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segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12551: E fazíamos grandes jogatanas de futebol (1): A equipa da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) (Fotos de Arlindo Roda)... E a nossa singela homenagem ao Eusébio, que foi o ídolo da nossa geração (Luís Graça / Cherno Baldé /António Rosinha/ Hélder Sousa / António Carvalho / C. Martins / Tony Borié / J. L. Fernandes)




Foto nº 95 > A equipa da CCA 12, vestida a rigor, com o equipamento a condizer: simbolicamente, camisola preta e calção branco... Esta era a equipa principal...em que tinha lugar o fur mil Arlindo Teixeira Roda (, o primeiro da primeira fila, a contar da direita). Mas, curiosamente, numa companhia em que as praças eram do recrutamento local (c. 100) e os restantes elementos (graduados e especialistas) de origem metropolitana (c. 50), não havia nenhum guineense...

Os soldados, fulas, etnia islamizada, não tinham especial apetência pela prática do futebol... pelo menos me Bambadinca.  Em todo o caso, na Guiné do nosso tempo, e devido à guerra o futebol estava praticamente confinado a Bissau... se bem, que houvesse também equipas de futebol no interior (Bafatá, Mansoa)... È verdade, o futebol era o desporto, por eleição, dos "tugas"...mas também foi um viveiro de dirigentes e militantes do PAIGC...

Recorde-se que havia dois clubes de futebol rivais em Bissau, o Sport Bissau e Benfica, e o UDIB (União Desportiva Internacional de Bissau). Os seus jogadores formavam, no incío dos anos 60, a base ou a quase totalidade da seleção de futebol da província da Guiné. Um terceiro clube era o Sporting Club de Bissau. E, fora de Bissau, destacava-se o Clube de Futebol Os Balantas de Mansoa, e ainda o Sporting Clube de Bafatá (já aqui referido várias vezes no nosso blogue, e que já existia pelo menos desde o tempo do Governador Sarmento Rodrigues).

Voltando à foto: o capitão, com a respetiva braçadeira, era o alf mil op esp Francisco Magalhães Moreira  (1º Gr Comb), o segundo da primeira fila, a contar da direita. O terceiro desta fila é o alf mil at inf António Manuel Carlão (2º Gr Comb), mais tarde destacado para o reordenamemto de Nhabijões (o maior ou um dos maiores da Guiné, no tempo de  Spínola).  Os restantes elementos eram  praças, uns operacionais e outros condutores. Com tempo e vagar, poderemos depois identificá-los..

Para já: na segunda fila, de pé, da esquerda para a direita, reconheço  o 1º cabo manut material João Rito Marques (se não erro), o 1º cabo aux enf Fernando Andrade de Sousa, o sold inf Arménio Monteiro da Fonseca (2º Gr Comb,  1ª secção), o 1º cabo escriturário Eduardo Veríssimo de Sousa Tavares e o 1º cabo Manuel Alberto Faria Branco (2º Gr Comb, 3ª secção (Do último elemento não me ocorre o nome, embora me lembre dele).



Foto nº 94 > Outtra equpa da CCA 12, não sei se era a C... Mas todos ostenta o cráchá da companhia > Na primeira fila, reconheço, da esquerda para a direita, o 1º cabo cripto Gabriel Gonçalves (que também camntava e tocava viola), o alf mil op esp Moreira, o fur mil Roda, o  Arménio e o João Rito Marques, o nosso cabo quarteleiro. 

Em cima, e da esquerda para a direita, reconheço o fur mil at inf António Manuel Martins Branquinho, o 1º cabo Branco, o sold condutor auto Alcino Carvalho Braga, o sold básico João Fernando R. Silva, um elemento de que não me ocorre o nome (mecânico ? transmissões ?) e , por fim, o 1º cabo aux enf Sousa.


Foto nº 97 > Mais craques da bola... A gloriosa equipa de futebol de onze  da CCAÇ 12 donde se destacam, entre outros os nossos tabanqueiros Joaquim Fernandes (ex-Fur Mil At Inf, o primeiro, de pé, a contar da direita), o Tony Levezinho (ex-Fur Mil At Inf, o terceiro, na primeira fila, a contar da direita), o Arlindo Tê Roda (ex-Fur Mil At Inf, o quinto, na primeira fila, a contar da direita), e o João Rito Marques ( nosso cabo quarteleiro, 1º Cabo Manutençã de Material, que vive hoje em Sabugal)... Ainda na segunda fila, o terceiro a contar da esquerda, em tronco nu, é o 1º Cabo At Inf Carlos Alberto Alves Galvão (, que vive na Covilhã, e continua ligado ao associativismo desportivo). Não consigo identificar o jovem guarda-redes, que era um dos nossos soldados guineense.

Fardados, de pé, na segunda fila, da direita para a esquerda, 1º Sargento Cavalaria Fernando Aires Fragata (que foi depois fazer o curso de oficiais de Águeda, se não me engano; dei-lhe explicações de português; não sabemos se é vivo e onde mora); o 2º Sarg Inf Alberto Martins Videira (, vive ou vivia em Vila Real); 2º Sarg Infantaria José Martins Rosado Piça (,vive em Évora; e ainda pelo Natal falámos ao telemóvel); e o 1º Cabo José Marques Alves (que pertencia à 2ª secção do 2º Gr Comb, a secção do Humberto Reis, que chamava "Afredo" ao Alves:infelizmente, deixou-nos o ano passado)... 

Entre o Videira e o Piça, estão mais dois camaradas da CCAÇ 12, um fardado, soldaddo condutor auto é o Alcino Braga, e um à civil, cujo nome não me ocorre).


Foto nº 113 >  Desta vez, o nosso jovem guarda redes em ação



Foto nº 103 > Uma perigosa jogada do Arlindo Roda, acossado pelo alf mil inf Abel Maria Rodrigues (3º Gr Comb(, se não me engano...


Foto nº 99  > A> legenda podia ser: "A angústia do guarda.-redes antes do penalti"...


