sábado, 25 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P7034: Carta aberta a... (4): Camarada (de armas) António Lobo Antunes (António Graça de Abreu)



República Popular da China > Agosto de 2010 > O nosso camarada António Graça Abreu em locais facilmente reconhecíveis pelo leitor ocidental  (com  excepção talvez do segundo a contar de cima): (i) a Grande Muralha da China, (ii) o oásis de Dunhuang, no deserto de Gobi, província de Gansu, (iii) a Praça de Tiananmen, em Pequim.

Fotos: António Graça Abreu (2010). Direitos reservados



1.Carta aberta ao Camarada António Lobo Antunes

Areias, Estoril, 5 de Setembro de 2010

Herdei alguma coisa dele (o pai): A solidão feroz, a capacidade de ser horrivelmente desgradável para os outros, (…) a agressividade injusta.

António Lobo Antunes, revista Visão, 2 de Setembro de 2010

António Lobo Antunes: Quando o Benfica jogava, púnhamos os altifalantes virados para a mata, e assim não havia ataques.

Jornalista: Parava a guerra?

António Lobo Antunes: Parava a guerra. Até o MPLA era do Benfica…

(Entrevista à revista Visão, Maio de 2005)



Camarada António Lobo Antunes

Comecemos pois pela bola.

Nós lá em Cufar, no sul da Guiné, 73/74, era mais para o verde, a Companhia de Caçadores 4740 até se denominava “Os Leões de Cufar.”

Quando o Sporting jogava, fazíamos quase o mesmo que vocês no leste de Angola, voltámos os nossos rádios (éramos pobrezinhos, não dispúnhamos de altifalantes!...) para a floresta e era certo, sabido e garantido que os guerrilheiros do PAIGC, todos sportinguistas, não nos atacavam. Vinham até ao arame farpado e por ali se quedavam, do outro lado, entusiasmados, embevecidos, felizes ouvindo os relatos do Nuno Brás e do Artur Agostinho, e os golos do Yazalde.

Mas escrevo-te não por causa do futebol. Questões mais momentosas e importantes têm trazido o teu nome para a ribalta sofrida dos ex-combatentes das guerras de África.

Tu não sabes, -- também como honestamente confessas, não vês televisão, não ouves rádio, não lês jornais, não tens net, enfim vives numa torre de ébano voltada para o lado opaco do quotidiano das gentes --, tu não sabes, dizia eu, mas no último fim de semana de Agosto reuniram-se em Monte Real, Leiria, um tantos ex-combatentes do Ultramar, com o objectivo de tentar entender e explicar as estranhas, as nebulosas afirmações do António Lobo Antunes sobre a sua guerra no leste de Angola, 1971/73.

Como deves recordar, o ano passado, em entrevista ao Céu e Silva, referiste as 150 baixas do teu batalhão e os pontos ganhos pelos teus soldados, conforme iam abatendo inimigos para, infatigáveis matadores, conseguirem ser mudados para regiões de Angola menos flageladas pela guerra.

Não foi fácil para os ex-combatentes chegarem a um consenso definitivo no que às tuas palavras diz respeito. Reunidos na clareira de uma mata junto ao o pinhal de Leiria, gentilmente cedida pelos herdeiros do Lúcio Tomé Féteira, os representantes dos ex-militares portugueses agrupados na ACNMNVAPC (Associação dos Combatentes Nem Mortos, nem Vivos, antes pelo Contrário) acabaram por concluir:

Primeiro:

150 baixas por batalhão não é uma boa média. Os nossos valentes e garbosos soldados gostavam de ter tido mais baixas. O problema é que quase não as havia. O leste de Angola como tu bem sabes, caro António, era o cu de Judas, terras do fim do mundo pouco povoadas, onde até os elefantes se esqueciam que possuíam uma prodigiosa memória de elefante.

As mulheres do leste de Angola não eram baixas, mas sim espigadotas, altas, secas de carne, peitos pequenos e encolhidos. Uma baixa constituía uma raridade. Estas baixas, sim, eram uma tentação para qualquer soldado, português, angolano, cidadão do mundo. De nádegas redondas e brilhantes, de peitos alteados e firmes, romãs suculentas cobertas de chocolate, estas baixas eram a perdição dos nossos excelentes mocetões. Fiéis aos ensinamentos do vetusto Salazar, tipo “muitas raças, uma só nação”, aquelas baixas portuguesas de Angola, pestanudas, roliças transformavam-se com facilidade, aos olhos da nossa tropa, na tão desejada namorada, a companheira, a vizinha, a menina branca que ficara lá longe, nostálgica, desamparada na aldeia lusitana de Vila Meã, Bensafrim, Antuã ou Cernache do Bonjardim.

O batalhão do alf. mil. médico António Lobo Antunes, lá por Angola, em Gago Coutinho, no Chiúme teve, segundo dados fornecidos por ti próprio, 150 baixas. Foi o que pôde ser, o que se pôde arranjar, e o que os deuses e os sobas do leste de Angola concederam aos nossos excelsos mancebos. Que hoje morrem de saudades – estamos todos mortos, falecidos, moribundos, semi-defuntos, etc., não é António? – por aquelas deliciosas baixas angolanas, de olhos de mel e frenéticos rabinhos empinados.

Segundo:

Quanto à procelosa questão do sistema de acumulação dos pontos obtidos com a mortandade feita sobre o IN, a fim de se obterem transferências para zonas de paz, os ex-militares das guerras de África na reunidos na tal ACNMNVAPC (Associação dos Combatentes Nem Mortos, nem Vivos, antes pelo Contrário, repito) tiveram grande dificuldade em entender tão radicais pressupostos apresentados por ti, camarada António Lobo Antunes.

Depois de muita deliberação, chegaram-se a conclusões.

Assim:

Os soldados, nos ócios da guerra, jogavam à sueca. Por jogo ganho, marcava-se uma bolinha preta na cruz de cada equipa. As cruzes iam-se enchendo de pontos negros que, por brincadeira de mau gosto, os nossos homens, associavam a cabeças de guerrilheiros. Como bem recordaste na entrevista ao jornal Expresso, a 28 de Agosto, “ninguém desce vivo da cruz”, nem sequer numa suecada à antiga. Podes pois imaginar a razia nas hostes inimigas que, jogando à sueca, provocávamos.

Mas há mais.

Os soldados jogavam à sueca, os sargentos e oficiais jogavam mais à batalha naval. Nesta última variante lúdica, como sabes, o objectivo era afundar contra-torpedeiros, submarinos, até porta-aviões. Também por brincadeira de mau gosto, os homens do teu batalhão diziam que os navios iam carregados de velhos, mulheres e crianças oriundas do Leste de Angola. Embarcavam em Luanda e depois, mar alto com eles… Cada barco ao fundo, era um morticínio atroz.

A tropa portuguesa jogava a dinheiro. Marcavam-se pontos e fizeram-se boas maquias, houve muito patacão arrecadado que os nossos militares, de férias, iam patrioticamente gastar em zonas onde a guerra estava ausente, no Luso e até em Luanda.

Está tudo explicado.

Saudações de camarada de armas,
António Graça de Abreu, alf mil infantaria, Comando de Agrupamento Operacional nº. 1, Guiné, 1972/1974.

[Fixação / revisão de texto / título: L.G.]


