segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5589: O nosso blogue em números (3): 390 tabanqueiros, 5590 postes, um milhão e 400 mil páginas visitadas, 50 mil por mês, 30 comentários por dia...



Chegados ao fim do ano de 2009 e entrados no ano de 2010 - em que o nosso blogue vai (se lá chegar...) perfazer seis anos, no dia 23 de Abril de 2010 (*)- , é altura de dar alguma informação estatística sobre a nossa produção: neste já longo período, publicámos 5583 postes, 15% dos quais na I Série (que terminou em 1/6/2006). No final da I Série, o número de tertulianos (como então designávamos os membros da nossa Tabanca Grande, antes, Tertúlia) eram cerca de 110 (**). Hoje estamos quase a atingir as 4 centenas.

O ano transacto foi o mais produtivo em número de postes publicados: cerca de 1900, mais 600 do que em relação ao ano anterior (2008) (Vd. Quadro I)



No mês de Dezembro de 2009, o número de postes semanais publicados andou na casa dos 42 em média (mínimo, 38; máximno, 49), o equivalente a 6 por dia, em média (Gráfico 1).





Quanto aos comentários, atingiram o milhar, o que significa um crescente participação dos nossos leitores. Em números médios, neste período (29 de Novembro de 2009 a 2 de Janeiro de 2010) tivemos 28,9 comentários por dia (Quadro II).

Descartando os comentários a postes da séries Parabéns a você e Votos de Feliz Natal 2009, foram os seguintes, com um total de 115 comentários:


7 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5417: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (15): Ainda e Sempre Guileje (Victor Alfaiate, ex-Fur Mil Trms, CCAV 8350, 1972/74)

16 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5477: Blogoterapia (137): Palavra de honra que não consigo entender (José Brás)

10 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5438: Controvérsias (58): Do revisionismo da história e da memória ao branqueamento do papel da PIDE/DGS (João Tunes)

25 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 – P5534: Histórias do Eduardo Campos (1): CCAÇ 4540, 1972/74 - Somos um caso sério: Parte 1

27 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5544: O que era o STM? Belarmino Sardinha)





Quanto ao número de páginas visitadas, a evolução tem sido favorável, com um crescimento sustentado ao longo do tempo: partimos das 22, 5 mil visitas ... em finais de Maio de 2006, para atingir as 400 mil em Outubro de 2007, as 800 mil em Outubro de 2008, o milhão em Fevereiro de 2009, e o 1,4 milhões em Dezembro de 2009... Ou seja, estivemos em 2009, com cerca de 40 mil páginas visitadas por mês (50 mil por mês, em Novembro e Dezembro) (Vd. Gráfico 2).

Vejamos o que escrevemos em datas anteriores:

9 de Novembro de 2009:

(...) Chegámos hoje a um milhão e 300 mil páginas visitadas... A nossa caixa de correio aproxima-se dos 400 endereços... Isto já é um batalhão, há tensões, e eu nem sempre estou (nem posso estar) atento a todos os pequenos conflitos que podem ocorrer...


25 de Junho de 2009:
(...) Desde 15 de Abril de 2009, até agora (70 dias) atingimos as 100 mil páginas visitadas... Ou seja, todo somado, faz 1 milhão e 100 mil... (600 mil desde Janeiro de 2008).

(...) No início do actual blogue (II Série), em Junho de 2006, os membros da Tabanca Grande eram cerca de 115, hoje somos o triplo...

15 de Outubro de 2008:

Devemos atingir esta semana a cifra das 800 mil páginas visionadas / visitadas. Estávamos em 400 mil em finais de Outubro de 2007. 500 mil na passagem de ano. 600 mil em Abril. 700 mil em Julho de 2008.


Tendo em conta a inevitável quebra, nas férias (Julho / Agosto= mais ou menos 1 mês), quer na produção, quer no consumo, tivemos, neste espaço de tempo, Outubro de 2007 a Outubro de 2008 (1 ano), um média de visitas mensais de 36 mil, ou seja, 1200 por dia, em números redondos... Em contrapartida, parece ter crescido menos o número de membros da Tabanca Grande Estamos agora com cerca de 270...



29 de Junho de 2008:


(...) Devemos atingir esta semana a cifra das 700 mil páginas visionadas. Estávamos em 400 mil em finais de Outubro de 2007. Atingimos as 600 mil em 12 de Abril. Estamos portanto com um média de visitas diárias de 1250/1300, em números redondos... E mais de 250 camaradas e amigos da Guiné inscritos na Nossa Tabanca Grande (...).

12 de Abril de 2008:

(...) Temos registados um pouco mais de 230 amigos e camaradas da Guiné, na nossa tertúlia ou Tabanca Grande...

21 de Dezembro de 2007


(...) Vamos passar o ano a caminho das 500 mil páginas visitadas, o que dá uma ideia da nossa audiência...

Uma nota final: Aqui deixo as minhas melhores saudações bloguísticas a todos os amigos e camaradas da Guiné pela sua dedicação, generosidade, confiança, empenho, paciência, tolerância... Este blogue só é possível por eles, por causa deles... É já hoje, segundo a nossa opinião mas também a opinião de observadores externos e independentes, um imenso património de todos nós... Não sei quantos de nós passaram por (ou estiveram em) a Guiné, durante o período da Guerra Colonial... Cerca de 150 mil / 200 mil ? No nosso blogue, somos cerca de 400, entre amigos e camaradas. Mas muitos mais nos visitam, nos lêem, nos comentam... E espero que ainda muitos mais apareçam e se reconheçam na Tabanca Grande...

Aos companheiros da minha equipa editorial, Carlos Vunhal, Eduardo Magalhães Ribeiro e Virgínio Briote um chicoração especial. Sem eles, há muito que eu me teria sentiria perdido nesta picada sem fim à vista. Em 2010 vamos realizar o nosso V Encontro Nacional... Até lá irão surgir, seguramente, mais novidades e ideias para o futuro... Aos nossos autores e leitores, o meu carinho e reconhecimento. A todos, bons augúrios para o difícil ano de 2010 que começa agora... Luís Graça, fundador e aministrador do blogue.
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Notas de L.G.:

(*) O primeiro poste publicado foi em 23 de Abril de 2004 > Guiné 69/71 – I: Saudosa(s) madrinha(s) de guerra (Luís Graça)


Lista dos dez primeiros postes do nosso blogue (1ª série):

23 de Abril de 2004 > Guiné 69/71 – I: Saudosa(s) madrinha(s) de guerra (Luís Graça)

25 de Abril de 2004 > Guiné 69/71 - II: Excertos do diário de um tuga (1) (Luís Graça)

28 de Abril de 2004 > Guiné 69/71 - III: Excertos do diário de um tuga (2) (Luís Graça

7 de Dezembro de 2004 > Guiné 69/71 - IV: Um Natal Tropical (Luís Graça)

20 de Abril de 2005 > Guiné 69/71 - V: Convívio de antigos camaradas de armas de Bambadinca (Luís Graça)

22 de nAbril de 2005 > Guiné 69/71 - VI: Memórias do Xime, do Rio Geba e do Mato Cão (Sousa de Castro)

25 de Abril de 2005 > Guiné 69/71 - VII: Memórias do inferno do Xime (Novembro de 1970) (Luís Graça)

28 de Abril de 2005 > Guiné 69/71 - VIII: O sector L1 (Xime-Bambadinca-Xitole): Caracterização (1) (Luís Graça)

29 de Abril de 2005 > Guiné 69/71 - IX: A malta do triângulo Xime-Bambadinca-Xitole (1) (Luís Graça)

Vd. poste de 24 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1693: Blogoterapia (20): Blogando... há dois anos (Luís Graça)

(**) Por mera cuirosidade (histórica...), vd. lista, por ordem alfabética, dos membros do nosso blogue, no final da I Série, em 1 de Junho de 2006:

