terça-feira, 12 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7117: (Ex)citações (97): Sensatez e rigor no Nosso Blogue (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 10 de Outubro de 2010:


SENSATEZ E RIGOR, FAZEM PARTE DA RECEITA

Tenho um neto que completou agora dois aninhos. É o Barbosa. De nome próprio chama-se Manuel Maria. Por mim, de mão beijada já lhe ofereço o Barbosa. Depois, se ele for apreciador de vinho, de mulheres e... poeta, guindar-se-á por direito ao epíteto de Bocage. Parece que trilha o bom caminho. No dia de aniversário foi um magnifico "entertainer". Quando lhe perguntavam quantos anos tem, abria um sorriso, compunha um movimento, e dizia com correcção: dois!

Ora, ele respondia pelo que ouviu dizer. Na verdade ele não sabe que tem dois anos, pois não tem qualquer noção do fraccionamento do tempo. Dessa essência, o tempo, ele não sabe nada. Mas é esperto, memoriza as coisas, e fala em conformidade.

No caso do meu neto, ele começa pelo fim: diz sobre o que ouviu dizer, e, pode ser que, com o tempo, ele venha a saber muita coisa, a interpretar e juntar conhecimentos para formação de uma sageza sistematizada e autêntica.

Tergiversei sobre o encanto do Barbosa no caminho da aprendizagem, para mais fácil exposição do que pretendo transmitir, por flashes de luz, em medidas comedidas e adequadas às diferentes inteligibilidades, seguindo o modelo de Jesus, que falava quase sempre por parábolas, narração alegórica que encerra algum preceito de moral ou verdade.

Pode acontecer, porém, que ele venha a desenvolver um interesse técnico, para desmontar e montar brinquedos, que o tornem destro no manuseamento de máquinas, por exemplo. Pode não desenvolver o espírito por aí além, pode não se interessar por filosofias, nem se preocupar com critérios sobre a interpretação histórica, mas pode vir a merecer a alcunha de Bocage, e ganhar a vida honestamente numa área técnica. Nota: associamos o Bocage à boémia, mas um bom profissional de qualquer área, pode viver alguns momentos de boémia, e outros de manifesta responsabilidade.

Pela nossa natureza, todos os homens são eminentemente sociais. Por isso convivem e exprimem-se. Aqui é que a porca torce o rabo: é sobre a qualidade da expressão. Porque, se é natural exprimir-mo-nos sobre o que sabemos, também há uma grande tendência para nos exprimirmos sobre o que não sabemos, mas sobre o que ouvimos dizer, sobre matérias induzidas que gravámos como autênticas, sem cuidar de apurar a autenticidade.

É a preversão do conhecimento.

Porque, na verdade, se não sabemos, não temos opinião própria. Apenas reproduzimos opinião, de sentido continuado, ou de sentido contrário relativamente à autenticidade do assunto. Isto depende de alguns pressupostos enquanto ouvintes, ou leitores, de opiniões.

E como somos sociais, pode acontecer ocasiões em que, sem termos a sabedoria adquirida sobre certa matéria, apenas o conhecimento que resulta do contacto com ela, sem ocasião para reflectir interpretativamente, apesar disso, somos capazes de tomar posição, defendendo-a, ou atacando-a, com maior ou menor tenacidade. E o essencial, nessas alturas, não passará de uma treva. Mas que poderá formar correntes de opinião e conduzir as pessoas por caminhos errados, daí, que me pareça necessária alguma temperança antes de enfileirar em movimentos.

Vem isto a propósito de duas situações que, com alguma frequência, encontro no Blogue.

A primeira refere-se a Camaradas que se queixam de alguma intelectualidade (recurso ao conjunto das faculdades intelectuais) imprimida em certos textos. Meus caros, eu não acho que a aversão incida na intelectualidade, antes, quando não temos um verdadeiro interesse sobre a matéria vertida, refugiamo-nos nesse argumento. O que quer dizer, que não sabemos ainda o suficiente para abordar a questão em presença e, provavelmente, não queremos aprender o caminho para chegar lá. O que, ainda assim, é melhor do que revelarmos a presunção de saber o que não sabemos.

A outra situação refere-se a casos de opinião e/ou tomada de posição, sem o necessário conhecimento intrínseco da coisa, da matéria, do alegado conhecimento. Esta situação é grave, pois pode induzir-nos por caminhos erradas e exige de nós, se nos interessarmos correctamente, que encetemos a via do esclarecimento do que nos chega ao conhecimento.

Foi assim, aliás, que encomendei o livro do Manuel Rebocho, cuja essência é bem diferente da crucificação do QP. É essa vontade de acerto (não digo preocupação) que por vezes me leva a alfarrabistas e a cotejos. Depois faço a minha interpretação, porque, como cada um, vejo o mundo pelos meus olhos, e confrontando às minhas experiências ou a outros conhecimentos adquiridos, formulo os meus juízos. Neste caso, conhecimento adquirido será aquele que foi comparado, confirmado ou testado. Conhecimento simples, será aquele que nos transmite a noção (a ideia) da existência de qualquer coisa, sem especial preocupação sobre ela e a sua essência, de que é fácil exemplo, as pessoas irem para o mar sem conhecer o Princípio de Arquimedes. O seu conhecimento não é essencial para o dia-a-dia, e as pessoas fazem a sua vida. Agora, se quiserem perceber porque não se afundam... têm que adquirir conhecimento.

Essa tendência de nos manifestarmos por impulso, ou por paixão, sem a ciência certa, encontrei-a entre nós, sem que daí resultem mais-valias, e a contrariar o que estabelece o regulamento do noveforanadaevãotres.

Sensatez e rigor, fazem parte da receita.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7019: Convívios (191): Próximo convívio da Tabanca da Linha, dia 2 de Outubro de 2010, no Talho do Diamantino - Quinta do Cortador (José Manuel M. Dinis)

Vd. último poste da série de 1 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6917: (Ex)citações (96): Camarada...não é bem irmão, não é bem amigo, não é bem companheiro, não é bem cúmplice, é uma mistura disto tudo com raiva e esperança e desespero e medo e alegria e revolta e coragem e indignação e espanto, é uma mistura disto tudo com lágrimas escondidas (António Lobo Antunes, escritor, 68 anos)

Guiné 63/74 - P7116: Recordações do Hoss (sold Sílvio Abrantes, CCP 121 / BCP 12, 1969/71) (5): O Soldado Para-quedista Folhas

1. Texto do Sílvio Fagundes de Abrantes (foto à direita):


Data: 27 de Setembro de 2010 23:51


Assunto: O Soldado Para-quedista Folhas (*)




No dia 22 de Agosto levantei-me por volta das 10 horas da manhã o que não é muito habitual da minha parte. Levanto-me e vou tomar banho, a minha esposa queria que eu fosse fazer um serviço, mas eu não lhe dei ouvidos e disse
- Queres vir comigo, é sem destino ?!
- Não - foi a resposta.
- O.K.,  não fiques zangada. 

Equipei-me, pego no carro e aí vai ele sem destino. Ando uns 200 metros,  pára e ligo a um amigo que estava de férias da França e pergunto se quer vir comigo. ´
- É sem destino - digo eu.

A resposta foi afirmativa. Espero um pouco por ele e penso no meu amigo Folhas, é hoje que o vou procurar a Coimbra e lá fui com o meu amigo. Almoçamos pelo caminho e seguimos viagem. Em Coimbra procurei a direcção de S. Martinho do Bispo. Encontro um senhor dos seus sessenta e tantos anos, que me diz conhecer o pessoal dali e não existir nenhuma família Folhas, mas sim numa terra cujo nome me varreu, lá sim, há muitos Folhas. 

Lá fui em direcção a Taveiro, entro na povoação encravada na serra, atravesso-a de um lado ao outro e não vejo alma viva. Páro a conversar com o meu amigo e companheiro para delinear uma estratégia e eis que alguém se aproxima e pergunta se precisamos de alguma coisa. Digo ao que vou e o senhor manda-me para um café, lá fui. Mais uma vez conto ao que vou e diz uma dos presentes para o outro:
- Ó pá, de pára-quedistas é contigo. 

Estou com a minha gente,  pensei, e estava, era um ex-pára-quedista, amigo do Folhas e colega de trabalho durante muitos anos.


O senhor que em S. Martinho do Bispo me enviou para esta terra tinha razão, o pai do Folhas era daqui, onde há muitos Folhas, só que casou em Coimbra, melhor em S. Martinho do Bispo.


O nosso ex-pára-quedista indica-me onde mora o Folhas e lá vou. Encontro o meu amigo entretido a fazer um galinheiro para uma vizinha, vá lá, nada de maus pensamentos,  suas más línguas. Mostro uma foto onde estamos os dois e pergunto à senhora se conhecia aquele patife [, vd. foto a seguir: o Folhas e o Hoss com a MG 42].
- Não,  reponde a dita senhora.

É lógico. Não nos conhecemos. Ele está magro,  como sempre, mas muito acabado. Não quer ouvir falar da tropa. Lá conversámos umas horas, onde me contou que até na prisão o meteram, por não ter feito nada, ainda hoje não sabe bem a razão. Eu perguntei se não seria o resto do 16 de Junho de 1970? (**)... Nada de concreto, talvez sim talvez não. 

