quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7645: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (15): Uma ida aos Nhabijões, com o coração cheio de lembranças da CCaç 12

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Janeiro de 2011:

Queridos amigos,


Prestes a findar a Operação Tangomau, abraço os camaradas da CCaç 12 com quem tive o privilégio de conviver.


Fui aos Nhabijões, informo quem lá habitou ou calcorreou aqueles lugares e viu nascer o reordenamento que há grandes mudanças, felizmente sente-se ali um viver com mais qualidade que no Bambadincazinho, por exemplo.


Peço desculpa pelo material dos Nhabijões não ser o mais elucidativo, já eram 5 horas, lutava contra o tempo e queria assistir ao pôr-do-sol no Bairro Joli. Mas às vezes a intenção é tudo.


Um abraço do
Mário


Operação Tangomau (15)

Beja Santos

Destes Nhabijões de sangue, suor e lágrimas

1. As instruções que o Tangomau dá a Lânsana Sori são muito simples: lá em baixo no Bambadincazinho viramos à esquerda como se fôssemos para Amedalai, muito antes inflectimos para os Nhabijões, vamos só visitar o Nhabijão Mandinga. Irei recordar gente que sofreu, inopinadamente. A motocicleta lança-se no chão alcatroado, alguns quilómetros à frente avistam-se os ciclistas da região com quem se esteve a confraternizar, concretamente Sadjo Seidi, Califo Djau e Zé Finete. Novos abraços, responde-se às perguntas sobre esta presença inusitada, para eles é insólito que o Tangomau visite os Nhabijões, mesmo sendo certo e sabido que toda este território foi calcorreado até às bolanhas de Samba Silate. Como abreviadamente se conta.

Desde Missirá que se sabia que os guerrilheiros de Madina e Belel também utilizavam a cambança do Geba nestes pontos, não era só a região de Mero, em frente a Finete. Por duas vezes se tinham destruído canoas na orla do Cuor, uma vez na orla dos Nhabijões. Aqui também chegavam civis e militares afectos ao PAIGC, vindos do Buruntoni e locais afins. Os povos guineenses estavam divididos mas não se denunciavam, sobretudo quando vinham desarmados e disfarçados percorriam o quartel de Bambadinca, iam às compras e obtinham informações.

Depois veio o reordenamento dos Nhabijões, por ali o Tangomau andou com o pelotão ou deixava secções para a chamada protecção das populações, a partir de Novembro de 1969. Foi um reordenamento de vulto, dos maiores que se fizeram na Guiné: seis grandes tabancas foram construídas de raiz, com saneamento básico, escola, mesquita. À margem desse reordenamento, impunha-se policiar Samba Silate, era provavelmente a grande tabanca antes da guerra, depois deu-se a diáspora, uma parte importante foi para a guerrilha, outra derramou-se por territórios beafadas, Bambadinca e Bambadincazinho, Badora e Cossé.

Policiava-se a partir dos Nhabijões à procura de canoas e subia-se até a Amedalai. Esta era a lembrança que o Tangomau retivera, depois de regressado, em 1970. Refizera a vida e adestrara as emoções para ficar longe desse passado recente. Mas em [13 de Janeiro de] 1971 alguém lhe trouxe uma notícia infausta: houve uma mina nos Nhabijões, matou o soldado condutor Soares e feriu alguns mais, até com gravidade. Ora o soldado Soares, por força das actividades de recoveiro exercidas pelo Tangomau e sua tropa, levava-o e trazia-o por itinerários como Madina Bonco, Galomaro, Bafatá, Ponte de Udunduma, Madina Xaquili, coisas assim. Dava para conversar, cedo se apurou que o Soares era temperado, curioso e de trato irrepreensível.

Quando foi derrubado pela notícia da sua morte, o Tangomau fixou-se para todo o sempre nas leituras do condutor Soares, eram obras simples como A Peregrinação contada às crianças, romances de Júlio Dinis, sínteses da Eneida e da Odisseia. Sobre este formidável sinistro está tudo dito e redito no blogue, não se levam flores, leva-se a memória até esse caminho que mudou a vida de pessoas.



2. No passado, saia-se de Bambadinca e por caminhos sinuosos, qualquer coisa como 3 quilómetros entrava no Nhabijão Mandinga, daí passava-se para o Nhabijão Mancanha, inflectia-se à esquerda para Nhibajão Bulobate, daqui para o Imbume, depois o Bedinca e finalmente o Cau, curiosamente quem olha para o mapa, serpenteiam a rica bolanha de Samba Silate até à orla do Geba estreito.

Agora a viagem é diferente, ampliou-se o velho trilho antes de Amedalai, perto do rio Udunduma, é uma linha recta flanqueada por cajus e cabaceiras. Não é bonito nem feio, o que importa é a hora do dia, o sombreado cor de ouro, as pessoas que vão e vêm, sempre a acenar e sorridentes. E súbito, o Tangomau volta 40 anos atrás, ali está uma casa do seu tempo, muito provavelmente são as chapas ali colocadas no tempo em que o governador assistiu à inauguração. Percorrem-se vielas e travessas, sim, confirma-se que há metamorfoses mas há muitos sinais do passado. É nisto que se juntam populares, o Tangomau dá explicações, um ajuntamento ruidoso persegue-o entre o mundo de ontem e o que se construiu depois.



3. Em 1969, vimos plantar este arvoredo, estas são as casas desse tempo e quando não são guardam a lógica do reordenamento. O fundamental é que os guias perceberam que a visita incide sobre a memória do lugar, primeiro, e já se questionou onde fica a velha estrada, é importante ir ao local exacto onde se deu a deflagração e onde gente companheira experimentou um grande sofrimento.

Vão-se fazendo perguntas, há ali construções novas, cooperativas, unidades de saúde, infra-estruturas suportadas por ONG e até por missões. É o caso desta imagem, ali há muita actividade, ensina-se empreendedorismo, desenvolvimento rural,  ensina-se artesanato e algo mais. Que bom apontar-se para o futuro, para o trabalho e para o desenvolvimento humano. Tira fotografia!



4. Deste local, junto à estrada, vamos a pé, em comitiva, vamos mudar de rumo, à procura da velha estrada, onde tudo aconteceu. Sim, há boas diferenças, Lânsana Sori no regresso percorrerá esta estrada até chegarmos, por portas e travessas, ao antigo quartel.

Os Nhabijões cresceram, são o subúrbio do Bambadincazinho, mas aqui há agricultura florescente e já foi dito que a pesca traz bons alimentos. E dois quilómetros à frente, alguém exclama em voz alta: “Aqui foi mina, rebentou aqui e rebentou quando veio atrás!”. Alguém se acocora e aponta, o Tangomau, como é uso e costume, brada: “Não te mexas, o pessoal da CCaç 12 vai recordar esses momentos de aflição”. Terá sido este o local onde deixou de viver um jovem que sonhava com a família e que lia adaptações de João de Barros e António Sérgio. E o Tangomau curvou-se respeitosamente perante essa memória.




5. Aqui, segundo a descrição de quem guia o Tangomau, o Unimog terá recuado, alguém mostra a pedra chamuscada, fez-se clareira com a nova explosão, não interessa exactamente o que aconteceu, está tudo registado e é até muito provável que não tenha sido exactamente assim. O que comove o Tangomau é o afã dos seus acompanhantes, a sua expressão, imitam sons das explosões, é genuína aquela procura de reproduzir os pontos exactos onde o drama aconteceu. Alguém aponta para esse local onde a viatura voltou a explodir.

Nova imagem, se não foi exactamente assim o Luís Graça que reponha a verdade, pode ser que se esteja a descrever tudo ao contrário, não sei veio aqui com intuitos de cronista, é tudo lembrança, o Tangomau até ultimamente se tem encontrado com o Marques, que tanto penou com este acidente. Coisa estranha, o Tangomau lembra os camaradas de quarto, um tal Francisco Magalhães Moreira, que vive em Santo Tirso, um tal Abel Rodrigues, que vive em Miranda do Douro, lembra operações, colunas, fainas um pouco mais banais, perigos em comum. E capta imagem, lembrando todos, como se dessa explosão tivesse resultado mais estima.




6. Olha, diz um dos guias, aqui ficou tudo chamuscado, um meu pai contou-me que havia uma grande cratera, tapou-se, agora o mato esconde tudo. Alguém mais repara que aqui já o Unimog era um destroço, corpos à deriva, gritos de espanto e de pavor.

É nisto que o Tangomau se lembrou de um poema de Sebastião da Gama intitulado Cristo, e de forma avulsa, ajuntou alguns versos para recordar o soldado condutor Soares: “Ó meu Jesus heróico, / meu Capitão, afasta / com Tua mão direita, / afasta a Morte, afasta-a, / que ainda não a mereço (…) Era de tarde. O Vento / dava nas ervas, punha-as / de rastros, humilhadas. / Jesus passou. / -: Ergui-me.”.

Desculpa lá, ó Soares, desculpe lá ó Marques, foi o que me veio à cabeça, talvez não tenha jeito nenhum, mas é o que eu queria dar em preito à malta da CCaç 12. [Sobre uma segunda mina, duas horas depois da que matou o Soares, leia-se o poema de L.G. > Blogpoesia > À uma e meia da tarde, na estrada de Nhabijões-Bambadinca]



7.  A visita está concluída, depois desta homenagem singela. Caminha-se para o lusco-fusco, Lânsana promete um passeio de regresso com algumas surpresas. Tira-se a última fotografia dentro do Nhabijão Mandinga, pena foi não ter havido oportunidade para andar dentro da bolanha e fazer de Samba Silate o árduo caminho até Amedalai.

Felizmente que as viagens se recomeçam, para tanto basta que a curiosidade coexista com a vontade de regressar a esta terra bem-amada. Aí o José Saramago tem toda a razão: o que se vê de dia, com chuva, não é o que se vê noutro dia, ensolarado; e o que se vê em Março não é o que se vê em Setembro, e por aí adiante. Acresce que o Tangomau teve o privilégio de conhecer esta natureza em todos os segundos do dia, com chuva torrencial, com o pó a esquentar os pulmões, com o céu de chumbo dos tornados, as noites esbraseadas no auge da época seca. E à saída do Nhabijão, ele diz para si, sem que ninguém oiça: até breve, prometo voltar.



8. Sabe-se lá quando voltará o Tangomau ao Bairro Joli. A motocicleta vai à desfilada e é nisto que se apanha a última luz do dia. É que grande dia este 28 de Novembro de 2010! Primeiro a confraternização, aquela beleza, aquela ternura do Tangomau poder abraçar os seus bravos. E depois os Nhabijões.

Durante décadas, ninguém quis, nas artes plásticas, registar as nossas condições de guerra. Foi nesse contexto de indiferença que um dia um grande pintor, Manuel Botelho, se atirou à captação das guerras. Recorreu e recorre frequentemente às coisas do blogue. Hoje é o último dia em Bambadinca. Saudemos em primeiro lugar o pôr-do-sol, aquele momento derradeiro que o Tangomau nunca esqueceu. E depois mostre-se a imagem que o Manuel Botelho gravou da grande tragédia dos Nhabijões.

Entretanto, hoje é jantar de despedida, a visita bem importunou esta família do Bairro Joli, amanhã, está prometido, Fodé e Calilo Dahaba aparecerão pelas 8 da manhã. Iremos no carro de combate para a última jornada do Tangomau, em Bissau.



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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 19 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7640: Notas de leitura (191): Intervenção Rural Integrada, a experiência do norte da Guiné-Bissau, de Mamadu Jao (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 15 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7618: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (14): Aquele domingo de festa no Bambadincazinho

Guiné 63/74 - P7644: Agenda Cultural (101): A Associação de Estudantes da Guiné-Bissau em Lisboa e o Núcleo de Estudantes Africanos da Faculdade de Direito: Homenagem a Amílcar Cabral, hoje, dia 20, das 16h30 às 19h30, na FD/UL, em Lisboa

1. Mensagem da Associação de Estudantes da Guiné-Bissau em Lisboa, com pedido de divulgação:

 A  Associação de Estudantes da Guiné-Bissau em Lisboavem por este  meio apresentar o seu programa para dia 20 de Janeiro na Faculdade de  Direito de Lisboa pelas às 16:30 na Sala de Audiências da Faculdade de Direito de Lisboa.

Cumprimentos Cordiais Ednilson dos Santos


Programa
A Associação de Estudantes da Guiné-Bissau em Lisboa (AEGBL) e o Núcleo de Estudantes Africanos da Faculdade de Direito (NEA-FDL),  com apoio da Embaixada da Guiné-Bissau em Portugal, vêm por este meio informar que no dia 20 de Janeiro de 2011 se  realizar uma Cerimónia em Homenagem a Amílcar Lopes Cabral e Heróis da luta pela libertação da Guiné-Bissau e Cabo-Verde.

Programa do Evento


Local de Evento: Faculdade de Direito de Lisboa [, Cidade Universitária,  Campo Grande], Sala de Audiências,

Hora: das 16:30h às 19:30

Tema: “Homenagem dos Heróis Nacionais da Guiné-Bissau e Cabo-Verde e a Influência do Pensamento de Amílcar Lopes Cabral nos dois Países ”

16:30 Abertura solene da Conferência

Conferencistas >

Eng. Domingos Simões Pereira, Secretário Executivo da CPLP [ , Comunidade dos Países de Língua Portuguesa];
Dr. José Luís Hopffer de Almada, Jurista e Analista político;
Prof. Doutor Julião Sousa, Professor de História e investigador na Universidade de Coimbra;
Dr. Rony Moreira, Sociólogo;
Prof. Doutor António Duarte da Silva, Professor Universitário e autor dos livros: Independência da RGB, Invenção e Construção da RGB;
Prof. Dr. Bernardo Pacheco de Carvalho, Coordenador do CIAT-CD Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa, PAIAT - ISA/UTL

Moderador: Jornalista António Lopes Soares, Tony Tcheka, Consultor Internacional em Comunicação e Jornalismo

18:00h Espaço de Debate

18:30 Encerramento: Excelentíssimo Senhor Embaixador da Guiné-Bissau em Portugal, Dr. Fali Embaló

Organização: AEGBL e NEA-FDL Com Apoio da Embaixada da Guiné-Bissau em Portugal

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Nota do editor:

Último poste da série > 7 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7569: Agenda Cultural (100): Fim do Império: Olhares Jornalísticos - 4.º Encontro: 18 de Janeiro de 2011, na Livraria Verney, Oeiras. Oradores: Cor Carlos Matos Gomes e o fotógrafo Fernando Farinha  

Guiné 63/74 - P7643: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (45): Na Kontra Ka Kontra: 9.º episódio





1. Nono episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 19 de Janeiro de 2011:



NA KONTRA
KA KONTRA


9º EPISÓDIO

Sentados no “bentem”, por momentos, estiveram os dois em silêncio. A essa hora nunca era demais contemplar as trovoadas ao longe, sem a preocupação das que se desencadeavam perto e que provocavam autênticos dilúvios. Por mais que lhe custasse o nosso Alferes expôs o mal estar da Kadidja e alertou para as consequências de ser a mulher do Chefe da Milícia a debandar. Por arrastamento podiam acontecer mais “deserções”.

O João ouve, nada diz, e o Alferes Magalhães espera que a conversa venha a surtir algum efeito.

O milícia Braima ainda toca o seu kora e o nosso Alferes começa a fazer planos para o dia seguinte. Ainda antes de ter a tal conversa com o João, pelo desejo incontido, iria procurar a Asmau à morança do pai, chefe de tabanca. Não sabia muito bem como abordaria o assunto nem tão pouco quem lhe iria aparecer, se a bajuda se os pais. O desejo de a rever estava a tornar-se incontrolável.

Depois de tomar o café, o Alferes Magalhães anda por ali dum lado para o outro a ganhar coragem e a pensar o que dizer, conforme quem lhe aparecesse à porta da morança do Chefe de Tabanca. Custou a decidir-se mas por fim, num repelão, arranca direito à morança da Asmau que fica no outro extremo da tabanca. Não vai pelo carreiro que serpenteia por entre as outras moranças. Vai a direito, como autómato programado para fazer um percurso entre dois pontos.

Como o calor já apertava e devido ao seu estado de alma chega ofegante. Tem que limpar o suor que lhe escorre da testa e lhe inunda as faces. Fora da morança não vê ninguém. Não tem coragem de chamar directamente pela Asmau e chama:

- Adramane, Adramane.

O Chefe de Tabanca aparece, baixando-se ao passar a porta da morança e logo pergunta:

- O senhor “Alfero precisar” alguma coisa?

O nosso Alferes sabia muito bem do que precisava, mas apesar da sua coragem como militar, neste caso vai-se totalmente “abaixo das pernas”. Para isso contribuiu também o aparecimento da bajuda Asmau, à porta. Não querendo estragar tudo logo ali no início, e porque lhe tremiam as pernas, o que lhe pôde sair da boca foi:

- “Kuma ku bu s’esta? kurpo di bo”?... Sabe, Chefe, nós andamos a comer sempre a mesma “bianda”, e para ver se variamos, queria saber se alguém da tabanca nos pode vender duas galinhas.

Tão depressa o Chefe de Tabanca mandou entrar o Alferes, como depressa a Asmau saiu. Em conversa de homens as mulheres não participam. A bajuda fugia-lhe por entre os dedos como “bentana” escorregadia.

Lá dentro o Chefe Adramane apressou-se a dizer:

- Ainda bem que me vem falar das galinhas, pois eu já estava em falta com o senhor “Alfero”, desde que aqui chegou. Tinha precisamente duas galinhas para lhe oferecer.

Depois dos respectivos agradecimentos e de conversarem de vários assuntos relacionados com a tabanca o nosso Alferes despede-se e vai reunir-se ao pessoal que iria começar os trabalhos dessa manhã. Pelo caminho congeminou que, para agradar ao Chefe de Tabanca, lhe irá oferecer uma lata de atum, das grandes, de três quilos. Aos seus homens dirá uma pequena “mentirinha”, que tinha trocado uma lata de atum por duas galinhas, para todos tirarem a barriga de misérias.

Ao regressar da morança do Chefe de Tabanca ouviu um gargalhar à porta de uma morança. Dirigindo-se para lá depara com o Dionildo mostrando a dois milícias, um baralho de cartas de jogar, daqueles com cenas pornográficas, o que provocava nos africanos daquela tabanca remota, um misto de gozo e de admiração pela depravação patente. Tinha que ser o Dionildo… O Alferes explica-lhe a “poluição” do seu acto, face à ingenuidade e pureza daquela gente, ao mesmo tempo que constata que realmente tinham vindo prevenidos. A criatividade não tem limites, pensa.

O nosso Alferes mandou o “Legionário” buscar as galinhas em troca da lata de atum, dando a explicação que tinha congeminado.

Nessa manhã adiantam-se os trabalhos. Chegada a hora do almoço, o nosso Alferes está de “água na boca”, não pela galinha preparada pelo “legionário”, mas por que não dizê-lo, pela sua amada.

Será que à noite, desta vez, irá ter com o João a conversa que tanto deseja?

Fim deste episódio

Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7637: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (44): Na Kontra Ka Kontra: 8.º episódio

Guiné 63/74 - P7642: Memória dos lugares (122): Ponta do Inglês e Gã Garneis, dois destacamentos, com tristes recordações, no subsector do Xime (Beja Santos / Manuel Bastos Soares / Manuel Moreira / José Nunes)



Guiné > Zona Leste > Subsector de Bambadinca > Xime > CART 1746 (1967/69) > 1968 > Destacamento da Ponta do Inglês >  Em primeiro plano, do lado direito, o ex-1º Cabo Mec Auto Manuel Vieira Moreira...  Foi aqui, neste destacamento, de má memória para muitos de nós, que o Manuel Moreira escreveu a sua Canção da Fome (*)...

Por detrás dos militares da CART 1746 (unidade de quadrícula do Xime), à mesa, partilhando uma refeição, vê-se uma parede revestída a chapas de bidão... que lá ficaram, quando as NT retiraram do destacamento, por ordens superiores, em finais de 1968... (LG) 



Guiné > Zona Leste > Subsector de Bambadinca > Xime > CART 1746 (1967/69) > 1968 > O Manuel Moreira Vieiria junto ao obus 10.5... A CART 1746: teve como unidade mobilizadora o GCA 2, seguiu para a Guiné em 20/7/1967, regressou em 7/6/1969; esteve em Bissorã e no Xime; comandante: Cap Mil António Gabriel Rodrigues Vaz.



Antes desta unidade de quadrícula, passou pelo Xime a CCAÇ 1550 (1966/68) (estivera antes em Farim; era comandada pelo Cap Mil Inf Agostinho Duarte Belo). À CART 1746, seguiu-se a CART 2520 (1969/70), CART 2715 (1970/71), CART 3494 (1972/73) e a CCAÇ 12 (1973/74)...


Não tenho a  certeza se a CCAÇ 21 chegou a estar no Xime.  No final da guerra estava em Bambadinca, como unidade de intervenção. Recorde-se que à CCAÇ 21 pertenceram o Tenente Graduado Comando Abdulai Queta Jamanca, o Alf Comando Graduado Amadu  Dajaló e o meu camarada, da CCAÇ 12, 1969/71, o gigante Abibo Jau, na altura soldado arvorado (ele e o Jamanca foram fuzilados em Madina Colhido, a seguir à independência, ainda em 1974, possivelmente em Setembro, ainda com tropas portuguesas em Bissau)... (LG)


Fotos: © Manuel Moreira / Sousa de Castro (2009). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do Beja Santos:

 Data: 18 de Janeiro de 2011 16:47

 Assunto: Alguns esclarecimentos sobre a Ponta do Inglês (**)

 Queridos amigos: O Manuel Bastos Soares ajudou a perceber o que eu vi na Ponta do Inglês [, na margem direita do Rio Corubal, vd. mapa de Fulacunda], mas ainda há muitas dúvidas a esclarecer. Aguardam-se outros depoimentos de quem por lá andou. É muito provável que o destacamento tenha sido extinto no tempo da CART 1746 [, a que pertenceu o ex-1º Cabo Merc Auto Manuel Vieira Moreira, membro da nossa Tabanca Grande).


Praticamente desapareceram vestígios, o de maior dimensão é a casa de Lopes da Costa, que era conhecido como o inglês, certamente pai de Constantino Lopes da Costa, penúltimo embaixador da República da Guiné-Bissau em Portugal [, e um dos actuais proprietários da "ponta", terá lá 50 hectares de terreno, segundo confidência pessoal que fez em tempos ao nosso editor L.G.]. 

Um abraço do Mário

2. Alguns esclarecimentos do Beja Santos sobre a Ponta do Inglês:



Quando descrevi a minha viagem à Ponta do Inglês, em Novembro passado (**), solicitei aos camaradas do blogue que elucidassem algumas questões sobre a criação e a vida deste destacamento sobre o qual não disponho de informações seguras: tanto o Fodé Dahaba como o Mamadu Djau, que aqui foram milícias, não chegaram a acordo sobre o aparecimento do aquartelamento e muito menos sabiam quando foi extinto. 

O que encontrei e registei da presença durante a guerra era muito pouco e as populações da Ponta do Inglês e de Gã Garneis também não ajudaram. Disseram-me existir um professor que tinha a história da região, não o consegui encontrar. 

Correspondendo ao apelo que fiz sobre datas e posicionamento do quartel, respondeu-me o nosso camarada Manuel Bastos Soares que fez a sua comissão na Guiné entre 1964 e 1966. O Manuel Bastos pertenceu à CCav 678, adstrita ao BCaç 697, como companhia de intervenção. Andou por várias localidades, entre Fá, Xime, Ponta do Inglês e Bambadinca. 

Até finais de 1964, os únicos quartéis no regulado do Xime eram o Xime propriamente dito e Amedalai, Taibatá, Dembataco e Moricanhe. Em 1963, Domingos Ramos comandava vários grupos armados a partir da mata do Fiofioli. [Imagem à esquerda, Guiné-Bissau > 1975 > Efígie de Domingos Ramos, em nota de banco de 100 pesos, moeda que já não circula hoje, como se sabe... Herói nacional, morreu em ataque a Madina do Boé, em 1966].

A ocupação da Ponta do Inglês foi tida como indispensável não só para garantir a navegabilidade do Geba (a navegabilidade do Corubal cedo ficou interdita) como importante para dissuadir a presença das forças do PAIGC num amplo território detentor de bolanhas muito ricas como o Poindom e Ponta Luís Dias.

A ocupação da Ponta do Inglês teve lugar em Janeiro de 1965, partiu uma coluna do Xime com militares da CCS do BCaç 697, a CCav 678 e forças de milícia. Inicialmente, o quartel foi feito na zona de Gã Garneis, dispunha dentro do arame farpado de abrigos escavados e cobertos com palmeiras e chapas de bidão de 200 litros.

A ocupação deste território foi inicialmente atribulada. Depois, chegaram ordens para fazer um quartel complementar junto da orla do Corubal. Daí a confusão de, durante a visita, os guias (**) me falarem da ocupação junto ao rio e de um quartel em Gã Garneis. O Manuel Bastos viveu ali entre Fevereiro e Março de 1965 e lá voltou de Outubro a Dezembro do mesmo ano. Houve portanto dois quartéis, com contingentes distintos.

É bem provável que os quartéis tenham sido desactivados no início de 1968. Facto é que quando cheguei à região, em Agosto de 1968, os destacamentos tinham sido abandonados (***).

A vida das tropas foi bem difícil, como se compreenderá. O abastecimento por estrada era uma verdadeira operação militar. Segundo o Manuel Bastos Soares, houve também baixas na região de Ponta Varela, o PAIGC esteve sempre aí muito activo. Foi nessa região que morreu o capitão Pinheiro Torres de Meireles (****), nesse sinistro morreu também um milícia e terá ficado ferido um major. 

A Ponta do Inglês era abastecida por lanchas, as tropas faziam patrulhamentos mas o PAIGC actuava prontamente, a partir da Ponta João da Silva. O Manuel Bastos Soares promete pôr mais uma fotografia no blogue. O que encontrei no Google [, fotos do Manuel Moreira Vieira] é o que se junta e creio que se justifica lançar novo apelo a todos aqueles que estiveram na Ponta do Inglês para falarem com mas rigor desse tempo. Se houver histórias de companhias que relatem a vida da Ponta do Inglês, tanto melhor.

3. Informação do José Nunes [ ou José Silvério Correia Nunes, ex-1º Cabo, BENG 447, Brá, 15Jan68 / 15Jan70, foto à direita], em comentário ao Poste P7590 (**):

Camarigo Mário,o aquartelamento da Ponta do Inglês estava operacional em Abril de 1968, quando aí nos deslocámos pra montar o grupo gerador, ficava junto ao rio e não havia cais, o Unimogue avançou rio dentro até da LDP [Lancha de Desembarque Pequena] de onde se descarregou o gerados a pulso.

A iluminação era feita [, até então,] com garrafas de cerveja com uma mecha, cheias de combustível, e as havia a servir de alarme, havia muitos macacos na zona que causavam problemas, ao agarrar o arame farpado da zona de protecção.

Foi uma permanência de horas por causa das marés.
José Nunes
BENG 447
Brá 68/70

_________________
Notas de L.G.:


(*) CANÇÃO DA FOME


Estamos num destacamento,
A favor de sol e vento,
Na Ponta do Inglês.
Não julguem que é enorme
Mas passamos muita fome,
Aos poucos de cada vez.

A melhor refeição
Que nos aquece o coração,
É de manhã o café;
Pão nunca comi pior
Nem café com mau sabor
Na Província da GUINÉ.

Ao almoço atum a rir
E um pouco de piri-piri,
Misturado com bianda,
E sardinha p´ró jantar
E uma pinga acompanhar
Sempre com a velha manga.

Falando agora na luz
Que de noite nos conduz
As vistas par' ó capim:
Se o gasóleo não vem depressa,
Temos turras à cabeça,
Não sei que será de mim.

Quando o nosso coração bole,
Passamos tardes ao Sol
Junto ao rio, a esperar
De cerveja p'ra beber
E batatas p'ra comer
Que na lancha hão-de chegar.

A fome que aqui se passa
Não é bem p'ra nossa raça,
Isto não é brincadeira
E com isto eu termino
E desde já me assino

...MANUEL VIEIRA MOREIRA.

 (**) Vd. poste de 11 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7590: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (13): Os mistérios da estrada da Ponta do Inglês


(***) Segundo os dados que apurei, para a elaboração da História da CCAÇ 12, ainda em Bambadinca, no no final da comissão, o destacamento da Ponta do Inglês foi abandonado pelas NT em Novembro de 1968:


Vd. História da CCAÇ. 12: Guiné 1969/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores 12. 1971. Capítulo II. 24-26. 

(...) (7.3) Op Safira Única: recuperados 15 elementos da população sob controlo IN e capturado um guerrilheiro armado na Ponta do Inglês



(...) Em 21 [de Janeiro de 1970], ao amanhecer, saem os 2 Destacamentos do Xime [ Dest A: CCAÇ 12, a 3 Gr Comb;  Dest B: forças da CART 2520]  , apoiando-se mutuamente e progredindo com o auxílio de bússola através dum itinerário previamente estudado, de maneira a evitar os trilhos que o IN utiliza.

Por volta das 15. 30h, já nas proximidades do objectivo, foram notados indícios de presença humana: trilhos batidos, moringas nas palmeiras para recolha de vinho e um cesto de arroz.

Seguindo um dos trilhos, avistou-se um homem desarmado que seguia em direcção contrárias às NT. Capturado, informou que ia recolher vinho de palma, que a tabanca ficava próxima, que não havia elementos armados e que a maior parte da população estava àquela hora a trabalhar na bolanha.

Feita a aproximação com envolvimento, capturaram-se mais 2 homens, 5 mulheres e 6 crianças. Um dos homens capturados disse chamar-se Festa Na Lona, de etnia Balanta, estar alí a passar férias e pertencer a uma unidade combatente do Gabu. Foi-lhe apreendido uma pistola Tokarev (7,62, m/ 1933) e vários documentos. (...) 


Havia 2 tabancas, cada uma com 4-5 casas, afastadas umas das outras cerca de 200 metros. Cada casa era revestida de chapa de bidon e coberta de capim. Para o efeito foram aproveitados os bidons existentes no antigo aquartelamento da Ponta do Inglês que as NT retiraram em Novembro de 1968.

Foram destruídos todos os meios de vida encontrados e incendiadas casas, a excepção das que ficaram armadilhadas.

Os 2 Dest executaram toda a acção sem disparar um único tiro. (...)

(****) O Cap Inf 247/59 - EP Francisco Xavier Pinheiro Torres de Meireles nasceu em 21 de Fevereiro de 1938 na Freguesia de Castelões de Cepeda, concelho de Paredes e faleceu na Guiné, em Ponta de Varela, em 3 de Junho de 1965. Era o comandante da CCAÇ 508 / BCAÇ 697.

Os seus restos mortais estão no cemitério do Prado Repouso, no Porto. Fonte: Portal Utramar Terraweb > Mortos do Ultramar > Concelho de Paredes

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7641: Ex-combatentes da Guerra Colonial lançam uma Petição Pública On Line (3): Alerta aos camaradas que subscreveram, mas não confirmaram a assinatura (Inácio Silva)

1. Mensagem de Inácio Silva, ex-1.º Cabo da CART 2732, Mansabá, 1970/72, com data de 18 de Janeiro de 2011:

Boa tarde caros Amigos:

SOLICITO A PUBLICAÇÃO DO EMAIL E DA LISTA ANEXA*

A lista anexa contém os nomes dos subscritores que estiveram no Site PETIÇÃO PÚBLICA para assinar a petição mas NÃO CONFIRMARAM A SUA ASSINATURA, tornando nula a sua intenção. Também não deixaram o seu email para poderem ser contactados.

Da consulta à lista das assinaturas da PETIÇÃO "Os ex-combatentes solicitam ao Estado Português o reconhecimento cabal dos seus serviços e sacrifícios", verifiquei que, cerca de 26,5% das subscrições não tem a sua assinatura confirmada. Estes subscritores terão que procurar, na sua caixa do correio, um email enviado pelo PETIÇÃO PÚBLICA que contém um link para a confirmação. Depois de clicar nesse link, receberão um outro email dizendo que a sua assinatura foi confirmada.

Se já não conseguir confirmar a sua assinatura, então a subscrição será considerada nula. Neste caso, poderá efectuar nova nova subscrição. Se o fizer, informe para o email inacio.silwa@gmail.com, para ser retirada a subscrição nula.

Um abraço.
Inácio Silva
ex-CART 2732
Mansabá-Guiné


(*) LISTA DOS SUBSCRITORES CUJA ASSINATURA NÃO FOI CONFIRMADA
(Estes subscritores não deixaram o email disponível)


ABILIO DELGADO
Acácio de Jesus Seabra Conde
Adelino Nuno Marinha dos Reis e Moura
Adérito Caldeira Cordeiro
Albino Antonio Guimaraes Pereira Garcez
Alfredo Aurélio Pereira Monteiro
Amadeu José Martins Gonçalves
Amilcar Joaquim Avó Dias
Ana Maria Andrade
Ana Paula Fernandes Ginja Ferreira
Aníbal Ramos de Melo
Antonio Blayer Soares
António Camões Flores
antonio carvalho rodrigues do nascimento
ANTÓNIO CORREIA
ANTÓNIO DOS SANTOS MAIA
António José Henriques Rodrigues
Antonio Martins Moreira
António Pereira dos Santos
António Rapado Correia
Armando Benfeito da Costa
Armènio Evangelista Mendes Zagalo
Artur Jorge Gorjão da Fonseca Almeida
Carlos Alberto Frade Leitão
Carlos António Carreira da Gama
Carlos dos santos varela
Carlos Jorge Lopes Marques pereira
Carlos Manuel Gouveia Pestana
carlos Parreiras Fernandes
Catarina Joana Branco Gonçalves
Cláudio Francisco Portalegre Trindade
constantino da silva costa
Diamqantino de Almeida Santos
Eduardo Ferreira Campos
Eduardo Guilhermino Evangelista Luis
Elisa conceiçao Almeida Carvalho Leite
Emanuel João de Canha Frazão Afonso
Fernando Artur Esteves Marreiros
Fernando Guilherme Pedras de Freitas
Fernando Manuel Barros Nunes
Fernando Manuel da Silva Cabral
Fernando Manuel Gonçalves Mascarenhas
fernando martins ferreira
FERNANDO SOUSA DE MATOS PIRES
Filipe Manuel Castanho Pinheiro
Filipe Miguel Garcia Fernandes
Firmino da Silva Barros
Francisco Diogo Candeias Godinho
Francisco Gomes da Silva
FRANCISCO JORGE DE PINHO
Frederico Carlos dos Reis Morais
Geraldo dos Anjos Cascais
germano jose pereira penha
Graciano Fernando de Almeida Barbosa
Gualter ALves Vieira
Helder Duarte Rodrigues de Assunção
Helder Lourenço
Humberto Simões dos Reis
joao adelino alves miranda
João Diogo Silva Cardoso
João Elvio Freitas Faria
João Evangelista de Jesus Hipólito
joao Pedro Emauz Leite Ribeiro
Joaquim Antonio Henriques Silvério
Joaquim Augusto Neves Eliseu
joaquim da conceição paiva
Joaquim da Cruz Marques
jose antonio celestino de assis
jose antonio timoteo machado
JOSE AUGUSTO LEITE DE ARAUJO
Jose Conceiçao Batista Afonso
José Fernando Rosa Lopes
José Ferreira da Silva
José Luís Pinto Vieira
Jose Manuel Maia Mendes Sousa
jose manuel moreno de azevedo campos
Jose Paulino silva
jose rodrigues pereira
Jose Sequeira Silva da Venda
jose silva nunes
JOVINO AUGUSTO ARMADA LOURENÇO DA CHÃO
Luis Alberto Pessoa da Fonseca e Castro
luis Francisco Dias Fânzeres Martins
Luis Manuel da Graça Henriques
Luis Manuel Vieira Ferreira
Luís Manuel Vitorino Ribeiro
Luís Rodrigues Cardoso Moreira
Manuel António da Conceição Santos
MANUEL DE CASTRO BARBOSA
Manuel Diogo da Silva Gomes
Manuel Fernandes da Luz
Manuel Jorge de Carvalho Sampaio Faria
Manuel Simões Fernandes
Marcos Vitor Leonardo
Maria Alice Monteiro Grilo
MARIA ARMINDA NEVES CASTRO
Mário Fernando Lima de Oliveira
Mário Macedo Caixeiro
Mário Pedro dos Santos Aguiar
Nádia Filipa Pombo Simão
Raul Armando da Cruz Domingues Ribeiro
Ricardo Jorge da SIlva Mota
Ruy José Cardoso Pereira Branquinho
SANDRA LOURENÇO ALVES
Tiago Miguel Rebelo Tavares
Tiago Miguel Santos Duarte
Vasco de Almeida e Costa
vitor antonio de jesus ferrinho
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 17 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7625: Ex-combatentes da Guerra Colonial lançam uma Petição Pública On Line (2): Informação e incentivo (Inácio Silva / Amaro Samúdio)

Guiné 63/74 - P7640: Notas de leitura (191): Intervenção Rural Integrada, a experiência do norte da Guiné-Bissau, de Mamadu Jao (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Janeiro de 2011:

Queridos amigos,
Este livro de Mamadu Jao impressionou-me profundamente. É preciso ter coragem para desmantelar os interesses de uma ajuda ao desenvolvimento que, regra geral, decepciona e deixa as populações numa maior amargura. Não se devia fazer cooperação, sobretudo em meios rurais (a população da Guiné, como é de todos sabido, é profundamente rural) sem ouvir os antropólogos sociais e culturais.
Estes milhões e milhões da cooperação e da ajuda ao desenvolvimento podiam ter melhor sorte desde que se conhecesse verdadeiramente as aspirações dos seus potenciais beneficiários.
Esta leitura ajuda a perceber o caudal de desastres em que tem vivido a Guiné-Bissau.

Um abraço do
Mário


Porque tem falhado, porque continua a falhar, o desenvolvimento na Guiné-Bissau

Beja Santos

O título “Intervenção Rural Integrada, a experiência do norte da Guiné-Bissau”, de que é autor o antropólogo Mamadu Jao, não deixa antever a riqueza da análise sobre os problemas fundamentais do desenvolvimento e como as autoridades políticas da Guiné-Bissau, desde a independência, têm sistematicamente falhado na obtenção de resultados. Seja-me permitida a ousadia de sugerir que ninguém deve ir hoje para o Governo na Guiné-Bissau, ser ali cooperante, ou até mesmo voluntário de uma organização não-governamental sem ler este livro. O que é que ele tem de tão precioso?

Logo o prefácio de Flavien Fafali Koudawo que desafrontadamente avalia o falhanço dos financiamentos externos neste país que vive de projectos mas que não tem, para o seu funcionamento orgânico, um projecto. Logo em 1974, independentemente dos sonhos e do altruísmo da governação de Luís Cabral, visão clara desse modelo foi coisa que nunca houve. As próprias orientações do III Congresso do PAIGC (1977) que se debruçou sobre a reconstrução nacional conseguiu dar substância a um projecto nacional, as promessas de desenvolvimento derramaram-se em múltiplos projectos cujos resultados apontam para o zero de eficácia. Entendeu-se o progresso como uma corrida contra o tempo, desenhava-se à régua um rumo para recuperar o tempo perdido, o desenvolvimento era encarado como um processo linear ou seja se havia atraso com boa vontade e determinação mudavam-se as mentalidades, nasciam actividades, atingiam-se metas, era tudo simples como os cálculos matemáticos, bastava usar palavras mágicas como: participação comunitária, iniciativas de bases, desenvolvimento integrado ou duradouro, desenvolvimento humano. Os representantes das agências das Nações Unidas e os cooperantes oficiavam esta missa, arrastando o Estado, as ONG, as múltiplas associações guineenses. Gastaram-se milhões em nada, o balanço é desalentador e os porquês, escreve o prefaciador, estão bem enunciados no trabalho de Mamadu Jao.

O antropólogo (que é hoje director do INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa) começa por nos prevenir quanto à metodologia adoptada para análise do impacto de uma experiência de intervenção rural integrada. Ele parte de uma hipótese operacional: as dificuldades dos programas e/ou projectos de apoio ao desenvolvimento rural na Guiné-Bissau não se devem tanto às carência de ordem financeira e de recursos humanos mas são motivados sobretudo por: a incoerência na implementação das políticas de desenvolvimento; a adopção de estratégias de intervenção inadequadas; a deficiente administração e a má gestão dos recursos. Procede-se igualmente a análise de todo um conjunto de instituições que aparecem ligados ao programa, avaliam-se as suas inter-relações e procura-se saber como tudo funcionou e que resultados se obtiveram para a melhoria da qualidade de vida das populações envolvidas. O autor socorreu-se da bibliografia mais pertinente, de entrevistas e da sua própria observação.

Primeiro, o conceito de desenvolvimento rural integrado continua a ser sujeito a várias definições podendo abarcar crescimento económico, aumento de produtividade, melhor distribuição dos rendimentos, acréscimo do potencial humano no contexto das relações entre grupos sociais. Daí as receitas e os modelos para se obter esse potencial com a implementação de acções de desenvolvimento que devem partir dos interesses reais dos beneficiários. O que a prática tem ensinado é que os planificadores se substituem às aspirações e às práticas socioculturais das populações envolvidas. Quer-se desenvolver recorrendo ao capitalismo de Estado, a políticas socialistas, ignorando os usos e costumes, por puro voluntarismo. E daí o descalabro dos resultados.

Segundo, o autor apresenta-nos dados de base e percorre o historial de modelos de desenvolvimento desde a independência até ao final da década de 80. Daí parte para o desenvolvimento rural integrado na Guiné-Bissau e a ênfase política dada ao desenvolvimento rural tido como sector prioritário. Foram delineados objectivos para estes programas em várias regiões e a cooperação sueca aceitou co-financiar na região centrada em Bula um programa de desenvolvimento.

Terceiro, o autor apresenta a estratégia e depois desmonta-a em função dos resultados. Ninguém teve em consideração as questões étnicas, a preparação efectiva de quadros locais, ninguém supervisionou os transportes, a entrega de combustíveis, a formação de demonstradores, em suma tudo falhou nos sectores florestal, pecuário, social; as infra-estruturas tiveram vida efémera e não se cuidou da sua manutenção, as mulheres não foram enquadradas, não se assegurou assistência sanitária, etc. Tudo conjugado, os resultados são calamitosos, descurou-se o mau funcionamento dos ministérios (o mesmo é dizer que há um permanente bloqueio institucional) onde é proverbial a falta de definição de competências e por conseguinte nunca há coordenação efectiva de qualquer programa. Apurou-se ter existido gestão danosa de alguns dos intervenientes, cegueira na importação de equipamentos (inadaptados à realidade local e que depois se transformam em sucata pura).

Quarto, o antropólogo procede a análise de impacto, desagregando os aspectos da vida das populações que foram envolvidas, sempre com o cuidado de destacar o conflito entre a organização do poder, a organização do trabalho, a vida social e os conflitos que o programa não resolveu, daí ter-se ficado no impasse que redundou na desmobilização pura e simples das populações. Como não se cuidou da motivação no respeito dos usos e costumes, na criação de confiança, no uso de uma comunicação cultural apropriada, esta intervenção rural integrada não mudou ninguém.

Moral da história: é melhor ouvir as pessoas, conhecê-las e saber gerir as suas aspirações e não substitui-las. A ajuda ao desenvolvimento tem que mudar sob pena de agravar o descontentamento dos chamados países em vias de desenvolvimento. E a Guiné-Bissau não é excepção, bem pelo contrário.
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7633: Notas de leitura (190): As Origens do Nacionalismo Africano, de Mário Pinto de Andrade (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7639: Parabéns a você (203): Luís Raínha, ex-Alf Mil Comando (1964/66), centurião mor, fez ontem os seus gloriosos 70!

1. Cartoon  supra, do Miguel Pessoa,  alusivo ao 70º aniversário do nosso camarigo Luís Raínha, que ocorreu ontem... Já muito ao fim da tarde ontem circulou, internamente, pela Tabanca Grande a seguinte mensagem:


Parece que o nosso camarigo e centurião-mor, o Luís Raínha,
faz hoje anos [de acordo com a sua página no Facebook]... 
E logo 70!... 
O alerta foi dado pelo camarigo J. Mexia Alves. 
E isto, a ser verdade, 
merece comemoração na nossa Tabanca Grande...

Luís, que a tua vida seja longa 
e que a tua saúde te permita continuar a manter, 
com energia e entusiasmo, 
a tua página sobre os comandos da Guiné (1964/66) (*)... 

Um grande Alfa Bravo. Luís Graça, demais editores do blogue e demais amigos, camaradas e camarigos.


2. Outras mensagens de parabéns que nos chegaram, entretanto:


(i) Meus caros, só agora abri a Net e vi esta msg. se quiserem aproveitem este postal que fiz agora em cima do acontecimento. Abraço. Migue [Pessoa].

Luís,  não tenho o endereço do Luís Rainho, faz-lhe chegar por favor o meu desejo de um feliz aniversário. Mário Fitas 
 (ii) 

(iii) Porque não tenho o e-mail do Centurião-Mor, peço-te que, servindo de retransmissor, mandes um grande Alfa Bravo a esse camarigo no dia dos seus 70 invernos. Carlos Pinheiro

Guiné 63/74 - P7638: Tabanca Grande (260): Ricardo Figueiredo, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BART 6523, Cabuca, 1973/74

1. Mensagem de Ricardo Figueiredo (ex-Fur Mil da 2.ª CART/BART 6523, Cabuca, 1973/74), com data de 5 de Janeiro de 2011:

Camarada Luis Graça,
Desde há muito que venho acompanhando o blogue e faço-o sempre com entusiasmo redobrado.

Felicito-te, como a todos os demais camaradas, que, de forma clara e escorreita, mantêm a verdade dos factos da guerra da Guiné, contada de forma simples, mas com a vivência de quem combateu.

Quero reforçar esse espírito, renovando as minhas felicitações e enviando-te uma fotografia tirada em Cabuca, no ano de 1973, no desempenho da minha comissão de serviço na 2.ª Cart/Bart 6523.

Gostaria assim de ser aceite, como mais um Amigo, nesta NOSSA Tabanca.

Com um Abraço de camarigo,
Ricardo Figueiredo

Cabuca, 1973 > Ricardo Figueiredo


2. Mensagem/resposta a Ricardo Figueiredo com data de 7 de Janeiro de 2011:

Caro Ricardo
Muito obrigado pelo teu contacto e especialmente pelas tuas palavras que nos incentivam a continuar.
Teremos um especial prazer em te receber na tertúlia onde esperamos colabores com as tuas histórias e fotografias, mas antes tens que cumprir as formalidades para seres apresentado formalmente à rapaziada.

Que queremos de ti? Uma foto actual e outra dos tempos de Guiné, uma pequena apresentação que começará com o teu nome, posto, especialidade, unidade, datas de ida e regresso, locais por onde andaste, e o que mais achares que devemos saber de ti.

Consulta o lado esquerdo da nossa página onde encontrarás tudo o que precisas de saber sobre o nosso blogue, como nos comportamos, o que somos, o que queremos, etc.
Tens lá um marcador do teu Batalhão a partir do qual poderás ver o que o teu camarada ex-Alf Mil António Barbosa já nos contou em prosa e fotografias.

Esperamos portanto o teu próximo contacto com os elementos em falta.
Entretanto recebe um abraço do camarada
Carlos Vinhal


3. Mensagem de Ricardo Figueiredo enviada ao nosso blogue no passado dia 17 de Janeiro

Meu Caro Carlos Vinhal,
Na sequência do mail infra, que mereceu a minha melhor atenção e agradeço, aqui vão os elementos solicitados:

RICARDO FIGUEIREDO, nascido a 5 de Janeiro de 1951, natural da freguesia de Cedofeita, concelho do Porto

Furriel Miliciano Atirador de Artilharia da 2ª Cart/Bart 6523

Embarque para a Guiné a bordo do N/M NIASSA em 07JUL73

Desembarque em Bissau em 13JUL73, com destino ao Campo Militar de Instrução do Cumeré para a I.A.O.

Cerimónia de recepção em 27JUL73 presidida pelo Exmo. General Comandante-Chefe António de Spínola (última cerimónia a que presidiu)

O Bart 6523 foi integrado no CAOP 2 e a 2ª Cart/Bart 6523 foi enviada para Cabuca, em meados de Agosto de 1973, onde se manteve até 20JUN74.

Embarque em Bissau com a regresso à Metrópole em 07SET74.

Assim e muito resumidamente, aqui deixo um breve apontamento sobre o pedido formulado.

Prometo, em breve, aumentar o meu modesto contributo.

Um abraço grato do camarada,
Ricardo Figueiredo


4. Comentário de CV:

Caro Ricardo
Estás formalmente apresentado à tertúlia. Estatisticamente és o 3.º Ricardo inscrito e o tertuliano n.º 472.

Muito obrigado pelo teu "atrevimento" em nos invadires (no melhor dos sentidos) intitulando-te camarigo. Se bem me lembro és o primeiro periquito a usar a palavra que no blogue reúne o conceito de camarada e amigo. Sê bem-vindo.

Como frequentas regularmente o nosso blogue, sabes que tens na tertúlia camaradas do teu BART 6523, sendo o mais activo o ex-Alf Mil António Barbosa. Infelizmente o ex-Cabo Aux Enf.º Alfredo Dinis já passou para outra dimensão, mas deixou o seu contributo que podes também consultar. Clica nas palavras sublinhadas que são ligações ao Blogue.

Cabe-te agora dar a tua contribuição, contando-nos as tuas experiências e impressões daqueles tempo que não queremos de volta, mas que não esquecemos.

Deixo-te um abraço de boas-vindas em nome da tertúlia, e dos editores que esperam os teus textos e fotos.
Carlos Vinhal
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7581: Tabanca Grande (259): Guiné, o ex-Vietname da CART 1660 (Jorge Lobo)

Guiné 63/74 - P7637: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (44): Na Kontra Ka Kontra: 8.º episódio





1. Oitavo episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 18 de Janeiro de 2011:



NA KONTRA
KA KONTRA


8º EPISÓDIO

Pelo conhecimento que o Alferes Magalhães tem do modus operandi dos guerrilheiros naquela área, que invariavelmente atacam sempre ao anoitecer, só exige aos seus um estado de alerta rigoroso a essa hora. Passadas duas horas de anoitecer vai para a sua morança, enfia um pijama e, de auscultador num ouvido, ao som de uma qualquer sinfonia, pega no sono e tem os sonhos que quer ter… pelo menos acordado.

O dia seguinte era promissor pois não havia “nuvens no horizonte”, no entanto algo iria acontecer que ofuscaria a conversa com o João. Pela manhã o João resolve apresentar formalmente as suas duas mulheres que viviam na tabanca, pois tinha mais duas noutras tabancas. A primeira, Kadidja, mãe do Bonco, e a Mariama.

Era sabido por todos os habitantes da tabanca qual a missão que a tropa metropolitana tinha atribuída: Era, face à ameaça da guerrilha vinda do Sul, tentar reter a população civil na tabanca, incutindo-lhe confiança. Assim e, inesperadamente nessa tarde, aparece a Kadidja, a primeira mulher do João, para falar com o Alferes. Que ele soubesse, era a única mulher da tabanca que falava alguma coisa de português talvez por ser mulher do comandante da Milícia. Foi muito rápida e concisa a dizer o que queria:

– “Alfero” o João não dorme comigo e já não come a comida que eu faço. Só está com a Mariama, a segunda mulher. Estou à espera que o Bonco faça dois anos para me ir embora e juntar-me com outro homem. Desculpe mas tem que ser assim.


Kadidja, a primeira mulher do Chefe da Milícia João Sanhá, 
como também Kadidja se chamava a primeira mulher de Maomé.

Sem querer, o Alferes Magalhães fica a saber que as mães, por causa do aleitamento dos filhos, estavam pelo menos dois anos sem terem relações com os maridos. Compreende que tem que ter também uma conversa com o João sobre este assunto, um tanto ou quanto melindroso. À noite, debaixo do mangueiro, terá que ter essa conversa pelo que a outra, a que mais desejava, continuará adiada.

Tentando esquecer o assunto vai tratar de implementar a colocação de sentinelas avançadas metidas na mata, para os lados de Padada. Os vestígios do PAIGC encontrados na operação realizada para essas bandas, a isso aconselhavam.

Ao anoitecer o nosso Alferes veste umas calças, pois ainda estava bem presente o problema que tinha tido com os mosquitos e que naquela altura lhe estragou os planos da mais que adiada conversa com o João. Jantou, e logo se dirigiu para o “bentem” para tratar do assunto que lhe fora colocado pela mulher do João, Kadidja. Misturar dois assuntos achava demais e podia ser contraproducente. A famigerada conversa, tão desejada, teria que ficar para o dia seguinte.

Sentados no “bentem”, por momentos, estiveram os dois em silêncio. A essa hora nunca era demais contemplar as trovoadas ao longe, sem a preocupação das que se desencadeavam perto e que provocavam autênticos dilúvios. Por mais que lhe custasse o nosso Alferes expôs o mal estar da Kadidja e alertou para as consequências de ser a mulher do Chefe da Milícia a debandar. Por arrastamento podiam acontecer mais “deserções”.

O João ouve, nada diz, e o Alferes Magalhães espera que a conversa venha a surtir algum efeito.

O milícia Braima ainda toca o seu kora e o nosso Alferes começa a fazer planos para o dia seguinte. Ainda antes de ter a tal conversa com o João, pelo desejo incontido, iria procurar a Asmau à morança do pai, chefe de tabanca. Não sabia muito bem como abordaria o assunto nem tão pouco quem lhe iria aparecer, se a bajuda se os pais. O desejo de a rever estava a tornar-se incontrolável.

Fim deste episódio

Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7630: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (43): Na Kontra Ka Kontra: 7.º episódio

Guiné 63/74 - P7636: Parabéns a você (202): José Crisóstomo Lucas, ex-Alf Mil da CCAÇ 2617 e Manuel Mata, ex-1.º Cabo do Esq Rec Fox 2640 (Tetúlia e Editores)

PARABÉNS A VOCÊ
19 DE JANEIRO DE 2011

JOSÉ CRISÓSTOMO LUCAS
E
MANUEL MATA

Caros camaradas aniversariantes José Crisóstomo Lucas* e Manuel Mata**, a Tabanca Grande solidariza-se convosco nesta data festiva. 

Assim, vêm os Editores em nome de todos os vossos camaradas e amigos desejar-vos um feliz dia de aniversário junto dos vossos familiares.

Que esta data se festeje por muitos anos, repletos de saúde, tendo sempre por perto aqueles que vós amais e prezais.

Na hora do brinde não esqueçais estes vossos camaradas e amigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que irão erguer também uma taça pela vossa saúde e longevidade.
__________

Notas de CV:

(*) José Crisóstomo Lucas foi Alf Mil na CCAÇ 2617 (Magriços de Guileje) que esteve em Pirada, Paunca, Guileje e Quinhamel nos anos de 1969/71.

(**) Manuel Mata foi 1.º Cabo Apontador de Armas Pesadas do Esq Rec Fox 2640, Bafatá, 1969/71.

(*) (**) Vd. poste de 19 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5674: Parabéns a você (64): José Crisóstomo Lucas, ex-Alf Mil da CCAÇ 2617 e Manuel Mata, ex-1.º Cabo do Esq Rec Fox 2640 (Editores)

Vd. último poste da série de 12 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7597: Parabéns a você (201): Adilan, o menino que Manuel Joaquim trouxe da Guiné (Miguel Pessoa)

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7635: Memória dos lugares (121): Bambadinca, ao tempo da Dona Violete da Silva Aires, a professora primária cabo-verdiana (Mário Beja Santos / Jaime Machado)




1. O nosso Camarada Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil At Inf, Comandante do Pel Caç Nat 52,
Missirá e Bambadinca, 1968/70), enviou-nos  em 17 e 18 de Janeiro de 2011, as seguinte fotografias de autoria de Jaime Machado, ex-Alf Mil Cav, Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70), às quais juntou os respectivos comentários:






O Jaime Machado fez uma exposição de fotografia na freguesia da Senhora da Hora (Matosinhos), de colaboração com o Lions Clube, e, claro está, com intuitos de angariar fundos para projectos filantrópicos. Pois ele oferece ao blogue, tal como a fotografia onde podemos ver a fachada do mercado de Bafatá na actualidade, esta imagem da escola de Bambadinca, tendo diante as insígnias dos batalhões que por ali tinham passado (vê-se nitidamente que havia referência a três unidades militares, creio que atrás está a insígnia do BART 1904) e, no centro, a bandeira hasteada. Não me admiraria que a professora, D. Violeta, estivesse embevecida a assistir a tudo de casa, ali ao lado...


Bambadinca, mesmo quando o porto do Xime ganhou projecção, a partir de finais de 1969, era o escoadouro de mercadorias do Leste, manteve durante a guerra um papel de primeira grandeza no aprovisionamento de todos os aquartelamentos. Consigo distinguir o Ismael Augusto, respondia por tudo quanto fossem viaturas e peças. É o primeiro à esquerda. Hoje tudo desapareceu, restam umas estacas.


Um outro ângulo do porto de Bambadinca, em tempo de azáfama. Tanto era possível aqui chegar um batelão que levava mancarra, como embarcações com passageiros e carga (foi o que me coube, numa viagem de 10 horas, de Bissau até aqui, passando meteoricamente por Porto Gole, em 2 de Agosto de 1968), como vários comboios de carga ou LDP ou LDM com equipamento militar. A partir de Outubro de 1969, a situação mudou com as obras do porto do Xime que o tornaram mais atractivo para o transporte de material militar e tropas. E com o alcatroamento e a capinação abundante das bermas, entre o Xime e Amedalai, reduziram-se substancialmente os riscos de emboscadas e minas.


Esta Bambadinca a caminhar para o rio Geba já não existe. Esta estrada graciosa transformou-se num caminho cheio de capim, nas bermas agonizam edifícios que há 40 anos fervilhavam de vida, com comércios de todo o tipo. São verdes com que hoje não se captam imagens, era o verde da Fuji. Ao fundo, do lado direito, o Bairro Joli e Santa Helena; no fundo, do lado esquerdo, sente-se o porto de Bambadinca e, mais adiante ,a bolanha de Finete. Vivi este ambiente que o Jaime Machado captou do extremo do quartel, num amplo balcão. Como gosto desta minha Bambadinca!


Bafatá > Fotografia tirada pelo Jaime Machado, nosso confrade que comandou, entre 1968 e 1970, um pelotão Daimler, em Bambadinca, que visitou a Guiné em Abril passado. Ficamos a dever-lhe esta bela fachada do mercado de Bafatá, com cores bem diferentes daquelas que existiam no nosso tempo, então era um verde descorado, a dificultar a contemplação, pois merece atenção, naquele tempo não havia sugestão arábica tão imponente como aquela. Hoje o mercado é no exterior, naquela época tinha um ambiente fascinante e buliçoso. Ali se comprava ourivesaria ao único ourives da região. Assisti a esta porta ao desfile de cavaleiros fulas, vinham garbosos nos seus cavalos brancos, estavam cientes que tinham uma plateia embasbacada. Aqueles tempos em que se conseguiam gravações sublimes de Wagner, Verdi ou Strauss em casa comerciais onde se vendia (em aparente confusão) fita de nastro, candeeiros a petróleo e loiça de esmalte...
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série de15 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7619: Memória dos lugares (120): Bambadinca, ao tempo do Manuel Bastos Soares, ex-Fur Mil, CCAV 678 (1964/66), e da Dona Violete da Silva Aires, a professora primária cabo-verdiana

Guiné 63/74 - P7634: Estórias do Juvenal Amado (34): Só o aprendiz sabe o que custa aprender

1. Mensagem de Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), com data de 17 de Janeiro de 2011:

Caros Luís, Carlos, Briote, Magalhães e restantes atabancados.
Quando pensamos na infância e percurso dos miúdos que mal saíam da escola tinham que ir trabalhar, vimos a diferença com o dias de hoje.
Os filhos eram os servos baratos nos campos da família, iam para as fábricas, para as lojas como marçanos, todo dia com a cesta a fazer entregas, e muitos os pais pagavam do seu bolso a aprendizagem nas oficinas.
Foram mais estes, dos que tiveram condições de estudar e quando chegaram à idade do serviço militar, lá foram lendo mal e escrevendo pior.
É para esses meninos esta estória.

Um Abraço
Juvenal Amado

Mosteiro de Sta. Maria de Alcobaça. Foto com mais de 40 anos, mas este traçado existiu até há pouco tempo. Agora é só pedra e saibro.



SÓ O APRENDIZ SABE O QUE CUSTA APRENDER

- Jorge… Vá acorda filho…

A voz vem de muito longe e aproxima-se lentamente, até que toma consciência de que é a mãe a chamar de mansinho, como que a pedir desculpa de o estar a acordar tão cedo.
Está frio. Ao passar as mãos sobre o cobertor, vulgarmente chamado de papo, nota que este está húmido da condensação do calor do corpo.

Ainda não são 7 horas e o Janeiro de 1963 vai frio.
Está escuro.

A mãe avia-lhe o almoço. Acaba de tomar o café da manhã já passa das 7 horas, tem de andar depressa para chegar a tempo à paragem, onde apanha a carreira que o levará à localidade de Valado dos Frades.

A avenida João de Deus está escura, escuro e silencioso está o Rossio, onde o Mosteiro, indiferente ao frio da geada, o vê passar rumo à rua de Baixo, passa pelo o posto da GNR e as suas grandes portas verdes, que está todo escuro, salvo a lanterna eléctrica por cima da porta e segue mais cinquenta metros até à paragem dos transportes públicos junto ao cruzamento da Sevena.

A passagem pelo posto fá-lo lembrar que acontecimentos sombrios como a invasão da Índia Portuguesa, o assalto ao paquete Santa Maria, o começo da guerra primeiro em Angola, depois Moçambique e agora na Guiné, tinham crispado a sociedade parda e cinzenta, abanando as convicções ganhas na escola ainda de memória fresca, de país inatingível, que só o nome afastava os inimigos. Enfim a propaganda do regime lá nos bombardeava com razões e vitórias no campo militar, mas que escondia o facto, de estarmos sós no contexto Internacional e justificavam a falta de liberdade com segurança da Pátria.

Está à espera há pouco tempo, mas o calor que ganhou pelo caminhar apressado, rapidamente saiu através do casaco onde está embrulhado.
Passam vultos silenciosos nem dão por ele. Todos carregam algum fatalismo e não esperam outra coisa que um dia a seguir ao outro. O magro salário deles fará os seus filhos engrossar a legião de trabalhadores, que a própria vida se encarregará de ensinar com dureza, que as oportunidades nunca serão iguais para todos.

A camioneta está a chegar. O homem ao volante bem como o revisor olham para ele, passageiro único, como que a censurá-lo de não ir apanhar o transporte numa paragem onde houvesse mais passageiros.

A roupa gelada é comprimida contra o corpo ao sentar-se. Olha para as janelas das casas ainda às escuras e tenta evitar um sentimento de inveja, pelo conforto que os seus ocupantes sentem ainda.

O rádio debita músicas da época, mais tarde chamadas de nacional-cançonetismo.

Nisto algo quebra o status e ouvem-se os primeiros acordes do "Twist And Shout" dos Beatles.
Fica mais atento.
O condutor da camioneta apressa-se a desligar o rádio, como se de um censor de lápis azul se tratasse. Decidir o que os outros devem ouvir ou ler, bem como a cor do lápis, é um problema da época.
Como ele está enganado ao pensar, que pode parar a marcha dos tempos, com um simples premir de um botão.

Já é dia mas o tom é pardo e húmido, talvez a proximidade do rio Alcobaça, que corre paralelamente à estrada, seja a razão. O mesmo rio no Verão serve em alguns pontos para dar uns mergulhos ou pescar uns barbos.

Pararam na localidade chamada Fervença descem uns e entram outros. Deita um olhar à casa onde nasceu, os pomares em redor estão todos brancos de geada e o frio que entra pela porta, fá-lo pensar que próxima vez tem de escolher outro lugar mais abrigado.

A Praça Central já em Valado dos Frades é a última paragem.

É uma povoação onde as pessoas do mar se encontram com os de terra e resulta na metamorfose de pescadores com agricultores. Depois mercê da quantidade de empresas de cerâmica, porcelanas e vidro, rapidamente passam a operários, que trabalham a terra antes e após o horário de trabalho das fábricas.

Jorge vai a correr daí até à fábrica de cerâmica "Os Pereiras", onde é aprendiz.

Chega esbaforido depois de correr mais de um quilómetro, com o frio a entrar pela boca e pelo nariz. São quase oito horas. A camioneta segue para a Nazaré e ultrapassou-o no caminho.

O chefe da secção do gesso é um grande artista na arte de modelar bem como pintor. Das suas mãos nascem cães, gatos, pássaros, jarras e terrinas como por magia. Fez um candeeiro em forma de dragão com uns 25cm de altura que motivou uma autêntica romaria dos trabalhadores da fábrica para o apreciarem.

Depois de esbanjar talento por todas as fábricas da região, foi mais tarde para Angola, onde montou uma bem sucedida empresa.

Escusado será dizer que ninguém se torna artista só por privar com um.
Infelizmente a habilidade não se pega como a gripe. Pode-se aprender alguma técnica, mas as mãos que são capazes de executar o que o cérebro cria, é só para alguns.

Assim o Jorge aprendeu a dar e a tirar sabão, das madres para fazer formas. Mexer o gesso com um piaçá que é a tecnologia da época.

Os dias passavam entre fazer pesados moldes e acartá-los para dentro dos fornos por vezes com um saco de serapilheira pela cabeça. Aproveita-se assim o calor secando-as mais rapidamente. De vez em quando a visita dos fiscais de trabalho, fornecem assim uma folga ainda que de uma hora ou duas, mas sempre bem vinda. Vêm à procura de trabalhadores menores e não inscritos na Segurança Social, que verdade seja dito são vários de ambos os sexos. Sendo assim, quando algum carro dos referidos serviços pára à porta da fábrica, é uma correria para os pinhais próximos.

Os fiscais por ali andam a cheirar bastante tempo e, quando finalmente se vão embora, vão à procura deles como de gado tresmalhado se tratasse.

Está quase na hora, vai limpar as ferramentas de toda a gente e arrumá-las. Toca o sinal das 18 horas, lava as mãos, tira a roupa de trabalho e corre para a Praça Central, onde a camioneta dos Claras não esperará por ele para o levar para casa.

Já está na paragem quando o transporte chega, o caminho parece mais curto.
Sobe, vai direito a um lugar vago, senta-se e pensa nos 42 escudos que ganha e nos 48 escudos que gasta em transportes por semana.

Talvez o condutor o deixe ouvir desta vez o Twist and Shout dos Beatles.

Juvenal Amado
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 7 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7565: Estórias do Juvenal Amado (33): O Léo e a macaca Chita

Guiné 63/74 - P7633: Notas de leitura (190): As Origens do Nacionalismo Africano, de Mário Pinto de Andrade (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Janeiro de 2011:

Queridos amigos,
Esperava-se mais deste ensaio de Mário Pinto de Andrade, dado o seu currículo intelectual. É uma abordagem à volta no chamado protonacionalismo africano, há poucas fontes, a análise incide sobretudo em Angola, fala-se ao de leve nos factos de Cabo Verde e Guiné, seja como for é um dado necessário para o levantamento bibliográfico sobre a literatura e a história da Guiné.

Um abraço do
Mário


Origens do nacionalismo africano

Beja Santos

Mário Pinto de Andrade é um nome indispensável no estudo e na história dos movimentos independentistas africanos de expressão portuguesa. Participou, ao lado de figuras como Amílcar Cabral, Eduardo Mondlane e Francisco José Tenreiro, em inúmeras actividades culturais voltadas para a redescoberta de África, tendo sido um dos fundadores, em 1951, do Centro de Estudos Africanos. Em 1954, partiu para Paris e no ano seguinte, já como redactor da Presence Africaine, foi um dos organizadores do I Congresso de Escritores e Artistas Negros. Em 1960, assumiu a presidência do MPLA, cargo que ocupou até 1962. Entre 1965 e 1969, coordenou a Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas, e de 1971 a 1972 integrou o Comité de Coordenação Político-Militar do MPLA na frente Leste. Tendo entrado em conflito com Agostinho Neto (na corrente que ficou conhecida com o nome de Revolta Activa), exilou-se na Guiné-Bissau onde, entre outras funções, foi ministro da Informação e Cultura. É autor de uma biografia política de Amílcar Cabral.

Ao falecer em Londres, em 1990, deixou praticamente concluído um estudo sobre a formação dos ideais nacionalistas em África. Analisa a importância que teve a implantação da República e o conjunto de aspirações dos povos indígenas das colónias portuguesas mesmo depois da implantação do Estado Novo. É um olhar interessante sobre um longo período histórico que precede a génese da descolonização em África, infelizmente tem pontos que certamente o autor teria desenvolvido e clarificado caso tivesse tido circunstância para nova revisão, legou-nos um esquema e não uma tese acabada. As notas de recensão que se seguem abarcam, como é compreensível, matérias de carácter geral com incidência na vida da Guiné.

Primeiro, o autor recorda que a problemática do nacionalismo ganhou redobrado interesse com as explosões nacionalistas após a queda do Muro de Berlim, tornou actual situar as definições de nação e nacionalismo, mesmo à luz do marxismo.

Segundo, lança um olhar sobre a ideologia e as formações sociais no processo histórico da colonização portuguesa, chamando a atenção para a produção do crioulo na geografia do tráfico negreiro. Há falta de meios para ocupar, o colonizador privilegiou a assimilação, introduzindo mesmo a categoria de civilizados e não civilizados. Com o liberalismo, os letrados, no fundo os quadros escolarizados que viriam a ocupar missões na administração e até na gestão dos territórios. Passaram a ganhar voz, tornaram-se uma força consciente ao serviço dos interesses da terra. É aqui que o autor analisa os crioulos de Cabo Verde e Guiné, Cabo Verde forneceu missionários, altos funcionários, incluindo na justiça, profissões liberais e grandes negociantes. É que com esse liberalismo passou a ser discutível o papel humanista da raça negra e o protagonismo dos seus filhos em defesa dos povos.

Terceiro, é nesse contexto que emerge o protonacionalismo, ou seja, com o aparecimento da República criou-se uma atmosfera favorável à organização de espaços de interesses, apareceram jornais, associações, grémios, caixas económicas, em nome da solidariedade e da dignidade dos povos essas entidades promovem a discussão pública dos assuntos económicos, das associações de classe, promove-se a instrução e defende-se a universalidade da defesa dos oprimidos. O autor fala no Partido Africano, na Liga Angolana, na Junta de Defesa dos Direitos de África como exemplos de um estado de espírito da emergência do nativismo, dissecando mesmo o que diferenciava a Liga Africano do Partido Nacional Africano. Não é por acaso que Bolama entre as guerras possui grupos aguerridos a defender estes princípios, um deles será Juvenal Cabral.

Uma abordagem curiosa do autor tem a ver com aspectos organizativos da comunidade negra na Grã-Bretanha e no seu Império, mas o leitor fica sem entender como essa ilustração poderá ser útil para compreender o protonacionalismo da África portuguesa.

Em jeito de conclusão, o autor refere que “o protonacionalismo, na sua essência, foi produtor de um discurso como uma finalidade ilusória: assumindo-se como negros cultos, no molde ocidental, sujeitos da nação portuguesa e legalistas, esses ideólogos, por condições históricas conducentes à imaturidade na sua análise, não tinham atingido o grau crítico da compreensão lógica do sistema colonial português”.

A este assunto se irá voltar mais adiante, quando se proceder ao estudo das memórias de Aristides Pereira e como ele avalia o peso político, económico e sociocultural das vanguardas protonacionalistas da Guiné e de Cabo Verde.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 15 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7618: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (14): Aquele domingo de festa no Bambadincazinho

Vd. último poste da série de 18 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7631: Notas de leitura (189): A minha coluna emboscada e o livro A Última Missão, do Cor Moura Calheiros (Manuel Marinho)

Guiné 63/74 - P7632: As nossas melhores fotos (1): O obus 14, Bedanda, 1971 (Amaral Bernardo) e 1972 (Vasco Santos)


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1972  > O Obus 14...(*) Embora parecida, esta foto não é igual à que já tínhamos publicado aqui antes e que de resto figura na coluna do lado esquerdo do nosso blogue, na série "Fotos famosas"... Alguém sabe qual era o Pelotão de Artilharia que estava em Bedanda, nesta altura ?

Foto: © Vasco Santos (2011). Todos os direitos reservados.




Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > 1971 > A famosa e feliz foto do ex-Alf Mil Médico Amaral Bernardo, membro da nossa Tabanca Grande desde Fevereiro de 2007: a saída do obus 14, de noite. 


"Foi tirada com a máquina rente ao chão. Bedanda tinha três. Uma arma demolidora. Um supositório de 50 quilos lançado a 14 km de distância... Era um pavor quando disparavam os três ao mesmo tempo... Era costume pregar sustos aos periquitos... Eu também tive honras de obus, quando lá cheguei... Guileje não tinha nenhum obus, mas sim três peças de artilharia 11.4. A peça era esteticamente mais elegante do que o obus" - disse-me o Amaral Bernardo, no dia em que o conheci pessoalmente, no Porto, no seu gabinete no Hospital Geral de Santo António, que é a sua segunda casa, e onde é (ou era, em 2007) o director do ensino pré-graduado da licenciatura de medicina do ICBAS - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar/HGSA Ciclo Clínico (ou seja, responsável por mais de meio milhar de alunos, um batalhão)... 


Foto: © Amaral Bernardo (2007). Todos os direitos reservados.
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Nota de L.G.:


(*) Vd. poste de 17 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7629: Memória dos lugares (121): Bedanda, do tempo da malta da CCAÇ 6 - 1972/73 (Vasco Santos)