quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5295: Histórias de Juvenal Candeias (6): Padaria de luxo em Cacine

1. História de uma padaria de luxo, ali para os lados de Cacine, enviada pelo nosso camarada Juvenal Candeias, ex-Alf Mil da CCAÇ 3520, Cameconde, 1971/74, em mensagem do dia 16 de Novembro de 2009:

PADARIA DE LUXO DE CACINE

A ideia generalizada de que a dieta dos militares na Guiné era bastante pobre, correspondendo, embora, à verdade, apresentava algumas excepções.

De facto, em muitos locais, o isolamento, em especial na época das chuvas quando não era possível efectuar reabastecimentos, implicava rupturas nos géneros, com as implicações daí derivadas!
Também as situações de flagelação constante aos aquartelamentos impediam o reabastecimento, como aconteceu em Gadamael, em Maio e Junho de 1973!
Quem andou por Gadamael nessa época lembra-se que os gatos desapareceram completamente! Parece que gato com ervilhas, era um pitéu de eleição!

Em Cacine, embora as épocas de crise alimentar também tenham existido, épocas em que a bianda (arroz) com conserva de cavala, ou até mesmo com marmelada, constituía verdadeiro pitéu, comia-se razoavelmente, na maior parte do tempo!

De facto, o Rio Cacine permitia enriquecer a dieta com refeições de peixe, que, apesar de pouco diversificado, era abundante, distinguindo-se o tubarão, normalmente preparado em filetes.

A caça, efectuada por caçadores nativos, era também frequente: a gazela, o tatu, o porco-espinho, o javali, o muntu (burro de mato), eram pratos frequentes e, quando, por razões de guerra os caçadores receavam sair… havia ainda o macaco!

E o pão!... De fabrico diário, sempre fresco, era uma delícia!

A partir de certa altura passou mesmo a ter sementes no seu interior.

O que me levou a alguns comentários de elogio com o Sargento Pestana, que, para minha grande admiração, contestou de muito mau humor, no seu característico sotaque alentejano, de Elvas:

- Sementes… sementes… eu acho é que aquilo são caganitas de rato!

Não era razoável que assim fosse! Se o pão sempre tinha sido tão bom...

Padaria de Luxo de Cacine - Três Alferes Milicianos à espera de pão quente… com sementes.

De qualquer modo lá fui convencido pelo Pestana a, qual ASAE, fazer uma inspecção à padaria, naquele mesmo momento, hora em que o padeiro não estava a trabalhar.

Entrámos na padaria… e o nojo foi imenso!
Ausência de higiene, dois sacos de farinha completamente abertos, a farinha em contacto com aquilo que de rastejante por ali passasse, enfim… indescritível!

Despejámos a farinha que restava nos sacos abertos em cima da mesa, espalhámo-la muito bem e… lá estava, agora que não estavam cozidas dentro do pão, não restavam dúvidas… eram mesmo caganitas de rato!

Mandámos imediatamente chamar o padeiro e… enojados e irritados, afirmámos, quase em uníssono:

- Ganda porco! Andas a servir ao pessoal pão com merda de rato?! Não tens vergonha?! A partir de agora, por cada caganita de rato que aparecer no pão, vais três dias para a prisão. Seu porco!... Desaparece!...

E foi deste modo que o pão com sementes, que chegou a ser bastante apreciado, padaria de luxo de Cacine, foi completamente banido do mercado.

Juvenal Candeias
Novembro 2009
__________

Nota de CV:

Vd. poste de 16 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5282: Gabriel Telo e José Carlos Machado, CCAÇ 3518, Guidaje, 1973: Presentes ! (Juvenal Candeias)
Vd. último poste da série de 16 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5113: Histórias de Juvenal Candeias (5): Vicente, o Piu

Guiné 63/74 - P5294: Blogoterapia (129): A guerra que Portugal não ganhou (José Teixeira)

1. Mensagem de José Teixeira*, ex-1.º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70, com data de 18 de Novembro de 2009:

Caros Editores
Saúde e bem estar.

Há tempos enviei um artigo em resposta ao José Belo sobre os Ui! ui! de Mampatá, a solicitação do Luís, que não vi publicado. Agora já perdeu a oportunidade, pelo que não agradeço não o publiquem.

Há dias, enviei um trabalho sobre a Tabanca de Matosinhos que também não veio a lume.
Suponho que é uma questão de falta de tempo que compreendo. Se for por outra razão por favor avisem-me**.

Abusando um pouco, junto um novo artigo sobre um assunto velho, que a meu ver nunca será esgotado. Se entenderem que não é oportuno a sua publicação, por favor avisem-me.

Abraço fraterno
José Teixeira


2. Blogoterapia > A guerra que Portugal não ganhou
por Zé Teixeira

Guerra que não for inclinação natural ou expressão de um desejo, torna-se difícil. (Li esta frase no “Cidadela”, do Saint-Exupéry, piloto francês desaparecido num raide aéreo durante a segunda guerra Mundial. Muito conhecido pelo seu livro “ O Principezinho”)

Deixei-me transportar para a guerra que fui forçado a fazer na Guiné. Guerra, que uns teimam a afirmar que estava perdida, outros, atiram-se para o chão a afirmar que não estava perdida, mas também não estava ganha nem a ganharíamos, penso eu.

Tenho lido no nosso blogue, muita coisa sobre este tema. Tenho reflectido nele, mas não tenho comentado. Esperei que as águas acalmassem um pouco. Agora ponho em comum o resultado da minha reflexão, respeitando todas as opiniões.

O povo a que pertenço, o de brandos costumes, como se orgulha que seja classificado, não tinha de facto nenhuma inclinação para a guerra que estava a fazer. Por mais apelos que se fizessem ao meu patriotismo, a Guiné, não me dizia nada, como parte de Portugal. Talvez me sentisse um pouco orgulhoso por pertencer a um país tão grande. Na verdade tinha aprendido desde os bancos da escola que Portugal ia do Minho a Timor, mas nada me ligava a África, como me ligava o meu Porto, Trás-os-Montes ou o Algarve.

Guerra que não era a expressão de um desejo de um povo, o nosso povo português, como seria por exemplo se fôssemos invadidos pelos espanhóis. A demonstrá-lo basta pensar na forma como o povo português aderiu ao 25 de Abril.

Era, sim, a expressão do desejo de um sistema político, que como a história já provou, estava a fazer, teimosamente, uma leitura errada, não sei se propositadamente, dos ventos da história contemporânea que, na sequência da Primeira Guerra Mundial e sobretudo depois da Segunda, gerou uma dinâmica de liberdade nos povos autóctones controlados pelos europeus.

Efectivamente, a sua participação directa ou indirecta nos conflitos mundiais, através dos países que os tutelavam política e economicamente, permitiu aos povos dominados, uma leitura de que seriam capazes de assumir e gerir o seu próprio destino. Para o bem e, ou para o mal.

Esses ventos de mudança, chegaram, naturalmente, às colónias portuguesas. Foi só dar gás à sua inclinação natural para a liberdade sonhada. Alimentada por interesses de terceiros e combatida ferozmente pelo sistema político português, gerou uma guerra na qual me envolveram. Era realmente a expressão de um desejo, mas de um povo, não o português, mas o guineense.