Está um homem revoltado que nunca mais foi a Tancos embora já tenho sido convidado por diversos colegas, inclusive um ex- Coronel Pára-quedista. Nem mesmo esse o consegue levar. Vejam a revolta que este homem tem para com os seus ex-superiores (**). É preciso relembrar a esses senhores que se hoje têm altas patentes, melhores mordomias, foi à nossa custa, à custa do Folhas e de muitos outros FOLHAS, que estão traumatizados com a guerra e com o comportamento menos digno de certos oficiais e sargentos, que só se importavam com a carreira militar e se esqueceram de que estavam a lidar com homens. 

O Folhas não sabia da nossa decisão de enviar o dito oficial para fora do reino dos viventes. Ficou muito admirado. Disse desconhecer isso por completo. 
- Se fosse comigo esse homem hoje não estava vivo - respondo eu - , não tenhas a menor dúvida.

Esse trauma que o Folhas tem, felizmente não o afectou na vida civil, tem uma vida boa,  graças a Deus. Não precisou da tropa para viver dignamente.


Será que esses senhores não têm vergonha do que fizeram? Será que não são capazes de pedir desculpa pela porcaria que fizeram? Pelo menos uma palavra. Já ouvi um Coronel pára-quedista na reforma, claro, dizer que se encontrasse o Folhas lhe pedia desculpa, pelo menos isso já é de louvar. Mas falta outro dizer o mesmo, esse é que eu queria ouvir aqui neste sítio publicamente. Será capaz? Vamos esperar para ver.


Hoss

[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]
____________


Notas de L.G.:


(*) Último poste desta série > 2 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6816: Recordações do Hoss (sold Sílvio Abrantes, CCP 121 / BCP 12, 1969/71) (4): A cabra do PIDE de Nova Lamego


(**) Vd. poste de  6 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6681: Recordações do Hoss (sold Sílvio Abrantes, CCP 121 / BCP 12, 1969/71) (3): Conclusão


(...) Conforme mencionei na 1.ª parte, houve um oficial que na emboscada  [, perto do Pelundo, em 16 de Junho de 1970,] saltou da viatura sem a G3 e pediu ao Folhas que lhe desse a dele, ao que este rejeitou. O oficial fez a vida negra ao Folhas o resto da comissão.


Passados uns meses e já em plena época das chuvas, fomos para um aldeamento na fronteira com o Senegal onde só havia um pelotão de obus. (...) 


Um dia saímos de manhã fazer uma operação de reconhecimento, chegámos todos molhados. À noite fomos em auxílio dum quartel do exército que estava a ser atacado, chegámos todo molhados. Na manhã seguinte o dito oficial manda formar a companhia de camuflado. Camuflado significa botas. Nós só tínhamos dois pares de botas e dois camuflados que estavam todos molhados. Então resolvemos formar em fato de treino uns, e outros de calções, a única coisa que tínhamos enxuto para vestir. Ao ver tal situação o dito oficial manda o Folhas sair da formatura, entra em discussão com ele e deu-lhe cobardemente duas bofetadas.

O Folhas passa-se da cabeça, e não era para menos, vai buscar a G3 com um carregador enfiado, pronta a disparar, corre atrás do oficial que se refugia na escola. Então eu e outros colegas fomos acalmar o Folhas, o que não foi nada fácil e conseguimos que nos desse a G3.

Passados poucos minutos reuniram-se alguns velhinhos da companhia e de cabeça quente ditamos a sentença ao nosso oficial. Decidimos que, se o dito oficial participasse do Folhas, deixaria de contar a 100% no efectivo das tropas Pára-quedistas, ou seja hoje não estaria no reino dos viventes. Por sorte não houve participação. 



Mas, digo com toda a honestidade, se fosse comigo não lhe perdoava. Ainda hoje pergunto o que é que me segurou em não concretizar a sentença, algumas vezes o tive na mira. O meu pai nunca me bateu.

Seria mais um morto em combate.  Esse grupo era composto por 3 MG, 2 Hk, 1 Degtariev e várias G3. (...)

Guiné 63/74 - P7115: Efemérides (53): Recordando os camaradas mortos na emboscada do Infandre no dia 12 de Outubro de 1970 (Jorge Picado)

1. Mensagem de Jorge Picado* (ex-Cap Mil da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, CART 2732, Mansabá e CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 11 de Outubro de 2010:

Caro Carlos Vinhal
Assinalando-se amanhã mais um aniversário, daquele que foi um dos mais tristes acontecimentos que vivi na Guiné, envio-te um pequeno memorando que desejava, se fosse possível, ver publicado no Blogue.

Desde já os meus agradecimentos, pelo que possas fazer.

Abraços para todos
Jorge Picado


RECORDANDO. 
HOMENAGEM AOS CAMARADAS MORTOS NA EMBOSCADA DO INFANDRE

Foi há quarenta anos. Segunda-feira, 12 de Outubro de 1970, entre o meio dia e as 13 horas, ou mais exactamente talvez perto do meio dia e meia hora.

A coluna tinha saído de Mansoa, no seu regresso ao Destacamento de Infandre, pouco depois das 12 horas e nas messes do Batalhão, o pessoal iniciara pouco depois a refeição do almoço, quando se ouviram as primeiras explosões, quais lúgubres sinais agoirentos de que algo estava a correr mal com “a Nossa Gente”.

Gravura retirada do Poste 2162, trabalho exaustivo sobre a emboscada de Infandre de autoria do nosso camarada Afonso Sousa.

Esquema da emboscada à coluna de Infandre em 12 de Outubro de 1970, enviado pelo nosso camarada Jorge Picado (Poste 2807)

Pois se o barulho era de tão perto... só podia relacionar-se com a coluna saída há tão pouco do Quartel, pois, àquela hora do dia, não era provável que fosse ataque ao Destacamento de Braia, o mais próximo, para os sons serem tão audíveis.

A corrida para as Transmissões, assim o confirmou.

Nem a rápida saída do pessoal de Braia, a poucos quilómetros do funesto local, mas apanhado igualmente com os talheres na mão, e por onde tinham acabado de passar poucos minutos antes, evitou a destruição que encontraram. Mas minoraram, pelo menos o que podia ter sido uma maior hecatombe.

Este triste acontecimento provocou-me grande trauma psicológico de imediato, deixando-me bastante afectado e marcou-me por muito tempo.

Passados 40 anos sobre esta data, quero aqui recordar nesta Tabanca Grande e prestar sentida homenagem, àqueles que então nos deixaram para sempre.

Furriel Mil Op Esp NM 15398468, Dinis César de Castro, da CCaç 2589/BCaç 2885

1.º Cabo NM 17762169, José da Cruz Mamede, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589

1.º Cabo NM 82062566, Joaquim Baná, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589

Soldado NM 19055368, Duarte Ribeiro Gualdino, da CCaç 2589/BCaç 2885

Soldado NM 18901168, Joaquim João da Silva, da CCaç 2589/BCaç 2885

Soldado NM 06975968, Joaquim Manuel da Silva, da CCaç 2589/BCaç 2885

Soldado NM 82047266, Betiqueta Cumba, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589

Soldado NM 82067668, Gilberto Mamadú Baldé, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589

Soldado NM 82023966, Idrissa Seidi, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589

Soldado NM 82040866, Tangatná Mundi, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589

Devo acrescentar a esta lista, dos que morreram nesse dia, o nome do Soldado NM 82066965, Serifo Djaló, do Pel Caç Nat 58/CCaç 2589, que tendo sido um dos feridos que foram evacuados no dia seguinte, 13OUT70, para o HM 241 de Bissau, veio a falecer em 17OUT70, segundo informações fornecidas por pessoal da CCaç 2589, num dos últimos encontros em que estive presente.

Quanto aos feridos, evacuados em 13OUT70 para o HM 241 de Bissau, da HU apenas se pode extrair a lista dos pertencentes ao Pel Caç Nat 58/CCaç 2589 e que foram, além do que atrás indico como tendo depois falecido:

2.º Sargento Mil NM 05040966, Augusto Ali Jaló

1.º Cabo NM 82038960, Jamba Seidi

Soldado NM 82043366, Jorge Cantibar

Soldado NM 82065965, Malam Dabó

Soldado NM 82094468, Samba Canté

Tendo em consideração que na HU, sobre este acontecimento, a notícia é muito resumida, mas refere 9 feridos graves, dos quais um é Furriel (?), e 8 feridos ligeiros, sem outras referências, verifica-se que a lista dos feridos evacuados só menciona os 6 (dos quais um morreu posteriormente) para o HM de Bissau.

Não quero acreditar que os outros 3 feridos graves tenham ficado em Mansoa e por isso, fica-me no entanto uma dúvida que ainda não consegui esclarecer, pelo menos quanto ao 1.º Cabo NM 14992669, José Fernandes Pereira, da CCaç 2589/BCaç 2885, que foi evacuado em 02DEZ70 para a Metrópole por ferimentos em combate, se não teria sido um dos feridos nesta emboscada, uma vez que depois dela não há registo de ter havido, até esta data de Dezembro, qualquer ocorrência de combate com baixas.

