quarta-feira, 6 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8518: Os nossos médicos (35): Mais nomes de clínicos do HM241 do meu tempo (J. Pardete Ferreira)

1. Comentário, de 30 de Junho,  do J. Pardete Ferreira ao poste P8482 (*):

 
Naquela madorna, antes de adormecer, por não conseguir lembrar-me de todos os nomes, alguns dos quais eu via distintamente, aqui vão mais uns nomes:


(i) Sérgio Rosa, Medicina Interna;

(ii) Calheiros Lobo, Anestesia e Pediatria (O irmão mais velho, o Cirurgião, já falecido,veio substituir o Bruges e Saavedra), o Calheiros, Anestesista;

(iii) Oliveira e Sá, Medicina Legal;

(iv) O Oliveira, Ortopedista (que, mobilizado por engano, foi-lhe dada a Comissão como cumprida ao fim de... cinco dias!);

(v) O Oliveira que foi ferido por um furriel miliciano e que veio para o HM241 com uma ferida arterial grave, bem com outra, igualmente grave, nas partes mais íntimas;

(v) O Ruy de Brito, Cardiologista, falecido este ano;

(vi) O Oftalmologista que também era 2º Director, (Desculpe ó Colega), o Psiquiatra "barrigudo", como eu agora, (Desculpa lá pá!) que defendia a necessidade de se usar a camisola do FC Porto para se entrar na equipa Cirúrgica;

(vii) O Neves e Castro,  da equipa cirúrgica, o pai dos dois meninos [ Casto] e veio do Porto para a Medicina interna.


Para terminar só vos vou chatear com os que foram depois do meu regresso ao Puto, alguns dos quais, conheci, e bem, noutras lides:

(viii) O Dr. Caixeiro, Director;

(ix) O Prof Fernando Paredes, outro dos meus Patrões em Santa Maria, Cirurgião Plástico, Director do Hospital e Chefe dos Serviços de Saúde.

Se quiserem, continuo na lengalenga com os Oficiais não médicos, com a classe de sargentos, com a de praças e outros.


Mas guardo-me para ir contando as histórias tal como eu as vivi e estou-me perfeitamente nas tintas para aqueles que viveram as mesmas histórias de outra maneira. O que eu não admito é que me chamem, directa ou indirectamente, mentiroso!


Metam isto nas monas uma vez para sempre! Todas as operações que ajudei quer no HM241 quer no Hospital Civil de Bissau, tenho-as registadas em livros próprios, assinadas pelos respectivos directores e com o selo branco em todas as folhas - são documentos oficiais, igualmente registados nos respectivos Hospitais (bem no 241, provavelmente só resta a minha cópia).

Perguntem ao Benjamin Durães quem é que o recebeu no Posto de Socorros da urgência do HM24,  após o seu desastre em Bambadinca, creio.


Adeus e até ao meu regresso.

___________________

Nota do editor:


(*) Vd. poste de 28 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8482: Os nossos médicos (28): Diamantino Lopes, cirurgião do HM241, praxista coimbrão, com grande sentido de humor (António Paiva / J. Pardete Ferreira)

Guiné 63/74 - P8517: Blogoterapia (183): Muito obrigado pelas vossas preocupações com a minha saúde (Mário Fitas)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Fitas (ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 763, Os Lassas, Cufar, 1965/66) recebida há momentos no Blogue:

Caros amigos desta Grande Tabanca,
Tem este e-mail o fim de vos agradecer todos os cuidados e preocupações pela minha saúde. 

Felizmente já me encontro em casa e a fazer boa recuperação.

Ainda não estou em condições de abrir todo o correio e fazer o agradecimento pessoal a todos os amigos que, das diferentes formas, solidariamente se foram interessando pelo meu estado de saúde.

Ser for possível, agradeço a publicação desta mensagem.

Até breve!

Para toda a Tabanca Grande o velho abraço do tamanho do Cumbijã,
Mário Fitas


2. Comentário do Editor

Caro Mário, com a certeza de que estou a falar em nome de toda a tertúlia, quero expressar os nossos mais fervorosos votos de que a tua recuperação seja total, mesmo que demore mais um pouco.

Mantém-te um pouco à margem do Blogue por mais uns dias, e depois poderás ler tudo com mais calma. Se vires algo que não te agrade, chama o Sargento de Dia que ele resolve.

Deixo-te um abraço e a certeza de que em breve estarás de novo operacional.

Pela malta

Carlos Vinhal
___________________

Nota do editor:

Vd. último poste da série de 19 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8448: Blogoterapia (182): A primeira vez! - Em Monte Real (Carlos Pinheiro)

Guiné 63/74 - P8516: As nossas melhores fotos (3): Na senda do Cap Imaginário que eu conheci em Gadamael Porto, em 1974 (Joaquim Sabido, 3ª CART / BART 6520 e CCAÇ 4641, 1973/74)


Guiné > Região de Tombali > Gamael > Maio de 1974 > A primeira visita do PAIGC à tabanca e aquartelamento de Gadamael: Em primeiro plano, ao centro, o Comandante do COP5 (Cap Ten Fuzo Patrício ); do seu lado direito está o comissário político do PAIGC, de cigarro russo na boca. O nosso camarada José Gonçalves está atrás, na segunda fila,  entre os dois. Por sua vez, o capitão Pimentel, comandante da CCAÇ 4152 (***),  está ao lado do José Gonçalves, por detrás do Comandante Patrício. 


Guiné > Região de Tombali > Gamael > 1974 > O capitão Peixoto da CCAV 8452, de T-shirt branca com o seu nome estampado. De lado estão dois capitães do COP5 e de costas o Alf Mil Lobo, da CCAÇ 4152, a minha companhia. Esta foto foi tirada na messe de oficiais da CCAV 8452, construída com troncos e chapas de lata (**).

Fotos (e legendas): © José Gonçalves (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

1. Comentário do nosso camarada Joaquim Sabido  [, foto à direita,] com data de 5 do corrente, ao poste P7187 [ O Joaquim Sabido é hoje advogado, reside em Évora e esteve presente no último encontro em Monte Real]: 


Caros Camaradas:

Att. José Gonçalves e C. Martins, porque se encontravam em Gadamael quando as fotografias foram obtidas, gostaria que, se ainda vierem a estes comentários [ao poste P7187], me confirmassem se o capitão que aparece na 1ª foto, ao lado direito do Comandante Patrício e na 2ª foto, ao lado esquerdo do Cap 
 Peixoto, não é o Cap Imaginário ? (****)

Na 1ª foto, ao lado esquerdo do comandante Patrício, aparece o cabo fuzileiro Pedras, o de barbas e com avantajada envergadura.

No comentário do Zé Gonçalves, do dia 30 de Outubro, [ ao supracitado poste  
P7187, ] posso confirmar que as posições que bombardearam após a visita do Comissário, foram para auxiliar o pessoal que se encontrava em Jemberém [ou Iemberém, como se diz hoje], pois continuámos a embrulhar e bastante nos ajudaram, especialmente o C. Martins, com os seus 14.

Um Abraço a todos os Camaradas, do

Joaquim Sabido, Évora
ex-Alf Mil Art,
3.ª Cart/Bart 6520/73 
e CCaç 4641/73
(Jemberém, Mansoa e Bissau, 1974)
_________________

Notas do Editor:

(*) Ultimo poste da série > 27 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8476: As nossas melhores fotos (2): O Major Pereira da Silva, num zebro, no Rio Mansoa, com outros oficiais, incluindo eu (J. Pardete Ferreira)

(**) A CCAV 8452/72 foi mobilizada pelo RC 4. Partiu para a Guiné a 29/5/1973 e regressou 6/9/1974. Esteve em Gadamael, Cacine, Cumeré e Brá. Comandante: Cap Mil  Cav José Ferreira Rodrigues Peixoto.Fonte: Matos Gomes, C.; Afonso, A. - Os anos da guerra colonial: volume 14: 1973 - Perder a guerra e as ilusões.  Matosinhos: QuidNovi. 2009.

(***) CCAÇ 4152/73:  Mobilizada pelo RI 1. SWeguiu oara a a Guiné em  29/12/1973 e regressou a 12/9/1974.   Esteve em Gadamael e Cufar. Comandante: Cap Mil Inf Rodrigo Belo de Serpa Pimentel. Fonte: Matos Gomes, C.; Afonso, A. - Os anos da guerra colonial: volume 14: 1973 - Perder a guerra e as ilusões. Matosinhos: QuidNovi. 2009.

(****) A única referência (lacónica) que temos no nosso blogue é do próprio Joaquim Sabino: (...) "Sr. Capitão Imaginário, que tive o grato prazer de conhecer em Gadamael Porto, aquando da minha visita ao local [, em 1974]".
 
Pergunta-se: Seria um oficial ligado ao COP5 ? Ou comandante de alguma companhia operacional ?

Guiné 63/74 - P8515: O Nosso Livro de Visitas (113): Virgílio Valente, a viver e a residir em Macau, ex-Alf Mil, CCAÇ 4142 (Gampará, 1972/74)


Actual brazãod e armas de Macau, terra indelevelmente ligada à nossa história, à nossa cultura e ao nosso imaginário e sobre a qual o nosso poeta António Graça de Abreu escreveu este belíssimo poema:

Macau, na foz de um rio de pérolas.
A cidade cicia segredos,
envolta em bruma.

Macau,
exultação e júbilo.
Festas na alma.

Macau,
as portas da baía
abertas para o coração dos dias. (...)



1. Mensagem de Virgílio Valente:

Data: 4 de Julho de 2011 11:35

Assunto: Blogue Luis Graça e Camaradas


Olá. Sou VIRGÍLIO VALENTE, actualmente a viver e a residir em Macau, amigo de muitos dos amigos do Blogue Luís Graça e Camaradas, nomeadamente do António Estácio, que recentemente lançou o livro Nha Bijagó.


Fui alferes miliciano, atirador e com a especialidade de minas e armadilhas, na Guiné, mais precisamente em Gampará, de 1972 a 1974, na CCAÇ 4142.

Cheguei a Bissau a 16 de Setembro de 1972 e fui directo para o Cumeré e depois para Gampará, por LDG, em Outubro de 1972 donde só saí em meados de Agosto de 1974, tendo chegado a Lisboa a 30 de Agosto de 1974.

Soube deste blogue pelo camarada e amigo Manuel Amante da Rosa, do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Cabo Verde, que foi Secretário-geral do Forum Lusófono aqui em Macau, até finais de Junho deste ano.

Gostava de enviar um abraço de parabéns aos responsáveis pelo blogue e pretendo colaborar neste mesmo blogue pois também tenho muitas recordações para partilhar.

Da minha Companhia ainda só encontrei um comentário. Mas a verdade é que o tempo também tem sido pouco para fazer mais buscas.

Um abraço também ao António Estácio pelo seu livro.

Sou sócio honorário da Associação dos Guineenses e Amigos da Guiné, em Macau.


Um abraço a todos os amigos e camaradas que contribuem para o blogue e para a divulgação de tantas histórias da Guiné, fazendo assim História.

Virgílio Valente
Macau, China
Telemóvel + 85366808034

«Quem fica na ponta dos pés, tem pouca firmeza» / «He who tiptoes cannot maintain equilibrium».


2. Comentário de L.G.:

Meu caro camarada Virgílio: Não precisas de mais nem de melhores cartas de apresentação, Guiné, Gampará, Rio Corubal, CCAÇ 4142, Macau, António Estácio, Manuel Amante da Rosa... 

Entra e senta-te no bentém na nossa Tabanca Grande, sob o nosso secular, mágico, fraterno, frondoso poilão que já dá sombra, protecção e inspiração a mais de meio milhar de amigos e camaradas da Guiné... 

Manda as duas fotos da praxe (uma antioga e outra actual) e começa a contar as tuas histórias de Gampará e da CCAÇ 4142 de que, infelizmente, não temos nenhum representante inscrito... Julgo que serás o primeiro e seguramente bem vindo. 

Um Alfa Bravo para ti e para os nossos camarigos Estácio e Amante da Rosa.
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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8342: O Nosso Livro de Visitas (112): Campelo de Sousa, ex-radiotelegrafista de rendição individual (Bafatá, 1970; Nova Lamego, 1971/72), relembrando a sua passagem por Bambadinca

terça-feira, 5 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8514: Convívios (358): Almoço, em Beja, em 19 de Julho de 2011, comemorativo dos 50 anos do embarque, no T/T Ana Mafalda, do pessoal do BCAÇ 236 e Pel Mort 16 e 17 (Mário Costa)

1. O nosso Camarada Mário Costa, ex-1º Cabo Op Cripto do BCAÇ 236, solicitou-nos a divulgação do seguinte programa festivo.

Almoço/Convívio comemorativo dos 50 anos (que se cumprirão no dia 19 de Julho de 2011), do embarque no "Ana Mafalda"


CAMARADAS E AMIGOS

Venho pedir em nome de uma comissão "ad hoc" o obséquio da divulgação deste convívio, que pretende realizar a comemoração de tal efeméride.

De notar que temos muita dificuldade em contactar os restantes camaradas deste tempo por falta de endereços, já que os que temos disponíveis referem-se ao período em foram desmobilizados (ano 1963).


Talvez a "Tabanca Grande" dê uma ajuda para encontrar a malta.

Aceitem o penhor do nosso reconhecimento.

Pela Comissão,
Mário Costa 1º Cabo Op. Cripto do BCAÇ 236

P.S. Já não é a primeira vez que escrevo, pedindo esclarecimento relativamente ao dia (exacto) do começo das hostilidades da guerra na Guiné, aquando do ataque ao Comando do BCaç 237 sediado em Tite.

Já encontrei na Tabanca Grande um relato muito bem escrito por em camarada que viveu aquela trágica noite e cujo nome agora não recordo.

Estimo que terá sido na noite de 22 para 23 de Janeiro de 1963. Eu e o meu camarada, também do BCaç 236, Bartolomeu Elias quando estávamos de serviço no Centro Cripto do QG, tomámos conhecimento do primeiro "morto em combate", o Veríssimo, um Ribatejano, segundo julgo saber da Chamusca.
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Notas de MR:

Aproveito a oportunidade para te convidar, em nome do Luís Graça e demais camaradas desta tertúlia, para te juntares a nós nesta Unidade cibernética, enviando-nos uma foto tua actual do tipo passe, alguma história de que te lembres e as fotos do teu álbum de memórias.

Camarada Mário Costa, consulta os seguintes postes, que relatam factos desse período e onde poderás encontrar alguma da informação que procuras:


11 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3294: O ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963 (Parte I) (Carlos Silva / Gabriel Moura )

12 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3298: O ataque a Tite, em 23 de Janeiro de 1963 (Parte II) (Carlos Silva / Gabriel Moura)

23 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3503: Controvérsias (11): O início da guerra (Tite, 23 de Janeiro de 1963) e a estreia da G3 alemã, em 1961 (Santos Oliveira)

Vd. último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P8513: Massacre do Chão Manjaco: Guiné, 20 de Abril de 1970 - Estrada do Pelundo a Jolmete - A morte dos Majores Pereira da Silva, Passos Ramos, Magalhães Osório e Alferes Joaquim Mosca (Albino Silva)

1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva* (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), com data de 2 de Julho de 2011:

Carlos Vinhal,
Estive a preparar este trabalho sobre o massacre dos três Majores ocorrido no dia de 20 de Abril de 1970, no entanto se acharem que não vale apena ser editado, porque já se falou muito disto, eu não levarei a mal.

Entendo que está aqui bem esclarecido esse massacre, pela CCAÇ 2686/BCAÇ 2884 que estava no Pelundo, a mesma que rendeu a CCaç 2367 do meu Batalhão, tal como a CCaç 2585 que rendeu a CCaç 2366 em Jolmete, no Dia 17 de Maio de 1969, também do meu Batalhão, e da qual eu participei na Escolta para a rendição 15 dias depois.

Recentemente, mais propriamente na última semana de Abril, estiveram no local do massacre elementos da CCAÇ 2366 (Periquito Atrevido) e CCAÇ 2368 (Feras) do meu Batalhão.

Na foto recente e junto de habitantes da zona, está o Dr. Moutinho dos Santos que era Alferes da 2366 em Jolmete, mais tarde transferido para outra Companhia com o posto de Capitão.

Sem mais assunto de momento deixo um abraço a toda a Tabanca Grande.
Albino Silva




Nota do Editor: Nesta foto, o Alferes identificado como Joaquim Mosca, é na realidade o Alf Mil Fernando Giesteira Gonçalves. (ver Poste 4653)














Imagens retiradas de "Os Anos da Guerra Colonial"
As devidas vénias a Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes

(Clicar nas imagens para ampliar e permitir a sua leitura)
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 1 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8495: Os nossos médicos (32): Fotos do Serviço de Saúde do BCAÇ 2845 (Albino Silva)

Vd. postes de:

1 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2320: Relatórios Secretos (1): Massacre do Chão Manjaco: O resgate dos corpos (Virgínio Briote)
e
3 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2325: Massacre do Chão Manjaco: Todos iguais na morte, mas nos relatórios uns mais iguais do que outros (João Tunes)

Guiné 63/74 - P8512: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (16): 17 de Dezembro de 2009, em Bissau com os Super Camarimba, grupo de música afro-madinga de Tabatô / Bafatá








Guiné-Bissau > Bissau > 17 de Dezembro de 2009 > Fotos tiradas ao fim da tarde (17h30/18h30) > O João Graça (violino) e os Super Camarimba


Fotos: © João Graça (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.


1. Continuação da publicação das notas do diário de viagem à Guiné, do João Graça, acompanhadas de um selecção de algumas das centenas fotos que ele fez, nas duas semanas que lá passou (*)...


17/12/2009, 4ª feira, 13º dia, Bissau

13.1. Centro de artes de Bissau. Bom artesanato.

13.2. Saída à noite com Pai dos Portugueses [, Patrício Ribeiro].  Que tinha conhecido em Bafatá!

13.3. Toquei violino no bar. Toques com viola [... ilegível]. Com membro dos Super Camarimba, baixista. (**)


[As notas do diário de viagem do João Graça acabam aqui. Há outras notas, pessoais e clínicas, que não interessam aos leitores do nosso blogue, nem eu estou autorizado a reproduzi-las. No dia seguinte, 5ª feira, 18, o João ainda foi, com o Pepito, a um festival cultural no chão felupe, em São Domingos, antes de regressar a Bissau e apanhar o avião para Lisboa, no dia 19, 6ª feira. Temos, no entanto, mais fotos para publicar...].


[ Revisão / fixação de texto / selecção, edição e legendagem de fotos: L.G
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Notas do editor


(**) Em meados de 2009, a composição do grupo (que tem também actuado em Portugal) era a seguinte:

Guitarra e voz – Mamadu e Fili;
Kora – Djalimacan;
Cabaça – Idrissa;
Dundum – Demba;
Balafon – Mutaro e Fili
Coro – Fatu e Djali.

Guiné 63/74 - P8511: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (13): Dizendo adeus ao Cristo Rei na Arnaldo Schultz em Bissau


1. Mensagem do nosso camarada António Paiva, (ex-Soldado Condutor Auto no HM 241, Bissau, 1968/70), com data de 2 de Julho de 2011:

Caro Carlos,
Esperando que tudo esteja bem contigo, aí te mando uma História, faz dela o que bem entenderes.


António Paiva


Histórias de um Condutor do HM 241 (13)

Cristo Rei na Arnaldo Schultz… e eu a dizer adeus.

Casa dos Médicos em Bissau

Foto © Mário Bravo (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

Quanto fui colocado no lugar que me estava destinado, já com mais de um mês de Hospital por ser lá que se encontrava o camarada que eu ia render, entregaram-me um Rolls Royce,  descapotável, novinho em folha (pois tinha sido todo reparado e pintado de novo), era mais claro que os outros ME-66-11, potente, rápido e bem desenvolvido, com acelerador de chumbo, nunca recusando um bom desafio.

Como sabem de Histórias anteriores, aos sábados e domingos eu era uma ave livre, mas,  se num destes dias me encontrasse dentro do Hospital, poderia de um momento para o outro, em caso de emergência, ter de levantar voo em qualquer direcção.

Num desses dias, mandaram-me ir buscar o Dr. Saavedra [Machado] , à casa onde ele se encontrava, situa na Arnaldo Schultz, apesar de haver outra na Guerra Junqueiro.

Pois bem, não fui de modas nem perdi tempo. Meti-me no meu Espada e ala que se faz tarde… prego a fundo, que ele gostava.

Quando cheguei à rotunda Teixeira Pinto, a besta tinha ficado com o freio nos dentes e dificultou-me a manobra. Com alguma destreza lá consegui que ela fizesse a curva sobre as duas patas direitas e com as esquerdas no ar. Quando consegui ficar direito na Avenida, e continuando a acelerar, logo lhe disse:
- Cabrão de merda ou tomas juízo ou levas nos cornos… agora vais dar, f... da p....

Como sabem, indo nesse sentido, lá mais à frente, curvava à direita e começava a descer, a Casa dos Médicos era 20 ou 30 metros mais à frente.

Não tinha abrandado, quando entro na curva, já o Dr. Saavedra Machado estava à porta. Passei por ele que abriu os braços (como Cristo Rei) dizendo-me:
- Então?

Com a mão direita disse-lhe adeus. A partir daquele momento, tinha duas hipóteses: Virar à direita… Praça do Império;  ou seguir em frente, a descer ainda mais… Estrada de Santa Luzia.

Não e não, não queria, vi o descampado enorme à esquerda e virei para lá. A besta parou numa poça com água… coitada, tinha sede!

Engatei marcha atrás, subi a avenida e parei para que entrasse o grande companheiro que eu tinha de levar até ao Hospital. Como devem imaginar, houve perguntas e respostas, mas em conversa animada e marcha moderada, lá chegámos ao destino… usando o travão de mão.

Terminada a missão, tive de levar o malfadado jeep, que tantos nomes teve, para a oficina, por ter um buraco na tripa, ou seja, um buraco no tubo do circuito do óleo do sistema de travões (dáí eu ter ficado sem o de pé).

Devia ser giro se a PM me visse fazer a curva de Teixeira Pinto.

Um abraço
António Paiva
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 28 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8482: Os nossos médicos (28): Diamantino Lopes, cirurgião do HM241, praxista coimbrão, com grande sentido de humor (António Paiva / J. Pardete Ferreira)

Vd. último poste da série de 21 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6445: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (12): Um PM devidamente fardado apesar das circunstâncias (António Paiva)

Guiné 63/74 - P8510: Os nossos médicos (34): Os açorianos Bruges e Saavedra, e Botelho de Melo (Carlos Cordeiro / J. Pardete Ferreira)

1. Informações retiradas de comentários a postes da série Os Nossos Médicos:

(i) J. Pardete Ferreira [, foto à esquerda]:

O outro Saavedra , não confundir com o Dr. Machado Saavedra, aquele que eu cito, é o Dr. António Paim da Câmara de Bruges e Saavedra, açoriano, que foi substituir o Dr. Manuel Diaz Gonçalves (Medalha de Prata de Serviços Distintos, com Palma) na chefia da equipa Cirúrgica! (*)


(ii) Carlos Cordeiro[, foto à direita]:

Dois médicos açorianos: o Dr. Bruges e Saavedra, terceirense (fixou residência na Amadora, tendo fundado a Clínica Santo António) e o Dr. J.L. Botelho de Melo (já referenciado no blogue por Beja Santos), micaelense, com consultório no Largo da Matriz, em Ponta Delgada. Foi ele que, por volta de 1960, me receitou os primeiros óculos. (**)


Em nota posterior (CC): O Dr. JL Botelho de Melo tem actualmente 83 anos e faz anos a 9 de Outubro. Terá nascido em 1927. Continua no activo, com consultório aberto no Largo da Matriz, Ponta Delgada. O seu BMW 2002, com mais de 30 anos, também continua no activo, pois só sai para o passeio dominical (o Dr. Botelho de Melo reside muito próximo do consultório). De facto, continua com um grande cabedal. É uma personalidade muito conhecida e querida no meio micaelense e, por assim dizer, continua adepto da boa gastronomia.


(iii) J. Pardete Ferreira [, foto à esquerda]:

Afinal já encontro quem [, o Carlos Cordeiro,] fale o mesmo "manjaco" que eu!

Com efeito o Dr. Bruges e Saavedra (***) ensinou-me muitas coisas, incluindo histórias açorianas com muita piada. Verificando que o Dr. Diaz Gonçalves tinha feito quase tudo no Hospital Militar e substituiu o Dr. Garcia, por alcunha o Tim Tim, ele, de forma inteligente, virou-se, de forma muito útil, para o Hospital Civil.
Tinha uma dívida grande às costas, pois, quando foi mobilizado, iniciara a construção da Clínica de Santo António, na Reboleira. Mas tudo se resolveu e, com o Dr Sanfins e a Enf Elvira, iniciaram a obra que foi crescendo.

É pena que, depois do acidente de automóvel que sofreu, esteja com alguns problemas de saúde. Estou certo que te juntas a mim para lhe desejar boas melhoras.

O Dr. Botelho de Melo, Oftalmologista como tu dizes, parece que foi um dos médicos mais idosos a ser mobilizado (53 anos). Acho que só o Cardiologista, Dr. Ruy de Brito, o igualou. Era um ponto do caraças: ia assistir à saída do Liceu e nunca abandonava a sua Mariazinha!
Quando estiveres com ele, pergunta-lhe pois não sou eu o delator. Com aquele seu quase constante piscar de olhos, a anedota estava sempre pronta. (****)

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Notas do editor:

 (**) Vd. poste de 30 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8491: Os nossos médicos (31): HM241: Pessoal médico do meu tempo por especialidades (J. Pardete Ferreira).

(*) Vd. poste de 28 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8481: Os nossos médicos (27): Com o Dr. Carlos Ferreira Ribeiro,fui um dos que operou o Cap Cubano Peralta; e com o Dr. João Carlos Azevedo Franco, fui um dos últimos a ver o corpo do malogrado Major Pereira da Silva (J. Pardete Ferreira) .

(***) António Bruges e Saavedra foi agraciado em 2006 pela Câmara Municipal de Angra do Heroísmo com a medalha de mérito profissional (vd. notícia aqui):

(i) Nasceu em Angra do Heroísmo, freguesia da Sé, no dia 26 de Outubro de 1930;

(ii)  Licenciou-se em Medicina, na Universidade Clássica de Lisboa;

(iii) Tirou posteriormente a especialidade de cirurgião;

(iv) Desde que se formou, montou consultório na Amadora, onde há quase 35 anos fundou a Clínica de Santo António;

(v)  Foi agraciado com a medalha de honra e mérito, de ouro, da cidade da Amadora, nos anos 90, e a medalha de ouro da Ordem dos Médicos, em 2005.

(vi) De acordo com a proposta da Câmara Municipal de Angra de Heroísmo, para a atribuição da medalha de mérito profissional, o Dr. Bruges e Saavedra (a) tornou-se um  personalidade “muito destacada, pelo seu profissionalismo, competência, dedicação aos seus doentes e singular humanismo, ao ponto de isentar do pagamento de consultas ou outros actos clínicos os doentes mais carenciados”; (b) além disso, tem acolhido nos seus serviços clínico-hospitalares “largas centenas, senão de milhares, de açorianos e terceirenses, dedicando uma especial atenção, muito particularmente, aos seus conterrâneos angrenses”.

(Fonte: A União, 04/05/2006, citada pelo portal A Via Oceânica)

(****) Último poste da série > 4 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8501: Os nossos médicos (33): O meu grupo de combate: um forcado, um fanateca... (J. Pardete Ferreira)

Guiné 63/74 - P8509: Em busca de ... (167): Guião do Comando de Agrupamento nº 2957 (Bafatá, 1968/70), cujo paradeiro se ignora (António Azevedo Rodrigues)


Comando de Agrupamento 2957 (Bafatá, 1968/70) > Guião. O Comando de Agrupamento 2957 esteve  em Bafatá, Zona lestem  no período de Novembro de 1968 a Setembro de 1970. Os seus elementos metropolitanos sáiram  do ex- RAL 1 e embarcaram  no T/T Uíge, em 9 de Novembro de 1968. O comandante do Cmd Agrup 2957 era o então Cor Hélio Felgas, mais tarde substituído pelo Cor Neves Cardoso.


1. Mensagem de António Azevedo Rodrigues (que está connosco desde Junho de 2008):

Data: 15 de Junho de 2011 20:02

Assunto: À Procura do Guião do Cmd Agrup 2957 (Bafatá-Guiné)


Olá, camarigos, o meu obrigado, pelas felicitações do meu 64º aniversário... Agora entrando no assunto principal que me traz hoje cá, é o seguinte: depois de andar por todo o lado na procura incessante do meus camaradas do Cmd Agrup 2957 de que o Fernando Gouveia também fez parte, bem como mais 50 elementos; depois de, posso dizer,  3-4 anos de intenso trabalho, pois ninguém tinha moradas de ninguém nem nunca em 41anos nuinguém contatou ninguém; depois, enfim, de eu meter anúncio na RTP e jornais; depois de tudo isso, o que primeiro me aparece é o Belmiro, de Penafiel.

Mas é só um primeiro contato e nada sabe, vou então para o Ministério da Defesa, para o Exército,  e nada. Com o que aprendi neste blogue, que muito me ajudou, e depois duma primeira tentativa,  lá consegui chegar aos primeiros [camaradas], e depois aos muitos e agora a todos. Isto é, todos menos um, pois de todo o pessoal do Agrupamento resta-me esperar para encontrar o último a tempo de ainda ir ao convívio total dos ainda resistentes e que se realiza [, ou melhor, já se realizou...], no próximo fim de semana, em Lisboa (Búfalo Grill).

Como disse,  falta encontrar um, sim um, é o que falta de pessoas. Então pelo meio fui procurando saber como encontrar o Guião/Estandarte, que foi a nossa Bandeira de apresentaçao, e pelas fotos anteriormente ja publicadas em que eu julgo ser o único a ter tirado uma foto com o mesmo na Guiné, eis que à procura do mesmo já lá vai mais de um ano, de procura em procura, de mail em mail, de telefone em telefone, sempre na eperança de que um dia há-de aparecer o tal Guiã/estandarte.

Quando estava à espera de saber do último cabo, do último a responder à chamada,  então voltei a pegar no telefone e chatear na procura,  de quartel em quartel, a tentar saber onde pára o guião.

Agora sim, o tal mail tão esperado chega com a pior noticia: mais um amigo que caiu para sempre, mais um desaparecido, como pode ser observado, mesmo sem Certidão de Óbito;  eis que chega a sentença de  que me abstenho de fazer mais considerações. Agradeço que publiquem o oficio enviado por mail com as palavras aí reproduzidas...

Em suma, não existe rasto do guião, simplesmente "desconhece-se o paradeiro do Guião do cmd agup 2957"... Foi abatido.  não se sabe como. É menos um comando deste agrupamento que não se sabe se caiu de morto,  fulminado por qualquer ataque cardíaco... 

Termino lamentando o desaparecimento de mais um elemento deste Cmd Agrup 2957... Paz à sua alama, que repouse na sua eterna morada, desconhecida. Lamentamos o sucedido e eu, pessoalmente,  apresento condulâncias à familia desgostosa do Cmd Agrup 2957...

António Azevedo Rodrigues
Contactos:
Telefones: 252 938 133 - 915 225 337 - 926 641 776 - 934 432 545

E-mail: rodrigues60@gmail.com






Fotos: © António Azevedo Rodrigues (2011). Todos os direitos reservados

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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de Junho de 2011> Guiné 63/74 - P8470: Em Busca de... (166): Precisa-se de depoimentos para fazer a História da Pensão Central da Dona Berta (Hélder Sousa / José Ceitil)

Guiné 63/74 - P8508: Notas de leitura (253): "Amílcar Cabral – Vida e Morte de um Revolucionário Africano", por Julião Soares Sousa (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Junho de 2011:

Queridos amigos,
Salvo melhor opinião, nunca se tinha ido tão longe na biografia política de Amílcar Cabral. Biografia política e pessoal, no que política e pessoa se interligam pela formação, pela personalidade e no caso vertente pelo génio da actuação, os seus sucessos clamorosos e desastres rotundos.

O Doutor Julião Soares Sousa já recebeu a aclamação pela Universidade de Coimbra, é justo que os estudiosos que agora passam a ter ao alcance este estudo monumental o apreciem pela seriedade e rigor com que conduziu a sua investigação, do princípio ao fim. Será seguramente um livro controverso, alimentará polémicas na medida em que faz cair mitos, retira da sombra combatentes incómodos e não dissimula o pano de fundo do complô contra Cabral e a direcção política predominantemente cabo-verdiana.

Um abraço do
Mário


"Amílcar Cabral – Vida e Morte de um Revolucionário Africano"

Amílcar Cabral, uma biografia política, um grande acontecimento cultural

Beja Santos

“Amílcar Cabral – Vida e Morte de um Revolucionário Africano”, por Julião Soares Sousa, Nova Vega, 2011, é indiscutivelmente uma obra incontornável para os estudiosos da guerra da Guiné, da luta de libertação e da personalidade de grande estatura que foi a do dirigente máximo do PAIGC. Tem por base a tese de doutoramento na Universidade de Coimbra de Julião de Soares Sousa, o primeiro doutor guineense desta universidade.

Tratando-se de uma investigação aturadíssima que comporta perspectivas e revelações novas e controversas sobre a biografia política e dados pessoais de Amílcar Cabral, só vemos vantagem em encetar por uma apresentação deste estudo de grande fôlego, dando-lhe sequência com mais detalhadas notas de recensão.

O historiador rebate algumas ideias preconcebidas (algumas de sabor puramente hagiográfico e mitológico) defendidas pela grande maioria dos estudiosos da obra de Amílcar Cabral nomeadamente no que dizia respeito à influência do pai na sua formação intelectual (de acordo com o autor foi a mãe, Iva Pinhel Évora, a sua grande referência e pedra angular de princípios), expõe com clareza a evolução das atitudes anticolonialistas na Guiné e no quadro metropolitano onde Amílcar Cabral consolidou o seu ideário para a libertação do homem africano. A escolha de um curso de agronomia foi uma descoberta vocacional e será graças ao recenseamento agrícola na Guiné que ele irá conhecer o território palmo a palmo.

O jovem Cabral que enveredou pela actividade literária em S. Vicente é um produto típico de um cabo-verdiano envolvido num conceito de portugalidade e de africanidade. Só em Lisboa é que emerge para a socialização política, anda perto do MUD/juvenil e do PCP, cedo irá marcar distâncias quanto à natureza da emancipação africana mas marcando a diferença do que é verdadeiramente prioritário era a independência das colónias. Será em Lisboa que se irá relacionar com personalidades com quem irá criar amizade e companheirismo político, caso de Mário de Andrade, Lúcio Lara, Marcelino dos Santos e Viriato da Cruz.

Perto do final da década de 50, Cabral é um homem de ideias amadurecidas, lança-se no MAC – Movimento Anticolonialista e a partir de 1959 entrega-se de alma e coração à organização do PAI/PAIGC, em estreita colaboração com o motor da mobilização dentro da colónia, Rafael Barbosa. Instalado em Conacri, lança as bases da guerrilha e da aproximação internacional. Cedo é confrontado com o cepticismo e até a profunda contestação das suas teses sobre a unidade da Guiné e Cabo Verde.

Julião Soares Sousa esmiúça os diferentes termos da equação em torno das concepções da unidade africana que fizeram o seu tempo nos anos 50 e 60, embora tenham praticamente todas falido. Documenta o início da luta armada e a rápida implantação do PAIGC no Sul, a partir de 1962, seguindo-se uma região do Leste e depois o Morés. O historiador dá como provado que Cabral antevira um estado socialista na Guiné, sob a liderança de um partido único de vanguarda, com múltiplos mecanismos de poder descentralizado e com instância militar profundamente controlada pelos comissários políticos, tudo fruto das deliberações adoptadas no Congresso de Cassacá (1964).

Com a profunda militarização, os portugueses e os guerrilheiros do PAIGC foram confrontados com uma nova realidade: a conquista das populações, o seu controlo e fixação. O ideário de Spínola, nesta vertente, será uma permanente dor de cabeça para Cabral. O historiador procede a um exame exaustivo dos conflitos internos, deixa bem claro que a tensão entre cabo-verdianos e guineenses foi uma constante, mesmo antes da luta armada e até ao assassinato do líder, em 20 de Janeiro de 1973.

No início da década de 70, Amílcar Cabral é um dos mais proeminentes líderes africanos, distingue-se pela ousadia como reflectiu sobre o pensamento socialista, a unidade africana, a capacidade de antecipação face ao contendor. Em 1972 está em andamento um conjunto de operações destinadas a desequilibrar em definitivo o impasse da guerra colonial: a URSS promete fornecer material bélico tecnologicamente superior e preparar pilotos guineenses para um novo quadro ofensivo; com base num recenseamento interno, o PAIGC prepara-se para anunciar a sua independência unilateral, manobra para a qual se sabe que a potência colonial não possui capacidades de contra-argumentação.

É neste quadro complexo de preparativos que Cabral descura a frente interna. Como Julião Soares Sousa ilustra ao longo de centenas de páginas, o líder é o coração e o nervo do PAIGC: é o único ideólogo, é o único político que o pode representar na cena internacional, todas as teses, todos os documentos sobre a luta armada e a denúncia do colonialismo lhe saem do punho. Como se verá na análise do complô, é indesmentível que foram militantes guineenses que liquidaram Cabral. Mais, Portugal, com a morte de Cabral perdia a última possibilidade de um entendimento para uma transição menos dolorosa como aquela que teve lugar em Outubro de 1974. A sua morte foi um contratempo para a independência, mas esta tinha ganho raízes suficientemente fortes. E a luta armada, de 1973 para 1974, é o que toda a gente sabe que foi.

Amílcar Cabral tem sido objecto de biografias, estudos e memórias de indiscutível interesse. Este será porventura o seu retrato mais completo: o estudante assimilado, o socialista heterodoxo, o pensador arrojado, o líder que viveu perigosamente, enfrentando a belicosidade das suas teses, como a paradoxal unidade Guiné-Cabo Verde. Um líder político que consorciou o projecto da independência fundando-a numa luta armada que ele desenhou e manobrou. O líder que amava profundamente a sua mãe a quem dedicou um poema na sua página do Livro de Curso, em 1949:

Para ti mãe Iva,
Eu deixo uma parcela
Do meu livro de curso…
Pr’a ti, que foste a estrela
Da minha infância agreste.
A tua alma viva
E o teu Amor profundo,
Aceita este tributo,
Que tudo quanto eu for,
Será do teu Amor,
- Tua carne, Mãe, teu fruto!
Sem ti, não sou ninguém.
Só sou - porque és Mãe.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8496: Notas de leitura (252): Picadas e Caminhos da Vida na Guiné, de Fernando de Sousa Henriques (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8507: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (6): Ai que me doi tanto!... ou o drama dos especialistas de minas e armadilhas - II Parte

 

1. Conclusão do quinto episódio da série "A Minha Guerra a Petróleo" de António José Pereira da Costa* (Coronel de Art.ª na reserva, na efectividade de serviço, ex-Alferes de Art.ª na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69 e ex-Capitão de Art.ª e CMDT da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1972/74), enviado em mensagem do dia 2 de Julho de 2011.



A Minha Guerra a Petróleo (6)

Ai que me dói tanto!...
(Parte II)

Entretanto, o Coronel Durão “descobriu” as nossas mulheres e, tendo falhado a proposta de que Mansabá passasse a ser considerada suficientemente segura para poder ser habitada por mulheres brancas, a Isabel regressou a Lisboa. Estávamos em meados de Março e eu terminaria a comissão em princípios de Junho.

Julgava eu…

 Uma coluna auto de saída à Porta D´Armas do Quartel de Mansabá

Num dia que não fixei, voltámos às minas. Começámos na primeira e fomos sucessivamente apanhando todas. Recolocámos algumas que os macacos-cães tinham desenterrado, na sua ânsia de procura de coisas que tivessem sido dos homens que tinham vivido em Mamboncó. Por isso lhe chamávamos a Aldeia dos Macacos. Quando chegámos e as vi desenterradas, pensei que a afinal o In passava ali e mudara – talvez à pressa – a posição de algumas minas o que nos poderia baralhar as contas. Contudo, verificámos que os macacos tinham desenterrado algumas, divertiram-se com elas e abandonaram-nas. Curiosamente, faltariam umas duas ou três, mas não encontrámos sinais de que tivessem feito explodir alguma. Nunca entendi por que “sexto sentido” tinham abandonado um objecto tão atraente e que tanto cheiraria a humano. Provavelmente, concluíram de imediato que não serviriam para comer e abandonaram-nas.

Enfim, começámos a nossa tarefa. Fomos detectando cada mina, que voltávamos a enterrar. O croqui que eu fizera funcionou e as distâncias e ângulos estavam bem marcados. E chegámos à mina (ou par) n.º 101…

Os três de pé junto de cada vértice de um triângulo explosivo. O Paiva pede que paremos para ir beber água. Já fazia calor, embora estivéssemos num sítio onde havia altos mangueiros, outrora dispersos entre as moranças da tabanca. Fiquei parado e vi um soldado da CArt – um bazookeiro – que estava instalado atrás de uma dobra de terreno, a cerca de dois metros. De súbito, um estrondo. No meu espírito foi uma confusão. Primeiro esperei pelos tiros de arma ligeira que se seguiriam, se fosse uma emboscada. Não vieram. Depois pensei: “Distraiu-se e apertou o gatilho. Aquele gajo é cá uma “Amélia”…

Com os olhos fechados ainda conclui que fora uma mina. Mas qual? Abri os olhos. Tive a sensação de que os abri lentamente, mas não foi assim, decerto. De cima, caíam folhas secas e poeira. Depois…

Zona e tabanca de Mamboncó, felizmente de novo repovoada. É perfeitamente visível, à esquerda da estrada Mansoa / Mansabá, o célebre carreiro do Morés.
Imagem Google, legenda de CV

Depois foi o pior. O Paiva sentado no chão apoiando as mãos atrás das costas, uma das pernas inteira, mas a outra… apoiada pela tíbia meia-cortada e a pingar um fio de sangue. Ao lado a bota de cabedal com o pé dentro e a frase:

- Ai que me dói tanto!

Uma frase dita a meia voz. Nada de gritos. Nada de revolta. Seria espanto?

O Ramos perguntou, como quem chora:

- Oh Paiva para que foste beber água?

A partir daqui não tenho pormenores. Perdi-os. Lembro-me que pedi a vinda das viaturas. O Ramos e eu armámo-nos e equipámo-nos e depois recordo-me de ter substituído o condutor da primeira viatura. Foi uma corrida com o pessoal ferozmente agarrado à viatura, até Mansoa. A Berliet respondeu bem e chegámos sem novidades. Não me recordo onde deixámos o Paiva. Só me lembro de ter sido interpelado pelo Comandante do Batalhão que perguntou o que sucedera. Contei rapidamente e o seu comentário: “O gajo é burro!” fez-me desvairar. Entre outras coisas perguntei-lhe se ele sabia o que era uma mina e se já tinha visto explodir alguma. Nunca mais lhe perdoei e quando o voltei a encontrar depois da guerra, no Quartel-General em Coimbra, não lhe falei nem mesmo naquilo a que o regulamento me obrigava.

Sei hoje que a sua atitude era filha do “não saber”. Uma vez, fez uma coluna com o pessoal de Cutia até Mansabá armado de caçadeira que disparava alegremente contra tudo o que mexia. A seu lado, no Jeep, a inefável Maria do Socorro – a Mary Help – para quem a conhecia bem.

Coitada, também teve um fim trágico, mas isso são contas de outro rosário.

De outra vez, chegou ao local onde a “coluna das quartas-feiras” fora emboscada, tinha eu acabado de desmontar uma granada RG – 42 e pedi-lhe que estivesse quieto, pois as valetas podiam estar armadilhadas e ele respondeu-me que não havia problemas, porque as detectava olhando.

O Coronel Durão aproximou-se e perguntou-me o que tinha eu na cara. Nem me apercebi de que era terra projectada pela explosão. Contei-lhe a história. Disse-me que ignorasse o comentário do Comandante. Fiquei por ali…

Regressámos a Mansabá. Não sabia o que fazer. Resolvi pôr o assunto por escrito, embora não soubesse quais as consequências. A minha comissão estava a chegar ao fim e o número de especialistas que conheciam o campo era, agora, mínimo e poderia vir a ser apenas um, com a minha saída. Recebi ordem do Batalhão (BCaç 4612) para parar com a verificação do campo e começar a levantar as minas a partir da que explodira. E assim começámos, até que o CAOP 2 “descobriu”. Efectivamente, eu lançara no SITREP os sucessivos lançamentos de minas e agora lançava as remoções que íamos fazendo. É interpretando este desacerto que hoje me surge a ideia de que algo estava a correr descoordenadamente. Imaginemos que eu não sabia de minas e armadilhas. O campo estaria entregue a dois furriéis e agora apenas a um. Era claro que o número de especialistas era insuficiente para a tarefa. Além disso uma entidade mandou lançar e a outra de grau inferior, em face dos baixos resultados, mandou começar a recolher as minas. Esta era a solução correcta, a menos que…

E foi o que sucedeu. Um dia mandaram-me um substituto. Um tenente miliciano – Tenreiro de seu apelido – que não tinha condições (estatutárias, suponho) para a promoção ao posto imediato. Pouco tempo depois recebo ordem “a seco e sem possibilidade de contestação” para continuar a verificação do campo. Tínhamos agora uma situação insolitamente perigosa: uma brecha mal sinalizada entre a mina que ferira o Paiva e a última que tínhamos levantado. Qual seria a situação que o CAOP pretendia criar? Até hoje não sei e, quando após o 25 de Abril, encontrei o Coronel Durão como Comandante da Região Militar do Centro, também não lho perguntei.

Preferi afastar-me discretamente dele. Era um homem valente, mas eu tenho para mim que “disparava às cegas, para onde estava virado” e não me pareceu que fosse dado a observar as situações com calma e profundidade. Estava, ele próprio a terminar a sua comissão e, por isso demasiado cansado e saturado daquilo tudo.

Estava escrito que aquele campo ainda faria mais vítimas. Recebi dois sapadores – um cabo, cujo nome não fixei, e o furriel Pauleta – do Pel Rec do Batalhão que deveriam passar a trabalhar no campo de minas. Com a chegada do Tenreiro comecei a passar-lhe o comando e a parte administrativa da Companhia. Porém, com resultados desanimadores. O primeiro-sargento Canelas, meu amigo e conhecido do Regimento de Queluz, queixava-se de que ele não entendia as explicações que lhe eram dadas. Tudo terminou com um conjunto de cenas caricatas a mais grave das quais teve lugar no campo de minas, no dia em que o furriel Pauleta ficou cego do olho esquerdo.

Mas isso será motivo para outra história.

Nunca me esquecerei das duas pernas do Antero Paiva, a saírem dos calções e depois do modo e do momento como uma delas ficou reduzida, a metade “por lesões que mostravam terem sido produzidas por um objecto contundente ou actuando como tal” como se escrevia no relatório dos exames directos.

Encontrei-o há pouco tempo. Ficámos a olhar-nos. Depois foi o abraço e a falta de saber o que dizer. Passados 39 anos só nos olhámos bem fundo, com as mãos nos ombros um do outro.

Pedi-lhe autorização para escrever este texto e ele deu-ma. Fiz o melhor que sei, mas, esteticamente, tenho a certeza que será o pior que escrevi. À medida que ia escrevendo iam-me surgindo assuntos laterais, que não pude explorar por se espraiarem por outras áreas e factos. Não serve, por isso, de homenagem e ele merece-a.

Não me esqueço do seu primeiro desabafo e do lamento do Ramos. Sem ser os que passaram por momentos idênticos ninguém poderá compreender o que sentimos. É lugar-comum dizer-se que a guerra é um absurdo e o mais frequente é que quem assim fala nunca tenha assistido a uma. Às vezes estudou uma ou até várias e baseia-se nas melhores intenções para que a “paz reine entre os povos”. Mas esta guerra será sempre, porventura, o maior absurdo político e social em que o meu país se envolveu nos últimos cem anos, qualquer que seja a perspectiva donde seja observada.

O campo de minas de Mamboncó terminou de forma inglória. Depois do ferimento do Pauleta, recebi ordem para o levantar. Não me recordo de qual a entidade que a deu, mas cumpri-a com alívio. Paralelamente sucediam-se as cenas caricatas com o meu substituto e na impossibilidade de receber mais especialistas na matéria, era a decisão que se impunha. Assim, eu e o Ramos começámos pelo buraco da mina que vitimara o Pauleta e numa manhã fomos até ao fim do campo. Dois ou três dias depois, voltámos e começamos a partir da mina número um. Nesse dia, o Ramos, quando nos dirigíamos para o campo, confidenciou-me que previa que ia apanhar “cá uma bêbeda”. Compreendi, mas não aconselhei. De qualquer modo não havia muitas outras formas de celebrar um feliz evento.

Começámos a levantar as minas a partir da n.º 1 e fomos andando. Foi breve o trabalho, naquele dia. Quando removemos a mina n.º 100, cumprimentámo-nos e, silenciosamente, colocámos os equipamentos, transportámos as embalagens de minas para as viaturas e regressámos a Mansabá. O Ramos não apanhou “bêbeda” nenhuma e estou certo que dormiu descansadamente, toda a noite, coisa que já não sucedia há algum tempo, pois, segundo já me tinha dito, após o sucedido ao Paiva, sempre que eu lhe dizia que tínhamos de ir ao “campo” ele passava a noite em claro. Ainda lhe propus não o avisar de véspera, mas ele preferiu saber antecipadamente.

Assim terminou, sem honra nem glória, “uma acção ofensiva” sobre um inimigo que não existia, provocando duas baixas absolutamente escusadas entre o nosso pessoal.
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 4 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8505: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (5): Ai que me doi tanto!... ou o drama dos especialistas de minas e armadilhas - I Parte

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Guiné 63/74 - P8506: Parabéns a você (284): Agradecimento à tertúlia (Manuel Maia)

1. Mensagem de Manuel Maia (ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74), com data de 4 de Julho de 2011:

Carlos,
Com o pedido de colocação no blogue, aqui vai o meu reconhecimento a todos.

Estive cerca de três semanas impossibilitado de aceder à máquina infernal, por razões que não interessa escalpelizar.

O certo é que,"recebida a alta", aqui estou para vos dar conta da minha incomensurável satisfação por me aperceber que afinal tenho muitos amigos dentro do blogue, a quem aproveito para saudar e agradecer os comentários e os mails pessoais recebidos, bem como as referencias no "tal de facebook" (uma máquina ainda mais infernal a que, confesso, não sei dar saída e da qual decidi fugir de forma sorrateira...) a propósito do meu aniversário ocorrido na passada quinta-feira.

Pude constatar do surgimento de um comentário escrito em maiúsculas e "assinado" (?) como AB, onde o pretenso alvo dos meus comentários motivados pela celebérrima expressão "A FRASE NO MÍNIMO INFELIZ...", consubstanciada na propalada história dos bandos escondidos atrás do arame farpado, teria "dado a mão à palmatoria" afirmando, inclusive, ter gostado de algumas críticas entre outras em que se sentiria injustiçado...

Segundo Luís Graça, a ser verdadeira seria uma atitude bonita, caso contrário um trabalho qualificado, a merecer o esquecimento do lápis azul que merecem sempre os escritos anónimos.

Independentemente de mais esta "tentativa de amolecimento" feita sabe-se lá por quem, devo dizer-vos, camarigos que não mudarei uma virgula daquilo que escrevi relativamente ao senhor em questão (instigado pelas ofensivas - por injustas - palavras à condição de militares milicianos de que todos nós, e especialmente os que tombaram, fomos alvo preferencial.)

A seu tempo vos darei conta disso através do meu novo livro, reincidência na via da sextilha onde desta feita a prosa tem também assento, a que dei o titulo "GUINÉ A TERRA QUE APRENDEMOS A AMAR".

Nele encontrareis alguma da controvérsia relativa ao assunto em questão bem como alguns "hinos" à fabulosa terra que tivemos o privilégio de conhecer.

Para todos vai um forte abraço de reconhecida amizade.
manuelmaia
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 30 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8486: Parabéns a você (280): Manuel Maia, o nosso bardo (Tertúlia / Editores)

Vd. último poste da série de 3 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8497: Parabéns a você (283): António Nobre, ex-Fur Mil da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861 (Tertúlia / Editores)