Voltando a Saint Exupéry, ele afirma:
- Então o vosso exército será semelhante a um mar que não exerce pressão sobre um dique. Sois uma massa sem fermento. Uma terra sem semente. Uma multidão sem desejos…

Somos, todos, testemunhas do desejo forte que nos alimentava o espírito. Apenas e só, o desejo de voltar, são e salvo. Poucos de nós, creio que mesmo muito poucos, tinham assumido conscientemente o desejo de lutar pela Guiné de Portugal. E, aos que tal acontecia, rapidamente mudavam de opinião face à realidade vivida.

Para os comandantes, desde os furriéis milicianos ao capitão, tenho orgulho em afirmá-lo, era seu grande e fundamental desejo, regressar com todos os seus homens.

Numa situação destas em que não havia alma no projecto de guerra, para o qual fomos atirados, os generais limitavam-se a administrar a guerra em lugar de a conduzir. Quem diz, os generais, diz os oficiais do Q.P. que se refugiavam nos gabinetes do ar condicionado, salvo honrosas e valorosas excepções, a quem presto a minha homenagem. Deixem-me, em abono da verdade, afirmar que poucos oficiais do Q.P. conheci no interior da Guiné, mas esses poucos eram pessoas com grandes qualidades humanas e excelentes condutores de homens.

É um facto histórico que, logo no início da guerra, as Forças Armadas disseram ao poder instituido, pela voz dos seus mais altos dignitários, que a solução era de cariz político. Era aos políticos que cabia a responsabilidade de acabar com uma guerra para a qual o povo português não tinha inclinação natural, nem era para si a expressão de um desejo.

Aos militares cabia-lhes aguentar a situação.

De nada vale, agora ou num futuro próximo, os historiadores tentarem explicar as causas do desastre. Sim, um desastre para nós, que saímos sem glória de uma terra, regada com o sangue de tantos compatriotas, deixando os povos entregues a si mesmos, sem a preparação adequada para gerirem a liberdade conquistada. Um desastre para os povos que, para conseguirem a sua independência, tiveram de derramar o sangue dos seus melhores filhos e, porque não estavam preparados para a liberdade que sonhavam, a têm esbanjado. Receberam-na de bandeja, sem contar, quando o poder político de Lisboa caiu.

Dirão os historiadores, para nos justificar, que o inimigo se serviu de técnicas de guerrilha, para as quais não estávamos preparados, tinha melhor equipamento, conhecia melhor o terreno, possuía elementos infiltrados nos nossos espaços de actuação, etc, etc, etc.

Penso que o inimigo, mais que tudo isso, que em parte é pura verdade, tinha, sim, uma forte vontade de ganhar a liberdade sonhada. Tinha a alma que nos faltava.

Nós, portugueses, fomos fazer a guerra com objectivo político de fazer a paz. O que eu senti é que por onde passava, alimentava mais a guerra.

A paz não é um estado que se atinge através da guerra. Se acredito na paz conquistada pelas armas e desarmo, corro o risco de morrer, como diz o Saint Exupéry.
Creio que foi isto mesmo o que nos aconteceu na Guiné.

Como não havia a tal inclinação natural, por se tratar, quer queiramos, quer não queiramos, uma terra estranha e inóspita, que pouco ou nada nos dizia afectivamente, não existia em nós o tal forte desejo de vencer, mas sim a vontade de regressar.
Os nossos oficiais de comando directo, na sua grande maioria milicianos, sofriam desta mesma doença. Logo, assumida a queda do poder político que nos forçava a fazer a guerra para tentar conseguir o impossível – a sua paz -, deixaámos cair as armas, de tão cansados que estávamos. Quem os pode censurar?

Não ganhámos nem perdemos a guerra. Saímos da guerra sem glória.

O inimigo, tornado agora amigo, não ganhou a guerra. Recebeu um presente envenenado. Um País com um povo dividido. Um povo profundamente confundido. Parte, que ontem era português e hoje já não o é. Parte, que ontem recebia ordens para combater os Tugas assassinos, que nos negam o direito à independência e à liberdade e hoje recebe ordens para visitá-lo e fazer festa.

Recebe um país sem estruturas, (estavam na mão dos dominadores que se foram embora). Sem pessoas com capacidade técnica e política para gerir o País, pois até então tinha apostado na formação de guerrilheiros combatentes. Sem trabalhadores. A força braçal estava quase toda empenhada na guerra, que acabou. A sua experiência era trabalhar com a G3 ou a Khalash.

Sem técnicos para dinamizar a agricultura, base da riqueza da Guiné, praticamente abandonada, devido ao esforço de guerra, por ambas as partes. Sem técnicos para desenvolver comércio e a parca indústria, áreas fundamentais para o desenvolvimento, que estavam na mão de firmas afectas ao regime colonizador.

Afinal quem ganhou a guerra?

Não foi o povo português, mas também não foi o povo guineense.

Foram algumas patentes douradas que a alimentaram, dentro gabinetes, quando integrados dentro do sistema político português, ganhando chorudo pré. Escamoteando ou escondendo a verdade da guerra, iam-na alimentando, enviando carne para canhão.

Foram os militares oportunistas do PAIGC, transformados em políticos de aviário, que acorreram a Bissau e agarraram os poleiros.

Os povos, esses, que tanto lutaram e sofreram, perderam. E continuam a perder. Queixámo-nos, nós os ex-combatentes, por nos sentirmos desprezados, abandonados e espezinhados pelos novos senhores do poder político. O povo da Guiné, continua na miséria. Sem esperança a curto, médio, longo prazo de conseguir libertar-se do fantasma da fome.

Dizia-me em 2008 um conceituado chefe guerrilheiro, que se retirou para a sua tabanca de origem quando acabou a guerra e se dedicou à agricultura:
- A paz e o bem-estar só se vai conseguir, quando os meus camaradas da guerrilha, os generais morrerem e cederem o lugar a pessoas competentes.

Alegra-me no entanto encontrar um povo que continua a acreditar que é possível a mudança. Alegra-me muito a forma como me recebe. Como me pede para voltar. Não escondo que chorei de emoção quando a velhinha Fatma, (tem agora 96 anos,) mulher do Régulo Chambel de Contabane, me abraçou em 2005 dizendo:
- Branco volta ! Branco volta !.

Sinais de uns tempos que vivemos em conjunto para uns e em confronto mortal para outros, os quais poderiam estar marcados pelo ódio, mas bem pelo contrário reflectem uma relação de afecto e carinho.

É essa relação de bem-estar que nos faz correr para lá, em visita aos lugares por onde passamos e às pessoas com quem convivemos. É essa relação que nos faz pensar em formas de colaboração e ajuda, de modo a tentar que aquele martirizado povo saia do burako.

Talvez, até num estado de guerra, conseguimos ser um povo de brandos costumes. Quem sabe!