Jorge Picado
Ex-Cap Mil Art
CCaç 2589, CART 2732, CAOP 1
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 29 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7053: Eu, capitão miliciano, me confesso (4): A minha tropa, em 1960/62, antes da minha guerra, em 1970/72 (Jorge Picado)

Sobre a emboscada do Infandre, vd. postes de:

7 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2162: O fatídico dia 12 de Outubro de 1970 - Emboscada no itinerário Braia/Infandre (Afonso M. F. Sousa)
e
3 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2807: Estórias de Jorge Picado (1): A emboscada do Infandre vivida pelo CMDT da CCAÇ 2589 (Jorge Picado)

Vd. último poste da série de 30 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7061: Efemérides (52): A independência da Guiné-Bissau comemorada em Angola (Paulo Salgado)

Guiné 63/74 - P7114: Parabéns a você (164): Jovem tertuliana Cátia Félix (Miguel Pessoa / Tertúlia / Editores)

DIA 12 DE OUTUBRO DE 2010, DIA DE ANIVERSÁRIO DA NOSSA JOVEM TERTULIANA CÁTIA FÉLIX

Postal ilustrado:  Miguel Pessoa (2010).


1. Neste dia 12 de Outubro de 2010, festejamos, na verdadeira acepção da palavra, a Juventude.

A nossa muito jovem amiga Cátia Félix* faz hoje aninhos. Pois, porque para fazer anos, estamos cá nós, os velhotes. Quanta inveja.

À nossa "pequenina" amiga desejamos o melhor da vida, nestes tempos conturbados pela incerteza do futuro, que para o bem e para o mal, vai ser mais sensível para a sua geração.

Mas o dia de hoje é de alegria. Ser jovem é ser empreendedor e destemido, e ver o mundo com outros olhos. Assim, queremos deixar os nossos melhores votos de uma vida repleta de êxitos.

Apesar do seu silêncio, temos a certeza de que nos segue, porque entrou para a nossa tertúlia mercê da sua capacidade de ser solidária para com os ex-combatentes e seus familiares.

Quem assim falou, não nos pode ter esquecido:

Caros Amigos
Desde já o meu muito obrigado pelas boas vindas e por todo o carinho manifestado.
Sinto um enorme ORGULHO em fazer parte desta grande família.
Sei que com vocês só tenho a aprender e, com as vossas histórias retirar uma grande lição de vida.

Quem é que hoje em dia, no nosso país, se sujeitava a deixar o aconchego do lar, tendo apenas como companhia a nefasta missão de defender a pátria idolatrada?
Que ORGULHO eu tenho de todos vocês que combateram entre bombas e ogivas, canhões e trincheiras, de corpo cansado, à deriva, com suor, sangue, lágrimas e solidão... Eu consigo reconhecer o vosso verdadeiro valor...

Os "grandes" não o reconhecem? Pois não... Porque apenas têm a frieza de inventarem guerras e as imporem aos seus soldados. Os "valentões" que governavam e gorvernam apenas têm ideias fertéis para inventarem, agora coragem para combater é outra história...


Cara Cátia, para si, neste dia especial, um beijinho muito especial destes amigos que lhe desejam tudo de bom, como por exemplo chegar à nossa idade e passar por ela sempre na melhor forma.

Pela tertúlia
Carlos Vinhal
__________

Notas de CV:

(*) Ver poste de 5 de Abril > Guiné 63/74 - P4140: Tabanca Grande (130): Cátia Félix, jovem estudante de Ciências Farmacêuticas, solidária e interessada pela Guerra Colonial

Vd. último poste da série de 11 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7110: Parabéns a você (163): Eduardo Campos, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 4540 (Editores e Miguel & Giselda Pessoa)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7113: (In)citações (12): Gadamael Porto manda uma saudação especial aos antigos militares portugueses (Pepito)


Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 > O porto ou cais acostável, construído pelo exército português


Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 > A caminho do porto, situado num dos braços de mar do rio Cacine...


Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 > A pista de aviação (ou melhor, o que resta dela)...



Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 > Instalações do comando, centro de transmissões e residência de oficias




Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 > Abrigo do morteiro 60 [, mais provavelmente 81].

Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 > > A base do pau da bandeira...



Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 > Mari Dabô, lavadeira de Alferes Oliveira [, da CCAÇ 4743 ?] que ficou em Gadamael depois da independência e que é de Moscavide


Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 > Mariama Mané, lavadeira do Major Manso



Guiné-Bissau >  Região de Tombali > Gadamael Porto > 10 de Outbro de 2010 > Arafá Turé, aluno do professor Furriel Barros, do Porto, em 1971

Fotos (e legendas):  © Pepito / AD -Acção para o Desenvolvimento (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Notícias (frescas e boas) do nosso amigo Pepito [, foto à èsquerda, em Guileje, 1 de Março de 2008]:

Data: 11 de Outubro de 2010 12:35

Assunto: Gadamael Porto manda uma saudação especial aos antigos militares portugueses  (*)

Luís, Amigo

Ontem [, domingo,]  estive em Gadamael Porto para uma reunião com a população daquela zona da linha da fronteira. A partir deste ano a AD vai intensificar a sua intervenção de Balana a Gadamael no quadro do reforço da coordenação das acções ambientais transfronteiriças (corredores de animais selvagens e preservação das florestas comuns).

A população local fez questão de mostrar os vestígios do antigo quartel (incomparavelmente melhor preservados que os de Guiledje), de enviar fortes e sentidas saudações para os militares que com quem lidaram e por quem se tomaram de amizade, assim como as incontornáveis lavadeiras que cantaram cantigas da altura. 

Por nabice minha, só consegui gravar na máquina fotográfica uma dessas músicas, mas a TV Klelé irá lá para gravar o reportório todo. Pessoalmente, testemunho-te uma emoção enorme que tive quando uma das lavadeiras se pôs surpreendentemente a cantar a Senhora do Almortão, uma das músicas de que mais gosto.

Gadamael Porto irá passar a ser nosso local preferencial de intervenção e desta forma iremos "atacar" o segundo G dos três G [ Guiledje, Gadamael, Guidaje].

Vou enviar várias fotos com as pessoas que fizeram questão de mandar mensagens para os seus antigos amigos e algumas imagens das infraestruturas que restaram. Nota que há muitas mais, mas que só na época seca é que as poderemos ver, quando tudo estiver limpo.

Cada foto leva consigo a legenda e vão em vários emails porque estou sem programa de redução de fotos.

abraço
pepito

PS: para informação complementar, sempre digo que começou em Guiledje a remoção dos UXO e minas (e se as há!!!!!), mas fora do quartel, como é evidente. Foram descobertos fragmentos das bombas da aviação quando bombardearam Guiledje depois da tomada do quartel pelo PAIGC. Fica para mais tarde as fotos e os testemunhos sobre esse bombardeamento. 




Guiné > Região de Tombali > Gadamel > Entre 31 de Maio e 2 de Junho de 1973 > O Fur Mil Op Esp, J. Casimiro Carvalho, da CCAV 8350 (Piratas de Guileje, 1972/74), numa das famosas valas de Gadamael... "(...) Em Gadamael não havia casamatas como em Guileje, só valas. Os bombardeamentos eram tão intensos que nem dava para acreditar, quando ouvíamos as saídas, tínhamos 22 ou 23 segundos até as granadas 120 caírem em cima de nós ou , muito raramente, caírem mais além. O pessoal começou a fugir para o rio, e as granadas caíam no rio, o pessoal corria para o parque Auto e as granadas caíam no parque Auto, o pessoal saltava para as valas e as granadas iam cair nas valas. Numa dessas quedas (voos) para a vala - e já lá ! -, senti as nádegas húmidas e, ao pôr lá a mão, esta veio encharcada em sangue... Berrei que estava ferido e fui evacuado num patrulha da Marinha para Cacine (...) (JCC).

Foto: © J. Casimiro Carvalho (2009). Direitos reservados

2. Comentário de L.G.:

Não imaginas, Pepito, o turbilhão de emoções que vão provocar a tua mensagem e as tuas fotos...Aqui, neste lugar, travou-se uma das batalhas mais encarniçadas e sangrentas da guerra da Guiné (1963/74), a seguir à retirada de Guileje (em 22 de Maio de 1973), entre 31 de Maio e as duas primeiras semanas de Junho de 1973.  Sobre Gadamael temos já 115 referências, no nosso blogue (II Série), que irão seguramente aumentar com os próximos postes...  Em contrapartida, há relativamente poucas imagens... (Sobre Guileje são mais de 300 as referências e temos muito mais imagens, graças também e sobretudo ao vosso trabalho de recolha).

Está na altura de organizarmos a lista das subunidades (companhias) que passaram por Gadamael, tal como fizemos com Guileje.  Por outro lado, sei que o Nuno Rubim está a investigar tudo o que há sobre Gadamael... Pela parte que nos toca, vamos reforçar o apelo para que apareçam mais camaradas que tenham estado em (ou passado por) Gadamael (como foi o caso, por exemplo, dos nossos camaradas pára-quedistas, do  BCP 12). (**)

Vou também divulgar as notícias que me mandaste há dias sobre Guileje e sobre o Domingos Fonseca que passará lá a viver e trabalhar. Dá-lhe um abraço fraterno da malta da Tabanca Grande (incluindo o João Graça). Para mim, vai o meu especial reconhecimento pelo trabalho, extraordinário, que tu, um paisano (que nem sequer foi à tropa!), tens feito por todos nós, ex-combatentes de um lado e do outro, bem como pelas populações, nomeadamente da Região de Tombali, que sofreram a guerra...