Foto nº 98 > O craque Arlindo Roda (1)


Foto nº 115 >  O craque Arlindo Roda (2)


Foto nº 106 > O craque Arlindo Roda (3)


Foto nº 102 > Aspeto parcial do campo de futebol de onze... Havia um outro, para futebol de cinco...


Foto nº 107 > Uma partida no tempo das chuvas (1)



Foto nº 111 >  Uma partida no tempo das chuvas (2)


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Fotos do álbum do Arlindo Roda (ex-fur mil at inf, 3º Gr Comb) quem, além de excelente fotógrafo, sempre foi um praticante de desporto, em Bambadinca, e nomeadamente de futebol.... Era também exímio jogador de cartas. E hoje sei que é craque do xadrez e das damas. Infelizmente não o vejo desde 1994...

Apesar da intensa atividade operacional, e das duras condições cimatéricas da Guiné (elevada tempatura e humidade do ar), os graduados e os especialistas da CCAÇ 12 gostavam de jogar à bola. Mais de um terço do grupo metropolitano (que não ultrapassava a meia centena), jogava à bola: que me lembre, todos os oficiais (incluindo o cap inf Carlos Alberto Machado Brito, hoje cor ref) jogavam à bola...

Dos furrieis operacionais, quase toda a gente jogava, até para se manter em boa forma física: lembro-me do António Branquinho (1º Gr Comb), do Tony Levezinho e do Humberto Reis (2º Gr Comb), do  Luciano Severo de Almeida  (já falecido) e do Arlindo Roda (3º Gr Comb), do António Fernando R. Marques e do  Joaquim Augusto Matos Fernandes [ 4º Gr Comb)... Ficavam de fora os não operacionais: o vagomestre (Jaime Soares Santos), o enfermeiro (João Carreiro Martins), o transmissões (José Fernando Gonçalves Almeida)... (Pelo menos não me lembro de os ver equipados e a correr atrás da bola: a única exceção seria talvez o 2º srgt inf Alberto Martins Videira)...

Eu, pelo contrário, acho que nunca dei um simples chuto numa bola, na Guiné... Tenho pena: ter-me-ia feito bem... Também me parece que o Joaquim João dos Santos Pina (1º Gr Comb) e o José Luís Vieira de Sousa (3º Gr Comb) também não eram muito "futebolerios"... Do fur mil MAR Joaquim Moreira Gomes, o furriel da "ferrugem",  também já não me lembro bem se jogava ou não... O 2º srgt inf Piça, que acabou por fazer as vezes do 1º sargento, chefiando a secretaria, também não jogava: tinha já os seus 38 aninhos, tal como de resto o capitão...

Fotos: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendas: L.G.]


1. A morte de um ídolo da nossa geração, e de uma imagem de marca de Portugal, o Eusébio da Silva Ferreira (1942-2014), levou-me a deitar mão das nossas fotos de arquivo, relacionadas com o futebol e as jogatanas que fazíamos no intervalo da guerra no TO da Guiné.

É também uma forma, nossa, singela, de homenagear,  no blogue da Tabanca Grande, o primeiro futebolista português e africano a ganhar a Bola de Ouro (1965), prestigiado galardão criada pelo jornal desportivo France Football.  Alguém lhe chamou o primeiro herói negro português... Filho de pai branco, angolano, e de mãe, negra, moçambicana, Eusébio acaba de entrar  hoje no Olimpo, espaço etéreo, mitológico, só reservado aos deuses e aos heróis.

Não sou muito dado às emoções futebolísticas, muito menos clubísticas. Em toda a minha vida, vi ao vivo, "in loco", dois ou três jogos de futebol, acompanhando o meu pai ... Uma ou duas vezes no antigo estádio de futebol do Benfica. E outra no estádio atual. Também tenho reservas mentais ao fácil unanimismo que a morte das figuras públicas desencadeia em Portugal, com os meios  de comunicação social (com destaque para a TV) a explorar, sem pudor e até à exaustão, as emoções dos vivos...  Mas ontem fui, de bom grado, ao Estádio da Luz, prestar uma anónima homemagem ao Eusébio, com o meu filho João, e, em espírito, com o "meu pai, meu velho, meu camarada", Luís Henriques (1920-2012)... Fomos lá por ele e pelo Eusébio, o "pantera negra" que deixou ontem de rugir...

Estamos todos de luto, Portugal, Moçambique, a lusofonia, a África e o Mundo. Mas foi bonita a homenagem de despedida que os portugueses lhe fizeram... Independentemente da origem, da cor da pele, da geração,  do clube, do credo religioso, da opção político-ideológica, dos ódios de estimação, dos preconceitos... de cada um. Fizemos, de algum modo, também a catarse de muitas das nossas perdas, nestes últimos anos ou até décadas, a começar pela perda de entes queridos, de amigos, de valores, de memórias, de líderes e de figuras de referência... É para isso também que o luto serve. (LG)


2. Depoimentos de amigos e camaradas (*)

(i) Cherno Baldé:


Caros amigos: Quem não se lembra da imagem do Eusébio, o Pantera Negra, banhado em lágrimas, à saida do mítico e fascinante estádio de Wembley e a legenda de "A Bola" com as palavras cheias de perplexidade e de interrogações sobre a derrota que Portugal e Eusébio acabavam de sofrer, assim nesses termos: "Quando um Homem chora, alguma razão há".

Em 1966, quando isso aconteceu, eu teria mais ou menos 6 anos e, é claro, , na altura, não podia nem ver e muito menos ler estas palavras de "A Bola", mas acontece que este acontecimento foi tao badalado e a imagem tão sacralizada que nos 10 ou 15 anos que se seguiram,  ninguém podia ficar indeferente.

Contou-me um colega de infância que, em 1987,  o Cavaco Silva,  então Primeiro Ministro de Portugal, veio a Guiné e com ele veio o Eusébio. E no decorrer de uma visita que fez ao Clube do Benfica de Bissau, afirmara que a derrota com a Inglaterra,  em 1966, tinha sido, antes de tudo, uma derrota política, isto é, que o regime de então, através da PIDE, não queriam perder um aliado tão importante como a Inglaterra, humilhando-a com uma derrota.

