sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12442: Memórias da minha comissão em Fulacunda (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, 1972/74) (Parte VI): A alegria das primeiras chuvadas...



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 1A > "Alegria das primeiras chuvas" (...)



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 1 > " (...) Depois de 7/8 meses a vermos o céu sempre igual e a atmosfera amarelada com as poeiras vindas do deserto, os primeiros pingos grossos de chuva eram celebrados com grande alívio por nós e contagiante alegria pela criançada que aproveitavam as poças de água para se refrescarem, brincarem e encharcarem os adultos incautos"…


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 2A >"Jogatana de futebol" (...) .



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 2 > "(...) . Mesmo em cenário de guerra havia disposição para 'jogatanas' de futebol. Este campo foi construído durante período que vivi em Fulacunda. Havia ainda um outro campo térreo, que na época das chuvas ficava impraticável para futebol."



 Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 3A> "Dia de Caranaval em Fulacunda" (...)



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 3 > (...) "Não sendo propriamente uma tradição, neste dia quase todos se divertiam mais. Havia batuque.

 

Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 3 > "Os meus 24 anos"...


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 3 A >  "Os meus 24 anos foram assim comemorados. Muita união e camaradagem. Apesar de a adega não estar muito apetrechada, quando alguém fazia anos fazíamos questão de fazer a respetiva festa. Nesta minha festa, até velas aniversariantes tive o prazer de apagar. Como chegaram aquelas velas a Fulacunda é o que o meu amigo Cerqueira me está tentando explicar, apesar de o meu ar incrédulo"…

Fotos (e legendas): © Jorge Pinto (2013). Todos os direitos reservados. [Edição; L.G.]


1. Continuação da publicação das Memórias da minha comissão em Fulacunda (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, 1972/74) (Parte VI)

Chegamos ao fim de um primeiro lote de fotos do tempo de Fulacunda (1972/74)... Mas o nosso camarada Jorge Pinto promete continuar a satisfazer a curiosidade de uns (que pouco ou nada sabiam de Fulacunda) e mitigar a saudade de outros (que passaram por estas terras da Região de Quíabar, "chão beafada"). 

Diz-nos ele: "No final do ano [de 2013] espero poder enviar mais fotos especialmente relacionadas com o fim da guerra colonial em Fulacunda."

[Foto atual do Jorge Pinto, à direita]

Guiné 63/74 - P12441: O nosso livro de visitas (172): Pedido de informação de Djarga Seidi, guineense da diáspora, com esclarecimento prestado pelo nosso colaborador José Martins


Guiné > Zona leste > Setembro de 1968 > Foto nº 99/199 do álbum do João  > "Os meus camaradas, alferes de cavalaria" [ possivelmente da CCAV 1662, sendo o jipe com o canhão s/r também possivelmente do Pel Can s/r 1200] (*). O nosso camarada João Martins terá conhecido em Piche o tal "alferes Canhão" que o nosso leitor Djarga Seidi anda à procura.

Foto (e legenda): © João José Alves Martins (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. (Foto editada  por L.G.)


1. Mensagem do nosso leitor Djarga Seidi, guineense da diáspora:

De: seidi djarga 
Data: 8 de Dezembro de 2013 às 20:25
Assunto: felicitação


Exmo. Senhor Luis Graça,

Na minha qualidade de Guineense que vive atualmente em Portugal já há poucos anos, aproveito esta oportunidade para vos felicitar pelo blog sobre histórias e atualidades da Guiné-Bissau, que penso ser um bom contributo para se conhecer uma boa parte da história do nosso pais assim como atividades que levam acabo em prol das populações.

Com muito gosto que desejaria encontrar com o Senhor.

Peço,  caso seja possivel, ajudar localisar dois amigos meus,  ex-Oficiais do Exército Colonial,  entre os anos de 1968 a 1972:

 - Comodoro da Marinha, que esteve na Marinha da Guerra em Bissau, com Gabinete de trabalho na antiga Amura, entre 1970-1973;

 - Alferes que esteve em Piche, que se chamava Alferes Canhão, sendo Comandante do Canhão que transportava num jeep, entre 1967-1970.

Gratos pelo atenção,

Djarga Seidi


[Tem página pessoal no Facebook; pelas fotos que disponibiliza, verifica-se que deveria ser muito criança na época a que se refere o seu pedido: deverá ter hoje 40 e tal anos... ]

2. Comentário, de 9 do corrente, do nosso colaborador José Martins a quem pedi a recolha de informação adicional para podermos responder ao nosso leitor Seidi:

Viva, Luís

Vamos tentar dar resposta às questões apresentadas:

Comodoro - Como sabes,  a patente de Comodoro equivalia, no caso do exército,  a Brigadeiro. Seria, então, um oficial já com alguma idade, necessariamente acima dos 50 anos. Se juntarmos a este número os 40 nos já passados, será pessoa, caso ainda esteja entre nós, para ostentar a idade de 90 anos, pelo que presumo que a familia o terá em bom recato para não ser incomodado.
Quanto à possibilidade de se saber quem é/era, temos que ter em consideração que o Rama da Marinha é o que mais protege os seus membros, para mais tratando-se de um oficial general, em serviço no Comando Chefe.

Alferes Canhão - É muito provavel que tenha sido o comandante de um pelotão de canhões sem recuo. O nome de Canhão ou é uma coincidência ou então "herdou" o nome da arma que manejava: um canhão sem recuo montado em jipe, para mais facil deslocação. 

Apesar da pesquisa para se saber quem é/era e depois localizá-lo será mais fácil, desde que exista no AHM [Arquivo Histórico Militar] a história da unidade que, em termos logisticos, operacionais e administrativos, dependia do batalhão instalado no comando do sector. Em anexo segue listagem das unidades que passaram por Piche, no periodo entre 1961 e 1974 [excerto]. A indicação PU (pequena unidade) quer indicar que a unidade não estava completa.

 Espero ter dado resposta às questões mencionadas.(**)

Abraço, do Zé Martins.



Listagem das unidades que passaram por Piche, no periodo entre 1967 e 1971, incluindo o Pel Canões s/r 1200 (jul 67/ mai 69) e o Pel Canhões s/r 2126 (jun 69/ mar 71).

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Notas do editor:


(*) Vd. poste de 10 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9879: Memórias da minha comissão (João Martins, ex-alf mil art, BAC 1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69): Parte IV : Em Piche, com um Pel Art com 3 peças de 11.4

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12440: Boas Festas (2013/14) (5): De Macau, com saúde, paz e amor, os ingredientes para a felicidade (Virgílio Valente, ex-alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74)



1. Mensagem do nosso camarada Virgílio Valente [ Wai Tchi Lone, em chinês], que vive e trabalha em Macau, desde 1993.  Foi alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74. Aguardamos a sua entrada para a Tabanca Grande e retribuímos-lhes os seus votos de festas felizes. (LG)


Para todos os meus Amigos,

For all my Friends,

送給我的朋友們 



Feliz Natal e Próspero Ano Novo

Merry Christmas and Happy New Year

聖誕快樂,恭賀新禧 



Com Saúde, Paz e Amor, os ingredientes para a Felicidade
With Health, Peace and Love, the ingredients for Happiness

健康,和平,愛是幸福的元素

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P12439: Boas Festas (2013/14) (4): AD - Acção para o Desenvolvimento, Bissau


1. Mensagem dos nossos amigos da AD - Acção para o Desenvolvimento, com data de hoje, enviando, em anexo, o seu cartão de Boas Festas, e o seguinte convite:

Acção para o Desenvolvimento. Visite o nosso site em www.adbissau.org e o nosso projecto de ecoturismo em www.ecocantanhez.org.

2. Entretanto, já tinha escrito ao Pepito o seguinte, agradecendo-lhe o envio, pelo correio, do calendário de 2014, editado pela AD com belíssimas fotos e feito aqui em Lisboa, numa tipografia:

Pepito, já saiu o calendário de 2014, editado pela AD. Já o recebi em casa, pelo correio. Está lindo. Parabéns pela iniciativa. Parabéns ao(s) fotógrafo(s) e sobretudo ao povo da Guiné (e em especial às suas mulheres)!... É gente linda, fotogénica e fraterna!...

Espero que vocês não fiquem "isolados" do mundo este Natal... O que se passou com o último voo da TAP preocupa-me seriamente, a mim e aos amigos da Guiné... Gostava de conhecer a tua versão dos acontecimentos mas aquilo cheira-me a "banditismo puro e duro"... Há "regras" de convívio entre os povos e os estados soberanos...Um alfabravo. Luis

3. Resposta do Pepito:

Luís: Fico satisfeito que tenhas gostado do calendário.

Quanto aos sírios, trata-se apenas de um negócio: recebe-se dinheiro e colocam-se os ditos à força num avião. O que lhes acontece a seguir pouco me interessa a mim que já tenho o dinheiro na mão e estou pronto a receber mais uns tantos.

abraço, pepito


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Nota do editor:

Guiné 63/74 – P12438: Memórias de Gabú (José Saúde) (35): Postal que enviei da Guiné para familiares e amigos na Quadra Natalícia de 1973

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série.




As minhas memórias de Gabu

Postal que enviei da Guiné para familiares e amigos na Quadra Natalícia de 1973

Boas Festas

Passados 40 anos deixo estampado no nosso blogue a mensagem natalícia que no ano de 1973 enviei para a então Metrópole do reino português e que dizia simplesmente: “Alegres festas de Natal feliz e próspero Ano Novo”.

Era assim naquele tempo. Uma foto do combatente e ao lado da imagem os ditos linguísticos, digamos curtos, mas que se conjugavam com a época vivida. A ideia, de todo feliz, catapultava o jovem militar para um prazer desmedido que lhe enchia a alma e que transpirava tranquilidade para o recetor da missiva.

Volvidos todos estes anos, opino que o postal não perdeu validade e que os meus votos natalícios dirigidos aos camaradas ficam expressos naquele bilhete postal, a preto e branco, que foi endereçado de Gabu para aqueles que, na época, faziam parte da minha aureola familiar e de amizade.

Hoje, partilho convosco estes habituais adornos, tendo em conta as circunstâncias por ora vividas. 


Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

6 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 – P12396: Memórias de Gabú (José Saúde) (34): Uma ida ao matadouro de Gabu… Seidi, o magarefe


Guiné 63/74 - P12437: Agenda cultural (298): Apresentação do livro "Olhos de Caçador", de António Brito, integrada na Tertúlia Fim do Império, dia 17 de Dezembro na Livraria-Galeria Municipal Verney/Colecção Neves de Sousa. Apresentação da edição especial da obra "Portugal e a Grande Guerra", coordenação de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes, dia 18 de Dezembro nas instalações da Liga dos Combatentes (Manuel Barão da Cunha)

1. Mensagem do Coronel Ref Manuel Júlio Matias Barão da Cunha que foi CMDT da CCAV 704/BCAV 705, Guiné, 1964/66:

Caríssimos,
Recordo a próxima tertúlia em Oeiras, dia 17, com «páras», incluindo o ex-soldado e actual dr. António Brito e o coronel Nuno Mira Vaz (ver anexo); quem puder ir será bem-vindo e também agradecemos divulgação.

Votos de Natal e Ano Novo com paz e saúde, de
M. Barão da Cunha.



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2. Mensagem de Carlos Matos Gomes, Coronel Cavalaria Reformado (ex-2.º CMDT Batalhão de Comandos da Guiné, 1972/74), escritor e historiógrafo da guerra colonial:

Meus caros amigos e amigas, 
A nossa editora, Verso da História, preparou uma edição especial do livro «Portugal na Grande Guerra» que eu e o Aniceto Afonso tivemos o privilégio de coordenar e que contém os trabalhos originais de alguns dos melhores especialistas deste acontecimento marcante da nossa história. 
Essa edição especial, reeditada no âmbito do centenário do início do grande conflito, será apresentada no próximo dia 18, quarta-feira, no Forte do Bom Sucesso, por gentileza da Liga dos Combatentes. 
Eu e o Aniceto Afonso, os autores e os editores teríamos o maior prazer em contar com a vossa presença e com o vosso bom acolhimento a esta obra. 

Antecipadamente gratos, com os nossos melhores cumprimentos e os votos de Umas Festas Felizes. 
Junto segue o convite

C O N V I T E

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Nota do editor

Último poste da série de 1 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12374: Agenda cultural (297): Comemorações do 1º de Dezembro, em Lisboa, na Av Liberdade, 14h30: 18 bandas filarmónicas e mais de mil músicos em desfile, culminando na interpretação conjunta de 3 hinos patrióticos, Maria da Fonte, Restauração e Nacional

Guiné 63/74 - P12436: Boas Festas (2013/14) (3): Sublime ternura de avô ( Manuel Luís R. Sousa)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Sousa (ex-Soldado da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Jumbembem, 1972/74, actualmente Sargento-Ajudante da GNR na situação de Reforma), com data de 7 de Dezembro de 2013:

Camarada e amigo Carlos Vinhal:
Há quarenta anos atrás, nós, os ex-combatentes, na altura com cerca de vinte e dois anos de idade, em campanha na guerra colonial, éramos a preocupação dos nossos familiares. Entre eles, de uma maneira especial, na maior parte dos casos, destaco os nossos avós, cujas orações dirigiam aos céus para que voltássemos sãos e salvos daquele cativeiro de guerra.
Os anos passaram-se num ápice, os nossos avós, entretanto, já partiram, e hoje, quase todos nós, os ex-combatentes, com a idade que temos, já assumimos esse estatuto especial de avós.
Assim, para o publicares no nosso blogue, se o entenderes, envio-te em anexo um texto da minha autoria, como mensagem de Natal, em homenagem a todos os avós e em especial àqueles que, como nós, foram combatentes na guerra colonial que gozam já desse mesmo estatuto.

Festas felizes para todos, e para os vossos netinhos, são os votos desse vosso amigo e companheiro
Manuel Sousa


Sublime ternura de avô

Um “shopping” a abarrotar de gente, num corrupio frenético das últimas compras de Natal.

Um homem idoso, quase a ser “atropelado” pela multidão em movimento, permanecia ali estático, curvado pelo peso dos anos, com um CD na mão.
Perante a indiferença de todos, dispersava o seu olhar em redor, deixando transparecer que se sentia ali perdido, deslocado, naquele turbilhão de gente anónima e que procurava algo, eventualmente relacionado com o objecto que tinha na mão, para o qual também olhava com ar de quem não percebia muito daquilo.

Quando eu passava por ele, timidamente, com o CD nas suas mãos trémulas, com marcas da vida, dos muitos anos que já tinha vivido, interpelou-me de uma forma tão peculiar como simples:
- Por favor, diga-me se esta música é das que faz “bum..., bum..., bum.”

E prosseguiu, com a mesma simplicidade, ao mesmo tempo que afagava aquele CD, qual tesouro que detinha nas suas mãos:
- Sabe, agora no Natal, quero oferecer uma música ao meu neto, mas tem de ser uma dessas que faz “bum... bum... bum” que é das que ele mais gosta.

Resistindo um pouco à tentação de me rir, pela graça que achei à forma original como o ancião identificou a música que desejava, dei-lhe a minha opinião, ao que ele agradeceu, e prossegui nas minhas compras embrenhado na corrente da multidão.

Pouco depois dou comigo a pensar naquele quadro de afectividade e ternura que o velhinho me suscitou e, sobretudo, na forma como ele me abordou, a braços com a difícil escolha do tipo de música que pretendia, tão diferente das modinhas da “tirana” e do “malhão” do seu tempo de juventude, que, seguramente, nessa época, não vinham empacotadas em CDs.

Que privilégio o meu, pensava eu, ter sido abordado por este homem simples, que, pelo que vi, com o coração a palpitar, quiçá com mais vigor do que a batida da música que procurava, me revelou o quanto idolatrava o netinho!

Porém, entregue a esta meditação, uma forte nostalgia me assaltou a alma ao projectar nele a imagem dos meus avós, já falecidos, que, também, tanto me protegeram e mimaram com a generosidade dos seus desvelos.

Nesta quadra festiva que se aproxima, não quis deixar de partilhar convosco esta singela mensagem de Natal, com base numa história verídica em que fui interveniente, por forma a contagiar-vos pelo simples mas sublime gesto deste, também, anónimo avô.

Provavelmente despertará em vós, os que ainda têm o conforto da sua companhia, a consciência de que, um dia, eles irão partir, e, mais tarde, tal como eu, e tantos outros que já os perderam, em qualquer “shopping” ou ao virar de qualquer esquina, algo encontrareis que vos trará à mente a memória desses vossos entes queridos.
Nessa altura, só já restará essa mesma memória e, consequentemente, a saudade.
Assim, enquanto é tempo, desfrutai ao máximo da sua companhia.
Enquanto tiverdes a ventura da sua presença nas vossas vidas, escutai com enlevo a brandura das suas palavras, tantas vezes de alento e de conforto, acompanhadas de um afago, de uma carícia.

É consensual que eles são uns “corações de manteiga” que se derretem pelos netos, em que estes, por sua vez, se “lambuzam”.
É flagrante, também, que entre as duas gerações se estabelece uma relação de cumplicidade, como que um insondável pacto secreto ou “cambalacho” que os liga numa simbiose perfeita.
Se dúvidas houvessem sobre isso, com a ternura do nobre gesto daquele desconhecido avô no “shopping”, a que não resisti descrever, elas seriam dissipadas.
Só eles, de facto, os avós, têm o condão especial de, desta forma, afectuosamente se darem.

Manuel Sousa
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Notas do editor

Imagem das mãos retirada da página Sexo Forte.net, com a devida vénia

Último poste da série de 10 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12427: Boas Festas (2013/14) (2): Álvaro Vasconcelos, Amaral Bernardo, Eduardo Estrela, J. C. Lucas, J. Mexia Alves, João Lourenço, José Colaço, Tony Levezinho

Guiné 63/74 - P12435: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (11): Passagem de ano na Associação Comercial

1. Continuação das "Memórias da Guiné" do nosso camarada Fernando Valente (Magro) (ex-Cap Mil Art.ª do BENG 447, Bissau, 1970/72), que foram publicadas em livro de sua autoria com o mesmo título, Edições Polvo, 2005:


MEMÓRIAS DA GUINÉ

Fernando de Pinho Valente (Magro)
ex-Cap. Mil de Artilharia 

11 - PASSAGEM DE ANO NA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL

Nos dois anos que passei na Guiné (de Abril de 1970 a Junho de 1972) constatei que a população europeia, embora muito minoritária, tinha muito peso na sociedade guineense.
Na verdade, os militares foram deslocados de Portugal para Bissau e outras partes da Guiné em grande número e alguns deles conseguiram que se lhes juntasse a família.
Em Bissau era dificílimo conseguir-se o arrendamento de uma habitação. A cidade, no tempo em que lá permaneci, regurgitava de movimento nas ruas, onde era claramente notada a população branca.

Dado o clima de guerra existente, todos os dias recordado pelas evacuações de feridos e mortos vindos do interior do território e porque, algumas vezes, era perfeitamente audível em Bissau o bombardeamento das artilharias que, com o rebentamento das suas granadas, provocavam o retinir dos vidros das janelas, as pessoas viviam com um sentimento de insegurança. Sentimento que se tornou ainda maior quando houve uma tentativa por parte das forças do PAIGC de alvejar com mísseis os depósitos da Sacor, em Bissau.
Não acertaram no alvo, mas o sibilar dos mísseis foi por todos ouvido ao passarem pelos céus da cidade.
Pela insegurança e pelo isolamento em que se vivia, relativamente a familiares e amigos, os portugueses sentiam uma grande necessidade de convívio, de estabelecer laços humanos entre eles.

No meu caso pessoal frequentava com a minha família, nas noites de quarta-feira, o Batalhão de Engenharia onde se realizava, semanalmente, um jantar de convívio.

Aos sábados, geralmente, deslocávamo-nos até à piscina do Clube de Oficiais e em outros dias da semana, por vezes, havia festas de aniversário ou simples recepções em casas de famílias das nossas relações. Esses convívios eram praticamente com metropolitanos, embora algumas vezes estivessem presentes cabo-verdianos e até pretos da Guiné.

Uma das casas que frequentávamos muito era a do Engenheiro Lourenço Pinto, chefe dos Serviços de Obras Públicas, como já referi, casado com a Etelvina Moritz, ambos de Torre de Moncorvo, Trás-os-Montes, muito amigos da minha mulher.
Também visitávamos com frequência a casa do Tenente-Coronel Lopes da Conceição, na altura Comandante do Batalhão de Engenharia 447, do Major Leal de Almeida dos Comandos Africanos, casado com uma amiga da Lena [esposa do autor] de nome Maria da Graça Areosa, do Alferes Santos, etc..


Em nossa casa organizamos algumas pequenas festas, sobretudo em ocasião de aniversários.


Em regra, por dificuldades várias, geralmente convidávamos para almoçar ou jantar no Grande Hotel de Bissau as pessoas com quem nos relacionávamos e cujas casas frequentávamos, retribuindo os seus convites.

Essas reuniões eram muito agradáveis e davam-nos a todos uma certa força interior, dado os elos que se criavam entre nós, para arrostar com o isolamento e a intranquilidade que vivíamos, naquele tempo, em Bissau.
A casa do Engenheiro Lourenço Pinto era frequentada praticamente por todas as pessoas com responsabilidades na vida administrativa da Guiné.
Lá encontrávamos o Secretário-Geral (segunda figura do governo do território) e diversos chefes de serviço (o mais alto posto da hierarquia do funcionalismo público).
Mas também lá encontrávamos pessoal do Serviço de Obras Públicas de várias categorias, incluindo a de capataz, bem como comerciantes e outros elementos da população civil.
Com a família do Engenheiro Lourenço Pinto também passávamos as festas do Natal e do Ano Novo.

O Salão de Festas da Associação Comercial de Bissau foi o palco da nossa passagem de ano de 1970 para 1971.
Fomos convidados para essa passagem de ano por um comerciante de Bissau que fazia parte da Direcção da referida Associação.
A festa, conforme o referido comerciante teve a amabilidade de me explicar, seria abrilhantada toda a noite por um conjunto cabo-verdiano conhecido, mas havia um problema: não existia serviço de "buffet".
Os participantes teriam de levar de suas próprias casas algumas bebidas e alimentos que depois se exporiam e de onde cada qual se serviria.
Aceitei o amável convite e, com a minha mulher, começamos a pensar na nossa contribuição para a ceia da passagem de ano.
Conversei sobre o assunto com o Alferes Santos que comigo colaborava nos Reordenamentos Populacionais.
Devido à sua formação em Agronomia, além dessa incumbência ele era também o responsável pela Agro-Pecuária do Batalhão de Engenharia.
Quando lhe falei do problema, despachado como era, disse-me logo:
- Não se preocupe, Capitão. Eu resolvo-lhe isso.

Nem eu nem minha mulher nos preocupamos mais com o assunto.
No dia 30 de Dezembro lembrei-lhe do que me tinha garantido.
Respondeu-me que não estava esquecido. Que às 8 horas da noite do dia seguinte mandaria entregar, da minha parte, na Associação Comercial dois patos assados com arroz.
Não falhou. De resto era próprio da sua maneira de ser respeitar escrupulosamente o que se combinava com ele.

Nós levamos algumas garrafas de vinho, uma garrafa de Whisky e sobremesas.
Os patos do Alferes Santos estavam com muito bom aspecto e óptimo paladar.
Comeu-se toda a noite, bebeu-se, dançou-se.
Eu sou um fraco dançarino, mas o Salão de Festas estava superlotado. Os pares mal se podiam mexer, o que me favoreceu muito.
O Engenheiro Lourenço Pinto, enlaçado à sua mulher, sempre que passava por mim incentivava-me.
Foi uma linda festa, embora não me recorde de, alguma vez, me ter acontecido uma passagem de ano em que tivesse de contribuir com produção alimentar própria.

Alguns dias depois agradeci ao Alferes Santos a sua colaboração e pretendi reembolsá-lo das despesas.
Explicou-me, nessa altura, que por erro da sua escrita na relação das existências na Agro-pecuária do Batalhão de Engenharia tinha dois patos a menos do que aqueles que na verdade existiam na capoeira.
Com a morte daqueles dois patos foi a maneira de acertar as minhas contas.
Era um bom amigo o Alferes Santos.
Sendo natural do Cartaxo, no Ribatejo, dançava muito bem o fandango...

(Continua)
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 Nota do editor

Último poste da série de 25 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12085: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (10): Actividades não oficiais

Guiné 63/74 - P12434: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (10): A Mãe d'Água ou a 'Sintra de Bafatá', local aprazível e romântico onde se realizavam almoços dançantes para os quais se convidavam os senhores alferes, alguns furriéis e as moças casadoiras



Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Foto nº 16


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Foto nº 16A


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Foto nº 16 B


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Foto nº 16 C

FOTO 16 > Zona da Mãe d’Água, também chamada “Sintra de Bafatá”, onde havia umas mesas para piqueniques e que, de vez em quando, a esposa do comandante  Esquadrão  organizava uns almoços dançantes (16 C) em que eram convidados além dos alferes, e penso que alguns furriéis (16 B) , todas as meninas casadoiras de Bafatá, libanesas e não só (16 A).

 [ O Fernando Gouveia não quis identificar o Esquadrão, mas o último do seu tempo, foi o Esq Rec Fox 2640, Bafatá, 1969/71, cujo comandante era o cap cav Fernando da Costa Monteiro Vouga; reformou-se como coronel, e é autor de diversos livros sob o nome de Costa Monteiro].



Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Foto nº 17


Guiné > Zona leste > Bafatá > c. 1968/70 > Foto nº 17 A

 FOTO 17 > “Sintra de Bafatá”. Caminho que ia de junto do Mercado até à Mãe d’Água e casa do comandante do Esquadrão. Todo o percurso era ensombrado, como os caminhos da mata de Sintra. Na foto, o Fernando Gouveia, à civil.


Fotos (e legendas): © Fernando Gouveia (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]



1. Continuação da publicação do "roteiro de Bafatá", organizado pelo  Fernando Gouveia [, ex-alf mil rec inf, Cmd Agr 2957, Bafatá, 1968/70; autor do romance Na Kontra Ka Kontra, Porto, edição de autor, 2011; arquiteto, residente no Porto; foto atual à esquerda]

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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de dezembro de  2013 >  Guiné 63/74 - P12401: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (9): Fotos 6, 7, 10 e 12: rua do cinema, parque infantil, rua das libanesas, porto fluvial, Rio Geba

Guiné 63/74 - P12433: Parabéns a você (663) Francisco Palma, ex-Soldado Condutor Auto da CCAV 2748 (Canquelifá, 1970/72) e Luís Dias, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 3491 (Dulombi, 1971/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12421: Parabéns a você (662) Fernando Barata, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2700

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12432: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (8): Aerogramas para a Lili (1)

ÚLTIMAS MEMÓRIAS DA GUINÉ - 8

Por Armor Pires Mota (ex-Alf Mil da CCAV 488/BCAV 490, Bissau e Jumbembem, 1963/65)

Aerogramas para a Lili (1)

Se me sobraram da amarga experiência alguns livros, todos vertendo lágrimas salgadas e jorros de sangue jovem e inocente, páginas marcadas por cicatrizes ou, no mínimo, por um sol violento, de rachar bolanhas e fazer ferver os miolos, ainda me sobraram largas dezenas de aerogramas, endereçados à minha madrinha de guerra e, mais tarde, namorada e esposa, de um belo e constante sorriso matizado de arco-íris, onde dizia pequenas coisas, coisas que se podiam dizer (a PIDE lia muito, mas muitas notícias de guerra passaram, vejo agora, relendo os aerogramas).

Se a minha madrinha de guerra verdadeira era a Lili, tenho de confessar que tinha outra suplementar em Luz de Tavira. Um dia troquei os aerogramas. A Lili que, embora muito jovem, tinha decisões de mulher feita, devolveu-me o que pertencia à madrinha, natural da Luz. Com uma anotação simples que dizia tudo:
- “Devolvo. Isto não é para mim”.

Uma bela bofetada com luva branca. Tive que me explicar, pedir mil desculpas e cortar. A coisa acabou por compor-se. Nunca mais soubera nada da algarvia. Eis se não quando, em 2010, recebo uma carta de Tavira, em que a outra madrinha de guerra falava um pouco da sua vida atribulada no matrimónio. O namorado, já na altura da nossa troca de correspondência, era muito ciumento.

Respondi-lhe: gostava de sabê-la entre os vivos, indagava como se lembrara de mim. Ela estava viva e muito queixosa do marido que continuava ciumento, e eu contei-lhe o meu grande infortúnio e os dias de áspera solidão, mas não obtive mais reposta. Foi espécie de um adeus. Foi um gesto bonito, passados cinquenta anos, eu que nunca a cheguei a conhecer pessoalmente. A prevista visita fora gorada numa viagem com os meus amigos do Porto a Tavira. Causa: nunca a cheguei a saber. Também nunca foi coisa que me preocupasse.

Lidos hoje os aerogramas, eles me avivam lugares, memórias, situações e datas. Evidentemente, também escrevia saudades e sonhos, estados de alma enamorada. As palavras amor e paz, sonho e futuro eram uma constante. A colecção, guardada com ternura azul e sonhadora pela Lili, está bastante incompleta. São escritos muito simples, sem redondas palavras, sem qualquer pretensão literária, ao correr do tempo e dos acontecimentos, que, obviamente, a maioria das vezes, não amiudava. Longe disso. Esse aspecto ficava para o meu Diário.

O que abaixo fica registado é um pouco do muito que fixei nos aerogramas e que não vem no "TARRAFO". Ao contrário, eu não guardei ou perdi no tempo os que a Lili me endereçou. Ou perdi-lhe o pouso. Nos meus há de tudo um pouco:

Foto: Belarmino Sardinha - Editado por CV


“Bissorã, 9 de Dezembro de 1963
 Minha cara madrinha:
 (…)
 Aqui, como aí, ontem, foi o dia da mãe. Houve missa e terço e não me lembrei só da minha, mas da tua também, das mães de todos soldados. Realizou-se uma festa na escola, promovida pela tropa e dedicada às mães de Bissorã que têm sido muito carinhosas para com a tropa, sobretudo para os oficiais. A festa esteve formidável. Gostei imenso de ver bailados indígenas. Aqui qualquer catraia ou mesmo catraio tem o corpo cheio de ritmos. E se visses os miúdos a cantar! Aprendem facilmente a letra e a música e têm vozes fantásticas.
Aqui há dias, eu e um colega meu, estivemos a distribuir bolos e bolachas a prisioneiros. Está perto o Natal. Com este gesto, conseguimos que um cabo-verdiano acabasse por confessar algumas coisas e oferecer-se para nos levar ao acampamento dos terroristas, e levou. Capturámos manga de munições e minas, importantes armas, vários documentos, etc. Foi pena não os termos apanhado, mas não foi nada mau. Sem um tiro. Nunca vi os soldados a chegar tão delirantes ao quartel. Vê lá: o mato é tão cerrado que só demos com o acampamento (oito barracas) a três metros de distância. Os gajos ficaram tão estupefactos, mas ah pernas para que vos quero. Enfim, uma boa caçada, das maiores que se têm feito. Não há pai para a cavalaria! Com estas, já são 24 barracas de mato que o Batalhão destrói”.



“Jumbembem, 9 Setembro de 1964 
Minha querida Lili 
(…) 
Ontem, à meia-noite, tivemos uma pequena festa com os terroristas que vieram atacar o aquartelamento. Chovia a cântaros e relampejava continuamente, o que nos deixava cegos, sem nada ver. Quando soaram os primeiros tiros, sei que me deixei escorregar da cama, vesti os calções, enfiei o capacete na cabeça, peguei na arma e lá fui para o parapeito orientar e disparar. Foi coisa de quarenta minutos. A reacção da tropa foi de tal modo violenta que eles tiveram de cavar, deixando abandonado vário material de guerra, roupas e amuletos de cornos de cabrito ou de cabra. Não sei. É possível que não tenham levado a saúde que trouxeram.
O certo é que os bandidos estão a aparecer mais vezes”.


Resposta da CCAV 488 a pequena emboscada
Foto: © Armor Pires Mota (2013). Todos os direitos reservados

“Jumbembem, 4 de Novembro de 1964 
Querida madrinha Lili: 
(…) 
Eu hoje saí às três da manhã. Estava uma aragem fria, devido à formação de cacimbo. Tive de levar uma camisa por debaixo da farda. Montei uma emboscada. Mas ainda bem que não apareceu nenhum desgraçado. Foi o melhor. A mim aborrece-me matar seja quem for, mas muito mais gosto que os bandidos também não me aleijem.
Morreu um moço do meu batalhão no hospital. Foi evacuado à pressa, de avião, mas durou poucos dias. Dizem que lhe rebentou a úlcera que tinha no estômago, é uma versão; a outra diz que foi por causa de uma cirrose no fígado. Para nosso mal e mal dele, é menos um”. 



“Jumbembem, 13 de Novembro de 1964 
Querida madrinha Lili: 
(…) 
Mais um domingo. Passei-o normalmente. De tarde, andei a passear de jeep, cheio de crianças, em constante alarido, como pássaros, para me distrair. Não tinha nada de especial para fazer. Porém, quando cheguei à noite e vi que a avioneta já não vinha lançar os sacos do correio, não imaginas como fiquei aborrecido. Dá a impressão que não há quem ligue, quando o correio é o melhor que podemos ter neste degredo, porque, na verdade, não é outra coisa. Ainda há dias, o piloto do helicóptero disse que não havia tropa com piores instalações (aquartelamento) do que nós. A gente sabe isso. Até porque mandam para aqui de outras companhias passar um mês os moços que se comportam mal. É caso para perguntar: se um soldado mal comportado passa aqui um mês, que crime cometemos nós para estarmos aqui há já sete meses? Mas, enfim... E já que o correio não veio, só amanhã, devo ler a tua correspondência.
(….)
Sabes, têm estado uns dias frios, sobretudo as noites. De manhã, é preciso andar de camisa. E, de noite, é preciso um lençol para nos cobrirmos”
.


“Jumbembem, 18 de Novembro de 1964 
Querida madrinha Lili: 
(…) 
Isto por aqui não está mau, está péssimo. Veio um colega meu de Bissau que disse que, durante os dez primeiros dias em que esteve no hospital, houve onze enterros de soldados brancos. Fora os mortos nativos e os feridos. O hospital está a abarrotar, e, por exemplo, quando ali chegam muitos feridos, os médicos dão alta a soldados que ainda não estão completamente curados. O hospital é muito pequeno. Está a morrer, à média, de um homem por dia. E o que mete raiva é que os jornais da Metrópole digam que o terrorismo está a diminuir e que os terroristas estão a ser acossados pelas nossas forças terrestres por todos os lados.
O terroristas sabem tirar partido da inexperiência dos “maçaricos” [tropa nova] e aproveitam. Como agora veio muita malta nova, eles acham que têm muita carne para bala. E realmente têm conseguido fazer bastantes baixas”.



“Sábado, Jumbembem, 12 de Dezembro de 1964
Querida Lili:
(…)
Ontem tinha intenção de escrever-te, mas, quando cheguei, à noite, sentia-me cansado, com pouca disposição para fazê-lo, embora tivesse dormido até às cinco da tarde.
Esta semana, com o intervalo de dois dias, tivemos duas operações. A que fizemos na noite e manhã do Dia da Mãe (8 de Dezembro) correu bem, normal. Mas, ontem já assim não aconteceu. Houve tiros, emboscadas, feridos: um furriel enfermeiro, que, é curioso e admirável, estando gravemente ferido, tratou primeiro dos outros. Um soldado deve ficar cego. Ontem, tive ocasião de ver (antes, não tivesse) dois terroristas, vestidos de azul que ficaram apalermados quando nos viram, se calhar quanto nós. Não nos esperavam ali. No regresso, uma nova emboscada, onde não esperávamos, obrigou-nos a saltar para a lama e a água da bolanha. Vê lá a ousadia deles: até atacaram a tropa, quando era protegida do alto por um bombardeiro. E já que falo de aviões, há dias, no sul, os terroristas abateram uma avioneta. Morreram um tenente, um furriel e um cabo.
O piloto do helicóptero que esteve cá ontem, disse que os seis helicópteros não têm mãos a medir na evacuação de mortes e feridos. É uma coisa pavorosa. E dizia o governador da Guiné que, neste Dezembro, já passearia pelas estradas, de norte a sul. Ainda sonha muito. Isto nunca esteve tão péssimo. Repara tu que, há dias, no sul os terrostistas destruíram completamente um quartel, incendiaram as viaturas, etc. A tropa, para se defender, teve que fugir para o mato, senão morreria ali toda. Segundo consta, quem fez o fogo, de bazuca, contra o quartel, foi um fuzileiro que fugiu para o lado dos terroristas, há uns quatro meses.
Há dias, chegou-me um soldado novo da Metrópole para substituir o soldado que me morreu em Junho.
Peço desculpa de hoje te massacrar com guerras e horrores, mas prometo que, amanhã, se Deus quiser,  já não tocarei neste assunto”.
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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12419: Últimas Memórias da Guiné (Armor Pires Mota) (7): Os macacos vermelhos

Guiné 63/74 - P12431: Álbum fotográfico do ex-fur mil José Carlos Lopes, amanuense do conselho administrativo da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) (10): O rebenta-minas, de rodado duplo à frente



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Foto nº 89 > O rebenta-minas com rodado duplo à frente...

Foto: © José Carlos Lopes (2013). Todos os direitos reservados. (Editadas e legendadas por L.G.)


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Um viatura oesada (Mercedes ?) "capotada"... No setor L1 havia uma intensa atividade de colunas logísticas: era a partir de Bambadinca que se abasteciam as companhias aquarteladas em Mansambo, Xitole e Saltinho (que pertencia já ao Setor L5 - Galomaro). Foto do ex-1º cabo bate chapas Otacílio Luz Henriques, do Pelotãod e Manutenção (, que era comandado pelo alf mil Ismael Augusto, membro da nossa Tabanca Grande). 


Foto: ©  Otacílio Luz Henriques (2013) (2013). Todos os direitos reservados. (Editadas e legendadas por L.G.)


1. Continuação da publicação do excelente álbum fotográfico (*) do José Carlos Lopes, meu contemporâneo em Bambadinca, pelo menos na época de julho de 1969 a maio de 1970 (quando o batalhão regressou à metrópole). Embora a sua especialidade fosse "contablidade e pagadoria" (sic), ele exerceu funções como fur mil de  reabastecimentos da CCS/BCAÇ 2852. É nosso grã-tabanqueiro, nº 604, desde 10 de fevereiro de 2013. Bancário reformado do BNU, vive em Linda a Velha, Oeiras. As fotos são provenientes  de "slides" digitalizados, e não têm legendas.  

Apresentamos hoje uma espetacular: o "rebenta-minas" de Bambadinca. Era uma obra-prima dos nossos mecânicos, com um rodado duplo à frente. Presumimos que tivessem arranjado um semi-eixo mais comprido, "canibalizado" de outra viatura (, talvez uma Mercedes). Não tinha capô e os assentos da frente eram "forrados" com sacos de areia.  Como diziam os condutores, era preciso comer um boi para conduzir um besta destas... 

Na perigosa estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole-Saltinho não sei se este rebenta-minas chegou a saltar por cima de alguma... De qualquer modo, para além dos picadores, o rebenta-minas dava-nos alguma tranquilidade de espírito quando fazíamos (a CCAÇ 12 e outras subunidades) às colunas logísticas para o sul do setor L1...

Enfim, noutros sítios também havia rebenta-minas. Compare-se, por exemplo, com o famoso  granadero que existia no tempo do nosso camarada Henrique Matos e do João Crisóstomo. Pertencia à CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/67) (Vd. foto a seguir) (**). 

O rebenta-minas de Bambadinca tinha a "originalidade" do rodado duplo à frente... O que se pode dizer é que, naquela guerra, a necessidade aguçava o engenho dos tugas... Ontem como hoje... Aqui fica o "retrato" desta "peça de museu" (foto acima), para memória futura... LG



Guiné > Enxalé > O famoso granadero, uma GMC transformada, que pertencia à CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67)...

"A transformação constou do reforço dos taipais com chapas de bidon, separadas de ± 20 cm com areia no meio. Ficou à prova de bala de Mauser. Tinha também uma camada de areia no fundo da caixa e na frente também vários sacos de areia. Tinha instalada como se pode ver uma Breda. Não sei porque é que lhe chamavam granadero.

"Com ela fiz vários reabastecimentos a Missirá e Porto Gole. Segundo a descrição do Abel Rei no seu depoimento Entre o Paraíso e o Inferno: de Fá a Bissá-Memórias da Guiné e que na altura estava em Bissá, no dia 5 de Outubro de 1967 esta viatura quando regressava a Porto Gole accionou uma mina incendiária a que se seguiu uma emboscada de que só se safaram com apoio aéreo. Fazia parte duma coluna que saiu de Porto Gole ao encontro doutra coluna saída de Bissá a pé para entregar uns militares destinados àquele destacamento."


Foto (e legenda):  © Henrique Matos (2007). Todos os direitos reservados.


(**) Vd. poste de 6 de outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2158: Recordações do 1º Comandante do Pel Caç Nat 52 (3): O famigerado granadero do Enxalé, da CCAÇ 1439 (1965/67)

Guiné 63/74 - P12430: O que é que a malta lia, nas horas vagas (15): Livros oferecidos pelo Movimento Nacional Feminino e os meus livros pessoais, tais como: Seleta Literária, História Universal, Inglês e os Lusíadas (Joaquim Cardoso)



1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Cardoso (ex-Soldado de TRMS do Pel Mort 4574, Nova Lamego, 1972/74), com data de 8 de Dezembro de 2013:

Caríssimo amigo Luís Graça:
Respondendo à tua chamada, direi que, no que concerne à temática em título, sendo militar de transmissões e, fazendo somente turnos rotativos de serviço de 8 horas por dia no centro de mensagens do Quartel novo em Nova Lamego, tempo não me faltava para ler, porém, não tendo sido assinante de quaisquer jornais ou revistas, pouco ou nada lia da Imprensa diária.
As horas fora de serviço, a maior partes das vezes, eram ocupadas com os jogos da bola e das cartas, conforme a ocasião, sendo este último, como toda a malta sabe, por vezes "doloroso".
Apesar de tudo, sempre lia alguma coisa. Li por exemplo, alguns livros que me foram oferecidos pelo Movimento Nacional Feminino. Além destes, tinha também os meus livros pessoais, tais como:
Seleta Literária, História Universal, Inglês e os Lusíadas!

Leitura tão estranha merece uma explicação.
Como se sabe, estes livros faziam parte da secção de letras do antigo quinto ano liceal e, como antes de ingressar na vida militar era estudante pós "laboro" no Externato Rodrigues de Freitas no Porto, achei por bem fazer-me acompanhar deles para a Guiné, por forma a não perder "o fio à meada", pensando, caso algum momento se proporcionasse, submeter-me a exame algures, mas tal não aconteceu.

Posto isto, junto duas fotos que presumo, servirão para fazer prova do que foi dito. 

Uma nota final.
Acabado de escrever este episódio, dei por mim a pensar: pelas "armas" vê-se o espírito do guerreiro!

Para ti Luís e para o Carlos, um grande Abração extensivo a toda a tertúlia.

Castelões-Penafiel, 8/12/2013
J. Cardoso

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Nota do editor

Último poste da série de 10 de Dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12422: O que é que a malta lia, nas horas vagas (14): a 2ª CART/BART 6523, atirada para Cabuca, nas profundezas da mata do Leste, teve de facto uma Bibliioteca (com 400 livros), um jornal (O Abutre) e uma Rádio!... (Ricardo Figuiredo)

Guiné 63/74 - P12429: Memória dos lugares (259): Ainda a Ilha das Galinhas e a sua "colónia penal e agrícola", criada em 1934 (José António Viegas, ex-Fur Mil do Pel Caç Nat 54, 1966/68)



Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha das Galinhas > Colónia Penal e Agrícola > c.julho/setembro de 1968 > Da esquerda para a direita, o chefe Joaquim e o fur mil Viegas, posando com um tubarão capturado.


Foto: © José António Viegas (2013). Todos os direitos reservados


1. Resposta do José António Viegas (ex-Fur Mil do Pel Caç Nat 54, Guiné, 1966/68) a algumas perguntas nossas sobre a "colónia penal e agrícola da Ilha das Galinhas" (*):

 (i) Mensagem de L.G., de 4 do corrente:

Zé: Tens mais fotos deste tempo e deste lugar ? O que sabes mais do funcionamento da colónia ? Eram presos comuns ou "turras" ? Não fugiam ? A população não tinha medo deles ? Onde dormiam ? Onde comiam e o que comiam ? O Chefe Joaquim era branco ? Era militar ou civil ? ... E vocês, militares (1 fur, 1 cabo, 3 praças...), o que faziam ? Apenas segurança ? Com tão escassos meios ? ... 

Enfim, entende a minha/nossa curiosidade: pouca malta, no nosso tempo de Guiné, ouviu falar da "colónia penal e agrícola da Ilha das Galinhas"... Saúde. Luís Graça

(ii) Resposta do José António Viegas:

Na parte central na ilha, chamado o campo, havia uma casa colonial e uma parada grande com dois barracões que era onde viviam os presos. Na altura estavam lá perto de cento e tal prisioneiros entre os de delito comum e os presos  politico. Pessoalmente, não não sabia quais deles eram, n~
aop sabia distuingui-los,  pois o chefe [Joaquim] não falava comigo nesse aspecto.

O chefe Joaquim que está comigo na foto com o tubarão, esteve na GNR com o Spínola e depois foi  chefiar o campo. Penso que estivesse ligado à Pide.

Os presos circulavam à vontade. Alguns mais antigos viviam em palhotas junto ao campo,  faziam trabalho agricola, não havia problema com a população e poucas hipóteses tinham de fugir.

A vida da guarnição era fazer umas rondas pela ilha no Uunimog pequeno (Pincha) [, o 411] e pesca. Nada mais.

A comida dos prisioneiros era na base do arroz,  algum peixe e carne.

Naquele tempo eu não estava bem dentro dos assuntos,  não fazia muitas perguntas ao chefe que ele,  sempre de má cara com a sua úrsula [,úlcera], pouco respondia.

Só falei com um preso politico, que eu saiba, quando fui mordido por uma cobra verde, não sei se era médico ou enfermeiro , sei que tinha estado na  Repúbklica Checa [, na altura Checoslováqui,] e que veio tratar de mim.

Se encontrar mais fotos no baú,  logo envio
Um abraço
Viegas


2. Comentário de L.G. ao poste P12383 (*)

 Estou grato ao Zé António Viegas por nos mandar estas curtas memórias da Ilha das Galinhas (**)... Não imaginava que lá houvesse tropa... Um ano depois, em finais de 1969, haveria lá uma guarnição a nível de pelotão, conforme se pode ler no seguinte documento, consultado no Arquivo Amílcar Cabral, portal Casa Comum:

(...) "9) Ilhéu das Galinhas – Tem um Quartel. Tem 25 soldados armados de G3, granadas, tem bipé [sic]. Tem Polícia de Segurança. Tem Pide tuga e africana. Há 1 Pide tuga. O Chefe de Tabanca da Ilha das Galinahs, de nome Ansumane Bêcó [sic], é um Pide. Está junto com a sua família.

No quartel há um só carro: um Enimog [sic] [Unimog]. Há algumas pessoas favoráveis ao Partido  PAIGC]. Por exemplo, a tabanca de Amitite. Há uma pessoa favorável ao Partido, de nome Curancô, chefe de Amitite. Tem campo de aviação grande. Pousam lá os aviões que vêm de Bissau" (...)


Citação:

(1969), "Informações sobre o Arquipélago dos Bijagós. Organização, formação política e ideológica dos Bijagós", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_41391 (2013-12-3).

Ver documento completo em Casa Comum
Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 07073.128.006
Título: Informações sobre o Arquipélago dos Bijagós. Organização, formação política e ideológica dos Bijagós.
Assunto: Informações de carácter militar, extraídas da audição com os "camaradas" vindos dos Bijagós, sobre Soga, Bubaque, Formosa, Uno, Caravela, Orango, Orangozinho, Canhabaque, Galinhas e Uracane. Organização e formação política e ideológica dos Bijagós, manuscritos por Vasco Cabral.
Data: Terça, 2 de Dezembro de 1969.
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Relatórios 1965-1969.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral

Tipo Documental: Documentos
Direitos: A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.


3. Ainda sobre a "colónia penal e agrícola" da Ilha das Galinhas:


Sabemos que foi criada em 1934 (ou pelo menos já existia nesta data). Cite-se o preâmbulo do Diploma Legislativo nº 884 (Boletim Oficial nº 44, de 29/10/934).

"O Governo da Colónia da Guiné, integrado na Política Nacionalista do País, empenhou-se na realização de uma obra profícua de assistência geral, pela protecção  social e revigoramento moral  de que tanto carecem as  populações admninistradas no momento que passa.

"Neste campo foi já promulgado um conjunto de medidas conducentes a tal desiderato: ontem a instituição do Reformatório de Menores e Asilo da Infância Desvalida de Bor, depois a criação da Colónia Penal Agrícola da Ilha das Galinhas; recentemente o diploma de protecção aos nacionais contra a crise do emprego e, hoje, a assistência geral sob os aspectos de trabalho, médico e social”  (…).

Era então governador da colónia (1932-1940), como então se dizia, sem complexos, Luís António de Carvalho Viegas, um militar de carreira, mais tarde general. Enquanto major de cavalaria, foi o herói da batalha de Canhabaque. Tem vários publicações sobre a Guiné dos anos 30: vd. por ex, Ilha de Canhabaque : relatório das operações militares em 1935-1936 (Bolama: Imprensa Nacional, 210 pp.)  [Vd. o sítio da Universidade de Aveiro > Memórias de África e do Oriente]. 


Fonte: (1934), "Promulgação de medidas de assistência geral pelo Governo da Colónia da Guiné", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_42954 (2013-12-4)

Ver e ampliar documento aqui > Casa Comum
Instituição: Fundação Mário Soares
Pasta: 07063.036.028
Título: Promulgação de medidas de assistência geral pelo Governo da Colónia da Guiné
Assunto: Cópia do Diploma Legislativo n.º 884 (Boletim Oficial n.º 44, de 29 de Outubro de 1934) sobre a promulgação de medidas de assistência geral pelo Governo da Colónia da Guiné. Instituição do reformatório de Menores e Asilo da Infância Desvalida de Bor; criação da Colónia Penal Agrícola da Ilha das Galinhas.
Data: Segunda, 29 de Outubro de 1934
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Operação de Cadigue / com. em 1-3-1963 / Notas gerência mercearias.
Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral
Tipo Documental: Documentos
Direitos: A publicação, total ou parcial, deste documento exige prévia autorização da entidade detentora.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 3 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12383: Memória dos lugares (257): Ilha das Galinhas em 1968 (José António Viegas)

(**) Último poste da série >10 de dezembro de  2013 > Guiné 63/74 - P12423: Memória dos lugares (258): Bissau, 1968, aquando da visita do Presidente da República à Guiné (José António Viegas)