Que  o nosso trabalho, conjunto, de recuperação, preservação e divulgação da(s) memória(s) destes homens e mulheres, tenha como contrapartida a partilha (e a concretização)  da esperança num futuro mellhor para todos/as. Um abração do Luís.

______________

(**) De entre esses camaradas está o pessoal da CCAÇ 4743, Os Meninos de Gadamael (Gadamael, 1972/74), de que fui encontrar um vídeo, no You Tube, do José Toste, Ilha Terceira, Açores (Duração: 1' 51'').

Recorde-se a batalha de Gadamael (Maio/Junho de 1973):


Operações > Guiné Maio de 1973: O Inferno > Gadamael, o verdadeiro infernoGadamael - o verdadeiro inferno! 

Em Maio de 1973, a guarnição de Gadamael, constituída pela Companhia de Caçadores 4743, que dependia operacionalmente do COP 5, com sede em Guileje, constituía a retaguarda deste posto e era o seu único ponto de apoio para o reabastecimento depois de a acção do PAIGC ter tornado intransitáveis as ligações por terra para Bedanda e Aldeia Formosa. 

O interesse militar de Gadamael resumia-se a servir de ponto de reabastecimento a Guileje, pois situava-se no último braço de mar do rio Cacine que permitia a navegação a embarcações de transporte.
O interesse militar de Guileje tornara-se, por sua vez, muito discutível, pois a guarnição fora ali instalada ainda no tempo do dispositivo territorial montado pelo general Schulz, para anular as infiltrações de guerrilheiros vindos da grande base de Kandiafara, na Guiné-Conacri, pelo célebre «Corredor de Guileje». Mas os guerrilheiros tinham conseguido ultrapassar esse obstáculo, fixando-se em toda a zona da península do Cantanhez, o que reduziu Guileje a um ponto forte onde as forças portuguesas resistiam e marcavam presença territorial. 

Em 1973, [Guileje] não servia já como base de apoio a operações lançadas na margem sul do rio Cacine, limitando-se a assegurar a presença das tropas portuguesas entre este rio e a fronteira com a Guiné-Conacri, em conjunto com as guarnições de Cacine e Gadamael. Mantinha-se naquele local aguardando situação mais favorável que permitisse a sua transferência, sem ser como resultado directo da pressão do adversário, dispondo, como ponto forte, de instalações defensivas, que lhe permitiram resistir sem baixas significativas a fortes ataques de artilharia. 

Tinha contudo, a grave limitação do abastecimento de água, que era transportada em depósitos a partir de uma fonte situada no exterior do quartel, e este movimento diário constituía a grande vulnerabilidade das tropas ali entrincheiradas. 

Após a retirada de Guileje, a guarnição de Gadamael ficou constituída por duas companhias (a CCav 8350, vinda de Guileje, e a CCaç 4743, que ali se encontrava do antecedente), um pelotão de canhões S/R, com cinco armas, e um pelotão de artilharia de 14 cm, com três bocas de fogo. Este conjunto de forças passou a constituir o COP5, tendo sido nomeado para o seu comando o capitão Ferreira da Silva, em substituição do major Coutinho de Lima.

Ao contrário de Guileje, Gadamael dispunha de más condições de defesa, por se situar em zona pantanosa onde era difícil construir abrigos. Se as condições já eram más para os militares da guarnição, a situação piorou significativamente com a chegada da coluna vinda de Guileje, que não dispunha de abrigos, nem de condições de alojamento para ali permanecer. Pior ainda, a duplicação de efectivos aumentou a concentração de pessoal dentro do espaço exíguo do quartel e tornou-o alvo altamente remunerador para ataques de artilharia do PAIGC. 

De facto, as forças do PAIGC, moralizadas pela vitória obtida em Guileje, transferiram para Gadamael os seus esforços e entre as 14 horas, de 31 de Maio e as 18 horas, de 2 de Junho bombardearam o quartel com setecentas granadas, uma média de treze por hora, provocando cinco mortos e catorze feridos, além de avultados prejuízos materiais. 

A violência destes bombardeamentos fez com que a guarnição de Cacine, a cerca de dez quilómetros para jusante do rio, difundisse uma mensagem a comunicar que Gadamael fora destruída, no entanto, a posição manteve-se, embora com o aquartelamento parcialmente destruído e a defesa imediata com brechas. 

Em 1 de Junho foram lá colocados os capitães Monge e Caetano, para enquadrar os militares ali reunidos.
Em 2 de Junho foram recolhidos pela lancha Orion cerca de trezentos militares que se haviam refugiado nas bolanhas em redor de Gadamael, para escapar aos ataques. 

Ainda neste dia desembarcou uma companhia de pára-quedistas e um pelotão de artilharia, passando o comando do COP5 para o comandante dos pára-quedistas. 

Entre 3 e 4 de Junho caíram em Gadamael duzentas granadas, que provocaram mais dois mortos e quatro feridos. Em 4 de Junho, o PAIGC realizou uma emboscada a menos de um quilómetro do aquartelamento, causando quatro mortos e quatro feridos e capturando três espingardas G-3 e um emissor de rádio. O comandante do COP5 pediu autorização para retirar de Gadamael, o que não lhe foi concedido, recebendo ordem para defender a posição a todo o custo. 

Em 5 de Junho, uma lancha da Marinha, botes dos fuzileiros e embarcações sintex do Exército evacuaram de Gadamael os mortos e os feridos, além de militares que não se encontravam em condições de combater, passando o COP5 a ser comandado pelo tenente-coronel Araújo e Sá. No mesmo dia ocorreu novo ataque com setenta granadas, que provocaram cinco feridos graves e cinco ligeiros. 

A partir de 12 de Junho, foi colocada uma terceira companhia de pára-quedistas na região, ficando todo o Batalhão de Pára-Quedistas 12, empenhado no Sul, para «segurar» Gadamael. 

As forças portuguesas sofreram nesta acção vinte e quatro mortos e cento e quarenta e sete feridos.
O PAIGC conseguira ocupar uma posição militar portuguesa e apresentar esse feito na conferência da OUA, lograra esgotar as reservas de forças de intervenção portuguesas (o Batalhão de Comandos mantinha-se inoperacional depois das baixas sofridas no ataque a Cumbamori de 19 de Maio) e limitara seriamente a acção aérea. Estavam, pois, reunidas as condições para se realizar uma grande acção política no interior do território, o que aconteceu em Madina do Boé (***), em Setembro, com a declaração unilateral da independência, na presença de numerosos convidados estrangeiros.

Fonte: Guerra Colonial 1961-1974 (com a devida vénia...)

(***) Erro grosseiro: foi em Lugajole, na fronteira sudeste com a República da Guiné-Conacri. Vd.poste de  4 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5050: Efemérides (27): Declaração da Independência em 24 de Setembro decorreu não em Madina do Boé mas Lugajole (Patrício Ribeiro)



Guiné 63/74 - P7112: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (7): As descolonizações exemplares. Visto em 1960-1980-2010

Vaticano numa tabanca na Costa do Marfim


Caderno de notas de um Mais Velho -7

António Rosinha*

As (des)colonizações exemplares, portuguesas, belgas, francesas e inglesas. (A França tem bons arquitectos)

Visto em 1960-1980-2010

Não  ter motivo pessoal, nem nacional, nem moral, nem ideologia, nem espírito de aventura para ir para uma guerra numa terra estranha, mesmo que só por dois anos e por obrigação, é meia guerra que não se ganha.
Mas aquela guerra fez-se mesmo para ser ganha por alguém?

Tive um colega em Luanda, oriundo da região da Bairrada, que quando a rádio tocava o hino Angola é Nossa à uma da tarde, enquanto se tomava a bica da ordem da hora de almoço, invariavelmente largava esta:
- Troco a parte de Angola que me toca, por um café.

Esta frase saía-lhe instintivamente sempre que se ouvia aquele hino e entre a tertúlia desse colega, praticamente generalizou-se, e a muitos de nós já saía automaticamente igualmente essa boca.

E era chato dizer isso, porque no meio da malta havia muitos colegas que eram angolanos e outros não o sendo estavam já tão ligados a Angola, quer por laços de família, quer porque eram naturais de lá e nem tinham ligações com outra terra, ou mesmo tendo ido para lá de crianças, tinham assumido aquela terra como deles, e muitos já tinham casa própria e filhos já nascidos lá.

E muitos eram angolanos de pai e de mãe e até poderiam ter eventualmente familiares no MPLA ou outros movimentos. Mas tenho a dizer que, aquele meu colega que trocava a parte dele por um café, ele gostava mesmo muito de café! E nunca passava sem o vício do café, portanto Angola já poderia também equivaler a um vício para ele, e um vício não se larga facilmente.

Como o meu ponto de vista sobre a guerra do ultramar, é muito diferente da maioria dos elementos desta tertúlia, com raras excepções, digo que vivi os treze anos de guerra em Angola, em todas as fronteiras, desertos, planaltos, praias e cidades, excepto no enclave de Cabinda, sempre acompanhado por angolanos.