A Fatma Chambel

O João Rocha e a sua lavandera
Em Mampatá com a Ádama e com a Djuba e Zé Teixeira
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 24 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 – P5001: Ser solidário (38): O Zé tem 840 € para comprar sementes (José Teixeira)

(**) Foi enviada mensagem ao Zé Teixeira a propósito deste assunto.

Vd. último poste da série de 16 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5281: Blogoterapia (128): (Im)possível regress(ã)o (Torcato Mendonça, CART 2339, Mansambo, 1968/69)

Guiné 63/74 - P5293: Tabanca Grande (187): Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70)

1. Mensagem de Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70, com data de 15 de Novembro de 2009:

Camarada e amigo Luís Graça,

As estórias que vou contar interligam-se, relacionam-se com a desdita sina já descrita em parte por outros camaradas, relativamente a um dos dois militares falecidos, em Aldeia Formosa, ao anoitecer do dia 22/01/69, devido ao acidente com a detonação de uma granada de mão, sobre um telheiro da messe dos Sargentos e por outra situação vivida por mim, aquando um forte ataque IN ao Quartel de Buba, na madrugada de 14/02/69, na sorte que me bafejou e a muitos camaradas, se bem me lembro a CCaç 2317 “Os mártires de Gandembel” também lá estavam de passagem.

Encontro-me por este meio a enviar em anexo um documento em formato PDF* com as estórias e algumas fotografias para ilustrar as mesmas.

Por hoje é tudo dando-te um forte aplauso de incentivo, que é de louvar a tua disponibilidade assim como dos co-editores, de tanto (quanto possível) poderem apresentar o blogue de forma organizada, para que possamos manter viva a nossa mística de ex-combatentes, sobre tempos idos tão difíceis e que nos valorizaram como homens.

Cordiais saudações, e, recordando com o complicado vocabulário e pontuação de, “djubi, amim mist parti manga di mantenhas pra abó, bai suma pra manga dêl escamaradas di tertúlia, járame ánãni.” (i.e., do crioulo: olha, eu quero dar muitos cumprimentos para ti, vai igual para todos os camaradas da tertúlia, obrigado está bem).

Arménio Estorninho
Ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas
LAGOA


APRESENTAÇÃO

Meu nome é Arménio Gonçalves Freire Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, participei na guerra colonial na Guiné e pertenci à CCaç 2381 - “Os Maiorais de Empada, assim como o camarada ex-1.º Cabo Enf Zé Teixeira, da tertúlia Tabanca Grande. Estive em comissão de serviço no Sul da Guiné em 1968/70, em zonas de muita intervenção militar, como já tem sido descrito por outros camaradas que por lá passaram, não fui herói mas um felizardo, porque nas horas erradas estava nos lugares certos, estórias que não deixarei de contar em próximas oportunidades e apresentando o meu álbum de várias dezenas de slides e fotos que produzi, de quando da minha passagem por Bissau e por outras localidades do interior.

Foto 3 > Guiné - Bissau - Região de Quinara – Empada, em 1969, na LDM e após missão na Península de Cubisseco - Darsalame, conjunta de 2 Grupos de Combate da CCaç 2381 “Os Maiorais” e do Destacamento de Fuzileiros Especiais, sediado em Buba (?)

Foto 4 > Guiné-Bissau – Região de Quinara – Empada, em 1969, na Porta de Armas e após o arrear da Bandeira.

Foto 6 > Guiné – Bissau – Região de Quinara – Empada – Enfermaria, em 1969, estou eu de baixa às “cavalariças”e o ex-1.º Cabo Enf.º Zé Teixeira, (o polivalente paramédico) de Leça do Balio –Matosinhos.

No relacionamento com a população aprendi um pouco de crioulo, do qual ainda consigo manter alguma conversação, porque em Empada tinha a confiança dos Homens Grandes, dado que produzia fotografias, oferecia petróleo e gasóleo, para iluminação das Tabancas, disfarçadamente enchia de gasolina o depósito da motorizada do Chefe de Posto, (até ao dia que este deixou de estar em estado de graça perante os militares, por ter batido num elemento da população o Kebá e por isso foi transferido).
A partir de 14/12/69, a Administração Pública do Subsector de Empada passou a ser desempenhada pelo Capitão da Companhia Eduardo Moutinho. Aquela minha forma de proceder dava-me a oportunidade de conviver com a população e por conseguinte era convidado para diversos eventos.

Foto 5 > Guiné – Bissau - Região de Quinara – Empada, em 1969, acompanhado com os Homens Grandes, das Tabancas de Empada.

Sou sócio da Liga dos Combatentes, Núcleo de Lagoa/Portimão, o qual edificou um Monumento Memorial aos Combatentes do Ultramar oriundos do meu concelho, inaugurado a seguir ao de Lisboa a 9 de Abril, onde são feitas as devidas homenagens e, anualmente, promove um jantar convívio dos combatentes do ultramar e suas famílias.

Foto 14 > Lagoa – Algarve, 9 de Abril, de 2009, Largo Combatentes da Grande Guerra, Monumento Memorial aos Combatentes do Ultramar, oriundos deste Concelho.

Sendo um assíduo frequentador de blogues e Web sites, que tenham relacionamento com a Guiné-Bissau, como sinal de afirmação da nossa camaradagem, tive a pretensão de colaborar com o Blogueforanadaevaotres e pertencer à Tabanca Grande, o que desde já agradeço pela tua boa receptividade.


Acerca de mim
Arménio G. F. Estorninho
Curriculum Militar


Inspecção Sanitária de Recrutamento, em Lagoa - Algarve, em 1966;
Exame Psicotécnico no Regimento de Lanceiros 1, em Elvas, em 1966, pela situação ocasionou por opção de só entregar as habilitações literárias após o prazo legal, assim foi e por conseguinte fui incorporado no contingente geral;
Frequentei a Recruta no Regimento de Lanceiros 1- CICA 3, em Elvas, em 1967;
Aprovado na Especialidade de Mec Auto Rodas, na EPSM, em Sacavém;
Colocado no Regimento de Cavalaria 4, em Santa Margarida, em 1967;
Promovido ao posto de 1.º Cabo, em 1968;
Mobilizado para a Guiné, pela Unidade RI 2, aquartelada em Abrantes, com a concentração do pessoal na CCaç 2381;
Embarquei no NTT Niassa em 01/05/68, cheguei ao Porto de Bissau a 06/05/68 e regressei em 03/04/70 no mesmo NTT, por ter terminado a comissão de serviço;
Estive em Ingoré, Aldeia Formosa (Quebo), Buba e Empada;
Fui punido e louvado;
Desmobilizado e integrado na vida civil;

Bissau – Brá, Abril de 1970, CCaç 2381 “Os Maiorais de Empada”em Parada, na presença do Comandante-chefe Gen. António de Spínola, no final da Comissão de Serviço e regresso (faltaram três à chamada, o "Velho", o "Cantiflas" e o "Perdigueiro"), foi apresentada pelo ex-Cap Mil Grad Eduardo Moutinho, ex - Fur Mil Enf António Chico, “O Porta Guião” e o ex-Alf Mil Joaquim Barbosa que já nos deixou.


