sexta-feira, 23 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9645: O PIFAS, de saudosa memória (10): A mascote, um caso sério de popularidade (José Romão)... E até o 'Nino' Vieira ouvia o programa! (João Paulo Diniz)






A mascote do PIFAS... Afinal sempre tem pai(s): Segundo informação do João Paulo Dinis, o pai da "ideia" foi o Fur Mil Jorge Pinto, que trabalhava no Com-Chefe, ideia a que depois deu corpo um outro camarada, o José Avelino Almeida, cuja companhia estava em Mampatá e Aldeia Formosa...

Fotos: © José Romão (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados



1. Mensagem enviada, a 21 do corrente, pelo nosso camarada José Romão (ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, e CCAÇ 16, Bachile, 1971/73) [, foto atual, à direita]

Camarada Luís Graça:


Ai vão 3 fotografias da mascote do PIFAS (Programa das Forças Armadas, na Guiné).

Esta mascote veio comigo da Guiné no ano de 1972.

Um abraço

Travassos Romão

2. Comentário de L.G.:


Não há dúvida que a mascote do PIFAS (e o PIFAS, o programa de rádio das Forças Armadas, transmitido através do emissor de Nhacra, da Emissora Nacional de Radiodifusão) foi um caso sério de popularidade...

A rádio, e este programa em particular, no início dos anos 70, terá ajudado muitos camaradas nossos a lidar com a solidão e a saudade... Verdade ? Pelo menos, cerca de 2/3 dos respondentes à nossa última sondagem (n=116) conheciam e ouviam o PFA ou PIFAS: cerca de 39% ouviam-no "todos os quase todos os dias"; os restantes 27% só mais esporadicamente... Também a população civil ouvia o programa, de acordo com o testemunho do João Paulo Diniz...

Ao fim destes anos todos, há malta que guarda religiosamente o boneco, que trouxe da Guiné, como é o caso do José Romão ou do Augusto S. Santos... Até o nosso Carlos Vinhal tem um, lá em casa, embora sem os adereços (o microfone e o gravador), que desapareceram de tanto os sobrinhos terem brincado com ele...

Por outro lado, o nosso Hélder Sousa, que vive em Setúbal, já entrou em contacto com o Armando Carvalhêda, outro conhecido locutor do PIFAS no seu tempo de Bissau, em 1972, e que continua a estar ativo, aos microfones da Antena 1 [, tendo também fortes ligações a Setúbal e a Alcácer do Sal, or via das rádios locais...Espero que o Hélder consiga ter tempo para nos falar desse(s) encontro(s)]...

Do João Paulo Diniz já aqui temos falado bastante... Eu não o conheço pessoalmente mas já falámos várias vezes ao telefone. A última foi agora mesmo... Falámos também na 3ª feira passada, dia 20. Como é sabido, ele tem um programa de música, ao sábados, de madrugada, entre as 5h e as 7h, que se chama "Emoções". O programa é pregravado. No dia 20, como conforme combinado, falámos um bocadinho (cerca de 3 minutos) sobre o nosso blogue e o nosso encontro, que se vai realizar no dia 21 de abril, em Monte Real.

Se algum dos nossos leitores, estiver desperto ou com insónias, amanhã de manhã, por volta das 6h30, mais ou menos, poderá sintonizar o programa "Emoções"... A pequena entrevista comigo foi antecedida de uma das músicas que passava no PIFAS, "A namorada que eu sonhei", do Nilton César, uma das canções da época que que eram transmitidas ad nauseam nos programas de discos pedidos...

O João Paulo Dinis, que está inscrito no nosso VII Encontro Nacional, e que eu vou convidar para integrar a nossa Tabanca Grande (só preciso de uma foto dele do tempo de Bissau), tem-me dado uma série de esclarecimentos preciosos sobre o PFA/PIFAS:

(i) Ele era militar de engenharia, foi requisitado para o Com-chefe para trabalhar na rádio, por ser já "locutor profissional!"...

(ii) O PFA ou PIFAS já vinha dos anos sessenta, ele não sabe precisar o ano;

(iii) Na realidade, ele era o único locutor profissional do PFA, no seu tempo (meados de 1970/ meados de 1972);

(iv) Mas antes dele já lá tinham passado outros, como o falecido Raul Durão;

(v) Mas havia muito mais malta a trabalhar no programa... Lembra, com saudade, outra malta que fez o PFA, como o Sargento Silvério Dias e a sua esposa, Maria Eugénia, que era a tal "senhora tenente", de que muita malta se lembra...

(vi) O João Paulo gostava deste simpático casal de locutores e gostava de os ver se possível no nosso próximo encontro, em Monte Real; (ele tem o contacto telefónico do então sargento Silvério Dias, que deve ser hoje pessoa para setenta e tal anos);

(vii) O PIFAS tinham estúdios próprios em Bissau; o emissor era em Nhacra; os estúdios estavam localizados na avenida (?) dos bombeiros, enquanto a sede da emissora oficial era no (ou em frente ao) edifício dos CTT, na avenida da sé catedral (hoje Av Amílcar Cabral ?);

(viii) Havia uma vasta equipa, o sargento Silvério Dias, o furriel Garcez Costa, o furriel Jorge Pinto... O Carvalhêda virá mais tarde...

(ix) O programa, de 3 horas diárias, tinha o seguinte horário: 1º tempo: 12h-13h; 2º tempo: 18h30-19h30; 3º (e último) tempo: 23h-24h...

(x) O João Paulo Diniz é um grande contador de histórias, ou não fosse um homem da rádio... Entre outras, contou-me a seguinte: uma das vezes que foi à Guiné-Bissau, acompanhando, em serviço da Antena 1, uma visita governamental (creio que foi no tempo do Prof Cavaco Silva como 1º ministro...), encontrou-se com o 'Nino' Vieira... Quando ele soube que tinha feito serviço na rádio das FA, o ‘Nino’ entrou em confidências, muito ao seu jeito, de resto… Contou ao João Paulo Diniz que a malta do PAIGC costuma ouvir o PIFAS e que foi, com a contagem decrescente do locutor do PFA, numa passagem de novo ano, que eles um dia atacaram ou flagelaram um aquartelamento nosso… (Talvez Tite ou outro quartel mais a sul, ele já não pode precisar)…

(xi) A mascote do PIFAS, da autoria do Jorge Pinto (também conhecido por "Jorginho" e "Pifinhas", hoje com paradeiro desconhecido) e do José Avelino Almeida (, que também quer ir a Monte Reaal e que nos vai contactar), terá sido feita em Espanha... Era distribuída (gratuitamente) pela população e pelos militares... Ele, João Paulo, diz que infelizmente perdeu o "bonequinho" que trouxe de Bissau...

(xii) Mais histórias do PIFAS... ficam para Monte Real!!! ... Ou para o próximo poste: por exemplo, o emociante relato em direto - através da emissora oficial francesa - da vitória do Joaquim Agostinho numa das etapas da Volta à França (com a malta no estúdio a traduzir o francês para português)!... E outras "maluqueiras" que a equipa fazia: para o João Paulo Diniz foi uma experiência única e inesquecível, a sua passagem pelo PIFAS, aliás percebe-se pelo entusiasmo e vivacidade com que fala dessas memórias!