Para mim e milhões em Angola, ninguém reconheceria quem quer que fosse com idoneidade nem responsabilidade para assumir a governação daquela província, assim como das colónias em volta dela.
E seria um genocídio os franceses e belgas darem a independência às suas colónias.

E, assim aconteceu, e não falo com demagogia nem com Salazarismos, nem socialismos, nem colonialismos. Sabe-se na literatura e na história o que foi o genocídio de 4 anos da II Grande Guerra, mas ainda não está publicado em literatura o genocídio de 50 anos bem perto da fronteira de Angola, onde se fala francês e algum inglês.

Também na Guiné após a independência, ajudei a tapar buracos nas estradas em vários pontos do país, provocados por minas durante a guerra e pela chuva, senti explodir armadilhas (explodiam como uma granada de mão ofensiva) sob uma máquina própria, nas bermas da estrada Quebo-Buba durante uma reconstrução, vi esqueletos de berliets(?) no caminho para Madina do Boé, vi explodir armadilhas na cinta de segurança à volta do aeroporto de Bissau, onde até já inadvertidamente tinha andado a pé.

E ouvi imensos guineenses perguntarem-me se conhecia um soldado de Viseu, outro de Viana, outro de Moncorvo e e de outras terras, e de terras que eu nem conhecia, e se os visse um dia que lhe dissesse que o pai ou irmão ou o tio dos comandos tinha sido fuzilado.

Mas antes desta nossa guerra, vi uma outra que me marcou, que foi ao lado de Angola no ex-Congo Belga, era eu Cabo Miliciano em 1960, e que me esclareceu um pouco o que se estava a passar em África sob o ponto de vista africano e internacional, e principalmente o meu próprio ponto de vista de português.

Vi os Belgas fugirem (retornarem), e os únicos brancos que lá ficaram foram os emigrantes portugueses que lá havia, que eram muitos milhares..

Estava eu na fronteira com a cidade de Matadi, no rio Zaire em Noqui, e todos os sábados começava o tiroteio, e lá vinham os portugueses daquela cidade para o lado de Angola passar o fim de semana, porque o tiroteio só parava Domingo bem tarde.

Teimosos, segunda-feira regressavam, e alguns lá iam fazendo amizades com as facções de militares, e lá se entendiam e parece que até se governavam.

Entretanto começaram a aparecer militares da ONU, marroquinos, indianos, (para aumentar a confusão como hoje a NATO no Afeganistão) e também vinham ao nosso lado, abastecer-se pois lá estava já tudo descontrolado.e a saque.

Quem já lá estava, eram cooperantes suecos e suecas e outras nacionalidades, tal como passados 19 anos fui encontrar na Guiné. Também vinham de vez em quando a Noqui beber cerveja ou dar uns mergulhos numa piscina que existia em Noqui. Tal como na Guiné se iam abastecer de combustíveis e mantimentos a Dakar. Mas sempre olhando para nós portugueses, como seres usurpadores de uma terra que eles vinham libertar e preparar para a vida.

Na Guiné tinham também o sentimento que fomos uns nazis, e chegavam a dizê-lo na nossa cara em tertúlias de café.

Sei que na Guiné, chegaram a interromper com a cooperação, no ex-Congo Belga ainda andam por lá algumas ONG, pelo que leio em blogs.

Normalmente todos aqui ouviram falar em genocídios no Congo, mas para quem não tenha dado importância a este caso, lembro que está decorrendo uma tentativa para julgar internacionalmente os culpados, tal a quantidade de gente dizimada nas fronteiras do Congo, Ruanda e Burundi. Quem testemunhou e testemunha (como mirones) esses massacres, há 50 anos, são essas cooperações nórdicas.

E, eu vi a irresponsabilidade do início dessa desgraça congolesa que continua neste momento, e que os únicos "colonos" que durante muitos anos não abandonaram aquele território foram uns numerosos portugueses caracteristicamente teimosos tal como os comerciantes que ficaram em Bissau e que como estes, abriam religiosamente as suas lojas às oito da manhã para mostrar as prateleiras vazias.
Hoje não sei como está a presença desses comerciantes, tanto em Bissau como no ex-Congo Belga (RDC).

Recentemente, Kabila (filho),  actual presidente da RDC,  propôs-se perante o governo português indemnizar aqueles portugueses que foram espoliados de comércios ou industrias que tinham lá.

Mas também vi, alem dos cooperantes suecos, alguns mercenários de Bob Denard, na fronteira leste de Angola, por onde fugiram a uns apertos no Katanga. Com estes, desarmados, até viajei num Nord Atlas da Força Aérea para Luanda, estava eu a passar à disponibilidade em Janeiro de 1960.

Verifica-se que as ex-colónias belgas e portuguesas foram vítimas da fraqueza de Portugal e da Bélgica como potências internacionais militarmente e politicamente, para as proteger dos facínoras da guerra fria e dos venenosos ingleses e franceses, que todos chegaram a ter projectos próprios para aqueles territórios.


(Ainda hoje, os franceses estão examinando um avião derrubado há muitos anos nas matas africanas, para provar que não foram eles que o derrubaram. Vinham nesse avião o presidente do Ruanda e o presidente do Burundi, constava na altura do derrube, que eram demasiado anglófonos. Como os Belgas não actuavam...!)


Até Che Guevara tentou a sua sorte por estas bandas.


(Entre os muitos livros que a Caminho publicava e enviava para Bissau nos anos 70/80, havia uma literatura sobre a actividade soviética em África, e havia um livro chamado em português «A Varanda de África», que descrevia as tentativas de infiltramento da União Soviética na ex-colónia inglesa Quénia.


Mais tarde este livro ajudou-me a compreender o que eram os ingleses quando se responsabilizaram pela vida de Salman Rushdie, quando avançaram sobre as Malvinas, e quando avançaram ao lado dos americanos recentemente para salvar o Afeganistão e para o "petróleo" do Kuwait e Iraque.


Não quer dizer, que não houvesse Biafras, metropolitano de Londres e outros casos, mas até os eltons jones os têem no sítio, e só contam e discutem os mortos no parlamento e no fim da guerra).

Mas uma certa ingenuidade daquelas cooperações nórdicas ajudaram a provocar perspectivas tão falsas naqueles povos, que foram em certos casos tão prejudiciais como as armas dos mercenários, porque o alvoroço provocado com tanta "alvura repentina e contrastante" desestabilizava e distorcia completamente a realidade daquelas sociedades tradicionais.

Sem falar que muitas das cooperações não passavam de funcionários da ONU e das ONG, que faziam daquela actividade modo de vida, e tal como aventureiros, tanto se davam com o povo, como com os seus governantes menos honestos (para não chamar outros nomes), e provocavam e provocam uma inibição completa na actuação das chefias e hierarquias tradicionais que não se refazem mais após a saída dessa gente, ficando o vazio.

Eu vi esse retrato no Congo em 1960/63 e em Bissau em 1980 e seguintes. Também poderei ter feito esse papel de aventureiro, não sei bem, mas um dia posso explicar se não escandalizar de mais.

O primeiro militar da República do Congo que vi na minha frente em 1960, era um Sargento-Major, que foi a Noqui com as suas mulheres beber cerveja, trazendo atrás o ordenança, bem fardado e calçado, com o par de botas do sargento, penduradas ao pescoço pelos atacadores.

Um outro sargento chamado Mobuto tomou conta daquele território imenso e governou perto de 30 anos com residência habitual na Suíça.

Ver o que se passava ao lado, seria lógico transferir o mesmo para Angola?

Claro que isto foi em 1960, e o Salazar escondia-nos que o Kennedy já financiava a UPA, que em 1961 provocaria aquele massacre no Norte de Angola. Também não sabia o que se preparava em Conacri.

Há uns meses ouvi na Gulbenkian a um ex-desertor, historiador açoriano, que havia uma solução fácil para nós, que, mais ou menos (resumindo), confiar no Kennedy, que ficava o problema resolvido.

Sinceramente, sabendo hoje o que os americanos fizeram desde a Hiroxima, passando pela Coreia com o paralelo 38, com o Vietname Norte e Sul, sem falar no Afeganistão nem no Iraque, e sabendo que já estavam em Angola a criar com o apoio à UPA, um paralelo bem definido e bem tribalizado... sinceramente, Medeiros Ferreira, que conte a história, sim, mas que apresentasse os americanos como solução do problema, é uma desilusão.

Entendido que as análises que faço hoje, não as fazia da mesma maneira com 22 anos.

Mas ainda hoje, penso que os ventos da história sopraram cedo demais, e nós portugueses e guineenses sofremos com isso, e os angolanos e moçambicanos prolongaram a luta por mais umas dezenas de anos.

A paciência, a sabedoria e a prudência de um povo sofrido, deu e continua a dar uma lição a muita gente: São os cabo-verdianos. Eles sabiam que os inimigos e o perigo não era Portugal.

Mandela também sabia que os maiores inimigos não eram os Boers. Mas aí já não havia guerra fria.