O meu perfil


Nome: Arménio G. F. Estorninho
Idade: 63
Sexo: masculino
Signo astrológico: Caranguejo
Sou casado com Maria Eugénia Estorninho
Pai do Roberto Estorninho, Doutorando em Gestão de Empresas, Gestor de Empresas, Instrutor de Ténis, e Presidente de uma Associação Cultural sem fins lucrativos.
Naturalidade: Lagoa - Algarve
Residência: Lagoa - Algarve
E-mail: aestorninho@megamail.pt e estorninho75@hotmail.com


Habilitações literárias e profissionais

Antes do serviço militar:
Curso Secundário da Escola Industrial de Silves;

Depois do serviço militar continuei na progressão dos estudos e na qualificação:
Exame de Aptidão Profissional do Ensino Técnico;
Curso de Agentes Sanitários, obtido pelo Instituto Nacional de Saúde, Doutor Ricardo Jorge – Lisboa
Equivalência ao Curso Geral dos Liceus;
Frequência do 1.º Ano do Curso Complementar dos Liceus;
Equiparação ao Curso Complementar de Mecanotecnia (11.º Ano);
Transição para a Carreira de Técnico de Diagnóstico e Terapêutica, com o título profissional de Técnico de Saúde Ambiental;
Local do exercício de funções, Centro de Saúde de Lagoa – ARS Algarve
Actualmente estou na situação de aposentado pelo Ministério da Saúde;

Ocupação e lazer

Manutenção de uma pequena quinta;
Entretenimento em informática, na fotografia, colaborador em programas radiofónicos, como animador musical e comentador desportivo na área do futebol de onze;
Tendo como leitura favorita, Livros Técnicos Profissionais e sobre História de Portugal e Universal;
Tive actividade desportiva como Árbitro de Futebol da 1.ª Divisão Regional e Fiscal de Linha da 1.ª Divisão Nacional, de futebol de onze (já em fora de actividade por limite de idade).


2. Comentário de CV

Caro Arménio, sê bem-vindo à Tabanca.
Fizeste uma apresentação tão completa que não me lembro de alguém ter feito igual ou parecido. Ficamos a conhecer-te bem. Muito obrigado pela tua abertura. Pelo que dizes, és uma pessoa multifacetada, logo com conhecimentos em áreas muito diversificadas.

O conteúdo da tua primeira mensagem faz prever uma frutuosa colaboração no blogue. Cabe-te não nos desapontar.
Como te disse em mensagem que te enviei, os teus trabalhos nunca deverão vir em formato PDF, porque não poderão ser editados. As fotos devem vi em formato JPEG ou então integrados nos textos que nós cá as editaremos.

Porque este poste ia ficar muito extenso, o trabalho que enviaste vai ser publicado à parte.

Vamos ficar à espera das tuas histórias relacionadas com acontecimentos que viveste ou presenciaste. Conta connosco para as publicar, pois não estamos aqui para outra coisa.

Recebe um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia.
CV
__________

Notas de CV:

(*) O Arménio Estorninho enviou posteriormente o mesmo trabalho em formato Doc a fim de poder ser editado para publicação.

Vd. último poste da série de 11 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5256: Tabanca Grande (186): João Bonifácio regressa em Janeiro de 2010 ao solo pátrio (Os Editores)

Guiné 63/74 - P5292: Controvérsias (54): A. Lobo Antunes faz dos militares portugueses um bando de assassinos frios e sem piedade (J. Mexia Alves)

1. Mensagem, com data de ontem, do nosso camarigo (camarada + amigo) Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas), Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa) (1971/73):

Meus caros camarigos:

Em comentário ao texto do Amílcar Mendes (*), aqui deixo a minha opinião.

Podem colocá-lo como comentário ou fazer dele o que quiserem, apenas vos digo que isto deve ter sido das coisas que mais me insultou como ex-combatente da guerra do Ultramar.

«Eu tinha talento para matar e para morrer. No meu batalhão éramos seiscentos militares e tivemos cento e cinquenta baixas. Era uma violência indescritível para meninos de vinte e um, vinte e dois ou vinte e três anos que matavam e depois choravam pela gente que morrera. Eu estava numa zona onde havia muitos combates e para poder mudar para uma região mais calma tinha de acumular pontos. Uma arma apreendida ao inimigo valia uns pontos, um prisioneiro ou um inimigo morto outros tantos pontos. E para podermos mudar, fazíamos de tudo, matar crianças, mulheres, homens. Tudo contava, e como quando estavam mortos valiam mais pontos, então não fazíamos prisioneiros».

Estas são, por aquilo que me é dado saber, as frases proferidas por Lobo Antunes e que são objecto da justa indignação do Amílcar Mendes e de muitos mais.

Para mim, muito mais importante que a frase: «Eu tinha talento para matar e para morrer», que até posso levar à conta de liberdade de expressão do escritor, (embora me pareça mais uma “boca idiota” de auto-elogio de quê não se sabe), são as afirmações que faz seguidamente, essas sim de uma gravidade muito séria e que colocam em causa todos os ex-combatentes, na sua dignidade, na sua humanidade, bem como as Forças Armadas Portuguesas, para além da enorme mentira que contêm.

Lembremo-nos que Lobo Antunes esteve em Angola já nos anos 70, ou seja, quando a guerra em Angola estava praticamente acabada, (cheguei a Angola no início de 74 e circulava-se livremente por todo o território), e portanto as operações militares, sobretudo ao nível dos Batalhões em quadrícula, não eram de molde a provocar as baixas que ele cita e muito menos a barbárie que ele refere.

Para um Batalhão em Angola ter naquele tempo 150 baixas, (que número tão redondo), como ele refere na mesma ocasião, deve ter contado as baixas por matacanhas e as unhas encravadas!

Um dos meus irmãos mais velhos esteve no Norte de Angola de 63 a 65, sempre em zonas de combate, e disse-me peremptoriamente que essa história dos pontos é uma pura e simples invenção, o que aliás nós bem percebemos, porque se fosse prática em Angola porque não o seria na Guiné e em Moçambique?

Mas são sobretudo estas duas frases que me indignam, «E para podermos mudar, fazíamos de tudo, matar crianças, mulheres, homens. Tudo contava, e como quando estavam mortos valiam mais pontos, então não fazíamos prisioneiros», porque faz dos militares portugueses um bando de assassinos frios e sem piedade, o que nós sabemos nem de longe nem de perto corresponde à verdade.

Não nos esqueçamos que são frases proferidas por um médico, que já o era, e que
portanto estava, devia estar, arredado das acções directas de combate.

Coloca também em causa os seus camaradas de Batalhão, fazendo deles uma espécie sub-humana, sem sentimentos e a roçar o animalesco! (...)

Pode ser um grande escritor, pode ser um bom médico, pode ser um intelectual, mas não é com certeza um homem decente quando profere estas aleivosias e insulta os ex-combatentes e as Forças Armadas Portuguesas.

E, desculpem, mas não perco mais tempo com este gajo!!!

