomeado Adido Naval em Washington.

ARNALDO SCHULZ – Brigadeiro, oriundo da Arma de Infantaria, tinha estado em Angola no Comando de Agrupamento n.º 9 como Coronel Tirocinado, vindo a ocupar o cargo de Governador-Geral e Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, em 4 de Maio de 1964, tendo chegado à Guiné em 20 do mesmo mês. Em 1965 foi promovido a General e em 18 de Março de 1968 foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito. Deixou o cargo em 1968.

ANTÓNIO SEBASTIÃO RIBEIRO DE SPÍNOLA – Brigadeiro, oriundo da Arma de Cavalaria, foi nomeado em 2 de Maio de 1968 Governador-geral e Comandante-chefe das Forças Armadas da Guiné, tomando posse do cargo a 20 do mesmo mês. Comandou a guerra “à sua maneira”, reunindo um grupo de militares a fim de obter o final do conflito. Entretanto foi promovido a General e, a 29 de Maio de 1972 foi reconduzido no cargo. A 6 de Julho de 1973 foi condecorado com grau de Grande-Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito. No decurso do terceiro trimestre de 1973 apresentou o pedido de exoneração do cargo, que foi aceite, cessando o cargo a 6 de Agosto desse ano. 

JOSÉ MANUEL BETTENCOURT RODRIGUES – General, oriundo da Arma de Infantaria, tinha sido, no governo presidido por Marcelo Caetano, Ministro do Exército entre os anos de 1968 e 1970. Em 21 de Setembro de 1973, toma posse como Governador-geral e Comandante-chefe das Forças Armadas da Guiné. É durante o seu mandato, e após três dias após a tomada de posse, que o PAIGC declara, unilateralmente, a independência da Guiné em 24 de Setembro. Como não aderiu ao Movimento das Forças Armadas, foi destituído do cargo e, regressado a Lisboa, passou à situação de reserva por despacho da Junta de Salvação Nacional, em 14 de Maio de 1974.

MATEUS DA SILVA e SÃO GOUVEIA – Militares portugueses que, após a prisão do governador Bettencourt Rodrigues, no Forte da Amura, em Bissau, entre o dia 27 de Abril e o dia 7 de Maio de 1974, estiveram no governação da Guiné.

CARLOS ALBERTO IDÃES SOARES FABIÃO – Tenente-coronel de Infantaria, encontra-se colocado no Distrito de Recrutamento e Mobilização n..º 8, de Braga. Em 2 de Maio de 1974, encontra-se em Paris com o Presidente do Senegal, Léopold Sedar Senghor, na qualidade de delegado da Junta de Salvação Nacional. Em 7 de Maio de 1974 é nomeado encarregado do Governo e delegado da Junta de Salvação Nacional na Guiné, sendo graduado no posto de Brigadeiro em 23 desse mesmo mês. As suas funções cessam em 10 de Outubro de 1974, data acordada entre o governo português e o PAIGC, para o reconhecimento da independência por parte de Portugal. Foi a primeira independência concedida por Portugal, com base na lei e acordos efectuados com os movimentos de libertação.

África politica em 1930
© Imagem de “O Factor Africano”, de José Carlos Venâncio


Lei n.º 7/74, de 27 de Julho 

Tendo o Movimento das Forças Armadas, através da Junta de Salvação Nacional e dos seus representantes no Conselho de Estado, considerado conveniente esclarecer o alcance do n.º 8 do capítulo B do Programa do Movimento das Forças Armadas Portuguesas, cujo texto faz parte integrante da Lei n.º 3/74, de 14 de Maio;

Visto o disposto no n.º 1, 1.º, do artigo 13.º da Lei n.º 3/74, de 14 de Maio, o Conselho de Estado decreta e eu promulgo, para valer como lei constitucional, o seguinte:

ARTIGO 1.º - O princípio de que a solução das guerras no ultramar é política e não militar, consagrado no n.º 8, alínea a), do capítulo B do Programa do Movimento das Forças Armadas, implica, de acordo com a Carta das Nações Unidas, o reconhecimento por Portugal do direito dos povos à autodeterminação. 
ARTIGO 2.º - O reconhecimento do direito à autodeterminação, com todas as suas consequências, inclui a aceitação da independência dos territórios ultramarinos e a derrogação da parte correspondente do artigo 1.º da Constituição Política de 1933.
ARTIGO 3.º - Compete ao Presidente da República, ouvidos a Junta de Salvação Nacional, o Conselho de Estado e o Governo Provisório, concluir os acordos relativos ao exercício do direito reconhecido nos artigos antecedentes.

Visto e aprovado em Conselho de Estado.
Promulgado em 26 de Julho de 1974.
Publique-se.
O Presidente da República, ANTÓNIO DE SPÍNOLA.

África após as independências 
© Imagem de “O Factor Africano”, de José Carlos Venâncio


ANEXO A 
(Publicado em Suplemento ao Diário do Governo, I Série, de 30 de Agosto de 1974) 

Acordo entre o Governo Português e o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde. 

Reunidas em Argel aos vinte e seis dias do mês de Agosto de mil novecentos e setenta e quatro, as Delegações do Governo Português e do Comité Executivo da Luta do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), na sequência de negociações bilaterais anteriormente realizadas, em ambiente de grande cordialidade, em Londres e Argel, acordam no seguinte:

Artigo 1.º - O reconhecimento de jure da República da Guiné-Bissau, como Estado Soberano, pelo Estado Português, terá lugar no dia dez de Setembro de mil novecentos e setenta e quatro.
Artigo 2.º - Com a assinatura deste Protocolo de Acordo o cessar-fogo mutuamente observado de facto em todo o território da República da Guiné-Bissau pelas forças de terra, mar e ar das duas partes converte-se automaticamente em cessar-fogo de jure.
Artigo 3.º - A retracção do dispositivo militar português e a saída progressiva para Portugal das forças armadas portuguesas continuarão a processar-se de acordo com o estabelecido no Anexo a este Protocolo, devendo essa saída estar concluída até ao dia trinta e um de Outubro de mil novecentos e setenta e quatro. 
Artigo 4.º - O Estado Português e a República da Guiné-Bissau comprometem-se a estabelecer e a desenvolver relações de cooperação activa, nomeadamente nos domínios económico, financeiro, cultural e técnico, numa base de independência, respeito mútuo, igualdade e reciprocidade de interesses e de relações harmoniosas entre os cidadãos das duas Repúblicas.
Artigo 5.º - Com este fim, e depois do acto de reconhecimento de jure da República da Guiné-Bissau pelo Estado Português, os dois Estados estabelecerão entre si relações diplomáticas ao nível de embaixador, comprometendo-se a celebrar, no mais curto prazo, acordos bilaterais de amizade e de cooperação nos diferentes domínios.
Artigo 6.º - O Governo Português reafirma o direito do povo de Cabo Verde à autodeterminação e independência e garante a efectivação desse direito de acordo com as resoluções pertinentes das Nações Unidas, tendo também em conta a vontade expressa da Organização da Unidade Africana.
Artigo 7.º - O Governo Português e o PAIGC consideram que o acesso de Cabo Verde à independência, no quadro geral da descolonização dos territórios africanos sob dominação portuguesa, constitui factor necessário para uma paz duradoura e uma cooperação sincera entre a República Portuguesa e a República da Guiné-Bissau.
Artigo 8.º - Lembrando a resolução do Conselho de Segurança que recomenda a admissão da República da Guiné-Bissau na ONU, a Delegação do PAIGC regista com satisfação os esforços diplomáticos significativos feitos nessa ocasião pelo Governo Português, os quais estão em perfeita harmonia com o espírito de boa vontade que anima ambas as partes.
Artigo 9.º - As duas delegações exprimem a sua satisfação por terem podido levar a bom termo as negociações que tornaram possível o fim da guerra, de que foi responsável o deposto regime português, e abriram perspectivas para uma frutuosa e fraterna cooperação activa entre os respectivos Países e Povos. 
Feito e assinado em Argel, em dois exemplares em língua portuguesa, aos vinte e seis dias do mês de Agosto do ano de mil novecentos e setenta e quatro.

A Delegação do Comité Executivo da Luta (CEL) do PAIGC: 
Pedro Pires, membro do CEL, comandante.
Umarú Djaló membro do CEL, comandante.
José Araújo, membro do CEL.
Otto Schacht, membro do CEL.
Lúcio Soares, membro do CEL, comandante.
Luís Oliveira Sanca, embaixador.

A Delegação do Governo Português: 
Mário Soares, Ministro dos Negócios Estrangeiros.
António de Almeida Santos, Ministro da Coordenação Interterritorial. 
Vicente Almeida d'Eça, capitão-de-mar-e-guerra. 
Hugo Manuel Rodrigues Santos, major de infantaria.

Atlas de Fernão Vaz Dourado (1571) – Atlântico Norte 
História de Portugal, coordenação de José Mattoso


Anexo ao Acordo entre o Governo Português e o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde 

O presente Anexo destina-se a regular, por livre e mútuo acordo entre o Governo Português e o PAIGC, a forma de coexistência transitória das forças armadas de Portugal e da República da Guiné-Bissau, no território da Guiné-Bissau, no período que mediar entre o início do cessar-fogo de jure a que se refere o Protocolo de Acordo assinado em vinte e seis de Agosto de mil novecentos e setenta e quatro e a saída das forças armadas portuguesas do referido território, que se completará até trinta e um de Outubro de mil novecentos e setenta e quatro.

1.º - A presença das forças armadas portuguesas apenas se justifica a título transitório, em ordem a permitir a Portugal uma retracção e saída ordenadas dos seus dispositivos e a facilitar a transmissão gradativa dos serviços de administração nas zonas ocupadas por aquelas forças, sem quebra da continuidade do seu funcionamento.
2.º - A retracção do dispositivo das forças armadas portuguesas continuará a processar-se progressiva e gradualmente do interior para o mar, segundo um escalonamento a estabelecer por acordo mútuo, que tome em conta o interesse de ambas as partes e os meios materiais disponíveis, por forma que as últimas zonas de reagrupamento das forças armadas portuguesas sejam a povoação do Cumeré e as ilhas de Bolama, Caravela e Bissau. Salvo motivo de força maior reconhecido como tal por ambas as partes, esta retracção será efectuada até dez de Setembro de mil novecentos e setenta e quatro.
3.º - As zonas de reagrupamento transitório das forças armadas portuguesas, nos termos do número anterior, continuarão sob o controle militar das autoridades portuguesas. Nessas zonas continuará a ser hasteada a bandeira portuguesa até ao termo da presença dessas forças.
4.º - A residência do comandante-chefe das Forças Armadas Portuguesas e representante do Governo Português será o palácio residencial de Bissau até ao termo da permanência das forças armadas portuguesas na área da ilha do mesmo nome.
5.º - Até ao termo da permanência das forças armadas portuguesas em Bissau, a República da Guiné-Bissau manterá nessa zona de reagrupamento um efectivo, em princípio, de cerca de trezentos homens das forças armadas da República da Guiné-Bissau que, isolada ou conjuntamente com as forças armadas portuguesas, neste caso em patrulhamentos mistos, participará na manutenção da ordem pública, segundo normas a estabelecer por acordo.
6.º - Mantém-se a livre circulação de pessoas e viaturas militares, nas e entre as zonas de reagrupamento mencionadas neste Anexo, desde que não armadas e acompanhadas dos respectivos documentos de identificação, que lhes poderão ser exigidos pelas autoridades em serviço.
7.º - Sempre que a natureza de materiais ou reabastecimentos a transportar exija especiais medidas de segurança, serão os mesmos acompanhados por elementos armados, segundo normas de procedimento a estabelecer por acordo das duas partes.
8.º - Nas vias fluviais e marítimas manter-se-á igualmente a livre navegação de unidades militares, na extensão necessária ao apoio logístico, retracção do dispositivo e saída das forças armadas portuguesas.
9.º - Sempre que no transporte fluvial ou marítimo, para fins idênticos aos referidos no número anterior, sejam utilizadas embarcações civis, aplicar-se-á o disposto no n.º 7.º
10.º - Por razões de segurança contra infiltrações vindas do mar, as unidades navais portuguesas poderão patrulhar livremente os acessos às ilhas de Bissau, Bolama e Caravela, o arquipélago dos Bijagós e as aproximações oceânicas.
11.º - A circulação de aeronaves não armadas, em missão de reabastecimento e transporte, processar-se-á livremente nas e entre as zonas de reagrupamento das forças armadas portuguesas.
12.º - Ficam igualmente autorizados os voos de reconhecimento no espaço aéreo das ilhas de Bissau e Bolama, do arquipélago dos Bijagós e da fronteira marítima.
13.º - Ficam interditos voos em grupos de mais de três aeronaves. 
14.º - A República da Guiné-Bissau obriga-se a neutralizar os seus meios antiaéreos susceptíveis de afectar a circulação aérea prevista nos n.os 11.º e 12.º
15.º - O julgamento e a punição das infracções cometidas por militares portugueses nas zonas de reagrupamento das forças armadas portuguesas, ou fora dessas zonas, se neste caso não atingirem interesses legítimos da República da Guiné-Bissau, ficam sujeitos à jurisdição da autoridade militar portuguesa.
16.º - Os aquartelamentos das forças armadas portuguesas situados fora das ilhas de Bissau, Bolama e Caravela serão circundados por uma área de três quilómetros de profundidade, por seu turno circundada por uma zona tampão com dois quilómetros de profundidade, em que nenhuma das partes poderá não abranger a satisfação das necessidades de abastecimento de água e lenha das forças ali estacionadas.
17.º - As forças armadas portuguesas obrigam-se a desarmar as tropas africanas sob o seu controle. A República da Guiné-Bissau prestará toda a colaboração necessária para esse efeito.
18.º - Uma comissão mista coordenará a acção das duas partes e vigiará pela correcta e pontual aplicação do disposto no presente Anexo, dando-lhe ainda a sua interpretação e a integração das suas lacunas, e o julgamento das eventuais infracções ao que nele se dispõe, com a correspondente imputação de responsabilidades.
19.º - A Comissão Mista funcionará em Bissau, será constituída por seis membros, dos quais cada uma das partes designará três, e entrará em funções nas quarenta e oito horas que se seguirem à assinatura do Protocolo de Acordo de que este instrumento constitui anexo.
20.º - A Comissão Mista funcionará validamente desde que esteja presente ou representado um mínimo de dois membros de cada parte, e as suas deliberações serão tomadas por unanimidade dos votos dos membros presentes e representados.
21.º -  Os membros da Comissão Mista só poderão ser representados por outro membro pertencente à mesma parte e o mandato deverá constar de carta simples assinada pelo mandante.
22.º - Em caso de falta de unanimidade, o assunto sobre que se não fez vencimento será sujeito aos governos de cada parte para decisão por acordo ou por arbitragem na falta de acordo.
23.º - Na sua primeira reunião, ou em qualquer das reuniões subsequentes, a Comissão Mista regulamentará o seu funcionamento. Em caso de necessidade, poderá ainda constituir subcomissões para assuntos determinados, em que delegue, no todo ou em parte, os respectivos poderes, as quais se regerão pelas mesmas regras da comissão delegante.
24.º - A Delegação do PAIGC regista a declaração do Governo Português de que pagará todos os vencimentos até trinta e um de Dezembro de mil novecentos e setenta e quatro aos cidadãos da República da Guiné-Bissau que desmobilizar das suas forças militares ou militarizadas, bem como aos civis cujos serviços às forças armadas portuguesas sejam dispensados.
25.º - O Governo Português pagará ainda as pensões de sangue, de invalidez e de reforma a que tenham direito quaisquer cidadãos da República da Guiné-Bissau por motivo de serviços prestados às forças armadas portuguesas.
26.º - O Governo Português participará num plano de reintegração na vida civil dos cidadãos da República da Guiné-Bissau que prestem serviço militar nas forças armadas portuguesas e, em especial, dos graduados das companhias e comandos africanos.
27.º - No prazo máximo de quinze dias, a contar do início do cessar-fogo de jure, cada uma das partes entregará à outra todos os prisioneiros de guerra em seu poder.
28.º - O presente Anexo entra em vigor ao mesmo tempo que o Protocolo de Acordo de que faz parte integrante.

Feito e assinado em Argel, em dois exemplares em língua portuguesa, aos vinte e seis dias do mês de Agosto de mil novecentos e setenta e quatro.

A Delegação do Comité Executivo da Luta (CEL) do PAIGC: 
Pedro Pires, membro do CEL, comandante.
Umaru Djaló, membro do CEL, comandante.
José Araújo, membro do CEL.
Lúcio Soares, membro do CEL, comandante.
Luís Oliveira Sanca, embaixador.
Otto Schacht, membro do CEL.

A Delegação do Governo Português: 
Mário Soares, Ministro dos Negócios Estrangeiros.
António de Almeida Santos, Ministro da Coordenação Interterritorial. 
Vicente Almeida d'Eça, capitão-de-mar-e-guerra. 
Hugo Manuel Rodriguez Santos, major de infantaria.

Aprovado, depois de ouvidos a Junta de Salvação Nacional, o Conselho de Estado e o Governo Provisório, nos termos do artigo 3.º da Lei n.º 7/74, de 27 de Julho.
29 de Agosto de 1974.
Publique-se.
O Presidente da República, ANTÓNIO DE SPÍNOLA.

Mapa da Guiné Portuguesa – 1973 
© Dicionário Enciclopédico Lello Universal


ANEXO B 
(Publicado em Suplemento ao Diário do Governo, I Série, de 10 de Setembro de 1974) 

Declaração sobre a independência da República da Guiné-Bissau Em nome da República Portuguesa, nos termos do artigo 3.º da Lei n.º 7/74, de 27 de Julho, e depois de aprovado o Protocolo assinado em Argel em 26 de Agosto de 1974, ouvidos a Junta de Salvação Nacional, o Conselho de Estado e o Governo Provisório, declara-se que Portugal reconhece solenemente a independência da República da Guiné-Bissau. 
Publique-se.
Presidência da República, 10 de Setembro de 1974. - O Presidente da República, ANTÓNIO DE SPÍNOLA.

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Bibliografia: 
• História da Guiné, de João Barreto;
• Crónica dos Feitos da Guiné, de Gomes Eanes de Zurara;
• Os Presidentes e os Governos da Republica no Século XX, de Alberto Laplaine Guimarães, Bernardo Diniz de Ayala, Manuel Pinto Machado e Miguel Félix António;
• Invenção e Construção da Guiné-Bissau, de António E, Duarte Silva;
• Guerra Colonial, de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes;
• História da Guiné, René Pélissier;
• As Viagens do Bispo D. Frei Vitoriano Portuense à Guiné, de Avelino Teixeira da Mota;
• Nova História Militar de Portugal, de General Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira;
• Guerra de África – Guiné, Fernando Policarpo;
• Atlas Histórico, edição em fascículos e CD’s do Diário de Noticias;
http://abril-de-novo.blogspot.pt/2011/12/figuras-do-25-de-abril-xi-carlos-fabiao.html;
http://app.parlamento.pt/PublicacoesOnLine/DeputadosAN_1935-1974/html/pdf/m/monteiro_ricardo_vaz.pdf;
http://www.slideshare.net/Cantacunda/histria-da-guin-bissau-em-datas
Wikipédia.orgWikipédia.org;
http://www.cart1525.com/gouveia/divisao.pdf

José Marcelino Martins
Odivelas, 17 de Abril de 2013

Fardamento militar no Ultramar
© Colecção do autor
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Nota do editor:

Vd. postes anteriores da série de

28 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11644: Quem dirigiu os destinos da Guiné (1/3): A descoberta da Guiné e de Cabo Verde; Governadores de Cabo Verde; Capitães-Mores e Governadores; Capitania-Mor do Cacheu e Capitania-Mor de Bissau (José Martins)
e
30 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11655: Quem dirigiu os destinos da Guiné (2/3): Capitania-Mor de Bissau, Centralização do Governo em Bissau, A autonomização, Governadores e Delimitação das fronteiras (José Martins)