Eu também gostava imenso de café

Um abraço
Antº Rosinha
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Notas de CV:

(*) António Rosinha, ex-Fur Mil em Angola, 1961; topógrafo na TECNIL, na Guiné-Bissau, entre 1979 e 1993

Vd. último poste da série de 19 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7006: Caderno de notas de um Mais Velho (Antº Rosinha) (5): Portugal nem explorava nem desenvolvia, colonizava pouco e mal

Guiné 63/74 - P7111: Memórias dos Lugares: II Parte - CART 730/BART 733. Bolama e um pouco de história. (João Parreira, 1964/66)


1. O nosso Camarada João Parreira, ex-Fur Mil Op Esp / RANGER / COMANDO da CART 730 / BART 733 e do Grupo “Fantasmas”, Bissourã e Brá, 1964/66, enviou-nos uma mensagem, solicitando-nos a divulgação da notícia da próxima festa do BART 733:
Camaradas e Amigos,

Junto envio a segunda parte da história da CArt 730, referente ao período de cerca de um mês em que a Companhia esteve aquartelada em Bolama.

Dado não ter havido muita actividade militar fora do aquartelamento intercalei alguns dados que julgo serem interessantes.
Original - II Parte - CArt 730 - BArt 733 (Bolama e um pouco de história)



O ARQUIPÉLAGO BIJAGÓS

Da minha parte pouco há a relatar sobre a actividade militar da CArt 730 na Ilha de Bolama pelo que, para complementar, envio alguns dados que julgo sejam de algum interesse para os nossos camaradas Tertulianos, e não só.
Estes dados foram recentemente compilados, sendo alguns deles extraídos de várias fontes, bem assim como algumas fotos de camaradas, aqui usadas com a devida vénia, apenas por se inserirem na descrição dos edifícios.



É constituído por um grupo de 88 pequenas ilhas e ilhéus na costa de Bissau, muitas delas desabitadas. O Rio Geba, o maior da Guiné, desagua no Oceano Atlântico por um largo estuário junto de Bissau,  tendo o Arquipélago dos Bijagós frente à sua foz.

A sudoeste da Ilha de Bolama fica situada a Ilha da Galinhas, para onde eram levados prisioneiros feitos ao do PAIGC. Bolama é a mais perto do continente, e é onde estava localizado o CIM (Centro de Instrução Militar).


Bubaque, tem imensos palmeirais e bosques e a magnífica Praia Bruce.
Outras ilhas: Caravela, Formosa, Maio, Ponta, Roxa, Orango (a mais afastada do continente) etc.

ILHA DE BOLAMA

Em 1964 tinha como Administrador Jorge de Carvalho, e Mártires Lopes era o director do Centro de Informação e Turismo (!!!) da Guiné.
Vista aérea da cidade de Bolama
Cais de Bolama

A Companhia de Artilharia 730, da qual eu fazia parte, sob o comando do Capitão de Artilharia Amaro Rodrigues Garcia,  esteve aquartelada no CIM (Centro de Intrução Militar) em Bolama, de 15 de Outubro a 11 de Novembro de 1964.
O quartel do CIM  era comandado pelo Capitão Câmara Tavares.

Vista aérea do Centro de Instrução Militar

Durante a nossa curta estadia os Oficiais do Agrupamento deram auxilio e prestaram conselhos e manifestaram a sua experiente orientação e até cederam material para a Companhia poder ter eficiente preparação.

Foi assim nesta Ilha que tivemos um terreno mais propício para nos podermos preparar para os combates que se avizinhavam. Desde os locais com alguma densidade, um pouco semelhantes à parte Continental, até ao verdadeiro tarrafo na passagem da Ilha de Bolama para a Ilha das Cobras, conhecemos e experimentámos as dificuldades na progressão e manobra, num terreno totalmente distinto do metropolitano.
Esta preparação tinha ainda a grande facilidade de poder culminar todos os exercícios com fogos reais, numa carreira de tiro improvisada e dificiente, é certo, mas que satisfazia a finalidade a atingir.


Com camaradas no campo de futebol

O campo de futebol ficava no recinto do quartel, pelo que organizávamos muitos jogos que nos mantinham ocupados e davam boa disposição.
Era intenção da Companhia proporcionar-nos restabelecimento rápido de algum cansaço que surgisse, com a visita a uma praia (Ofir) que,  segundo o Comandante,  nos auxiliava na preparação para o combate.
Na realidade apenas nos deram autorização para nos deslocarmos uma única vez a Ofir para “irmos conhecer” a praia. Dado o pouco tempo que nos foi determinado, e por ninguém estar cansado,  julgo eu, ninguém foi preparado para ir tomar banho, nem sequer deu para passear pela praia, ficando-se apenas com a vista.

Praia de Ofir


Visita praia de Ofir: Furs. Parreira; Cruz; Passos; Tavares; Vira; Almeida; Venda; uma criança local, Bragança e Alcides. Em cima: condutor, Fur. Caldas; ? ; Fur. Prates e 3 camaradas

O pouco tempo de permanência não nos permitiu que se verificassem grandes resultados na acção psicológica junto das populações, mas pode-se dizer que os naturais sentiram a saída de uma das primeiras Companhias junto deles, que os apoiou e ao mesmo tempo lhes garantia a segurança numa altura em que o IN que se encontrava tão próximo lhes podia atraiçoar as intenções de paz.

Bolama, “capital” do Arquipélago dos Bijagós,  é composta por vários edifícios de 1º andar, brancos, compridos com longos varandins, com um imenso jardim ao centro e comércio estendendo-se por toda a área.

A igreja situava-se nas traseiras do quartel , ao lado da residência do administrador. Nas proximidades da igreja ficava a escola primária. Havia ainda o liceu,  só para raparigas, onde estudavam as futuras professoras.
Os locais mais frequentados pelos militares, onde se tomava café e bebia cerveja,  ficavam junto ao cais e eram o restaurante do Zeca Azevedo e o bar do Ti Augusto, este devido às duas sobrinhas bonitas e simpáticas que com ele trabalhavam.
A ilha tem vegetação tropical, palmares, imbondeiros seculares, extensos matagais de tarrafo (arbustos duros e baixos). Existem muitos pássaros, cobras venenosas (muitas cospem o veneno para os olhos das vítimas) e um lagarto enorme com cerca de 2 metros a que dão o nome de linguana.

O Administrador de Bolama era o guineense Jorge Garcia de Carvalho que estudou no Liceu Sá de Miranda,  em Braga.

Palácio de Bolama (sede da antiga Câmara Municipal)

Tinha um Hospital, onde um dos médicos era o Dr. Apresentação Fernandes, natural de Goa. Existia também o Parque Infantil do Jardim Teixeira Pinto, o Jardim Honório Barreto, com a Piscina Municipal ao lado.



Neste dia de Outubro o periquito foi visitar uma morança, e pelo sim pelo não de arma na mão


Arredores de Bolama

Monumento a Ulisses Grant (antigo Presidente dos EUA)
(O Monumento foi erigido em 1955 no espaço fronteiro aos Paços do Concelho de Bolama, é da autoria do escultor Manuel Pereira da Silva, natural do lugar das Portelas, Vila Nova de Gaia).
Nos primeiros três séculos após o descobrimento, a ilha de Bolama não suscitou a fixação dos portugueses que se limitaram à extracção de madeiras. Só em 1753 o capitão-mor Francisco Roque Sotto Maior assentou na ilha de Bolama um padrão com as armas de Portugal.

A questão de Bolama
O capitão da marinha inglesa Philip Beaver, seduzido pela descrição de Bolama, constitui uma sociedade para estabelecer em África uma colónia de gente livre “(...) como meio de civilizar os negros (...)” (1); para atingir o seu objectivo desembarcou 275 colonos britânicos em Bolama, no ano de 1792, vindo a abandoná-la dezasseis meses mais tarde.
Posteriormente, a Inglaterra, prevendo a incapacidade de Portugal dominar o território (apesar de saber que o Régulo de Serra Leoa lha tinha dado em 1753), não hesitou em tomar posse da Ilha, tanto em 1814 como em 1827.
É neste contexto que, em 1827, Sir Neil Campbell, Governador das possessões inglesas na África Ocidental, impõe aos régulos de Bolola e Guinala dois tratados para a cedência: um de Guinala e outro da ilha de Bolama e respectivas ilhas adjacentes.
A Inglaterra surge assim com pretensões à posse de Bolama, fundamentadas em acordos e aquisições feitas por Beaver (1792).
O 1º Tenente Francisco Muacho, Governador de Bissau em 1828, conhecedor das intenções inglesas, conseguiu negociar com os reis de Canhabaque e com os Beafadas, a cessão da Ilha à Coroa de Portugal e no ano seguinte, o Coronel de milícias Joaquim de Matos obtinha, por sua vez, do régulo dos Bijagós a cedência da ilha das Galinhas.
No ano de 1835, com a criação do cargo de Governador Geral, com todos os poderes civis e militares, a Guiné passou a constituir um distrito destacado da Província de Cabo Verde.
Em 5 de Novembro de 1836, o Governador da Província, Coronel Joaquim Marinho, num relatório, referia igualmente as intenções dos países vizinhos, face ao território:
“Na Guiné nem a nossa bandeira nem as nossas fortalezas eram respeitadas pelos estrangeiros (...), a ocupação de Casamansa, de Bissau e de Bolama eram sonho dourado dos nossos ambiciosos vizinhos (...) a permanência constante de vazos de guerra ingleses (e franceses) na Guiné, espreitando o momento próprio para dar o assalto (...) onde era efectiva já a nossa ocupação, demonstra a evidência que estes dois países França e Inglaterra estavam combinados a repartirem entre si aquele rico torrão”.
Várias foram as tentativas estrangeiras, nomeadamente britânicas, de intervir a cada passo na Guiné, fazendo, entre 1838 a 1869, larga ostentação de poderio naval nas respectivas águas.
De todas essas tentativas consideramos que as mais graves ocorreram em 1859 e em 1861, quando o Governador da Serra Leoa mandou arvorar a sua bandeira em Bolama e quando os Ingleses consideraram a Ilha parte integrante da colónia de Serra Leoa, respectivamente.
Portugal reagiu, apresentando uma proposta para que a Inglaterra desistisse das suas pretensões ou, então, poder-se-ia recorrer a arbitra
gem. A Inglaterra, como já se tinha estabelecido na Ilha, não só recusou a proposta, como ainda, desencadeou violentas pressões e ataques armados à colónia do Rio Grande.
Como resposta, o Governo de Cabo Verde decidiu libertar do domínio inglês a ilha de Bolama; fê-lo pela força e sem esperar ordens do Governo Central.
Razão para a existência do monumento em Bolama:
Perante este acontecimento, a Inglaterra não protestou e resolveu aceitar a proposta anterior, tendo sido designado para árbitro o Presidente dos Estados Unidos da América, Ulisses Grant, que, no dia 21 de Abril de 1870, proferiu a Sentença, atribuindo a Portugal plena razão, tendo por fundamento a descoberta da Ilha e do “(...) território fronteiriço na terra firme (...) por um navegador português em 1446 (...)”, pela ocupação de “(...) toda a costa na terra firme defronte da Ilha (...)” (3) e pela da própria Ilha.
As intenções inglesas não se reduziam a Bolama. Sá da Bandeira, no seu livro “O tráfico da escravatura e o Bill de Palmerston”, escreve que Lord Palmerston recebera um relatório, em 1836, onde era apresentada uma proposta útil para reduzir o tráfico da escravatura e promover o comércio britânico, baseada na ocupação imediata das colónias portuguesas ao norte do Equador, entre as quais Bissau e Cacheu.
A França, por seu lado, celebrou com a Inglaterra, em 1845, uma Convenção para assegurar a completa supressão do tráfico da escravatura, na qual se previa a fiscalização das águas das costas orientais e ocidentais da África, desde Cabo Verde até 16 graus e 30 minutos de latitude meridional, tendo o Governo Português aceite a referida Convenção, a coberto da qual era inegável a ocupação pela força de toda a Guiné, sem que Portugal tivesse direito a reclamar.
Com a sentença arbitral, referente à ilha de Bolama, a “(...) fronteira sudoeste estava, pois, demarcada; as restantes acabaram por ser delimitadas com a França (...)”.
A 18 de Março de 1879, o território é proclamado “Província da Guiné”, passando a sua administração a ser independente de Cabo Verde, e sendo a capital da nova Província estabelecida em Bolama. (Fonte:. Francisco Proença de Garcia).
A povoação de Bissau foi elevada a vila em 1859 e a cidade em 1914, passando, em 9 de Dezembro de 1941, Bissau a ser a capital da Guiné Portuguesa. Esta mudança de capitais tornou-se necessária devido,  entre outras dificuldades,  à falta de água potável em Bolama.

Edifício utilizado na altura em que Bolama era a capital


Estátua Honório Pereira Barreto
(É de destacar nesta época a figura do Guineense Honório Pereira Barreto, provedor do Cacheu em 1834, o qual teve uma acção notável à frente do governo da Guiné)

Os três furriéis lisboetas da Companhia
Expressões artísticas
Os Bijagós dançam dois motivos que lhes são peculiares: A dança do “Vaca Bruto” e do “Peixe Verga” sinónimo de tubarão. As classes de idades que intervinham na dança era “cabaró” e “canhocame”.

Vaca Bruto é a Máscara mais divulgada. Muito frequente nas festividades, representa uma cabeça de boi. É talhada em madeira, com chifres autênticos, olhos de fundos de garrafa. Há máscaras que representam ainda tubarões, porcos, hipopótamos e outros animais.

Peixe Verga – A dança do tubarão-martelo
Cabaro são os jovens dos 18-27. Período de liberdade, festas, danças e conquistas amorosas. Algum trabalho regular (limpar os caminhos da aldeia e participar em todos os trabalhos que exigem boa condição física e capacidades), apoio às actividades agrícolas e à produção do óleo de palma.

Canhocám são os adolescentes dos 12-17. Participação nas actividades produtivas. Subir às palmeiras, artesanato e iniciação às regras sociais (segredos das plantas).
Guarda da aldeia.
As espécies utilizadas para alimentação e muito apreciadas são as gazelas e os gansos do mato.


Armado de máquina fotográfica numa rua de Bolama

Convívio entre homens “grandes”

Hotel


Com duas africanas seus bébés e camaradas
História da Imprensa da Guiné:

A Imprensa Nacional da Guiné,  a mais importante da Província,  tinha uma escola de artes gráficas onde trabalhava há 34 anos o linotipista Macedo.

O primeiro jornal da Província, propriedade de Francisco Veiga, que acumulava o cargo de editor e redactor principal, tinha o título Pró Guiné , orgão do partido republicano português, era impresso e composto na Imprensa Nacional de Bolama, mas com redacção e administração em Bissau. A publicação não ultrapassou a dezena de números.

No ano de 1930,  Manuel Pereira Manso montou uma tipografia em Bissau, e assim apareceu um novo jornal, Comércio da Guiné,  tendo como director, redactor e administrador, o Engº. Júlio Carlos de Faria e Lapa, Honório Sampaio e Artur Nunes Tiago, respectivamente.
O seu último número, o 20 do jornal, ocorreu em 18 de Abril de 1931, coincidindo com o movimento insurreccional, no qual o corpo director tomara parte activa.
Entretanto havia publicações efémeras, como o número único 15 de Agosto,  da Missão Católica de Bolama,  dirigido pelo Cónego Miranda de Magalhães e datado de 1932.

Nesse mesmo ano a polícia de Bolama editava o número único 5 de Outubro,  com o noticiário das cerimónias realizadas naquela data.

Em 1938 o Sport Lisboa e Bolama publicava outro número único que para lá do noticiário desportivo inseria um artigo do Padre A. J. Dias com uma resenha histórica da Ilha.

Noutro número único está Guiné Agrária,  publicado quando o Governador Viegas foi agraciado com a Legião de Honra.

Até que em 17 de Dezembro de 1947, tendo como director o Padre Afonso Simões, surgiu o Arauto,  tendo como divisa Dilatando a fé e o império.
Neste ano de 1964 a tiragem andava à volta de dois mil exemplares. Era dirigido pelo franciscano José Maria da Cruz, auxiliado por outros padres franciscanos.
Tinha um noticiário actualizado que a Onda Curta da Emissora Nacional enviava para o Ultramar

Foram extintos, o Boletim Cultural que era publicado irregularmente, bem como os Ecos da Guiné, a Voz Académica e o Bolamense.
Assim, O Arauto era o único jornal diário que então se publicava  na Guiné.

Além do O Arauto neste ano de 1964, existia o jornal dos alunos da Escola Industrial e Comercial de Bissau, Terra Ardente , o Sempre em Frente (do exército) e o Mantanhas do BCaç 507, sediado em Bula, do Ten Cor Hélio Felgas.
Em 3 de Novembro de 1964, foi executada a primeira missão na Ilha de Bolama, já que chegara ao Comando do Agrupamento 17 a notícia de que foram ouvidos tiros suspeitos no campo de aviação de Lala, situado a 6,7 kms da cidade.

Saiu de imediato o 3º. Grupo de Combate que se encontrava de piquete, e em “batida em linha” ao local não reconheceu a presença de qualquer elemento IN, mas sim de caçadores da população.

Tendo chegado a Bolama tive contacto pela primeira vez com algumas notas e moedas que circulavam na Guiné: Notas de 50$00; 100$00; 500$00 e 1.000$00; Moedas de 5, 10, 20, e 50 centavos, 1$00, 2$50, 5$00, 10$00 e 20$00.

O 1º. Sgto. Maurício Clemente pagou-me 2.490$00 (de D. Port.?) e 800$00 (Econ.?) não me tendo explicado a que se devia, penso eu, daí o motivo das minhas dúvidas...



Curiosidades postais:
1) A primeira emissão, conhecida por "Guiné Grande" designação que se deve à sobrecarga Guiné em letras grandes aplicada nos selos de Cabo Verde , foi segundo John Marsden, comerciante e filatelista britânico, que viveu na Guiné pelo menos desde 1881 até 1885,  emitida no dia 1 de Abril de 1881; nos arquivos da Casa da Moeda de Lisboa, consta que uma primeira remessa com selos de 25, 50 e 100 Réis, e já sobrecarregados, fora enviada para a Guiné em 6 de Outubro de 1879. Estes selos chegaram à Guiné em fins de Novembro desse ano 1879.
O Sr. Pedro Inácio Gouveiã declarou que fora ele quem,  por meados de 1882, tendo faltado em Bolama selos de várias taxas dos de sobrecarga GUINÉ em grandes caracteres, mandara sobrecarregar com a mesma palavra, em caracteres mais pequenos, na imprensa do Governo da Província alguns selos de Cabo Verde que existiam em cofre, ainda do tempo em que a Guiné não era província autónoma".
Estamos assim perante a 24 emissão de selos da Guiné, os chamados "Guiné Pequena".
Nesse ano e com data de 2 de Maio de 1885 publica no Boletim Oficial uma notícia de despedida, anunciando a sua partida para Lisboa. É também a partir de meados de 1885, que se conhecem as famosas cartas com os Guiné Pequenas, dirigidos a Marsden, em Lisboa.
Da terceira emissão da Guiné (com as novas cores), sabemos que os primeiros selos foram enviados para Bolama no dia 18 de Agosto de 1885, sendo a remessa constituída pelas taxas de 10, 25 e 50 réis, as restantes taxas tendo sido posteriormente remetidas.

