quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7850: Convívios (293): Encontro do pessoal do BCAÇ 2885, Mansoa 1969/71, dia 5 de Março de 2011 em Tábua (César Dias)

1. Mensagem de César Dias* (ex-Fur Mil Sapador da CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71), com data de 22 de Fevereiro de 2011:

Olá Carlos, as cordiais saudações habituais.
Mais uma vez, e caso seja possível, solicitamos-te uma ajuda no toque a reunir para o BCAÇ 2885.

Desta vez será no dia 5 de Março que iremos comemorar as 40 primaveras do nosso regresso da Guiné.

Terá lugar no Restaurante" CHURRASQUEIRA A SABOROSA" em Serra da Moita - Carapinha - Tábua

Os retardatários poderão fazer a inscrição até dia 28 de Fevereiro, é só telefonarem ao José Carlos Ventura da CCAÇ 2588 para o n.º 926 686 206.

Agradeço-te antecipadamente com um abraço amigo.
César Dias


Vista do interior do Quartel de Mansoa

O camarada Ventura da CCAÇ 2588, organizador habitual dos Encontros do BCAÇ 2885, no uso da palavra
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 13 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7427: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (34): A fama que vamos tendo por aí (César Dias)

Vd. último poste da série de 22 de Fevereiro de 2011 Guiné 63/74 - P7841: Convívios (208): Almoço de confraternização do pessoal da CCAÇ 2464, dia 30 de Abril de 2011 em Fátima (António Nobre)

Guiné 63/74 – P7849: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (25): Amuleto

1. Mensagem de Torcato Mendonça* (ex-Alf Mil da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), com data de 21 de Fevereiro de 2011:

Meu Caro Carlos Vinhal
O Silêncio dizem ser de ouro. Vale muito e se o ouro tem subido de cotação.

Certo, certo é que nada tenho dito. Não me apetece necessito de um viagra para contadores de "estórias". Também estive engripado. Mais gripado do que en.

Assim fui vendo as novas modas. Um ou outro comentário. Mesmo assim deve arrepiar ...será? Creio que não.

Ouvia o Benfica ao longe, som de fundo, bonito o som e arrumei umas letras... e por que não um dos meus amuletos??? Pois, meu caro Carlos aí vai, e eu te ofereço a estória deste amuleto. Está ali. Um dia mostro-te. É bonita.

O escrito é teu, é vosso, e dele farão o que entenderem.

Um abraço do Torcato (se recebeste e disseres OK, agradeço)
Torcato Mendonça


2.º GCOMB/CART 2339

ESTÓRIAS DE MANSAMBO II - 25

AMULETO

Soou, quase como um clarim, a voz estridente e ríspida do Furriel, ainda a manhã dormia.

- Está a levantar… está a levantar.

Tudo ainda era silêncio, todos se entregavam nos braços de Morfeu.
Ele não, ele já estava levantado, barbeado, aprumado, pronto. Até o quico estava impecavelmente colocado.

- Está a levantar…fod…

Olhou-o a um só olho. Manteve o outro de reserva, fechado e a resguardar-se, ainda, das lâmpadas alimentadas aos soluços pelos “Lister”.
Que tipo este. Uma máquina, sempre pronto e sem falhas. A continuar assim ainda vai a Sargento. Era isso. O tipo tinha ares de Sargento. Mas dos porreiros, claro.

Abriu então os olhos, aconchegou o material nos calções e espreguiçou-se urrando. Só depois, ainda devagar, se foi levantando.

Todas as gentes do abrigo se aprontavam rápidas, gestos mecânicos, conversas brejeiras, risos jovens, corpos a deixarem a nudez e a sentirem o desconforto dos camuflados duros e envelhecidos. A seguir vinham cinturões e cartucheiras, granadas e outro material. Curiosamente, à medida que se aprontavam, a alegria ia desaparecendo. Iam endurecendo as faces jovens de meninos soldados.

Aprontou-se ele, mais rápido agora, dando um olhar final pelo material preparado de véspera e, agarrando nas armas e no bornal, saiu.

Enquanto comia, ouvia o Capitão. Recebia ordens, papeis, e tomava uma ou outra nota. A rotina habitual.

- Quanto tempo tem disto?

- Eu? Para aí ano e meio, sei lá. Tenho tempo demais, tempo demais.

Saiu e dirigiu-se à coluna já pronta. Um simples menear de cabeça e tudo estava a andar. A pé claro. A pé até perto de Samba Juli, cerca de uma dúzia de quilómetros picando cuidadosamente a estrada, dura e seca naquela época do ano. Não facilitavam nada, nem ele nem os outros. Mantinham as rotinas habituais e a máxima “o suor poupa sangue”.

O olhar a tentar tudo ver, tudo sentir que dessa rotina fugisse.
Iam devagar, um quilómetro e mais outro, a picada de Candamã para a direita.

- Não vamos por Candamã?

-Não.

- Então ainda hoje vamos a Bafatá.

- Se der tempo, se der tempo. Vão vocês e voltam logo. Logo se vê.

O Pontão do Almami aparece e os cuidados redobram. A subida suave, a zona à volta da estrada desmatada. Abre o campo de tiro ao IN ou facilita a manobra das NT? Uma dúvida que se manteve e controversa.

A frente da coluna faz uma paragem breve. O cão, Geba, farejou algo. Picam mais forte e segue a coluna. Redobram os cuidados, ouvidos mais atentos, olhares a entrarem mata adentro.

De repente tudo pára. São décimas ou milésimas de segundo, são o breve instante, a paragem de tudo, o inexplicável, a separação entre a vida e a morte.

De repente tudo parece desabar, acaba o silêncio e tudo explode em sons de morte, de loucura, sons de rebentamentos, tiros, granadas, gritos, berros e a violência extrema está presente. Todos sabem o que fazer, como fazer e, quais autómatos, reagem na explosão máxima, na máxima força.

- O rádio, o rádio….

- Estamos a embrulhar a seguir ao Pontão. Quebec x a Quebec Y varre tudo com os 10.5. O 81 na picada de  Candamã. Deviam estar lá. Fogo nesta merda toda.

E o som lindo dos 10,5 e 81 ouvem-se e outro som aparece vindo das garganta daqueles homens. Riem e reagem mais forte, com mais alegria.
Lindo, lindo aquele som e chegam os camaradas vindos do aquartelamento.
Os sons vão perdendo força, a alegria está presente pela ausência de feridos e o rescaldo começa a ser feito por quem veio do aquartelamento.

Emboscada curta, vinte minutos talvez.

Encosta-se a uma árvore e ouve as explicações, o pedido de reforço de granadas e os preparativos de nova partida.

- Olhe aí. Os tipos acertaram em cheio na árvore. Olhe aí. Dia de sorte.

Viu os orifícios das balas. Uma, curiosamente mais saída. Puxou da “Zézinha”, a faca de mato, e extraiu a bala quase intacta. Mirou e remirou. Será de que arma?

- Da sorte. Da sorte que você teve.

- Merda. Merda para a sorte.

Guardou a bala no bolso e a coluna seguiu.

Vinte anos depois, menos. Talvez muito menos mandou-a banhar em prata e colocar uma argola na parte mais grossa.

Desde aquele dia acompanhou-o sempre. Virou amuleto.

Está aqui a olhar-me ou sou eu que para ela olho. Certo é que ainda consigo sorrir, talvez com menos alegria do que outrora.
Seria impossível e faltavam os sons.

Fica só a “sodade, sodade… da Cesária Évora…
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7505: Blogoterapia (170): A Casa da Praia (Torcato Mendonça)

Vd. último poste da série de 2 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 – P7214: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (24): Cabrais

Guiné 63/74 - P7848: Parabéns a você (218): José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913 (Tertúlia / Editores)

PARABÉNS A VOCÊ

23 DE FEVEREIRO DE 2011



1. Alertados pelo Facebook, vêm a Tertúlia e os Editores, no dia do seu aniversário, felicitar o nosso camarada e amigo José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69 .

São nossos votos que o nosso aniversariante tenha um longa vida, com qualidade, para continuar a enviar regularmente os seus textos ao Blogue. Lembremos o seu estilo algo irreverente, mas com muitos leitores atentos e interessados.

Para acederem aos postes do nosso camarada José Ferreira da Silva consultem as suas séries "Memórias boas da minha guerra" e "Outras memórias da minha guerra"

Caro José, desejamos o melhor da vida para ti.

Em nome de todos os camaradas e amigos do nosso blogue, deixo-te um fraterno abraço.
Carlos Vinhal

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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 8 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6696: Tabanca Grande (227): José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913 (Guiné, 1967/69)

Vd. último poste da série de 19 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7821: Parabéns a você (217): António Carvalho, o Carvalho de Mampatá: é bom fazer anos, mas melhor ainda ter amigos, uma tabanca inteira, para festejá-los...

Guiné 63/74 - P7847: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (69): Na Kontra Ka Kontra: 33.º episódio




1. Trigésimo terceiro episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 22 de Fevereiro de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


33º EPISÓDIO

Por fim, pela picada de Padada começam a chegar os elementos da operação. Rapidamente os dois Alferes metropolitanos, depois de se cumprimentarem, chegam à conclusão que não há condições para o pessoal de Galomaro ficar dentro da tabanca. Não havia alojamentos e era perigoso, pois em caso de ataque não havia abrigos para todos. Comeriam na tabanca o jantar que o “legionário” estava já a preparar e depois iriam instalar-se, emboscados, na orla da mata, para pernoitar.

É quase noite quando o contingente de quase sessenta homens, metade africanos, começou a sair da tabanca. Não iam em fila indiana mas sim em grupos. Quando os últimos elementos estavam a passar pelo “cavalo de frisa” da picada de Padada, os primeiros estavam já a entrar na mata. Neste momento aconteceu o que se acharia improvável, ou talvez não, como sempre tinha pensado o Alferes Magalhães.

Ouve-se um tiro seco, que não seria de G3, mas não deu tempo a conjecturas como acontecera quando um sentinela disparou sobre um porco do mato. Os sentinelas metidos na mata já tinham abandonado os seus postos. Quase em simultâneo começa um tiroteio infernal. Os guerrilheiros estariam a instalar-se para um ataque e tiveram que iniciar a contenda face ao aparecimento da tropa portuguesa. Esta reagiu de imediato pelo que foi uma autêntica batalha campal. Segundos depois começam a rebentar algumas granadas de morteiro 82 e de RPG 7 mas muito dispersas pois não houve tempo para regular o tiro e era a primeira vez que Madina Xaquili era atacada. Vir-se-ia a verificar que não produziram qualquer estrago material.

Não havendo a certeza, tudo leva a crer que os guerrilheiros vieram no encalço dos homens da operação. Embora com algumas consequências para a tropa que ia pernoitar fora do “arame”, este acto evitou um ataque bem organizado à tabanca, que provocaria com certeza muitas baixas, principalmente civis.

O nosso Alferes apenas se limitou a “acariciar” o seu cano de morteiro 60. A posição das duas facções era tal que não pôde efectuar qualquer disparo. Podia atingir as suas próprias tropas.

Tão depressa começou o recontro, como depressa acabou. Silenciadas as armas e com os guerrilheiros a efectuar a retirada fez-se a contabilidade dos estragos, lamentavelmente, só humanos: Vários feridos ligeiros provocados por estilhaços e um morto africano, que alguém viria a dizer que teria sido atingido pelo primeiro disparo que se ouviu, estando o atirador em cima de uma árvore. Disso, a certeza nunca se teve.

A meio da manhã do dia seguinte chega a coluna de Galomaro que inicialmente era só para levar o seu pessoal que tinha entrado na operação. Dado o ocorrido vinha também remuniciar a tabanca. Manhã cedo seguiu a mensagem do Alferes Magalhães a dar conta do acontecimento pois, como é sabido, de noite não se conseguia comunicar com a sede da Companhia. A coluna já tinha partido para Madina Xaquili. Mas porque em Galomaro se ouviu o ataque, o comandante determinou que se levassem as respectivas munições ainda antes de receber qualquer mensagem.

Também o Comando de Galomaro não esperou pela confirmação do ataque e informou, nesse sentido, o Comando de Bafata. Assim por troca de mensagens durante a noite entre os dois Comandos, a coluna também trazia uma ordem para levar embora, para Bafata, o Alferes Magalhães.

A situação na zona estava a degradar-se pelo que o Coronel de Bafata iria com certeza, a curto prazo, reforçar a guarnição aí sediada e o nosso Alferes não fazia parte de tal quadrícula.

Pouco tempo teve o Alferes para preparar a partida. Andando de um lado para o outro dá as últimas instruções e pôde ver de fugida que, além das munições, também tinham trazido para reforço do armamento, uma velha metralhadora Degtyarev de disco, apreendida ao inimigo.

São tiradas as últimas fotografias, sobretudo com o pessoal africano, com quem o nosso Alferes tinha criado grandes amizades.

O Alferes Magalhães, o João Sanhá e parte do Pelotão de Milícia.

Na reunião com o Furriel, para lhe entregar o comando, o Alferes chega a dizer-lhe que lhe tinha passado pela cabeça ignorar a ordem para ir embora e permanecer na tabanca. Além das boas recordações que tinha dos dois meses passados ali, estava sobretudo com muita pena de abandonar toda aquela gente africana que, independentemente da guerra, dentro de dias iria ficar isolada de Galomaro devido às chuvas. Para permanecer na tabanca, bastar-lhe-ia enviar uma mensagem para o Comando de Galomaro, com conhecimento ao Comando de Bafata a perguntar qual ordem cumpria, se a da coluna para o levar, se a que recebera do Coronel quando da sua visita à tabanca dizendo-lhe que o Alferes só sairia dali quando todos tivessem abrigos. Nesta altura dos acontecimentos os abrigos já não seriam suficientes e sobretudo seria necessário abrir valas entre abrigos.

Iria a mensagem, viria a resposta, entretanto a coluna tinha partido e o Alferes tinha ficado, sem contudo praticar qualquer desobediência. Na tropa as coisas podem assim acontecer.

Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7837: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (68): Na Kontra Ka Kontra: 32.º episódio

Guiné 63/74 - P7846: Em busca de... (156): Paula Simões, filha do Sold da CCAV 1482 (1965/67), César J. Simões, procura notícias de seu pai e dos seus camaradas (V. Briote / J. Martins)


1. Os nossos camaradas Virgínio Briote (ex-Alf Mil Comando – Brá -, 1965/67) e José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos - Canjadude -, 1968/70), têm vindo a recolher e complementar informação sobre o nosso falecido Camarada César Joaquim Simões, que foi Soldado da CCAV 1482, a pedido de sua filha - Paula Simões Viola -, tendo nos últimos dias trocado as seguintes de mensagens.


2. Em 18 de Fevereiro de 2011 o Virgínio Briote, enviou à Paula Simões Viola o seguinte e-mail:Assunto: Locais por onde o César andou

Paula,

O seu Pai pelos vistos passou por aqui (há registos de um militar da Companhia  do seu Pai sepultado no cemitério de Bambadinca):

Guiné 63/74 - P3418: Álbum fotográfico de Manuel Bastos Soares (1): Bambadinca, a festa da comunhão solene, Dona Violete e a malta da CCAV 678 (1965/66) [ A CCAV 1482 esteve na zona leste, em Bambadinca,  entre Novembro de 1965 e Abril de 1966, depois no Xime até Julho de 1967 e por fim em Ingoré, a norte, junto à fronteira como Senegal).




Agora fico a aguardar informações de Camaradas do seu Pai.

v briote

3. Por sua vez Paula Simões Viola, em 19 de Fevereiro de 2011, retorquiu assim ao Virgínio Briote, também por e-mail:Subject: Locais por onde o César andou

Boa tarde Sr. Briote,

O meu Pai faleceu cá num acidente em 1976, tinha eu seis anos de idade. Só tenho uma Cruz! Não é igual à que me enviou, tem 2 espadas cruzadas, o escudo da bandeira e uma cruz por cima do escudo.

Quando consegui juntar as coisas do meu Pai muita coisa tinha desaparecido.

Tenho muitas fotografias da Guiné com alguns camaradas que ele identificou, outros não.  A saber: Raimundo, Monteiro, um camarada da Portela da Ajuda que não diz o nome e um camarada Madeirense - Jorge Arlindo da Silva.

Aparecem muitos mais mas, como disse, não se encontram identificados.

Se fosse possível gostaria de saber se há algum encontro agendado dos seus antigos camaradas e se eu poderia comparecer.

Os meus contactos são: telef. 210 883 239 e telem. 964 216 337.

Mais uma vez agradeço a sua disponibilidade.
Cumprimentos,
Paula Simões Viola

4. Mais tarde, ainda em 19 de Fevereiro de 2011, o Virgínio Briote enviava-nos o seguinte e-mail:

Assunto: César Joaquim Simões: Alguém da CCav 1482?

Paula Simões, filha do ex-Sold da CCav 1482, procura história da CCav 1482 e quer entrar em contacto com Camaradas do Pai.

Caros Luís, Carlos e Eduardo,

Transcrevo abaixo msg da filha do César Simões,  da CCav 1482.

v b

Nota: César Joaquim Simões, Sold da CCav1482, mobilizada pelo RC7, comissão na Guiné entre Out 65 e Jul 1967, condecorado com duas Cruzes de Guerra (ou é lapso ou foram mesmo duas). A primeira foi publicada na Ordem do Exército (OE 12/IIIª/67, pag. 281) e a segunda na OE 12/IIIª/67, pag.348.5. 


No dia seguinte, 20 de Fevereiro de 2011, recebemos do nosso habitual colaborador – o José Marcelino Martins -, para assuntos relacionados com informações sobre as diversas Unidades e Militares Falecidos, a quem mais uma vez agradecemos a sua preciosa disponibilidade, a seguinte comunicação:

Assunto: César Joaquim Simões: Alguém da CCav 1482?

Caros Camaradas
Segue o texto solicitado, mesmo ao findar o fim-de-semana.
Boa semana de trabalho, para quem o faz.
Semana produtiva, para aqueles "que nada fazem, mas já fizeram
José Martins



Emblemas da Companhia de Cavalaria nº 1482
© Colecção de Carlos Coutinho

A Companhia de Cavalaria nº 1482 é mobilizada no Regimento de Cavalaria nº 7, em Lisboa (criado em 1755 sob a designação de Regimento de Cavalaria do Cais), embarcando para o território da Guiné em 20 de Outubro de 1965, desembarcando em Bissau a 27 desse mês.

Sob o comando do Capitão de Cavalaria João Ramiro Alves Ribeiro, é colocada em Bambadinca para substituir a Companhia de Caçadores nº 556 e assumindo funções de intervenção e reserva às ordens do Batalhão de Caçadores nº 697. Nestas funções realizou operações nas regiões de Darsalame Baio, Ponta Varela – Poindom, além de escoltas, patrulhamentos e batidas na sua área de intervenção.

Guarnece o destacamento de Sonaco entre 17 de Novembro de 1965 e 17 de Janeiro seguinte, às ordens do Batalhão de Cavalaria nº 757.

A 6 de Abril de 1966 envia um pelotão para o destacamento de Quirafo, onde se mantém até Dezembro desse mesmo ano, e a 8 envia outro pelotão para Ponta do Inglês, iniciando, desta forma, a rotação com a Companhia de Cavalaria nº 678, vindo a assumir a responsabilidade do subsector do Xime em 14 de Abril de 1966, mantendo os destacamentos referidos, ficando no dispositivo de manobra do Batalhão de Caçadores nº 697, rendido, mais tarde pelo Batalhão de Caçadores nº 1888.

A Companhia de Caçadores nº 1550 rende a Companhia de Cavalaria nº 1482, em 11 de Janeiro de 1967, sendo deslocada para o subsector de Ingoré, rendendo a Companhia de Cavalaria nº 788, assumindo em 15 de Janeiro de 1967 a responsabilidade do subsector, destacando um pelotão para o destacamento de Sedengal. Com esta alteração a unidade fica integrada na área e dispositivo do Batalhão de Caçadores nº 1894.

Por estar a terminar a sua comissão de serviço, é rendida em Ingoré pela Companhia de Caçadores nº 1590, deslocando-se em 15 desse mês para Bissau para efectuar o regresso á metrópole, o que acontece em 27 de Julho de 1967.

[Não tem história da Unidade. No Arquivo Histórico Militar, em Lisboa, tem um resumo de Factos e feitos. Cota Caixa nº 124 - 2ª Divisão / 4ª Secção).









3ª Classe..............................................................4ª Classe
Medalha da Cruz de Guerra

É criada em 30 de Novembro de 1916 pelo Decreto nº 2870, destinada a premiar actos de coragem e bravura praticados em campanha.
Tem a forma de uma cruz templária, tendo sobreposto, ao centro o Emblema Nacional e teve, desde a sua criação, teve três desenhos diferentes, devidamente legislados em 1916, 1946 e 1971. É suspensa por uma fita de seda ondeada, com fundo vermelho, cortado longitudinalmente por cinco filetes verdes tendo, ao centro, uma miniatura da cruz de guerra.
Divide-se em 1ª classe (Ouro, cercadas de duas vergônteas de louro), 2ª classe (ouro), 3ª classe (prata) e 4ª classe (cobre), por ordem decrescente de importância, e pode ser atribuída individual e colectivamente.
Durante as Campanhas de África 1961-1974 foram atribuídas 2.634 medalhas a militares do Exército, 68 medalhas a militares da Armada e 273 medalhas a militares da Força Aérea.