A. Marques Lopes
A. Mendes
Abel Maria Rodrigues
Afonso M.F. Sousa
Aires Ferreira
Albano Costa
Amaro Samúdio
Américo Marques
Ana Ferreira
Antero F. C. Santos
António Baia
António Duarte
António J. Serradas Pereira
António (ou Tony) Levezinho
António Rosinha
António Santos
António Santos Almeida
Armindo Batata
Artur Ramos
Belmiro Vaqueiro
Carlos Fortunato
Carlos Marques dos Santos
Carlos Schwarz (Pepito)
Carlos Vinhal
Carvalhido da Ponte
David Guimarães
Eduardo Magalhães Ribeiro
Ernesto Ribeiro
Fernando Chapouto
Fernando Franco
Fernando Gomes de Carvalho
Hernani Acácio Figueiredo
Hugo Costa
Hugo Moura Ferreira
Humberto Reis
Idálio Reis
J. C. Mussá Biai
J. L. Mendes Gomes
J. L. Vacas de Carvalho
João Carvalho
João S. Parreira
João Santiago
João Tunes
João Varanda
Joaquim Fernandes
Joaquim Guimarães
Joaquim Mexia Alves
Jorge Cabral
Jorge Rijo
Jorge Rosmaninho
Jorge Santos
Jorge Tavares
José Barreto Pires
José Bastos
José Casimiro Caravalho
José Luís de Sousa
José Manuel Samouco
José Martins
José (ou Zé) Neto
José (ou Zé) Teixeira
Júlio Benavente
Leopoldo Amado
Luis Carvalhido
Luís Graça
Luís Moreira (V. Castelo)
Luís Moreira (Lisboa)
Manuel Carvalhido
Manuel Castro
Manuel Correia Bastos
Manuel Cruz
Manuel Domingues
Manuel G. Ferreira
Manuel Lema Santos
Manuel Mata
Manuel Melo
Manuel Oliveira Pereira
Manuel Rebocho
Manuela Gonçalves (Nela)
Mário Armas de Sousa
Mário Beja Santos
Mário Cruz
Mário de Oliveira (Padre)
Mário Dias (ou Mário Roseira Dias)
Mário Migueis
Martins Julião
Maurício Nunes Vieira
Nuno Rubim
Orlando Figueiredo
Paula Salgado
Paulo Lage Raposo
Paulo & Conceição Salgado
Paulo Santiago
Pedro Lauret
Raul Albino
Renato Monteiro
Rogério Freire
Rui Esteves
Rui Felício
Sadibo Dabo
Sérgio Pereira
Sousa de Castro
Tino (ou Constantino) Neves
Tomás Oliveira
Torcato Mendonça
Victor David
Victor Tavares
Virgínio Briote
Vitor Junqueira
Xico Allen
Zélia Neno.

(***) Vd. último poste desta série > 2 de Dezembro de 2009> Guiné 63/74 - P5391: O nosso blogue em números (2): Os cinco postes mais comentados do mês de Novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5588: Álbum fotográfico de Rogério Cardoso (3): Relembrando locais e camaradas da CART 643/BART 645





1. Continuação do Álbum fotográfico de Rógério Cardoso* (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66)




Foto 1 > Olossato > Junto a um obus

Foto 2 > Olossato, 1964 > Abrigo

Foto 3 > Olossato, 1964 > Torre de vigia

Foto 4 > Furriéis Guerreiro (Falecido), Sousa, Graça, Rogério e ?

Foto 5

Foto 5 e 6 > Heli na descarga de material capturado em Morés, no Olossato

Foto 7 > Mansoa > Junto à Águia 645 > 1.º Cabo João Francisco, Fur Mil Rogerio, 1.º Cabo Carlos Alberto, 1.º Cabo Eliseu, Fur Mil Tirano e 1.º Cabo Valentim.

Foto 8 > Fátima 2009
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 29 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5561: Tabanca Grande (198): Rogério Cardoso, ex-Fur Mil da CART 643/BART 645 (Mansoa, 1964/66)

Vd. último poste da série de 22 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5521: Álbum fotográfico de Rogério Cardoso (2): Quotidiano da CART 643 em Bissorã

Guiné 63/74 - P5587: Notas de leitura (46): Os Anos da Guerra, de João de Melo (1): Alguns olhares sobre a literatura da guerra da Guiné (Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Dezembro de 2009:

Queridos amigos,
“Os Anos da Guerra” merecem ser conhecidos por todos nós.
Há ali prosa de muito valor. O João de Melo editou e reeditou esta antologia em 1988 e 1998. Seria bom que ele a voltasse a actualizar. Aliás, neste momento há já editores que pretendem antologias referentes à literatura dos três teatros de operações. Espero que se tome em conta que a escolha dos autores é do João de Melo e não deste humilde escriba, por favor, não façamos confusões.

Um abraço do Mário com votos de um 2010 cheio de sucessos pessoais, saúde e alegrias familiares


OS ANOS DA GUERRA:
ALGUNS OLHARES SOBRE A LITERATURA DA GUERRA DA GUINÉ (1)


Beja Santos

Apresentação

“Os Anos da Guerra, 1961 – 1975, Os Portugueses em África, Crónica, Ficção e História”, com organização de João de Melo (Publicações Dom Quixote, 1988 e 1998) é uma obra de referência para o estudo da literatura portuguesa que tem a Guerra Colonial como pano de fundo. É não só a primeira recolha antológica dos principais escritores intervenientes ao tempo como se trata igualmente de uma (ainda hoje) desassombrada apresentação da problemática da literatura da Guerra Colonial, em que João de Melo equaciona, sem quaisquer complexos, fenómenos habitualmente tratados de modo disperso: a geração literária dos escritores que combateram a Guerra Colonial: em que medida a nova literatura de guerra é memória e anti-memória; se a literatura do período da colonização foi, de algum modo, precursora dos escritores de guerra; e se podemos dispor de uma visão de conjunto sobre todos estes prosadores.
Dado o caudal informativo e a necessidade de circunscrever o itinerário desta incursão à literatura que tem a Guiné como palco, propomos que esta recensão contemple as seguintes realidades: o ensaio de João de Melo sobre o impacto que a Guerra Colonial teve nas literaturas de língua portuguesa; ouvir os escritores que combateram na Guiné num tema raramente abordado que é o dos preparativos para a guerra, aqui se incluindo a recruta, a especialidade, a formação de unidade, etc.; e dar voz aos relatos decorrentes dos aspectos da comissão militar, pondo a funcionar, no auge da dor, a memória e a anti-memória. Convém recordar que se trata de uma recensão, nas situações em que me propuser extravasar as opiniões do autor expresso-o claramente, e os autores que irão ser mencionados sobre a guerra da Guiné decorrem, única e exclusivamente, da escolha de João de Melo. Esses autores são: Álvaro Guerra, Filipe Leandro Martins, José Martins Garcia, Álamo Oliveira, Urbano Bettencourt, José Luís Farinha e Sérgio Matos Ferreira