Abraço camarigo para todos.
Joaquim Mexia Alves

2. O Joaquim já tinha deixado um comentário no poste do Amílcar (*). Tomo a liberdade de reproduzir o seguinte excerto:

(...) Mas repara meu amigo, que já aqui por variadas razões se “terçaram armas”, por vezes bem mais “violentamente”, por outros ditos de militares, jornalistas, etc, e considero que não podemos invocar os talentos de Lobo Antunes para a escrita, ou as suas capacidades intelectuais, ou a sua bela definição de camarada de armas, para nos eximirmos de o criticar quando diz coisas que atentam contra a dignidade de todos os ex-combatentes, sobretudo os que estiveram em Angola, e isso toca-me como ex-combatente e toca-me na família.

Um homem grande, de honestidade intelectual, que eu apesar de tudo acredito que ele é, já devia ter “vindo a terreiro” explicar as suas palavras e se exagerou, (e quem de nós não o fez já em determinadas circunstâncias?), devia retratar-se e explicar que tudo não passou de “figuras de estilo”. (...)


3. Comentário de L.G.:

As infelizes frases ditas, no estrangeiro, por um escritor de que eu sou leitor, mas que só conheço de vista (autografou, ao meu filho, adolescente, um dos seus livros há já uns largos anos na Feira do Livro de Lisboa, ainda era vivo o seu grande amigo, o José Cardoso Pires que estava a seu lado, e que escreveu uma ternurenta dedicatória à minha filha no seu livro "Hóspede de Job"), essas infelizes frases, dizia eu, reportam-se à sua condição de médico militar durante a guerra colonial e, nessa qualidade, não nos podem deixar indiferentes, dizem-nos também respeito... Em todo caso, não podem ser usadas como título de caixa alta, postas entre parênteses, fora de contexto, muito menos como libelo de acusação para linchamento do homem e do escritor em praça pública...

Há que ler o livro e inserir essas e outras frases no contexto da experiência do autor que era, antes de mais, um oficial miliciano e só depois médico e só mais tarde escritor (em 1985, torna-se escritor profissional, abandonando a psiquiatria)... Deixo aqui outras frases do livro, o qual resulta - é bom não esquecê-lo! - de uma longa conversa com o Lobo Antunes, mantida pelo jornalista João Céu e Silva (que é, de facto e de jure, o AUTOR DO LIVRO!), entre Setembro de 2007 e Maio de 2009:

(...) [JCS] Dessa guerra há um dia que o tenha marcado mais do que todos os outros ?

[ALA] Há o dia 13 de Outubro de 1972, mas não posso dizer porquê. Foi uma violência, nunca vou equecer esse dia! (p. 111)...

(...) Eu nunca quis falar nem nunca escrevi sobre a guerra! (p. 110)... Há dias, tive uma conversa com um amigo... e recordei algumas coisas da tropa, o resultado foi que passei uma noite má. Acho que não há quem não tenha vindo de lá afectado (p. 111)...


Qual é esse terrível segredo que o escritor tem guardado, até hoje, só para si? E que não quis compartilhar com o João Céu e Silva (p. 391) ?... Aliás, essa "declaração inédita", esse terrível parágrafo que começa pelas terríveis palavras "Eu tinha talento para matar e para morrer"... podem ser "parte da solução do mistério sobre um certo episódio em África que se recusou a revelar-me" (sic) ... E, se for de facto assim, é um daqueles segredos que o homem leva para a cova , e não apenas uma manifestação da imaginação delirante do autor de "Memória de Elefante" (1979) ?

De resto, as declarações do veterano da guerra colonial de Angola podem levantar (levantam, seguramente) uma questão ética, que tem ver com ambiguidade, confusão e conflito de papéis a que o Lobo Antunes também não escapa, como ser social: onde acaba a consciência moral do homem, do militar e do médico e começa a liberdade criativa do escritor ?

Os lapsos de memória do ex-oficial miliciano médico ou até a sua falta de rigor em relação a questões técnico-militares (por ex., calibres de armamento) devem ser tidas em conta, mesmo que não sirvam de desculpa... Por ex., na página 239, leio algumas coisas que me espantam e que não tenho a certeza de serem correctas (pode ser que alguém mo confirme):

"E à volta de cada mina, [os guerrilheiros do MPLA] punham várias minas antipessoais, porque a mina anticarro rebentava com duzentos quilos e a mina antipessoal, com a pica, eram mais quarenta quilos e aquela merda estourava toda. Mas asim saía mais barata ao Estado , porque enquanto uma Berliet custava dois ou três mil contos, pela morte de um homem, por um rapazinho, paam quatrocentos contos à família. Ficava mais barato!"

Confesso que já não sabia a que pressão rebentavam as minas e, muito menos, que o Estado pagava, na época, 400 contos de indemnização à família pela perda de um vida, cinco ou sete vezes e meia menos do que o custo de uma Berliet do Tramagal...

Fico por aqui. Não sou advogado do escritor, muito menos do homem. E quero sobretudo reafirmar aqui um dos nossos princípios fundamentais, a (ix) liberdade de expressão (entre nós não há dogmas nem tabus), princípio esse que tem que ser compatível com o (i) respeito uns pelos outros, pelas vivências, valores, sentimentos, memórias e opiniões uns dos outros (hoje e ontem)...

Quadratura do círculo ? Às vezes as peças não encaixam mesmo...

[ Revisão / fixação de texto / bold a cores / título: L.G.]

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Nota de L.G.

(*) Vd. poste de 17 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5283: Carta aberta ao António Lobo Antunes: que p... é essa de ter talento para matar ? (Amílcar Mendes, 38ª Cmds, 1972/74)

Guiné 63/74 - P5291: Convívios (176): Camaradas da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851 procuram restaurante em Fátima para o seu convívio de 2010 (Raul Albino)

1. Mensagem de Raul Albino, ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, , Mansabá e Olossato, 1968/70, com data de 17 de Novembro de 2009:

Prezados editores,
Agradecia me publicassem este pedido de ajuda do organizador dos nossos convívios, Maurício Esparteiro, ex-fotógrafo "oficial" da companhia.


CONVÍVIO DA CCAÇ 2402 PARA 2010 - LOCAL: FÁTIMA

A pedido de vários participantes nos nossos convívios anuais, foi decidido efectuar o convívio do próximo ano em Fátima. O único problema é que não temos ninguém, ainda vivo, que seja natural dessa região para nos ajudar a escolher um Restaurante para nos acolher.

Lembrei-me eu se não haverá alguém no blogue que já tenha estado nalgum convívio da sua unidade, em Fátima ou arredores (até 5 kms.), cujo restaurante tenha sido agradável, com boa comida, a um preço razoável.

Se alguém nos puder ser prestável em nos fornecer esta informação, pedia que me indicassem o nome do Restaurante, a sua localização e alguma referencia positiva de que se lembrem, por exemplo: o preço, qualidade de serviço ou qualidade da comida e qualidade das instações. Esta última é muito importante porque, sendo o convívio no Verão, a falta de ar condicionado ou boa ventilação e frecura, pode tornar-se um pesadelo. Este ano o nosso convívio em Tomar foi uma sauna.

Agradeço antecipadamente a vossa colaboração e envio a todos um grande abraço,
Raul Albino
ralbino@sapo.pt
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5257: Convívios (173): Almoço da CCAÇ 557, 7 de Novembro de 2009 - Almeirim (José Colaço)

Guiné 63/74 - P5290: Parabéns a você (43): Victor Condeço, ex-Fur Mil SM da CCS/BART 1913

1. 18 de Novembro é data em que se comemora o aniversário do nosso camarada Victor Condeço, ex-Fur Mil SM que pertenceu à CCS do BART 1913 e esteve por terras de Catió entre os anos de 1967 e 1969.

Não podíamos deixar passar este dia sem o vir felicitar por acrescentar mais um ano à sua vida, com a certeza de que terá ainda muitos mais pela frente.

A Tabanca está atenta e é com muito prazer que vê os seus tertulianos palmilhar a vida com passos firmes como quando garbosamente marchávamos.


No Poste 1301 do já longínquo dia 26 de Novembro de 2006, o Victor contava-nos assim um pouco do seu passado na Guiné:

Camarada Luís Graça,
Em primeiro lugar deixe-me cumprimentá-lo e elogiar o seu muito digno e meritório trabalho que tem conseguido levar por diante no blogue.
Ter já conseguido fazer deste blogue um referencial histórico de um período da história de Portugal, escrito pelas pessoas que fizeram essa própria história, não é obra fácil.
Que tenha a saúde, a disposição e a disponibilidade de tempo suficientes para poder continuar a sua obra e que não faltem as colaborações dos nossos camaradas e amigos da Guiné.

Sou assíduo frequentador desde Março de 2006, altura em que, procurando por mapas da Guiné, me deparei com este excelente sítio. Raro é o dia que o não visite, já li também a grande maioria dos postes mais antigos, onde recordei ou fiquei sabendo de acontecimentos que já não lembrava ou nunca soubera.
[...]
Sou um velho combatente (63 anos feitos ontem, dia 18 de Novembro), estou aposentado, meu nome é Victor Manuel da Silva Condeço, ex-Furriel Miliciano 00698264, do Serviço de Material – Mecânico de Armamento e, por isso mesmo, sem grandes histórias de guerra para contar. Este blogue teve a virtude de me despertar recordações, umas boas, outras menos boas, mas que nem por isso deixam de ser uma forma de reviver um passado de há quase quarenta anos.

Participei na Guerra da Guiné por obrigação, como aliás quase todos nós, desde 1 de Maio de 1967 a 3 de Março de 1969, fazendo parte da CCS do BART 1913 que era constituído também pelas CART 1687 (Cachil e Cufar), CART 1688 (Bissau e Biambi) e CART 1689 (Fá, Catió, Cabedú e Canquelifá).

Estive na região do Tombali na Vila de Catió, Comando de Sector, pertencente ao Comando de Agrupamento de Sectores de Bolama. As unidades deste sector eram: Bedanda, Cabedú, Cachil (i), Cufar e o destacamento de Ganjola (i), por todas passei em serviço.

Desembarquei em Catió a 2 de Maio de 1967, os vinte e um meses de comissão foram aqui cumpridos, até 20 de Fevereiro de 1969, data em que regressei a Bissau.

Um abraço Luis, por hoje é tudo.
Victor Condeço


Depois teve no Blogue uma colaboração excelente, donde destacamos os postes da listagem em rodapé.

Deixamos estas quatro fotografias do seu álbum fotográfico:

Catió > Victor Condeço com uma menina

21 de Setembro de 1967 > O Fur Mil Victor Condeço numa das suas inspecções ao armamento, verificando uma G3 no aquartelamento de Cufar.

Catió > O Fur Mil Vitor Condeço sentado na raiz do Poilão, tendo por fundo o edifício do comando.

Catió > O Fur Mil Victor Condeço em frente da habitação do administrador, ao cimo da avenida.
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Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1301: O cruzeiro das nossas vidas (4): Uíge, a viagem nº 127 (Victor Condeço, CCS/BART 1913)

3 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1335: Um mecânico de armamento para a nossa companhia (Victor Condeço, CCS/BART 1913, Catió)

3 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1336: Catió: Autor de pintura mural, procura-se (Victor Condeço)

21 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1387: Feliz Natal, Próspero Ano Novo, Adeus e Até ao Meu Regresso (9): Catió, 1967 (Victor Condeço)

8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1505: Lembranças da Vila de Catió (1): Albano Costa / Mendes Gomes / Vitor Condeço

15 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1528: Lembranças da Vila de Catió (2): Albano Costa / Vitor Condeço

19 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1535: Subsídios para a história da CART 1689, a que pertencia o Belmiro dos Santos João (Vitor Condeço)

11 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1582: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (9): O fascínio africano da terra e das gentes (fotos de Vitor Condeço

26 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1627: Lembranças de Catió (3): Albano Costa / Victor Condeço

13 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1756: Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, aquando da visita de Américo Tomás (Bissau, 1968) (Victor Condeço)

5 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2408: Sistema de cores dos bidões de Combustíveis & Lubrificantes, usados pelas NT no CTIG (Victor Condeço)

11 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2432: Diorama de Guileje (1): Geradores: Grupos Diesel Lister ou Frapil: fotos ou manuais, precisa-se (Nuno Rubim / Victor Condeço)

19 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2453: O que fazia um militar da ferrugem como eu ? (Victor Condeço, ex- Fur Mil Mec Armamento, CCS/BART 1913, Catió, 1967/69)

11 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3599: As Boas Festas da Nossa Tabanca Grande (4): Victor Condeço, Catió, Ex-Fur Mil Mec Arm, CCS/BART 1913, Catió, 1967/69

Vd. último poste da série de 15 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5273: Parabéns a você (42): Orlando Pinela, ex-1.º Cabo Reab Mat Auto da CART 1614/BART 1896 (Editores)

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5289: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (13): Distintivos das Unidades mobilizadas para o antigo Ultramar Português (Carlos Coutinho)


1. Um dos Amigos que acompanha o nosso blogue com muito interesse e nos tem prestado uma preciosa e discreta colaboração, chama-se Carlos Coutinho (cumpriu uma comissão militar no ex-Ultramar português).

Possuidor de uma das maiores colecções de Distintivos das Unidades mobilizadas para o antigo Ultramar Português, é ele que tem vindo a fornecer, para colocação em vários postes do blogue, emblemas e mini-guiões das companhias, batalhões e outras Unidades.
Em resposta ao meu pedido para nos dirigir algumas palavras, respondeu:

“… É óptimo despertar a malta, que tem em casa metidos nas gavetas Distintivos e Mini-Guiões, quiçá desconhecidos, ou pouco conhecidos, para certamente mais cedo, ou mais tarde, com o evoluir das narrações, verem a luz do dia.

Preocupa-me, no fundo, é a memória que se vai perdendo, já que há bastantes peças de que não se sabe absolutamente nada.

Agradeço esta oportunidade para chamar a atenção da “rapaziada”, para este pequeno problema.

