sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8906: Quem conheceu os GUC (Gabinetes de Urbanização Colonial) e/ou os projetos de reordenamentos das populações ? Pedido de informações e contactos (Eduardo Costa Dias, antropólogo, ISCTE)


1. Do nosso amigo e antropólogo Eduardo Costa Dias, professor do ISCTE [, fotp à direita, Bissau, 2008]


De: Eduardo Costa Dias [ecostadias@netcabo.pt]
Data: 11 de Outubro de 2011 11:07
Assunto: Pedido

Caros amigos,

Bom dia a ambos

Trago-vos um pedido.

Estou integrado num projecto de investigação sobre os Gabinetes de Urbanização Colonial/ultramarina (GUC) dirigido pela Arquitecta Ana Vaz Milheiro e no âmbito do qual acabo de passar, com ela e com um outro colega (Paulo Tormenta Pinto), uma semana na Guiné. Como com todos os projectos em que estou metido, este projecto na Guiné conta também com o generoso apoio do nosso comum amigo Carlos Schwarz [, Pepito].

Peço-vos contactos de pessoas que directa ou indirectamente durante a sua estadia como militares na Guiné  contactaram de perto/trabalharam para os GUC, inclusive nos projectos das chamadas aldeias de reagrupamento*. 

É nossa intenção,  depois de completada a recolha de informação e feito um tratamento mínimo,  dela fazer um encontro ou,  como agora se diz,  um workshop de apresentação e discussão dos materiais; em muito ganharia o projecto e o workshop se pudesse contar com a experiência e o saber de amigos que,  por uma razão ou outra contactaram a "realidade" da arquitectura e  urbanismo  na Guiné nos anos da guerra.

 Muito obrigado

 Com amizade
 Eduardo


* a parte mais significativa destes reagrupamentos não passou pelo GUC, foi directamente planeado, projectado e implementado pelas FFAA. Interessa-nos tanto os dos GUC como os das FFAA !

2. Comentário de L.G.:

Eduardo, julgo que te queres referir aos "reordenamentos" das populações. Era o termo (mais soft que reagrupamento) que usávamos para as tabancas, construídas de raiz pelas populações locais com materiais e mão de obra especializada fornecida pela tropa.  Estes "reordenamentos" podiam atingir as três centenas  e meia de moranças, como o foi o caso do aglomerado habitacional, "sob duplo controlo",  de Nhabijões, no sector de Bambadinca. 

Temos uma dúzia de postes com este marcador (reordenamentos). Vê em especial os postes P2100 e P2108 [A política da Guiné Melhor: os reordenamentos das populações > Reprodução do documento Os reordenamentos no desenvolvimento sócio-económico das populações. Província da Guiné, Bissau: Comando-Chefe das Forças Armadas da Guine. Quartel General. Repartição AC/AP. s/d.

Guiné 63/74 - P8905: Antologia (68): Tarrafo, crónica de guerra, de Armor Pires Mota, 1ª ed, 1965 (1): Ilha do Como, 15 de Janeiro de 1964











In: Armor Pires Mota: Tarrafo: crónica de guerra. Aveiro, 1965, edição de autor (livro retirado do mercado). Início da transcrição da parte 2 [Operação Tridente, Ilha do Como, Janeiro-Março de 1964], pp. 47-51. Cortesia do autor

Fonte: © Armor Pires Mota (1965-2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

1. Armor Pires Mota já não precisa de apresentação. Embora não pertença formalmente à nossa Tabanca Grande, tem no nosso blogue pelo menos 25 marcadores ou referências (Seguramente mais, se considerarmos a I Série, de Abril de 2004 a Maio de 2006).

Para além de ter sido camarada nosso, é um hoje já um escritor consagrado, com cerca de 3 dezenas de títulos, entre crónica, poesia, romance e ensaio, um parte dos quais sobre a sua experiência humana e operacional  no T0 da Guiné, entre Junho de 1963 e Junho de 1965. 

Em  Tarrafo: crónica de uma guerra,  ele relata, na primeira pessoa do singular, o seu quotidiano como alferes miliciano, da CCAV 488/BCAV 489 (1963/65), primeiro na região do Oio (parte 1), depois na Ilha do Como (parte 2) e por fim na região de Farim (parte 3).

Tenho andado, desde as férias de verão, a cotejar as duas edições de Tarrafo (1965 e 1970). o meu coração e a minha razão pendem, inequivocamente para a primeira edição, para a sua escrita espontânea, potente, telúrica, sem autocensura... Na edição de 1970, revista, o autor aceitou - ou foi obrigado a aceitar - os "cortes" impostos pelos censores da época. A 2ª edição (autorizada) perde em vigor, frescura, autenticidade. Uma e outra estão esgotadas. Pelo que eu pensei proporcionar o prazer da leitura destas primeiríssimas crónicas da guerra da Guiné, dos anos de brasa de 1963/65, através da publicação, no nosso blogue, de uma parte de Tarrafo [, imagem da capa, no lado direito; edição de 1965].


2. Em conversa com um amigo e vizinho do Armor Pires Mota, igualmente nosso camarada, o José Marques Ferreira, ativo colaborador do nosso blogue,  fiz-lhe o seguinte pedido, a 5 do corrente:

Camarada Ferreira: Já que o Armor Pires Mota [, foto à esquerda, no lançamento, em Lisboa, 2010, da 2ª edição do seu romance 'Estranha Noiva de Guerra,'] é teu vizinho e estás em contacto com ele, transmite-lhe o meu pedido de autorização para publicar, no nosso blogue, as crónicas relativas à Ilha do Como (Op Tridente, Jan/Mar 1964)... Refiro-me à 1ª edição de Tarrafo (1965).

Lembra-lhe igualmente que continua de pé o nosso convite para ele integrar a nossa Tabanca Grande, convite que lhe enderecei pessoalmente na sessão de lançamento, em Lisboa, da 2ª edição da Estranha Noiva de Guerra. Um abraço para os dois bairradinos. Luís Graça


3. A resposta do J.M. Ferreira [, foto atual à esquerdaq,] não se fez esperar, por email, enviado a 6: 

Meu caro camarada Luís: Acabei de falar com o Armor Pires Mota. Uma conversa agradável, como sempre. Não se mostrou surpreso nem reticente quanto ao solicitado, que lhe foi lido.

1º - Autorização dada, quer «para a tabanca grande, quer para a tabanca pequena, enfim, para toda a gente», disse.

2º - Anda com a vida um pouco atribulada, por ter muito que fazer na área da especialidade (escritor). E eu até sei disso…

3º - Contei-lhe o belíssimo trabalho que o Luís anda a fazer com o seu (dele) «Tarrafo».

4º - Ele diz que gostaria de ver (ler), mas para ele «navegar» é um grande problema. 
 
5º - Diz que até ao mail ainda vai. Mas daí para a frente, nada feito.

6º - Pede ao Luís que esse trabalho lhe seja enviado por mail para: armor@jb.pt

7º - Só assim é que ele toma conhecimento. Eu gostaria que ele lesse o que tem sido escrito.

8º - Pede-me para transmitir, além da autorização já citada, que pelo Natal vai enviar, para o blogue, um conto desta época. 

E envia «mantenhas» para todos…Parece que é tudo da conversa havida. Um Ab. JM Ferreira

4. Comentário de L.G.:

Meu caro Ferreira: Mais célere não podias ser tu a levar a "carta a Garcia"... Na volta do correio, transmite ao teu amigo, vizinho e camarada (sei que estiveram os dois na mesma altura no TO da Guiné, tu em Ingoré, com a tua CCAÇ 462, ) o meu agradecimento muito sincero pela sua lhaneza de caráter, e pela sua resposta pronta e amável ao nosso pedido. Ficarei a aguardar, com especial carinho, o prometido conto de Natal. E, por outro lado, cresce a minha esperança de que o nosso Armor Pires Mota um dia destes, vencida a fobia da Internet,  se decida a sentar-se, também ele, no bentém da nossa Tabanca Grande, sob o nosso mágico, fraterno, sagrado, inspirador, protetor e secular poilão... Diz-lhe que precisamos de ter, no nosso poilão, irãs bons como ele, além de reforçar o lóbi bairradino...

Começo, a partir de hoje, a publicar as crónicas do Tarrafo, relativas à Ilha do Como (15 de Janeiro a 15 de Março de 1994) utilizando para oi efeito a primeira edição (pp. 47 a 85), incluindo essa sublime Oração (pp. 77/78) que os censores, estupidamente, cortaram de alto a baixo. Pelas minhas contas, 15 crónicas darão origem a 7/8 postes. Irei digitalizar o exemplar, fotocopiado, que tenho em meu poder, e que pertence à Biblioteca da Tabanca Grande. Este exemplar tem a particularidade (e a raridade) de mostrar as muitas páginas com os "cortes" ou "marcas" (traços, sublinhados, exlamações...) da censura. Boa leitura e melhores comentários. LG

PS - O nosso camarada Armor Pires Mota nasceu, em 1939, em Oiã, Oliveira do Bairro, região da Bairrada.

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Nota do editor:

Último poste da série > 3 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2403: Antologia (67): As Duas Faces da Guerra: Como si la guerra fuera un simple juego de ajedrez (Álex Tarradelas)

Guiné 63/74 - P8904: O Monumento aos militares mortos na Guerra Colonial de Castro Verde precisa de manutenção (José Colaço)

1. Mensagem do nosso camarada José Colaço* (ex-Soldado Trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), com data de 25 de Setembro de 2011:

Castro Verde
Monumento aos soldados mortos na Guerra Colonial

Hoje dia 25/09/2011 numa das minhas curtas visitas a Castro Verde visitei o Monumento erigido em homenagem aos militares mortos do Concelho de Castro Verde.

O Memorial , uma peça "sóbria e Digna" criada pela arquiteta Helena Passos "reinterpreta o obelisco e a coluna comemorativa, desenvolvida maioritariamente em ferro e em torno de um elemento instaurador em betão" - Explica o Município no seu folheto de apresentação, o qual te envio em anexo.

Duas coisas se apercebe o observador por mais incauto que seja.

Não estou a por em causa o valor da obra e o trabalho de todos aqueles que empenharam o seu esforço para que o monumento fosse um dado concreto.

Parte do material usado na peça de certeza que o ferro sem tratamento adequado não é o melhor para perdurar ao meio ambiente.

A degradação que está a sofrer só com dois meses de ali estar já se vê uma grande corrosão do oxido de ferro, as letras gravadas quase na cor da base tira se uma foto e não se consegue ler quase nada.

Havia e há uma lapide a entrada de Castro Verde ao lado do Aparthotel no sentido Lisboa - Algarve inaugurada em 5/10/ 2002. Também esta já se encontra um pouco degradada.

Segue também em anexo fotos que penso possam ou devam fazer parte do arquivo do Blogue.



Lápide à entrada de Castro Verde, ao lado do Aparthotel, inaugurada em 5 de Outubro de 2002.

Monumento inaugurado em 25 de Julho de 2011 em frente ao cemitério local.

Um abraço
Colaço
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 1 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8845: O que se comprava em Bissau, com o patacão da guerra ? Os produtos e as marcas que não havia em Lisboa... ou eram "proibitivos" (5) (Magalhães Ribeiro/José Colaço)

Guiné 63/74 - P8903: Notas de leitura (287): Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial, de Margarida Calafate Ribeiro e Roberto Vecchi (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Setembro de 2011:

Queridos amigos,
Trata-se da mais detalhada antologia poética, decorre de um projecto de considerável dimensão, contou com o apoio dos autores, de entidades, de editores e de arquivos. Temos aqui a guerra e o seu esconjuro, o poema que liberta pela denúncia ou a ode que expõe o vate aos deveres do combate, a poesia como força de exemplo, a poesia para cantar ou para espantar fantasmas.
Quem poetou tem aqui lugar, independentemente da sua ideologia, das suas concordâncias e discordâncias. É um monumento a todos os poetas da guerra colonial. É uma antologia que a todos nós diz respeito.

Um abraço do
Mário


Antologia da memória poética da guerra colonial

Beja Santos

“Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial”, organizada por Margarida Calafate Ribeiro e Roberto Vecchi (Edições Afrontamento, 2011) é sem dúvida alguma uma iniciativa para saudar, pela compilação de centenas de documentos, porventura a maior comunidade de memória poética da guerra colonial até hoje elaborada. É uma recolha de valiosos testemunhos subjectivos de, como escrevem os responsáveis pela antologia, de “eus estilhaçados por uma guerra”. Como se justificam: “A feitura desta antologia não pressupôs apenas um exigente trabalho de investigação, recolha, leitura e selecção. Implicou também um relevante esforço crítico para recolocar a questão do que é a poesia, sobretudo quando ela é portadora de uma memória subjectiva – memória poética – e, de qualquer modo, de uma memória ameaçada”.

Os autores preferem falar mais da memória poética da guerra colonial, abandonando discretamente o tratamento da poesia da guerra colonial. Esta memória é heterogénea, é o património de uma geração, há o material poético e a comunicação que dela emana: perdas e ganhos; exaltação e exultação; saudade e quebranto, ruptura com a solidão, ultrapassagem do precário ou do contingente. Uma antologia onde toda uma geração se pode rever, para lá das suas posturas ideológicas, porque essa memória poética é polifónica, é irmanada pela dor, fala do país, do inimigo, da paz, do apelo à vida. Os organizadores entenderam pôr esta memória poética em diálogo com as fotografias de Manuel Botelho. O produto final é manifestamente ousado, o precário da escrita olha-se ao espelho de um contraponto montado que fala da guerra com os olhos de hoje. Uma ousadia estética que torna a edição da antologia mais ambiciosa e intemporal.

A obra estrutura-se em “partidas e regressos”, “quotidianos”, a linguagem da morte, o dar guerra à guerra, o cumprir o dever da guerra, o pensar a guerra e a sua memória, os seus diferentes cancioneiros, elaborados ou populares. Como expressam os autores, uma antologia é sempre um olhar, entre a cumplicidade e a preocupação em acolher o maior denominador comum. Estão lá poetas dos três teatros de operações, estão lá poetas que contestaram na retaguarda ou que deram, nessa mesma retaguarda, ânimo ao sonho do império. Escusado é dizer que se procede a uma mera chamada de atenção para alguma da poesia de ex-combatentes da Guiné ou que por causa da Guiné versificaram. Está lá Armor Pires Mota que nos diz “Mãe, o teu filho anda na guerra:/ Traz os olhos gretados de lágrimas e medos/ e o pão amassado em sangue é boca a sangrar”.

Está lá Cristóvão de Aguiar e José Vale de Figueiredo com um poema intitulado “Gandembel, Natal 68”. Há poemas de Graça Padrão e de Álamo Oliveira, de José Brás, de Gustavo Pimenta que nos incita ou apela: “O meu País/ (o meu País existe, inteiro, na minha ideia)/ chora/ porque em seu nome combato/ descombato/ desbravo mato/ e mato./ O meu País/ está em sentido ao meu lado/ ressentido do meu fado/ mas orgulhoso porque diz/ que se me não curva a cerviz./ O meu País/ urge ser reinventado”.

Está lá, de Ruy Cinatti, o “Poema de uma guerra longe”, que veio por carta até Missirá, em resposta ao relato que eu lhe fizera de uma emboscada, já consta de diversas antologias, entreguei-o à Sociedade de Geografia de Lisboa, exactamente assim: “Sete horas húmidas, algures./ Progressão, fardas ensopadas./ Silêncio na terra de combate./ Silêncio nos corpos./ Estacas calcinadas./ O piar das aves, o olhar súplice/ Dois tiros quase num só eco./ O desabar das folhas, ramos rápidos./ Um grito que se apaga./ Missão cumprida, a meta adivinhada./ Febre sem alma ou acordo./ O peso súbito de um morto/ Caindo nos ombros estreitos,/ Doloridos,/ Da minha miséria”. Está lá “Os mortos de Pidjiquiti”, de Fernando Grade.

Está lá o mais belo de todos os poemas de todas as frentes de combate “Nambuangongo meu amor”, de Manuel Alegre. Como está lá, em nome de todas as guerras, “O menino da sua mãe”, de Fernando Pessoa. E o cancioneiro faz-se representar pelo inesquecível “Adeus Guiné”, de Mário Ferreira, que todos nós ouvíamos na rádio na interpretação do Conjunto Típico Armindo Campos. E há espaço para rimas de gosto popular como aquelas que são da responsabilidade de Santos Andrade: “Enquanto estivemos aquartelados/ nos arredores de Farim,/ passou-se o bom e o ruim/ mas hoje estamos descansados./ Houve o regresso de uns refugiados/ e o chefe dos CTT se deixou apanhar./ Depois de muito se lutar/ Canjambari se ocupou,/ e uma pista se arranjou/ para a avioneta aterrar”. Há também espaço para o brejeiro e o chocarreiro, caso do “Turismo da Guiné”, de Florêncio Silva e outros: “A situação na Guiné/ É melhor do que se pinta,/ Tente ir de bicicleta/ De Ganturé até Binta” ou “Pulseiras de prata bonita/ Adquirem-se em Bafatá,/ Uma bojarda nos cornos/ Apanha-se em Canquelifá”.

No posfácio, os organizadores, a propósito do registo estético, subjectivo e imediato, ou da produção pós-traumática da guerra, analisam a Poesia 61, com os seus poéticos críticos da retaguarda (caso de Gastão Cruz ou Luiza Neto Jorge), as diferentes incursões de poetas nacionalistas, antes e depois do 25 de Abril, detêm-se na poesia de José Bação Leal, Manuel Alegre, Fernando Assis Pacheco, os três unidos por aquilo que se poderá chamar a geração “habitada pela mesma ferida” e finalmente tecem considerações sobre a produção cultural desta poética, entrosando-a com a própria canção de protesto.

É uma longa viagem ao património de sofrimento que esta poesia expõe e possibilita a construção de futuras memórias.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 10 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8885: Notas de leitura (285): Até Lá Abaixo, de Tiago Carrasco (Mário Beja Santos)

Vd. último poste da série de 13 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8900: Notas de leitura (286): Lugar de Massacre, de José Martins Garcia (José Manuel M. Dinis)

Guiné 63/74 - P8902: Recortes de imprensa (52): Anjos na Guerra: a aventura das enfermeiras paraquedistas portuguesas, livro de de Susana Torrão (Diário de Noticias / Rosa Serra)

1. Transcrição, com a devida vénia, do DN- Diário de Notícias, 'on line', de 6 do corrente:
  Oficina do Livro > "Anjos na Guerra" de Susana Torrão já nas livrarias   
DN - Diário de Notícias,  6 Outubro 20   A criação do corpo de enfermeiras paraquedistas da Força Aérea Portuguesa, em 1961, levou pela primeira vez as mulheres para as Forças Armadas. O livro relata a história dessas pioneiras improváveis, que quase passaram despercebidas ao seu país mas que acabaram por lhe dar uma lição de coragem. 

Sinopse: 

Estas mulheres que caiam do céu para tratar dos feridos e travar o sofrimento enfrentaram, ao lado dos soldados, a dureza do mato e a violência dos combates. Mas não só. Enfrentaram também o preconceito de uma sociedade conservadora, onde a ideia de enviar mulheres para um cenário de conflito era vista com enorme desconfiança. Em África, as enfermeiras faziam evacuações dos feridos da frente para os hospitais militares e prestavam apoio às populações civis, mas em Lisboa a sua acção era desconhecida para a maioria.

Sobre a Autora

Susana Torrão nasceu em 1972 e é jornalista. Licenciada em Ciências da Comunicação pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, trabalhou no Diário de Noticias, Semanário, Semanário Económico e Focus. Trabalha como freelancer desde 2006 e, ao longo dos últimos anos, escreveu para publicações como Sábado, Exame, Notícias Magazine, NS, Público ou Fora de Série.

Anjos na Guerra é o seu primeiro livro. PVP 14,90 euros. 168 págs. [Editora: Oficina do Livro, Alfragide, 2011. ]

2. Comentário de L.G.: 

Ontem, 13, pelas 16 horas, quatro das nossas camaradas enfermeiras paraquedistas Cristina Silva, Rosa Serra, Gisela Pessoa e a Maria Francis, estiveram, no programa do João Baião e Tânia Ribas de Oliveira, "Portugal no Coração”,  RTP 1, acompanhadas pela Susana Torrão, autora do livro "Anjos na Guerra". Foi a Rosa Serra, membro da nossa Tabanca Grande, quem nos fez chegar a notícia, oportunamente divulgada pelo nosso correio interno.
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Guiné 63/74 - P8901: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (29): O sold cond auto Dias ou Manuel Alberto Dias dos Santos, da CCAÇ 3549 (Fajonquito, 1972/74) (Cherno Baldé / José Cortes)

1. Comentário de Cherno Baldé [, foto à esquerda, com os seus quatros filhos,] ao poste P8863

Boa tarde Luís,

Como já tive oportunidade de dizer, gostaria de estar online em permanência para comunicar e acompanhar a vida do Blogue mas, infelizmente,  ainda não é possível pelo que lamento o facto de ter que responder sempre com alguns dias de atraso.

Claro que quero ter notícias dos meus amigos portugueses que passaram por Fajonquito entre 1970/74. A CCAÇ 3549 se destaca em especial por ter sido das últimas e das quais nos lembramos melhor.


Não creio que o soldado condutor Dias esteja [já]  entre nós por se tratar de uma pessoa que tinha um perfil psicológico muito agitado, temperamental. Não obstante, sei que muitos dos seus colegas ainda estão vivos e têm-se reunido com alguma regularidade. Antes, o José Cortes dava notícias sobre os encontros.

Assusta-me um pouco a ideia de um possível reencontro com os meus velhos amigos de infância, preferia guardá-los, na minha memória, com a imagem de há 40 anos atrás, razão por que não estou muito entusiasmado. Quando vejo as imagens dos vossos encontros, custa-me muito acreditar que são as mesmas pessoas que conheci nos anos 60/70. Da mesma forma que fiquei dececionado quando voltei da URSS em 1990 e encontrei o meu pai, outrora forte e imponente, agora vergado sob o peso da idade e da miséria humana.  

Como já tinha deixado transparecer, eu não estou à procura de ninguém em especial. Nós vivemos no mesmo planeta terra, mas temos realidades históricas e contextos sociais diferentes. Não quero expor ninguém a situações que não sejam da sua própria vontade, e salvo algumas exceções, não me parece que haja muito entusiasmo da parte dos ex-soldados metropolitanos em revisitar o seu passado da Guiné e doutras partes. Pode ser uma percepção errada da minha parte e, se for, peço desculpas.

A minha viagem para a ex-URSS aconteceu em agosto de 1985 e o regresso à Guiné em setembro de 1990.

Um grande abraço para ti,  extensivo à familia  (a Alice, ao João e à Joana) e a todos que te são queridos.

Os meus votos de boa saúde e muita coragem a todos os nossos coeditores.

Do teu amigo e irmão,

2. Comentário de L.G. [, foto  à direita, CCAÇ 12, Finete, 1969, acompanhado do José Carlos Suleimane Baldé e do Umaru Baldé, do 4º Gr Comb]: 

Tinha perguntado, no mesmo poste,  o seguinte:


Cherno Baldé: (...) Andamos à procura do Dias... Será que queres ter noticias dele ?... Outra coisa: quando partiste para a Moldávia ? Finais de 1985, princípios de 1986 ?... Regressaste, de Kiev, em 1989, é isso ?... Um abraço fraterno. Prometo visitar-te quando aí for... Luís


PS - A família, a saúde, o emprego ? Como vão as coisas por aí ?


3. Resposta do nosso camarada José Cortes  (ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 3549/BCAÇ 3884, Fajonquito, 1972/74), ao um pedido meu de notícias sobre o Sold Conduto Auto Dias:

De: José Cortes [ cortjose@gmail.com]
Data: 12 de Outubro de 2011 21:26
Assunto: Soldado Condutor Dias


Caro Luís Graça, é verdade tenho andado um pouco afastado das lides da Tabanca, já me encontro reformado desde Abril e estou ainda a ajustar o meu novo estilo de vida, com tempo para tudo e sem tempo para nada, se é que me entendes.

Pois o Cherno Baldé pergunta pelo Soldado condutor Manuel Alberto Dias dos Santos, que era conhecido só por Dias, e que na verdade como ele diz era um pouco rude na maneira de falar, mas correto na maneira de agir.

O companheiro Dias, infelizmente, já faleceu,  salvo erro em  2005. Foi funcionário do Boavista, e vivia naquela zona da Boavista,  na cidade do Porto.

Nós também não o voltámos a ver porque ele não comparecia aos nossos convívios. Fizemos um,  onde o Capitão São Pedro quis prestar homenagem a todos os que já tinham falecido, e convidou as viúvas dos camaradas já desaparecidos, e foi quando soubemos da sua morte, através da viúva do soldado Dias, que esteve presente nesse convívio assim como quase todas.

Ainda hoje há viúvas dos camaradas que iam aos nossos encontros,  fazem questão de estar presentes, mesmo já não tendo os maridos, porque era aquilo que eles gostavam e elas
continuam a estar presentes e a responder pelos maridos à chamada.

Quero ainda dizer que mantenho contacto com a Filomena, que andou à procura do Furriel Andrade, trocamos emails, e falamos no Facebook, ela trabalha numa ONG (Organização não Governamental), em Bissau, que protege as mulheres que trabalham na agricultura, enquanto os homens passam o dia debaixo do mangueiro à sombra.

Bem fico por aqui, um abraço, a toda a Tabanca.

José Cortes

[ Título / revisão / fixação de texto, em conformidade com o NAO - Novo Acordo Ortográfico]
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Nota do editor:

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8900: Notas de leitura (286): Lugar de Massacre, de José Martins Garcia (José Manuel M. Dinis)

1. Mensagem José Manuel Matos Dinis* (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 8 de Outubro de 2011:

Aqui há alguns dias atrás, um camarada interpelava o Mário B. Santos, através de comentário, se ele já tinha lido o livro com o titulo em epígrafe: "Lugar de Massacre", da autoria de José Martins Garcia, edições Salamandra, 1996 - 3.ª edição**.

Parece-me de realçar que a 1.ª edição ocorreu em 1975 e por via da Afrodite, essa interessante editora de Fernando Ribeiro de Mello, não só pelo cuidado das suas edições, mas, também, pelo arrojo dos temas apresentados (de que o mais conhecido será, talvez, a "Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica"), e pela divulgação de autores polémicos como Luís Pacheco, ou o mal-amado Fernão Mendes Pinto. A 2.ª edição foi no Circulo de Leitores.

Aquela interpelação levou-me novamente à estória, pois recordava apenas tratar-se de um texto de uma ficção erudita, e que me deu grande gozo na leitura.

De facto, trata-se de um romance cuja acção decorre no território da Guiné durante o período da guerra pela independência. É um género literário algo difícil, embora escrito com grande qualidade, apesar de o Autor, por momentos, parecer ter bebido um fortíssimo licor de absinto, com consequente perda do fio da meada. Mas não, não perdeu nada!

Ele recorre a um estilo provocador, eivado de uma inspiração humorística, que deve ter dado muito gozo enquanto escreveu a obra, através da qual são estilizadas diversas questões de absurdo, indiferença e irresponsabilidade, que aconteciam, quer nas repartições de Bissau, quer nos batalhões e companhias dispersas pela quadrícula (o mato). A partir dessa malha tece o Autor quadros de exageradas pinceladas, com riqueza de detalhes espantosos, e que contrariam o que mais se espera do retrato da guerra: a disciplina, a ordem, a determinação, o controle da situação. O Autor caracteriza as tradicionais dificuldades "obrigatórias" para o pessoal do mato, tanto ao nível das instalações, como do material, segurança e alimentação.

Mas o grande gaudio atinge-se com a caracterização da ineficiência verificada em repartições e departamentos militares em Bissau, onde vícios associados a tiques, a castas (filhos-de-famílias), à incompetência, ao desleixo, e à generalizada falta de auditorias (um fartar vilanagem, com ramificações cancerígenas por todo o território), espelhavam o ridículo e a ineficiência de algumas dessas repartições e departamentos, subjugados a interesses subterrâneos de conivências, apadrinhamentos e tricas, e à subtil vigilância exercida por uns sobre os outros, de que resultavam expressivas futilidades, inanidades e injustiças.

Neste particular desenvolve-se a narrativa, pela descrição pormenorizada das principais figuras dos "Serviços de Conjugação", onde um "lobby" de "panascas" desenvolve espectacularmente o caos e a actividade displicente, em termos geralmente repugnantes para o meio militar, mas tolerados por via de influências, receios revanchistas, e pela incapacidade para denunciar o comandante daqueles serviços.

A par disso, medrava a bebedeira da rejeição, protagonizada, sobretudo, por um alferes miliciano ceifado pela tropa no inicio da carreira profissional, decadente pelo álcool, que aqui e além acrescenta incisivas críticas ao regime militar em guerra, e que vem a sofrer com sucessivas andanças pelo mato, em inócuas tarefas de experimentação de equipamentos, sem obrigações nem responsabilidades, no que poderia tornar-se a divisa dos serviços, como consequência de uma sórdida congeminação do comandante e do amante.

Como referi, por vezes parece perder-se o tino da acção, por súbitas intercepções ou desvios ao discurso, num propositado caminho de desequilíbrios, dando abrangência a muitas e variadas estórias que aconteceram durante a guerra, mas, também, a muitos aspectos que feriam a capacidade da máquina militar, onde se ocultavam "ilhas paradisíacas", autónomas ou não, onde estranhamente se movimentavam oficiais, sargentos e praças que, objectivamente, não contribuíam para o bom desempenho e resultado da guerra, descrições que chegam a ser hilariantes.

Abraços fraternos
JD
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Notas de CV;

(*) Vd. poste de 2 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8728: História da CCAÇ 2679 (43): Aquele hôme (José Manuel Matos Dinis)

(**) Vd. poste de 3 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5924: Notas de leitura (72): Lugar de Massacre, de José Martins Garcia (Beja Santos)

Vd. último poste da série de 10 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8885: Notas de leitura (285): Até Lá Abaixo, de Tiago Carrasco (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8899: Tabanca Grande (303): Carlos Alberto de Jesus Pinto, ex-1.º Cabo Condutor Apontador Daimler do Pel Rec Daimler 2208 (Mansabá e Mansoa, 1969/71)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Carlos Alberto de Jesus Pinto, ex-1.º Cabo Condutor Apontador Daimler do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa, 1969/71, com data de 8 de Outubro de 2011:

Caro Camarada,
Tenho seguido com atenção o vosso blogue e quero aqui deixar também o testemunho da minha passagem por essas terras da Guiné.

Sou o Carlos Alberto de Jesus Pinto, 1º Cabo Condutor Apontador Daimler,  do Pelotão 2208.

Estive sediado em Mansabá e Mansoa entre Fevereiro de 1970 e meados de 1971, enquanto tivemos viaturas operacionais.

Estivemos depois em Bissau até final de comissão, a 18/12/1971.

Como solicitam, aqui deixo as minhas fotos de apresentação, bem como algumas das recordações que guardo. Tenho muitas mais se o desejarem poderei enviá-las.

Sem outro assunto, até breve.
Abraço do camarada
Carlos Pinto


Quartel de Mansabá. Nesta foto, de pé à direita, reconhece-se o CMDT do Pel Rec Daimler 2208 Alf Mil Ernestino Caniço.

Fotos: Carlos Pinto

Legenda: Carlos Vinhal


2. Comentário de CV:

Caro Carlos Pinto, é com particular prazer que te estou a receber nesta Tabanca Grande. Pisei exactamente o mesmo chão que tu, e por coincidência ainda somos contemporâneos.

Se bem te lembras a CCAÇ 2403 foi rendida em Mansabá, em Abril de 1970, por uma Companhia madeirense, exactamente a minha, a CART 2732, onde fui Furriel, no teu tempo em funções na Secretaria da Companhia.

Não tenho a certeza se vocês estiveram connosco depois de Novembro de 1970, altura em que se começou a alcatroar a estrada entre o Bironque e o K3, quando foi para Mansabá um Pelotão do Esquadrão de Reconhecimento  2641 (Panhard).

De qualquer modo, quase de certeza me safaste as costas muitas vezes nas colunas que fazíamos para Mansoa e outros passeios turísticos pelas redondezas.

Falas em fotos. Podes mandar as que quiseres para publicar, quer de Mansabá quer de Mansoa. Só te peço o favor de mandares as respectivas legendas para identificar pessoas, locais e situações ou acontecimentos.

Por exemplo, nas fotos hoje publicadas, se puderes identifica os camaradas que estão contigo. Reconheci só o Alf Mil Ernestino Caniço, vosso Comandante de Pelotão.

A tua colaboração neste blogue pode ser também em texto, pois há sempre uma história não esquecida, um momento marcante, um ataque ao aquartelamento, uma emboscada na estrada, etc. Assunto não falta, queiras tu contribuir.

Por falar em colunas, se clicares nas palavras Mansabá e Mansoa, sublinhadas, na cor laranja, abrirás os mapas das respectivas zonas, onde poderás recordar as estradas por onde andaste.

Não quero terminar sem antes te deixar um abraço em nome da tertúlia e dos editores.

O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 23 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8809: Tabanca Grande (302): Abram alas, camaradas, temos aqui mais um velhinho, o Alcídio Marinho, do Porto, Miragaia, ex-Fur Mil, CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65)

Guiné 63/74 - P8898: História de uma vida (José Saúde Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 - Nova Lamego e Gabú -, 1973/74)


1.  1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego e Gabú) - 1973/74, enviou-nos uma mensagem onde nos descreve a sua energia e força de lutador, e o seu poder de crer e esperança, que serviu para ultrapassar momentos dolorosos na sua vida passada recente e que poderá servir-nos de exemplo e incentivo, para revitalizarmos o nosso ânimo físico e psíquico quando, e se, nos tocar, a um de nós, idêntico problema.

HISTÓRIA DE UMA VIDA

De miúdo irreverente, ao futebol, passando pela tropa (Tavira, Lamego e Guiné), ao jornalismo e a um AVC (aos 55 anos) que me tentou derrubar sendo eu mais forte, é uma história de vida que cruzou momentos ímpares de prazer e de sofrimento. Hoje, passados cinco anos sobre esse maldito infortúnio, considero-me um homem livre que continua absorvido na escrita não obstante tudo fazer apenas com a mão esquerda, aquela que sempre recusou o trabalho, faço uma vida normal, regressei à condução, desloco-me para qualquer lugar e considero-me um VENCEDOR.

O AVC não limitou as minhas faculdades mentais, deixou-me manco e com lado direito limitado, é verdade, mas… VENCI!

UM EXEMPLO DE VIDA!

Todos temos uma história de vida para contar. A minha escreve-se com ensejos de prazer e de dor. De sofrimento. Desde muito jovem que evidenciei capacidades físicas de todo invejáveis. Aos 13 anos iniciei-me no futebol federado no Despertar Sporting Clube, em Beja, aos 16 ingressei no Sporting Clube de Portugal, aos 18 regressei à velha Pax Júlia integrando então uma equipa de craques do Desportivo de Beja onde fui logo titular apesar a minha tenra idade e aos 22 entrei para o serviço militar.

Tavira recebeu-me, transitei depois para Lamego – Operações Especiais/Ranger – e seguiu-se a Guiné – Gabú. A minha vida profissional dividiu-se, a certa altura, entre funcionário da Segurança Social e o jornalismo. Finalmente o jornalismo preencheu-me por completo, sendo que em 1999, como escritor, lancei o meu primeiro livro “GLÓRIAS DO PASSADO”, uma temática inédita que relata a evolução do futebol ao longo do Séc. XX na Associação de Futebol de Beja. Em 2006 trouxe à estampa o segundo volume de “GLÓRIAS DO PASSADO” e a 27 de Julho desse ano confrontei-me com a infeliz visita do meu AVC.

Não desisti. A vida, sendo difícil, abriu-me sempre novas portas. O primeiro ano foi devastador. Palavras! Poucas. O meu frequente diálogo parecia perdido no tempo. A cadeira de rodas a minha pontual companhia. Depois foi a canadiana que me ajudou a delinear os primeiros passos. Pelo meio do trajecto registei inúmeras quedas, algumas me conduziram ao hospital.

Paulatinamente fui ganhando confiança. Vieram novas metas. Novos objectivos. Ultrapassei barreiras impensáveis. Não desisti. A certa altura consegui alterar os conteúdos da minha carta de condução. Não foi fácil. A fala, entretanto, regressou. No Centro de Mobilidade de Alcoitão fui submetido a um exame de precisão para avaliar as minhas potencialidades. Fiquei apto.

Comprei um carro. As dificuldades iniciais impuseram-me, naturalmente, restrições. Tudo é feito utilizando os membros esquerdos. Consegui. Mais uma vitória.

Em 2009 lancei mais um livro, agora a relatar a minha realidade: JOSÉ SAÚDE - AVC ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL – NA PRIMEIRA PESSOA – editora MEL – Editores (Estarreja). Uma obra que relata o meu caso particular e incentiva aqueles que, eventualmente, se deparam com a infeliz realidade.

Na continuidade deste tema já preparo uma segunda versão: JOSÉ SAÚDE - AVC ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL – VOLTAR A SER FELIZ.

Confesso que esta é apenas uma pequeníssima resenha da minha história de vida. Faço-o por que numa conversa (telefónica) recente com o Luís Graça ele lançou-me o desafio e eu despretensiosamente aceitei.

JORNALISTA: Responsável pelo Departamento Desportivo da Rádio Voz da Planície, Beja (11 anos); correspondente dos jornais “A BOLA” e JN; director e proprietário de jornal desportivo “O ÁS”, em Beja; pioneiro em televisão por internet – TV BEJA – na área desportiva e redactor do jornal Diário do Alentejo.

Sporting CP – 1968

Guiné – 1973
Fevereiro de 2009
PREFÁCIOS
GLÓRIAS DO PASSADO II

INTRODUÇÃO

GLÓRIAS DO PASSADO” é uma obra que visa recuperar um espólio que corria o risco de se perder no tempo, não ficando para a posteridade registos públicos daqueles que foram sem dúvida os grandes impulsionadores do futebol no Séc. XX no distrito de Beja. Neste contexto, os factos e os protagonistas narrados na obra, onde os depoimentos são justamente sustentados em imagens fotográficas recolhidas no baú das recordações, visam deixar escrito às gerações vindouras a história do futebol na região contada na primeira pessoa.

É verdade que não foi fácil reunir toda a documentação. Porém, a amabilidade com que me fui deparando ao longo de todo o percurso por parte daqueles que comigo colaboraram, permitiram que o sonho, aos poucos, se fosse tornando realidade.

Reconheço que pelo meio ficaram imensos sacrifícios; muitos contactos; muitas consultas; muitos quilómetros percorridos; e, sobretudo, muitas horas de trabalho que chegou a roçar a exaustão. Mas porque estou convicto de que se trata de um passado que importa preservar, julgo que a aposta está ganha e que valeu a pena toda a persistência e empenho na recolha dos dados.

A todos que tornaram possível mais um volume de Glórias do Passado, o meu muito obrigado!
O Autor

PREFÁCIO

O acidente vascular cerebral (AVC) é uma doença que, quando não é fatal, deixa normalmente marcas físicas nos membros afectados do doente portador, umas vezes com sinais evidentes de uma recuperação, mas outros casos há, porém, em que a marca fica, sendo então transportada até ao resto da vida.

Nesta última situação, importa que o doente enfrente com naturalidade os efeitos a que ficou submetido, elevando ao máximo a sua autoestima, fazendo, assim, uma vida normal, pensando sempre que o romper de nova aurora será mais um dia que estamos no seio dos seres viventes.

Nada de submissões, mas seguir em frente com o destino que a vida nos reservou. Somos gente capaz de nos elevarmos ao ponto máximo de tudo fazermos sem recorrermos ao próximo na procura de uma eventual ajuda.

O “coitadinho”, visto de fora, é, afinal, uma pessoa útil e competente para o cumprimentos dos seus deveres e das obrigações. Não procurámos o mal que um dia nos visitou. Chegou quando nada o fazia prever.

Aconteceu. Tenhamos, pois, a coragem para saber lidar com uma doença que não conhece sexos nem idades. É universal.

"Subtil, surge inesperadamente sem avisar."

“Esta é uma obra sobre um paciente acometido de um Acidente Vascular Cerebral, que lhe deixou como sequela uma Hemiplegia Direita, e que do lado de lá nos relata a sua visão, ainda que por vezes bastante ténue, o seu acompanhamento e os cuidados prestados. O AVC na Primeira Pessoa aborda o quotidiano, os desafios, os mistérios e os segredos desse mundo vivido pelo próprio! De maneira singela, fala-nos de como uma doença que ameaçou dilacerar as suas esperanças de liberdade, se deve tornar emblema de uma sociedade.

in Prefácio

José Manuel Mestre
Gestor de Serviços de Saúde
(Ex Fisioterapeuta)

Guiné 63/74 - P8897: Filhos do vento (11): A filha da minha lavadeira (António Bastos)

1. Mensagem do nosso camarada António Bastos, ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66, com data de 8 de Outubro de 2011:

Companheiros da Tabanca, boa noite
Eu António Paulo S. Bastos do Pelotão Caçadores 953 que esteve no Cacheu, vou contar a história dessa menina que eu tenho ao colo, também filha do vento.

No dia 21 de Julho de1964, já o sol tinha desaparecido no horizonte quando cheguei ao Cacheu, à nossa chegada, já a porta de armas estava cheia de população para ver os periquitos.

No outro dia lá continuaram a oferecerem-se para nossas lavadeiras, a certa altura vi uma menina com um bebé ao colo e junto a ela estava um cipaio (policia lá de Cacheu) então o nosso guia de nome Alêu disse-me para dar a roupa a ela e assim ficou.

O nome da lavadeira já não me recordo, sei que era filha do cipaio (também já não recordo o nome do cipaio nem da menina) mas a história que me contaram é que a menina era filha de um Soldado que esteve em Binar em 1962 e que quando o cipaio estava no posto Administrativo de Binar nessa altura foi quando a filha engravidou, ele pediu a transferência para o Cacheu.

Também me disseram que o pai da menina tinha morrido numa emboscada já a menina era nascida.

Companheiros não posso confirmar isto pois foi tudo contado pelos nossos guias, Alêu e Claudino também já falecidos, um em 1974 e outro em 1993.
Mas que a menina era branquinha e muito linda era .

A mãe foi minha lavadeira até Março de 1965, foi sempre impecável nunca me faltou nada e até me cosia alguma coisa mesmo sem eu pedir.

Esta foto foi tirada no dia 9-8-1964

É tudo, um grande abraço a toda a Tabanca Grande

António Paulo
Ex-1º Cabo
Pel Caç 953
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8890: Filhos do vento (10): Guiné, Índia, China: da prática das núpcias interraciais (António Graça de Abreu)