A Guerra Colonial nas literaturas de língua portuguesa

O escritor João de Melo começa por questionar em que termos é que uma colonização pode ser encarada como um acto prolongado de guerra colonial. Não se trata de uma provocação pois estando em jogo um longuíssimo período de colonização com literatura, haverá que perguntar até que ponto as obras de escritores como Castro Soromenho (porventura o maior romancista da sociedade colonial angolana) Baltazar Lopes, Manuel Ferreira ou Alexandre Pinheiro Torres devem, ou não, ser inseridos na galeria onde irão ser posicionados os escritores que estiverem envolvidos numa das três frentes da Guerra Colonial. A pergunta ainda poderá ficar mais complexa se se pretender também saber se esta literatura pode acolher a chamada literatura de guerra e de resistência (ou seja, aquela onde se faz um apelo veemente à paz e à completa libertação dos povos, podendo-se aqui incluir escritores como Sophia de Mello Breyner, José Cardoso Pires, Herberto Helder, Fiama Hasse Pais Brandão, entre outros). É João Melo que responde à questão, dando-lhe a simplificação para efeitos do seu ensaio: nesta literatura que se vai pôr em antologia só lá cabe quem a viveu, militares e familiares, quer nos preparativos quer no teatro de operações. Convém não esquecer que houve quem escreveu em perfeita sintonia com o regime (caso de Reis Ventura, Armor Pires da Mota, Couto Viana ou Rodrigo Emílio de Melo), houve quem denunciasse a guerra antes da mesma findar (caso de Manuel Alegre, Fernando Assis Pacheco ou Álvaro Guerra) e sobretudo há que ter em conta aqueles autores que fizeram do tema da guerra o corpo central da sua obra: serão estes os autores incluídos na antologia organizada por João de Melo, o escritor a quem agora passamos a palavra:
“Nos livros portugueses da guerra, a ideia do absurdo, da angústia, da sem-razão, ainda que aparentemente obsessiva, está longe de confundir a solidão com a solidariedade. O inevitável dessa literatura é ela aparecer iluminada na sua consciência histórica: o homem que escreve não é o mesmo e porventura nunca esteve do lado do agressor. Daí que uma boa parte das suas fascinações resida na sondagem e na aproximação ao outro, isto é, daquele que estava do lado de lá e que era então o inimigo. Para muitos de nós, que lá estivemos e que só raramente víamos o inimigo, o guerrilheiro era um misto de anjo e de demónio da nossa guerra interior...”. Para João de Melo não existe uma reconhecida obra-prima no conjunto dos livros citados. E ele explica porquê: “Talvez todas elas, na medida em que se completam, e outro tanto pelas diferentes paixões e pelos níveis confessionais e estéticos que ao fim ao cabo as distinguem entre si. De resto, é de supor que estejam por vir os livros da distância, da frieza e de uma outra e objectiva narratividade. Na minha já longa relação com a literatura de guerra, fui muitas vezes confrontado com a existência de um sem-número de textos inéditos, o que prova que a literatura é talvez o único domínio da sociedade portuguesa a desaceitar o tabu de um passado que forjou e modificou para a vida uma nova geração de homens. Actualmente, ela é, com efeito um dos únicos meios de expressão que não faz silêncio nem tábua rasa sobre o enorme logro do nosso passado colonial. Daí que ela seja – essa literatura – muito discriminada entre nós. E daí também que a sociedade portuguesa do presente, parecendo enjeitar os seus males de guerra, continuo a comprazer-se com um espectáculo da sua própria violência interior”. João de Melo escreveu este texto em 1984, seguramente que há pontos de vista que se podem considerar ultrapassados, nos 25 anos posteriores a literatura enriqueceu-se e os tais livros da distância, da frieza e de uma outra e objectiva narratividade continua a aparecer. Mas esta questão não cabe nesta curtíssima apreciação do importante livro “Os Anos da Guerra”.


Os preparativos

Filipe Leandro Martins escreveu: “O Pé na Paisagem” em 1981. Nascido em 1945, em 1967 fez o curso de sargentos nas Caldas da Rainha e é destinado à especialidade de atirador. Mobilizado para a Guiné, escolheram-no para o curso especial de minas e armadilhas. Desertou em 1968 e exilou-se na Bélgica. Foi jornalista profissional desde 1976. O texto escolhido por João de Melo intitula-se “O couro selvagem das botas”, tal como se resume:
“O comboio deixou-nos na cidade com mais ou menos 20 anos. Saímos aos trambolhões, entre malas e saquinhos, berrando uns pelos outros com a solidariedade de bairro, de vila ou de escola. Eu vinha só com a mala pesadíssima que trazia de casa para a caserna que nos esperava, velhaca. Arrastávamo-nos com pressa, desancados pela viagem, pelas bagagens, pelo solo provinciano à uma da tarde da estação e ouvi alguém gritar o meu nome uma porrada de vezes antes de me voltar...
Havia quem puxasse gorjetas para o cabo os despachar mais depressa e lhes escolher uma caserna boa, e o cabo arrecadava a massa e ria destas espertezas enquanto as levas de rapazes iam desaparecendo nas goelas das casernas, tragados pelos sargentos e amanuenses, e logo abandonados à mercê da máquina que aprendemos depressa a recear e a reconhecer no seu poderio misterioso de regulamentos e castigos ao menor deslize, que se levantava como parede velha, ameaçadora e sombria frente aos nossos mais pequenos desejos, muro pesado que nós ajudávamos a erguer – argamassa e medo, argamassa e medo – para não sair dali a sete pés”.

(Continua)
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Nota do editor

Vd. último poste da série de 22 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5519: Notas de leitura (45): MEMÓRIA DOS DIAS SEM FIM, romance de Luís Rosa - II (Beja Santos)

domingo, 3 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5586: Ser solidário (49): Campanha da Tabanca de Matosinhos: Sementes e água potável para a Guiné-Bissau (José Teixeira)

1. Mensagem de José Teixeira* (ex-1.º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada , 1968/70), com data de 3 de Janeiro de 2010:

Caríssimos editores.
Depois de aprofundar estratégias com o Pepito e analisar com o Luís, o ponto da situação no que concerne ao apoio que é preciso dar urgentemente às populações da Guiné, entendemos na Tabanca de Matosinhos assumir a Campanha de Água e Sementes para a Guiné-Bissau.
O desafio está lançado.

Peço ao Carlos o favor de transcrever para o Blogue os postes do blogue da Tabanca Pequena sobre o assunto.

Que Deus e os camaradas ex-combatentes nos ajudem a levar a campanha em frente, pois aquela humilde gente bem precisa de ter algumas "canas para poder pescar"
José Teixeira


2. P304 - SEMENTES E ÁGUA POTÁVEL PARA A GUINÉ-BISSAU

Campanha para abrir dez poços de água e construir 10 fontanários em Tabancas do interior

Em Fevereiro de 2008, tive a felicidade de viver um momento de grande valia para o desenvolvimento social e económico da Guiné-Bissau, quando participei conjuntamente com outros camaradas na inauguração do Fontanário de Cabedú.

Um gerador de energia solar, uma electrobomba alimentada por este, um depósito em plástico, um tubo e uma torneira. Processo simples e económico, que possibilitou àquela povoação, a água potável tão necessária ao seu bem-estar de saúde e higiene e ao mesmo tempo, água para regar os vegetais das suas hortas. Tinham-se passado cerca de trinta e cinco anos, após a retirada dos soldados portugueses e desde então, nunca mais tiveram água potável. Aproveitaram a nossa passagem por lá, para inaugurar a sua fonte. Que sorte a nossa! A alegria daquela comunidade foi indescritível, bem expressa nos seus cantares e danças típicas com que nos brindaram.

Tinham água, tinham terra, mas faltavam-lhe as sementes. O Zé Carioca e eu ficamos sensibilizados pelas palavras da mulher grande que animava a festa ao dirigir-se ao Pepito:

- Pepito, estamos muito contentes, porque já temos água, mas precisamos de sementes; Simenti di tomato, di cibola, alface, fisan … …

O Zé de imediato lançou uma campanha que eu secundei no Porto. O Pepito veio de férias e levou as sementes que o Zé Carioca lhe entregou.

O resultado está bem expresso nas fotos que o Carlos Silva tirou no ano seguinte, ao voltar à Guiné em missão humanitária.

Esta Campanha não pode morrer.

Fotos da inauguração da fonte no Cabedú em Fevereiro de 2008



Os resultados um ano depois (fotos do Carlos Silva)




3. P305 - CAMPANHA DE SEMENTES E ÁGUA POTÁVEL PARA A GUINÉ BISSAU

Em meados 2009, foi relançada a Campanha das Sementes no Porto, com o slogan 20.00 € por antigo combatente.

A adesão na Tabanca de Matosinhos foi total.

Rapidamente juntámos 840.00€



Depois de uma conversa com o Pepito da AD, concluímos que não basta arranjar sementes, o importante é conseguir água potável nas tabancas do interior, onde esta não chega.

As crianças das escolas não têm água para beber nem para a higiene diária e muito menos para cozinhar. Sabemos que há povoações em que a população tem de andar dez e mais quilómetros para conseguir uma vasilha de água.

As sementes também são necessárias, mas sem água, não vingam, sobretudo em zonas que estão a ficar desertificadas no Norte – Ingoré, S. Domingos, Varela, Barro, Bigene, etc. No Sul também há falta de água. Está perto, a cerca de 10 metros de profundidade, mas é preciso ir lá buscá-la.

Qual o desafio que a Associação Tabanca Pequena – Grupo de Amigos da Guiné-Bissau em parceria com a AD – Acção para o Desenvolvimento se propõe lançar a todos quantos por lá passaram e todos os amigos do Povo da Guiné-Bissau?

Organizar uma campanha de angariação de fundos - Vinte euros por pessoa.

O objectivo é conseguir capital para abrir dez poços de água potável na Guiné-Bissau.

Se não puderes oferecer 20.00€ oferece cinco.
Outros terão a amabilidade de oferecer 50.00€ para compensar.

Juntar capital para numa primeira fase comprar sistemas solares e bombas hidráulicas.

No terreno a AD localiza as povoações mais necessitadas, organiza o projecto de sensibilização e mobilização da população. Os seus “poceiros” abrem o poço e nós enviamos o material, acompanhando no terreno a sua instalação.

Depois virá a fase das sementes


Custos do equipamento comprado em Bissau pela AD - Acção para o Desenvolvimento ONG

- Placa solar - 455.00 €
- Bomba submersível - 950.00 €
- Estrutura de suporte - 382.00 €
- Depósito para 4.000 litros - 458.00€

Total (provisório) - 2.245.00

- Diversos

Bóia ?
Material eléctrico ?
Tubagem ?
Mão de obra ?

Sementes ?

- Total (Aproximado) 4.000.00 €


A Associação Tabanca Pequena - Amigos da Guiné Bissau, vai centralizar as ofertas na conta bancária aberta para o efeito no Montepio Geral - NIB 0036.0086.99100057222.24


ÁGUA

- 10 m de profundidade está a água
- 10 Quilómetros a andar para a conseguir
- 10 poços, o nosso projecto
- 20 euros a tua dádiva


Tu, ex-combatente. Tu que sentes quanto podes ser útil com um pequeno esforço financeiro para o Bem-estar e saúde da população da Guiné não hesites. Colabora!
Zé Teixeira


Poços de água na Guiné-Bissau

Beber água com por um tubo com filtro para impedir a absorção de óvulos de lombrigas.
Fotos © Tabanca de Matosinhos (2009). Direitos reservados.

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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 20 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5507: Votos de Feliz Natal 2009 e Bom Ano 2010 (15): Hino aos Sem Abrigo (José Teixeira)

Vd. último poste da série de 10 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5440: Ser solidário (48): “Ciência para meninos em poemas pequeninos” (Regina Gouveia)

Guiné 63/74 - P5585: Humor de caserna (17): Mansambo no seu melhor (Parte 1) (Carlos Marques dos Santos, CART 2339, 1968/69)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > Foto 1 > A Messe onde tudo começou. Sargentos e oficiais, jogando cartas, lendo, fazendo fotografias (Lima fotógrafo, Marques dos Santos fotografado). O Zeferino ( à direita é o soldado barman )




... Foto 2 > Bebendo uns copos de uísque... em copos de água. Quem dá a cara, é o CMS...



... Foto 3 > Em convívio, sargentos e oficiais....


... Foto 4 > Altercação ? ou … já copos a mais. No fundo, sã camaradagem...




... Foto 5 > Começa a dança porque o pessoal já aqueceu.

(Continua)

Fotos e legendas: © Carlos Marques dos Santos (2007). Direitos reservados



1. Mensagem do Carlos Marques dos Santos (ex-Fur Mil, CART 2339, Mansambo, 1968/69), com data de 18/3/07:

Luís:


Aproveitando as 'estórias' que têm vindo a ser lançadas no blog, aproveito para reenviar fotos (em 3 partes) de uma noite de 'alegria' em Mansambo, [em Novembro de 1968]. Aqui vai a parte 1.


CMSantos

2. Mail enviado, em 9/7/07, ao Virgínio Briote, acabado de entrar para blogue como co-editor:

Virgínio:

Tenho aqui uma estória de uma noitada que ainda não quis publicar, porque põe em causa camaradas nossos que não são da tertúlia e que têm direito à reserva de imagem… Gostava de conhecer a tua sensibilidade e opinião… Se achares que é publicar, podes preparar o texto e as fotos ? Ou, pelo menos, acrescentar um comentário.

Conheces o Carlos Marques dos Santos (ex-Fur Mil, da CART 2339, Mansambo, 1968/79, a mesma unidade do Torcato) ( e a propósito, ele é o pai da talentosa e bonita Inês Santos, que tem aparecido num programa da manhã da RTP1).

Eu já lhe perguntei se não poderia haver objecções por parte dos ex-camaradas… Não me chegou a responder… Mando-te mais dois mails com o resto das fotos (que não são de grande qualidade: se calhar podemos editá-las e pô-las todas a preto e branco)…. Este poderia ser um primeiro biscate para ti…

Depois mando-te a senha de acesso à nossa conta no Google e à nossa caixa de correio… Obrigado, pelo teu SIM (ao desafio como co-editor).

Luís Graça

3. Comentário de L.G.:

Agora que o nosso CMS festeja os seus 67 aninhos (foi o primeiro aniversariante do ano de 2010) (*), acho que a melhor prenda a dar-lhe é publicar esta... brincadeira que ele me mandou há quase três anos (!)... Aqui nada se perde, tudo se transforma... O VB nunca me chegou a dar a sua opinião sobre este assunto, que eu achava poder ter algum melindre... O CMS, por sua vez, não também não me respondeu à minha pergunta: nem SIM, nem NÃO... Presumo que quisesse responder NIM... Em todo o caso, julgo que as fotos não ferem nem sensibilidades nem susceptibilidades... O assunto já tinha sido abordado num poste publicado na I Série, em 20 de Fevereiro de 2006 (**)...

Espero reencontrar as fotos que faltam e que nunca chegaram a ser publicadas... Espero que os camaradas da CART 2339 vejam neste meu gesto apenas uma homenagem não só ao histórico do nosso blogue, que foi (é) o CMS - que entrou para a nossa tertúlia em Dezembro de 2005 (***), e por mão dele veio o Torcato, seis meses depois, em Maio de 2006 - mas também todos os bravos construtores e defensores de Mansambo...

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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 2 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5579: Parabéns a você (61): Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil da CArt 2339 (Editores)

(**) Vd. I Série, poste de 20 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXIX: Uma bebedeira colectiva (Mansambo, Novembro de 1968) (CMS)http://blogueforanada.blogspot.com/2006/02/guin-6374-dlxix-uma-bebedeira.html

(...) Era Novembro de 1968 e a Companhia voltava a estar reunida, agora num novo aquartelamento, por nós executado de raiz no meio do nada.


O aquartelamento era um charco, as condições de vida eram péssimas e o moral baixo, quer pelo peso do trabalho físico executado, quer pelas sucessivas e difíceis operações em que a companhia esteve envolvida.


Além disso já dois comandantes tinham abandonado a companhia, por vários motivos.


O pessoal andava à deriva.

Dias antes, a 11 (dia de S. Martinho), no decorrer da Op Hálito (1), uma coluna ao Xitole tinha sido emboscada, com rebentamento de mina comandada e vários feridos.



A cambança do rio (Pulom) tinha sido efectuada em 4 barcos de borracha e uma jangada, tornando extremamente difícil a sua concretização. Só com a acção de bombardeiros T6 foi conseguido o nosso retorno a Mansambo.

Tudo isto - é necessário imaginar o contexto - nos levou a libertar o extremo stresse. Só podia ser com uma garrafa de whisky (ou melhor, muitas).


Era assim a vida dos combatentes. Não teremos sido os únicos.


Um Abraço. CMS (...)


(***) Vd. postes, I Série:

28 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXCIX: Mansambo, um sítio que não vinha no mapa (1): a água da vida

29 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CD: Mansambo, um sítio que não vinha no mapa (2): as CART 2339, 2714, 3493 e 3494

30 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CDI: Mansambo, um sítio que não vinha no mapa (3): Memórias da CART 2339

Guiné 63/74 - P5584: A minha filha nasceu na Guiné há 43 anos (Rui Santos)

1. Mensagem de Rui Santos (ex-Alf Mil da 4.ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65), com data de 28 de Dezembro de 2009:

Amigos:
Bem haja !

Cheguei agora e fiquei muito satisfeito com os mails que recebi.

Apenas tenho aqui registado no PC as imagens que vou tentar enviar, pois vi-me aflito para as identificar no arquivo. É que compartilho este bicho com o filho, que vive ainda comigo e com a minha mulher, e os documentos dele e da mãe e sei lá mais de quem, proliferam na excelente memória deste PC.

A propósito, a minha mulher foi comigo para a Guiné, quando fui tranferido para Bolama, após as férias que me concederam em Maio de 1964, quando aproveitei para me casar.

Naquela terra, da qual tenho saudades e por vezes sobrevoo no Google Earth, verificando o abandono dos edificios do Quartel do CIM em Bolama, fabricámos uma filha que ainda hoje mostra, orgulhosa, o B.I. onde se lê: natural de GUINÉ-BISSAU!
Vai fazer 44 anos!!! É isso que tenho a mais de idade e peso !!
Como digo muitas vezes: - Quem me dera ser alferes outra vez!

Bom, espero que não apareça ai um NEWS qualquer a dizer que a mensagem failled!

Grande abraço,
28 de Dezembro de 2009
Rui Santos

Foto sem legenda

Diploma de Ranger
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Nota de CV:

27 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5549: Tabanca Grande (197): Rui Santos, ex-Alf Mil da 4.ª CCAÇ, Bedanda, 1963/65

Guiné 63/74 - P5583: Memória dos lugares (62): Trocando roncos com o PAIGC em Aldeia Formosa, em Agosto de 1974... (Fernando Costa)


Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > CCS/BCAÇ 4513 (1973/74) > Agosto de 1974 > No dia da entrega do aquartelamento ao PAIGC... O Fernando Costa (*), entre dois guerrilheiros, posando para a fotografia com uma metralhadora ligeira que me parece ser uma  PSSH, mais conhecida por "costureirinha"... (LG).

Fotos: © Fernando Costa (2009). Direitos reservados.


Guiné > Região deTombali > Aldeia Formosa > CCS/BCAÇ 4513 (1973/74) > Agosto de 1974 > Uma peça de fardamento do PAIGC, de cor castanha, com botões metálicos, dourados, trocada por um camuflado entre um guerrilheiro e o Fernando Costa.

"No dia em que foi feita a substituição das NT pelas do PAIGC no quartel de Aldeia Formosa, pedi a um guerrilheiro que fizesse a troca de uma farda dele por um camuflado meu.

"Assim, guardei até hoje para servir de ronco,  ou seja,  recordação dos tempos em que as tropas portuguesas lutaram contra aqueles que nos substituíram no terreno.

"Há muita gente que diz que foi "entregar o ouro ao bandido", eu não partilho dessa opinião, mas acho que muita coisa poderia ter sido feita com mais dignidade para com aqueles que lá deixaram parte de si, para não falar dos que não chegaram a regressar.

"Não guardo rancores, guardo sim boas ou más recordações. Fernando Costa, ex-Furriel Mil, CCS/BCAÇ 4513, 1973/74"
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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 25 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5160: Tabanca Grande (182): Fernando Silva da Costa, ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, 1973/74)

Guiné 63/74 - P5582: Agenda cultural (52): 4.º Encontro do 2.º Ciclo de Colóquios-debates "Fim do Império-olhares civis", dia 19 de Janeiro em Oeiras

1. Convite para participação no 4.º Encontro do 2.º Ciclo de Colóquios-debates "Fim do Império - Olhares Civis", a realizar no dia 19 de Janeiro de 2010 às 15 horas na Livraria-Galeria Municipal Verney/Colecção Neves e Sousa: "Diário da Guiné, 1968-1969, na terra dos Soncó" do Dr. Mário Beja Santos, com o autor e o Dr. Luís Graça.


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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5460: Agenda cultural (51): Concerto de solidariedade pela banda Bela Nafa, 18 de Dezembro, Instituto Franco-Português (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P5581: Os nossos médicos (13): Deus no céu e o Dr. Fernando Garcia... no HM 241 (António Reis / Luis Graça)

 

Capa do livro (à esquerda), de memórias,  do António Reis - A minha jornada em África. Vila Nova de Gaia: Ed. Ausência. 1999. 67 pp. (*)



"Um grande senhor" (pp. 46/47): é assim que o António Reis se refere ao Dr. Fernando Garcia, tenente miliciano médico, talvez o melhor cirurgião do HM 241, naquela época em que o autor foi 1º  Cabo Aux Enf... Dêmos-lhe a palavra:

"Quantos hoje lhe devem a vida ? Muitas centenas (...). Eu sou testemunha que se estão vivos, a vida devem a este senhor (...).

"Ele superou de longe o louvor. que o nosso director, o Dr. Pinheiro, lhe deu. Como pessoa de fino trato, de conduta esmerada,  sempre pronto a exercer as suas funções, mesmo com prejuízo das suas hiras de refeições e descanso. Este senhor  foi mais do que tudo isso. Quantas vezes o ouvi dizer:  'Este não fui eu  que o operei, aquele não fui eu que o operei'. Dizia isso quando achava demais os ter salvo.

"Os negros adoravam-no. Nós admirávamo-lo. Chegávamos mesmo a dizer: 'Deus no céu e o Dr.  Fernando Garcia na  Guiné'.

"Não consigo lembrar-me se ele tinha jipe e condutor, mas parece que não, mas lembro-me que tinha lá a mulher e dois filhos. Não ligava à farda, com os galões de tenente, a maior parte das vezes vinha em  chinelos e bata branca com o seu Citröen dois cavalos, velho mas que andava.

"Quando o serviço estava difícil e lhe pediam mais um cabo de reforço, ele indicava  sempre dois nomes: 'Avança o Reis ou o Pereira' (...).

Para o Reis, o Dr. Fernando Garcia é sempre referido como o "senhor", o "grande mestre" (p. 28):

"O médico-dia olhou [o ferido que acabara de chegar de helicóptero,  com os membros  todos esfacelados e o tronco estilhaçado] e pareceu-lhe  nada haver a fazer, mas chegou o grande mestre (Dr. Fernando Garcia), olhou e pediu sangue, deu um certo grau de inclinação à maca, fez-lhe a reanimação, e passado algum tempo o nosso homem gritava, perguntou onde estava e nós dissemos-lhe" (...).

Noutra ocasião chegou ao hospital um camarada que tinha estado com o Reis, na recruta em Leiria:

"Chegou num estado lastimável, perdia todo o sangue das transfusões pelos orifícios que tinha nos pulmões. Ele dizia que ia morrer, eu encorajava-o, dizia-lhe que se ele se aguentou até ali, já não morr[er]ia, que  o Dr. Fernando Garcia o ia safar. Ele ainda foi para a sala , mas já não voltou. Da Sala de Operações foi direito à mortuária " (p. 30).

Há ainda outra passagem (p. 50), com referência ao Dr. Fernando Garcia:

 "O nosso homem [um chefe de tabanca] chegou todo furado, para além da sonda gástrica, algália, soro e oxigénio, ainda tinha mais dois frascos debaixo da cama para onde iam correndo líquidos por uns tubos. Era daqueles que o Dr. Fernando Gracia dizia, quando via ter sido de mais tê-los salvo: ' Este não fui eu que o operei'  - fazendo alusão a Alguém  acima dele. Era um homem e fé, não sei se ainda hoje o é".

Sabemos que foi substuído pelo Dr. Manuel Diaz,  possivelmente em finais de 1967 ou princípios de 1968. O Reis, que regressou à Metrópole em 24 de Março de 1968, foi louvado pelo Dr. Fernando Garcia:

"Eu tinha sido louvado pelo Dr. Fernando Garcia porque tinha correspondido perfeitamente  à missão  para a qual tinha sido treinado (...)" (p. 40).

Outros médicos,  para além do Dr. António Augusto Antunes Pinheiro, director do Hospital (pp. 61/62), que são citados pelo Reis,  é o Dr. Vilaça Ramos, também cirurgião (p. 31),  o Dr. Melo (p. 40) , e o Dr. Gomes da Costa (p. 24). Num dia negro, 5 de Outubro de 1967, em que chegaram dezenas de feridos,  do mato, o Reis estava de serviço com o Dr. Gomes da Costa, o sargento Marcos  e o cabo  Silvino. A causa de tantos mortos e feridos terá sido uma mina incendiária, accionada por uma GMC (p. 25). Os feridos mais gaves seriam depois evacuados para Lisboa, cinco dias mais tarde.

Outros dois médicos referidos no livro do Reis são o Dr. Sá Meneses e o Dr. Manuel Diaz, este último o médico-chefe, periquito, que veio substituir o Dr. Fernando Garcia, e que quis participar do Reis, por ter respondido, com duas bofetadas,  a um insulto de um prisioneiro do PAIGC (pp. 39/40)... Há ainda um médico psiquiatra, o Dr. Castelão (p.44).

Pergunto aos nossos amigos e camaradas da Guiné: algum de vocês conhece um ou mais destes nomes, e muito em especial o Dr. Fernando Garcia, tenente miliciano médico ?

Na Internet, encontro uma referência a um Dr. Fernando Garcia, cirurgião geral, com consultório privado na Praça João A Coutinho 5,1º-D,   1170-190 Lisboa  . Telefone: 218 148 543. Alguém quer confirmar ?

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Nota de L.G.:


(...) António Ramalho da Silva Reis, nascido em Avintes, em 1944, embarcou em Março de 1966 no “Rita Maria” e foi colocado no HM 241. A sua experiência ao longo de dois anos na Guiné constitui o relato comovente “A Minha Jornada em África” (...).

Relato na primeira pessoa do singular, toca-nos pela simplicidade e ausência de pretensões:

“Vi talvez centenas de moços da minha idade morrerem ou chegarem mortos. Vi milhares de feridos entrarem por aquele hospital dentro. A tudo isto assisti, pois passei a minha comissão dividido entre o Posto de Socorros, a sala de observações e a Cirurgia 1, onde ficavam os casos mais graves. Os outros, de menos gravidade, eram distribuídos por outras enfermarias”.

Assentou praça no RI7, em Leiria, confessa que procurou todos os pretextos para se safar, ser mobilizado para a guerra, já que tinha um braço arqueado, mas ninguém se apiedou:

“Filho de pobre só não ia para a tropa o cego, o coxo ou o maneta. Filho de rico ainda se safavam alguns, arranjando falsos exames médicos onde apareciam com cavernas nos pulmões ou úlceras no estômago”.


Embarcou num barco de carga, carga bruta e carga humana, a Ritinha “desencostou ao som da grafonola que tocava o hino nacional”. (...).

Desembarca em Bissau, assustou-se com os primeiros feridos que viu chegar ao hospital, foi com o 27 (condutor do carro fúnebre) levar umas urnas à capela de Bissau (...).


 Descreve a chegada dos feridos ao HM 241, o helicóptero a aterrar e a abordagem de um piquete constituído por quatro soldados e um cabo. Ao princípio o António ainda lhes perguntava o que é que tinha acontecido, depois limitava-se a fazer o seu trabalho. Havia dias especiais como o 5 de Outubro de 1967 em que chegaram quarenta corpos, todos a cheirar a carne humana queimada, todos transformados em múmias, quem estava vivo foi transferido para Lisboa. E confessa:


“Era duro trabalhar naquela enfermaria. Ainda recordo o cabo Silvino ter-me dito que tinha de arranjar formar de fugir daquela enfermaria se não morria ou ficava louco, mas muito mais duro era ficar destacado no mato e aparecer lá num estado como chegaram aqueles e outros desgraçados”.

Há sofrimento inesquecível: o ferido que parecia nada haver a fazer para o salvar e que irá recuperar, tratado com desvelo por aquela malta toda; o camarada que esteve com ele na recruta em Leiria e que chegou num estado lastimável a perder todo o sangue das transfusões pelos orifícios que tinha nos pulmões. Depois a camaradagem, levara soldados à mortuária para os convencer que o camarada de pelotão não estava entre os mortos. (...)


As histórias que ele conta referem camaradas pícaros, bebedeiras, o tratamento de prisioneiros, a chegada da malta lá da terra internada no hospital, as recordações do Dr. Fernando Garcia, a sua referência profissional, as vicissitudes da única gorjeta que recebeu, as visitas das senhoras da Cruz Vermelha e do Movimento Nacional Feminino. Há recordações dolorosas como a chegada daquele alferes que vinha paralisado que ele calçou com almofadas, friccionou com álcool e empoou com Lauroderme para que não ganhasse escaras. Prometeu visitá-lo quando viesse para Portugal, encontraram-se. Anos mais tarde, voltou a procurá-lo, o alferes não o reconheceu, talvez tivesse subido muito na vida e não quisesse ser visto com aquele homem com cara de jardineiro ou cantoneiro...


Regressou a metrópole em 1968, aqui está agora o seu relato que finda assim: “Exteriorizei aquilo que me ia na alma, se alguém me quiser julgar que o faça, mas que esse juiz tenha vivido no mínimo aquilo que eu vivi”. (...).

sábado, 2 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5580: FAP (44): A verdade sobre os incidentes, em Bissau, em 3 de Junho de 1967, entre páras e fuzos... (Nuno Vaz Mira, BCP 12)


Guiné > BCP 12 > CCP 121 (1972/74) >  O crachá da unidade (à esquerda). Foto: © Victor Tavares (2006). Direitos reservados.


Guiné > BCP 12 > CCP 122 (1972/74) > O crachá da unidade (à direita) Foto: © Tino Neves (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem de Nuno Mira Vaz,  Cor Pára Ref (Guiné, BCP 12, 1967 e 1973) (*), com data de 29 de Dezembro último:

Assunto - Comentário sobre posts do blogue

Meu caro Luís Graça

Cá estou de novo a abusar do seu tempo.  Mas é por uma justa causa, pois trata-se de um comentário, em word, no qual tento esclarecer um conjunto de acontecimentos relatados no blogue.

Bem sei que,  não sendo membro, não tenho o direito de o incomodar. Por isso, se achar que o comentário não tem interesse ou carece de oportunidade, eu não fico ofendido.

Abraço mais uma vez com simpatia um antigo camarada de armas.
Nuno Mira Vaz


2. A propósito dos incidentes entre pára-quedistas e fuzileiros  e do 1.º Cabo Jaime Duarte de Almeida (**)

(i) Incidentes entre pára-quedistas e fuzileiros

Considero bastante conforme à verdade (com excepção da data, que foi o dia 3 de Junho de 1967 e não Janeiro de 1968, conforme a História oficial do BCP 12, da autoria do Tenente-Coronel Luís Martinho Grão) a versão apresentada pelo 1.º Sargento Carmo Vicente, inclusive no que respeita às responsabilidades dos graduados pára-quedistas, que pouco fizeram para evitar o infeliz desenlace duma jornada que devia ser lembrada apenas como desportiva.

Nos primeiros meses de 1967, a rivalidade desportiva entre pára-quedistas e fuzileiros foi-se transformando numa animosidade doentia. Estou certo de que muita gente se apercebeu do fenómeno, mas ninguém foi capaz de apreender o potencial de violência armazenado no processo. Por mim o digo: em momento algum imaginei que alguém pudesse conceber a sucessão de embustes que conduziram os páras à emboscada mortal.

Assisti a alguns dos jogos onde marinheiros e aviadores se enfrentavam e fui mais um dos que puderam observar o Jaime Duarte de Almeida, conhecido por Oitenta, e o Mário Cerqueira, por alcunha o Pedra Dura, a orquestrarem as actuações da claque da Força Aérea. E que fizemos nós, oficiais e sargentos com responsabilidades na conduta dos homens? Admoestámo-los com pouca convicção.

Era um sinal dos tempos: entre os operacionais, havia a convicção generalizada de que quem ia ao mato arriscar a vida tinha direito a descarregar na cidade as tensões acumuladas no combate – um sintoma, talvez o mais nítido de todos e sem subterfúgios, de imaturidade colectiva. Se os responsáveis tinham menos de trinta anos, e tendo em consideração que os dois lados se comportavam exactamente da mesma maneira, a rivalidade só por milagre poderia ter terminado de forma pacífica. Mas o que aconteceu ultrapassou em muito a imaginação mais delirante.

Na noite de 3 de Junho de 1967, no final dum jogo que parecia ter decorrido de forma idêntica a tantos outros, entre o ASA – acrónimo de Atlético Sport Aviação, o clube dos militares da Força Aérea – e a equipa onde alinhavam os marinheiros, sucedeu o inesperado: estes, depois de trocarem insultos e provocações com os pára-quedistas, como era hábito, abandonaram o recinto desportivo, numa atitude pouco consentânea com os seus comportamentos recentes.

Os páras correram atrás deles pelas ruas da cidade, não imaginando que, algumas centenas de metros à frente, emboscado num prédio em construção, um grupo de fuzileiros armados com G-3 (***) se preparava para os atacar a tiro. Custa a entender onde aqueles homens foram buscar ânimo para levar a cabo semelhante acto, mas a verdade é que foram capazes de abrir fogo à queima-roupa sobre camaradas de armas desarmados, matando de imediato o 1.º cabo Ismael Santos e o sold. Fernando Marques, para além de terem provocado ferimentos noutros soldados.

Na manhã seguinte, as pessoas – militares e civis, homens e mulheres -, demoravam a acreditar que pudesse ter ocorrido semelhante acontecimento. O relato de pancadarias épicas entre grupos de militares das tropas especiais, e sobretudo entre estes e as patrulhas da Polícia Militar que os queriam meter na ordem, em bares, discotecas e outros locais de diversão nocturna de certos bairros de Luanda, Lourenço Marques ou Beira, era tema frequente de conversa nos clubes e nas messes.

O que variava, curiosamente, eram as cumplicidades afectivas: em Luanda os páras aliavam-se ao fuzos contra os comandos, em Bissau eram os fuzos e os comandos que lutavam contra os páras. Algumas cenas, como a da Pastelaria Versailles de Luanda, ficaram tristemente celebrizadas por causa das mortes envolvidas. Mas nenhuma, até aí, fora perpetrada com os níveis de irresponsabilidade e premeditação registados em Bissau.

No rescaldo dos acontecimentos, os militares do BCP 12 viviam um ambiente de amargura, raiva e impotência. Uma única coisa veio mitigar o nosso desconsolo: o enterro dos dois soldados mortos foi acompanhado por uma multidão imensa, seguramente a maior manifestação cívica a que assisti em Bissau, apenas superada pela visita do Presidente Américo Tomás. Tive então a convicção, que mantenho hoje, de que os civis quiseram dar um testemunho claro da sua consideração pelas Tropas Pára-quedistas.

(ii) O 1.º Cabo Jaime Duarte de Almeida, o Oitenta

Quando foi nomeado para o BCP 12, o Jaime, como prefiro tratá-lo, já tinha cumprido uma comissão em Angola como soldado. Foi destinado ao 1.º Pelotão da CCP 121, sob meu comando. A alcunha, segundo me lembro, não se devia a nenhuma proeza mitológica, como a sugerida por Jorge Félix no post 5552, mas sim a um incidente ocorrido no próprio dia em que se alistou nas tropas pára-quedistas. Mandado a subir para a balança pelo Sargento que anotava os índices físicos dos candidatos, replicou: - “Não vale a pena, meu sargento. São oitenta quilos certos”.

É verdade que alguns dos apontadores de MG-42 conseguiam “desenhar” com o impacto das balas na barreira da carreira de tiro figuras surpreendentes, mas com as duas mãos em simultâneo, nunca vi nem me contaram. Aproveito para esclarecer que tanto o Jaime como o Hoss, referenciados no post 1512 do Tino Neves com enfermeiros, pertenceram à CCP 121, onde eram apontadores de metralhadora.

O Jaime era oriundo da região de Mafra, e desde muito novo que fazia trabalhos pesados. Foram estes, e a generosidade da natureza, que lhe deram um corpo dotado de uma força impressionante e com uma resistência à dor inultrapassável. Recordo-me de o ver pegar com os dentes numa barrica de azeitonas vazia, de a erguer no ar e de executar com ela alguns passos de dança.

Como todos os seres humanos, não se lhe pode tirar uma fotografia a preto e branco, nem rotulá-lo de bom ou de mau. Era aquilo para que a vida o encaminhou desde muito novo, uma vida na qual se reagia a soco e a pontapé contra a adversidade e as provocações. Isto no Pilão ou nos bares na cidade, porque no Quartel o seu Comandante de Pelotão - o Tenente António Ramos, outro veterano de Angola, que mais tarde, como Capitão, foi oficial às ordens de Spínola – mantinha-o de rédea curta.

Em combate era indiscutivelmente corajoso. As Cruzes de Guerra que lhe penduraram no peito foram mais do que merecidas. Mas disso havia muito nas tropas pára-quedistas. E o Jaime nunca foi um dos melhores soldados da CCP 121. Eu explico:

A partir de certa altura, começámos a capturar quantidades consideráveis de armamento ao PAIGC. Não só as que pertenciam aos combatentes abatidos, mas também as armazenadas em esconderijos que íamos descobrindo no decurso das operações. Não me recordo da data em que isso começou, mas sensivelmente em meados de 1967 foi publicada legislação que atribuía prémios pecuniários por captura de armas e munições. O diploma estipulava que o dinheiro fosse entregue ao responsável directo pela captura mas, por acordo dos comandantes de Companhia com o Comandante de Batalhão, Tenente-Coronel Costa Campos, ficou estabelecido que uma parte seria entregue ao Comando do Batalhão e a outra às Companhias e utilizada em obras ou aquisições de interesse geral.

Com parte desse dinheiro, a CCP 121 instituiu um prémio, destinado exclusivamente a praças, que consistia numa viagem de ida e volta à Metrópole para gozo de férias. Os premiados, que eram indigitados pelos camaradas em votação secreta, recebiam além disso uma pequena importância em dinheiro para gastos pessoais.

A indigitação era aguardada sempre com natural expectativa pelos graduados, que receavam uma nomeação menos criteriosa ou ajustada, beneficiando um valentão de caserna ou algum detentor de prestígio adquirido de forma duvidosa. Mas as praças provaram ter um entendimento correcto dos valores em jogo, escolhendo, com grande maturidade e sentido de justiça, apenas entre os melhores. E o Jaime não foi um deles.

Voltei a encontrá-lo na minha segunda comissão da Guiné, de novo no comando da CCP 121, mas o Jaime pertencia então à CCP 122.

Quando saiu da tropa, foi para Marselha, onde se ligou a gente com negócios pouco recomendáveis. Como diz o Jorge Félix, acabou chinado. Como seria de esperar. Só não sei se em Lisboa, se em Marselha.

Recordá-lo-ei, sempre, como um combatente excepcional.

Nuno Mira Vaz

[Revisão / fixação de texto / bold a amarelo: L.G.]
 
________________
 
Notas de L.G.:
 
(*) Vd. postes de:
 
 15 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5471: O Nosso Livro de Visitas (75): O blogue, uma obra que não pode morrer (Nuno Mira Vaz, CCP121/BCP 12, 1972/74)
 
10 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1581: O elogio dos pára-quedistas das 121ª e 122ª CCP (Nuno Mira Vaz / Vitor Junqueira)
 
(...) Meu caro Vitor Junqueira:

 Quem lhe escreve é o comandante da CCP 121 na altura em que estivémos juntos no COP 6. Eu estive com dois pelotões no Olossato e o Tenente Castro esteve com outros dois em Mansabá. Li hoje a sua crónica num blogue que acompanho com muito interesse e sentida emoção, e no qual só não colaboro por falta de vocação pessoal para me expor (1).

Quero agradecer-lhe do fundo do coração as suas palavras. Não só expressa uma admiração sincera pelas tropas pára-quedistas, como ainda por cima soube detectar algumas das virtudes não propriamente militares de que muito nos honramos. Bem haja. (...) Nuno Vaz Mira (...)

 (**) Vd. postes de:
 
28 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5552: FAP (42): Dois senhores da guerra: O Cabo 80 e o Cap Pára Terra Marques (Jorge Félix)

27 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5546: FAP (41): Quem foi realmente o Cabo 80, 1º Cabo Pára-quedista nº 85/RD ? (Pedro Castanheira)
 
13 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1522: Bissau em estado de sítio por causa dos graves incidentes entre paraquedistas e fuzileiros em Janeiro de 1968 (Álvaro Mendonça)
 
11 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1515: Antologia (58): A batalha de Bissau em Janeiro de 1968: boinas verdes contra boinas negras... Saldo: 2 mortos (Carmo Vicente)
 
10 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1512: Estórias de Bissau (11): Paras, Fuzos e...Parafuzos (Tino Neves)
 
(***)  Poderiam pertencer a uma ou mais destas subunidades de fuzileiros: 

Companhia de Fuzileiros nº 3 (1967/69), Companhia de Fuzileiros nº 7 (1965/67), Companhia de Fuzileiros nº 9 (1966/68), Destacamento de Fuzileiros Especiais 3 (1965/71), Destacamento de Fuzileiros Especiais 4 (1965/67), Destacamento de Fuzileiros Especiais 6 (1966/67), Destacamento de Fuzileiros Especiais 7 (1966/68), Destacamento de Fuzileiros Especiais 19 (1967/69), Destacamento de Fuzileiros Especiais 12 (1967/69) (Fonte: página do nosso camarada Jorge Santos)

Guiné 63/74 - P5579: Parabéns a você (61): Carlos Marques Santos, ex-Fur Mil da CArt 2339 (Editores)

»»»»»»» F*E*L*I*Z .... A*N*I*V*E*R*S*Á*R*I*O «««««««


1. Completa hoje 67 anos de idade o nosso CamaradaCarlos Marques Santos (*), ex-Fur Mil At Art da CArt 2339, Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69, a quem saudamos especialmente neste dia.
É um dos membros da nossa Tabanca Grande, da primeira hora, e tem marcado a sua presença constante tanto na I Série do nosso blogue, como nos nossos quatro encontros nacionais, entre 2006 e 2009.
Vive em Coimbra, onde é professor de educação física (reformado) e dirigiu a sua primeira mensagem ao blogue em 04 Janeiro 2006, ficando registada no poste CDXIX, tendo-se apresentado dois dias depois, em 06 Janeiro 2006, com o seu Curriculum Vitae (abreviado), no poste CDXVI:
Assentou praça em Mafra (EPI) em Setembro de 1966. Especialidade de Atirador de Artilharia em Vendas Novas.

Iniciou a formação da Companhia (CART 2339) no RAL 3, Évora, em 28 de Agosto de 1967.

É natural de Coimbra, da Freguesia de Santo António dos Olivais; estudou no antigo Liceu Normal de D. João III e no Colégio S. Pedro em Coimbra; foi atleta federado de Basquetebol e Andebol, treinador e dirigente desportivo na modalidade de Basquetebol; presidente da Direcção e da Assembleia Geral do Olivais F. Clube e Vice-Presidente da Associação de Basquetebol de Coimbra.

Diplomado em Educação Física, voltou ao Liceu D. João III como professor (hoje Escola Secundária José Falcão, nome alterado depois do 25 de Abril de 74, fazendo parte da Comissão de Gestão). Efectivou na Esc. Sec. de Avelar Brotero, onde integrou como Vice-Presidente o Conselho Directivo.

Foi professor de Mobilidade (técnicas de Orientação e Bengala) de alunos invisuais durante 32 anos. É actualmente aposentado e reside na Rua Gago Coutinho, 17 A-6.ºA – 3030-326 Coimbra (...).

Na Guiné onde chegou a bordo do navio Ana Mafalda (parecia uma traineira!) (1), em 21 de Janeiro 1968, esteve em Fá Mandinga e Mansambo, onde foi rendido pela CCAÇ 2404.

Regressou a casa, em Dezembro de 1969, no navio Uíge, a 13 desse mês, dois anos após a partida para a Guiné.



2. Para melhor tentarmos conhecer o seu eventual perfil, acreditando nestas ancestrais sabedorias, fomos mais uma vez consultar um site que se tem vindo a tornar muito popular e se dá pelo nome de KAZULO (http://horoscopo.kazulo.pt/4866/signos-do-zodiaco.htm), que nos diz sobre os nativos do signo astrológico Carpicórnio (22 de Dezembro a 20 de Janeiro), o seguinte:

Capricórnio (22/12-20/01O)


Ascendente de Capricórnio desperta na personalidade a ambição e vontade de perseguir e alcançar uma segurança material. Tomam em consideração tudo a que têm acesso e ao seu redor para facilitar a subida ao suzesso. Por serem tão prudentes, são adeptos da utilização de qualquer informação com que se deparem.


Os nativos de Capricórnio costumam aparentar serem calmos, tímidos ou um pouco reservados, sobretudo na primeira impressaõ. Tudo o que fazem tem um propósito e é feito para alcançar um objectivo bem tangível. Paciência, disciplina e trabalho árduo ajudam estes indivíduos a conseguirem aquilo a que se propuseram ceda na vida.Apesar de levarem o seu tempo a percorrer o caminho traçado, fazem-no de forma segura e sem colocar o pé em falso, e sem nudar de direcção. Organizados e metódicos, são capazes de lidar com grandes responsabilidades e obrigações. Preocupam-se bastante com a sua reputação e sentem a necessidade máxima de realização pessoal.

Acham-se merecedores de retribuição por tudo o que contribuiem, gostando de ser reconhecidos por isso.

A frase chave para Capricórnio é «eu utilizo». A atracção está direccionada a Caranguiejo pelo lado mais emocional destes equibilibrar uma vida mais orientada ao trabalho e negócios.

Corresponde ao signo cardeal de Terra, ligado às profissões e carreira.


3. Independentemente dos comentários que os nossos Camaradas colocarão no local reservado aos mesmos, queremos em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote, Magalhães Ribeiro e demais Camaradas da Grande Tabanca, cantar-te a seguinte cantiguinha:



PARABÉNS A VOCÊ,
NESTA DATA QUERIDA,
MUITAS FELICIDADES,
MUITOS ANOS DE VIDA.
HOJE É DIA DE FESTA,
CANTAM AS NOSSAS ALMAS
PARA O AMIGO CARLINHOS...
UMA SALVA DE PALMAS!

E mais acrescentamos que:

O nosso maior desejo, neste teu aniversário, é que junto da tua querida família sejas muito feliz e que esta data se repita por muitos, bons e férteis anos, plenos de saúde, felicidade e alegria.

Que por muitos mais e boas décadas, este "aquartelamento" de Camaradas & Amigos te possa enviar mensagens idênticas, às que hoje lerás no cantinho reservado aos comentários.

Estes são os nossos sinceros e melhores desejos destes teus Amigos e Camaradas.

Com um grande abraço fraterno.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: