domingo, 28 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11494: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (33): 34.º episódio: Memórias avulsas (15): O Brutubol

1. O nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67), em mensagem do dia 22 de Abril de 2013, enviou-nos mais uma história para publicar na sua série "Os melhores 40 meses da minha vida".


OS MELHORES 40 MESES DA MINHA VIDA

GUINÉ 65-67 - MEMÓRIAS AVULSAS

15 - O BRUTOBOL

Julho de 1966

Estava a realizar-se o campeonato mundial de futebol, lá p'las England's, o que deu ensejo a que o IN nos tentasse provocar.

E foi assim, que espetado num tronco dum frondoso embondeiro e já bem perto de Mansabá, mais própriamente junto a uma antiga serração de madeirame, eu tivesse colhido, numa visita que pretendia fazer aos amigos que deixara no K3 (sem a tal ser obrigado mas por parvoíce e voluntariado assaz parvo) eu tivesse colhido repito, um folheto-convite, que ao que soube nem era já o primeiro, para um joguinho onde até já tinham, árbitro e equipa. Tenho essa missiva escrita à mão, em meu poder, não sei onde mas aparecerá e lá vinha os nomes dos seus jogadores.

E então era assim:
- Guarda-redes: PPSH;
- Defesas, esqº,central e dtº: Canhões sem recuo 120mm;
- Centrais: Metralhadora pesada Degtyrev e metralhadora ligeira Bren;
- Avançados, extremos esquerdo e direito, Interiores Idem e avançado centro: Kalashnikov's.

Supus que estes últimos, seriam irmãos ou cousa parecida.

Sabem... é que eu era ainda um ingénuo, embora rico pois se até quando em Lisboa, houvera comprado a estátua do Marquês a um gajo que ma vendeu por vinte mil réis, embora estivesse a pedir trinta e já não falo das duas garrafas de Whyski que depois d'abertas eram chá de S. Roberto, cousa boa que tudo curava e era bem raro.

Já que falo nessa minha estadia no Grupo de Companhias Trem Auto, na Av. da Berna, deixem-se que vos diga que um dia fui mesmo enganado.
Senão imaginem: apanhei o eléctrico para a Praça do Comércio e sabem onde fui parar? Pois vejam bem: ao Terreiro do Paço.

Ah provinciano, provinciano que ainda és... qu'eras mesmo estúpido... eras disse eu e muito bem, pois que agora julgo ser apenas um velho tonto, "pobre... triste... abandonado". (Vasco Santana dixi)

Ainda sobre a equipa deles: verificava-se já, e tal como nos actuais benficas, portos, sportings e quejandos, que só jogavam com estrangeiros.
Propunham-se ainda, minar todo o redor do campo e marcavam a disputa para as dezanove horas.
Por isso é que desconfiámos e não comparecemos, pois que se devia tratar duma tramóia e... desconfiámos porque a essa hora seria já noite e o estádio junto ao campo de aviação não tinha iluminação.

Eles sim, estiveram lá, que bem os ouvimos, fartaram-se de rematar flagelando o aquartelamento e só abandonaram o campo quando o nosso obus, e assim estilo Mokuna (mais conhecido por fura-redes e que jogou ali na Faculdade do Futebol em Alvalade) atacou em força ripostando com sucesso contra as investidas adversárias.

Localização da "Serração" (Carta de Farim) no troço da estrada Mansoa/Mansabá, entre Mamboncó e Mansabá

Acabado o recreio, na matina seguinte, acabei por não ir ao destino a que me propusera.
Requisitado fui para que urgentemente regressasse a Bissau o que fiz no DO do correio.
Já houvera dito que estava instalado em luxuosa suite, no QG em Santa Luzia.

Apesar disso e talvez em Setº de 1966, resolvi arrendar conjuntamente com dois amigos músicos do conjunto das Forças Armadas, um apartamento bem bom e que maior liberdade desse às minhas acostumadas visitas das 2ªs, 3ªs, 4ªs, 5ªs, 6ªs e Sábados, sem terem que passar pela humilhação de deixar a identificação na porta d'armas lá de cima.

Situava-se junto ao cais do Pigiguitti e a cem metros dum local onde preparavam umas ostras de se lhes tirar o chapéu, bem como também assavam uns camarõezinhos acompanhados com molho de jindungo e limão.

Ali acolhi alguns camaradas da minha CCAÇ 1422, quando em férias ou em tratamentos hospitalares e dentro do espírito "onde cabe um Português... cabem dois ou três". Para além de que, estes eram da minha família militar.
E era uma festa ver esta rapaziada liberta da G3, com uma cama para dormir... boa comida... melhor buída... descanso... sossego... paz... e uma repartida amizade, sempre presente.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11436: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (32): 33.º episódio: Memórias avulsas (14): O desertor

Guiné 63/74 - P11493: Blogpoesia (334): Regressei da Guiné (Joaquim Luís Mendes Gomes)


 1. Mensagem de Joaquim Luís Mendes Gomes [ ex-alf mil,  CCAÇ 728, (Cachil, Catió e Bissau, 1964/66);  jurista na Caixa Geral de Depósitos, hoje reformado]

Data: 27 de Abril de 2013 à52 18:47
Assunto: ...regressei da Guiné

Estimados camaradas
e Grandes Editores
Com um abraço terrível, aqui deixo o meu contributo por este dia de festa:





Regressei da Guiné



Dei comigo voando em sonho. 
Numa terra distante. 
Verde, cheia de rios, correndo. 
Havia palmeiras e arcos de terras. 
Encharcadas de água, fazendo arroz. 

Cantavam aves de porte gigante. 
E feras escondidas, de olhos em brasa. 
Ouvia gemidos de casas, 
Chorando soluços. 
Fogueiras a arder, debaixo da lua.
De festa ou de luto. 
Alguém importante, 
Morria ou se ia casar. 

Batiam tambores 
Em batuques sem fim, 
Anúncio de guerra, 
Ou correio de novas 
Que se queriam ao longe levar. 
E sobas imponentes,
De cabelos grisalhos. 
E vestes compridas,
Julgando irmãos. 
Pelas leis do costume, 
Sem favores a ninguém. 

Havia também mercados em festa,
Carregados de cores. 
Mulheres de açafates à cabeça, 
E meninos às costas. 
Jovens sadios, 
Com arcos e flechas, 
Fazendo de índios, vadios, 
Jogando às guerras, 
Como se fossem reais. 
Acordei, a chegar …
Ó que pena e saudade!…
Do chão da Guiné.
Mafra, 27 de Abril de 2013

19h29m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes


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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11492: Blogpoesia (333): A notícia do fim da notícia (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P11492: Blogpoesia (333): A notícia do fim da notícia (Luís Graça)


A notícia do fim da notícia

Poema dedicado ao meu amigo
Horácio Mateus (1950-2013)
que anteontem se cansou da vida.
Grande lourinhanense,
foi cofundador 
do GEAL-Grupo de Etnologia e Arqueologia da Lourinhã
 e do Museu da Lourinhã





Pedimos desculpa,
Mas hoje não há notícias…
Um dia gostaria de acordar sem notícias.
Sem televisão.
Sem jornais.
Sem Internet.
Sem o ruído das ondas hertzianas.
Sem mensagens.
Sem mensageiros.
Sem imagens
Nem palavras.
Nem sequer as duas últimas palavras
Do locutor de serviço a pedir desculpa
Por não haver notícias.

Um dia gostaria de acordar
Com a notícia do fim da notícia.
Ou nem sequer isso.
A notícia do fim do circo mediático.
Ou nem sequer isso.
Gostaria de acordar
Só com o buraco negro do ecrã
À minha frente
A milhões de anos-luz
No meu telescópio.

Ou nem sequer isso.

Um dia gostaria de acordar
No mais absoluto silêncio.
Nem ouvir o ruído sequer
Do vaivém das ondas do mar 

Ou a sinfonia dos moinhos de vento da minha infância.
Ou nem sequer isso.

Um dia não gostaria sequer
De acordar.


Luís Graça
21/8/2008.
Revisto em 26/4/2013
depois de saber da notícia
da morte de um amigo e conterrâneo.



Cartoon de Simão Mateus (Com a devida vénia...)
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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11373: Blogpoesia (332): Guiné... Voltarei lá um dia ? (Magalhães Ribeiro)

Guiné 63/74 - P11491: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (31): Respostas (nº 58 e 59) de Manuel Marinho, ex-1.º Cabo do BCAÇ 4512 (Nema e Binta, 1972/74) e José Martins Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CART 2716 (Xitole, 1970/72)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Marinho (ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74), com as suas respostas ao questionário enviado à tertúlia:


(1) Quando é que descobriste o blogue?

R -  Em 2009

(2) Como ou através de quem? (por ex., pesquisa no Google, informação de um camarada) 

R - Por pesquisa no Google, e por causa do cerco a Guidaje, na altura entendi que não poderia ficar calado porque o “filme” dos acontecimentos estava incompleto. 

(3) És membro da nossa Tabanca Grande (ou tertúlia)? Se sim, desde quando? 

R - Desde 2009, quando enviei o meu primeiro texto.

(4) Com que regularidade visitas o blogue? (Diariamente, semanalmente, de tempos a tempos...) 

R - Diariamente, às vezes mais do que uma vez 

(5) Tens mandado (ou gostarias de mandar mais) material para o Blogue (fotos, textos, comentários, etc.)? 

R - Ultimamente não. Estou a ultimar um trabalho sobre Guidaje, tentando sistematizar tudo o que se passou, não sei se terei fôlego para chegar ao fim.

(6) Conheces também a nossa página no Facebook [Tabanca Grande Luís Graça]? 

R - Conheço, mas não lhe dou atenção. 

(7) Vais mais vezes ao Facebook do que ao Blogue? 

R - Naturalmente ao Blogue. 

(8) O que gostas mais do Blogue? E do Facebook ? 
R - Gosto das estórias que vou lendo sobre a nossa presença na Guiné, e tenho a impressão que já conhecia muitos destes camaradas, é uma aprendizagem constante, de facto este Blogue é um caso único de afectos e camaradagem. 

(9) O que gostas menos do Blogue? E do Facebook? 

R - No Blogue, não gosto de escritos que nada têm a ver com a Guiné, não gosto de ver fotos de camaradas nossos aos abraços com elementos do PAIGC, não gosto de escritos sobre quem nos traiu, estou a referir-me a desertores, (o lugar deles não é neste Blogue), não gosto de elogios ao PAIGC, porque não lhes devo nada, e não gosto da ficção de muitas das estórias contadas, devemos fazer um esforço para escrever (contar), com os nossos 20 anos de então, e não com os olhos e a experiência de hoje. 

(10) Tens dificuldade, ultimamente, em aceder ao Blogue? (Tem havido queixas de lentidão no acesso...) 

R - De vez em quando à mais lentidão, mas não será culpa do Blogue. 

(11) O que é que o Blogue representou (ou representa ainda hoje) para ti? E a nossa página no Facebook? 

R - O blogue para mim foi e é, um sitio onde me sinto bem, devo-lhe amizade e lealdade, nele encontrei camaradas que de alguma forma me ensinaram a conhecer melhor a guerra na Guiné, e parece-me que encontrei amigos que sempre conheci. 

(12) Já alguma vez participaste num dos nossos anteriores encontros nacionais? 

R - Não, com pena minha.

(13) Este ano, estás a pensar ir ao VIII Encontro Nacional, no dia 8 de Junho, em Monte Real? 

R - Não, até pelo facto de andar atarefado com a preparação do almoço da minha 1ª Ccaç.

(14) E, por fim, achas que o blogue ainda tem fôlego, força anímica, garra... para continuar? 

R - Acho sinceramente que sim, enquanto manter a matriz para que foi criado, isso dependerá da vontade que os editores lhe derem, que já é muita, bem hajam.

(15) Outras críticas, sugestões, comentários que queiras fazer. 

R - Na continuação da resposta anterior, há mais quantidade mas menos qualidade, e isso reflecte-se na participação de alguns camaradas que eram mais intervenientes.

Um abraço
Manuel Marinho

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2. Respostas ao questionário do nosso camarada José Martins Rodrigues (ex-1.º Cabo Aux Enf da CART 2716/BART 2917, Xitole, 1970/72): 


 1 – Aí por volta de 2008

2 – Através do camarada David Guimarães

3 – Sim, sou membro mas já não me lembro desde quando 

 4 – Várias vezes por semana

5 – Não tenho mandado, mas autorizei a publicação de crónicas escritas no Blogue da Tabanca Pequena

6 – Não tenho especial apetência pelo facebook 

7 – Só vou ao Blogue 

8 – Os relatos de experiências vividas e as fotos das nossas recordações

9 - Não aprecio nada quando o blogue serve de púlpito ou de local de comícios

10 – Não tenho sentido dificuldades 

11 – Um grande e indispensável elo de ligação ás pessoas e locais que marcaram a nossa juventude 

12 – Já 

13 – Não vou poder estar presente 

14 – Tenho a certeza que sim, apesar das dificuldades que o avançar dos anos vão trazer 

15 – Penso que se devia “rodar” o local do Encontro Nacional
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Nota do editor:

Último poste da série de 27 de Abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11482: 9º aniversário do nosso blogue: Questionário aos leitores (30): Respostas (nº 56 e 57) de José Manuel M. Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71) e de António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493, Mansambo e Fá Mandinga, 1972/74)

Guiné 63/74 - P11490: Convívios (518): 17º Encontro/Convívio da CCAV 8351 - “Os Tigres de Cumbijã” (Magalhães Ribeiro)



17º Encontro / Convívio da CCAV 8351 “Os Tigres de Cumbijã” 



No passado sábado, dia 27 de Abril, a CCAV 8351 do ex-capitão Vasco da Gama comemorou o seu 17º Encontro/Convívio, em Pessegueiro do Vouga. 

Aqui, entre nós, é escusado estar a tecer muitas considerações sobre o que são os convívios entre a malta das unidades que estiveram no ex-ultramar português, que mantêm a tradição de se reunir periodicamente, independentemente daquelas que mais sacrificadas foram. 

São fraternas, ruidosas e animadas festas, com mais ou menos surpresas pelo meio, onde encontramos homens ainda hoje duros, manifestam sem qualquer sinal de recato a sua inter-amizade, afectuosidade e cumplicidade como se de famílias inteiras se tratasse. 

E não o são, famílias? 

É assim, que eu analiso os encontros entre os ex-militares da CCAV 8351, unidade superiormente comandada pelo nosso camaradão Vasco da Gama (que nestas ocasiões rejuvenesce aí uns 20 anos), e que bem se demonstra nas fotos que a seguir se inserem. 


 O Casimiro Carvalho e o João Melo tiram as medidas ao bolo 


Ao lado esquerdo está o Amândio Inácio que se deslocou desde Connecticut (Estados Unidos da América), com a sua esposa Manuela, para estar presente no convívio  

Resta-me agradecer ao grande comandante Vasco da Gama, o convite que mais uma vez me endereçou e que obviamente aceitei com muito honra e agrado. 

Até 2014, com os desejos que, se tal for possível, sejam cada vez melhores as confraternizações dos aguerridos Tigres de Cumbijã. 

Magalhães Ribeiro
Fur Mil OpEsp CCS do BCAÇ 4612/74
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Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em: 



Guiné 63/74 - P11489: Convívios (517): Notícias da Tabanca Ajuda Amiga (Carlos Fortunato)

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Fortunato (ex-Fur Mil da CCAÇ 13), dirigente da ONGD Ajuda Amiga, com data de 21 de Abril de 2013:

Camaradas
Habitualmente a Tabanca Ajuda Amiga faz o seu almoço de convívio na última 5ª feira de cada mês, mas dado este mês coincidir com o feriado do 25 de Abril, não vamos realizar o mesmo, face ao grande número de ausências que nos foi manifestado.

Esperamos que no próximo mês (30-05-2013, 5ª feira, às 12h45), possamos contar com a vossa presença neste convívio aberto a todos os amigos da Guiné.

Juntamos fotos do nosso último convívio, o qual foi muito animado com uma discussão em torno do tema levantado durante o almoço, "Porquê a retirada de Guileje?".

Tabanca Ajuda Amiga continua até ao fim do ano com a campanha de recolha de cobertores e bolas, que podem ser entregues durante os almoços de convívio ou na Junta de Freguesia de S. Francisco Xavier em Lisboa.

Os cobertores serão distribuídos em Portugal e na Guiné-Bissau, e as bolas serão todas distribuídas na Guiné-Bissau.

Decorre ainda outra campanha, a da angariação da consignação de 0,5% do IRS, a componente financeira é fundamental para se conseguir realizar qualquer projecto, mesmo com trabalho exclusivamente voluntário, e os membros da Ajuda Amiga a suportarem as suas deslocações, e a contribuírem para os projectos.

Uma declaração de IRS solidária irá ajudar a enviar o contentor da ONGD Ajuda Amiga para a Guiné-Bissau e apoiar os mais desfavorecidos. Não tem quaisquer custos para quem a faz, mas que permitirá à Ajuda Amiga, a consignação de 0,5% do IRS que liquidar, assim na declaração de IRS, no modelo 3, anexo H, campo 9 (campo reservado à consignação fiscal), basta indicar o NIPC 508 617 910, e marcar um “X” assinalando que se trata de uma Pessoa Colectiva de Utilidade Pública.

http://pt-pt.facebook.com/pages/Tabanca-Ajuda-Amiga/156733857807547
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2013/03/guine-6374-p11198-convivios-496.html
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2013/02/guine-6374-p11152-convivios-494-ii.html
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2013/02/guine-6374-p11056-convivios-490.html
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2013/01/guine-6374-p11019-ser-solidario-140.html
http://noticiasbissora.com.sapo.pt/noticias2013.html

Mais uma vez obrigado pela colaboração, que tem sido preciosa.
Um alfa bravo
Carlos Fortunato




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Nota do editor

Último poste da série de 27 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11484: Convívios (516): Pessoal da CART 2412 (Bigene, Guidage e Barro, 1968/70), dia 18 de Maio de 2013 na Mealhada (Jorge Teixeira)

sábado, 27 de abril de 2013

Guiné 63/74 - P11488: FAP (70): 50 anos de operação do AL-III na Força Aérea (Miguel Pessoa)

1. O nosso Camarada Miguel Pessoa, (ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje Coronel Pilav Reformado) enviou-nos a seguinte mensagem. 

Caro pessoal, 
Preparei esta foto-reportagem do encontro que no passado dia 20 juntou mais de 600 pessoas na BA11, em que se comemorava os 50 anos de operação do AL-III na Força Aérea. 
Por ser em cima do acontecimento não é muito aprofundada mas, por outro lado é bem actual. 

Se quiserem publicá-la estão à vontade. 

Abraço.
Miguel







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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

17 DE JULHO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10160: FAP (69): Aterragem em grande estilo (António Martins de Matos) 

Guiné 63/74 - P11487: 9º aniversário do nosso blogue: Parabéns (3): Parabéns ao grandioso Blogue (Felismina Costa) e Por ele e por causa dele, Blogue, reencontrei camaradas, fiz amizades pessoais e correspondentes espalhados pelo mundo (Jorge Teixeira - Portojo)

1. Mensagem de parabéns da nossa amiga tertuliana Felismina Costa:

Parabéns ao Grandioso Blogue “luisgracaecamaradasdaguine”

Caríssimos:
Luís Graça, Carlos Vinhal, Eduardo Magalhães Ribeiro, Virgínio Briote, Hélder Sousa, José Martins e Torcato Mendonça.

Meus ilustres amigos, é mais que justa uma homenagem ao esforço, ao brio, à perseverança deste grupo de homens, que consegue manter em funcionamento (e tão bem arrumadinho) um Blogue desta envergadura, durante nove anos. Não sei se o Luís Graça, seu criador, quando o imaginou, supôs que teria esta longevidade e esta dinâmica!

Lembro- me do dia em que o descobri, (há três anos atrás) e assustada me dirigi “Ao Sr. Blogue” querendo saber notícias dessa Guerra, que foi vossa/nossa, e em que participei com palavras escritas e com toda a pureza e ignorância da minha adolescência.

Numa ânsia de saber pormenores dessa realidade e desse tempo, li exaustivamente muitos e muitos depoimentos dos homens que participaram activamente no referido acontecimento, que deu azo a este Jornal Diário, que cada um dos seus membros compõe, citando as suas experiências, o seu sofrimento, as suas lembranças, as suas saudades, a sua ligação para sempre àquelas paragens.

Aqui fiz amigos que considero, “amigos verdadeiros” oferecendo em troca, um pequeno poema, ou simples texto, onde digo da minha gratidão à vida. Vida, que desejo a todos vós, longa e sorridente até ao fim!

Parabéns pelos (4 718 908) de visitas!
Parabéns pelo trabalho, pela dinâmica, pela organização, pela quantidade de depoimentos!
Parabéns pelas amizades grandes que comporta, pela gente bonita que o mantém vivo e que são todos quantos participam com as suas histórias, a sua cultura, e as suas vivências.

Quero felicitar todos que nele participam, especialmente pelo facto de serem sobreviventes, de um conflito sem mérito, que enlutou tantas famílias e deixou marcas irreversíveis em tantas outras.

Sou afectuosamente, “uma moça do vosso tempo”
Felismina mealha




2. Mensagem do camarada Jorge Teixeira (Portojo), (ex-Fur Mil do Pelotão de Canhões S/R 2054, Catió, 1968/70), enviada a propósito do aniversário do nosso blogue:

Caro Luís, Caros Editores, Caros Camaradas
Em momentos de aniversários é lugar comum deixar os parabéns e abraços, beijinhos cá de longe, e essas cenas que ficam registadas por quem recebe, para quem manda por vezes é uma obrigação.

Fálo (com acento, assim evito confusões com o falo que nos querem impôr na nova ortografia) por mim, pois a muitos amigos e camaradas a quem envio esses lugares comuns tal não seria possível sem o Blogue que criaste e os editores desenvolveram e os correspondentes mantêm vivo.

Por ele e por causa dele, Blogue, reencontrei camaradas, fiz amizades pessoais e correspondentes espalhados pelo mundo.

Roubando ao Eduardo Campos a sua célebre frase: Salazar foi um fdp que me tirou anos de juventude, mas permitiu-me conhecer muitos amigos.
Ao Blogue cabe perfeitamente a adaptação da frase. Na minha resposta ao questionário, escrevi que já não tenho mais estórias para contar. Claro que tenho, mas muitas não podem ser publicadas. Faltar-lhes-ia em primeiro lugar o engenho da escrita para descrever situações que à distância de 40 e tal anos parecem estúpidas e irreais.

Também foi por causa do Blogue que recebo a minha pensão militar. Não sei se é assim que ela se chama, mas para o caso também não interessa nada. (Acho que é a única frase boa que alguma vez a Teresa Guilherme exprimiu, serve para tudo).

É estória velha já contada. Ao correr da pena, foi o saudoso Carlos Pinhão que me ensinou a diferença entre estória e história. Não tem nada a ver com a nova ortografia ou ter apanhado a palavra dos amigos Brasileiros. Mas este Blogue tem história e muita e tem muitas estórias.

Para lá dos parabéns, blablabla, deixo o meu abraço ao Luís e seus muchachos extensivos à rapaziada da Peste Grisalha.
Jorge Teixeira

Anexo: Foto tipo Bilhete postal do Guerreiro que se mandava para casa a dizer:
- Hoje vesti o camuflado para tirar o cheiro a Môfo.
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Nota do editor:

Último poste da série de > Guiné 63/74 - P11446: 9º aniversário do nosso blogue: Parabéns (2): Salve, 23 de abril de 2004! Salve, Tabanca Grande e o teu poilão! Salve, todos os nossos autores, colaboradores, leitores! Salve, todos os amigos e camaradas da Guiné! (Miguel Pessoa / Editores)

Guiné 63/74 - P11486: Memória dos lugares (231): Gadamael, 1970/72 (Vasco Pires)

1. Mensagem do dia 6 de Abril de 2013, do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72):

Caros Luís/Carlos,
Como disse anteriormente, a fotos que chegaram de São Paulo estavam em péssimo estado de conservação.
Aqui vão algumas que consegui recuperar, em duas fotos estou de túnica branca, lamentavelmente, não consigo identificar mais ninguém.
Podem publicar o que acharem conveniente.

Forte abraço
Vasco Pires










Fotos ©: Vasco Pires (2013). Todos os direitos reservados
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Nota do editor:

Último poste da série de 17 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11411: Memória dos lugares (230): Olossato dos anos cinquenta (Leopoldo Correia)

Guiné 63/74 - P11485: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (68): Luciana Saraiva Guerra, sobrinha do cor inf comando, já falecido, Maurício Saraiva, está a escrever um livro sobre a família, natural de Valpaços, e o tio paterno, nascido em Angola


Angola, 28/10/61 > O alferes miliciano Maurício Saraiva



Foto s/ legenda > Angola, s/d, s/l, equipa de futebol eventualmente de colégio das missões católicas (a avaliar pela presença do padre, na segunda fila, à esquerda). O jovem Saraiva  é o segundo, da primeira fila, a contar da esquerda.


Fotos (e legendas): © Luciana Andrade Guerra (2013). Todos os direitos reservados


1. Resposta da nossa leitora Luciana Saraiva  Guerra, sobrinha do nosso já falecido camarada Maurício Saraiva, cor comd ref (*):

De: Luciana Saraiva Andrade Guerra

Data: 24 de Abril de 2013,  15:38

Ok, vou acompanhar [o blogue]. Já está nos meus favoritos !

Obrigado por estas fotos ! Algumas não conhecia. (*)

No final de maio vou a Valpaços/Possacos, terra dos meus ancestrais. Estou fazendo um livro sobre a genealogia de minha avó paterna (mãe do tio Maurício), que em princípio estará pronto lá para o final do ano. Um dos capítulos será dedicado a meu tio, nessa altura entrarei em contato com o Luís, até para me dar algumas informações. Tenho comigo alguns documentos antigos, fotos e recortes de jornal, meu primo Francisco Henrique também me ajudará no que for possível.

Na altura própria terei todo o gosto de convidar esses amigos do meu tio que fazem parte da "Tabanca"...para o lançamento do livro. Faremos um almoço devidamente acompanhado pelo vinho da terra de Valpaços.

Sabe, há um tempo atrás, resolvi importar para o Brasil os vinhos daquela terra fantástica de Trás-os-Montes. Vou assim ajudar a terra, trazendo para o brasileiro mais uma opção...o primeiro container ainda não chegou, só lá para junho.

Terei também todo o gosto de receber aqui em Floripa (sul do Brasil) o Luis Graça, se algum dia pensar em visitar estas terras.

Um abraço a todos, aproveito a oportunidade para lhe enviar duas fotos mais antigas do tio,  ainda muito jovem. Na segunda foto, ele é o segundo a contar da esquerda para a direita (em baixo).

Luciana (**)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 24 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11457: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (66): Cap Cmd Maurício Saraiva, aqui evocado pela sua sobrinha Luciana Saraiva Guerra (Florianópolis, Santa Catarina, Brasil) e pelo nosso coeditor Virgínio Briote

(**) Último poste da série > 26 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11475: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (67): Hoje há festa no "sempre em festa" (Ritz Clube, R da Glória, 57, Lisboa), a partir das 23h, com Mamadu Baio / Super Camarinda, de Tabatô... Cinco morteiradas... Eu vou lá estar...e pago um copo ao "nosso alfero Cabral" (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P11484: Convívios (516): Pessoal da CART 2412 (Bigene, Guidage e Barro, 1968/70), dia 18 de Maio de 2013 na Mealhada (Jorge Teixeira)

1. Mensagem do nosso camarada Jorge Teixeira, (ex-Fur Mil Art, CART 2412, Bigene - Guidage e Barro, 1968/70)):

Como sempre e como já vai sendo habitual, vai realizar-se o encontro/convívio da CART 2412. 
Este ano na Mealhada e como de costume será no terceiro sábado de Maio, mais precisamente no dia 18.



Pela segunda vez consecutiva, (vamos ver se ele consegue o tri), a realização está a cargo do nosso camarada Machado (Machadinho). Atentem na carta dele e procedam em conformidade e o procedimento correcto é marcarem a presença o mais rapidamente senão arriscam-se a que já não haja bacalhau e têm que se sujeitar ao leitão, pois então...

Este é o objectivo a atingir. Esperemos que o golpe-de-mão resulte e que os procedimentos que aprenderam em tempo de guerra não estejam esquecidos.
Não precisam de ir carregados, o municiamento é feito no local, só precisam de ir focados no ataque aos terríficos.

Se tiverem dúvidas liguem ao Machado que para isto está preparado, mas não lhe estraguem as férias (entre 20 de Abril e 06 de Maio, não está para ninguém).

A exemplo de anos anteriores (Fátima e Castelo Branco) o Godinho vai contratar um autocarro, quem estiver interessado deverá contactá-lo, telm 91 750 82 92.

Tenham presente que estes convívios/encontros só acontecem uma vez por ano, que por mais que queiram este não mais se repetirá e que estão na fase de... vais ou queres que te empurre?

Aproveitem enquanto podem, vêmo-nos lá... oxalá!

Um abraço
cumprim/jteix
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Nota do editor:

Último poste da série de 25 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11468: Convívios (515): Pessoal da CCAÇ 2315 no dia 4 de Maio em Cantanhede e da CART 2716 no dia 25 de Maio no Marco de Canaveses

Guiné 63/74 - P11483: Bom ou mau tempo na bolanha (6): A ida da sua aldeia para Nova Iorque (Tony Borié)

Sexto episódio da série do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), Bom ou mau tempo na bolanha.
Assim começa Tó d'Agar uma nova vida nos Estados Unidos.








Depois de analisarem mais uma vez a situação, o Tó d’Agar, que é como se chama no princípio deste texto, junto com a Margarida, decidem que o melhor era ele ir sozinho na frente, para os Estados Unidos. Uma pessoa sozinha é mais fácil arranjar colocação e sobreviver, do que duas e um bebé.

Depois de comprarem um bilhete de avião para Nova Iorque, com algum dinheiro que tinham e um adiantamento do ordenado da Margarida, o Tó d’Agar embarca. No mesmo avião viajam diversas famílias de emigrantes. Ao lado do Tó d’Agar está sentado um emigrante que vive nos Estados Unidos há alguns anos, numa cidade ao sul de Nova Iorque, para lá do rio Hudson, em Nova Jersey. Como a viajem é longa e depois de algumas horas de conversa, esse emigrante explica ao Tó d’Agar:
- Próximo da cidade onde eu vivo, existem muitos emigrantes portugueses a trabalharem que vivem sozinhos, há muito trabalho, e você, novo e forte, que já fala algumas palavras em inglês, não vai estar parado um dia sequer.

Depois de todas as formalizações, no Centro de Imigração do Aeroporto de Nova Iorque, o Tó d’Agar sai do aeroporto com novos documentos de identificação, tinha uma oferta de emprego, só oferta, sem qualquer obrigação para ambas as partes, de uma editora de Nova Iorque que o Tó d’Agar não vai dizer o nome como devem compreender, pois nos anos sessenta do século passado mais de 30% da indústria da cidade de Nova Iorque e arredores eram tipografias e editoras onde havia alguma falta de pessoal qualificado.
Depois de ouvir o emigrante que viajou a seu lado, dizendo-lhe que na sua área trabalho não lhe iria faltar, além de outras razões, pois essa oferta de emprego na editora, era só oferta, sem qualquer compromisso em ambas as partes, portanto livre de ir para lá trabalhar, ou da editora o empregar, mencionava um ordenado que era de longe inferior ao que o referido emigrante lhe explicava que pagavam em outros empregos na sua área, e também pensando no dinheiro que trazia consigo, o seu pensamento focou-se na região onde o referido emigrante vivia. Iria ver como corriam as coisas e só depois entraria em contacto, se necessário fosse, com a editora em Nova Iorque, que não era assim tão longe.

O seu primeiro nome foi alterado, porque o antigo era difícil de pronunciar, passou a chamar-se, única e simplesmente, Tony, pois é este o nome que vem nos novos documentos de identificação, logo não é mais Tó d’Agar, nem Cifra, a partir de agora, chama-se Tony. Já fora do aeroporto, admirado de ver os carros muito grandes, olha o céu, fecha os olhos e medita por uns segundos, traz consigo um saco de lona, parecido com os que se usavam no exército de Portugal, mas um pouco mais pequeno, com alguma roupa, dezanove dólares que escondeu nas meias, mesmo dentro do sapato e o coração a transbordar de saudades da Margarida e do seu bebé.

Como antes tinha combinado com o referido emigrante, a família que o esperava, proporcionou-lhe transporte até essa cidade, ao sul de Nova Iorque, para lá do rio Hudson, em Nova Jersey, que o agora Tony agradecendo, aceitou. Deixaram-no na avenida principal com votos de felicidades, dizendo-lhe que havia algumas casas de negócio nessa avenida, onde sempre havia alguém que falava espanhol ou português. Assim o Tony veio parar a Nova Jersey, como podia ter ido parar a Nova Iorque ou a qualquer outro estado, mas quis o destino que fosse Nova Jersey.

Era inverno, havia neve no chão, fazia algum frio, era ao cair da tarde, o dia estava a acabar já sem muita luz, trazia ao ombro o tal saquito que tinha uma pequena corda, servindo de alça, começa a caminhar, parando aqui e ali, e foi tirando algumas informações, passou por baixo de uma ponte do caminho de ferro, uma zona com algum movimento. Um polícia afro-americano vendo-o parar por alguns momentos, faz-lhe sinal com a mão, para continuar seguindo, talvez com receio que o Tony quisesse dormir por ali. Caminhou por mais algum tempo e lembrando o seu companheiro de guerra, Curvas, alto e refilão, decidiu dormir nessa noite, numa espécie de jardim onde havia a luz de um candeeiro, que iluminava a zona, mesmo na margem do rio Passaic, onde também outras pessoas, alguns oriundos da América do Sul e outros afro-americanos, procuravam ajeitar a sua cama com cartões e outras objectos. Havia mesmo a disputa de lugar, onde o terreno era mais seco, o Tony ajeitou-se encostado a uma árvore com o saco a servir de cabeceira, mesmo junto de um casal afro-americano, que ao vê-lo aproximar-se se encostaram um pouco para o lado, fazendo-lhe um gesto para se deitar ali, junto deles. Depois do Tony se deitar, esse afro-americano coloca-lhe um grande plástico por cima e encostam-se a ele, dando a entender, que juntos se aqueciam mutuamente.

Pela manhã do dia seguinte, mesmo ao clarear do dia, o casal de estende-lhe uma espécie de bolo, colorido por cima, que mais tarde veio a saber se chamava “Donats”, que o Tony aceitou e comeu- Regressa à avenida principal e encontra diversos grupos de pessoas, na esquina das ruas, alguns com uma bolsa de farnel, e que falavam português entre eles, pois esperavam transporte para os seus trabalhos. O Tony logo se lhes dirige, contando-lhe a sua história, um deles, que parecia ser o chefe, logo lhe diz:
- Oh homem, trabalho não te vai faltar, se quiseres vai a esta direcção, que é ali ao dobrar da esquina, que é onde nós vivemos, falas com este senhor e ele logo te arranja lá alojamento. Olha, toma lá um banho bem quente, e come alguma coisa, do que nós lá temos no frigorífico, pois tens um aspecto de uma alma do outro mundo.

Assim foi, ficou instalado na cave de uma casa de emigrantes, com mais doze pessoas, todos homens. Havia uma cozinha comunitária e dois frigoríficos, as camas estavam de um lado da cave, encostadas a uma parede. Havia um quarto de banho com um chuveiro, todo este luxo custava seis dólares à semana, com a vantagem de começar a pagar quando arranjasse trabalho. Eram todos pessoal de trabalho, uns trabalhavam na construção de estradas, outros em obras de casas, outros na abertura de valas e colocação de manilhas de esgotos, alguns em fábricas, um era padeiro e outro empregado num restaurante. Portanto, potenciais contactos para arranjar trabalho.

Ao outro dia pela manhã, que era um sábado, o Tony, que é como a partir de agora passa a ser conhecido, saí da cave e dá uma volta pela área. Fica um pouco triste com o cenário que vê, as casas são todas iguais e encostadas umas às outras, há neve no chão, em certos lugares, da altura de um homem. Começa a nevar, passado uns minutos o chão está todo branco, escorrega e cai, levanta-se e sacode-se, passam algumas pessoas na rua, não saúdam, vão atarefadas, algumas até se desviam dele, os carros grandes e alguns cobertos de neve de alguns dias. Já todo molhado e cheio de frio da neve, regressa de novo à cave, falando sozinho:
- Isto, não pode ser a América.

Os novos companheiros, na cave, Veem-no chegar com uma cara um pouco triste, cheio de frio e com um ar de pessoa desanimada. Um deles, o que trabalhava no restaurante, logo lhe disse:
- Não fiques assim homem de Deus, aqui é onde está o trabalho e o dinheiro.

Outro, o que trabalhava numa fábrica de serração de madeiras, com ar sorridente, disse-lhe:
- Daqui a uns anos, já não queres saber mais do céu azul e do sol brilhante.

E ainda outro, que andava na colocação de manilhas de esgotos, falou muito alto:
- Todas as pessoas que chegam de Portugal, nesta altura do ano, ficam desmoralizadas, deixa vir a primavera e o verão e vês como a América é linda, e te vai dar um milhão de oportunidades. Tens é que ter saúde.

O Tony ouviu todas essas palavras de encorajamento, já tinha estado na África, em situações de desespero e sobreviveu.

Portanto isto, comparado com o cenário de guerra que viveu na Guiné, naquele aquartelamento de terra vermelha e arame farpado em Mansoa, era um paraíso. Pelo menos aqui, e segundo a opinião destes companheiros, não haveria ataques de tiros e granadas e não lhe iria faltar oportunidades de trabalho.
Um dos problemas que mais o preocupava, e era um pouco diferente, eram as saudades do bebé e da Margarida, mas iria superar tudo isso, ele lá no fundo, sabia que sim.

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Nota do editor:

Úlimo poste da série 23 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11450: Bom ou mau tempo na bolanha (5): A Fé também ajuda (Tony Borié)