Condecorados com a Cruz de Guerra
Resenha Histórico Militar das Campanhas de África (1961-1974)
5º Volume - Condecorações Militares Atribuídas - Tomo IV - Cruz de Guerra 1967:

AMILCAR TEIXEIRA
2º Sargento de Cavalaria, condecorado com a Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 22/III/67 - página 344).
ANSU SANHA
Chefe de Caçadores Nativos e Guia por acção em combate no dia 1 de Dezembro de 1966 (5ª feira), condecorado a título póstumo com a Cruz de Guerra – 3ª Classe.
(Ordem do Exército 12/III/67 - página 007).

CESAR JOAQUIM SIMÕES
Soldado de Cavalaria, condecorado com duas medalhas da Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 12/III/67 - página 7 e Ordem do Exército 22/III/67 - página 328).

CRISTOVÃO RODRIGUES LEBRES
Soldado de Cavalaria, condecorado com a Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 22/III/67 - página 347).

FERNANDO GONÇALVES MENDES
Soldado de Cavalaria Apontador de Lança Granadas Foguete, condecorado com a Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 22/III/67 - página 350).

HIGINO DOMINGUES FERNANDES DA SILVA
Furriel Miliciano de Cavalaria, condecorado com a Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 22/III/67 - página 080).

JOSÉ ORLANDO SILVA
2º Sargento de Cavalaria, condecorado com a Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 22/III/67 - página 346).

JUSTO DOS SANTOS MORCELA GAITA
1º Cabo de Cavalaria Apontador de Morteiro, condecorado com a Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 22/III/67 - página 348).

MANUEL ANTONIO DOS SANTOS PEIXE
Furriel Miliciano de Cavalaria, condecorado com a Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 22/III/67 - página 345).

MÁRIO DE JESUS MANATA
Furriel Miliciano de Cavalaria, condecorado com a Cruz de Guerra – 4ª Classe.
(Ordem do Exército 12/III/67 - página 268).

Tombados em Campanha

AMÉRICO MATEUS JORGE, Soldado Atirador de Cavalaria número 709/65, solteiro, filho de Henrique Jorge e Maria Venança, natural da freguesia de Sobral da Lagoa, concelho de Óbidos, faleceu em 16 de Janeiro de 1966, vitima de ferimentos em combate, em resultado da explosão de uma mina anticarro na estrada de Amedalai – Taibata, junto do cruzamento para Chacali. Foi inumado no Cemitério de Bambadinca na Guiné, campa nº 8.

FORE SOQUÉ, Soldado Atirador número 321/64, mobilizado do CTIG, solteiro, filho de Imbunhe Soque e Britch Quebi, natural da freguesia de são José, concelho de Bissorã, faleceu em 16 de Janeiro de 1966, vitima de ferimentos em combate, em resultado da explosão de uma mina anticarro na estrada de Amedalai – Taibata, junto do cruzamento para Chacali. Foi inumado no Cemitério de Bambadinca na Guiné, campa nº 6.

JOSÉ LUCIANO MARTINS HORTA RODRIGUES, Soldado Atirador de Cavalaria número 1027/65, solteiro, filho de João José de Araújo Rodrigues e Maria Amélia Martins, natural da freguesia de Baçal, concelho de Bragança, faleceu em 16 de Janeiro de 1966, vitima de ferimentos em combate, em resultado da explosão de uma mina anticarro na estrada de Amedalai – Taibata, junto do cruzamento para Chacali. Foi inumado no Cemitério Paroquial de Baçal.

CESAR AUGUSTO MORAIS, Soldado Atirador de Cavalaria número 1031/65, solteiro, filho de César Augusto Morais e Beatriz do Nascimento Alves, natural da freguesia de Vinhas, concelho de Macedo de Cavaleiros, faleceu em 12 de Março de 1966, vitima de ferimentos em combate, entre Ponte Verela e Poindom. Foi inumado no Cemitério de Vinhas.

Mensagem retirada da página de ultramar.terraweb-biz, com a devida vénia

2010/12/08
Mensagem de António Vaz, da Companhia de Polícia Militar 1754

Procuro os ex-militares, que ainda não contactaram com os respectivos organizadores dos Convívios Anuais, das seguintes Companhias, Pelotões ou em Rendição Individual:
ENG 1447 e 1448, Angola 1965/1967CENG 1665, Angola 1967/1969CPM 1750, Angola 1967/1969CPM 1751, Guiné 1967/1969CPM 1752 e 1753,
Moçambique 1967/1969CCAV 1482, 1483, 1484 e 1485, Guiné 1965/1967
Todas as Companhias, Pelotões e de Rendições Individuais que estiveram em S. Tomé e Príncipe desde 1961.
espondam antes que seja demasiado tardeUm abraço para todos do companheiro de armas da CPM 1754
António N. Vaz
Contacto: Telefone: 966 444 449
E-mail: kontokontigo@gmail.com

14JAN2010 - Está online o "Fórum da Companhia de Cavalaria 1482 Guiné 1965/1967" criado pela Vanda, filha de um veterano da Companhia de Cavalaria 1482

José Marcelino Martins
20 de Fevereiro de 2011
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Nota de M.R.:
Vd. o último poste desta série em:

22 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7838: Em busca de... (155): Camaradas da CART 2477/BART 2865, Cufar, 1969/70 (Ex-Alf Mil Art Francisco Valdemiro Santos)

Guiné 63/74 - P7845: Álbum fotográfico de Vasco da Gama (ex-Cap Mil, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74) (2): Aldeia Formosa, 1973; Cumbijã, 1974


Guiné > Região de Tombali > Cumbijã > Janeiro de 1974  > Foto 12> Da esquerda, Califa, o homem mais velho de Aldeia Formosa com 83 anos de idade, Aliú, chefe da antiga Tabanca do Cumbijã, eu, Sekúna (filho do Cherno Rachide, há pouco falecido, e seu herdeiro no "posto") e o Cherno da República do Senegal ( irmão do falecido Cherno Rachide).


Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > Janeiro de 1973 > Foto 9 >  Com alguns homens grandes de Aldeia. O que tem a "seta" na mão é o Califa, o homem mais velho de Aldeia Formosa e antigo chefe religioso. [Em Janeiro de 1973, o Cherno Rachide ainda era vivo, tendo presidido, em Aldeia Formosa,  à "festa do carneiro" ]. 




Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > Janeiro de 1973 > Foto 13 > A população,  na sua maioria constituída por "homens grandes",  segue a leitura do alcorão pelo Cherno Rachide. Os fatos que envergam não os usam habitualmente mas só em dias festivos como o "Ramadão" ou "Festa do Carneiro", que significa para eles o início de um Novo Ano. 



Fotos (e legendas): © Vasco da Gama (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


Mais três fotos do álbum do Vasco da Gama (ex-Cap Mil, CCAV  8351, Cumbijã, 1972/74), disponibilizadas ao Pepito e, através deste,  ao seu amigo Califa Aliu Djaló, filho do falecido Cherno Rachide) (*). 


Recorde-se, aqui, entretanto, as andanças da CCAV 8351 (1972/74) por terras da Guiné, e em especial na Região de Tombali:






(i) Cumeré,  entre 27 de Outubro e 15 de Novembro de 1972;  


(ii) Aldeia Formosa,  desde Novembro de 1972 até inícios de 73; 


(iii) a partir daqui, "dormíamos no mato na zona de Colibuía (desértica) quatro vezes por semana"; 


(iv) "ocupámos o Cumbijã em Março de 1973 e ficámos lá até finais de Junho de 1974";


(v)  O Vasco e os seus homens ainda estiveram em NHACOBÁ: "depois de ter assaltado este local em 17 de Maio de 1973, estivemos lá, dia sim dia não, recebendo ordens para aí nos  fixarmos em definitivo a 23 de Maio, e tendo abandonado esse local  às 22h00 do dia 24 de Maio após ordens superiores"); 


(vi) finalmente em Bissau,  em Julho e Agosto de 1974.
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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7844: Blogoterapia (178): Regresso ao passado (Felismina Costa)

1. Mensagem da nossa amiga tertuliana Felismina Costa* com data de 21 de Fevereiro de 2011:

Boa-tarde Amigo e Editor Carlos Vinhal
Antes que o Inverno acabe e o texto deixe de fazer sentido, envio esta dissertação sobre o meu passado.
É o recordar de um tempo que sempre valorizo, pelo que me foi oferecido, pelo conhecimento adquirido, pelo crescimento acompanhado e pelas lições de vida recebidas.

Carlos, se achar que vale a pena, publique.
Obrigada.





Regresso ao Passado

É a noite fria e ventosa que me leva, (qual máquina do tempo), ao princípio da vida.
À adolescência.
A um passado que ficou meio século para trás, vivido no meu Alentejo, sempre presente nas minhas recordações.

Enquanto aqui em casa, o vento faz bater as persianas das janelas, lá, uivava no alto da chaminé do Monte, passando apressado por entre as frestas da mesma, assobiando uma assustadora melodia, a que me habituei e que hoje, gosto de ouvir.
Cinquenta anos depois, as recordações são tão presentes na minha memória, como se tudo, tivesse acontecido… ontem.

A casa grande, de divisões de cerca de vinte metros quadrados cada, tinha um amplo corredor que as dividia: um arco a meio, ajudava a quebrar a amplidão.
Caiado de branco, à boa maneira alentejana, tinha, pendurados nas paredes, pequenos vasos de plantas pendentes, que quase roçavam o chão e embelezavam naturalmente o espaço pouco mobilado.

Abrigava as nossas vidas, modesta… mas gostosamente.

A lareira, no Inverno, acesa permanentemente, era o lugar de maior conforto.

Era o espaço social por excelência, para os de casa e para quem chegava.
Frente à lareira, um poial suportava as bilhas de água fresca que trazíamos do poço e por detrás destas, encostados à parede, perfilavam-se os alguidares de barro onde se amassava o pão e se temperavam as carnes do porco. Por baixo do poial e em nichos concebidos para o efeito, guardavam-se as panelas de barro de vários tamanhos, onde se cozinhavam os grãos, o feijão e o famoso cozido que me faz crescer água na boca. Decorando o poial, cortinas de chita coloridas embelezavam a grande e acolhedora cozinha, em cuja lareira cabíamos todos e jantávamos nas noites de Inverno.

A panela de ferro, encostada às brasas, sempre cheia de água, funcionava como esquentador, e pela manhã e ao longo do dia, a cafeteira de barro fervia o café que acompanhava, muitas vezes, as fatias de ovos ao pequeno-almoço ou as migas fumegantes em que o pai era especialista.

Sempre acordei bem disposta, fosse qual fosse a época do ano, e depois, o beijo matinal e o sorriso constante de meus pais, criavam e desenvolviam o ambiente propício para a minha alegria de viver.

O trabalho era um prazer.

Durante o Inverno, muitos dias não se podia sair de casa porque a chuva não deixava, mas em casa havia sempre que fazer. O pronto-a-vestir, praticamente inexistente, fazia com que as mulheres tivessem a seu cargo a confecção das roupas da sua prol, o que absorvia imensas horas da sua vida, e assim, o tempo das chuvas, era tempo de costurar, de fazer croché, de fazer tricô, de bordar, enfim, mil afazeres que ocupavam a mulher permanentemente.

Aos serões… crescia-se.

As histórias verdadeiras, eram-nos apresentadas na descrição dos nossos pais, que ao serão recordavam igualmente o seu passado, a sua origem, as suas saudades, no sossego daquele lugar, que só uma guerra em África preocupava já a tranquilidade de todos os lares, quer dos que lá tinham família, como daqueles que estavam ainda a criar os filhos e já sofriam por antecipação a sua ida para lá, uma vez que não se vislumbrava o fim do conflito.

Menina e primogénita, eu era a confidente, a que tinha o maior contacto com a realidade, por ser capaz de compreender melhor, e assim me tornei, grande companheira e amiga da nossa saudosa mãe, cujas dificuldades económicas faziam dela uma mulher dos sete ofícios.

Ninguém como ela engomava e lavava a nossa roupa.
Ninguém como ela fazia do velho novo, dando graça e beleza a cada peça.
Ninguém como ela educava contando-nos poesias moralistas.
Ninguém como ela amava a natureza, que ela própria ajudava a tornar bela e produtiva.
Ninguém como ela alindava a nossa casa.
Ninguém como ela sabia receber e valorizar o ser humano.
Ninguém como ela para nos amar e ensinar a amar o próximo.
Ninguém como ela para valorizar o conhecimento, a formação… os valores.

Jovem ainda, (que jovem era) quarenta anos, tinha à data a nossa mãe, mas sempre que recordo as suas palavras, vejo nelas a experiência de uma pessoa idónea.
Rapidamente a vida nos dá conhecimento, porque tão breve passa.
O que ficou para contar de uma vida breve, é tanto e tão prazeroso, que volto lá com o maior prazer e frequência.

Em dias de Inverno, vejo a sua preocupação em relação ao nosso bem-estar, proporcionando o conforto possível, numa terra, que tanto gelava no Inverno, como abrasava no Verão, mas… nada pesou mais que o seu carinho e toda a sua capacidade de ultrapassar dificuldades… rindo-se delas.

Nesta noite fria de Inverno, fui capaz de voltar atrás cinquenta anos e partilhar convosco o tempo da minha adolescência, tão grato que me perco a recordar.

Obrigada.

Felismina Costa
Agualva, 17 de Fevereiro de 2011
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 14 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7781: Blogpoesia (113): Mulher, minha irmã (Felismina Costa)

Vd. último poste da série de 20 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7824: Blogoterapia (177): A minha gratidão, com um abraço do tamanho do mundo, a todos os que se preocuparam com o meu estado de saúde (Rui Ferreira)

Guiné 63/74 - P7843: Estórias avulsas (49): Passeio turístico a um acampamento do PAIGC em Satecuta em 1971 (Jorge Silva, ex-Fur Mil Art, CART 2716 / BENG 447, Xitole e Bissau, 1971/73)


1. O nosso Camarada Jorge Silva (ex- Fur Mil At Art da CART 2716, Xitole 1971/72, e BENG 447, Bissau 1972/73) (*), enviou-nos em 21 de Fevereiro de 2011 a seguinte mensagem:

Luís Graça, anexo um relato de uma operação a Satecuta - 1971 - CART 2716, bem como uma foto minha da época. Se tiver interesse para publicação, pode utilizar.

1971 - Passeio turístico a um acampamento do PAIGC em Satecuta...

Incluído na CART 2716 (Guiné - Xitole), em 11 de Julho de 1971, integrei a operação Quadrilha Sagaz a Satecuta, onde, depois de termos os dois guias feridos num primeiro confronto, fomos forçados a retirar, sofrendo mais duas emboscadas.
Ao chegarmos às imediações de Satecuta, fizemos uma paragem para aguardar pelo nascer do sol, de forma a podermos desencadear o ataque com a luz do dia. No entanto, uma patrulha de dois elementos do PAIGC aproximou-se da nossa posição.
A escassos cinquenta metros do ponto onde nos encontrávamos, e sob a mira de dezenas de G3, os dois patrulheiros fizeram-nos crer que não nos tinham localizado e, com um sangue frio impressionante, estiveram alguns momentos no local, como se executassem meras rotinas de patrulhamento.
De súbito, os dois guerrilheiros desapareceram no arvoredo, ao mesmo tempo que dispararam na nossa direcção rajadas de costureirinha que, no acampamento do PAICG, soaram como uma estridente sirene de alarme.
A ordem sensata do Cap Mil Espinha de Almeida para que ninguém disparasse, não tinha servido de nada, pois, pelos vistos, a nossa presença já estava há muito denunciada.
Se tivessemos connosco uma bolinha de cristal que nos ajudasse a antever o futuro, aqueles dois ousados guerrilheiros tinham ficado ali mesmo, com os corpos cravejados de balas, pois, entre serem eles ou nós a dar o alerta, teríamos preferido, seguramente, que o som de alarme se assemelhasse ao das rajadas da G3.
Mas, vistas as coisas com os olhos de hoje, ainda bem que assim foi, pois, no mínimo, pouparam-se duas vidas que são bem mais preciosas do que os troféus que naquela altura pudéssemos exibir.
Depois de ficarmos a saber o que nos esperava, não havia outro remédio senão avançarmos rumo a Satecuta, que estava ali tão próxima. Foi o que fizemos, mas como se esperava a marcha foi curta, pois o PAIGC interrompeu-a com uma primeira emboscada, conseguindo a proeza de nos ferir os dois guias guineenses, que tiveram de ser evacuados de helicóptero.
Durante essa primeira emboscada, afigurou-se-nos que vinham rajadas do cimo de uma árvore. O Fur Mil Rei, que adorava dilagramas (granadas disparadas com a G3), disparou um para a copa da árvore suspeita, tendo provocado uma nuvem de folhas. E a sensação de que daí provinham rajadas desapareceu de imediato, embora nunca soubéssemos se alguém do PAIGC foi atingido.
Sem guias ficámos sem rumo. E a solução óbvia foi retirar. Sentimos naturais dificuldades para encontrar o caminho de regresso, pois para quem nasceu e cresceu no meio de vilas e cidades, com ruas e avenidas para poder circular, os pontos de referência no meio do mato são extraordinariamente difíceis de distinguir. No meio do arvoredo, com as tensões ao rubro, ao citadino tudo parece igual!
Sem conhecermos o rumo certo, tivemos a sensação de que tínhamos caminhado em círculos, sem conseguirmos avançar. E, entretanto, para aumentar a sensação de desorientação, sofremos mais duas emboscadas, que, para além do susto e das tensões produzidas, felizmente não tiveram mais consequências. Debaixo de fogo os ponteiros do relógio parecem parar enquanto a adrenalina acelera, o que provoca a sensação amarga de que o ataque dura uma eternidade!
Para identificarmos a direcção correcta do regresso valeu-nos a preciosa ajuda de um helicóptero que, com alguns voos bem direccionados, nos assinalou o sentido contrário ao que seguíamos como sendo o caminho para a Ponte dos Fulas, por onde tínhamos necessariamente de passar para voltarmos, sãos e salvos, ao quartel do Xitole.
Finalmente lá conseguimos chegar incólumes ao Xitole, onde o balão das tensões acumuladas se esvaziou num ápice com a ajuda de umas bazucas (cervejas de meio litro) e a recepção solidária e calorosa que só quem esteve em idênticas circunstâncias tem condições para valorizar.
Como os turistas que fizeram parte dessa excursão se esqueceram de levar máquinas fotográficas ou máquinas de filmar, lamento não ter imagens para documentar o relato. (**)

Um abraço,
Jorge Silva
Fur Mil At Art da CART 2716/BART 2917 e BENG 447
____________

Nota de M.R.:

(*) Vd. poste de > 23 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6890: Tabanca Grande (237): Jorge Silva, ex-Fur Mil At Art, CART 2716 (Xitole, 1971/72), e BENG 447 (Bissau, 1972/73)

(...) Chamo-me Jorge Silva, ex- Furriel Miliciano, atirador de artilharia. Mobilizado em rendição individual, estive na Guiné entre 01/05/71 e 24/04/73.

De 1971 a 1972 estive no Xitole (CART 2716), juntamente com o David Guimarães, entre muitos outros. Como a CART 2716 regressou em Março de 1972, ingressei (milagrosamente) no Batalhão de Engenharia de Bissau (BENG 447). Depois de aceder ao seu blogue (e a outros que se lhe ligam) resolvi puxar pela memória e escrever algo, à medida que vai saindo.
Em breve terei fotos (minhas) e da época para partilhar. Como não sabia como fazer para utilizar o seu blogue (se tal é possível), resolvi criar um, Amigos do Xitole (http://cart2716.blogspot.com/) onde já publiquei 2 temas. (...)

(**) Vd. o último poste desta série em:

20 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7823: Estórias avulsas (103): Pedaços da vida dum bígamo... (Belmiro Tavares)

Guiné 63/74 - P7842: Memória dos lugares (142): Bissau, Santa Luzia, Clube de Oficiais, Outubro de 1973 (António Graça de Abreu, ex-Alf Mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74)

Guiné > Bissau > Outubro de 1973 > Foto 7 > Bissau vista do ar


Guiné > Bissau > Outubro de 1973 > Foto 16 > - Avenida Principal: Comparar o estado da avenida em Outubro de 1973 com o estado actual [...Av da República, Hoje, Av Amílcar Cabral,  ao fundo, o Palácio do Governador, e a Praça do Império;   a meio,  à direita, a Catedral de Bissau, e à esquerda, a Casa Gouveia; originalmente, a imagem estava invertida por erro de digitalização, conforme o próprio António Graça de Abreu nos alertou: de facto, a Av da República vinha da Praça do Império ao Cais do Pidjiguiti,  tendo no final a estátua de Nuno Tristão; no sentido ascendente, ou seja,  do Pidjiguiti para a Praça do Império, tinha à esquerda a Casa Gouveia e mais à frente, à direita, a Catedral; o erro foi corrigido pelo nosso co-editor CV ].



Guiné > Bissau > Outubro de 1973 > Foto 21 >  Cais de Pidjiguiti



Guiné > Bissau > Outubro de 1973 > Foto 22 > [O António Graça de Abreu, no regresso de férias na Metrópole,  na ] piscina do Clube de Oficiais, Santa Luzia [,  enquanto aguardava transporte para o CAOP1,em Cufar].


Fotos (e legendas):  © António Graça de Abreu (2011). Direitos reservados


1. Mensagem do António Graça de Abreu, com data de 6 do corrente:


Publiquem, se acharem oportuno.Deve ser a minha última intervenção por uns tempos no blogue. Sexta, 11 de Fevereiro vou para Xangai e só regresso a 22 de Março. Na China tudo quanto é blogue é cortado.


As excelentes fotos do António Teixeira recordaram-me o Clube de Oficiais, em Santa Luzia, Bissau. Envio foto comprovativa da estada (era um rapazinho tão elegante e bonito!, éramos todos!...) e texto do meu Diário, em Outubro de 1973, acabadinho de chegar de 35 dias de férias em Portugal.


Abraço,


António Graça de Abreu


2. Excerto do Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (Lisboa: Guerra e Paz, Editores, SA, 2007), p. 150:


Bissau, 26 de Outubro de 1973


O regresso normal a Bissau, a viagem igualzinha às outras duas. E, tal como da última vez, tive de utilizar os serviços de barbearia do Clube de Oficiais para cortar o cabelo e me apresentar no Quartel-General com o digno aspecto de um oficial do exército.



São dez da manhã, escrevo à sombrinha junto da piscina do Clube de Oficiais que acabou de ser lavada e ainda está a encher. Durante a noite, mergulharam de cabeça para a piscina uns cinquenta sapos, anafados e feios, tiveram de os tirar lá e de lavar e desinfectar a piscina. Só quando estiver de novo cheia autorizam o mergulho de cabeça, ou de pés, a oficiais do exército.


De Lisboa, trouxe um pequeno gravador de cassetes que me faz boa companhia. O José Mário Branco canta, só para mim, o “Casa comigo, Marta”.


Vou permanecer em Bissau mais uns dias, aqui vive-se melhor do que em Cufar. Hoje voaram Nordatlas e hélis lá para baixo, mas eu fiz de conta que não sabia. Em vez de ser eu a tratar de obter transporte, espero que sejam os tipos das repartições a marcar-me a viagem. Fico mais folgado nesta cidade pacífica, fico sobretudo mais seguro.


Por aqui é vida de Clube de Oficiais, piscina (sem sapos!), almoçar, jantar, dormir, ouvir as histórias da guerra, as aldrabices, os boatos. E comprovar como está baixa a moral de toda a tropa.

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Nota de L.G.:

Último poste da série > 21 de Fevereiro de 2011 >Guiné 63/74 - P7831: Memória dos lugares (141): Bedanda vista por António Teixeira, ex-Alf Mil da CCAÇ 6 (1971/73) (3)

Guiné 63/74 - P7841: Convívios (292): Almoço de confraternização do pessoal da CCAÇ 2464, dia 30 de Abril de 2011 em Fátima (António Nobre)

1. Mensagem de António Nobre* (ex-Fur Mil, CCAÇ 2464/BCAÇ 2861, Buba, Nhala e Binar, 1969/70), com data de 21 de Fevereiro de 2011:

Meu caro Carlos
Se porventura vislumbrares algum interesse na publicitação no nosso Blog, estou a remeter-te informação de mais um Almoço de Confraternização da minha Companhia, concretamente a CCAÇ 2464 e que ocorrerá no próximo dia 30 de Abril em Fátima.

Junto igualmente uma foto de um dos nossos almoços que habitualmente contava com a presença do Senhor General António de Spínola que infelizmente já nos deixou.

Um abraço para todos vos do
Antonio Nobre


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Nota de CV:

(*) vd. poste de 12 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6976: Tabanca Grande (243): António Nobre, ex-Fur Mil da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861 (Buba, Nhala e Binar, 1969/70)

Vd. último poste da série de 10 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7753: Convívios (207): 9º Encontro da Tabanca do Centro (Joaquim Mexia Alves)

Guiné 63/74 - P7840: VI Encontro da Tabanca Grande, dia 4 de Junho em Monte Real (1) Marcada a data para 4 de Junho de 2011 (A Organização)

VI ENCONTRO DA TABANCA GRANDE

4 DE JUNHO DE 2011

PALACE HOTEL MONTE REAL


1. Como se diz na gíria jornalística (quando se fala de imagens), sem editar, aqui está a mensagem do nosso camarada Joaquim Mexia Alves, recebida hoje na nossa redação, desculpem, no nosso Blogue:

Meus caros camarigos
Marcada a data para o 4 de Junho, vamos então confirmar o seguinte:

1 – Valor da ementa por pessoa: 30,00€

2 – Valor de alojamento no Palace Hotel Monte Real

- Duplo: 60€ APA
- Single: 50€ APA

Preços especiais para este encontro.

Anexo a ementa.

As fotos podemos servir-nos das do ano passado.

Vamos calmamente arrancar com isto, até para que não marquem encontros para este dia.

Assim sugiro que o "anúncio" seja feito o mais breve possível na Tabanca Grande

Como nos outros anos, sugiro que o Carlos coordene as inscrições e que as reservas para alojamento sejam feitas com a bervidade possível e logo me sejam indicadas.

Estamos a "falar" de um fim de semana já de início de Verão com as Termas abertas e por isso com algumas possibilidades de "dificuldades" de alojamento.

O Miguel vai-se aprontando para os respectivos crachás, pois claro!

Cá fico à disposição.

Um forte e amigo abraço do
Joaquim



2. Há que esclarecer que esta mensagem não caiu sem mais nem menos no Blogue.

Como não houve reclamações em relação ao serviço e instalações no último Encontro da Tabanca Grande, bem antes pelo contrário só houve elogios, a comissão ad hoc para o VI Encontro, após consulta à disponibilidade do Palace Hotel de Monte Real, encontrou disponível só o primeiro fim de semana de Junho.

Estamos assim a dar o pontapé de saída para o VI Encontro da Tabanca Grande que se vai realizar no dia 4 de Junho de 2011 no Palace Hotel de Monte Real.

As inscrições estão abertas a partir deste momento, devendo ser feitas a devido tempo para evitar problemas logísticos ao camarigo Mexia Alves que, no terreno, tudo vai fazer para que nada falhe.

Como nos anos anteriores, eu (para quem ainda não me conhece), Carlos Vinhal, vosso fiel servidor, serei o fulcro das inscrições. Sem prejuízo do envio das mesmas para o Mexia Alves, convém que me seja dado conhecimento para que as listas se mantenham actualizadas.

Provavelmente haverá camadas que não irão estar presentes porque a data não lhes convém, a eles pedimos desde já desculpa, mas não se encontrou alternativa, a menos que se adiasse o convívio lá para Setembro, já com os dias mais curtos e frescos.

A exemplo dos anos anteriores, no envio da inscrição devem mencionar o nome da vossa companheira, necessidade ou não de alojamento, para que dias, e o local de onde se deslocam. 
Os tertulianos que inscrevam camaradas não pertencentes à tertúlia, devem-nos identificar com o nome e apelido, se possível indicando os seus contactos telefónicos ou electrónicos.

Por muito que me custe falar do assunto, para não ferir susceptibilidades, sou obrigado a lembrar que no ano passado faltaram alguns camaradas inscritos, e todos nós tivemos que pagar um pouco mais do que o previsto, porque o Restaurante não "perdoou" essas faltas. Vale mais uma inscrição à última da hora do que estar em inscrito e não comparecer. Ninguém faltou de propósito, nem por má fé, temos a certeza, mas se avisarem da vossa indisponibilidade com 72 horas de antecedência, evitam-se sobrecargas aos presentes.

EMENTA:



A organização do Encontro será mais uma vez fruto da iniciativa do nosso Editor Luís Graça e do nosso camarada Mexia Alves. São colaboradores (os melhores no ramo após pesquisa no mercado), Miguel Pessoa que se dedicará à feitura dos crachás e controle das inscrições, e dos co-editores Carlos Vinhal, recepção e feitura da lista de inscrições, e Eduardo Magalhães mais liberto, mas atento, porque ainda tem a EDP como actividade principal e todos precisamos que ele continue  a dar à luz.

Quem de algum modo queira colaborar na organização do evento ou no próprio dia, por favor não se acanhe porque há trabalho para todos. Aceitam-se ideias e iniciativas que contribuam para o são convívio entre os camarigos.

Feita esta primeira abordagem, esperamos as primeiras inscrições.
Contamos convosco para superar o número de participantes no V Encontro.
Os camaradas que entraram mais recentemente para a tertúlia (salta periquito)  não podem perder a oportunidade de vir conhecer os mais velhinhos, porque são já uma instituição.

Pela Organização
Mexia Alves/Carlos Vinhal

Guiné 63/74 - P7839: Notas de leitura (208): Antologia Poética da Guiné-Bissau (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Fevereiro de 2011:

Queridos amigos,
Para sermos sinceros, a lírica da Guiné-Bissau carece de originalidade, faz muito recurso do óbvio, dos sons tonitruantes, bombásticos ou da rima apurada pelo menor denominador comum.
Manuel Ferreira, com cuidado, nesta edição de 1990, alertava para a necessidade de esperar pelos arroubos líricos da identidade da Guiné-Bissau. Resta saber o que há de verdadeiramente singular na poesia dos últimos 20 anos.
Quem tiver essa poesia disponível para nos emprestar, bem se agradece.

Um abraço do
Mário


Poetas da resistência e da luta, dos afectos e dos sonhos

Beja Santos

A “Antologia Poética da Guiné-Bissau”, com prefácio de Manuel Ferreira (Editorial Inquérito, 1990) é um importante documento sobre o estado da lírica guineense, cerca de 16 anos após a independência de facto do país. É uma lírica de combatentes com cultura superior e cujos temas nucleares são, regra-geral: a denúncia do colonialismo e a firme aposta na luta armada; a declaração política pela resistência ou a valorização das raízes africanas; a exaltação do amor e os sentimentos de saudade e nostalgia pelo ausente. É incontestável que os poetas mais velhos de modo algum enjeitam a raiz neo-realista, mesmo numa toada mais livre e solta; há, igualmente, o conhecimento dos clássicos e a busca (por vezes rebuscada) de manejar as palavras para fazer do estro um quase panfleto para animar os combatentes.

Já se falou de Amílcar Cabral e seguramente do seu poema mais interessante Ilha. Vasco Cabral, a quem já se dedicou aqui uma recensão a propósito do seu livro A Luta é a Minha Primavera, foi um dos fundadores do PAIGC e teve funções elevadas no aparelho partidário. O seu acervo poético tem três direcções pronunciadas: a exaltação heróica da luta; o cântico pelos humilhados e indefesos; a entrega dolente aos afectos e à mãe África. Vejamos o Vasco Cabral do panfleto e do chamamento à luta:

 Firmeza

Os carrascos torturaram-me.
Aumentaram as pancadas
os insultos
os requintes.
E eu disse aos carrascos:
Só amanhã trairei, hoje não!

No amanhã cresceram as torturas
os insultos
os requintes.
e eu disse aos carrascos:
só amanhã trairei, hoje não!

Noutro amanhã cresceram mais as torturas
os insultos
os requintes.
e eu disse aos carrascos:
jamais trairei. Talvez ontem, hoje não!

E ecoaram nas minhas entranhas
as gargalhadas da morte.
Depois, o resto é silêncio.
__________

Hélder Proença foi co-organizador e prefaciador da primeira antologia da poesia guineense Mantenhas para quem Luta! Exerceu cargos políticos no PAIGC. É um poeta do sonho e da esperança, sopra as trombetas do futuro, é um lirismo temperado pelo gosto de cantar a terra e a ternura da mulher, é um intimista bem singular no contexto desta poesia guineense. Vejamos

Epigrafe

Não há espaço que não caiba
no meu coração
não há Pátria que não desagúe lentamente
como flor, no meu peito.
Tenho em mim
o espaço igual
ao Homem que se ergue
nas pétalas das manhãs
que não cessam de nascer.
__________

Agnelo Regalla é também político e esteve ligado profissionalmente à comunicação. Usa a poesia como uma arma, uma palavra de ordem ou estribilho, isto a par de um gosto pronunciado pelo cultivo do amor numa estreita ligação às raízes africanas. Mas é a chamada à exaltação panfletária que comanda a sua toada heróica.

Quinhentos anos de história

Quinhentos anos de história
(Sem história…)
Quinhentos anos de escravidão e exploração,
Quinhentos anos sem luz.
Os transatlânticos
Não chegaram ao Pindjiquiti,
E os estivadores morreram…
De fome e de balas no Pindjiquiti.
Quinhentos anos de tormento
Em que as mães choraram
(E ainda choram…)
Em que os bombolons clamaram vingança,
Para que a Guiné acordasse
__________

António Soares Lopes Júnior é um homem de comunicação e é jornalista. O que o distingue é a paixão pelo homem novo, o libertado do colonialismo, embala-se no sonho e deixa-se guiar pelo lirismo puro, um português singelo que fala guineense.

Uma Lágrima

Na pétala
da flor
na dor
do tarrafe
do geba
soluçando

pousei
uma lágrima
do meu pranto

…e pindjiquiti
ardia
nas ondas
do meu coração.

(continua)
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 19 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7819: Notas de leitura (206): Antologia Poética da Guiné-Bissau (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 21 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7834: Notas de leitura (207): Antologia Poética da Guiné-Bissau (António Tavares)