Hoje parece incompreensível que isto tenha acontecido, mas entra perfeitamente na lógica dos difíceis tempos de então, com Portugal cada vez mais isolado e a enfrentar várias frentes de guerra subversiva e com forte cariz ideológico, ao mesmo tempo.

Obrigado aos editores por terem repescado este pequeno naco das minhas lembranças de infância.

O caso de Eusebio serve também para relembrar,  aos que ainda duvidam,  que na altura não era importante e imprescindível nascer na Metrópole (Portugal de hoje) ou nascer branco e Europeu para amar, chorar, lutar e morrer por Portugal e a sua bandeira.

A proposito, há menos de um mês, durante uma viagem à aldeia, gravei a voz de um antigo milícia, meu familiar, iletrado,  que, ainda hoje, passados mais de 40 anos de recruta, consegue reproduzir na íntegra o hino de Portugal e o texto do cerimonial de jurar bandeira. Vou guardar, como diz o nosso amigo Torcato Mendonça.

Um abraço amigo,

Cherno Baldé

(ii)  António Rosinha:

Eusébio representou a imagem da Selecção de Portugal durante a nossa geração. Mas mais que os simples pontapés na bola, Eusébio para Portugal e para a Europa representou uma mudança no olhar de toda a Europa sobre os africanos.

Eusébio foi uma "lança na Europa".

Eusébio representa uma portugalidade com mais de 500 anos.

Eusébio, embora através da bola, é de um simbolismo que ultrapassa o futebol.

(iii) Hélder Sousa: 

Caros camaradas: A 'magia do futebol' não tem nenhuma culpa do que os 'poderes instituídos' fazem, ou possam fazer, para aproveitar as emoções populares.

Isto vem a propósito de já ter visto escrito por aí, na net, aliás como é costume em situações similares, algumas palavras mais 'azedas' por causa da 'excessiva visibilidade' dada a este caso do falecimento de Eusébio. E o facto do Poder, que tanto descontentamento tem produzido, ter decretado 3 dias de luto nacional também contribui para essas animosidades.

Mas a grande verdade é que o futebol, para além dos grandes negócios e interesses que move, é um desporto ao alcance das grandes massas populares, em qualquer lugar se pode jogar, estreita relações, fomenta amizades e pode ajudar a esbater diferenças. Daí que o poder, em qualquer tempo, em qualquer lugar, tenha sempre a tentação de o utilizar.

Não são raros os relatos que contam como durante os tempos dos grandes jogos, fossem da Selecção, fossem entre clubes com maior visibilidade, não haviam 'ataques' ou 'flagelações' às nossa posições.

E este relembrar do que o Cherno nos dá conta é igualmente uma indicação forte de como o futebol fascina, atrai e consolida relações e recordações.

Que viva Eusébio!

Abraços, Hélder S.

(iv) António  Carvalho:

Caríssimos:b Esta figura muito real do Cherno, nosso amigo muito querido, continua com as suas interessantíssimas crónicas, para nosso regalo e para proveito da história e dos historiadores que a hão de fazer.
Na verdade, o ângulo sob o qual o Cherno narra a "guerra", é de uma importância crucial para a percebermos. Então, como se depreende dos episódios que aqui nos vai narrando, os meninos da tabanca funcionavam como elos de ligação entre nós combatentes e a população, assumindo-se assim como portas netre o espaço do quartel e a comunidade autóctone. É certo que, nalguns casos, a geografia do quartel coincidia com a da comunidade civil mas, mesmo assim, era de grande utilidade a colaboração da criançada no estabelecimento de uma boa relação com a população senior até pela sua rápida aprendizagem da nossa língua. Lembro-me bem da doçura de muitas meninas e meninos e como os seus sorrisos mitigavam o nosso sofrimento.Na verdade, nem sempre retribuíamos essa doçura. O Cherno fala disso com toda a verdade e com alguma diplomacia...ele é um fazedor de paz. Por isso a minha gratidão.

Um abração, Carvalho de Mampatá.

(v) C. Martins:

Estou triste .. muito triste..morreu o meu ídolo de infância.

Conheci-o pessoalmente através de um amigo comum e posso assegurar que era mesmo como dizem.. humilde.. generoso.. companheiro.. preservava a amizade acima de tudo.

Partiu cedo demais..mas como esse meu amigo, infelizmente também já desaparecido, dizia..."foi-se mas gozou a vida".

EUSÉBIO É ETERNO..VIVA O EUSÉBIO.

C.Martins


(vi) Tony Borié

 Olá,  Cherno:  "…nós éramos crianças e naturais da terra, na altura, não sentíamos o efeito do calor…". Era verdade, vocês viviam em redor de nós, lá no aquartelamento, que tínhamos vindo da Europa, com roupa camuflada, sofríamos entre outras coisas o efeito do calor e cá dentro, no fundo, também queríamos brincar à bola, também tínhamos os nossos heróis da bola, pois ainda éramos "umas crianças", mas um pouco mais crescidas.

Cherno, gostei do teu poste, onde lembras os teus amigos e heróis de criança, o Eusébio, não passava despercebido a quase ninguém, também era o meu herói, esteve comigo por duas vezes, uma vez em sentido, na "formatura" na parada de recolher, no Depósito Geral de Adidos, em Lisboa, onde eu estive temporariamente, no final, quando "sargento dia" mandou destroçar, fui junto dele e cumprimentei-o, outra vez aqui na cidade de Atlantic City, onde houve uma festa num Casino, assinalando o "Dia de Portugal".

Era uma figura de Portugal, era um "Embaixador", por sinal muito educado, paz à sua alma.

Um abraço Cherno, Tony Borie.

(vii) J. L. Fernandes:

Caro amigo Cherno Baldé

Os dois últimos parágrafos do teu comentário, atingiram-me o coração e os olhos arrasaram-se de água, água pura... pela dor imensa, de tanto sofrimento em vão.

Que pelo menos nos fique esta certeza;
- A de podermos continuar a ser irmãos.

Um abraço fraterno
JLFernande

___________

Nota do editor:

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10028: Recordando aquele malfadado jogo de futebol, em 31 de janeiro ou 1 de fevereiro de 1973, entre a CCS/BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto) e a CCAÇ 16 (Bachile) (Bernardino Parreira)


Guiné > Zona Leste > COP7 > Margem esquerda do Rio Corubal > Gampará > 38º CCmds (1972/74) > 1972 > "Em Gampará com o meu grande amigo Furriel Cmd Ludgero dos Santos Sequeira, a quem mais tarde na picada do Cufeu (outra vez) numa mina iria ficar às portas da morte, ficando quase cego até aos dias de hoje. Continuamos grande amigos. Um abraço para ti, Sequeira!" (Amílcar Mendes, ex-1º cabo comando).


Foto (e legenda): © Amilcar Mendes (2007). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do Bernardino Parreira, com data de 12 do corrente:

Caro amigo Luís Graça

A 39 anos de distância desta ocorrência (*) já há pormenores que me falham, sobre este acontecimento.  Mas ainda me lembro que por aquela altura - último dia do mês de Janeiro [, 4ª feira,] ou primeiro dia do mês de Fevereiro de 1973 [, 5ª feira] -  já não sei precisar a data -, encontrava-me com "ordem de marcha" para regressar a S. Domingos, à minha companhia de origem, a CCav 3365, para integrar o BCAV  3846, com vista ao nosso regresso à Metrópole, que ocorreu a dia 17 de Março de 1973.

E só não tinha ainda regressado a S. Domingos para poder disputar este jogo. Que era a final do campeonato entre companhias do CAOP1. O jogo que se realizou naquele fatídico dia foi entre a CCS/BCAÇ 3863 e a CCaç 16 à qual eu pertencia.

Devo dizer que o ambiente que normalmente se vivia no Bachile era calmo, os militares eram disciplinados e muito bons seres humanos. O nosso comandante era um Excelente Militar Operacional e uma Excelente pessoa. Havia um espírito de companheirismo e confraternização excepcionais entre todos os militares.

O futebol, no meio daquela guerra, aliviava-nos o stress e o orgulho de uma companhia africana poder ganhar o campeonato era enorme. O que aconteceu ali, naquele dia, em termos de jogo, acontece muitas vezes em estádios de futebol. Ao ser anulado um golo que dava a vitória à nossa CCaç 16, onde seríamos sagrados vencedores daquele campeonato, que tinha a maioria de jogadores africanos, os nossos camaradas africanos que estavam a assistir ao jogo invadiram de imediato o campo.

Julgo que naquele dia estávamos  apenas a jogar 2 brancos, eu e o Figueiredo.  A única diferença é que todos estavam armados, não com cadeiras, como normalmente acontece nos estádios de futebol, mas com armas reais, e álcool à mistura, e a situação só não teve consequências maiores dado o campo de futebol, onde isto aconteceu, estar situado próximo do CAOP1.

Tenho a ideia de que foram logo ali efectuadas algumas prisões e, serenados os ânimos,  regressámos todos ao nosso quartel no Bachile, nas viaturas  militares.

No mesmo dia, por volta da hora de jantar, estava eu na messe dos sargentos, tive conhecimento que a maioria dos militares africanos, revoltados e armados, tinham abandonado o quartel e se dirigiam para Teixeira Pinto no sentido de irem tentar a libertação dos camaradas presos. 

Escusado será dizer a preocupação que se generalizou entre os que ficaram, mas dada a pouca distância entre  o Bachile e a Ponte Alferes Nunes logo se ouviu dizer que tropas da CAOP1 tinham vindo ao encontro dos revoltosos e estes tinham sido obrigados a recuar para o Quartel.

O pior soube-se depois, que foi o acidente ocorrido com os militares  de Teixeira Pinto,[da 38ª CCmds,] no regresso ao seu quartel, com a deflagração de um dilagrama.(*)

Dois dias depois parti, triste, do Bachile, em direcção a S. Domingos, via Cacheu. Achei que não devia ter ficado para disputar aquele malfadado jogo de futebol. Ainda passei por Teixeira Pinto para visitar e despedir-me dos meus camaradas presos, entre eles o meu amigo Policarpo Gomes, que era do meu pelotão.

Por outro lado, S. Domingos continuava a ser atacado, do Senegal, e não sabia o que me poderia acontecer a poucos dias do meu regresso. Ainda retenho na memória a preocupação que os meus camaradas africanos manifestaram ao saberem que eu ia para S. Domingos antes do regresso. Só diziam:
- S. Domingos nega... manga de porrada...!

Graças a Deus cá estou!



Guiné > Região do Cacheu > Bachile > CCAÇ 16 (1972/74) >  Equipa de futebol de sete > Legenda do Bernardino Parreira: "Amigo Luis Graça, não consto dessa foto, editada no blogue, mas  julgo reconhecer, da direita para a esquerda, em cima, primeiro o meu amigo António Branco, e terceiro o Sr. Comandante, na altura capitão Abílio Afonso. Em baixo: Da direita para a esquerda, Pereira, Garcia e Miranda.

Fotos: © António Branco (2010). Todos os direitos reservados.

Tenho pena de não possuir fotografias da nossa equipa de futebol da CCaç 16. Foram bons tempos, de que  destaco um episódio agradável em tempo de guerra.  Num jogo disputado com uma companhia de comandos [, a 38ª CCmds,]  do CAOP1, em Teixeira Pinto, quando foram apresentados os capitães de equipa para a escolha de campo, perante o árbitro desse encontro, sendo eu o capitão de equipa da CCac 16, qual não foi meu agradável espanto ao ver que o capitão da outra equipa era o meu amigo Ludgero Sequeira, de Faro,  meu companheiro de escola, que eu desconhecia que se encontrava em Teixeira Pinto. Maior foi a admiração dele quando viu sair de uma equipa de africanos um único branco que era eu, nesse dia.

Um grande abraço


2. Esclarecimento posterior do José Romão, em mensagem enviada às 23h16:

Boa noite camarada e amigo Luís Graça:
O grave acidente, na sequência do desafio de futebol, entre as equipas de militares do CAOP 1 e do Bachile, deu-se junto à Ponte Alferes Nunes e era eu que estava a comandar um grupo de militares da CCAÇ 16 do Bachile, na referida Ponte. Quem acabou por resolver esse diferendo foi o Coronel Durão, comandante, nessa altura, do CAOP 1 em Teixeira Pinto. Nesse dia, perto da Ponte morreram alguns militares da Companhia de Comandos que estava sediada em Teixeira Pinto.

Um abraço para todos os camaradas,
José Quintino Travassos Romão,
ex Furriel Miliciano.
_____________

Nota do editor:

(*) Vd. poste anterior, de 12 de junho de 2012> Guiné 63/74 - P10025: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (18): A ponte Alferes Nunes, a CCAÇ 16, o Bachile, a 38ª CCmds, o Canchungo, o cor pára Rafael Durão, o futebol, a violência, a morte...

domingo, 15 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6853: Futebol e nacionalismo na década de 1950 (Nelson Herbert, filho do jogador da selecção da província, Armando Lopes ou Búfalo Bill)





1. Foto e texto de Nelson Herbert, com data de 6 do corrente:

Caro Luis

Segue uma foto ilustrativo do poste referente a futebol e nacionalismo na Guiné (*)...A selecção provincial da Guiné de 1964 [ou de 1954?]... se não me falha a memória...integrada na sua maioria por futebolistas originários de Cabo Verde...

Dos futebolistas na foto, ainda consigo identificar alguns...mas quiçá o Mário Dias ne possa ajudar na identificaçãao dos restantes...

De pé da esquerda para a direita: Antero Bubo (caboverdiano); o jogador seguinte é guineense, cujo nome me escapa; Armando Lopes (Búfalo Bill,  meu pai) (**); o nome dos restantes também me escapa...

Agachados: terceiro a contar da esquerda, o guarda redes principal Júlio Almeida (antigo funcionário da granja de Pessubé que trabalhou com Amilcar Cabral e é referenciado como um dos fundadores do PAIGC); quinto atleta, Joazinho Burgo; o último...escapa-me o nome mas sei que é avô do Miguel, da selecção de Portugal... que esteve no Mundial.

Mas o Mário Dias quiçá seja a pessoa indicada para ajudar na identificação destes futebolistas ...

Mantenhas

Nelson Herbert (foto à esquerda)
USA

2. Comentário de L.G.:

Meu caro Nelson, salvo melhor opinião, a foto que me mandaste, não pode ser de 1964, mas sim do princípio dos anos cinquenta, como a própria legenda manuscrita sugere... Nessa altura, o teu pai  já tinha mais de 30 anos... Recorde-se que ele nasceu em 23 de Agosto de 1920, é 4 dias mais novo do que o meu pai, Luís Henriques.

Aproveito para saudar os nossos dois velhos, que passaram, como militares, pelo Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde, na II Guerra Mundial. Oxalá eles continuem a dar-nos a alegria do seu convívio. O meu velho já começou a comemorar o feito que é, para um homem da sua geração,  chegar aos 90: hoje mesmo vai a um convívio luso-alemão de "velhas guardas"... que incluirá uma partida de futebol entre portugueses, da Lourinhã,  e alemães, em férias... Entre os portugueses da minha terra há muita gente que ele, o meu velho, treinou quando meninos e moços... Ele próprio praticou futebol até meados dos anos 50... E hoje é o sócio nº 1 do Sporting Clube Lourinhanense.

O futebol é (ou pode ser) um traço de união entre os povos. Acabo de ler, no blogue do BART 1914, que o português Norton de Matos é o novo treinador da selecção de futebol da Guiné-Bissau.

_____________

Notas de L. G.:

(*) Vd. poste de 6 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6831: (Ex)citações (88): Futebol e nacionalismo nos anos 50/60 (Nelson Herbert)

(**) Vd. postes de:

 15 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5109: Meu pai, meu velho, meu camarada (18): Do Mindelo a... Bambadinca, com futebol pelo meio (Nelson Herbert / Luís Graça)

12 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5101: Meu pai, meu velho, meu camarada (17): Ilha de S. Vicente, S. Pedro, 1943: Armando Duarte Lopes (Nelson Herbert)

sábado, 3 de outubro de 2009

Guiné 63/74 – P5048: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (16): Leões na Guiné em 1966!


1. O nosso Camarada José Eduardo Reis de Oliveira (JERO), foi Fur Mil da CCAÇ 675 (Binta, 1964/65), enviou-nos a sua 16ª história, com data de 3 de Outubro de 2009:

BLOGANDO E ANDANDO

Leões na Guiné em 1966!

O título pode parecer especulativo... mas tem algum fundo de verdade.

Passamos a explicar.

Em Maio de 1966 uma equipa de futebol do Sporting Clube de Portugal visitou a “portuguesíssima Província da Guiné para homenagear a sua Filial nº. 89 – Sporting Clube de Bissau”.

Os “leões de Alvalade” efectuaram alguns jogos de futebol em Bissau com equipas locais. E também “futebol de 5” contra equipas militares.

E como soubemos desta distante história de “Leões” na Guiné?

Na nossa rotina diária depois de em casa “blogar” vamos andar para a pista de um campo de futebol, que temos a sorte de ter ao pé da porta.

Um destes dias numa conversa com um parceiro “de pista”, que sabíamos ter jogado futebol no Sporting (Lisboa), vieram à baila algumas “conhecimentos” sobre a Guiné que nos surpreenderam.

Como é que ele sabia coisas de Bissau, de Bolama e Bafatá?


Tendo em conta a nossa diferença de idades como é que o José Carlos de Jesus tinha estado na Guiné com 18 anos de idade sem ser na qualidade de militar!?

A resposta não deixou dúvidas: - Como jogador de futebol do Sporting Clube de Portugal.

Ah, tá bem!

A conversa continuou no dia seguinte e o Zé Carlos trouxe-me uma carta do S.C.P. datada de 7 de Junho de 1966, que reproduzimos em anexo.

A carta refª. 4521/66, Minº. ML, Dactº. AC. atribui um “Voto de Louvor” a todos os jogadores que fizeram parte do grupo de futebol…pela forma valorosa como desportivamente se aplicaram no decorrer dos três jogos realizados. Acompanhou a comitiva leonina o Vice-Presidente para as Relações Externas Dr. António Alexandre Pereira da Silva. Assinava a carta o Secretário-Geral da Comissão Directiva Romeu Adrião da Silva Branco.

Colhemos entretanto a informação adicional que era Presidente do Clube Guilherme Braga Brás Medeiros (1965-1973).

Alem da carta trouxe-nos também uma fotografia de uma equipa do tempo (1964-65) do Sporting Clube de Portugal.


E o que recorda o Zé Carlos da sua passagem de Guiné 40 e tal anos depois?

Recorda várias coisas.

A longa viagem do Super Constelation de Lisboa a Bissau – cerca de 9 horas – e o “choque” com o calor e humidade quando saíram do avião a caminho da cidade.

De fato inteiro, camisa e gravata bufavam que nem… leões.

Quando chegaram ao Palácio do Governador para cumprimentarem o “General” Shultz ficaram de boca ainda mais aberta por o Governador os receber de calções e camisa.

Depois recorda as Avenidas de Bissau, o mercado e militares por todo o lado. Gente, cor, bulício e…ausência de sinais de guerra.

Em relação aos jogos no Estádio de Bissau recorda muita gente, muito entusiasmo e no final algumas cenas de pancadaria entre militares da marinha e do exército.

Na equipa do Sporting não jogaram então alguns dos grandes jogadores da época por estarem já seleccionados para e equipa de Portugal que iria, dentro de poucos meses, disputar o Campeonato do Mundo de 1966, (onde viríamos a obter o melhor resultado de sempre - um 3º.lugar).

Os jogadores em causa ainda hoje são históricos e recordados pelas gentes do futebol: Carvalho, Hilário, Morais, Zé Carlos, Alexandre Baptista e Lourenço.

O Zé Carlos recorda que em Bissau, sob a orientação do treinador Juca jogaram: Damas, Caló, Carlitos, Lino, Pedro Gomes, Dani, Colorado, Figueiredo, João Barnabé, Barão e outros atletas cujo nome já não recorda.

Fora do que se passou nos rectângulos de jogo o José Carlos de Jesus (também conhecido nos “futebóis” por Zé Carlos II) lembra com particular saudade as viagens a Bolama e a Bafatá.

Para Bolama viajaram em viaturas descapotáveis (Renault Caravell) sem escolta militar.

Para Bafatá viajaram de avião (Dakota).

Lembra-se de aterrar num pequeno campo de aviação e de viajar para a cidade num carro de “caixa aberta”.

Seguiu-se um almoço memorável à base de ostras grelhadas, como nunca mais comeu até hoje.

Deixamos para o fim a invulgar e, no que nos diz respeito, nunca ouvida história do crocodilo amestrado de Bolama.

A comitiva do Sporting foi avisada de que ia ver uma “cena” única: um crocodilo amestrado que, à voz de um domador da “casa” (leia-se de Bolama) iria sair do seu charco privativo para vir até terra firme “confraternizar” com a malta. Daria até para se tirar uma fotografia com um pé em cima das costas do crocodilo sorrindo para a objectiva.

Foi com esta expectativa elevada que os “leões” de Lisboa se aproximaram do charco das terras de Bolama.
O “domador”, empunhado um comprido pau com um pedaço de carne na ponta, pediu silêncio e aproximou-se do “poiso da fera”.

O charco, de água esverdeada e viscosa, permanecia calmo…

O “domador” arriscou mais uns passos e, de repente, o crocodilo apareceu e saltou (ou pareceu saltar).

Foi um cagaço monumental.

Domador e seus convidados fugiram a sete pés (ou mesmo mais… ).

A malta da bola não deixou os seus créditos por pés alheios e sprintou rapidamente para bem longe do charco.

O crocodilo ouviu das boas e a sua mãe não escapou de algumas graves ofensas verbais à sua honra!

As viagens de regresso a Bissau e mais tarde a Lisboa decorreram dentro da normalidade.

À distância no tempo o Zé Carlos II recorda com saudade os seus 18 anos e a viagem à Guiné.


Mas o crocodilo “amestrado” de Bolama e o cagaço colectivo da comitiva dos “leões de Alvalade” ocupam, nas suas memórias africanas , os “flashes” mais nítidos das recordações de há quarenta e tal anos atrás.

Devemos ao Zé Carlos II a evocação dos “Leões na Guiné” em 1966.

Alguém na nossa Tabanca Grande se lembra destes futebóis longínquos?

E do crocodilo de Bolama?

Um abraço,
JERO
Fur Mil Enf da CCAÇ 675

Fotos: José Eduardo Oliveira (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6831: (Ex)citações (88): Futebol e nacionalismo nos anos 50/60 (Nelson Herbert)


Guiné-Bissau > Bissau > s/d (pós-independência > Campo de jogos de Bissau (antigo estádio Sarmento Rodrigues) > Um jogo de futebol, sob a bandeira da nova República, duas equipas locais, com equipamentos de clubes portugueses (Benfica e Sporting). Foto de autor desconhecimento.

Imagem: Gentilmente cedida por Nelson Herbert / Maria da Conceição Silva Évora


1. Comentário, com data 2 do corrente,  do Nelson Herbert,  ao poste P6815 (*):

"Apareceram também clubes de futebol como o Sport Lisboa e Benfica, 'por iniciativa de alguns nomes conhecidos da sociedade portuguesa, Gama das Construções [Gama] Lda, Pimenta do Cadastro, Casqueiro, etc.' e o Sporting Club de Bissau, 'sob a égide de Eugénio Paralta, irmão Zé Paralta, Chico Correia'... A UDIB já existia, diz-nos Cadogo Pai. No entanto, o desemvolvimento do futebol, 'trouxe mais um bafo de rivalidades, olhando a situação dos jogadores caboverdianos , importados pelo Benfica, que, para os atrair, os adeptos bem colocados, tinham que lhes oferecere bons empreegos. Bons rapazes, no fundo, Antero, os sinais [?] Tcheca, Marcelino Ferreira (Tchalino), etc." (1ª Parte, p. 6).

Caro Luis

A origem das equipas de futebol da Guiné é, por sinal,  uma das tematicas que há meses vinha eu já ensaiando propor a "debate" e [pedir] contribuições ao blogue...Sobre esta temática tenho eu recolhido alguns testemunhos, por incentivo do meu próprio progenitor... por sinal da leva dos futebolistas caboverdianos que povoaram o meio desportivo guineense da época. Alias, modalidade-rei, com a qual os caboverdianos estavam em certa medida familiarizados, através dos ingleses, que pelas passagens pelo Porto Grande da Ilha de São Vicente, introduziram o futebol e o "cricket"...Quanto a este último facto curioso, nos demais territorios "ultramarinos" de Portugal, foi o único onde a modalidade pegou e conserva ainda alguns resquícios da sua práctica.

Dessa "hegemonia" de futebolistas caboverdianos - Antero, Marcelino (Gazela),  Armando Lopes (Búfalo Bill , meu pai), Tcheca, Júlio Almeida (referenciado como um dos fundadores do PAIGC), na sua maioria atletas do Sport BISSAU e Benfica e da UDIB (caso do meu pai que,  "importado" de Cabo Verde, inicia a sua carreira na UDIB,transferindo-se anos mais tarde para o Benfica de Bissau), houve na época a necessidade de se contrabalançar...essa então "primazia" de futebolistas das ilhas, pelas razões  já expostas acima... 

E seria pois com base nesse pressuposto que nasceria o Sporting Club de Bissau (clube de que fui futebolista junior, apesar da minha paixão clubística pela UDIB)...outrora Império... e na qual militaram numa primeira fase da sua fundação, e na sua quase totalidade, futebolistas originários da Guiné. 

"Caboverdianos" do Sporting viriam depois... e entre os nomes sonantes dessa época, cito aqui o nome de "Djinha" Almeida...

Por iniciativa dos irmãos Paralta,e de mais um lote de futebolistas, de novo, na sua maioria caboverdianos, que,  na época do defeso do campeonato provincial, praticavam o ténis nos adstritos courts do então estádio Sarmento Rodrigues, nasceria a ideia de fundação estariam envolvidos do Tenis Club de Bissau...

Eis pois aqui uma proposta de "debate" e de recolha de testemunhos de que o Blog...tem sido proficuo...
Por exemplo, que papel teve a "tropa" na sustentabilidade do futebol na Guiné, pelo menos a nivel das equipas do interior do pais, algumas que com inicio da guerra deixaram de ser parte do campeonato provincial da Guiné.

Entretanto, relativamente à participação das equipas do futebol guineense, incluindo a própria selecção provincial, nas competições regionais africanas da época... Bobo Keita, um hist+rico comandante da guerrilha e talentoso futebolista guineense, entretanto ja falecido, recordou em tempos,  em entrevista por mim conduzida, o seu primeiro contacto com a ideia da necessidade da emancipação do homem africano...Aconteceu pois aquando de uma digressão da selecção provincial da Guiné ao Ghana de Kwame Nkrumah...

Mantenhas
Nelson Herbert
USA 

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(**) 4 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6827: (Ex)citações (70): O direito de um velho colon a ter um ponto de vista um tanto reaccionário (António Rosinha)

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20433: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (São Domingos e Nova Lamego, 1967/69) - Parte LXXIII: Os "jogos olímpicos" do meu batalhão



Foto nº 11 > São Domingos, fins de Dezembro de 1968. Distribuição de prémios pelas equipas. Tive direito a beber uma cerveja pela taça dos campeões africanos.


Fotro nº 6 > Nova Lamego em 20 de Fevereiro de 1968. Um jogo de basquetebol. Grande confusão na área do cesto.   O autor também aparece na molhada, em segundo plano, de perfil.


Foto nº 7 > São Domingos, em 20 de Fevereiro de 1968. Um jogo de futsal. À baliza, o autor, sem óculos.


Foto nº 5 > São Domingos, em fins de Dezembro de 1968. Provas  de Atletismo:  salto (acrobático) em altura.


Foto nº 1 >  São Domingos, em fins de Dezembro de 1968. Início dos jogos de... inverno. Com 40º à sombra!... O comandante do BCAÇ 1933 a presidir. 


Foto nº 2 >  São Domingos,  fins de Dezembro de 1968. Jogo de futebol. Entrada das equipas em campo.


Foto nº 9 > São Domingos, em fins de Outubro de 1968. Veja-se o estado "relvado"... Estamos no final da época das chuvas.



Foto nº 3 > São Domingos, em fins de Dezembro de 1968. O autor., que habitualmente não participava, a não ser como fotógrafo...


Foto nº 10 > São Domingos, em fins de Outubro de 1968. Jogo de futebol, entre  metropolitanos e guineenses.  Eu a segurar a bandeirola para ela não cair...


Foto nº 12 > São Domingos, em fins de Dezembro de 1968. Mais uma jogatana de futebol. O pessoal a assistir à sombra dos poilões.


Foto nº  13 >  São Domingos, em fins de Dezembro de 1968. Foto de família. O autor, à direita,  de calções e mãos nos bolsos, a observar...


Foto nº 14  > São Domingos, no 4º Trimestre de 1968. Uma baliza de futebol no meio do nada.


Foto nº 15 >  São Domingos, no 1º Trimestre de 1969.Torneio e jogos de verão. Um jogo isolado, de futebol, não fazendo parte de nenhuma competição. 


Guiné > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação do álbum fotográfico  do nosso amigo e camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, chefe do conselho administrativo, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); economista e gestor, reformado; é natural do Porto; vive em Vila do Conde; tem já perto de centena e meia de referências no nosso blogue.



CTIG/Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:

T040 – OS JOGOS OLIMPICOS  DO BCAÇ  1933 >A guerra também se fazia no TO ‘Campos de Jogos’


I - Anotações e Introdução ao tema:

Caros companheiros e camaradas:

Como era habitual em todas as unidades, um dos passatempos, eram os jogos ao ar livre, onde competiam, ou classes contra classes, operacionais e serviços, pelotões contra pelotões, companhias contra companhias.

A modalidade mais usual, como é natural, seria sempre o futebol, pois todos sabem dar um pontapé numa bola.

Havia outras modalidades: Basquete, Futsal, Salto em altura, Salto em comprimento, Atletismo, Corridas, e tudo o que convidasse a puxar pelo físico, naqueles paraísos com um clima tão ameno que convidava a estas aventuras de inverno.

Os jogos eram organizados a rigor, com as vestes e equipamentos competentes, o campo era pelado, lá se colocavam paus a fazer de balizas, e assim se competia.

Só não sei quem era o árbitro nomeado, se por sorteio na Liga, ou na FPF. E se já haveria o VAR?

No final eram entregues as respectivas taças, que continham os dizeres de cada jogo ou modalidade. Em Nova Lamego e principalmente em São Domingos fizemos vários torneios, com atribuição de taças. O mais importante torneio foi realizado no mês de Dezembro de 68, em S. Domingos.

Nunca participei em nenhum, entrava por vezes só para a fotografia, mais nada.

II - Legendas das fotos:

F01 – O início dos jogos de Inverno – Com 40º. Com direito a parada, Hino Nacional, o Comandante do Batalhão Caçadores 1933 a presidir, as equipas alinhadas, e o árbitro com a farda corrente.  Foto captada em São Domingos, em fins de Dezembro de 1968.

F02 – Entrada das equipas em campo. Vai iniciar a partida, as equipas entram em campo, as balizas lá estão, não sei quanto tempo durava o jogo, mas não eram de certeza, 45+45’.  Foto captada em São Domingos, em fins de Dezembro de 1968.

F03 – Estão a decorrer as provas de salto em altura.  Eu fiquei de fora, a ver, e a fazer as fotos. Foto captada em São Domingos, em fins de Dezembro de 1968.

F04 – Jogo de futebol a decorrer entre 2 companhias. O árbitro está lá, parado, não corre, o relvado não ajuda, a maioria da assistência está ao abrigo do Grande Poilão, o sol pesa nas cabeças. Foto captada em São Domingos, em fins de Dezembro de 1968.

F05 – Salto à vara em altura. É claro que ganharam as equipas de soldados pretos, é a especialidade deles, saltar. Foto captada em São Domingos, em fins de Dezembro de 1968.

F06 – Jogo de Basquetebol. Grande confusão na área do cesto. Agora a ver, parece que apareço por lá, mas sem óculos, pois não podia jogar nada com eles. Foto captada em Nova Lamego em 20 de Fevereiro de 1968.

F07 – Jogo de Futsal. Confirma-se a foto anterior, o guarda-redes é o autor, mas sem óculos. Desde pequeno que era onde mais gostava de jogar – na baliza  –, na rua com as famosas bolas de pano feitas com meias velhas. Foto captada em São Domingos, em 20 de Fevereiro de 1968.

F08 – (Nâo reproduzida por falta de qualidade.) Jogo de futebol. Os primeiros jogos feitos em Nova Lamego, a malta tinha acabado de chegar, e ali havia muita ‘matéria-prima’ para formar equipas. Foto captada em Nova Lamego em finais de Dezembro de 1967.

F09 – Aspecto do estádio durante os jogos. As instalações desportivas ficavam mal tratadas, aliás já estavam sempre, as chuvas destruíam tudo, estamos no fim da época. Foto captada em São Domingos, em fins de Outubro de 1968.

F10 – Jogo de futebol. Jogo entre malta branca e preta, parece que também há miúdos pretos, talvez.
Eu segurava a bandeirola do canto, para não sair com alguma jogada mais dura. Foto captada em São Domingos, em fins de Outubro de 1968.

F11 – Distribuição de prémios pelas equipas. Tive direito a beber uma cerveja pela taça dos campeões africanos.

Não percebo uma coisa agora que olhei para as chuteiras. Já os nossos soldados usavam em 1968, Ténis e Sapatilhas que estão hoje em moda, eu só comprei um par delas da Fred Perry há menos de dois anos, e não vou comprar mais, porque não gosto.

Por outro lado, eu já vestia calças de ganga americanas, usadas, que não havia na Metrópole, e também só experimentei uma vez há mais de 20 anos, teria de usar suspensórios, aquilo era uma grande palhaçada, ri tanto e nunca vesti depois de vir da Guiné, mais nenhuma ganga.n Foto captada em São Domingos, em fins de Dezembro de 1968.

F12 – Mais um jogo de futebol no Batalhão. Para apuramento das equipas foram vários os jogos realizados, este é mais um, e o pessoal a assistir está na sombra do Poilão. Foto captada em São Domingos, em fins de Dezembro de 1968.

F13 – Uma foto de família para mais tarde relembrar. Penso tratar-se de uma foto no final de tudo, mas pode ser antes de tudo. Vejo pessoal vestido com as camisolas, outros com fardas, temos lá o ‘Padeiro’, e o Alferes Teixeira a observar! Foto captada em São Domingos, em fins de Dezembro de 1968.

F14 – Baliza de futebol no meio de nada. Uma foto onde se faziam os jogos, mas pelo mato deve ser no fim das chuvas. Foto captada em São Domingos, no 4º Trimestre de 1968.

F15 – Torneio e jogos de Verão. Um jogo isolado, não fazendo parte de nenhuma competição. Foto captada em São Domingos, no 1º Trimestre de 1969.

«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BCAÇ 1933 / RI15, Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21Set67 a 04Ago69».

Fotos relegendadas em 2019-11-12, Virgílio Teixeira