2) Nos anos de 1908 e 1909 na Estação Postal de Bissau havia falta de inteiros postais (selo impresso sobre uma banda de papel, um sobrescrito ou bilhete postal) o que causava grande transtorno aos habitantes, pois que na falta deles e principalmente os de 10 reis destinados ao serviço interno, não lhes deixava outra alternativa senão enviar uma carta cujo porte era de 25 reis, por muito pequena que fosse a mensagem a enviar.
Tal situação era extremamente lesiva aos interesses da população, mas muito lucrativa à estação postal de Bissau que assim aumentava as suas receitas.
Os custos inerentes ao transporte e distribuição de um inteiro postal eram os mesmos que os de uma carta, porém em vez de arrecadarem como receita 10 reis dos inteiros postais acabavam por arrecadar 25 reis equivalentes ao porte da carta.
Havia portanto uma mais-valis de 15 reis, o que na época era significativo.
Cansado desta situação o cidadão António Neves de Castro Júnior, farmaceutico, resolveu criar os seus inteiros postais particulares.
Não havendo papel cartolina, recorre a papel almaço e corta uma pequena folha de 14 x 9 cms e faz desse pedaço de papel um presumível inteiro postal.
Na frente afixou um selo de 10 reis da emissão de D. Carlos I no canto superior esquerdo, ao centro a legenda manuscrita “Bilhete Postal” assim como o endereço do destinatário Carlos Costa Carvalho, farmacêutico em Bolama.

Na frente do pseudo-inteiro postal aparece uma alimária (asno) com uma insignificante e envergonhada genitália exposta, apelidada pelo funcionalismo como “Appendice Immoral”.

Texto do postal : 

"Como sabes há tempos illustrei um postal da collecção deste que vae juncto, com uma lua cheia, para o Campos e aqui não aceitaram porque podia offender alguém! O que tive que a mandar dentro da tua carta. Vae agora este (ou por outra não sei se irá porque talvez o correio o achem offensivo também) para começares a tua colecção e para os teus amigos saberem em que estado está a repartição dos correios; ora como não estou para gastar 25 rs e não quero ser explorado, pois há já 2 anos quando aqui estive, não havia postaes, eis o motivo porque me sirvo d`este bocado de papel.
"Para outro postal te explicarei as misérias que n´este correio há e que eu tenho notado.
"Peço-te que me mandes na volta da canhoeira o condensador, encomenda do enfermeiro. E do Campos o preço das ampolas".
Este inteiro foi presente ao balcão da estação postal de Bissau que a aceitou, não tendo o funcionário de serviço feito qualquer reparo, obliterando-o com a marca de dia da estação (Estação Postal/Bissau/-3SET09.
No entanto o chefe da estação postal de Bissau não se conforma e remete-o por ofício, que a seguir se transcreve, à Repartição Superior dos Correios para apreciação.
Estação Postal de Bissau – Nº. 153 – Série 1909
Urgentissimo, Bissau 3 de Setembro de 1909.
À Repartição Superior dos Correios da Guiné em Bolama.
Da estação postal de Bissau Julgando o signatário melindroso o presente bilhete-postal para os empregados do quadro a que pertence visto que os correios não têm culpa de não possuirem bilhetes, porque este serviço pertence à Repartição de Fazenda, deixa ao alto critério de S.Exa. o Director a apreciação do referido bilhete. O Chefe (ass) Alfredo Nunes de Carvalho.

Em resposta a 10Set1909, a Repartição Superior dos Correios em Bolama não se pronuncia sobre a validade ou não do bilhete-postal, mas convida a estação a requisitar os inteiros postais de que carecia, uma vez que existiam aos milhares no cofre central (aut. Elder Manuel Pinto Correia).

A história postal das nossas ex-Províncias está recheada de muitos casos semelhantes, com contornos pitorescos e hilariantes.
Documentos históricos sobre Bolama


A colecção de livros sobre Bolama dos Arquivos Históricos Nacionais da Guiné-Bissau consiste em cerca de 80 mil; estes documentos foram primeiro registados em fins de 1980.
Inicialmente foram arquivados em 279 caixas. Os documentos que se encontravam em salas abandonadas e degradadas foram transferidos da Câmara de Bolama, pelo seu Director e o respectivo pessoal, para os Arquivos de Bissau em 1988. Antes dessa data, o arquivista ou historiador Guineense provàvelmente nunca mexeu no material.
Inclui todos os documentos da administração pública que foram encontrada em Bolama em 1988. Cobre o período de Bolama, como capital (1879 a 1941), sendo alguns documentos relativos a 1870, e outras secções continuam até 1960.
Esta colecção foi duramente afectada pela guerra de 1998/99. O primeiro registo foi completado em 1990 e foi publicado como Catálogo Sumário.
Uma renovação física dos Arquivos Históricos Nacionais no INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa) teve lugar em 2007 e 2008.

Só agora, uma década depois da guerra é que foram providenciadas condições de tratamento e armanezamento dos documentos.
Das originais 279 caixas apenas foram encontradas 85 intactas depois do conflito militar,que podiam ser reconstituídas. As restantes encontram-se misturadas, particularmente os documentos não tratados referentes às autoridades alfandegárias de Bolama.
Cerca de 10% podem-se perder. Aproximadamente 50% da colecção está em condições aceitáveis. Estes documentos estão legíveis e depois de algumas medidas de preparação,podem ser digitalizados sem problemas. Outros 25% da colecção podem ser abertos mas têm bolor.
A salvação desta parte só será possível com um intervenção rápida e subsequente digitalização. Cerca de 15% está em muito más condições.
Só depois de mais análises sobre este projecto e depois de um relatório detalhado se poderá concluir do estado de conservação e valor histórico. Não se pode tocar noutros 10% da colecção pois o papel está a desfazer-se.
Em Janeiro de 2009 foram feitas mais pesquisas em Bolama e foram encontrados mais documentos do período colonial da Ilha, mas encontram-se seriamente vulneráveis à deterioração.
Outros documentos relevantes do Tribunal de Bolama estão arquivados nos imensos e desorganizados arquivos do Ministério da Justiça em Bissau, também em condições alarmantes, devido aos arquivos estarem no sotão do velho Palácio da Justiça com o telhado em péssimas condições.
A colecção de Bolama é de alto valor histórico. Reflete a troca fundamental do regime colonial português da administração “externa” (dirigida das Ilhas de Cabo Verde) a presença política e significativa de Portugal e a penetração económica da Guiné continental.
Nesta fase prometedora da investigação histórica podem ser identificados cinco fases:
1) Laços de comércio externo e relações económicas, vinculados a Portugal; documentos do porto de Bolama, um dos dois mais importantes portos antes de 1941; e autoridades alfandegárias;
2) Documentos relacionados com a campanha de pacificação; os Guineenses continentais foram conquistados em 1915; enquanto os da Ilha dos Bijagós continuaram a resistir até 1936;
3) Estatuto dos “indígenas” e o desenvolvimento das leis racistas, documentos da Administração Pública de Bolama;
4) Organização da administração Portuguesa; funções internas e relações entre o centro de Bolama e os postos da Guiné continental;
5) Personalidades dominantes Luso-Africanas no cruzamento da história pessoal e nacional.
Para tratamento e armazenamento seguro, os documentos da Ilha de Bolama e do Ministério da Justiça serão transportados para os Arquivos Históricos Nacionais do INEP.
O edifício dos Arquivos foram renovados em 2007-2008 e oferecem agora um melhoramento notável com facilidades de armazenamento, bem como com funcionários treinados em examinar cuidadosamente os materiais arquivados.
O Arquivo e o pessoal suplementar serão treinados ainda mais nas técnicas de digitilização e nos aspectos básicos das análises históricas necessário para melhor compreensão dos documentos da colecção de Bolama.
Depois da reorganização e análises preliminares da colecção completa de Bolama no que respeita ao estado de conservação e ao valor histórico será desenvolvido no futuro um maior projecto de investigação.

(continua)

Um abraço de amizade para todos,
João Parreira
Fur Mil Op Esp / RANGER / COMANDO da CART 730 / BART 733



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Notas de JP:
History of Bolama, the first capital of Portuguese Guinea (1879-1941), as reflected in the Guinean National Historical Archives.  Dra. Birgit Embaló, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa 2009 award – pilot project - £9,900 for 6 months 

Período de 11 a 23 Nov64 – A CArt 730 ocupou o “Bivaque” de BIRONQUE

 
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Nota de MR: