1. O nosso camarada Eduardo Ferreira Campos, ex-1º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74, enviou-nos a sua 3ª mensagem em 6 de Janeiro de 2010:
C. CAÇ 4540 – 72/74
"SOMOS UM CASO SÉRIO"
PARTE 3
CADIQUE/CANTANHEZ
CADIQUE/CANTANHEZ
De novo em Cadique e como “prémio” do meu regresso, fui brindado com a informação do meu furriel, que no dia seguinte iria sair com dois grupos de combate, para fazer protecção à coluna de viaturas que iria abastecer Jemberem.
Por volta das 05h00, saímos do acampamento, picada fora e fomos estacionar sensivelmente a meio da estrada Cadique/Jemberem.
Por volta das 05h00, saímos do acampamento, picada fora e fomos estacionar sensivelmente a meio da estrada Cadique/Jemberem.
Durante o percurso, sempre atrás do capitão e com o rádio AVP 1, o mais escondido possível, lá ia enviando umas “bocas” para o meu amigo Alferes Pereira, que vinha com o outro grupo.
Tudo corria na perfeição e já com as viaturas de regresso a Cadique, era suposto pelo menos um grupo aproveitar a "boleia” de regresso, enquanto o outro grupo iria inspeccionar um campo de minas existente na zona. Às ordens do capitão, o meu grupo começou a deslocar-se em direcção á estrada, para apanhar as viaturas, e não é que, do outro da lado da estrada, surgiu um outro grupo, pertencente a outra Companhia, a fazer a mesmo?!
Este episódio poderia ter tido consequências de maior, já que aos gritos o meu capitão mandava recuar o outro grupo, ao qual o alferes que o comandava, também aos gritos, dizia que nem pensar. Depois de uma gritaria louca, o alferes levou a melhor e nós, que estávamos ainda muito perto da orla da mata, toca a deitar no chão e aguardarmos que os mesmos fossem á vidinha deles.
Aquando da nossa chegada ao CANTANHEZ, o PAIGC movimentava-se de facto à vontade, pois foram encontradas escolas, onde recolhi um “troféu” (um livro de 1ª Classe) e um lápis. O livro ofereci-o, nos finais dos anos 70, a um amigo meu.
Foi encontrado também uma arrecadação de munições, um posto sanitário e uma instalação que servia de Registo Civil (o que se comprovou pelos documentos ali encontrados).
O PAIGC fazia entrar os seus efectivos, provenientes das bases da República da Guiné, utilizando o “corredor” de Guileje e outros, e “cambando” o Rio Cacine, para depois se infiltrar nas matas do Cantanhez.
As cambanças entre o Tombali e o Cantanhez eram habitualmente feitas entre Cabobol-Balanta e a Bolanha de Caboxanque. O itinerário normalmente seguido pelas colunas de reabastecimento para este sector ou para o Como, era a seguinte: Salancur Cul – Bolhé Imbumbu – Cruzamento do Iem – Janganc-Laucahndé – Cadique – Cafal Caque – Darsalame.
Com a recuperação da zona do Cantanhez, o PAIGC teve de abandonar apressadamente a área que inicialmente controlava, para se refugiar em outras zonas. Existiam alguns acampamentos clandestinos camuflados sob as matas de Cadique Iala, que foram completamente queimados e destruídos.
O PAIGC abastecia-se de arroz, colhido nas bolanhas da bacia do Cumbijã, que eram bastantes férteis e produziam intensamente, fruto do trabalho das populações locais. ~
Não me pareceu que as populações fossem forçados a ceder o arroz ao PAIGC, uma vez que elas estavam a seu lado e, se deixavam de lhes prestarem auxílio alimentar, ou outro, foi porque, sem qualquer demagogia da minha parte, ficavam aprisionadas na área do nosso aquartelamento.
À data do desembarque da CCaç 4540 em Cadique, era a seguinte a situação do IN, segundo informações dos S.I.M.:
- 1 Bigrupo Comandado por Bacar Mané
- 1 Bigrupo Comandado por Lourenço Ferreira
- 1 Secção de Artilharia Ligeira Comandado por Mamadu Djassi
- 6 Grupos FAL
Cadique Imbitina: Biaia Nan Bagna – Comandante de Grupo, armado de PPSH e os restantes elementos FAL armados de carabinas e espingardas Simonov.
Cadique Iala: Fiere Na Santa e Pana na Curtché - Prováveis comandantes de Grupo.
Chefes Políticos: Sana Na Bué – Presidente do Comité.
Comissário Politico: Via Na Chindi.
Cadique Nalú: Abu Camará – Comandante de Grupo.
Chefe Político: Presidente de Comité.
Geraldo (papel) – Responsável pelos reabastecimentos no Cubucaré.
A missão da nossa Companhia em Cadique iria ser desenvolvida, principalmente em duas actividades: (i) no campo militar: (ii) no domínio sócio-económico.
(i) Campo Militar:
Um abraço Amigo,
- Instalar-se na povoação, por forma a assegurar a defesa eficiente da população.
- Consolidar as suas instalações defensivas, em ordem a melhor poder defender os aglomerados populacionais e reagir a eventual actividade do PAIGC.
- Assegurar a posse e livre utilização dos portos fluviais, para que nós, os militares, e a população, pudéssemos navegar no Rio Combijã, montagem de peças de Artilharia, criação de Serviços Informação Militares, protecção à construção da estrada Cadique/Jemberem, etc.
(ii) Domínio Socio-Económico:
- Desenvolver, com intensidade, os trabalhos de Construção do Reordenamento de Cadique, Porto, Heliporto, etc.
- Assegurar o funcionamento dos seus Postos Escolares Militares, prestar assistência sanitária às populações, etc.
O PAIGC exercia desde o início da guerra uma forte propaganda psicológica sobre as populações, não admirando, portanto, que estas gentes se encontrassem fortemente mentalizadas pela sua ideologia.
Como muitos outros jovens da minha geração, na época, de política pouco sabia, a não ser que grandes potências coloniais como o Reino Unido, a França e a Bélgica foram obrigadas a entregarem o seus impérios e Portugal teimava em resistir nos que então administrava.
Com estes acontecimentos vividos no teatro da guerra, comecei a interrogar-me sobre: “OS PORQUÊS DESTA GUERRA?”
Foto 28 - Why? Porquê? (Poster de autor desconhecido)
Um abraço Amigo,
Eduardo Campos
1º Cabo Telegrafista da CCaç 4540
Fotos: © Eduardo Campos (2009). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:
Notas de M.R.:
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