Um abraço,
CCoutinho”

O Coutinho é assim um Camarada que se dedica a um gigantesco trabalho nesta matéria, que passa pela pesquisa do passado de cada Unidade e pela aquisição das peças que vai descobrindo, por aí nos estabelecimentos, em feiras, etc. e que ele, religiosamente, vai registando e compilando num imenso e bem organizado arquivo.

Podemos apreciar uma parte do seu trabalho no site, que ele tem estado a construir, com o seguinte endereço:

http://carloscoutinho.terraweb.biz/index.htm

10 de Junho em Belém/Lisboa. O Coutinho è o 2º de cócoras a contar da esquerda.

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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5288: Memória dos lugares (55): Pontes do Rio Corubal (Carlos Silva)

1. Mensagem de Carlos Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, 1969/71, com data de 13 de Novembro de 2009:


Amigos,

Já que estamos em matéria de pontes. Agora somos engenheiros de pontes, aqui vai um texto mais ou menos esclarecedor sobre a Ponte Carmona, que gostaria que publicassem, para os nossos tertulianos ficarem melhor informados.

Gostaria de ouvir a opinião do Mário Dias. Pois estou admirado com a resposta dele.

É certo que os factos que invoco neste documento são anteriores à estadia dele na Guiné.

Mas como esteve por lá tantos anos, nunca ouviu falar em qualquer desastre, desabamento da referida ponte? E se houve ou não mortos ou feridos?

Ainda tenho mais 3 pontes para tratar de per si.

Pontes no Rio Corubal


O rio Corubal nasce nos montes do Futa-djalon na Guiné-Conakri, percorre uma grande extensão do território da Guiné-Bissau, passando pelo Che-Che, [onde se deu o grande desastre, gravado na nossa memória, 47 mortos das NT]; Saltinho, Xitole, indo desaguar no rio Geba próximo da Ponta do Inglês, Ponta Varela.

1ª - Ponte Carmona que fica situada a 5 ou 6 kms a Sudoeste da povoação do Xitole.

2ª - Ponte Submersível a montante da Ponte Carmona e localizada nos rápidos do rio Corubal no Saltinho junto à povoação e posteriormente durante a Guerra Colonial junto do aquartelamento-destacamento militar, cuja construção foi iniciada em 1947, terminada e inaugurada em 1948.

3ª – Ponte Craveiro Lopes, a 80 ou 100 metros a jusante da Ponte Submersível, iniciada em 1955, terminada e inaugurada em 1958.

Apenas vamos falar da Ponte Carmona, que foi a 1ª ponte a ser construída, embora eu não tenha ainda descoberto a data da sua construção.

Há dias, dizia eu que segundo informações recolhidas no local aquando da minha passagem por lá, a ponte a obra não fora concluída talvez por deficiência de construção. Como não andei por aquelas paragens em 1969/71 e porque não era portador de informações fidedignas, assim passei a mensagem para o meu Site e para o Blogue do Luís Graça.

Foram publicados alguns Postes algo confusos, [P5227; 5228; 5237; 5249; 5260 e outros antigos há que nada esclarecem sobre as nossas dúvidas] misturando informação das outras 2 pontes que a seu tempo falaremos de forma mais segura.

Assim não me conformando com as informações obtidas, foi por intermédio do meu amigo Rui Fernandes, Médico, também tertuliano, que falei com a D Fátima Calvet Magalhães que se encontrava em Portugal, filha da D. Helena Calvet Magalhães, [falecida] ex-proprietária do Aldeamento Turístico “Chez Hellene” de Varela, por sua vez filha de Vasco de Sousa Calvet de Magalhães.

Se tiverem curiosidade de conhecer a simpática D. Helena vide o meu Site na página referente ao Batalhão de Cavalaria 2876, onde tenho fotografias publicadas.

Nessa conversa telefónica com a D Fátima, ela informou-me que a construção da Ponte Carmona era da autoria ou foi construída por determinação do seu avô materno e que tinha sido concluída e que as pessoas passavam por lá para se deslocarem para Buba e que não havia dúvidas sobre tal facto.

Não estando ainda conformado com as informações obtidas, como ainda não estou, hoje dediquei-me a folhear vários livros antigos que para aqui tenho, os quais ainda não me respondem a todas as minhas curiosidades, designadamente:

Quando foi iniciada a obra e inaugurada e quando é que se deu o desabamento dos pilares e porquê?
Há com certeza livros e documentos que nos esclarecerão as dúvidas, mas será necessário fazer alguma pesquisa.

Na verdade, consta no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa – Número Especial - Outubro 1947, de que sou titular:

Pág. 88 - 14-3-1913, por decreto foi o administrador Vasco de Sousa Calvet Magalhães agraciado com a medalha de prata de serviços distintos no Ultramar.

Pág. 103 – 28-5-1937 - Foi inaugurada com toda a solenidade a ponte sobre o rio Corubal.

[Contudo não refere a localidade e a designação da ponte, mas podemos concluir com clareza que não se trata das outras duas pontes acima referidas, que foram construídas mais de uma década depois e ainda não havia estrada do Xitole para aquelas bandas].


Será esta a Ponte Carmona no Xitole? presumo que sim.

Donde, me parece ter sido iniciada antes de 1937.

Pág. 123 – 5-06-1946 - …. O Governador visitou ainda o local dos rápidos do Saltinho, no rio Corubal, a fim de estudar a construção de uma passagem submersível para ligação das duas margens na época da estiagem…

Pág. 145 – 1-10-1947 - O Governador da Colónia, em Lisboa, propôs uma operação de crédito, para as seguintes obras:

…. Construção das pontes de Bafatá, Alferes Nunes [trabalho que tenho em mãos] e Braia, e reparação da do Corubal….

Donde, me parece ter havido derrocada de algum dos pilares antes de 1947.

Teria acontecido algum desabamento e posteriormente ter havido reparação com a construção de pilares diferentes? Tal como resulta das fotos do nosso amigo Rui Fernandes tiradas de montante para jusante?

E se houve essa reparação, posteriormente houve outra derrocada? Quando?

A partir daí não houve mais reparações e a ponte ficou no estado actual que se vê. Inoperante?

Creio que não é necessário alongar-me mais, sobre esta situação.

Se alguém souber responder a estas perguntas. Agradeço desde já, porque tenho curiosidade.

Para mais desenvolvimentos, consultem www.carlosilva-guiné.com
Sobre as outras pontes brevemente apresentarei para além de dezenas de fotos, um trabalho devidamente documentado sem margem para dúvidas.

Com um grande abraço amigo
Carlos Silva
Fur Mil CCAÇ 2548/BCAÇ 2879

Fotos: © Carlos Silva (2009). Direitos reservados.

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Nota de M.R.:

Guiné 63/74 - P5287: Notas de leitura (34): As Lágrimas de Aquiles, de José Manuel Saraiva (Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos, (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Novembro de 2009:

Luís e Carlos,
Foi uma agradável surpresa conhecer este livro do José Manuel Saraiva.
Aqui fica uma recensão que talvez desperte a vontade de o conhecer melhor, por inteiro.
Um abraço do
Mário



As lágrimas de Aquiles
Beja Santos

Por mais voltas que demos, por mais elaboradas as nossas justificações, escrevemos sempre sobre nós, mesmo que reposicionemos toda a gama de sentimentos na boca de outros. O jornalista José Manuel Saraiva, autor de dois documentários para a SIC sobre a Guerra Colonial (Madina do Boé – a Retirada e De Guilege a Gadamael – o Corredor da Morte) é nosso camarada da Guiné e decidiu ficcionar-se em “As Lágrimas de Aquiles” (Oficina do Livro, 2001). Nuno Sarmento regressa à Guiné, percorre os lugares onde combateu, é esta a trama clássica para viajarmos dentro de nós próprios, faz-se a incursão por onde existiu a guerra, encontra-se uma criança (neste caso, o Dez, aliás Aliú, cujo pai foi morto por um oficial português). Esta viagem não é um acto de contrição nem o exorcismo de velhos fantasmas, como observa Manuel Alegre no prefácio. Como ele também diz, muitas vezes a ficção ultrapassa a realidade. O que é mais impressivo nesta obra é a serenidade nos registos: a candura e a crueldade; a inocência e a dúvida; a fidelidade aos valores e a sua contestação em lume brando, na voragem em todos os sofrimentos ao longo de uma comissão.

Nunca conheceremos, ponto por ponto, por onde combateu José Manuel Saraiva/Nuno Sarmento. O território do calvário chama-se Bolanha da Cruz, constava que tinha sido ali, logo no início da guerra, que tinha caído, morto, um dos primeiros jovens oficiais portugueses. As lágrimas que se vão chorar ao longo da narrativa obedecem a essa mesma trama clássica de um Nuno Sarmento que deixou uma carta ao amigo, quando desistiu de viver. É um maço de cartas e fotografias, está ali tudo, a aprendizagem da guerra, a formação do batalhão, as recordações de Coimbra, o amor por Catarina, as minas e as emboscadas, a sólida personalidade do capitão Silveira, as primeiras baixas, os aerogramas, a inspecção da tropa, tudo se mistura no tempo e no espaço, até porque na guerra voltamos ao local de nascimento, aos amores perduráveis, aos estudos interrompidos, aos cuidados das nossas mães. O escritor, sabe-se lá se o jornalista que foi à Guiné fazer reportagens, recorda o seu passado de guerreiro transitório, Aliú traz-lhe a reconciliação para todas as barbaridades vistas e perpetradas. Porque houve morte violenta, um guerrilheiro que se estropiou, que se negou a dar informações e a quem o alferes manda executar. Se essa recordação é dolorosa, a das férias não é menos. É aqui que ele descobre que os vínculos com a Catarina se enfraqueceram, irremediavelmente. É uma dor incurável que vai ficar para a segunda parte da comissão, tempo de dificuldades, de mais mortes, de dúvidas políticas, de algumas tragédias na Bolanha da Cruz. Durante uma emboscada, um pelotão em pânico abandona o seu alferes que só será recuperado no dia seguinte. Será um drama que irá atravessar de alto a baixo a vida da unidade, todos ficarão mudados por aquele momento de fraqueza. Nuno nunca fora militante coisa nenhuma, a sua revolta contra o Estado Novo fora mais emocional do que apostólica, agora só se preocupa com a solidão e com a passagem dos meses. A chegada do alferes Mendes Vicente, que viera substituir outro alferes morto, é um bálsamo na vida de Nuno.

A viagem à Guiné termina, Nuno despede-se de Aliú, assim caminhamos para o fim de um livro triste de um homem que perdeu âncoras, afectos, auto-estima. “As Lágrimas de Aquiles” é o retrato de um combatente que perdeu a bússola e que não aceitou o absurdo. Tal como alguém escrevera na Bolanha da Cruz “uma morte para nada”, Nuno Sarmento deixou de se interrogar porque e por quem valera a pena combater. Onde a sua memória não cedera foi nos afectos a todos os camaradas sofridos e leais. É esta a literatura da guerra colonial: falarmos do que vivemos, pois tocar no mais fundo absurdo permite prosseguir de olhos abertos, mesmo no olvido das outras gerações.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 5 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5215: Notas de leitura (33): Em Nome da Pátria, de João José Brandão Ferreira (Beja Santos)

Guiné 63/74 – P5286: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (27): As pescarias em Buba

1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 27ª estória:

Camaradas,

Do meu baú lá tirei mais um texto cheio de poeira, que, depois de lhe ter sacudido o pó, deu origem a este conto ainda bem vivo na minha memória, a que dei o título:

AS PESCARIAS EM BUBA

Quem de LDG, ou outro tipo de embarcação, subia o rio grande de Buba, encontrava o aquartelamento local, sobe uma pequena encosta, com a sua ponte de madeira (a que chamávamos cais).

Este local, que parecia calmo e bem situado aos "Piras" que ali chegavam para cumprir as suas comissões, não passava de uma ilusão já que, como vinham a constatar ao longo do tempo, por amargas experiências de guerra, se tornou numa armadilha feroz.

O quartel de Buba era sede do COP4, onde o mítico Major Carlos Fabião era o seu comandante.

Era, por isso, a fonte dos abastecimentos de todo o tipo de equipamentos, combustíveis, munições e alimentos, aos aquartelamentos de Nhala, Mampatá e Aldeia Formosa, que, periodicamente, organizavam colunas a Buba para esse fim.

Era nessas idas a Buba, em colunas para reabastecimento, que eu e outros camaradas, aproveitávamos para nos dedicarmos à pesca e nos deliciarmos com uns peixinhos grelhados daquele imenso rio.

Tínhamos formas de pesca inauditas, uma delas era percorrer a margem do rio à procura de cardumes e lançar granadas de sopro ofensivas, para o meio dos pegos, onde se concentrava o maior número de peixes.

Do resultado das explosões, surgiam manga deles mortos à tona da água. Depois era só escolher os maiores e apanhá-los.

Seguíamos para o aquartelamento, onde preparávamos deliciosos banquetes com a restante malta da coluna.

Às vezes tínhamos o Major Carlos Fabião á perna, que não queria o pessoal exposto fora do arame, mas o pessoal lá contornava a situação e como ele gostava muito de peixe, tínhamos o cuidado de lhe guardar o maior exemplar que apanhávamos.

Pena, era não termos meios e condições para levar as pescarias para Mampatá, porque seria um ronco chegarmos lá com tais petiscos.

Buba tinha grande riqueza natural naquele braço de mar, que era muito rico em peixe e marisco; camarão, ostras, peixe-gato, tainhas, pargos e outros, de que eu apanhei variadíssimos e bons exemplares.

Como sempre fui adepto da pesca, às vezes dedicava-me a pescar à linha e, era com este processo, que conseguia peixes de maiores dimensões.

Assim ocupávamos o nosso descanso e passávamos o tempo livre, nos dias em que tínhamos de permanecer em Buba, para os necessários e habituais reabastecimentos.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art

Fotos: © Mário Pinto (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: