Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 1942 > "No dia em que fiz 22 anos, em S. Vicente, C. Verde. 19/8/1942. Luís Henriques " [, 1º cabo inf, 3º Companhia, 1º Batalhão, RI 5, Mindelo, São Vicente, Cabo Verde, 1941/43, entretanto integrado no RI 23].
Lourinhã > c. 1920 > A mãe, muito querida, de Luís Henriques, que morreu, em 1922, quando ele tinha 2 anos de idade. O meu pai tinha raízes na Lourinhã: pelo lado do seu pai, Domingos Henriques , no Montoito, e pelo lado da avó materna, Maria Augusta de Sousa, em Ribamar (clã Maçarico). Sua mãe, Alvarina de Jesus, morreu jovem, em 1922, de tuberculose, fato que o marcaria para toda a vida: a mãe nunca lhe pôde dar um beijo, afagava-lhe o rosto com a ponta dos dedos!... E nos seus três últimos dias de existência, em que eu tive o privilégio de o acompanhar no seu leito de morte, evocou o nome da mãe Alvarina, por mais de um vez. Tinha uma enorme afeição por ela. O pai, Domingos Henriques, casou três vezes: do primeiro casamento, não teve filhos; do segundo teve dois, Luís e Domingos; e do terceiro, teve onze... Era um homem remediado, com "sete propriedades": arruinou-se com os amigos e com tantos... filhos. Ainda o conheci, de muletas e de beata ao canto da boca... (LG).
Lourinhã > 6/12/1942 > Nazaré, Maria Adelaide e Ascensão, três vizinhas e amigas de Luís Henriques, fotografada na ponte sobre o Rio Grande, Lourinhã Foto enviada para o amigo e vizinho, expedicionário em Cabo Verde, com "votos de verdadeira e sincera amizade". A primeira parte da legenda é ilegível. Lembro-te de todas elas. A Maria Adelaide já morreu. Da Ascensão perdi-lhe o rasto. A Nazaré, conhecia-a bem, era a tia da Mariete, a família toda foi para a América, com a família no em meados dos anos 50. E julgo que casou lá... Será que ainda é viva ? Era "ajuntadeira" (costureira de calçado), e trabalhou muito para o meu pai, sapateiro, que dava trabalho a muita gente na Lourinhã. Lembro-me bem a ti Adelina, mãe da Nazaré, nossa vizinha, e que era um, espécie de curandeira lá do bairro... Nós morávamos na rua dos Valados, ou do Castelo, e elas na rua, paralela, a do Clube... Quando puto, e
quando doente, ela - a tia Adelina - aplicava-me as suas mezinhas, receitas da medicina popular com séculos de eficácia simbólica e terapêutica... Lembro-me, com repulsa, das suas unturas, na garganta, feitas com merda e gordura de galinha, para tratar da papeira... (LG)
Lourinhã > s/d [. década de 1940] > Julgo tratar-se da comissão de festas da Confraria de N. Sra. dos Anjos, de que fez parte o meu pai [,o primeiro á direita], mas também o seu primo António de Sousa, já falecido, músico, saxofonista, fundador do conjunto Dó Ré Mi [, primeiro à esquerda] e o meio-irmão do meu pai, José, de alcunha
Vassourinha [, segundo à esquerda]... Reconheço ainda o seu primo Abel Sousa, o quinto a contar da esquerda, entre o João Pinheiro e o Rei (tesoureiro da CML)... Reconheço ainda o pai do meu querido e falecido amigo João Manuel Delgado: era carpinteiro, o quarto a contar da direita.. (LG).
Cabo Verde > S. Vicente > Julho de 1942 > "Num dos quintais dos aquartelamentos do Monte num grupo de amigos e, entre eles, Luís Henriques [, o segundo do lado esquerdo, na 2ª fila,] que ia para os treinos do voleibol".
Cabo Verde > S. Vicente > 1/12/1942 > "Uma das fases do jogo de voleibol no dia da festa da Restauração, organizada pelo R. I. nº 5, em Lazareto, 1/12/1942, S. Vicente, C.Verde. Luís Henriques".
Cabo Verde > S. Vicente > 1943 > Postal da época, "Coladeira do S. João" [ou
cola san djon] > Legenda no verso da foto (a tinta verde, já quase ilegível): "Dançando o batuque (sic) na Ribeira de São João, no dia de São João , no interior (?) de São Vicente. Luís Henriques. 24/6/1943". [A festa de São João Baptista continua a ser uma das festividades maiores das ilhas do Barlavento e da comunidade caboverdiana da diáspora, por exemplo, no bairro da Cova da Moura, Amadora;
ainda hoje, "em São Vicente a festa decorre na Ribeira de Julião, localidade que dista poucos quilómetros da cidade do Mindelo. Mesquitela Lima descreve-a como uma espécie de romaria onde há de tudo um pouco: Missa, comeres, beberes e dança, acompanhada de tambores e de apitos. A dança é a umbicada. A anteceder o dia de São João Baptista, coincidindo com a festa pagã do solstício de Junho, há o tradicional saltar da fogueira (lumenaras)" .
Fotos: © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados [Legendas de Luís Henriques e de L.G.]
Lourinhã > s/ d [, c. década de 50] > Praça da República: praça dos automóveis de aluguer. E, ao fundo, a Rua Grande. Postal ilustrado. Edição do GEAL - Museu da Lourinhã. [Reproduzido com a devida vénia].
Do lado esquerdo, não visível na foto, ficava a Escola do Ensino Primário Conde de Ferreira onde eu estudei (1954/58), infelizmente já deitada abaixo tal como o coreto, ao lado da Igreja Matriz, antiga igreja do convento dos Franciscanos (e moinumento nacional). O coreto vê-se melhor na foto a seguir...
A rua que se vê ao fundo era (e ainda é) uma rua bonita, do Séc. XVIII... Para nós, era a Rua Grande, por onde passava todo o trânsito local, regional e nacional (Felizmente, hoje é uma rua pedonal)...
A política do bota-abaixismo do presidente da Câmara Municipal, Licínio Cruz (, lourinhanense, e ainda para mais arquiteto!), deposto com o 25 de Abril de 1974, levou à perda deste belíssimo património edificado, a escola e o coreto... O edifício, nas traseiras da
praça de táxis, também já não existe... O resto da Praça da República mantêm-se de pé, em especial os edifícios do lado direito (antigos edifícios da Repartição de Finanças e do Tribunal da Comarca; neste último está instalado o
Museu da Lourinhã - ou Museu dos Dinossauros - onde se pode ver uma das mais valiosas colecções paleontológicas da Europa). (LG).
Lourinhã > s/ d [, c. década de 50] > Praça da República: o velho coreto [, demolido no princípio dos anos 70,]. Este foi um dos lugares (mágicos) das brincadeiras da minha infância: era aqui, neste empedrado que, na hora do recreio escolar,
jogávamos ao "hoquei em patins"... sem patins e com "sticks" de pau de tramagueira... Era também aqui que ouvíamos os concertos da Banda da Lourinhã, fundada em 2 de janeiro de 1878... Postal ilustrado. Edição do GEAL - Museu da Lourinhã. [Reproduzido com a devida vénia]. (LG).
1. Faz hoje um ano que se despediu desta terra da alegria (parafraseando o título do último livro do poeta Ruy Belo, publicado em vida,
Despeço-me da terra da alegria, 1978) o homem simples e bom que foi o meu pai, meu velho e meu camarada Luís Henriques (19/8/1920-8/4/2012).
Reproduzo aqui, com a devida vénia, um texto de opinião, do jornalista da RTP, Pedro Martins, lourinhanense, publicado no blogue Lourinhã Local, e que é um singela e sincera homenagem ao seu antigo treinador, Luis Henriques, popular e carinhosamente conhecido como o Ti Luís Sapateiro...
A Lourinhã, a sua terra, Cabo Verde (e em particular a ilha de São Vicente), onde esteve 26 meses como expedicionário durante a II Guerra Mundial, e o futebol, de que foi praticante e treinador, foram três paixões do meu pai. Recordá-lo é cultivar a sua memória e cultivar a memória é de algum modo, tentar imortalizar alguém, mesmo que essa seja uma forma, ingénua mas muita humana, de lutarmos contra o efeito devastador e irreversível da morte que nos aparta, para sempre, dos nossos entes queridos...
Ainda ontem estive no cemitério da Lourinhã, junto ao seu jazigo. E falei com ele, em voz alta,. como costumo fazer, sem receio do ridículo. É a minha maneira, muito pessoal, a par da escrita e da fotografia, de fazer o luto pela sua perda. Faz hoje um ano, que ele se despediu de nós, para sempre. Escolheu um domingo de Páscoa, e uma manhã soalheira para se despedir da terra da alegria, e daqueles de quem mais amava, os seus filhos, netos e bisnetos... Já a sua "Maria, minha cachopa", a viver no mesmo lar em que ambos estavam, desde 2008, ainda hoje tem a convicção que ele anda por ali perto: "não está aqui, foi trabalhar"... Para mim, e para a sua família e amigos,
ele estará sempre por ali, nos labirintos da memória, mesmo que eu oiça o poeta (e meu vizinho, ali da Praia da Consolação) dizer:
(...) Chegou enfim o tempo do adeus
Ouço a canção efémera das coisas
despeço-me da terra da alegria
já reconheço a música da morte (...)
(Ruy Belo, in
Todos os Poemas. Lisboa: Assírio & Alvim, 2000, p. 624) (LG)
3. Blogue Lourinhã Local > 26 de fevereiro de 2013 > ; "Ti Luís Sapateiro - o mestre do fair-play", por Pedro Martins
Os recentes incidentes durante os jogos Sp. Braga-Paços de Ferreira e V. Guimarães B-Sp. Baga B voltam a colocar, em primeiro plano da atualidade desportiva, a questão da violência nos recintos desportivos.
A possibilidade que os clubes têm atualmente – em tempo de crise – de poderem poupar uns trocos no policiamento é uma verdadeira bomba relógio. Afinal como é possível que em certos jogos sejam os
stewards (assistentes de recintos desportivos) os únicos a zelar pela segurança de todos?!
Receio realmente que a situação possa ainda piorar mais no futuro, caso os responsáveis governamentais e do futebol português não alterem um regulamento que é um verdadeiro aliado daqueles “adeptos” que se deslocam aos estádios (ou pavilhões) apenas com um intuito: o de derrotar/aniquilar os inimigos através da violência física.
Será que vai ser preciso esperar por uma morte num estádio para tomar medidas drásticas? Não quero acreditar nessa hipótese. E nem de propósito. Este domingo ao fazer um jogo de futsal tomei conhecimento de uma importante e louvável iniciativa dos responsáveis pela modalidade no Sporting. Durante uma semana, atletas, treinadores e dirigentes do clube, mas também alunos de várias escolas do concelho de Odivelas, tomaram contato com o Plano Nacional de Ética no Desporto (PNED).
Mas afinal o que é o PNED? Nada mais, nada menos que um conjunto de iniciativas planificadas por parte do governo que visam promover os valores inerentes à prática desportiva, como o
fair-play, o respeito pelas regras do jogo, o respeito pelo outro, o jogo limpo, a responsabilidade, a amizade, a relação e a interajuda entre todos os agentes desportivos.
Algo que tem de ser incutido aos desportistas logo em criança mas também, e acima de tudo aos pais, muitas vezes os primeiros responsáveis por situações delicadas no desporto mais jovem, principalmente no futebol.
Quem já não assistiu a um jogo de formação e ficou horrorizado com o comportamento de alguns pais nas bancadas? Um péssimo exemplo para os filhos, numa altura em que estes estão a dar os primeiros passos no desporto.
Estádio do Sporting Clube Lourinhanense (SCL) > 8 de fevereiro de 2003 > Homenagem, ainda em vida, ao sócio nº 1 do SCL, Luís Henriques (1920-2013). Ao centro, o meu pai, já de muletas, tendo à sua direita o presidente do município, José Manuel Custódio (, e também presidente da assembleia geral do clube), e à esquerda o diretor do SCL, Miguel Fernando Oliveira Pinto (O SCL foi fundado em 26 de Março de 1926, sendo a filial nº 24 do Sporting Clube de Portugal. (LG)
Foto: Cortesia do blogue
Lourinhã Local (2013) e do blogue do neto,
André Henriques Anastácio (2012)
E depois também não nos podemos esquecer do (importante) papel que têm os treinadores no crescimento desportivo dos jovens atletas. São eles os primeiros a ensinar que não se pode ganhar com batota, que é preciso respeitar os adversários e os árbitros, além de que devem também ser eles a exigir aos jovens o máximo de
fair-play, combater a violência e proibir o tal jogo duro.
Daí que não possa deixar de aqui recordar com muita saudade o ser humano que maiores conhecimentos me transmitiu no futebol, ainda nos meus tempos de criança na Lourinhã. Não esquecendo aquele que foi o meu primeiro treinador (o senhor Germano, do Casal Juncal), foi no entanto o Ti Luís Sapateiro a pessoa que sem dúvida me marcou mais quando comecei a dar os meus primeiros passos como desportista. A mim mas não só. Pelas mãos deste treinador “à moda antiga” passaram muitos jovens do concelho da Lourinhã.
Infelizmente o Ti Luís Sapateiro deixou-nos há cerca de um ano mas a sua memória continua bem viva. Aquele que chegou a ser o sócio número um do Lourinhanense tinha sempre uma palavra amiga, um sorriso no rosto e um enorme respeito por todos os agentes desportivos. Ainda hoje recordo com muita saudade, os conselhos que nos dava... e quase sempre em frases que rimavam.
Que falta fazem hoje em dia, no desporto português, pessoas como o Ti Luís Sapateiro.
Pedro Martins
[Reproduzido aqui com a devida vénia]
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Nota do editor:
Último poste da série > 19 de março de 2013 >
Guiné 63/74 - P11275: Meu pai, meu velho, meu camarada (37): Memórias do Mindelo, São Vicente, Cabo Verde, no dia do pai...