quarta-feira, 5 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6323: Tabanca Grande (216): Fernando Almeida, ex-Fur Mil Trms, CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71)

1. Mail enviado por mim ao José Fernando Almeida [, aqui, à esquerda, foto da recruta, 1968,], que vive em Óbidos, e que foi Fur Mil Trms Inf da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, o Fernando Almeida, meu contemporâneo, amigo e camarada em Santa Margarida, Niassa, Contuboel e Bambadinca, Maio de 1969 / Março de 1971) (*):


Meu caro Fernando: Antes de mais: como vais tu ? Em grande forma ? Estive em Óbidos, o meu filho, com a banda dele (os Melech Mechaya), foi aí tocar, na festa do chocolate, mais exactamente no programa da RTP1, do Júlio Isidro, mas não deu para te ligar… Em princípio, encontramo-nos mesmo no dia 22, no convívio da CCS do BCAÇ 2852, CCAÇ 12 e outras subunidades adidas (...).

Tenho aqui uma outra pré-inscrição para o encontro: a do nosso antigo cabo quarteleiro, o João Rito Marques, que vive no Sabugal. Foi a filha que me telefonou. TM 966 525 319… Toma boa nota.

Também encontrei o Dalot e a filha no encontro do BART 2917 (1970/72), em Coruche, no passado mês de Março… (**)

Olha, manda-me o teu texto da convocatória para eu divulgar no blogue por estes dias… E já agora duas fotos tuas, uma do “antigamente” e outra actual, para eu finalmente te apresentar à nossa Tabanca Grande… Junta um pequena mensagem de apresentação… A nossa Tabanca Grande, que já tem 411 elementos registados, é a maior comunidade virtual do mundo, a nível de ex-combatentes (de uma só guerra)… Temos ainda pouca malta da CCAÇ 12, registada na nossa lista de membros do blogue… Em contrapartida, a malta de Transmissões tem aderido muito bem ao blogue.

Fica bem. Um grande Alfa Bravo. Luís (ou se preferires, Henriques).

2. Resposta do Fernando Almeida:

Caro Amigo Henriques: Sempre te tratei por Henriques, traz-me com mais facilidade à memória recordações da Guiné.

Registo a tua inscrição para o 16.º Convívio de Bambadinca, aguardo a confirmação da Alice. Vou contactar o João Rito Marques [o nosso cabo quarteleiro, que vive em Sabugal], dele só tinha o número do telemóvel, mas que está desactualizado.

Já enviei ao Diniz Dalot [ex-soldado condutor auto] um e-mail, para o endereço da filha, vou aguardar até ao dia 10, nesse dia vou contactá-lo por telemóvel.

Já recebi a pré-inscrição do Marques, ficou de confirmar os acompanhantes.

Há tempos enviei-te um e-mail para o blogue em que te falava do 16.º Convívio, e te pedia fotografias dos emblemas dos Pel Nat, Batalhões e Companhias que operaram em Bambadinca no período de 68 a 71. Também te dava conhecimento da intenção de passar a reunir todos os Camaradas de Bambadinca e da CCaç 12, de 1968 a 1974. A ideia não é nova.

O Victor Alves [ex-Fur Mil SAM, CCAÇ 12, 1971/73, que vive em Santarém], já me tinha proposto iniciar este ano, o Vacas de Carvalho disponibilizava a Herdade da Lobeira para esse fim, adiei porque não estava mandatado para isso, sugeri que este projecto fosse apresentado durante o 16.º Convívio. Eles vão reunir no dia 29 de Maio, o Victor ficou de passar pela Lareira, para falarmos.

Vou procurar e enviar-te as fotografias, vão atrasadas mas, como se diz, nunca é tarde. Juntamente também te enviarei o Programa e o Menu.

Um abraço do amigo
Fernando Almeida



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca, 1971 > Esboço do Sector L1 (composto basicamente pelo triângulo Bambadinca / Xime / Xitole / Margem direita do Rio Corubal, a que haveria de acrescentar a região do Cuor, a norte do Rio Geba) > Capa da brochura com a história da CCAÇ 12 (1969/71). Desenho: Ex-Fur Mil At Inf António Levezinho (2.º Gr Comb, CCAÇ 12). O pessoal metropolitano da CCAÇ 12 (Maio de 1969 / Março de 1971) conheceu (e esteve às ordens de) dois batalhões em Bambadinca: BCAÇ 2852 (1968/70) e BART 2917 (1970/72).

Foto: © Luís Graça (2005). Direitos reservados


3. Comentário de L.G.:

Obrigado, meu caro Fernando Almeida [aqui fotografado, à direita, no dia do baptizado do teu neto João], por aceitares o meu convite para integrar a nossa Tabanca Grande.

Serás o n.º 412, estamos quase a formar um batalhão... Vou pedir ao meu co-editor Eduardo Magalhães Ribeiro se te arranja os brasões das unidades acima referidas.

Há dias encontrei, por mero caso, o Vacas de Carvalho, [ex-comandante do Pel Rec Daimler 2206, 1970/71] num restaurante perto da casa dele, na Ajuda, disse-me que ia ao encontro e falou-me desse projecto de reunir as "três gerações" de quadros metropolitanos da CCAÇ 12 (1969/71, 1971/73, 1973/74), lá em baixo, na herdade da família, a Lobeira, em Montemor-O-Novo. Vamos trabalhar para isso.

Sobre as unidades e subunidades que passaram por Bambadinca (entre 1963 e 1974) tens um trabalho precioso do Benjamim Durães (Fur Mil pel Rec Info, CCS/ BART 2917, 1970/72).

Sobre as unidades e subunidades do nosso tempo (basicamente, 1968/71), julgo que a lista é mais ou menos esta (clica nos links parta saberes mais; faltará um ou dois PINT - Pelotões de Intendência; os Pel Rec Info estavam integrados nas CCS; os PEL ART - Pelotões de Artilharia ainda não havia no nosso tempo: é claro que faltam os PEL MIL - Pelotões de Milícia, etc.):

CCS / BCAÇ 2852 (1968/70)

CCAÇ 12 (1969/71)

Pel Caç Nat 52 (1968/70)

Pel Caç Nat 54 (1969/70)

Pel Caç Nat 63 (1969/71)

Pel Mort 2106 (1969/70)

Pel Mort 2268 (1970/72)

Pel Rec 2046 (1968/70)

Pel Rec 2206 (1970/71)

CCS / BART 2917 (1970/72)
______________

Notas de L.G.:

(ª) Vd. poste anterior desta série > 26 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6252: Tabanca Grande (215): O Francisco Silva, hoje cirurgião, ortopedista, no Hospital Amadora-Sintra, foi o substituto do infortunado Alf Mil Op Esp Nuno Gonçalves da Costa, do Pel Caç Nat 51, morto por um dos seus homens em 16 de Julho de 1973

(**) Vd. poste de 2 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4454: Convívios (140): Castro Daire, agora chão de Bambadinca, 1968/71 (3): Gente feliz, com lágrimas...

Guiné 63/74 - P6322: Controvérsias (73): Contra a corrente é difícil nadar (José Brás)

1. Texto enviado pelo nosso camarada José Brás* (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), enviado ao nosso blogue para publicação:


Contra a Corrente


Contra a corrente é difícil nadar.
Difícil e perigoso, como não se cansa de dizer na praia o nadador-salvador.
Mas todos conhecemos gente que não quer outra coisa da vida senão ir contra a corrente, caminhar contra o vento, muitas vezes atirar a pedra na vertical e esperar que lhe tombe na cabeça.

Não é totalmente o meu caso. Já foi mais, atrás no tempo e nos tempos, quando quase só tinha certezas construídas à luz de uma leitura da vida provavelmente justa mas claramente monocolor num mundo que se tem de compreender colorido.
Confesso, no entanto, que de vez em quando, talvez mais vezes do que aconselhável para uma certa comodidade a que se tem direito de aspirar na minha idade, me apetece dar a cara ao vento que sopra contra, e teimar em frente.
Como agora, por exemplo, quando antes de começar me apetece já dizer, meu deus, no que vou eu meter-me!
Hesito, por isso, e que ninguém se admire da minha hesitação.

Escrevo, não escrevo?
Digo, não digo, pergunto eu, a mim próprio sem mais ninguém a quem perguntar, a não ser, talvez, se me dividisse e perguntasse aos vários eus que sou.
O problema é que todos falam na mesma língua e com as mesmas palavras, ainda que discutam entre si e discordem.

Vai a ver-se e, provavelmente, o problema é de falta de moderador, de juiz que sintetize, que pese argumentos e corte a direito doa a qual dos eus a quem vier a doer.
Ou que contente a todos, em pacto de regime que tanta falta nos faz sempre, como sabem, sobretudo hoje em dia.

Na verdade, sei que vou entrar num assunto delicado e que, por sê-lo, deve ser tratado com pinças e cuidados extremos, tendo no centro gente, tendo no centro passados e presentes de gente que viveu já muitas contradições e que nelas se fez o que é hoje, sendo hoje a memória dos passados todos que sofreu.
E tem também a outra gente, amigos lado a lado anos a fio, comungando as mesmas fés, ou próximas, correndo os mesmos riscos, ganhando e perdendo, às vezes no gume da vida, e nesse entendimento se fez também, um pouco, comunhão plena da admiração e da amizade profunda entre seres assim vividos.

Portanto, o risco é grande e talvez mais valesse ouvir o polícia das séries americanas que vemos na televisão, guardando eu também o direito de ficar calado porque tudo o que disser poderá ser usado contra mim.
Sei inclusive que hipotéticos juízes, neste caso como tantas vezes na justiça a sério, nem terão necessidade de processo de investigação, quer dizer, de ler o texto todo que me irá sair e que neste momento ainda nem sei bem o que será senão no fio muito genérico de uma ideia, para me julgarem e condenarem a minha alma aos quintos do inferno.

Ainda assim, vou avançar e depois se verá se publico ou se eu próprio me condeno e deito fora o que tiver produzido.

Vem isto a propósito do lançamento recente do livro de Amadu Bailo Djaló e da fila de bocas abertas de espanto perante a barbárie que se abateu sobre antigos combatentes negros da Guiné que lutaram do nosso lado, tivessem sido ou não heróis por feitos contra o PAIGC, tivessem sido ou não inimigos ferozmente radicais da guerrilha e das populações que a ela se encostavam, tivessem ou não massacrado, tivessem ou não feito a viagem "Ametista Real" ou outra qualquer das que existiram dentro ou fora do quadro normal(?) de uma guerra como esta, feita no último estertor de um regime e de um sistema condenados.

E quem não se espantará de tal barbárie, sobretudo se sobre gente que combateu ao nosso lado, bravos e abnegados, leais e amigos, crentes na convicção que os preenchia de que estavam do lado certo, qual de nós não espantará, sabendo que sempre nos tocam e agoniam muito mais profundamente os dramas daqueles que nos estão próximos do que os de outros, hipoteticamente maiores mas sofridos por desconhecidos longínquos?

A guerra, por mais que nos queiram convencer os que a amam(!), ou os que fingem admirar na catarse dos heróis que foram ou que gostariam de ter sido, não é um acto natural do homem e só acontece na distorção profunda da consciência colectiva de um povo, no caso de ambição desmedida e colectivamente manifestada por poderes e por domínios, num processo de manipulação ideológica e moral, ou, então, no caso de adopção colectiva da revolta perante a incapacidade absoluta de esperar por justiça negada.

Num processo ou no outro, nos dois casos, existem sempre determinados aspectos que se encontram, quer se trate da bravura no combate, da honra, do respeito pela humanidade dos contendores individuais ou pela negação desse respeito.
Desencadeada, não é muito fácil encaixá-la em regras cavalheiras, e quem tomou parte num lado ou no outro o que quer é ganhar, naturalmente, derrotando (aniquilando) o inimigo.

Não sei dos motivos individuais mais profundos que levaram a que tantos cidadãos das colónias se tivessem juntado às nossas forças, combatendo os irmãos que, mal ou bem, se batiam e davam a vida no caminho na ideia da libertação da terra onde nasceram.
Certamente que serão muitas e muitos, tais razões e motivos, uns entendíveis, conscientemente pensados e decididos, provavelmente nobres na complexidade das questões, e outros, acidentais apenas, inevitáveis, inconscientes e tomados por acaso ou por conveniências aparentes, o que de resto terá também acontecido a muitos que combatiam nas fileiras do PAIGC.

Retomando o que acima já disse, para explicar a pluralidade deste pensamento, posso repetir aqui que, não sendo, hoje, o homem de convicções absolutas que já fui, tenho como toda a gente, valores que agarrei no meu processo de crescimento e amadurecendo, sendo que nesses valores e conceitos cabem algumas certezas sobre a multiplicidade da alma humana, sobre verdades e sobre razões de cada um, verdades e razões que explicam as suas decisões individuais, estranhas, incompreensíveis e até inaceitáveis para quem, de fora, não lhes toma o devido peso.
Há certezas que me enchem de tal modo ainda hoje, que delas não julgo possível abrir mão, por mais que aceite e tente compreender o seu contrário.

Por exemplo!
O orgulho que me dá de ter nascido numa pátria que a determinado tempo do seu romance, foi capaz de sair de si própria, correr riscos e sofrimentos desmedidos, na crença de que haveria formas novas de melhorar o mundo, se fez ao mar, descobriu caminhos e gentes, desbravou terras longínquas, alargou o mundo e ofereceu o seu labor à humanidade.

Por exemplo!
Que passados os séculos que passaram e se aceitam como foram, novas verdades se construíram (ler Camões) no desenvolvimento da moral e dos conceitos sobre a humanidade nova, justamente consequência da realidade desse passado e das novas necessidades do homem. A descolonização era um processo mundial irreversível e muito melhor para todos teria sido reconhecer isso e preparar as mudanças, do que teimar na sua negação, manipulando a ideia de uma pátria cristã, multicontinental e plurirracial, arrastar gentes para guerras prolongadas e destruidoras de passados, de presentes e de futuros.

Por exemplo!
Que sei e sempre soube que o lado em que me bateria nessa guerra, seria o outro, se nessas terras tivesse nascido, branco como sou, ou negro, mas, na referida postura que me anima, não me admira que a maioria dos cidadãos deste País, como eu, tivessem partido para a guerra a matar e a morrer, assumindo ou não a ideologia do Estado e ainda que com dúvidas sobre a razão, nem me admira tão pouco que, mesmo filhos dessas terras tivessem escolhido o nosso lado e nele se tivessem batido.

A hora da passagem do poder do colonialista para os filhos das colónias que se haviam batido por um ideal de libertação, deveria ter sido um tempo de festa e de construção da paz, mesmo de uma paz que pudesse irmanar os dois lados da contenda.
Deveria ter sido e foi, de facto, se falarmos apenas das relações imediatas entre a guerrilha e o exército que a combatia.

A festa fez-se, desde logo nos espaços onde estavam instalados os soldados portugueses, muitas vezes em convívio de tal maneira aberto que observadores exteriores e conhecedores de outros processos, como o Francês e o Belga, se admiravam da amizade ali expressa. Também o foi, mais tarde, na consolidação formal da passagem do poder dos actos oficiais.

Contudo, desde logo se viu que a festa não incluía os cidadãos locais que haviam ficado do nosso lado. Contra esses, o ódio e a raiva falavam mais alto e tomaram aspectos marginais aos verdadeiros sentimentos da paz e da humanidade.

Era esperável tal atitude?

Acredito que se Amílcar Cabral vivesse ainda nessa altura, exceptuando casos extremos de acção violenta que sabemos que existiram no decorrer do conflito, tal festa abrangente teria mesmo acontecido.

Não li do livro de Amadú, senão pequenas notas que saíram no blogue, entre elas o episódio da criança capturada que opôs opiniões do Alferes branco e de Amadu e que mostra deste uma grandeza humana superior.

Irei lê-lo e tenho a certeza de que a sua leitura em nada diminuirá o respeito e a admiração que hoje nutro por ele apenas do que dele tenho ouvido por terceiros e apesar da escassez do convívio.

Provavelmente, ao contrário, tais sentimentos crescerão, então, e me recordarão outros combatentes negros que estiveram ao meu lado nesse tempo duro e de quem guardo grata memória.

Afinal, a natação acabou por fazer-se em águas menos desfavoráveis, creio, e isso é o que pensará Amadu e os seus amigos próximos, crentes também de que um dos grandes bens do homem de hoje é (ou deveria ser), o direito à diferença.

José Brás
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 28 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6268: Bibliografia de uma guerra (56): A Propósito de Até Hoje (Memória de Cão) (José Brás)

Vd. último poste da série de 4 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6309: Controvérsias (72): Uma Página Negra (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 – P6321: Banalidades da Foz do Mondego (Vasco da Gama) (X): As minhas (in)Congruências ou as minhas (in)Coerências?

1. O nosso camarada Vasco da Gama, ex-Cap Mil da CCAV 8351, Os Tigres de Cumbijã, Cumbijã, 1972/74, enviou-nos, em 5 de Maio de 2010, a seguinte mensagem:

BANALIDADES DA FOZ DO MONDEGO X
AS MINHAS (in)CONGRUÊNCIAS OU AS MINHAS (in)COERÊNCIAS ?

Da revolta interior contra o que me obrigara ir combater para a Guiné, até ao regresso a Portugal já livre dos pesadelos horrorosos, tinham passado vinte e dois longos meses de sofrimento.

Desembarquei no Figo Maduro, estava Agosto de 1974 quase no fim, fui com os meus camaradas para o RALIS (?) onde entreguei o que havia a entregar, meti-me num táxi, disse aos três camaradas da minha região, o Lopes da Esperança, Alhadas, o Piscas de um local pequenino com um nome engraçado -Perna de Pau – e o Preto da Tocha e “ordenei”: vamos embora que eu pago o transporte.

O nosso embarque da Guiné para Portugal foi marcado de um momento para o outro, pelo que não houve tempo de a maior parte da malta avisar os seus familiares, o que foi aliás, o meu caso.

Vinte quilómetros antes de chegarmos à Figueira da Foz, seriam sete e pouco da manhã, telefonei aos meus pais a dizer que daí a pouco estaria em casa e que fossem avisar a minha mulher, morávamos então em casa dos meus sogros ausentes em África, que o Vasquito estava a chegar.

Lá os consegui convencer que não era nenhuma brincadeira e passado pouco tempo estava com a minha outra família, a que nunca quereria ter abandonado, a única que havia tido antes da partida para a Guiné.

De mim, camaradas, vão sabendo alguma coisa pelo nosso Blogue ou nalguma comezaina onde nos vamos juntando; o Lopes enviuvou mas está bem na vida, reformado, mas no activo ajudando o filho na oficina.
O Preto continua na faina marítima, não tendo perdido o vício da sua garrafa de tinto, que substitui pelo garrafão quando o mar está mais bravo e o meu camarada Piscas suicidou-se, como vos contei há uns tempos. Atirou-se para debaixo de um comboio, abandonado pela família e pela “querida pátria” que ele um dia, convictamente, defendera nessa Guiné.

Cheguei da Guiné confuso e desenvencilhei-me dos camuflados, das botas, dos quicos, enfim de tudo a que cheirasse a tropa e à Guiné. O outro diria Guiné jamais (jámé)…

Não quero ouvir falar mais na tropa e no tempo que perdi, agora que estou num Portugal livre!

Vamos ser um grande país, confiava à minha mulher perante a aprovação do meus pai.

Vou terminar as cadeiras que me faltam e agora sim, vamos combater pela nossa Pátria, pela Democracia, pela Liberdade, por um Portugal melhor sem Salazares nem Caetanos...
O curso terminei e empreguei-me… o resto falaremos noutra altura…

O “jámé” Guiné, foi substituído pelo Guiné “for ever” e hoje, dia nenhum a leitura do nosso Blogue falha. Pode falhar tudo, mas o nosso Blogue é sagrado.
O bichinho da Guiné morde-me cada vez com mais intensidade e a minha outra família, a que me havia sido imposta numa guerra que eu odiava, é cada vez mais verdadeira e está cada vez mais presente.
Foi com eles que lutei, foi por eles que lutei, foi com eles que vivi vinte e dois meses no mato profundo, sempre juntos, sem população, sem instalações e sujeitos a constantes ataques.

Cumbijã era um deserto de terra queimada coberto por minas e todos nós a viver em barracas de lona… Quando regressávamos das patrulhas muitas das vezes não havia água para o banho, mas havia a força suficiente para amassarmos blocos com os nossos pés, pois tínhamos de fazer por nós próprios habitações com o mínimo de dignidade.
Tínhamos uma meta a atingir e conseguimos fazer as nossas casernas. Cada grupo de combate tinha o seu palácio feito pelos Tigres.

É também por eles que hoje aqui venho! Pela minha outra família, que de imposta passou a verdadeira.

Aconteceu o 25 de Abril e passado muito pouco tempo sabíamos das festas e convívios que as N.T. faziam praticamente por todo o lado com o P.A.I.G.C. Li já algumas dezenas de postes onde camaradas nossos ilustram fotograficamente esses encontros.

Curiosamente os nossos soldados nessas fotografias aparecem sempre desarmados e quase sempre trajando despreocupadamente, enquanto os guerrilheiros estão sempre bem ataviados e armados até aos dentes.

Abraçam os guerrilheiros como se fossem amigos de longa data, quase sempre numa posição que dá a ideia de alguma subserviência que eu não aceito.

Trocam-se quicos e bandeiras e lenços e botas e mais não sei o quê….

Sabem, camaradas, a minha Companhia de Cavalaria “Os Tigres”, manteve-se no Cumbijã até ao dia 25 e 26 de Junho, tendo seguido para Buba nesses dois dias, partindo a 27 para Bissau. Pois dois meses após o 25 de Abril nunca por nunca o P.A.I.G.C. se aproximou do nosso aquartelamento.

Vi um grupo quando comandava a coluna Cumbijã - Aldeia Formosa, espalhado num dos lados da estrada, mandei parar a coluna, todos nós estávamos armados e apenas eu me apeei e perguntei ao chefe do grupo: Tudo bem?
O homem acenou a cabeça afirmativamente, cumprimentou-me, mas nunca me passaria pela cabeça convidá-los a visitarem o meu aquartelamento.

Sei que logo após a nossa saída, o quartel havia ficado entregue aos milícias e a dois pelotões da C.Cav. 8350 do Guileje, na altura comandada pelo Capitão Vieira, hoje coronel reformado, os guerrilheiros entraram, devidamente autorizados, eventualmente para convencerem as milícias de que…

Ainda bem que não nos “visitaram” nesse período.

Dou-vos a minha palavra de honra que não saberia o que fazer!
Entregar o meu aquartelamento ao P.A.I.G.C., feito pelas nossas mãos, depois de tanto trabalho, de tanta emboscada, de tantos embrulhanços, de ataques ao arame?

Conviver com fraternidade com os guerrilheiros?

O que diriam os meus mortos e os meus feridos, alguns dos quais vieram a morrer em Portugal? O que diria a minha família de combatentes com quem lutei e por quem lutei?

Não tive que resolver esse problema…felizmente.

Mas como é que este gajo, que foi assumidamente contra a guerra colonial, ainda tem dúvidas? Que os meus camaradas me ensinem a responder à pergunta, caso contrário fico-me pelas minhas (in)congruências ou pelas minhas (in)coerências.
Legendas das fotos:
1. Cumbijã renovado: instalações 5 estrelas.
2. Alô; Alô, aqui posto de comando.
3. O Cumbijã que os Tigres encontraram: um deserto de minas. O Alf. Beires, o Alf. Abundâncio e eu próprio tratando de uma anti carro.
4. Amassando blocos para a construção das casernas.
Fotos: © Vasco da Gama (2010). Direitos reservados.

Do meu Buarcos, cada vez mais lindo, segue um abraço de amizade para toda a nossa Tabanca Grande.

Vasco da Gama
Cap Mil da CCAV 8351
___________
Nota de M.R.:

Guiné 63/74 - P6320: José Corceiro na CCAÇ 5 (10): Dia de Fanado em Canjadude

1. José Corceiro, no seguimento do Poste 6301 (Convívio dos Gatos Pretos), conta como a sua curiosidade lhe podia ter saído cara, pois não avaliou que estava a profanar uma cerimónia religiosa tão importante na religião islâmica.


José Corceiro na CCAÇ 5 (10)

DIA DE “FANADO” EM CANJADUDE

Tinha, se o tempo o permitisse, a ideia de relembrar o que aconteceu em Canjadude 40 anos antes, ou seja, em 24 de Abril de 1970, quinze dias antes e quinze dias depois, mas o tempo não deu para tudo.

Criei seis blocos principais com fotografias adequadas aos temas a saber: - Bloco, Hino dos Gatos Pretos - com fotos do aquartelamento e sua evolução, do que era e do que ficou, quando em Agosto de 74 foi entregue ao PAIGC, isto com a sonoridade de gravações feitas e, cantadas por Gatos Pretos em Canjadude. – Bloco, Falecidos - onde estavam incluídas as fotos, da época, dos que há conhecimento que faleceram. – Bloco, Ausentes - onde estavam as fotos daqueles que tinham desejo de estar presentes, mas que por motivo de doença, ou outros imponderáveis, não puderam marcar presença. – Bloco, Organigrama - que inclui um trabalho feito pelo nosso Gato Preto, Alberto Antunes, ex-Furriel de Transmissões, que substituiu o José Martins na Secção de Transmissões na CCAÇ 5. É um trabalho apurado, que queima muito a pestana, e só com o empenho do Alberto Antunes, se tem conseguido avançar, que consiste em elaborar uma base de dados, com fotografia de cada um e respectivos dados. – Bloco, Gatos Pretos - o bloco maior, com mais de seiscentas fotos, ordenadas por assuntos que representam o viver e a história da Companhia, onde todos os Gatos Pretos que foi possível reunir são intervenientes (actores). Por último, e é duma parte deste que vou falar – Bloco, Rituais e Costumes Indígenas - onde uma parte das fotos dizia respeito ao ritual da Circuncisão nos Homens e Excisão das Mulheres.

Foto 7 > Preparação dos meninos de Canjadude, já de cabeça rapada, para o “Fanado” (Circuncisão).

Foto 8 > Preparação das meninas de Canjadude para o “Fanado” (Excisão Feminina)

É sobre excisão feminina que vou relatar o que me aconteceu em Canjadude, no ano de 1970. Conto esta estória, não só por a ter incluído no bloco de Rituais Indígenas no convívio, mas também por o tema ter sido abordado no Poste 6243 por Filomena Sampaio.

Sempre considerei e considero, que há alguns costumes e tradições em determinadas etnias da Guiné, que são aberrantes e me arrepio só de falar nelas, entre as quais cito a circuncisão no homem, da maneira como era feita (circuncisão cirúrgica sim, quando necessária) e a excisão na mulher que é um acto repugnante, mutilando-lhe o único (e pouco) tecido eréctil que a mulher tem, que é o clítoris. Não importa que religião seja, mas jamais um ritual religioso, ou tradição por ela imposta, pode contribuir para a mutilação do corpo do ser humano. A religião deve dignificar e elevar o Homem e contribuir para um relacionamento de responsabilidade e respeito pela vida própria de cada ser humano. Só por professar determinada religião, não devemos agir às cegas seguindo os seus ditames e, acatar as suas imposições.

Corria o ano de 1970, eu sabia que estava para breve a cerimónia da excisão das meninas de Canjadude, pois já tinha havido a circuncisão dos rapazes, dos quais eu não tinha conseguido tirar fotos. Um militar africano não islamizado, com o qual tinha excelente relacionamento, que sabia do meu interesse pelo cerimonial do “Fanado,” veio ter comigo e informou-me que se realizava no dia seguinte o ”Fanado” nas meninas da Tabanca, cujo altar do ritual era logo à entrada da mata, do lado da pista aérea. Levou-me ao local, onde já havia preparativos para a execução do acto.

Eu, nesse dia, de máquina fotográfica armadilhada e meia disfarçada, despercebidamente vou-me infiltrar na mata, próximo do local da cerimónia. Em determinado momento, as meninas todas em fila, cobertas com um pano da cabeça até aos pés, caminham em direcção ao local da cerimónia. A fila é encabeçada por três ou quatro mulheres e há duas ou três que acompanham lateralmente a fila, talvez para orientar as caminhantes, porque duvido que com a cara tapada consigam ver o percurso da caminhada. De entre as mulheres, não dava para perceber qual seria a “Fanateca” (a mulher que executa o trabalho).

Foto 9 > Preparação das meninas de Canjadude para o “Fanado” (Excisão feminina)

Fotos 10; 11 e 12 > Deslocação das meninas de Canjadude, para (sacrifício) o altar dos rituais na floresta. Na foto 12, pode ver-se um pai (presumo) com uma criancinha ao colo com as vestimentas do “Fanado”.

Foto 13 > Celebração de Graças em Canjadude, vendo-se muitos militares, para que tudo corra bem no “Fanado”.

Eu, impaciente e nervoso, mantenho-me observante e sossegadinho, meio camuflado, nem pestanejava e a fila dirigia-se para o local do ritual. Mas foi Sol de pouca dura, pouco tempo depois, quando me preparava para tirar a primeira foto, fui descoberto e, gerou-se tamanho alvoroço que tive que fugir a sete pés do local para o Aquartelamento.

Não sei explicar como, mas passados uns escassos minutos, após ter chegado ao aquartelamento e me ter dirigido para o abrigo de Transmissões, já estavam todos os Homens Grandes na porta de entrada da Tabanca para o Aquartelamento, a exigir a minha presença (eles todos me conheciam por causa de andar sempre armado em fotografo). Eu receoso que o meu acto se divulgasse e chegasse ao conhecimento dos superiores e que assumisse outras proporções, pois sabia o mal que tinha feito, fui ter com eles e por intermédio do militar que estava à porta onde eles estavam, pedi-lhes que me desculpassem porque eu estava a passar acidentalmente pelo local do acontecimento. Só que eles não estavam para desculpas e exigiam, que entregasse a máquina fotográfica, ou chamavam o Capitão. Eu tentei negociar com eles, prometendo-lhe que lhes tirava fotos gratuitamente, mas estavam inflexíveis. Eu bem tentei argumentar que foi mero acaso estar ali de passagem, mas não os consegui convencer. Por fim, o militar lá os conseguiu demover das suas intenções e acordámos, que eu lhes entregava o rolo que estava na máquina e lhes tirava 20 fotos gratuitamente. Tive que cumprir o estipulado.

Andei uns dias que não me atrevi a ir para a Tabanca sozinho, porque vi ódio nos olhos de alguns. Era normal, eu ir mesmo de noite, sozinho para a Tabanca, com receio contido, fi-lo muitas vezes, pois tinha um bom relacionamento com todos os moradores. Após este episódio tornei-me mais cauteloso.

A minha intenção, ao pretender tirar as fotos, era de pureza total, e somente compreender como se executava um processo que eu considerava indigno. Era a minha curiosidade dos 22 anos de idade a actuar.

Para todos os tertulianos, muita saúde e um abraço.
José Corceiro
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Notas de CV:

José Corceiro foi 1.º Cabo TRMS na CCaç 5 - Gatos Pretos -, Canjadude, 1969/71.

Vd. poste anterior de 2 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6301: Convívios (142): Encontro dos Gatos Negros da CCAÇ 5 ocorrido dia 24 de Abril de 2010 (José Corceiro)

Vd. último poste da série de 19 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6188: José Corceiro na CCAÇ 5 (9): Resposta a comentário ou eu e os meus registos

Guiné 63/74 - P6319: Parabéns a você (112): Joaquim Gomes Soares, ex-1.º Cabo da CCAÇ 2317/BCAÇ 2835

1. Neste dia 5 de Maio de 2010, estamos a cumprimentar especialmente o nosso camarada Joaquim Gomes Soares*, ex-1.º Cabo da CCAÇ 2317/BCAÇ 2835, Gandembel / Ponte Balana, 1968/70, que é o segundo aniversariante deste mês.

A tertúlia, numa só voz, deseja ao nosso camarada Soares um óptimo dia de aniversário, e uma vida em família complementada por muitos amigos, entre os quais nos queremos incluir.

Recebe, caro Joaquim, um abraço de parabéns da tertúlia e os votos da melhor saúde.

O editor de serviço
CV

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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 15 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4822: Tabanca Grande (171): Joaquim Gomes Soares, ex-1.º Cabo da CCAÇ 2317/BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana (1968/69)

Vd. último poste da série de 1 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6288: Parabéns a você (111): José Carlos Neves, ex-Soldado Radiotelegrafista do STM

terça-feira, 4 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6318: Convívios (232): Almoço de Confraternização do BCAÇ 2879 e outras subunidades adidas (ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879)



1. O nosso camarada Carlos Silva, ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, 1969/71, enviou-nos o programa da festa da sua Companhia, com pedido de publicação:






Almoço de Confraternização
Oficiais, Sargentos, Praças e Familiares
39º Aniversário da Chegada – 23º Encontro
Unidades Sector de Farim - Guiné 1969/71
Bat. Caç. nº 2879 e Outras Unidades
29 de Maio de 2010.

Restaurante: Solar do Verde Gaio – Britamontes - Mundão – Viseu
Telefones: 232 440 145 ou 912 173 774 - E-mail: geral@solardoverdegaio.pt
Site: http://www.solardoverdegaio.pt/



PROGRAMA

Hora de chegada - Concentração e cavaqueira no parque do Restaurante;
10h00 – Passagem de fotos e filmes da viagem à Guiné, caso se arranje vídeo e projector;
12h30 - Serão servidos os aperitivos no espaço apropriado;
13h30 – Almoço.

EMENTA

ENTRADAS: Presunto com melão, empadinhas, bola de carne beirã, croquetes de vitela, panadinhos, bolos de bacalhau, rissóis de camarão, mesa de marisco, mesa de queijos, morcela torrada, chouriça na brasa, alheiras & farinheira, moelas com piri-piri, feijocas com entrecosto, caril à moçambicana e chamuças.
SOPA: Sopa à leonesa
PRATOS: Prato de Peixe: 1 Bacalhau à Solar [no forno com puré]
Prato de Carne: Perna de Vitela & Lombo Assado à Padeiro
SOBREMESA: Buffet de sobremesas variadas [doces & frutas]
BEBIDAS: Vinhos Dão [tinto e branco], Vinho verde, cerveja, refrigerantes, águas;
Café & Digestivo,
FINAL: Bolo do Batalhão acompanhado de espumante

Preço por pessoa: 31,00 € - crianças dos 6 aos 10 anos € 12,50.

CONFIRMAÇÕES ATÉ AO DIA 26 DE MAIO DE 2010

Nota: A confirmação é obrigatória até à data indicada, devido à característica da ementa. Quem aparecer de “ pára-quedas “ no próprio dia, sujeita-se às consequências.

CONTACTOS:
Manuel Augusto da Silva Mota [C.C.S]
Rua Júlio Dinis, 36 1º Esqº
3700 S. João da Madeira
Telef: 256 831 341 casa 256 828 777 escritório
Telem. 917 784 037 - 917 184 836
Jorge Pinheiro Silva Fernandes [C.Caç. 2547]
R. D. Bernardo Holstein Beck, 1
2925 Vila Nogueira de Azeitão
Telef. 210 803 314 / 916 054 415
Carlos José Pereira da Silva [C. Caç. 2548]
Rua de Timor, 2 R/c Dto - 1170-372 Lisboa
Telef: 21 815 2897; Fax: 21 815 3470, escritório
Telem. 966 651 820
e-mail: carsilva.advogado@sapo.pt
David Gonçalves de Oliveira [C. Caç. 2549]
Urb. Portela, Lt. 65, 9º Dto.
2685 Sacavém
Telem. 914 107 731

Agradecemos uma rápida resposta, devolvendo os dados solicitados no talão abaixo, com o vale postal ou cheque, para qualquer dos camaradas indicados no verso, uma vez que temos de confirmar as presenças no restaurante com a devida antecedência e...! porque a rapaziada da organização também quer conviver.

Localização: Coordenadas 40 41 15.47 N – 07 52 38.37 W.
Situa-se a 3 Kms de Viseu na saída para SÁTÃO.
Legenda:


NOTA: A convocatória está no seguinte endereço: http://www.carlosilva-guine.com/

Um abraço a todos do tamanho do Cumbijã,
Carlos Silva
Fur Mil CCaç 2548/Bat Caç 2879
____________
Notas de M.R.:

Guiné 63/74 - P6317: Convívios (231): 16º Convívio da malta de Bambadinca, 1968/71: CCS/ BCAÇ 2852, CCAÇ 12 e outras subunidades adidas (Fernando Almeida, ex-Fur Mil Trms, CCAÇ 12, 1969/71)





Bambadinca, 1968/71 > 16º Convívio > 
Óbidos, 22 de Maio de 2010







Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector de Bambadinca > Aquartelamento de Bambadinca > 22 de Março de 1971 > CCS do BART 2917 (1970/72) e CCAÇ 12 (1969/71) > Na foto, "estou eu acompanhado do cripto da companhia do Xime ( não me lembro do nome), junto dos memoriais da nossa companhia, a Ccaç 12 [CAÇ 2590], e do Pel Mort 2106" (GG): este Pel Mort teve equipas nos seguintes aquartelamentos: Xitole, Mansambo, Saltinho, Ponte dos Fulas, Nhabijões, Enxalé, Xime, Missirá, Taibatá e Fá.

Foto (e legenda): © Gabriel Gonçalves (2008). Direitos reservados








Guiné > Zona leste > Sector L1 > Bambadinca, > CCS/BART 2917 (1970/72) > 1970 > Messe de oficiais > Da esquerda para a direita: (i) o Cap Art Passos Marques, comandante da CCS; (ii) o Alferes Sapador da CCS, Luís Moreira (ferido em mina A/C, em 13 de Janeiro de 1971, em Nhabijões); (iii) a Helena, a mulher do Alf Mil Inf Carlão, destacado em Nhabijões (CCAÇ 12); (iv) o Alf Mil Inf Abel Maria Rodrigues (CCAÇ 12) (está vivo da costa!!!, nada de confusões com o outro Alferes, Rodrigues, esse sim, já falecido); (v) o Alf Mil Abílio Machado (CCS) (fundador do Grupo Musical Toque de Caixa); (vi) Alf Mil Moreira, do 1º Gr Comb da CCAÇ 12; (vii) e, à sua esquerda, de bigode, possivelmente, o Alf Mil Médico Mário G. Ferreira, autor do romance Tempestade em Bissau: Ano 1970 (Lisboa:Pallium Editora, 2007. (B.D. / L.G.)

Foto: © Gualberto Magno Passos Marques (2009). Direitos reservados (Legendas: Benjamin Durães e Luís Graça)






1. Mensagem do Fernando Almeida, ex-Fur Mil Trms, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)



Camaradas e Amigos:

[CCS / BCAÇ 2852 (1968/70)
CCAÇ 12 (1969/71)
Pel Caç Nat 52 (1968/70)
Pel Caç Nat 54 (1969/70)
Pel Caç Nat 63 (1969/71)
Pel Mort 2106 (1969/70)
Pel Mort 2268 (1970/72)
Pel Rec 2046 (1968/70)
Pel Rec 2206 (1970/71)
CCS / BART 2917 (1970/72)]


Conforme o decidido no nosso 15º Convívio,  realizado em Castro Daire (*), estou a apresentar-vos o convite para no dia 22 de Maio de 2010  reunirmo-nos em Óbidos, famosa Vila das Rainhas que entre as suas muralhas guarda séculos de história. De certeza terão o gosto de visitar ou revisitar.

PROGRAMA

10.00 H > Ponto de Encontro na Porta da Vila.

10.15 H / 11.15 H  > Visita à Vila de Óbidos.

11.30 H > Missa em Memória dos Camaradas Falecidos, na Igreja Matriz de Santa Maria.

13.00 H > Almoço no Restaurante A Lareira, na Estrada da Foz do Arelho, situado no Alto do Nobre, entre Caldas da Rainha e Foz do Arelho.


Preço por Pessoa: 35.00 €. Dos 0 aos 3 anos Grátis. Dos 4 aos 9 anos 50%

Alojamento: Caso necessitem de Alojamento, Contactem-me para proceder à reserva, ou enviar-vos os respectivos contactos: Óbidos, Caldas da Rainha ou Foz do Arelho.

Como chegar:

Norte > Pela A1,A6,A8,A17eN8.

Centro > Pela A6, A8, A13, A17, N8, N114 e N115.

Sul > Pela A1,A2, A8, A13, N8, N114 e N115.

Contactos: Fernando Almeida

E-mail: josefgalmeida@gmail.com

Tel 262958178 / 933494741


Esperamos por Ti, Família e Amigos:

Agradeço confirmação até 10 de Maio de 2010,
 com cheque ao cuidado de
José Fernando Gonçalves de Almeida
Estrada dos Ingleses nº 9
Gracieira
2510-339 Óbidos.

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(A Preencher)

Nome:____________________________________________________________________

Morada:___________________________________________________________________

Telefone:________________________________ Nº  de Pessoas:_______________________

 
____________________
  
 

Rua da Lareira
Alto do Nobre
2500 – 593 CALDAS DA RAINHA

Tel.: 262 823 432 7 Fax : 262 823 222

Ementa

Recepção

Mini Pataniscas da Marciana
Tapas diversas com Enchidos regionais
Canapés de Salmão, de Queijo, Presunto, de Camarão, de Linguiça
Mini Rissóis de Peixe, Mini Croquetes de Carne, Mini Pasteis de Bacalhau
Gin, Martini, Whisky, Porto branco seco, Moscatel de Setúbal
Sumo de Laranja e Águas

Couvert

Pão e Manteiga

Sopa

Sopa de Peixe à Pescador
Creme de Legumes à Francesa

Peixe

Bacalhau em cebolada no forno à Antiga portuguesa acompanhado de batata grossa e juliana de legumes finos

Carne

Rotti de Novilho estufado à Madeirense, servido com arroz árabe, couve flor gratinada, cenouras, cebola frita e pêra recheada

Sobremesa

Ananás flamejado à Lareira, acompanhado de gelado cremoso de Baunilha

Café e Digestivos

Café, Whisky novo, Aguardentes, Licores, Bagaceiras, Vinhos do Porto

Corte de Bolo

Bolo comemorativo, Espumante

Bufete

Sopa > Caldo Verde

Mesa de Queijos > Tipo Serra, Nizza, Saloio, acompanhados de doce de framboesa, Mel, Marmelada e Doce de Framboesa

Mesa de Frutas > Centros de frutas descascadas compostos por: Manga, Ananás, Kiwi, Maçã, Laranja, Uvas, Morangos, Melão, Meloa

Mesa de Carnes >  Leitão assado da Bairrada, Lombo de Porco, Rosbife, Frango frito á Antiga

Mesa de Doces > Bolo de Noz, Bolo de Chocolate, Tarte de frutas, Pão de Ló de Alfeizarão, Doce de Bolacha; Mousse de Chocolate, Arroz Doce, Mini Pastelaria, Pudim de Ovos, Doce tradicional da Casa

Cave > Vinho branco:  Capitulo de Tomar;  Vinho tinto:  Galitos de Borba; Águas, Sumos, Refrigerantes

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Nota de L.G.:


Convívios anteriores do pessoal de Bambadinca, 1968/71, referidos no nosso blogue:



Vd ainda postes de:

Guiné 63/74 - P6316: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (9): Em Empada, O IN em acção, as minhas amizades e uma visita do COMCHEFE

1. Continuação da narrativa referente à estadia de Arménio Estorninho* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70) em Empada:


A CCAÇ 2381 em Empada

Parte IV

Por Arménio Estorninho



O IN em acção, as minhas amizades e uma visita do COMCHEFE

Na noite de 14 para 15 de Novembro de 1969, grupo In com grande potencial de fogo de canhão s/r, morteiros 82mm, morteiros ligeiros, bazucas, RPG-2 e armas automáticas, flagelou o Aquartelamento de Empada, causando 01 morto (Soldado Mário Caixeiro) e 01 ferido às NT e 04 feridos (03 graves) à população civil.

- Seguindo-se um interregno de quase dois meses, em que o In não se revelou.

- Assim a 09 de Janeiro de 1970, Grupo In flagelou o Aquartelamento de Empada com canhão s/r (foto 10), morteiro médio, morteiro ligeiro, RPG-2 e armas automáticas, durante 20 minutos, queimando 06 Tabancas e ferindo um elemento da população.

Foto 10 > Guiné > Região de Quinara > Empada > 1970 > Invólucro de granada de Canhão s/r, deixado junto na pista após ataque IN.

Foto 11 > Guiné > Região de Quinara > Empada > 1970 > Porta de Armas, Escola Primária e ao cimo a Tabanca junto ao caminho para a Pista.

Nesta acção do In, o ex-1.º Cabo “Escritas” António Soares (Soure) por imprudência que lhe poderia ter saído cara, ao intrometer-se entre o fogo cruzado, estávamos num abrigo contíguo ao Campo de Futebol, tentei demovê-lo, mas seguira pelo caminho que ladeava a Tabanca e dirigiu-se a outro abrigo que estava junto à pista, a fim de aí dar apoio, só que na Tabanca, os milícias disparavam e se calhar para o ar.”

- Ao tempo, olhando à minha Especialidade, e porque se deslocavam duas viaturas, fui convidado para fazer parte de um GCOMB (fotos 12 e 13) para manter segurança física aos trabalhadores empenhados nos trabalhos agrícolas na Bolanha de Ualada, por ser passível a aproximação do In para flagelar a zona e/ou roubar as colheitas.

Foto 12 > Guiné > Região de Quinara > Empada > Bolanha de Ualada > 1970 > Companheiros e amigos da CCaç 2381, a quem, nas minhas saídas, me juntava.

Foto 13 > Guiné > Região de Quinara > Empada > Bolanha de Ualada > 1970 > Eu a ensaiar a forma de introduzir uma granada de Morteiro 81mm.

- Empada era a Sede do Posto Administrativo do Cubisseco, tendo uma população de 2798 habitantes, com 437 contribuintes, sendo na sua maioria de etnia Beafada, apresentando no entanto também Mandingas, Fulas, Manjacos e algumas famílias dispersas de Balantas, Bijagós, Papeis e Macanhos.

Certo dia fui convidado por Bakar Cassamá, Comandante da Milícia, para assistir às exéquias de um jovem da Tabanca, ficando eu receptivo, mas desconhecendo os preceitos da cerimónia achei que não era conveniente a minha presença. Para o efeito fui posto à vontade, seria-me reservado um lugar junto aos Homens Grandes da Tabanca e ele Bakar ficaria junto de mim e dizia-me o que fazer, sendo desculpado por alguma falta da forma de acompanhar.

Tendo eu anuído e me apresentado vestido com roupa civil (foto 14). Ocupando o meu lugar sentado num banco de tripé, ouvia falar mas só entendia em crioulo, não dando a entender desse pormenor. Foi aí que Bakar Cassamá concluiu que eu sabia um pouco de crioulo. Ficaram todos admirados e de imediato fiquei envolvido em diálogos com as perguntas mais diversas sobre os funerais, falando de Lisboa, da minha terra, sobre a profissão, os estudos e outros, surpreenderam-se pela minha espontaneidade nas respostas.

Foto 14 > Guiné > Região de Quinara > Empada > 1969 > Eu, seguindo pela avenida de Empada, ao tempo com duas faixas de rodagem e postes de iluminação.

Depois foi-me oferecido em primeiro lugar, a comer bolo de farinha de arroz e agradeci com um járame ánâni (obrigado) na tentativa de recusar, mas disse-lhes que na minha terra essa primazia era concedida aos Homens Grandes e Idosos, assim um ancião serviu-se e depois seguiram-se os outros.

Efectuou-se o féretro, em que o cadáver deveria estar colocado em cima de uma tábua, embrulhado num lençol e devidamente laçado, sendo depositado em cova de sepultura próxima à Tabanca e, enquanto decorreram as cerimonias, havia mulheres que choravam (Choro, Ió.. Ió..! era de tristeza e dor), umas eram da família e amigas, outras eram pagas.

Foi um funeral em que participei de maneira original, cerimónia a que nunca tinha assistido e que me ficou na memória.

Na população (foto 15) arranjei simpatia e amizade, que retribuia com fotografias, petróleo e na falta deste, gasóleo. Havia uma criança muda (foto 16) que me pedia comida, ao que acedi. Ele levava para a sua palhota e, para assegurar e compensar as ofertas, oferecera-se para a “primeira” lavagem da louça e dar de comer a um esquilo.

Foto 15 > Guiné > Região de Quinara > Empada > 1969 > Ronco com batucada e dançares tradicionais. Há militares mirones e eu estou de frente.

Foto 16 > Guiné > Região de Quinara > Empada > 1969 > Eu, junto de um miúdo, que era mudo e meu protegido. No dia da oferta de uma vestimenta nova, ficando radiante, apresentou-me aos seus amigos.

No decorrer da acção psicológica imprimida pelo Homem Grande, Comandante-chefe General António de Spínola, em Empada, entregaram-se elementos da população que estiveram do lado do In. Tendo chegado a dialogar em Crioulo, entre eles havia um que confraternizava connosco a jogar futebol, era bom jogador e rivalizava com o 1.º Cabo de Trms Pedra Rafael, que era jogador do Tramagal Clube da 2.ª Divisão Nacional. Entre outros havia um que já pedia descanso e autorizou-me a tirar uma foto. (foto 17)

Foto 17 > Guiné > Região de Quinara > Empada > 1969 > Elemento da população In que se entregara às NT.

A população era essencialmente agrícola e dotada para a cultura do arroz “bianda,” que era consumida como o seu o principal alimento (fotos 18, 19 e 20).

Foto 18 > Guiné > Região de Quinara > Empada > Bolanha de Ualada > 1970 > O ex-Furriel Miliciano Tareco, esperando as “Mindjeres Garandis, nha manga di bianda.”

Foto 19 > Guiné > Região de Quinara > Empada > Bolanha de Ualada > 1970 > O ex-1.º Cabo Enf Jorge Catarino, o Soldado “O Peniche” e as trabalhadoras da Bolanha.

Foto 20 > Guiné > Região de Quinara > Miniaturas de uma enxada e de um Pilão para descasco e pilar cereais.

Havia ainda um conjunto de duas dezenas de pescadores, que no Rio de Empada pescavam a bicuda, a taínha, o barbo, a corvina e a raia, abastecendo a população e o quartel, procedendo ainda à seca de peixe “cassiqué”, cuja exportação se fazia para Bissau, em transporte de Batelão.

A caça era muito abundante na zona, as espécies mais vulgares eram porco do mato, a gazela, a cabra do mato e o sim-sim (espécie de boi do mato), principalmente na época das queimadas, havendo duas equipas de caça que abasteciam a população e o quartel.

-Relativamente à alimentação, penso que não haveria outro Aquartelamento em que a comida tivesse melhor qualidade, fazendo esquecer a paupérrima comida de Buba.
Embora as más-línguas dissessem que se o Vagomestre fosse de férias à Metrópole “acabava-se qualidade e o dinheiro,” diga-se em abono da verdade que a comida e a sua confecção eram de qualidade, dando exemplo de entre outros dos cosidos e dos assados no forno com todos, de bicudas, corvinas, de cabras do mato e de porcos do mato.

Uma curiosidade. O COMCHF António de Spínola, numa das visitas que efectuara a este Aquartelamento, não se esquecera e solicitou uma amostra do rancho, sendo-lhe apresentada bicuda com batatas assadas no forno. Surpreendido disse:

- Vocês comem como num bom Restaurante.

Para comprovar, ficou para o almoço.

Chegou de surpresa, mas as pessoas da cozinha eram profissionais na vida civil.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6284: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (8): Em Empada, Natal de 1969 - A esposa do Cap Mil Eduardo Moutinho visita Empada

Guiné 63/74 - P6315: Recortes de imprensa (24): Salgueiro Maia, comandante da CCAV 3420, em fim de comissão, 5 de Maio de 1973: "Em 60 homens ninguém sabia o mais elementar em primeiros socorros: fazer um garrote" (Beja Santos)



A opinião, do nosso camarada Beja Santos, em O Ribatejo, 2 de Maio de  2010 (Reproduzido com a devida vénia...). Vd. postes anteriores sobre o Salgueiro Maia e a sua CCAV 3420 (Bula, Mansoa, Pete, Farim, Binta, Brá).

Vd. também poste do nosso camarada José Afonso, que foi  Fur Mil da CCAV 3420,  e que apresenta um boa cronologia dos acontecimentos de Guidaje> 26 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1213: A CCAV 3420, do Capitão Salgueiro Maia, em socorro a Guidaje (José Afonso)