2. Comentário de L.G.:

O António acaba de regressar de mais  uma das suas viagens "sínicas" (leia-se: à China)... Julgo que desta vez foi também em trabalho. No regresso mostra estar em boa forma, a avaliar por esta carta aberta ao António Lobo Antunes que, antes de ser escritor famoso, foi nosso camarada de armas... em Angola.

A carta é uma peça, notável, de fino humor, deliciosa, inteligente, civilizada, irónica. Não sei se o destinatário é o ALA. Tenho dúvidas... De qualquer modo, sabemos, à partida, que o ALA não a vai ler, pela simples razão de que ele é um público e notório info-excluído (segundo a imprensa escrita, o ALA não tem computador, nem e-mail, nem página na Net, nem conta no Facebook, nem nenhum dessas tretas das chamadas TIC - Tecnologias de Informação e Conhecimento, que são obrigatórias para se ser membro deste blogue, por exemplo).

O António Graça de Abreu, além do mais, vem cheio de energia: no próximo dia  2 de Outubro a 18 de Dezembro, vai dar início, no Museu do Oriente / Fundação do Oriente, de um curso, de 12 sessões, sempre aos sábados, das 10h00 às 12h30, com o título Introdução à História da China. O preço de inscrição é de 100 euros. Esta iniciativa já foi divulgada internamente na nossa Tabanca Grande.

Desejamos-lhe que tudo corra bem e que, entre os inscritos, haja malta nossa, interessada em aprofundar os seus conhecimentos sobre a civilização e cultura chineses...

É explicitamente objectivo do curso ao longo de 12 sessões  "pontuar os períodos de crescimento, apogeu, estabilidade e decadência do velho Império do Meio. E caminhar, com todo o rigor possível, pela História, as mentalidades, a cultura, a construção dos quotidianos na China Clássica e Contemporânea. Macau e os Portugueses na China estarão naturalmente presentes, tal como o nosso Museu do Oriente".

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P7033: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (1): O melhor pão da zona leste...


O Jacinto Cristina: foto da época em que esteve na Ponte de Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546 (Piche e Caium, 1972/74)... O 1º ano foi passado em Piche e o resto do tempo em Caium


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > Destacamento da Ponte de Caium > A padaria e o padeiro... O forno foi construído na parte inferior da ponte... Como o espaço era pouco, tudo se aproveitava... O forno (e a cozinha) ficava do lado esquerdo, no sentido Piche-Buruntuma...  De costas, em tronco nu, vê-se o Manuel da Conceição Sobral (que vive hoje em Cercal do Alentejo, Santiago do Cacém). Os dois faziam reforço das 4 às 6. Por volta das 5h/5h30, um deles ia amassar a farinha (12 kg /dia)... O outro ficava de reforço até às 6. Depois das seis, até às 8h/8h30, ficavam os dois a trabalhar. Às 9h já havia pão fresco... Todos os dias coziam. Tinham um stock de farinha que dava para um mês. Faziam uma média de 30 pães de 400 gramas, por dia. O resto do dia descansava. O Sobral era o apontador do morteiro 81  e o Jacinto o municiador. Também havia um morteiro 10,7,. ao cuidado do Pinto e do Algés. O 81 ficava do lado direito, à saída da ponte, no sentido de Buruntuma. O 10,7 ficava no lado esquerdo, junto ao paiol, também no sentido de Buruntuma... Mais à frente estava o 1º Cabo Torrão, apontador da HK 21 (irá morrer em 14 de Junho de 1973).  também havia o morteiro 60 e a bazuca.



O Jacinto tornou-se de tal maneira imprescindível (por causa do "pão nosso de cada dia") que, além de municiador (e apontador, quando necessário) do morteiro 81, ficou na ponte de Caium 14 meses (13, se descontarmos o mês de férias, em Abril de 1973,  em que veio a casa para estar com a mulher e a filha)... "Vieram de férias o Jacinto, o Pinto, o Charlot e o Algés... No avião da TAP... Já não se lembro de quanto pagou... Seis contos, para aí, diz-me ele".


Diziam que era o melhor pão da Zona Leste... Aqui o Jacinto está varrer e a limpar o forno... Fatal foi aquele terrível período de um mês (entre meados de Maio e Junho de 1973) em que o destacamento esteve sem reabastecimentos, sem farinha, sem pão... Meteram-se a caminho de Piche, a 14 de Junho de 1973, tendo sofrido uma brutal emboscada, em que morreram os camaradas: 1º Cabo Ap. Metralhadora David Fernandes Torrão, Sold At Carlos Alberto Graça Gonçalves (Charlot), Sold At Hermínio Esteves Fernandes e Sold At José Maria dos Santos... Disse-me o Jacinto (que ficou na ponte a tomar conta do seu 81), que os corpos foram cortados em quatro, com rajadas de Kalash... e o PAIGC levaram cinco armas (incluindo a do Furriel Mil , que foi projectado com o impacto do RPG7, juntamente com o Sold Cond Auto Rocha).

Uns meses antes, em 19 de Fevereiro de 1973,  tinha morrido o Fur Mil Op Esp Amândio de Morais Cardoso, na sequência da desmonmtagem de uma armadilha de caça.  Essa cena passou-se debaixo dos olhos do Jacinto que se salvou, ao pressentir o perigo.


Destacamento da Ponte Caium > O Sabino na cozinha a preparar um petisco... 

Destacamento da Ponte > Os aposentos... As camas eram em beliche, como se pode ver na foto... Este abrigo era o mais pequeno: tinha quatro camas, era o mais pequeno... Ao aldo era o depósito de géneros (que roubou espaço ao abrigo). Aqui o Jacinto, com o Pinto, o apontador do 10.7... Havia quatro abrigos, dois em cada lado,  os outros eram todos maiores (6 / 8 camas). Os abrigos eram ladeados por fiadas de bidões cheios de terra.



Destacamento da Ponte  Caium > Um aspecto dos pilares da ponte... O Cristina,  mais um camarada,  na hora do recreio (ele não se recorde do nome)... Ali no rio Caium, naquela improvisada jangada, poderiam dar largas à sua imaginação de marinheiros e aventureiros... Na época seca, o rio levava pouca água... Era um afluente do Rio Coli. O abastecimento de água era feito mais longe, de Unimog, com segurança


Destacamento da Ponte Caium >  Mesmo com o metro quadrado mais caro da Guiné, nas "suites" não faltava nada... O chuveiro era um bidão de 200 litros, furado...


Destacamento da Ponte Caium > O tabuleiro superior, com duas fiadas de abrigos (2 de cada lado), feitos com bidões cheios de areias, troncos de palmeira, cimento e chapa de zinco, desenhadas para alojar 30 homens... Na foto, o Cristina , de reforço, de manhãzinha... Este posto fica no início da ponte, no sentido Piche-Buruntuma... E acreditem que pelo meio passavam (passaram) centenas e centenas de viaturas, militares e civis, além de chaimites e obuses...  


Guiné > Zona Leste >  Região de Gabu > Piche > CCAÇ 3546 (1972/74) > Destacamento da ponte sobre o Rio Caium, onde o Jacinto Cristina esteve mais de metade da sua comissão (cerca de 14 meses)... Na foto, a padaria ficava em segundo plano do lado esquerdo... Deve ter sido tirada no dia dos anos do Sobral, em Março de 1973, a avaliar pelos dois cabritos (comprados na tabanca fula, que ficava a nordeste da ponte, a 3 km, e onde residiam as lavadeiras)... Quem passou por aqui, entre Piche e Buruntuma,  dificilmente acredita que um homem pudesse aguentar mais do que um mês, dois meses, neste Bu...rako. Soldado atirador, o Jacinto ficou municiador do morteiro 81 e como era preciso fazer pão todos os dias, aprendeu a arte de padeiro (que depois seria  o seu ganha-pão, em  Ferreira do Alentejo,  onde vive). Como se percebe pelas fotografias, as estruturas da ponte foram aproveitadas ao milímetro...

Fotos: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

1. O Jacinto Cristina, alentejano, industrial de panificação (termo mais pomposo do que padeira, trabalhador por conta própria), em Figueira de Cavaleiros, Ferreira do Alentejo, começa por ser meu amigo, embora de há coisa de um ano... Vim a descobrir que entretanto foi nosso camarada, tendo pertencido à CCAÇ 3546 (Piche e Caium, 1972/74). Sou amigo, de longa data, da sua filha Cristina (que é engenheira) e do genro, Rui Silva (que é médico), vivendo o casal na Madeira.

Numa das últimas visitas que fiz à família, em Ferreira do Alentejo (onde o jacinto vive, com a esposa), o nosso camarada emprestou-me um dos seus preciosos álbuns fotográficos, onde tem o essencial do registo da sua passagem pelo leste da Guiné. Fiz uma selecção de fotos e digitalizei-as. Amanhã vou devolver-lhe o álbum (e trazer um dos seus deliciosos pães). A caminho de Serpa, vou lá jantar com ele, a esposa, a neta (a "nossa princesa"), a Cristina e o Rui (casal que, além do mais, nunca perde uma meia-maratona, desta vez  a
11ª Meia Maratona do  Centenário, que parte da Ponte Vasco da Gama). 

Levo comigo duas fotos do monumento construído na Ponte de Caium, já depois do regresso do Jacinto, e na base do qual se pode ler: "Nem só de pão vive o homem"... As fotos foram tiradas em Abril de 2010 pelo Eduardo Campos (**) que fez questão de mas entregar, em Monte Real, em 26 de Junho passado, para as fazer chegar às mãos do Jacinto que ele não conhece, a não ser do blogue... Um gesto de grande camaradagem que me sensibilizou muito e que vai emocionar o Jacinto.

Entretanto aqui fica o primeiro poste da série Álbum fotográfico de Jacinto Cristina... Vou pedir ao Jacinto que me ajude a "legendar" as fotos dos restantes três postes que vou publicar este fim de semana...


[Fotos digitalizadas, editadas  e legendadas por L.G.]
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Notas de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores:


Guiné 63/74 - P7032: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (33): Teixeira Pinto - Perdidos (2)

1. Mensagem de Luís Faria (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 22 de Setembro de 2010:

Meu Amigo Carlos Vinhal
Como ao que me apercebo, recuperaste todas as forças (será?) e mais algumas, cá te mando mais um troçozito da minha ”Viagem…”, que não foi antes, nem acoplado ao anterior, por querer inserir a história transcrita por um dos actores na época, em documento que… nunca mais me chega às mãos.

Assim cá vai e depois… se o doc acabar por chegar (tem que chegar, só não sei quando… também o darei a conhecer.

Vistas bem as coisas, naquela vida e idade, um “gajo” ao “mínimo” pretexto aproveitava para… beber uns copos, não seria? Se calhar nem seria preciso outro pretexto do que… estar lá naquela “vidinha” !!

Um abraço para os que vão tendo a paciência de me ir lendo.
Luís Faria


Viagem à volta das minhas memórias (33)

Teixeira Pinto – Perdidos (2)

Estávamos em retirada, depois de um confronto nas matas do Balanguerez. (vd. Poste 6990*)

O temporal era de fazer medo e à forte chuvada que se misturava com o suor peganhento que nos toldava a vista, juntavam-se relâmpagos que, já a anoitecer, começavam a fazer as matas dançar ao nosso olhar, confundindo-nos as definições e as distâncias do observado.

Com azimute pré-definido, a “bicha de pirilau” avança como usual, ziguezagueando em corta-mato para local escolhido, junto à estrada antiga Teixeira Pinto – Cacheu, onde emboscará para passar a noite. No trajecto damo-nos conta que a ultima meia dúzia de Rapazes tinham ficado para trás, perdidos (vd. P-6990*).

Após uma noite tenebrosa de dilúvio e mordidelas que mais pareciam queimadelas - provocadas por aquela mosquitada pequenina e negra que se entranhava por tudo o que era sítio, se embrenhava pelos cabelos queimando-nos o couro cabeludo e torrando-nos a paciência - o dealbar encontra-me metido na valeta, com água até ao peito e sem que tenha conseguido pregar olho, devido ao aguaceiro caído dos céus e especialmente à mosquitada que não havia meio de se afogar.

Era altura de fazer os tiros de sinalização, a ver se os “perdidos” respondiam. Assim foi feito… respondem de pronto e logo começa a aparecer, um a um, a “Jericada” (como dizia o Castro), saídos da orla da mata. Por fim íamos ficar a saber o que se tinha passado mas, antes havia que levantar arraiais e procurar outro poiso para emboscar… não fosse o diabo tecê-las.

Depois de, na certa, terem ouvido daquelas bocas ”foleiras” em titulo de comentários jocosos, - demonstrativas de proximidade, afinidade e de afecto, - usuais por aquelas paragens e situações, começam a contar, mais coisa menos coisa, que “após uma breve paragem, o bi-grupo recomeça o andamento e o Barros (Alf), que ia nos últimos lugares, pára por momentos para apertar as botas, mijar ou o “car… que o fo…”, sem avisar quem ia à sua frente. Claro que os que íamos atrás também parámos!”…

Já ao anoitecer e com aquele temporal, foi o suficiente para ficarem isolados. Foram seguindo os tiros de localização, mas não responderam por receio que o IN percebesse eventualmente o que se passava.

Continuam : “ouvíamos os tiros e não percebíamos porque não respondíamos e às tantas o Lobo (4.º GCOMB) começa a magicar que o Barros era preto da Guiné e se calhar tinha-se feito perder de propósito (!?) para se poder passar para o outro lado, naquela ocasião em que eles (IN) andavam ali por perto. “

Teixeira Pinto - Sold.Lobo (4.º GCOMB) com MG

Diz o Lobo: “Às tantas parámos e ele (Barros) pega no mapa e na bússola e quer que eu fique com aquilo. Digo-lhe que não percebo nada de mapas nem de bússolas, que não aceito e começo a pensar que afinal o fdp sempre se quer passar e vai-nos deixar aqui no meio da mata. Não, não nos vais f…, não vais conseguir… antes eu mando-te p´ró ca… e logo atrás dele, não o larguei da ponta da arma.”

Esclarece o Barros (Alf do 2. º GCOMB) que foram seguindo os sinais, mas era perigoso responder e que a dada altura começou a pensar : ” F… se somos apanhados… os fdp percebem que sou graduado e são capazes de me limpar o coiro. “

Prossegue: “então quis dar o mapa e a bússola ao Lobo (instrumentos usados pelos graduados) e assim, caso acontecesse, ele até beneficiaria e eu teria mais hipóteses. Mas… vi a reacção, senti o motivo da recusa e disse cá para mim, que se f…., o que tiver que ser… será. Notei que o pessoal tinha ficado um tanto inquieto e apreensivo pelo que lhes expliquei o que me tinha levado a propor aquilo. Ficaram então tranquilos achando até que devia ser levada avante. Não, não aceitei e a progressão continuou até à orla da mata onde passámos aquela tenebrosa noite emboscados, até que ouvimos a sinalização ao amanhecer. Estávamos nas imediações, respondemos.”

(Esta situação, à altura preocupante, dá agora azo a momentos hilariantes quando é recontada pelos intervenientes)

Novamente juntos faltava chegar as viaturas para nos levarem a porto mais seguro…Teixeira Pinto e à nossa bela vivenda, onde certamente se iria fazer uma “cerimónia” de truz.

Luís Faria
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Nota de CV:

(*) Vd. último poste da série de 15 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6990: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (32): Teixeira Pinto - Perdidos (1)

Guiné 63/74 - P7031: Notas de leitura (149): A Independência da Guiné-Bissau e a Descolonização Portuguesa, de António Duarte Silva (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Setembro de 2010:

Queridos amigos,
O que é bom acabou-se. Mas foram umas férias impares, andei por museus e casas senhoriais, vagueei por jardins e até apanhei chuva. O melhor de tudo, como já se vai repetindo, foram os vales de Yorkshire, um dos locais mais aprazíveis que conheço.
Chegou a hora de voltar ao trabalho. Talvez da melhor maneira, começando com o outro livro (também incontornável) desse grande estudioso que é o António Duarte Silva. Ele tinha obrigação de se filiar na tertúlia, não conheço melhor informado sobre a Guiné do que ele.

Um abraço a todos na chegada do Outono,
Mário


A independência da Guiné-Bissau e a descolonização portuguesa (1)

Beja Santos

Se com “Invenção e Construção da Guiné-Bissau” António E. Duarte Silva escreveu um ensaio memorável da Guiné Portuguesa entre os anos 40 e a luta da libertação (Edições Almedina, 2010), o seu trabalho anterior intitulado “A Independência da Guiné-Bissau e a Descolonização Portuguesa” (Edições Afrontamento, 1997) possui idêntica qualidade, rigor e originalidade. São investigações complementares, nalguns casos cruzam-se e amplificam os elementos de compreensão sobre a vida da colónia, clarificam os alvores do nacionalismo guineense, as estratégias que levaram à declaração unilateral de independência, comentam o comportamento da Guiné-Bissau recém-independente, analisam exaustivamente a formação do Estado e todas as questões inerentes seja o direito à autodeterminação seja o direito da descolonização. Igualmente o acervo bibliográfico é incontornável. Tudo somado, não se conhece na actualidade melhor investigação sobre as últimas décadas da Guiné, desde que se tornou uma colónia modelo, ainda nos anos 40, passando pela via da libertação nacional e as diferentes constituições bissau-guineenses.

É um estudo suficientemente rico para obrigar a sucessivos olhares, etapas e eventos, obrigando a seccionar a recensão. Como segue.

Primeiro, António Duarte Silva regista o que de essencial avulta na visão colonial portuguesa entre os anos 30 e o movimento descolonizador, subsequente à Segunda Guerra Mundial. Aliás, em idêntico sentido procede o historiador Filipe Ribeiro Menezes na sua monumental obra “Salazar, Uma Biografia Política” (Publicações Dom Quixote, 2010). Sem se entender o pensamento de Salazar desde o Acto Colonial até ao anti-colonialismo que explodiu na Ásia e na África, não é compreensível apreender e caracterizar o que movia as organizações independentistas que actuaram na Guiné ao longo da década de 50.

Segundo, o autor releva os acontecimentos inerentes ao massacre do Pidjiguiti, a importante reunião de 19 de Setembro de 1959, considerada determinante na história do PAIGC, a formação do frentismo anti-colonial, a tentativa do perfil ideológico de Cabral e como o seu pensamento se tornou dominante dentro do movimento de libertação e o início da luta armada, dando-se igualmente um quadro da actuação da FLING. Como é evidente, torna-se necessário equacionar a chamada unidade Guiné-Cabo Verde e até encontrar base histórica, sem descurar os símbolos e mitos dessa unidade. Segue-se o período que vai da “batalha do Como”, em 1964, até à nomeação de Spínola, em 1968. É um lugar-comum dizer-se que foi um período crucial, desde 1963 que o PAIGC se tornou preponderante no Sul e Amílcar Cabral destacou-se, ao nível dos movimentos de libertação, como figura de proa. É o tempo do crescendo da guerra que vai obrigar Spínola a redefinir a manobra e a procurar em simultâneo dissuadir a contra-guerrilha e a captar as populações.

Terceiro, analisa-se o contexto da independência, e aqui o autor dá largas à sua formação jurídica, recordando o historial de sucessivas independências unilaterais, a começar pelos Estados Unidos da América. Não querendo repetir o que já foi anotado em “Invenção e Construção da Guiné-Bissau” é de indiscutível importância perceber o que foi a formação da Guiné-Bissau enquanto Estado africano e as suas singularidades no contexto do Império Colonial Português. Para entender a declaração unilateral da independência, de 24 de Setembro de 1973, é preciso recuar até 1968 e passar em revista a evolução dos acontecimentos no teatro de operações, o significado do relatório da Missão Especial da ONU, em Abril de 1972, os sucessivos triunfos da diplomacia do PAIGC e o seu plano para pôr o Estado em movimento: a eleição da Assembleia Nacional Popular como facto inédito que precede a declaração da independência.


Quarto, o autor descreve a viragem da guerra e os principais eventos de 1973, desde as operações “Amílcar Cabral” e “Nô Pintcha”, o novo plano de encurtamento da área ocupada pelas tropas portuguesas (seguramente o motivo maior que levou ao pedido de demissão de Spínola), o II Congresso do PAIGC e a aprovação da Constituição do Boé. António Duarte Silva analisa pormenorizadamente as repercussões desta declaração de independência, na ONU, no Governo português, nos dois partidos da oposição (Partido Socialista e PCP). Entre 27 de Setembro e 7 de Outubro de 1973, a República da Guiné-Bissau foi imediatamente reconhecida pela grande maioria dos Estados africanos, asiáticos, árabes e comunistas. Numa medida surpreendente, em 2 de Novembro, a Assembleia-Geral da ONU aprovava, por 93 votos, 30 abstenções e 7 votos contra, uma resolução felicitando-se “Pelo recente acesso à independência do povo da Guiné-Bissau, ao criar o Estado soberano que é a República da Guiné-Bissau”. Em 19 de Novembro, a Guiné-Bissau era admitida por unanimidade na Organização da Unidade Africana. Tal como nas independências dos EUA e do Brasil, a guerra prosseguiu mais algum tempo. Os primeiros meses de 1974 viram encarniçados combates, desapareceu a guarnição de Copá, Canquelifá esteve a ferro e fogo, obrigando a uma intervenção do Batalhão de Comandos. Em Março, em reunião secreta, sentaram-se à mesa diplomatas portugueses com uma delegação do PAIGC, com resultados inconclusivos. O representante do Governo português só queria discutir o cessar-fogo para abrir negociações a uma eventual independência da Guiné. A delegação do PAIGC recusou-se a discutir a independência da Guiné sem a complementar com a de Cabo Verde. E assim chegamos ao 25 de Abril de 1974.

(Continua)
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 12 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6975: In Memoriam (51): Djassió Soncó, mulher do guia Quebá Soncó (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 10 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6966: Notas de leitura (148): Transição Democrática na Guiné-Bissau, por Johannes Augel e Carlos Cardoso (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7030: Memória dos lugares (100): O dia em que o RAP2 esteve sob ameaça terrorista (Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem de Joaquim Mexia Alves*, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas); Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73, com data de 21 de Setembro de 2010:

Meus caros camarigos editores

Tenho lido alguns textos fazendo referência às Unidades militares onde alguns camarigos fizeram as suas recrutas ou especialidades, bem como, as que foram Unidades mobilizadoras dos Batalhões e Companhias que rumaram à Guiné.

Achei por bem então, escrever um texto, relembrando uma história engraçada que se passou comigo e com outros, no então RAP 2, na Serra do Pilar, onde formei Batalhão para servir na Guiné.

JMA


Regimento de Artilharia Pesada N.º 2 localizado na Serra do Pilar em Vila Nova de Gaia


O DIA EM QUE O RAP2 ESTEVE SOB AMEAÇA TERRORISTA

Cheguei ao RAP2, (julgo que juntamente com os outros oficiais, (Aspirantes), e sargentos, (Cabos Milicianos que iam formar Batalhão), aí pelo mês de Julho, findas que tinham sido as Especialidades de cada um.

Julgo que começámos a instrução do Batalhão por volta de Outubro de 1971, partindo para a Guiné no dia 21 de Dezembro do mesmo ano, a bordo do Niassa, a partir de Lisboa.

Houve então ali um período, entre Julho e Outubro, em que fizemos sobretudo Oficiais de Piquete e ao que me lembro pouco mais.

Havia então ali, à saída em frente da descida, o Café Mucaba e do outro lado da Ponte Luís I, do lado esquerdo de quem vai para o Porto, o Bar América, (onde umas raparigas de fino porte alegravam as noites), mas isso são outras histórias que talvez um dia conte.

Mas vamos à história, na qual omitirei os nomes, (tirando o meu), por razões óbvias que compreenderão, e que envolve dois Alferes Milicianos que não pertenciam ao Batalhão e julgo nem sequer foram mobilizados para lado nenhum.

Um, (a “vítima” da partida que vou contar), era bom rapaz, mas um pouco lerdo, se é que me faço entender, de tal forma que não podia, por ordens superiores ao que me lembro, ocupar as funções de Oficial de Dia.

Ora como o fruto proibido é o melhor, o homem ansiava por um dia poder andar de pistola à cinta, fazendo de Oficial de Dia.

O outro, o colaborador na partida, era um “gajo porreiro”, que andava por ali a passar o tempo à espera de acabar o tempo da tropa e que obviamente não levava nada daquilo a sério.

Claro que entre ele e mim se estabeleceu uma certa empatia, e se eu já estava apanhado do clima mesmo antes de chegar à Guiné, ele não estaria muito melhor, afectado com certeza pelos ares demasiado “puros” da Serra do Pilar.

Ora um dia em que por coincidência ele está de Oficial de Dia e eu de Oficial de Piquete, depois de uns uísques bebidos na Messe de Oficiais e com certeza de imensos “elogios” à família militar que nos dava cama e mesa naqueles tempos, decidimos concretizar o sonho do outro Alferes acima referido, e que nunca ou quase nunca saía do quartel.

Se bem pensámos, melhor o fizemos, e engendramos o seguinte esquema.

Ao fim do dia, (quando já tivessem saído os Comandantes), depois do jantar, (já noite dentro, para não haver surpresas de oficiais superiores), ele como Oficial de Dia chamaria o outro Alferes à minha frente, Oficial de Piquete, e dir-lhe-ia que tinha um problema grave em casa, e que obrigatoriamente tinha de se ausentar.

E a conversa continuava:
Ele como Oficial de Dia era no momento o Comandante do quartel e como tal investia-o nas funções de Oficial de Dia até que ele pudesse regressar.
Não havia problemas porque ele podia contar com a minha ajuda, etc., etc.

O outro, embora receoso, não cabia em si de contente vendo-se já de “pistola à cinta”!

Fez-se no gabinete do Oficial de Dia uma “cerimónia” de passagem de “testemunho”, com entrega da Bandeira Nacional e tudo!!!

O primeiro Alferes saiu então do quartel, tendo reentrado pouco tempo depois e ficado na Casa da Guarda logo junto ao portão.

Passado pouco tempo eu disse ao “Oficial de Dia” que tinha de inspeccionar qualquer coisa e vim para a Casa da Guarda, sem ele saber.

Daí, (e ele não se apercebeu de onde vinha o telefonema), telefonei para o gabinete do Oficial de Dia, imitando um suposto General Comandante-Chefe da Região do Porto, informando que tinha havido um aviso que um qualquer grupo terrorista iria atacar o RAP2 e como tal ele, Oficial de Dia, tinha que tomar as medidas necessárias à defesa do quartel.
Para tornar mais credível a coisa pedi-lhe para se identificar e sei lá mais o quê!

Claro que logo a seguir vim ter com ele como se nada se passasse!
Encontrei-o em pânico, sem saber o que fazer!

Entretanto e passado pouco tempo chegou o primeiro Alferes, (o Oficial de Dia a sério, que passo a designar como ODV – Oficial de Dia Verdadeiro), e perante a situação, (a coisa já estava combinada comigo), disse que não podia reocupar as funções visto que ele, (a “vitima”) se tinha identificado ao General e como tal teria de levar a coisa até ao fim.

A partir daí foi um crescendo de “asneirada” de tal modo que só a muito custo nos conseguíamos manter sérios, tendo que vir “desopilar” cá fora de quando em vez e até para avisar os oficiais, (Aspirantes), que iam chegando da noite.

“Solenemente” o ODV, comigo como testemunha, entregou a Bandeira Nacional ao ODF, (Oficial de Dia Falso), com o solene compromisso que a devia defender até ao limite da sua vida.

Eu fui incumbido de alertar o Piquete, o que verdadeiramente não fiz, obviamente, bem como avisar as sentinelas, o que também fingi.

Tratou-se então de defender o gabinete do Oficial de Dia, que ficava, salvo o erro, ao lado do bar de oficiais, pelo que, se decidiu instalar uma MG42 em cima da mesa do referido Bar, bem como se distribuíram por aqueles espaços as armas que estavam à mão.

O pessoal, (Aspirantes), que iam chegando, iam ajudando à “festa”!

Já não me lembro bem do que se fez mais, mas a situação era hilariante, com todas as histórias à volta e os avisos de defender o quartel até à morte!
Surge então a ideia mais estapafúrdia que era trazer, sob as ordens do ODF, (aconselhado por nós claro), um Obus 14 que havia no parque exterior e colocá-lo no cimo da rampa que dava acesso à Porta de Armas e apontado a esta!

Não sei se estão a ver a ideia de Obus apontado para baixo!!!!

Com toda a franqueza não me lembro se chegámos a concretizar esta “brilhante ideia”, embora eu pense que sim, (outros do meu Batalhão que ali estivessem se poderão lembrar), mas tenho a noção que, por um daqueles azares que só acontecem nestes momentos, o 1.º ou 2.º Comandantes vieram ao quartel à noite por qualquer razão.

Claro que aquele que veio se deparou com todo este aparato, e houve a necessidade óbvia de explicar o sucedido, o que segundo me lembro, foi recebido com os avisos de “porradas” a aplicar, mas no fundo com um sorriso condescendente e compreensivo, (caramba o pessoal ia para a Guiné), e julgo que não houve consequências de maior.

À distância parece uma coisa talvez sem graça, mas naquela noite “chorámos” a rir, e durante uns tempos foi conversa obrigatória.

Está bom de ver que fizemos as pazes com o “visado”, que sendo boa pessoa, engoliu a partida e tudo ficou “como dantes, quartel-general em Abrantes”.

À vossa consideração, camarigos editores, a publicação desta história.

Um abraço camarigo para todos do
Joaquim Mexia Alves
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 9 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6961: Depois da Guiné, à procura de mim (J. Mexia Alves) (11): Tempo presente, tempo de viver

Vd. último poste da série de 11 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6969: Estórias avulsas (95): A minha 2ª grande missão ao serviço do Exército Português (António Barbosa)

Guiné 63/74 - P7029: Tabanca Grande (245): António Branquinho, ex-Fur Mil do Pel Caç Nat 63 (Fá e Missirá, 1969/71)

1. Mensagem de António Branquinho, ex-Fur Mil do Pel Caç Nat 63, Guiné, 1969/71, com data de 20 de Setembro de 2010:

Caro amigo e companheiro

Sou irmão do Alberto Branquinho e  como vocês prestei serviço militar na Guiné.

Iniciei a Comissão em 23/09/1969 e terminei-a em finais de Outubro de 1971 (não me lembro da data correcta).

Fui em rendição individual, tendo sido colocado no Pel Caç Nat 63, que era comandado pelo ex-alferes miliciano Jorge Cabral, colaborador do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Desde o primeiro dia que somos amigos. Amizade esta que mantemos até à data.

O Pelotão era composto, na sua maioria,  por elementos oriundos da própria Guiné, o alferes, furriéis, cabos e alguns soldados adstritos ao Pelotão eram brancos. Por este facto, os chefes militares e outros, por vezes "esqueciam-se" de nós, nomeadamente, no que dizia respeito ao fornecimento atempado de géneros "frescos", sendo os enlatados (fiambre, conservas várias, chouriço, etc.) a base da nossa alimentação.

Durante bastante tempo (muitos meses) estivemos privados de gerador de electricidade e de arca ou frigorífico a petróleo e consequentemente do prazer de uma bebida fresca. Era uma festa quando nos deslocávamos à sede do Batalhão (Bambadinca), bebiam-se umas "bazucas" e uns wiskys gelados, era até cair - tirava-se "a barriga de misérias".


António Branquinho no Enxalé


Quando o Pelotão era mudado para outro Destacamento, o que se verificava frequentemente, era uma carga de trabalhos, uma vez que os soldados do Pelotão tinham consigo as mulheres e filhos, pelo que tinha de se arranjar transporte para todo aquela gente. Além das respectivas famílias, eram as galinhas, os cabritos e toda a traquitana inerente às lides domésticas (tachos, pilões, panelas, cabaças, alguidares, etc.). Era uma confusão! Eu passava-me.

O Jorge Cabral incumbia-me sempre destas missões, dizia que eu tinha uma certa sensibilidade para estas "operações". Tomava esta decisão por ser o furriel mais antigo e,  talvez, por uma questão de confiança. Numa das várias mudanças de Destacamento que efectuámos, apareceu-me com uma garrafa de wisky na mão, para festejarmos o fim da instalação do Pelotão. Estava tão desgastado e stressado que lhe tirei a garrafa da mão, mesmo à temperatura ambiente ia bebendo tudo de um só trago. Como era de esperar apanhei tamanha bebedeira, que passei o dia todo a dormir.

Após várias deslocações, estive em vários Destacamentos, na zona de Bambadinca: Fá, Missirá, Bambadinca, Ponte do Rio Udunduma, Nhabijões, Xime, etc.

Durante a minha Comissão, estive adstrito a dois Batalhões, sediados em Bambadinca (Sector L1): BCAÇ 2852 (1968/70) e BART 2917 (1970/72.

Terminei a Comissão em beleza, a não ser um senão, incompatibilizei-me com o substituto de Jorge Cabral, em Bafatá. Era uma pequena cidade, mas tinha muitas mordomias de que já há muito não estava habituado.

Escrevi este pequeno texto, como cartão de apresentação, havendo muito mais histórias para contar, desde que haja disponibilidade e pachorra para tal.

Um abraço
António Branquinho

Missirá, 1971 > António Branquinho (de pé) e Amaral

Missirá, 1971 > António Branquinho, Amaral e uma bajuda

Missirá, 1971 > Pires, Branquinho e Amaral


2. Comentário de CV:

Caro António Branquinho, é caso para dizer: que belos padrinhos! Ser irmão do Alberto Branquinho e amigo do Jorge Cabral dá-te muita responsabilidade.

Faz favor de entrar, a Tabanca é toda tua, como soi dizer-se, mas tens de a compartilhar com os outros 448 camaradas e amigos. Note-se que a tua entrada não faz aumentar o número de tertulianos, pois há muito estás na listagem da página.

A tua apresentação está muito completa, porque de uma só penada descreves o quão difícil era ser parte de um Pelotão de Caçadores Nativos. A diferença da língua, dos usos e costumes, eram, para quem chegava de novo, um choque. Bem sei que passado pouco tempo nos apercebíamos de quanta dedicação aqueles homens nos dedicavam. Penso que seria mais difícil acompanhá-los no mato, já que estavam adaptados a um terreno e a um clima, para nós, hostis.

Disto tudo nos vais falar com certeza, baseado na tua experiência de contacto com aqueles bravos homens.

Ficamos assim na expectativa das tuas narrativas e fotos. Já agora, se tiveres por aí uma foto actual, manda para que te possamos conhecer, se nos cruzarmos por aí algures. Obrigado.

Recebe um abraço que te envio em nome da tertúlia.

O teu camarada e amigo
Carlos Vinhal
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7023: Tabanca Grande (245): Armando Fonseca, ex-Soldado Condutor do Pel Rec Fox 42 (Guiné, 1962/64)

Guiné 63/74 – P7028: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (34): Memórias de Angola – Uma (longa) noite a conduzir… A morte

1. O nosso Camarada José Eduardo Reis de Oliveira (JERO), foi Fur Mil Enfº da CCAÇ 675 (Binta, 1964/66) e enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 22 de Setembro de 2010:

Camaradas,

Depois de longa ausência envio um texto sobre Angola, respeitante a uma dramática história passada em 5 de Junho de 1963.

Já lá vão 47 anos!

Confirmei alguns dados e sei que a história tem veracidade. Um irmão do Joaquim Mexia Alves - o António - foi Alferes numa Companhia deste Batalhão.