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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9607: O PIFAS, de saudosa memória (9): Dois terços dos respondentes da nossa sondagem conheciam o programa e ouviam-no, com maior ou menor regularidade...

Guiné 63/74 - P9644: Agenda Cultural (189): Apresentação do livro A CCAÇ 2317 na Guerra da Guiné: Gandembel / Ponte Balana, de Idálio Reis, dia 21 de Abril de 2012 no Palace Hotel de Monte Real (Carlos Vinhal)




1. O nosso camarada Idálio Reis, Engenheiro Agrónomo reformado, natural de Cantanhede, ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 2317 / BCAÇ 2835 (Gandembel e Ponte Balana, 1968/69) faz questão de oferecer um exemplar autografado do livro a todos os camaradas da Guiné que aparecerem na sessão de apresentação. O livro, edição de autor, não está à venda no mercado livreiro.




O livro, cuja narrativa não está isenta de paixão e dor, não fosse o seu autor oficial miliciano da CCAÇ 2317, centra-se essencialmente na história dramática dos homens-toupeira, os heróicos construtores e defensores da Gandembel e de Ponte Balana, no corredor da morte. Começa com uma dedicatória (Relembranças) aos seus camaradas de Companhia, seus familiares e combatentes de outras Unidades que partilharam os mesmos momentos difíceis que não foram poucos, um Preâmbulo com a formação da Companhia e listagem nominal dos militares que a compunham.

Depois de um capítulo dedicado à chegada a Bissau e treino operacional, faz uma descrição da evolução da guerra subversiva na Guiné, desde 1963 a 1967.

O ano de 1968 coincide com a chegada da CCAÇ 2317 à Guiné, pelo que a partir daqui o livro entra no seu tema principal. Primeiro uma passagem por Guileje, onde, nas palavras de Idálio, a guerra não se fez esperar, depois a ida para Gandembel e Ponte Balana, em 8 de Abril de 1968, um deserto onde as condições de vida eram piores que más. Trabalhar na construção de abrigos tendo sempre à vista a G3, ferramenta bélica, companheira inseparável. Trabalho árduo, noites mal dormidas, emboscadas, ataques ao "aquartelamento" e às colunas de reabastecimento, mortos e feridos, de tudo e pior que se possa imaginar foi o inferno de Gandembel.


Idálio Reis não se cansa de ao mesmo tempo que narra os momentos mais trágicos da sua 2317, realçar a bravura dos seus heróicos militares. O livro está profusamente ilustrado, dando ao leitor a ideia do esforçado trabalho e das condições miseráveis em que sobreviviam. Depois de meses de sacrifício, o então novo Comandante-Chefe António de Spínola, contrariando a ordem do anterior, Arnaldo Schulz, de ocupação de Gandembel, torna efectiva uma ideia há muito amadurecida, a retirada da tropa daquele local. Estávamos já a 28 de Janeiro de 1969. Destino, Buba, onde finalmente souberam o que era dormir numa cama e usufruir de alimentação melhorada.

Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > 1968 > Início da construção do aquartelamento > Sem comentários!... Uma das fotos famosas do nosso blogue que nos acompanha há anos!.. As grandes fotografias dispensam legendas. Esta é uma das fotos-ícones da guerra da Guiné. Tem uma tremenda força dramática! Está lá tudo: o homem-toupeira, o homem de nervos de aço de Gandembel/Balana, também tinha alma de poeta e sabia transformar a pá do trolha em viola de baladeiro, ou guitarra de fadista! Estamos lá todos nesta fotografia de um camarada, sozinho, no palco da guerra, no cu do mundo, enrodilhado num manta, dedilhando a sua viola ou a sua guitarra e cantando para um público imaginário as suas alegrias, as suas tristezas, a sua coragem, a sua solidão, a sua saudade, as suas esperança, os seus medos, os seus sonhos... Trata-se do nosso camarada Idálio Reis, na altura Alf Mil da CCAÇ 2317... Podemos imaginá-lo no intervalo de um dos 372 ataques e flagelações a que os nossos camaradas foram submetidos, entre 8 de Abril de 1968 até 28 de Janeiro de 1969, os nove meses em que, em tempo-recorde, construiram de raíz um aquartelamento, defenderam-no galharda e heroicamente e receberam ordens para o abandonar!...Um verdadeiro Suplício de Sísifo!... Noutro país, esta epopeia teria dado um grande filme, um grande livro, uma grande exposição fotográfica!... Gandembel, quer se queira ou não, faz parte da nossa história, dos portugueses e dos guineenses... É bom invocável para que não ouçamos amanhã a resposta dos nossos filhso e netos: Gandembel ? 'Não, nunca ouvi falar'... Em 1969, a música mais popular entre a nossa tropa era o Hino de Gandembel...

Fotos: © Idálio Reis (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

Terminada a odisseia da 2317, o autor fala-nos das célebres Directivas do General Spínola. A mais célebre será a 20/68 de 25 de Julho que permitiu, entre outras alterações no TO do CTIG, a retirada das NT de Gandembel.

Na sequência de leitura encontramos um capítulo dedicado a Os Gandembéis, ao seu Cancioneiro, às suas músicas e poetas. O autor publica as letras do Hino de Gandembel e do poema Os Gandembéis (90 estrofes, em oitavas decassílabas, adaptadas de Os Lusíadas).

Finalmente o livro retoma as facetas da incidência da guerra subversiva após o regresso da 2317, que contempla o período entre 1970 e 1974, fim da guerra colonial e do regime deposto em 25 de Abril.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9629: Agenda Cultural (188): Convite para o lançamento do livro Adeus até ao meu regresso, de Mário Beja Santos, dia 29 de Março de 2012, pelas 18h30, na Associação 25 de Abril, em Lisboa (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P9643: Notas de leitura (344): A descolonização da África Portuguesa, por Norrie MacQueen (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 22 de Fevereiro de 2012:

Queridos amigos,
Este livro de Norrie MacQueen é considerado pelos especialistas como a primeira síntese rigorosa sobre a descolonização da África portuguesa, nada tem a ver com os textos de exaltação a favor da independência e da descolonização nem procura recriminar quem defendeu o Império português nem aprecia o comportamento por vezes destrutivo dessas ex-colónias. Este estudo tem a originalidade de pôr em destaque as raízes metropolitanas da desagregação imperial, associa o fenómeno à evolução da Guerra Fria e toma sempre em consideração a extrema debilidade do que se convencionou chamar o Terceiro Império Português, baseado em África.

Um abraço do
Mário


A descolonização da África Portuguesa

Beja Santos

Não se pode ignorar o nome do investigador Norrie MacQueen quando se pretende ter uma visão de conjunto de como se processou a descolonização da África portuguesa. Terá sido o primeiro estudioso a apresentar uma investigação equilibrada quanto às principais premissas que conduziram por obstinação do Estado Novo a uma luta armada que conduziu à dissolução do Império. O livro “A Descolonização da África Portuguesa” (por Norrie MacQueen, Editorial Inquérito, 1998) é uma análise exaustiva dos porquês do colapso desse império em que se analisa o funcionamento do Portugal metropolitano e as interdependências económicas entre a metrópole e o Ultramar. Quando surgiu a edição inglesa (Norrie MacQueen é o professor de Ciência Política na Universidade de Dundee, Grã-Bretanha) logo a crítica saudou o trabalho classificando-o como “a primeira síntese séria sobre este importante acontecimento”.

Obviamente que esta recensão parte de algumas categorias gerais da leitura do investigador para se cingir à Guiné.

O autor adverte que pretende preencher uma lacuna: A partir dos anos 60 apareceu uma considerável quantidade de materiais sobre as lutas de libertação na África Portuguesa e, depois, sobre o desenvolvimento dos novos Estados saídos da descolonização. De maneira geral, esses estudos orientavam-se segundo um ponto de vista africano e descuravam a análise sistemática das ligações entre o nacionalismo revolucionário na África lusófona e o processo revolucionário na metrópole. Também a década de 70 foi um período de significativas alterações nas relações entre as superpotências. A década começou com o desabrochar do desanuviamento e terminou com o seu colapso. Consequentemente, os especialistas em relações internacionais tenderam a interpretar a evolução na periferia africana do equilibro central, nesta altura mais em termos gerais do que em termos locais. Poucas tentativas houve para ligar estas grandes alterações nas relações entre as superpotências à evolução da política revolucionária e ao processo de descolonização em Lisboa, durante 1974 e 1975. São estes os meus dois objetivos: destacar as raízes metropolitanas da desagregação imperial e tentar integrá-las num conjunto de outros fatores ocasionais existentes em África e no vasto sistema internacional.

Primeiro, o colapso do Terceiro Império de Portugal prende-se com o fenómeno de ocupação, depois da Conferência de Berlim tornou-se crucial ocupar o território e marcar-lhe fronteiras. O Brasil já estava praticamente afastado da órbita política e cultural de Lisboa, em breve vão surgir cobiças nomeadamente da Alemanha sobre as parcelas do Império. O autor refere minuciosamente as etapas da ocupação e pacificação, o modo como o Estado Novo encarava as parcelas africanas e as aspirações nacionalistas da época. Em meados dos anos 50 começam a soprar os “ventos da História”, em 1957 a PIDE abre delações em todos os territórios africanos e começa a organizar a rede de informadores. A Casa dos Estudantes do Império acaba por ser o berço das futuras chefias africanas, é neste tempo que se vão organizar os movimentos de libertação. O autor descreve minuciosamente os acontecimentos metropolitanos de 1961, o início da guerra em Angola, depois na Guiné-Bissau e por último em Moçambique. E questiona: “O que é que determinou a adoção de diferentes análises e programas marxistas dos três movimentos? Contribuíram fatores globais, africanos e, particularmente portugueses. As lutas armadas foram cronologicamente enquadradas pela revolução cubana e pela vitória do Vietname do Norte e deram-se durante o período em que o terceiro mundo estava a afirmar o seu lugar no sistema internacional. Durante esses anos, o discurso do anticolonialismo e da libertação nacional era inseparável das críticas radicais, sociais e económicas”. Como se compreenderá, depois da queda do Muro de Berlim e do colapso soviético estas experiências socialistas ficaram na maior orfandade, decompuseram-se.

Segundo, é igualmente indispensável compreender como a guerra de África afetou internamente o regime, nomeadamente no tempo de Marcello Caetano. Este revelou-se incapaz de concretizar autonomia progressiva, muito provavelmente ficou prisioneiro da lealdade que devia ao salazarismo. A despeito da crise relacional entre Caetano e Spínola, o primeiro ainda fez a tentativa, em 1973 para nomeá-lo ministro do Ultramar. Não há hoje resposta documentada para o que queria Caetano, pode admitir-se que pretendia apoio reformista numa altura em que a comunidade internacional, por larga maioria, tinha reconhecido a república da Guiné-Bissau. O fundamental é que Spínola rompeu com Marcello Caetano e iludiu-se com o que escreveu em “Portugal e o Futuro”, o livro que contribui decisivamente para o golpe do 25 de Abril.

Norrie MacQueen refere as conversações entre o mensageiro do governo de Caetano e os representantes do PAIGC, em Londres, Março de 1974. Dá uma interpretação a esta atitude de Caetano: “A concordância, sob pressão diplomática, em participar em conversações, está longe da conclusão e execução de um acordo. No entanto, ao assumir que estava realmente pronto a encarar um acordo direto com o PAIGC e a fazê-lo sem condições prévias, estava a demonstrar uma flexibilidade relativamente a África pelo menos tão grande como a de Spínola”. Depois o autor discorre sobre as teses federalistas de Spínola, a criação do MFA, detalha as primeiras negociações com o PAIGC, o impasse que se seguiu, o aparecimento da Lei Constitucional n.º 7/74 e o compromisso de descolonização.

Terceiro, o investigador reconhece a importância do MFA na Guiné-Bissau, considera-o como a grande componente do movimento, descreve a destituição de Bethencourt Rodrigues, a interceção de Senghor e o conteúdo das conversações de Londres e Argel. Considera que pesou as atividades do MFA da Guiné o baixo moral das tropas, o MFA começou imediatamente a pedir a retirada incondicional, constitui-se mesmo o Movimento para a Paz em que os militares se manifestavam energicamente contra a guerra.

Quarto, em jeito de conclusão, o autor considera que foi com a Guiné-Bissau que Portugal teve, no período pós-colonial, as mais satisfatórias relações. E justifica: a ausência do problema de uma colónia de brancos, escasso nível de contenciosos económicos e a transferência do poder para um movimento de libertação incontestado. No entanto, Portugal será mantido à margem nas divisões cavadas entre cabo-verdianos e guineenses e mesmo quando a etnia balanta se arvora ou pretende arvorar em etnia dominante. Quando se deu o chamado golpe Paulo Correia, as relações esfriaram temporariamente. A Guiné foi a ex-colónia que se manteve mais próxima do espírito português: advogou a formalização de relações entre os cinco Estados africanos de língua portuguesa e a antiga metrópole; apoiou para que Portugal fosse eleito para um lugar não-permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. E adianta mais um argumento pouco conhecido: “O bom relacionamento da Guiné com Portugal foi facilitado pelo relativo distanciamento que manteve com a União Soviética depois da independência. A rapacidade da frota pesqueira soviética ao largo da costa da Guiné provocou um claro esfriamento das relações, pouco depois da independência, e a Guiné-Bissau tomou o seu confessado não alinhamento suficientemente a sério para recusar os pedidos de Moscovo para a concessão de facilidades para a construção de uma base naval no Rio Grande de Buba”.

Enfim, uma obra que não deverá ser descurada quando se pretende ter uma visão panorâmica dos múltiplos fatores que devem ser equacionados no estudo da descolonização da África portuguesa.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9626: Notas de leitura (343): Testemunho, de Filinto Barros (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P9642: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (12): Os infelizes que estão em Cobumba...

1. No seu diário, o António Graça de Abreu (abreviadamente, AGA, nascido em 1947, no Porto, ex-Alf Mil do CAOP1, 1972/74, aqui na foto à esquerda, no rio Manterunga, braço do Cumbijã) dá-nos desta vez notícias dos infelizes que estavam em Cobumba, ali perto de Cufar e de Bedanda, em pleno Cantanhez, e que embrulhavam amiudadas vezes...  


Entre esses infelizes, estava o nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493/BART 3873, Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba, Bissau, 1972/74), que nos tem surpreendido com as suas crónicas "do tempo que ninguém queria"...

Mais uma vez, e com a devida vénia, reproduzimos - para conhecimento da generalidade dos nossos leitores - mais alguns excertos do Diário da Guiné, 1972/74, da autoria do António Raça de Abreu, de que temos um ficheiro em word, o mesmo que serviu de base à edição do seu livro Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp) (*). 

Os parênteses curvos com reticências são da responsabilidade do editor do poste (LG), não do autor, e significam  cortes no texto... Seleccionámos apenas as entradas do diário e os parágrafos com referências a Cobumba.  (LG)

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Cufar, 25 de Junho de 1973 


Não estou encantado com o lugar que vim encontrar, mas Cufar é melhor do que eu imaginava. Em termos de guerra, segurança pessoal, companheiros de armas e instalações. 

(…) A dois quilómetros de Cufar, passa o rio Cumbijã que subi há três dias na LDG. A sul deste rio fica a região do Cantanhez, até há pouco tempo um santuário do PAIGC. Ora em finais de 1972, o general Spínola decidiu ocupar toda esta zona e, talvez pareça estranho, no entanto não foi difícil espalhar as NT pelas regiões do sul, os guerrilheiros têm também as suas debilidades, quase não resistiram à ocupação e foram-se multiplicando os destacamentos com tropa portuguesa junto de pequenas aldeias, cada um deles com pelo menos uma companhia de cerca de 180 homens, Cafine, Cafal, Cadique, Cobumba, Jemberém, Chugué, Caboxanque. 

Os portugueses podem agora afirmar que o sul já não é pertença do PAIGC. Não conheço ainda a maneira como vivem estes quase dois mil homens, mas posso imaginar como tudo tem sido duro. Estão a construir os aquartelamentos, sujeitos a frequentes flagelações, muitos dormem ainda em tendas, em valas, quase sem luz, com dificuldades de abastecimento de água, com alimentação deficiente. 

Uma coisa é certa, os guerrilheiros não só não conseguiram impedir a instalação dos novos aquartelamentos portugueses como tiveram de abandonar as aldeias e de se refugiar nas florestas, junto de pequenos lugarejos escondidos no mato (…) 

(…) Cufar, 29 de Junho de 1973 

Às oito horas voltei a ouvir os pum, catrapum, pum, pum. Era o vizinho de cima, Cobumba, oito quilómetros a norte daqui. Sem consequências. 

Esta flagelação foi mais dura do que a de ontem a Cafal e Cafine, ouviam-se nitidamente as armas ligeiras, o matraquear das metralhadoras, costureirinhas, as rajadas. O sul da Guiné é tudo menos monótono, temos ruído, estrondos e emoção todos os dias. 


(…) Cufar 3 de Julho de 1973 

(…) Hoje comi bifes de gazela, gazelas mortas pela metralhadora pesada de um helicóptero, numa verdadeira caçada a partir do ar. Um homem está sempre a aprender, ignorava que se podia caçar de helicóptero. 

Os hélis vêm cá quase todos os dias, sempre aos pares, o Alouette normal e o helicanhão. Fazem base em Cufar e daqui irradiam para os aquartelamentos de toda a zona, Cadique, Cafine, Cafal, Cacine, Cabedu, Cobumba, Chugué, Caboxanque, Bedanda, as tais povoações que volta e meia “embrulham”. Levam víveres, correio e algum pessoal. 

Os hélis passam por cima das regiões libertadas, mas até hoje nunca foram flagelados. Voam a “rapar”, cinquenta metros acima do solo, a boa velocidade e não dão chances aos mísseis do PAIGC. Um dia podem ter uma surpresa, esperemos que não. O perigo existe sempre, mas os pilotos são responsáveis e corajosos. 

Ontem no voo para Cacine, os dois helicópteros viram uma manada de gazelas, o helicanhão fez fogo e abateu três animais. O outro héli desceu, foi buscar as gazelas e trouxe-as para Cufar. Duas ficaram aqui e uma seguiu para Bissau, para o banquete dos pilotos. Está explicado o requinte de hoje haver bifes de gazela ao almoço.(…) 

(…) Cufar, 5 de Julho de 1973 

À tarde, evacuámos no Nordatlas para o hospital de Bissau um soldado de Cobumba que pisou uma mina e ficou sem uma perna, esfarrapado, retalhado até aos testículos. O médico diz que ele não se salva. 

Veio pelo rio Cumbijã de “sintex” até Cufar e perdeu muito sangue. Fui à pista e todo o seu corpo era ligaduras e sangue. A minha passividade a olhar para o moço, os olhos parados. Não sou o mesmo António que desembarcou na Guiné há um ano atrás. 

(….) Cufar, 6 de Agosto de 1973 

Fui voar de helicóptero. Quase todos os dias temos cá os hélis. O serviço deles é transportar géneros frescos, correio, algum pessoal, estarem disponíveis para qualquer evacuação, assegurarem-nos a logística. Esta manhã pedi uma boleia e, como havia espaço para mim, aí fui eu dar uma grande volta com os pilotos, no Alouette normal tendo sempre ao lado o hélicanhão. Voei até Cacine, Cabedu, Cafal, Cafine, Cadique, Cobumba, Chugué e Bedanda, quase todos os aquartelamentos nossos vizinhos aqui na região. 

Foram mais de duas horas de viagem, incluindo as estadias não muito demoradas nos diferentes lugares. Perigo? É muito relativo, ainda há dias estiveram cá o Spínola e o Silva Cunha, e foram a Cadique e Cacine, voando sempre por cima do rio e do mar porque é mais seguro. 

(…) Cufar, 1 de Setembro de 1973 

(…) Também sábado ao entardecer, tivemos em Cufar as consequências da guerra. Às quatro e meia da tarde, um Unimog pisou uma mina anti carro em Cobumba. Os seis pobres desgraçados que iam na viatura ficaram feridos, três em estado grave. De Cufar, pedimos a evacuação para Bissau, vinham dois hélis a caminho mas voltaram para trás devido ao mau tempo. Um Nordatlas que seguia de Bafatá para Bissau foi desviado para aqui e chegou já de noite. 

Entretanto, os feridos de Cobumba, a perder muito sangue, vieram para Cufar nos sintex, descendo o rio Cumbijã. A pista de aviação foi iluminada pelo usual processo artesanal, as garrafas de cerveja cheias com petróleo e as mechas acesas distribuídas lateralmente ao longo da pista. Com os feridos seguiu para Bissau o furriel enfermeiro que fez de capelão quando daquela brincadeira no desembarque dos “periquitos” há quinze dias atrás. Os feridos de Cobumba estiveram na sala de operações do hospital de Bissau até às quatro horas da manhã, não morreu nenhum. Tanto esforço, mas salvaram-se as vidas. 

(…) Cufar, 12 de Novembro de 1973 

Na LDG chegou uma companhia de “periquitos”, com um mês de Guiné que vão render os infelizes que estão em Cobumba. Já perceberam para onde vão e estão completamente desmoralizados. Como é possível aguentar as NT a combater na Guiné quando o que todos desejam é a paz e sair daqui? 

No porto pequeno, no rio Manterunga, que chega quase até Cufar e é um braço do rio Cumbijã, temos um pau com duas bandeiras. Em cima, por causa das agruras do clima, já meio trapo, a bandeira portuguesa, em baixo, em melhor estado, uma bandeira branca. O capitão da companhia açoreana disse-me que também vai mandar hastear um par igualzinho de bandeiras lá em baixo, no porto grande, no cais do Cumbijã.(…) 

(…) Cufar, 15 de Novembro de 1973 

Ainda a propósito do ataque de ontem, estivemos a fazer contas das flagelações sobre os aquartelamentos da nossa zona nos últimos oito meses. Catió “embrulhou” seis vezes, o Chugué vinte, Cobumba doze, Caboxanque quatro, Cadique dez, Cafal quinze, Cafine catorze, Bedanda onze e Cufar apenas três. Não nos podemos queixar, somos uns privilegiados, vivemos no buraco mais seguro do sul da Guiné. (…) 

(…) Cufar, 21 de Novembro de 1973 

Guerra todos os dias. Ontem às seis de tarde, hoje às seis da tarde. Ontem foi Cobumba, estávamos a começar a jantar e pum, catrapum, pum, pum. Alguns de nós saltaram das mesas e começaram a correr para as valas.

Cobumba fica aqui mesmo ao lado e como têm lá uma nova companhia de “periquitos”, os guerrilheiros trataram de lhes fazer condigna recepção, com foguetões, morteiros, canhão sem recuo, tudo a disparar numa cadência de fogo impressionante. O pessoal de Cobumba teve sorte, estão lá estacionados quatrocentos homens – a companhia velha e os “periquitos” que os vêm substituir – e não sofreram uma beliscadura. 

(…) Cufar, 1 de Dezembro de 1973 

O grupo de homens do PAIGC que veio outro dia atacar Cufar com os morteiros e os RPGs anda a visitar as capelinhas da zona. Depois de nós, foram duas vezes a Cobumba e uma ao Chugué, com flagelações precisamente iguais à nossa. Também não deu nada, só insegurança e medo. Já sabemos que é um grupo novo de guerrilheiros e que andam a treinar. Ontem foi a vez de Cafal. Não houve feridos, mas acertaram em cheio com uma granada de RPG na secretaria da companhia e deram cabo das instalações. Pior seria se tal tivesse acontecido na secretaria do CAOP 1 em Cufar, com o alferes Abreu lá dentro, ou por perto.

 (…) Cufar, 9 de Dezembro de 1973 

(…) Às cinco menos dez da manhã, fomos acordados pelos pum, catrapum, pum, pum. Era Cobumba, os nossos vizinhos mais próximos. Mais um ataque filho da puta! Estava tudo a dormir e durante meia hora a cadência de fogo era impressionante. Se fosse connosco, lá teria eu de fugir em cuecas para a vala. 

Cobumba levou o tratamento do costume, foguetões, canhão sem recuo, RPGs e morteiros. Também como é habitual, nem uma beliscadura nos duzentos homens que por lá padecem. 

(...) Cufar, 21 de Janeiro de 1974 

Cumpriu-se um ano sobre o assassinato do Amílcar Cabral e o PAIGC comemorou a data. Aqui na zona atacaram os aquartelamentos de Gadamael, Cafal, Cafine, Cadique, Cobumba, Bedanda, Chugué, Catió e … Cufar. (…) 

(…) Cufar, 3 de Abril de 1974 

A guerra está feia. Bedanda embrulhou durante todo o dia, um ataque tremendo, doze horas consecutivas de fogo. A festa só acabou à noite com uma espécie de cerco à povoação levado a cabo pelos homens do PAIGC. Em Cufar, tão próximo, além de distinguirmos nitidamente as rajadas de metralhadora de mistura com os rebentamentos dos RPGs, foguetões e canhão, à noite viam-se as balas tracejantes e as explosões no ar. 

Uma novidade, os guerrilheiros utilizaram viaturas blindadas na flagelação a Bedanda. Existe uma estrada que vem da Guiné-Conacry, passa junto a Guileje – abandonada pela tropa portuguesa, – entra pela região do Cantanhez e termina em Bedanda. O IN está a utilizar esse percurso para deslocar camiões carregados com todo o tipo de armamento, em seguida é só despejar sobre os aquartelamentos portugueses mais expostos e fáceis de alcançar, como Chugué, Caboxanque, Cobumba, Bedanda, Cadique e Jemberém. (…)

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Nota do editor:

Guiné 63/74 – P9641: Convívios (405): Encontro de 2012 da 2.ª CART do BART 6523/73, no próximo dia 12 de Maio de 2012, Pombal (António Barbosa)


1.   O nosso Camarada António Barbosa (ex-Alf Mil Op Esp/RANGER do 1º Pelotão da 2.ª CART do BART 6523, Cabuca, 1973/74, solicita-nos a divulgação do próximo convívio da sua companhia.

 CABUCA

Camaradas,

Em nome da comissão organizadora, solicito o favor de publicação do programa do próximo Encontro/Convívio da minha 2ª CART do BART 6523/73.

NOTA: Queremos estender este convite a todos os Combatentes que tenham passado por Cabuca.

O meu obrigado
Cumprimentos
António Barbosa
Alf Mil Op Esp/RANGER do 1º Pel da 2ª CART/BART 6523,


Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

17 DE MARÇO DE 2012 > Guiné 63/74 – P9621: Convívios (325): No dia 3 de Março de 2012 ocorreu o VI Encontro dos ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos (Carlos Vinhal)  


quinta-feira, 22 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9640: Nós da memória (Torcato Mendonça) (15): Corpo di Bó? - Fotos falantes IV





1. Texto e Fotos Falantes (IV Série) do nosso camarada Torcato Mendonça (ex-Alf Mil da CART 2339 Mansambo, 1968/69) para integrar os seus "Nós da memória".





NÓS DA MEMÓRIA - 15
(…desatemos, aos poucos, alguns…)

11 – Corpo di Bó ? Fotos – 27;28;29;30 –

Para tratarmos o corpo era necessária uma boa alimentação. Falhava.
As Forças Armadas não tinham Nutricionistas e, menos ainda, militares entendidos na alimentação para um Quartel na zona do Porto, Timor ou na Guiné. Assim era natural que a nossa alimentação falhasse, apesar de sermos abastecidos por terra, “mar” e ar. Aqui “mar” era o Rio Geba. Os barcos, da Manutenção Militar, sulcavam as suas águas, de quando em vez revoltas pelos macaréus programados e descarregavam, no Xime ou Bambadinca, toneladas de alimentos para tanta gente.

De quando em vez, muito raramente, tínhamos rancho melhorado. Um “héli” podia trazer-nos frescos (vegetais, peixe, carne). Esses, vindos do ar, eram consumíveis e consumidos com gosto e apetite voraz.

Outros frescos que íamos buscar a Bambadinca, não eram tão fiáveis mas marchavam. Havia ainda uma ou outra vaca trazida de Sonaco. Aí estão as fotos a atestarem o tratamento que era dado a essas amigas. Eram consumidas com rapidez. Aquele calor incomodava tudo. Até a carne de vaca não o tolerava bem.

Acabadas estas excepções à alimentação voltávamos ao habitual. Aí estava feijão (em cinco, cinco, qualidades), conservas diversas, chispe holandês (rosado, como as naturais daqueles lados depois de um dia de Sol no Algarve), dobrada liofilizada, salsichas, arroz e mais arroz.

Era o eterno círculo vicioso do cardápio ou do menu dos almoços e jantares. A alimentação era igual para todos.

Nas Tabancas, estadias de um mês nas em autodefesas, podia ser pior. Contudo, de quando em vez aparecia uma galinha, um cabrito ou outro petisco.

Em Candamã/Áfia, raramente um caçador se aventurava noite dentro e abatia caça grossa. Se sim, lá estávamos nós a comer bife de empreitada, três ou quatro naquele dia ou no outro “ká tem”…o calor e os insectos amigo tudo estragavam. A alimentação, no outro dia, voltava ao mesmo, talvez mais leve nesse dia ou nós teríamos menos apetite.

Dias e dias a feijão com feijão-frade é aborrecido. O frade claro.

A magreza era devida ao exercício físico e prática desportiva. Eu vos contarei depois.

Mansambo > Heliporto > Abastecimento de frescos e afins

Mansambo > Vaca de Sonaco quase no tacho ou panela, sem política

Mansambo > Em preparação

Texto e fotos ©: Torcato Mendonça (Fotos Falantes IV) 2012. Direitos reservados
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9601: Nós da memória (Torcato Mendonça) (14): O percevejo e o flautista - Fotos falantes IV

Guiné 63/74 - P9639: Análise da situação do inimigo - Acta da reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973 - Parte I (Luís Vaz Gonçalves)




Mais um trabalho documental do nosso tertuliano (Tabanqueiro 530) Luís Gonçalves Vaz, desta vez uma Análise da situação do inimigo - Acta da reunião de Comandos, realizada em 15 de Maio de 1973 no Quartel General do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné.




ANÁLISE DA SITUAÇÃO DO INIMIGO



PARTE I

Reunião de Comandos, em 15 de Maio de 1973, “alguns excertos da comunicação do Chefe da Repartição de Informações”, Tenente-coronel Artur Batista Mourão (Chefe 1ª Rep.)


“Em 15 de Maio de 1973, pelas 10H30, no Quartel General do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné, teve lugar, sob a presidência e mediante convocação do General Comandante-Chefe, General António de Spínola, uma reunião de Comandos na qual participaram os comandantes-adjuntos respectivamente, Comodoro António Horta Galvão de Almeida Brandão, Comandante da Defesa Marítima da Guiné, Brigadeiro Alberto da Silva Banazol, Comandante Territorial Independente da Guiné, Brigadeiro Manuel Leitão Pereira Marques, Comandante-Adjunto Operacional e Coronel Gualdino Moura Pinto, Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné …”

General Comandante-Chefe, General António de Spínola

“… Dou a palavra ao Chefe da Repartição de Informações. …”

“… A Situação no TO, analisada à luz da evolução do IN e do seu potencial, e processos de acção, sofreu, em especial nestes últimos dois meses, um substancial agravamento de resto já oportunamente previsto face às informações processadas, e que se traduz em Franca subida de grau no desenvolvimento em escalada da sua manobra Político-militar, constituindo o tempo inicial de uma nova fase do conflito: o empenhamento na passagem para acções do tipo convencional, embora ainda isoladas, visando objectivos limitados, e não integrados em qualquer plano de ofensiva geral em moldes clássicos, só próprio, aliás, de uma ulterior e última fase …”

Mapa da Guiné Portuguesa, com o Dispositivo Militar do PAIGC
Anexo à Ata da Reunião de Comandos de 15 de Maio de 1973

Lancha torpedeira do tipo P6 - Deslocamento: 75 toneladas; Dimensões (em metros): 25.7 x 6.1 x 1.8; Armamento: dois tubos lança-torpedos de 533mm e dois reparos duplos de 25mm: Propulsão: quatro motores diesel accionando quatro hélices, totalizando 4800 CV; Velocidade: 43 nós; Autonomia: 450 milhas náuticas a 30 nós; Tripulantes: 25.

“… Para completar o quadro da evolução do potencial material do IN, resta acrescentar, no que se refere a Meios Aéreos, que o PAIGC dispõe já de 4 aviões ligeiros e aguarda o fornecimento de mais 6 de tipo não revelado, contando já com 28 pilotos; e no que se refere a Meios Navais, a posse de três Vedetas Rápidas do tipo P-6, de origem Soviética. …. “

“…A recente chegada de 6 pilotos estrangeiros (Líbios e Argelinos) à Rep. Guiné para substituírem, nos MIG-15 e MIG-17, os pilotos guineanos cuja imperícia se revelou em alguns acidentes.

Mig 15 e Mig 17 (fotografia retirada de: http://www.fairchild24.com/fighters.htm)

Soldados russos embarcando um Mil Mi-8 versão de transporte-armado durante a Guerra do Afeganistão. Esse helicóptero representou para os russos na guerra do Afeganistão, a mesma importância que os Bell UH-1 Huey representaram pros EUA durante o conflito no Vietnam. A diferença é que os Mi-8 são maiores, consequentemente levam maior quantidade de tropa e carga, e são bimotores. (Foto: Vaul)


A chegada à Rep. Guiné de 2 Helicópteros MI-8 Em fins de Abril.

A promessa da Rep. Guiné ceder uma pista ao PAIGC para manobra dos seus aviões.
…………….

POSSIBILIDADE DO INIMIGO E PROVÁVEL EVOLUÇÃO DA SITUAÇÃO

“…Face aos elementos analisados, em especial tendo em atenção as acções que o IN, bem como os países que mais directamente o apoiam, têm capacidade e intenção de realizar, concluiu-se neste estudo pelo agravamento progressivo e rápido de uma situação cuja súbita deterioração recente parece não deixar margem para dúvidas quanto à sua perspectivação no futuro próximo e imediato. Assim julga-se que o IN, no imediato, e tirando partido do impacto nas NF (nossas forças) das limitações sofridas, bem como da alta moralização que daí naturalmente advém para os seus combatentes, procurará:

- intensificar a acção antiaérea, procurando obter a todo o custo novos sucessos e adaptando …..

- incrementar a acção de guerrilha à luz de uma mais directa agressividade, especialmente dirigida contra as guarnições agora mais dependentes do reabastecimento por via terrestre, em especial por emboscadas contra colunas auto e apeadas, conjugadas com ou não com ataques a aquartelamentos;

- massificar as acções contra povoações com guarnição militar em ordem a obter sucessos militares politicamente exploráveis e dissociar a adesão das populações pela prova de força em acção frontal contra a protecção conferida pelas NT, tirando assim partido dos novos meios e processos de acção.

Esta actividade incidirá, mais provavelmente, nas guarnições de fronteira em especial nas mais vulneráveis às acções com carros de combate, pelo que se consideram áreas de preocupação:

- o eixo NOVA LAMEGO-BURUNTUMA e em especial a guarnição de BURUNTUMA, particularmente ameaçada:

- a região de ALDEIA FORMOSA e, e em especial, as guarnições de GADAMAEL e GUILEJE, expostas a uma acção de carros de irradiando da Rep Guiné;

- a fronteira Norte da Zona Oeste, com particular incidência para a faixa tradicional de infiltração (GUIDAGE/BIGENE/FARIM/CUNTIMA).
……”

Chefe da Repartição de Informações, Tenente-coronel Artur Batista Mourão. In: Anexo “A” À Ata da Reunião de Comandos, de 15 de Maio de 1973

Base de Cumbamori no Senegal
Fonte da foto: livro "Guerra Colonial", Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes

Como sabem, neste mesmo mês (Maio de 73), Guidage ao Norte e Guileje ao sul, foram as duas pontas da tenaz da Operação Amílcar Cabral, lançada pelo PAIGC, e de que já escrevi neste nosso Blog. A queda de Guilege a 22/05/1973, na sequência da operação "Amilcar Cabral", é de facto “previsível” na análise da reunião de Comandos de 15/05/73, pois nela se debateram o crescente poderio do PAIGC nas zonas de fronteira. Como tal, fica aqui a questão, “qual a razão do Comando-chefe da altura, o mesmo que cerca de 10 dias antes, soube das verdadeiras intenções/potencial do In e não fez nada (a Sul) para evitar que “a ponta da tenaz da Operação Amilcar Cabral, lançada pelo PAIGC, não tivesse êxito a Sul? Falta de Efectivos de Reserva? Falta de Tropa especial? Ou subestimou-se mesmo o “potencial do PAIGC”? ou outro motivo? …. De facto o Comando-chefe, “investiu a Norte, na Operação Ametista Real”, realizada para "libertar" Guidaje, a norte, com um batalhão de comandos, tendo as NT sofrido nessa operação, 10 mortos, 22 feridos graves e 3 desaparecidos. É bom relembrar, que no primeiro trimestre de 1973 as NT tiveram 135 mortos, enquanto em igual período em 1972, tinham tido apenas 48.

Em Suma, e como o Comandante-Chefe (general António de Spínola) afirmou nesse longínquo dia 15 de Maio de 1973, nessa mesma reunião de Comandos; “…encontramo-nos, indiscutivelmente, na entrada de um novo patamar da guerra, o que necessariamente impõe o reequacionamento do trinómio missão-inimigo-meios …”

Ao contrário do que se possa pensar, os serviços de informação militares, funcionavam e pelos vistos com um grande grau de previsão…. Tínhamos mesmo agentes no terreno …

Estes registos que aqui apresento, foram extraídos de um Documento “MUITO SECRETO”, já “DESCLASSIFICADO”, Ata da Reunião de Comandos, de 15 de Maio de 1973.


Mapa da Guiné Portuguesa, com a Área onde o PAIGC exercia Acções de Guerrilha
Anexo à Ata da Reunião de Comandos de 15 de Maio de 1973


Comunicação nesta reunião de Comandos, do Chefe da Repartição de Informações…


Luís Gonçalves Vaz
(Tabanqueiro 530)
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9634: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (6): Os Oficiais do Corpo do Estado Maior (CEM) no TO da Guiné em 1973/74 (Luís Gonçalves Vaz)

Vd. último poste da série de

Guiné 63/74 - P9638: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (33): Lembrando os meus amigos da CCAÇ 3549... e discorrendo sobre o meu pessimismo crónico (Cherno Baldé)

1. Comentário de  Cherno Baldé, com data de 19 de março, ao poste P9617 [, Foto do Cherno, à direita, quando jovem estudante universitário, em 1989, na Ucrânia, ex-URSS]:

Caro José Cortes,

Aproveito esta oportunidade para felicitar a CCAÇ 3549,  "Deixós Poisar",  por mais um encontro-convívio entre velhos amigos de Fajonquito. Só lamento não poder estar lá, desta vez, sempre na esperança de um dia poder participar e abraçar os meus velhos amigos. 


Assim na impossibilidade de o fazer pessoalmente, rogo-te, caro amigo, que sejas o portador de uma mensagem de amizade e de fraternidade para com todos os camaradas da companhia que estarão presentes em Vizela,  da parte dos filhos e amigos de Fajonquito que nunca deixaram de pensar neles, desejando longa vida e felicidades sempre na esperança de um dia poder reencontrá-los e matar saudades.

Um grande abraco para ti e lembranças aos meus amigos condutores: Mandinga, Torres, Celestino, Sérgio e Magalhães; ao Cunha, Esteves, Oscar (3º  pelotão), Marques (Cabo do 2º pelotao),  Fininho e Gonçalves. Cherno Baldé. 



2. Resposta, de 29 de fevereiro último, do Cherno Baldé [, foto atual, à esquerda, no seu gabinete de trabalho, no Ministério das Infraestruturas, Transportes e Comunicações, em Bissau, onde exerce as funções de diretor do gabinete de estudos e planeamento], ao um mail meu, do dia 27: 

["Cherno, meu amigo e irmão: Tens toda a razão...O título é 'enviesado'... Substitui 'amargura' por 'lealdade'... Como sociólogo, tenho como princípio nunca  confundir as 'elites' com o 'povo'... Mas fazemos isso, ao falar dos 'fulas', dos 'tugas', etc. Fica bem, em paz, com saúde... Aprecio a tua sinceridade... Mas tenho-te achado, nestes últimos tempos,  mais amargo, mais desencantado... Podes ser franco comigo... Luís]

Caro amigo e irmão Luis Graça,

Amargo e desencantado e, acrescento, pessimista... É  o que eu sempre fui na vida, senão como seria o rafeiro, a  como eu próprio me auto-intitulo ?!

Se puderes imaginar, por um instante so, o que significa ser rafeiro, então facilmente poderás compreender-me. Mas atenção, ser rafeiro para mim, não é o mesmo que ser cão. Este último orienta o seu faro e intelecto mais no sentido de encher a barriga e saciar a fome, e é muito egoista enquanto que o primeiro, mesmo se precisa de sobreviver, está ao servico de um objetivo superior, uma missão que tanto pode ter uma como várias finalidades sociais ao servico do seu amigo, do seu grupo, etc. de forma aberta, dialogante e tendo como premissa de fundo a lealdade e o respeito de certos princípios orientadores e consensuais. 

Talvez por isso, o político português que eu mais admirava era o Álvaro Cunhal, não tanto pela sua orientação ideológica, já caduca no anos 90, mas sobretudo pela força da sua convicção e perseverança, assente em princípios políticos e morais. 

Mas, confesso também que o Blogue tem sido, para mim, uma importante escola e, tendo em conta o manancial de informação que ele representa, mesmo sem querer, pode estar a provocar em mim algumas mudanças (ruturas) de sensibilidade em relação ao meio envolvente que, às vezes, se manifestam nas palavras, e como tu o dizes, não há maneira de contrariar pois não tenho dúvidas quanto à tua extraordinaria capacidade de leitura, nas entrelinhas e não só. 

Mas podes crer que, seja o que for, não será contra o tuga a quem eu aprendi a respeitar e sobre quem eu já tenho ideias fixas, velhos amores, que dificilmente vão mudar, pese embora as pequenas deceções e amarguras que vão aparecendo aqui e acolá em função de descobertas repentinas e inesperadas sobre o comportamento do corpo expedicionário português na Guiné durante a guerra (serão as tais espinhas do Blogue?), como por ex. algumas suspeitas infundadas sobre a lealdade dos aliados fulas no decorrer da guerra, os acontecimentos obscuros de Guidage envolvendo militares portugueses e tropas nativas que não estavam de acordo com a forma como a questão da independência estava a ser tratada, entre outras coisas. 

Mas a vida é assim mesmo, não é?

Por outro lado, será que há muitos motivos para que um Guineense comum, ou se se quiser, da classe média, como eu, esteja  encantado, seja doce e otimista em relação ao futuro? E, ainda mais, nós que tivemos a ousadia de, desafiando um futuro incerto, procriar filhos com a obrigaçã
o de os educar e inculcar otimismo. 

Quem quiser compreender as origens do meu pessimismo crónico, deverá fazer uma retrospetiva histórica sobre a Guiné e a minha comunidade, em particular, no período entre 1960 a 1980.

Ou se calhar, também eu, já estou a envelhecer...

Com os meus melhores cumprimentos,

Cherno Baldé
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Guiné 63/74 - P9637: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (9): Comentário de António J. Pereira da Costa ao documento de Carlos Filipe

1. Ainda a propósito do documento do camarada Carlos Filipe publicado no nosso Blogue (P9602*), o editor Luís Graça pediu uma análise/comentário ao outro nosso camarada António José Pereira da Costa, Coronel Reformado (ex-Alferes de Art.ª na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69 e ex-Capitão de Art.ª e CMDT da CART 3494/BART 3873, Mansabá, Xime e Mansambo, 1972/74). Publicamos agora a sua resposta:

Camaradas
Este documento parece-me o rascunho da acta da reunião.
Parece-me ser "autêntico", isto é, produzido em 29JUL74. Não estando assinado é difícil ir mais longe.

Como nele se vê, são tratados diversos temas e não apenas a questão dos BCmds.
O PAIGC parece querer assumir o controlo do Batalhão e saber, de antemão, que a FLING não é nada mas interessa-lhe que ela seja qualquer coisa...

É evidente o clima desconfiança reinante no Batalhão. Uns ainda pensavam que o PAIGC estaria disposto a integrá-los na sociedade e a esquecer o sucedido. Daí a referência aos cursos de formação profissional acelerada (impossíveis, como se sabe). Outros adivinhavam que isso não sucederia e que maus tempos estavam para chegar.

O PAICG assume realmente que alguns elementos do Batalhão eram socialmente irrecuperáveis. Para além do Marcelino não há mais nomes, talvez porque tinha havido uma reunião como os oficiais do BCmds e o Partido não se quereria referir a eles abertamente.

Contudo, como se vê, não há a menor intenção do PAIGC de que os constituintes do BCmds fossem considerados como portugueses, o que implicaria a sua expulsão imediata do país e, mais que provável, perda de nacionalidade.

Por mim, e doa a quem doer, o PAIGC agiu de má fé. Ao pretender desarmar o BCmds queria simplesmente anular uma muito possível rebelião (muito sangrenta, mas destinada ao fracasso), atitude que se pode considerar como normal numa força política que ascende ao poder, descobrindo que agora é que os seus problemas iam começar, a sério.

Numa segunda fase trataria - como o fez - de os eliminar, social ou mesmo fisicamente. Não creio que "a população" estivesse interessada em hostilizar ou maltratar o pessoal do BCmds. A generalidade da população tinha mais em que pensar do que andar à "caça ao comando". Só excepcionalmente poderiam surgir situações de violência entre elementos do BCmds e pequenos grupos ou elementos isolados da população.

Para mim, esta foi uma consequência (sempre previsível) da "guineização da guerra". Em qualquer situação semelhante, há sempre uma boa parte da população de um país que está na oposição à força vencedora, ou porque "colaborou com o inimigo" ou "recebeu apoio dele". São os vencidos das guerras civis ou os colaboracionistas. Mesmo quando há uma "reconciliação" (e tantas tem havido) há sempre "dificuldades de integração" que a historiografia normalmente esquece, por não merecer investigação e ter pouco valor como tema para a literatura...

Finalmente acho estranhíssimo que este documento tenha sido encontrado no emissor da Buraca da RR. Como terá ele ido lá parar? Com que fim? Simples curiosidade do possuidor que, depois, sentiu os dedos a queimar e largou? Foi bom que não se tenha perdido. Creio que o AHM deverá ser depositário deste e doutros documentos similares que por aí andam.

Quando penso na quantidade de arquivos das Companhias e Batalhões que hoje não conseguimos localizar, pergunto-me para onde poderão ter ido. Posso admitir que a documentação das ultimas unidades se possa ter "perdido" ou ter sido elaborada com muito menos cuidado, mas relativamente às mais antigas, não entendo. De posse dessa documentação poderíamos desenvolver estudos que nos permitiriam reconstituir coisas tão complexas como a evolução táctica no "nosso" sector. Enfim procuremos...

Um Abraço e peço desculpa por me ter alargado
António José Pereira da Costa
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 13 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9602: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (4): Documentação referente a negociações entre Portugal e o PAIGC com vista à desmobilização das tropas africanas que combateram por Portugal (Carlos Filipe)

Vd. último poste da série de 21 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9634: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (6): Os Oficiais do Corpo do Estado Maior (CEM) no TO da Guiné em 1973/74 (Luís Gonçalves Vaz)

Guiné 63/74 - P9636: Efemérides (85): Operação Ebro, realizada a 22 ou 23 de Março de 1965 (António Bastos)

1. Mensagem do nosso camarada António Bastos*, ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66, com data de 13 de Março de 2012:

Companheiro Carlos boa noite,
Dia 22 de Março ou 23 faz quarenta e sete anos que o meu Pelotão 953 tomou parte da operação "EBRO" - ocupação de Canjambari Praça.

Tomaram parte nesta invasão: CCav 488, um GCOMB da CCav 487, Pel Caç 953, Pel Fox 693, Pel Daimler 810, Pel Sapadores da CCS do BCAV 490, o Pel Mil 5 e um GCOMB da 1.ª CCaç Africanos. A comandar a operação ia o então Tenente Coronel Cavaleiro.

Este foi o dia do meu batismo de fogo, já estava há sete meses a fazer turismo no Cacheu.

Sobre as datas, eu no meu diário escrevi 23, mas na História do Batalhão 490 está 22. Não sei se foi lapso meu na altura.

Esta foto foi tirada momentos antes do rebentamento de uma mina anticarro que destruiria uma viatura GMC

Esta foto foi tirada minutos antes de rebentar a emboscada. A secção que ia na frente deixou de ouvir os pássaros e os macacos, e fez alto à coluna. Logo a seguir ficava a bolanha e depois uma grande árvore atravessada na estrada onde eles diziam que era a porta de armas. Aí a secção começou a embrulhar.

Fotos do "Hotel de Canjambari Morcunda" onde eu passei 13 meses, sempre a ver as mesmas caras, pois na altura não havia população. Depois fomos agraciados com dois meses em Jumbembem. O aquartelamento de Canjambari foi todo feito por nós, Pelotão 953, e um pelotão da 1.ª CCaç Africanos, inclusive até a pista foi feita por nós, tudo à força dos braços, a Engenharia não pôs lá os pés.

Um abraço para ti, e extensivo a toda a tabanca.
António Paulo S. Bastos
Ex-1.º Cabo
Pel Caç Ind 953
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 12 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8897: Filhos do vento (11): A filha da minha lavadeira (António Bastos)

Vd. último poste da série de 30 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9290: Efemérides (62): A CART 3521 chegou à Guiné no dia 29 de Dezembro de 1971 (Adriano Neto)