Como vi que no nosso Blogue já existem 70 postagens sobre Angola julgo que a história que te estou a enviar terá cabimento junto dos "testemunhos" da "nossa" Guiné.

Para complemento do texto anexo uma cópia de um mapa militar do Norte de Angola, assinalando Bessa Monteiro e Ambrizete (este mapa foi tirado de uma Edição do EME, 2º.volume do Dispositivo das Nossas Forças – Angola -, 1989).




UMA (LONGA) NOITE A CONDUZIR… A MORTE
De seu nome José Peça Figueiredo foi conhecido nos seus tempos de militar como o “Alcobaça”. Vá-se lá saber porquê!

Recolhi a história que hoje vou contar em diversos tempos…

Num primeiro tempo… hesitei em contá-la pela tremenda carga de dramatismo que contém.

Num segundo tempo – impressionado pela morte recente de uma familiar – telefonei ao Zé Peça, que daqui a pouco mais de um mês vai entrar numa idade ingrata – os 70 menos 1, e disse-lhe:

Eh pá, qualquer dia “deixamos de fumar” e fica por escrever a tal história da tua noite a caminho do Ambrizete…

Falámos ao fim da tarde de hoje, 20 de Setembro de 2010, em casa do Zé.

Somos amigos desde há muitos anos e sei que é… ”boa praça”. Não engana. Discreto, palavroso como profissional (foi um excelente vendedor de automóveis) mas extremamente recatado quando toca a falar de si.

Foi portanto um José Peça Figueiredo tenso e particularmente sério que me (re)contou a história de uma das noites mais longas e dramáticas da sua vida militar.

Foi no dia 5 de Junho de 1963. Passava pouco do meio dia. À distância do tempo recorda esse dia… ao minuto. Era Soldado Condutor (condutor auto rodas) da CCS do Batalhão 400 (BART 400).*


Pediram nessa altura “voluntários” para ir ajudar uma coluna do "392", de Baca, que estava a ser atacada quando vinha a meio caminho em direcção a Bessa Monteiro .

O Zé Peça ficou no quartel sentindo-se na obrigação de me explicar que “na tropa aprendeu cedo que não se devia ser voluntário” para nada. Saiu uma coluna comandada pelo Capitão Moura Borges para "ir dar uma mão" à tropa do "392", ajuda que tinha sido pedida por rádio.

Por volta das 3 da tarde soube o que tinha acontecido.

A cerca de 12 kms. de Bessa Monteiro, num local em que a “picada” estreitava devido a uma “garganta” da montanha a segunda viatura da coluna da CCS rebentou uma mina anti-carro e não tinha conseguido chegar ao local da emboscada da "392". Tinham-se registado diversos mortos e feridos.

Lembra-se dos mortos terem chegado “feitos aos bocados”. Havia a lamentar 3 mortos da CCS, entre os quais o Capitão Borges.

E também havia mortos em Baca da CART 392. Constava que eram 4.

O “Alcobaça” ajudou no que lhe foi possível e ainda assarapantado pela confusão do momento lembra-se de passado algum tempo ter sido chamado pelo Comandante de Batalhão, Ten. Coronel Alberto Ferreira de Freitas Costa.

“Alcobaça” vai jantar e depois levas os mortos a Ambrizete”.


Nesta parte da narrativa o Zé Peça esclarece-me de algumas dúvidas.

Destino Ambrizete porquê?

Ambrizete ficava a 200 kms. mas tinha cemitério e uma Igreja, onde se podiam fazer os funerais.


Teria que fazer o percurso onde tinha ocorrido o rebentamento da mina e passar por Baca para transportar, para o mesmo destino, os outros mortos.

Entre diversos pormenores macabros em relação aos mortos da CCS o Zé Peça lembra-se ainda do que comeu na altura: “bacalhau com batatas”! Porque se lembra deste pormenor? Porque que era um "prato" de que muito gostava e não tinha conseguido "tocar na comida".

Algum tempo depois apresentou-se com a sua “GMC” junto ao Comando e carregaram-lhe, em maca, os 3 mortos.

O Ten. Coronel entregou-lhe os galões do Capitão Borges e disse-lhe em voz baixa que os voltasse a colocar no corpo do Oficial quando tivesse chegado ao seu destino.

- E quem vai comigo, meu Comandante?

- Ninguém.Vais sozinho pois já chega os mortos que tivemos. Se houver outra mina só teremos mais uma baixa e não duas.

O Zé Peça, que sabia que o Comandante de Batalhão tinha estima por si, sentiu um aperto "mitral" mas nada disse e subiu para a viatura. Pôs o motor a trabalhar e arrancou, seguido por duas viaturas com duas(??) secções.Lembra-se que uma das secções era comandada pelo Furriel Tavares.

Eram umas seis da tarde.

Ainda havia luz de dia mas pouco depois começou a escurecer.

O “Alcobaça” não acendeu os faróis mas ligou os “olhos de gato” da “GMC”. Em marcha lenta, pois nalguns troços da “picada” os homens do Furriel Tavares seguiam apeados, chegaram ao local onde tinha rebentado a mina.

Foi muito difícil ultrapassar o "buracão", dificuldades que pouco depois aumentaram quando encontraram duas árvores abatidas na "zona de morte" da emboscada que a malta do "392" tinha sofrido.

Os “abatises” tiverem que ser serrados e removidos para a berma para a pequena coluna continuar o seu caminho.

Foram horas de angústia que se prolongaram pela noite dentro. Chegaram a Baca por volta das 4 da manhã. Aí o Zé lembra-se de ter comido alguma coisa. Uma espécie de pequeno almoço.

Tinham sido precisas cerca de 10 horas para percorrer 22 quilómetros!

Foram carregados os mortos da “392”- eram 3 e não 4 - e a coluna “funerária” seguiu a caminho de Ambrizete.

Só, na sua cabine, nem uma vez o Zé Peça olhou para trás, para a sua”carga”. Sentia um cheiro a morte e um zumbido de moscas… Foram horas e mais horas até Ambrizete. Só, com os seus pensamentos, o Zé Peça olhava para a “picada” atento a qualquer coisa… As sombras da noite foram clareando e quando o amanhecer chegou o seu ânimo melhorou um pouco…

Eram 5 da tarde quando chegaram a Ambrizete.

Tinham passado cerca de 23 horas desde que tinham saído de Bessa Monteiro!

Os corpos começaram a ser descarregados e o “Alcobaça” apressou-se a pôr os galões no cadáver que lhe pareceu ser o do Capitão Borges. Os corpos estavam inchados, cobertos de pó, de moscas e…irreconhecíveis. O Zé Peça teve dúvidas mas… não conseguia olhar mais tempo os mortos.

Perguntei-lhe se os corpos estavam identificados, se tinham as chapas metálicas de identificação que todos os militares traziam ao peito? Em consciência não se lembra… nem sabe responder.

Tinha que sair dali bem depressa e foi para a “Pensão do Moço”. Conhecia o dono e lembra-se que foi para a cama bem cedo. Caiu na cama mas não conseguiu dormir nada de jeito. Teve pesadelos e viu, vezes sem conta, os “seus” mortos numa noite longa… que parecia não ter fim.

No dia seguinte atestaram-lhe a sua GMC com géneros. Carregou sacos de arroz, feijão, grão, batatas, conservas e barris de vinho.

O Zé Peça lembra-se que sentia algum “conforto” com o carrego que ia transportar. Carregava a tonelagem máxima e se “encontrasse” uma mina anti-carro talvez não saltasse muito!

Não houve problemas no regresso a Bessa Monteiro.


Quando chegou ao aquartelamento pensava que ia encontrar a malta toda em lágrimas.

Foi recebido com gritos de satisfação. Olha o “Alcobaça”!

Num grupo tocava-se acordeão e dançava-se…

Parecia que nada de anormal se tinha passado 2 dias antes.

O “Alcobaça” percebeu que a guerra é mesmo assim.

Ai dos que partem!

Quem fica… come, bebe, brinca... convencido que a acontecer alguma coisa de mau acontecerá aos outros.

Fez o relatório verbal ao seu Comandante e não ocultou as dúvidas que teve quando colocou ao galões do Capitão… num corpo que poderia não ser o “certo”.

O seu Ten. Coronel não o recriminou e explicou-lhe as razões da tal ordem cruel:

«Segues sozinho porque já me chegam os mortos que tivemos.»

O Zé Peça compreendeu e seguiu para a sua vida no quartel. Onde fazia tudo… ou quase tudo.

Mal sabia ele que ainda estavam para acontecer outros acontecimentos bem trágicos por ali…

Em 6 de Setembro de 1964 é abatido um pequeno avião de reconhecimento onde seguiam dois oficiais do BArt. 400:

O Ten. Coronel Alberto Ferreira de Freitas Costa e o Capitão Carlos Alberto Boura Ferreira morreram nesse dia aziago.

O Zé Peça termina a sua história com a voz rouca.

Peço-lhe algumas fotografias do seu tempo de Angola que, com a ajuda da sua mulher, encontra passado algum tempo.

Quando me preparava para me despedir o “Alcobaça” conta-me mais um capítulo da sua vida.


Dois anos e 65 dias depois de ter rumado a Angola regressou a Portugal e à “nossa” Alcobaça na Primavera de 1965. Empregou-se nas “Termas da Piedade” onde, passado pouco tempo, com a sua habilidade nata para fazer tudo… fazia quase tudo!

Quando alguma coisa urgente o justificava deslocava-se de carro a Alcobaça – a 2 Kms. das Termas – para tratar do que fosse necessário e dava a boleia a quem precisava de vir à vila.

No Verão desse ano de 65 transportou três pessoas e na conversa “de ocasião” uma senhora falou da morte do seu marido,que tinha sido militar em Angola .Quando ouviu falar de Angola o Zé Peça meteu-se na conversa e perguntou qual era patente do militar que tinha morrido. A senhora disse-lhe que o seu marido tinha sido o Comandante do Batalhão 400. O Zé Peça respondeu-lhe de olhos arregalados que esse oficial – o Ten. Coronel Freitas Costa – tinha sido o seu Comandante de Batalhão. Mais contou que tivera com ele uma relação respeitosa mas de muita amizade. E recordou emocionado à senhora (de que não recorda o nome) que o seu Comandante quando esteve de férias em Portugal (em 1964 ??) tinha passado por Alcobaça e lhe tinha levado pêssegos da sua região. Os melhores pêssegos do mundo. Nessa altura dissera ao Zé onde os tinha comprado e "que quem passa por Alcobaça não passa sem lá voltar". Quando esta conversa aconteceu, recorda o Zé Peça, que nem um ano tinha passado sobre a morte do seu Comandante.

A viúva do seu Comandante recordava-se da compra desses pêssegos.

Fez com a senhora uma grande amizade, que recorda com muita saudade.

Como o mundo é pequeno!

Pequeno mas habitado por muita gente.

Com dias aziagos e… noites longas.

Passar uma noite a conduzir… a morte… marcou-lhe a vida.

Para sempre!

Nota final:

Guerra do Ultramar

info: LC123278

Mortos do Batalhão de Artilharia 400 Angola 1962 / 1965

NOME. freg (naturalidade). concelho. Posto. Un. OP. Data. PU. loc sepultura.

Os nomes assinalados a vermelho dizem respeito ao relato do Zé Peça.

13.Março.1963

HORÁCIO DOS SANTOS OLEIRO Arrabalde - Vilar Cadaval Sld CArt393/BArt400 13-03-1963 A † Ajuda (Lx)

5.Julho.1963

1-CARLOS JOSÉ DE MOURA BORGES Campanhã Porto Cap BArt400 (CCS) 05-07-1963 A † Entre-os-Rios

2-FERNANDO DOS SANTOS BORGES Rio Torto Valpaços 1Cb BArt400 (CCS) 05-07-1963 A † Ambrizete

3- JOÃO CLÁUDIO FERNANDES Lourinhã Lourinhã Sld BArt400 (CCS) 05-07-1963 A † cemit concelhio

4-JOSÉ FREITAS ESTEVES Cascais Cascais Sld CArt392/BArt400 05-07-1963 A † cemit concelhio

5-SERAFIM FRANCISCO RIBEIRO Souto Santa Maria da Feira Sld CArt392/BArt400 05-07-1963 A † freg nat

6-VIRGÍLIO FERREIRA Reriz Castro Daire Sld CArt392/BArt400 05-07-1963 A † Ambrizete

15.Agosto.1963

ARTUR FLORIANO COELHO MENDES (???) (???) 1Cb CArt393/BArt400 15-08-1963 A

JOSÉ FERNANDO BARBOSA DE ALMEIDA Rio Tinto Gondomar Sld CArt393/BArt400 15-08-1963 A † Ambriz

9.Setembro.1963


JOÃO ANDRELINO VALERIANO CEBOLA Sé e São Pedro Évora 1Cb CArt391/BArt400 09-09-1963 A † Ambrizete

JOSÉ DA MOTA FONSECA Perozelo Penafiel 1Cb CArt391/BArt400 09-09-1963 A † freg nat

9.Novembro.1963

JOSÉ ANTÓNIO DA LUZ Nossa Senhora do Pópulo Caldas da Rainha Sld CArt391/BArt400 09-11-1963 A ‡ ñ rec

28.Novembro.1963

MANUEL ANTÓNIO IGREJAS FERNANDES Angueira Vimioso Sld CArt393/BArt400 28-11-1963 A

6.Setembro.1964

CARLOS ALBERTO BOURA FERREIRA Sanfins do Douro Alijó Cap BArt400 (CCS) 06-09-1964 A † freg nat

ALBERTO FERREIRA DE FREITAS COSTA Sé Nova Coimbra TCor BArt400 06-09-1964 A † Guia (Cascais

24.Fevereiro.1965

ANTÓNIO MANUEL LOPES Padornelo Paredes de Coura Sld BArt400 (CCS) 24-02-1965 A † Alto de São João (Lx)

* OS GATOS (Bessa Monteiro, Baca, Quibala Norte, Ambriz, Ambrizete, Quimbumbe etc)



Um grande abraço de Alcobaça
JERO
Fur Mil Enf da CCAÇ 675
____________


Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


11 DE JULHO DE 2010 > Guiné 63/74 – P6712:
Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (33): Na Guerra e na Paz… Até ao Fim…