quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12626: Memória dos lugares (262): Ponte do Rio Udunduma: os 'dias felizes' do Humberto Reis e do Tony Levezinho, 2º Gr Comb, CCAÇ 12 (1969/71) (Texto de L.G. / Fotos de H.R.)



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Estrada Bambadinca- Xime > Ponte Rio Udunduma > 1970 >

A estrada Xime (à direita) - Bambadinca (à esquerda), com a respectiva ponte. Vísivel também o troço da nova estrada que estava em construção, a cargo da empresa Tecnil, e que implicou a construção de uma nova ponte. Na empresa Tecnil, irá trabalhar mais tarde, como "cooperante, o nosso amigo e camarada António Rosinha, entre 1979 e 1993. Esta estrada ficará alcatroada e pronta em princípios de 1972, se não erro (LG).

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados



Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Estrada Xime - Bambadinca > 1997 : Ponte (velha) do Rio Udunduma. Em 1969/71, no tempo da CCAÇ 12, a segurança desta ponte, construída em 1952, era de importância estratégica para toda a região leste. Ficava a 4 km de Bambadinca e a 7 do Xime. No ataque em força, a Bambadinca, em na noite de 28 para 29 de Maio de 1969, os guerrilheiros do PAIGC tentara dinamitá-la. Embora parcialmente destruída (era de bom cimento armado e resistiu...), continuou operacional. Já sabemos que a partir daí passou a ser defendida permanentemente por uma força a nível de pelotão, a cargo das unidades do BCAÇ 2852. A primeira subunidade a ir para lá, a nível de Gr Comb, foi a CART 2339 (Mansambo, 1968/69) (*).

A partir de 16 de Dezembro de 1969 a segurança permanente passou a ser feita pelos Gr Comb da CCAÇ 12 e pelo Pel Caç Nat  53 (Bambadinca). Havia apenas abrigos individuais, extremamente precários: bidões de areia com cobertura de chapa de zinco, e valas comunicando entre os abrigos individuais.

Foto: © Humberto Reis (2005) (com a colaboração do Braima Samá, professor em Bambadinca). Todos os direitos reservados.




Guiné > Zona leste > Setor L1 > Estrada Bambadinca-Xime > Ponte do Rio Udunduma > Destacamento da CCAÇ 12 >  2º Grupo de Combate > 1970 >

O Humberto, à ré, mais soldado de transmissões,  à proa, treinando as suas perícias na difícil modalidade da canoagem local...  "Era o António Dias Santos, de alcunha, não sei porquê, O Bacalhau.  Quando estava em Bambadinca normalmente andava pela tabanca ao cheiro das bajudas e quase sempre com uma varinha na mão a imitar um pingalim.   Há uns [ largos] anos, quando organizei um dos primeiros almoços da rapaziada, procurei na lista telefónica o nome dele na zona da Régua, pois sabia que ele tinha sido funcionário da CP e que morava ali. Descobri-o, mas quando falei com a senhora é que fiquei a saber que ela já era viúva do Bacalhau" (HR)

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados


1. Comentava há uns largos (**), ainda na I Série (abril de 2004/maio de 2006) o Jorge Cabral, com uma ponta de fina ironia, que nós éramos demasiado sérios e que escrevíamos de maneira sofrida,  como se a guerra (da Guine) ainda não tivesse acabado para nós. Os nossos relatos eram  dramáticos. As nossas memórias estavan carregadas da tensão dos dias, do cansaço dos meses e do silêncio dos anos.

Se calhar o Jorge até tinha  razão. Pelo menos, alguma razão. Os nossos sentimentos eram em 2006 (e continuam a ser)  contraditórios. Alguns de nós conseguem ter (ou mostrar) uma visão mais diurna e positiva da Guiné do tempo da guerra. São capazes de se encantar com as imagens e as recordações da Guiné. Alguns conseguiram até lá voltar e fazer as pazes com os jagudis ou os sinistros fantasmas que os perseguiam.

Uma parte de nós (não há estatíticas...) voltaram lá. Outros ainda querem lá voltar, antes de morrer (nem que seja de canadianas!...)  ou andam a arranjar coragem para fazer a viagem de retorno, divididos entre uma certa imagem mítica do passado e o medo (traumático) do desencanto e do pesadelo dos dias de hoje.

Enfim, outros continuarão a ter uma visão mais noturna e negativa dos acontecimentos que os marcaram: as emboscadas, as minas, os ataques,  as flagelações, a morte, a dor, o sofrimento, a solidão, a angústia, os mosquitos, a fome, a sede, o absurdo da guerra que fomos obrigados a fazer...

Já deixámos, porém, aqui sobejas provas do nosso bom humor, já aqui contámos estórias, mais pícaras, mais divertidas ou mais banais, tentando dar cor, cheiro e sabor àqueles 700 ou mais dias das nossas vidas que passámos na Guiné... O próprio Jorge deu o exemplo, deliciando-nos com as suas pequenas estórias que eu chamei cabralianas... O Jorge sempre teve uma maneira muito própria, desalinhada, talvez até marginal, de ser e de estar na tropa e, por extensõa, na guerra... O nosso convívio era esporádico mas foi o suficiente para eu o sinalizar como uma das figuras impagáveis que passaram por Bambadinca...

Tens razão, Jorge. Nem todos os dias eram sofridos, dramáticos, tensos, esgotantes... Nem todos os dias eram de vida ou de morte... Também houve dias ou tardes ou manhãs, calmos, poéticos, bem dispostos e até felizes. Por exemplo, os dias que passávamos no destacamento da Ponte do Rio Udunduma (e tu em Fá Mandinga).  Udunduma e nºão Unduma, como eu comecei a escrever, na I Série, dando origem a um erro sistemático...

Eu, pessoalmente, não guardo lá grandes memórias dos dias em que era obrigado a lá ficar. De dia, sempre lia e escrevia...Não havia mais nada para fazer, a não ser estar ali... À noite, aquilo era um pesadelo, por causa dos mosquistos e demais bicharada... Já o Humberto, a avaliar pelas suas fotos, soube tirar partido da situação: por exemplo, pescava, que era uma coisa que eu não sabia fazer... E tomar banho, nem pensar: eu tinha medo, que me pelava, da bilharziose...

Enfim, a recordação mais nítida que tenho é a de 3  de fevereiro de  1971 quando o Spínola  passou por lá e nos cumprimentou,  de visita aos trabalhos da estrada Bambadinca-Xime (***)... Três semanas atrás, tinha saltado com a GMC numa mina, ali perto... Agora levava uma piçada de um dos coronéis da comitiva do Com-Chefe,  a mês e meio de regressar a casa... Mas a tropa era assim mesmo, e a guerra ainda pior: quem se lixava era sempre o mexilhão... (LG)

PS1 - Mas não sejamos injustos em relação ao resort da ponte do Rio Udunduma: afinal, enquanto lá estávamos, não andávamos a foder o coirão nas matas do Xime e do Corubal, na guerra do gato e do rato. (****).

PS2 - Já agora lembro os nossos amigos e camaradas Carlos Marques dos Santos (CMS) e Jorge Araújo quem, em épocas diferentes, conheceram esta estância turística... Ainda recentemenete o CMS  nso veio l
lembrar o seu estatuto de... dinossauro, em mail de 15 do corrente:

[...] Ácerca da ponte do Udunduma não se esqueçam cá do DINOSSAURO. Em 29 de maio eu estava lá com tendas de 3 panos da 2ª guerra mundial. Fomos nós que fomos defender Bambadinca. Os primeiros. É história, não estória. Quanto a mim uma farsa,  o ataque [de 28 de maio de 1969]. Vi passar a tua companhia [CCAÇ 2590/CCAÇ 12] em princípios de junho [2 de junho], como vi passar outros. Luxos como os que foram vistos no blogue já não são do meu tempo. Estava na PELUDA. Um Abraço. CMS. [...]




Guiné > Zona Leste > Setor  L1 > Estrada Bambadinca-Xime > Ponte do Rio Udunduma > Destacamento da CCAÇ 12 >  2º Grupo de Combate > 1970 >

O Humberto Reis,  ranger, fotogénico...Passados mais de meio ano, ainda eram visíveis os sinais da tentativa de destruição da ponte,. na noye de 28 de maio de 1969, aquando do ataque a Bambadinca.



Guiné > Zona Leste > Setor  L1 > Estrada Bambadinca-Xime > Ponte do Rio Udunduma > Destacamento da CCAÇ 12 >  2º Grupo de Combate > 1970


O Tony (Levezinho) e o Humberto sentados na manjedoura... Era ali, protegidos da canícula, que tomavámos em conjunto as nossas refeições, escrevíamos as nossas cartas e aerogramas, jogávamos à lerpa, bebíamos um copo, matávamos o tédio...O Tony (Levezinho), à esquerda, segurando uma granada LGFog de 3.7.  Também à esquerda, de pé, em segundo plano o saudoso 1º cabo José Marques Alves (1947-2013).



Guiné > Zona Leste > Setor  L1 > Estrada Bambadinca-Xime > Ponte do Rio Udunduma > Destacamento da CCAÇ 12 >  2º Grupo de Combate > 1970

Crianças ou adolescentes, provavelmente de Amedalai, a tabanca mais próxima da ponte, divertem-se, dando saltos para a água, sob a supervisão de um dos nosso militares.,




Guiné > Zona leste > Setor L1 > Estrada Bambadinca-Xime  >   Ponte do Rio Udunduma > Destacamento da CCAÇ 12 >  2º Grupo de Combate > 1970 >

Pesca à linha, banho à fula, um dia descontraído de canoa...

 

Guiné > Rio Udunduma > Destacamento da CCAÇ 12, 2º Grupo de Combate > 1970 > Da esquerda para a direita:

O soldado Arménio e os furriéis milicianos Humberto Reis e Tony Levezinho, em concurso de pesca..

Fotos: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados  [Edição e legendagem complementar: L.G.]
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Notas do editor:

(*) Vd,. I Série > poste do Carlos Marques dos Santos, de 4 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXIX: Os Solitários da CART 2339 na Ponte do Rio Udunduma e em Fá

(...) "Em 28 de Maio de 1969 ouvimos rebentamentos para aqueles lados e pensámos ser na tabanca Moricanhe. Afinal, para nosso espanto, era mesmo em Bambadinca, sede do Batalhão.

"Dia 29, pela 05.30 da manhã, seguimos para reforço da sede de Batalhão. 15 dias. Salvo erro com o Pel Caç Nat 63 estivemos em tendas (panos de tenda com botões), em vigília constante, àquela que era uma passagem importante [,a ponte sobre o Rio Undunduma, na estrada Xime-Bambadinca]" (...).

(**) Vd.  I Série > poste de 4 de fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCVIII: Os dias felizes na ponte do Rio Udunduma (CCAÇ 12) (Humberto Reis / Luís Graça)


(***)  Vd  I Série > poste de Luís Graça, de 3 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXVI: Herr Spínola na ponte do Rio Udunduma

(...) "Ponte do Rio Udunduma, 3 de Fevereiro de 1971:

De visita aos trabalhos da estrada Bambadinca-Xime, esteve aqui de passagem, com uma matilha de cães grandes atrás, Sexa General António de Spínola, Governador-Geral e Comandante-Chefe (vulgo, o Homem Grande). Eu gosto mais de chamar-lhe Herr Spínola, tout court. De monóculo, luvas pretas e pingalim, dá-me sempre a impressão de ser um fantasma da II Guerra Mundial, um sobrevivente da Wermacht nazi

(...).Cumprimentou-me mecanicamente. Eu devia ter um aspecto miserável. Eu e os meus nharros, vivendo como bichos em valas protegidas por bidões de areia e chapa de zinco. O coronel (?) que vinha atrás do General chamou-me depois à parte e ordenou-me que, no regresso a Bambadinca, cortasse o cabelo e a barba"...


(****) Último poste da série > 22 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12620: Memória dos lugares (261): Bachile, 1973/74 (Duarte Cunha)

Guiné 63/74 - P12625: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (16): Foto aérea, nº 4 (Humberto Reis)


Foto nº 4


Foto nº 4 A


Foto nº 4 B


Foto nº 4 C


Foto nº 4 D

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1969/71 > Foto nº 4 > Vista aérea, do álbum do fur mil op esp Humberto Reis, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71). Foto tirada de helicóptero.

Foto: © Humberto Reis (2006).Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


Humberto Reis
Foto aérea nº 4 (Humberto Reis, foto  à esquerda, Pombal,  2007) > Legendas de Fernando Gouveia

1 – Tabanca da Ponte Nova.

2 – Parte colonial da cidade.

3 – Rio Geba

Fernando Gouveia
4 – Rio Colufe [, afluente do Rio Geba]

5 – Tabanca do Nema.

6 – Casas ao longo da estrada para Bambadinca [a sudoeste].

7 – Parte da Tabanca da Rocha.

8 – Igreja.

1. Continuação da publicação do "roteiro de Bafatá", organizado pelo 
Fernando Gouveia[, ex-alf mil rec inf, Cmd Agr 2957, Bafatá, 1968/70; autor do romance autor do romance Na Kontra Ka Kontra, Porto, edição de autor, 2011; arquiteto, residente no Porto].
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Nota do editor:

Últimos dois postes da série >

14 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12585: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (14): Foto aérea, nº 3 (Humberto Reis)

17 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12595: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (15): O cinema local e a figura lendária do seu guardião, o Canjajá Mané... E, a propósito, relembre-se o documentário, já em DVD, "Bafatá Filme Clube", do realizador Silas Tiny, com fotografia de Marta Pessoa (Lisboa, Real Ficção, 2012, 78')

Guiné 63/74 - P12624: Parabéns a você (682): Augusto Silva Santos, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3306 (Guiné, 1971/73); Francisco Godinho, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2753 (Guiné, 1970/72) e José Albino, ex-Fur Mil Art do Pel Mort 2117 e BAC 1 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 22 de Janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12619: Parabéns a você (681): Rogério Freire, ex-Alf Mil Art MA da CART 1525 (Guiné, 1966/67)

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12623: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (8): Beja, Mafra, Évora e Cachil (José Colaço)

1. Mensagem do nosso camarada José Colaço (ex-Soldado Trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), com data de 18 de Janeiro de 2014:


As cidades ou vilas que mais amei ou odiei antes de ser mobilizado para a Guiné.

Fiz a Recruta no Regimento de Infantaria em Beja, cidade que conhecia por ser capital do distrito onde nasci e morava.
Visitava periodicamente Beja porque como cidade tinha algumas mordomias que na vila não desfrutávamos. Então uma das visitas era à célebre rua da Branca onde por hábito dizíamos ir mudar a água às azeitonas, mas com o decreto-lei 44579 de 19 de Setembro de 1962 a rua da Branca ficou escura como a noite.

Na recruta, em Beja, durante o dia tinha a instrução militar por esse motivo só à noite, até ao toque de recolher, tinha tempo para passear. Aos fins-de-semana o destino era a terra.

O Pelourinho da cidade de Beja 
Foto WIKIPÈDIA com a devida vénia.


A seguir fui para a Escola Prática de Infantaria em Mafra para tirar a especialidade de transmissões.
A Mafra, durante a tropa, aplica-se a mesma rotina que em Beja só que as viagens ao fim-de-semana de Beja para a terra eram feitas de motorizada, em Mafra ia para estrada pedir boleia para Moscavide, onde morava a minha irmã, e aproveitava para conhecer Lisboa, um mundo totalmente diferente do que tinha sido toda a minha vivência.

Da então vila de Mafra guardo em memória toda a imponência e beleza do convento e da tapada.


Convento de Mafra e paisagem 
Foto rcmafra.com com a devida vénia


Já mobilizado fui para Évora para aguardar embarque sem saber para onde ia.
Évora, cidade que também conhecia, tal como Beja, mas por ter estado lá a trabalhar como eventual na C.P.
Évora além de cidade museu, na minha juventude gozava do estatuto das jovens bonitas, as eborenses, que não deixavam os seus créditos por mãos alheias. Será que é uma das razões do título da canção do Vitorino "Alentejanas e amorosas?"
Em Évora, como estávamos a aguardar embarque, até parecia que não estávamos na tropa. A começar pelo RAL3, Regimento de Artilharia Ligeira nº3, onde ficámos aquartelados após as semanas de mato ou sobrevivência, que tinha quase como finalidade aquartelar os soldados que estavam mobilizados a aguardar embarque, pois mantinha um pequeno grupo de militares para a manutenção dos equipamentos.
A vida militar a sério era logo ali, com dizem os meus conterrâneos. No RI16 e no quartel General. Daí que tínhamos a preparação física na parte da manhã pois ela era importante porque quase de certeza iríamos enfrentar uma guerra, a seguir umas palestra sobre a vida militar e em parte sobre o que nos esperava, mas não adiantavam muito porque dependia para a província ou "Colónia" que nos saísse em sorte.
Pelo que acabo de citar, tínhamos muito tempo para dar largas aos nossos passeios. Pelo que acabei de escrever, não odiei nenhuma cidade ou Vila por onde, por força das circunstâncias, passei de todas gostei umas mais outras um pouco menos.

Foto página do município com a devida vénia

A ter que escolher a que mais amei, sem qualquer dúvida Évora.
Lugar ou local que odiei, foi o Cachil na Guiné, não cometi nada para sofrer um castigo de dez meses e uma semana de isolamento e uns extras como complemento que não desejo a ninguém.

José Botelho Colaço
Soldado TRMS
CCAÇ 557
Cachil, Bissau, Bafatá
1963/65
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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12617: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (7): As localidades por onde passei, sofri e amei (Veríssimo Cardoso)

Guiné 63/74 - P12622: Notas de leitura (555): “Magrheb/Machrek – Olhares luso-marroquinos sobre a Primavera Árabe”, por Raul M. Braga Pires (Francisco Henriques da Silva)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Henriques da Silva (ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, Mansabá e Olossato, 1968/70; ex-embaixador na Guiné-Bissau nos anos de 1997 a 1999), com data de 16 de Julho de 2013:

Meus caros amigos e ex-camardas de armas,
O Raúl Braga Pires, de quem sou amigo, apesar de muito mais novo do que eu, conhece bem a Guiné-Bissau e escreve sobre a realidade bissau-guineense atual no seu blogue e no jornal “Expresso”.
É bastante crítico, como a maioria das pessoas, ao que por lá se passa e dá-nos uma visão muito interessante e abrangente, relacionando a Guiné-Bissau com os acontecimentos na região, bem como com o que se passa no Sahel e no Magrebe, em geral.
O livro podia passar desapercebido devido ao respetivo título “Maghreb/Machrek - Olhares Luso-marroquinos sobre a Primavera Árabe” que nos leva a pensar tratar-se da abordagem de outras temáticas, mas não são só esses assuntos que Braga Pires menciona, a Guiné-Bissau aparece e vale a pena estarmos atentos ao que ele refere.

Com cumprimentos cordiais e amigos
Francisco Henriques da Silva
Ex-Alferes miliciano de infantaria
- CCaç 2402 - Có, Mansabá e Olossato, 1968-1970
- ex-embaixador de Portugal em Bissau, 1997-1999


2. Comentário dos editores:

Vem a propósito do último parágrafo desta recensão do camarada Francisco Henriques da Silva, informar que a Guiné-Bissau tem eleições marcadas para 16 de Março próximo.
O recenseamento dos guineenses no exterior já começou com atrasos e problemas técnicos. Mas é importantíssimo que os nossos amigos guineenses, em Portugal, se possam recensear.
O único local onde podem fazê-lo, é na Embaixada da Guiné-Bissau, em Lisboa, até ao dia 31 de Janeiro, das 9 às 21 horas.


3. A errática Guiné-Bissau

Francisco Henriques da Silva

Raul M. Braga Pires, politólogo, arabista, professor da Universidade de Rabat e investigador do Observatório Político em Marrocos, doutorando do ISCSP, edita com regularidade um blogue, também publicado no conhecido semanário “Expresso”, sobre assuntos do Médio Oriente e Magrebe, tendo dedicado alguma atenção à Guiné-Bissau, onde se deslocou váriasvezes. Lançou recentemente um livro “Magrheb/Machrek – Olhares luso-marroquinos sobre a Primavera Árabe” (Diário de Bordo, Lisboa, 2013), onde reproduz todos os textos que publicou no “Expresso” e no dito blogue. Após uma incursão pelo Norte de África, Médio Oriente e Sahel, ou seja o prato forte da obra, digamos assim, apresenta três capítulos (ou, se se quiser, 3 “posts”) relevantes e bastante informativos sobre a atualidade daquele pais lusófono oeste-africano, que, no seu entender, tem que ver com a evolução política e estratégica das regiões contíguas. Daí a sua inclusão. Depois de ler o que Raúl Braga Pires escreveu, elaborei uma pequena recensão, que complementei com outros elementos e com algumas reflexões da minha lavra.

O autor começa por se referir à “intentona/inventona” (?) de 21 de Outubro de 2012, classificando a situação como sendo “confusa” e considerando que “a realidade ultrapassa em muito a ficção”. Acrescentaria que estas classificações e considerações são quase eufemísticas perante o caos que é hoje a Guiné-Bissau e do qual teima em não sair. Braga Pires menciona a balantização do Poder político e militar (que, aliás, não é de hoje, mas que se terá acentuado com o “putsch” de 12 de Abril de 2012), em que Kumba Ialá emerge com ambições ao Poder (no meu entender e para que as coisas não aparentem ser tão óbvias, Kumba tem no terreno, como se sabe, gente sua e poderá controlar a situação de fora sem necessidade de grande exposição pessoal, manobra táctica que me parece óbvia). Menciona um sem-número de factos, bem como algumas suposições plausíveis, atenda-se ao contexto. Em primeiro lugar, assistia-se – e assiste-se - a uma tribalização do poder político e militar, donde no conflito balantas-felupes, os primeiros levaram necessariamente a melhor. As danças e contra-danças entre as classes castrense e política, a promiscuidade generalizada sobretudo a este nível, são o que se adivinha e não valerá a pena pôr muito mais na carta. Carlos Domingos Gomes (Cadogo), PM deposto e frustrado candidato presidencial, continua a aspirar elevar-se um dia à cadeira do Poder. A actuação do capitão Pansau N’Tchama é no mínimo surrealista e as suas ligações a Portugal e à CPLP (leia-se Angola e Cabo Verde) abstrusas. O autor suscita as estranhas coincidências de ter chegado a Bissau com uma equipa de reportagem a escassas horas da “intentona/inventona” e da libertação de Pansau N’Tchama, com alegadas ligações a Portugal, ter precisamente ocorrido na véspera da sua partida.

Braga Pires faz uma análise do primeiro trimestre de 2013, salientando a chegada de Ramos Horta e a sua declaração algo desmedida ao considerar a “Guiné-Bissau como o país mais seguro da África Ocidental” (sic). O representante da ONU chega também num momento em que o PAIGC assina o Pacto de Transição e em que era já perceptível que o período transitório teria de ser necessariamente prorrogado. Neste quadro, há que tomar-se em atenção que o recenseamento biométrico da população não poderia ser feito durante a época das chuvas, o que levaria inevitavelmente a um adiamento das eleições. Apesar da descentralização anunciada e auto-elogiada pelo Governo, o autor põe em causa o recenseamento biométrico, efectuado sem grande publicidade nem campanhas de sensibilização junto da população. Neste contexto, acresceriam ainda enormes dificuldades de ordem logística e financeira. Tendo em conta os factores enunciados, o próprio PR admitiu a inevitabilidade de se prolongar o período de transição.

Ao referir-se à cimeira da CEDEAO (Comunidade Económica de Estados da África Ocidental), que a Guiné-Bissau integra, considera Braga Pires que “a solução da questão Norte do Mali/terrorismo estará sempre dependente duma resolução dos conflitos internos da Guiné-Bissau, ambos os países têm governos provisórios saídos de golpes de Estado” . Com efeito, os dois países ter-se-ão comprometido a realizar sufrágios eleitorais até 31 de Dezembro de 2013. Viu-se.

Por outro lado, haveria a necessidade do Governo de Transição ser reconhecido internacionalmente, para poder levar a cabo as tarefas a que se propôs, designadamente a condução do processo eleitoral, o que o autor admite como plausível. Mas, acrescento, com excepção da CEDEAO, mais ninguém o reconhece.

Menos claro foi o julgamento do capitão Pansau N’Tchama que acusou o deposto CEMGFA, Zamora Induta, de o ter coagido à tentativa de “putsch” de 21 de Outubro de 2012, acusando as autoridades gambianas de envolvimento na suposta operação, bem como inúmeras personalidades locais com ligações ao PAIGC e a figuras militares e politicas, algumas de destaque como é o caso de Domingos Simões Pereira, então Secretário Executivo da CPLP. O julgamento, aduzo, poderia, por assim dizer, “limpar o terreno” de muitos elementos incómodos e permitir uma actuação “mãos livres” de António Indjai (actual CEMGFA) e de Bubo Na Tchuto, entre outros. Até aqui nada de novo, a Guiné-Bissau conhece desde há muito estes processos sombrios como devem ser conduzidos e para que servem.

Alguns factos, porém, vêm a alterar o panorama. Em Abril de 2013, o almirante Bubo Na Tchuto é apanhado numa armadilha muito bem montada pela DEA (Drug Enforcement Agency) norte-americana, detido em águas internacionais e levado para os EUA, a aguardar julgamento. Estavam em causa 4 toneladas de cocaína (cujo valor médio na rua pode atingir entre 130 a 160 milhões de Euros!). Sabia-se que Na Tchuto, bem como Papá Camará (Chefe de Estado Maior da Força Aérea) e o próprio António Indjai, estão desde há muito envolvidos no tráfico de droga. O primeiro estava identificado pela DEA desde 2010. Tanto quanto sei por outras fontes, a operação consistiria na troca de armamento das Forças Armadas da Guiné-Bissau para a guerrilha colombiana das FARC por cocaína. Não se trataria de armamento convencional, mas, sim, de mísseis terra-ar! Os agentes da DEA fizeram-se passar por membros da guerrilha. Em suma, estamos a falar de uma operação sofisticada a uma escala muito grande e que teria outros envolvimentos cujos pormenores, porém, desconheço.

Por outro lado, soube-se que Na Tchuto permitiu a evasão de 3 jihadistas mauritanos acusados de terem assassinado 4 turistas franceses no sul da Mauritânia em 2007. Um agente secreto norte-americano teria sido despachado para o local mas apareceu morto (degolado), o que indicaria a presença de fundamentalistas islâmicos. Na opinião de Braga Pires, para além de traficante de droga, Bubo Na Tchuto teria ligações à AQMI (Al Qaeda no Magrebe Islâmico) que opera na África Ocidental, designadamente na Guiné-Bissau.

Para a detenção de Na Tchuto, os norte-americanos terão presumivelmente obtido a cumplicidade de Indjai, uma vez que este queria livrar-se de um rival e os norte-americanos a detenção do almirante. Este último era objecto de um processo de reabilitação por envolvimento num golpe de Estado (mais um no rol que averba a Guiné-Bissau) em 26 de Dezembro de 2011, que levou ao seu exílio temporário na Gâmbia. Ora, Na Tchuto tinha por objectivo principal substituir Indjai como CEMGFA. É tão simples quanto isto.

Como refere a justo título o autor e citamos: “A primeira novidade da acusação apresentada pelos americanos é absolutamente demolidora para as duas principais figuras do Período de Transição: o Presidente interino, Manuel Serifo Nhamadjo e o Primeiro-ministro interino, Rui Duarte Barros, são implicados nas provas apresentadas pela DEA.” Aparentemente, essas altas figuras do Estado beneficiariam de 13% do “produto/negócio” (?), apesar dos desmentidos indignados, a dúvida obviamente permanece.

Dizer que a credibilidade da Guiné-Bissau e das mais altas figuras civis e militares do Estado foi afectada é um mero eufemismo. Resta saber neste quadro pouco auspicioso como é que a Guiné-Bissau se vai financiar para poder realizar eleições? O próprio Secretário-geral da ONU já admitiu que pode deixar cair a Guiné-Bissau e abandoná-la como a Somália. Se a Guiné-Bissau não consegue assumir as funções basilares de um Estado será ou não um Estado falhado? Era bom que não se mastigassem as palavras.

Aliás, os acontecimentos mais recentes naquele país, caso dos 74 sírios embarcados à força nos aviões da TAP, que levaram à suspensão das ligações aéreas Lisboa-Bissau, reforçam a nossa tese, isto é que não se está perante um Estado minimamente sério.

No meio de tudo isto e tendo em conta o julgamento do capitão Pansau N’Tchama, as tensões étnicas, as fricções do foro castrense, as rivalidades entre diferentes pseudo-líderes civis e militares e, agora, os atritos inter-religiosos geram um quadro de forte instabilidade que pode desembocar numa guerra civil gravíssima. O alerta aqui fica.

Registo que Raúl Braga Pires chama a atenção para um facto novo: o conflito entre sunitas e xiitas. A maioria da população islamizada é como se sabe de obediência sunita, mas os libaneses, de fé xiita, há muito radicados no país, já criaram raízes e prosélitos na Guiné-Bissau. Iremos assistir à criação de mais um foco de tensão, até agora insuspeitado?

Haveria que reflectir-se sobre a intervenção francesa no Mali e no problema da droga. A questão é, para todos os efeitos, regional. De acordo com várias fontes fidedignas, o circuito da droga parece estar a alimentar os jihadistas e a Guiné-Bissau aparece nesta equação como um factor que, pelas razões expostas, não pode ser ignorado. A pacificação do Mali – e sabendo-se da proliferação dos grupos islamitas por todo os Estados do Sahel – é uma questão de importância vital, mas essa intervenção não pode limitar-se apenas ao Norte do Mali, como se tratando apenas de um abcesso localizado a extirpar, a Guiné-Bissau, cujos governantes actuais não merecem qualquer credibilidade, terá também de ser intervencionada, ou seja o alargamento da Missão de Paz no Mali pode (deve) estender-se à Guiné-Bissau.

Bom, já agora, eleições para quando?
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Nota do editor

Último poste da série de 20 DE JANEIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12609: Notas de leitura (554): "Mudança Sócio-Cultural na Guiné Portuguesa", dissertação de licenciatura de José Manuel Braga Dias (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12621: Tabanca Grande (421): Fernando Brito, ex-1º srgt art, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), e CCS/1ª C/BART 6523 (Madina Mandinga, 1972/74), hoje major reformado... Passa a ser o nosso 641º grã-tabanqueiro


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CSS/BART 2917 (1970/72) > c. 2º trimestre de 1970 > O jipe usado pelo 1º sargento Fernando Brito, avariado na estrada de Bambadinca-Bafatá, no regresso, depois das compras... Presume-se que ele tenha ido a Bafatá, integrado numa coluna, como mandavam as boas regras da segurança militar.


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CSS/BART 2917 (1970/72) >c. 2º trimestre de 1970 > o 1º srtg, sempre impecavelmente fardado, dá uma mãozinho na tentativa de resolver a arreliadaora avaria do seu jipe...Recorde-se que nesse tempo não havia telemóveis, e que  a distância entre Bambadina e Bafatá era de c. 30 km.

Fotos: © Benjamim Durães (2010). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem: L.G.]

1. Mensagem, com data de 15 do corrente,  de Cláudio Brito, em nome do seu avô Fernando Brito, maj art ref, antigo 1º srgt da CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72):

[Foto à direita: O Fernando Brito e o neto, Claúdio Brito]


Muito Bom Dia,  caros ex-combatentes de um dos piores palcos de guerra que Portugal pisou,

Opto por expressar aqui a minha gratidão a todas as mensagens recebidas e ainda à informação concedida, sem dúvida de elevado valor pessoal para mim, pois trata-se do Homem que me criou, mas, igualmente, de importância histórica.

Um especial obrigado ao Doutor Luís Graça por ter telefonado ao meu avô e o ter feito o próximo membro dessa "grande tabanca".

O passado une-nos pela História e o presente pelo amor à mesma ciência. Não deve ser, sem dúvida, desprezada a História Pessoal e a Sociologia dos anos que cruzaram as ideias coloniais com os horrores da guerra e colocaram no jogo de xadrez, no campo de batalha, Homens (e Mulheres) com tanto em comum numa encruzilhada sem grandes respostas. Os personagens da História não são (só) os Grandes Chefes de Estado e os políticos de bastidores, mas, mais importante, também são os Homens e Mulheres que tornaram possível o desenrolar da História, são os anónimos que ficaram captados pelas fotografias e pelas fontes escritas da sua era. 

Como Historiador e Professor de História, todos os dias, sempre que tenho oportunidade ao dar explicações, demonstro isso mesmo aos meus discípulos, que a História é feita de Homens simples como nós que embarcaram em Grandes Empresas por esse mundo fora, sem saber o que esperar ou o que fazer.

O meu agradecimento pelo fado do cancioneiro e pela publicação [da minha naterior mensagem] no blog (*).

Já tenho algumas fotografias reunidas, que terei todo o prazer em partilhar com a "tabanca" e com o mundo, incluindo a fotografia tipo passe do meu avô, quando novo e já depois de reformado. É evidente que nem todas as fotografias, importantes fontes históricas pictóricas, retratam os temas de guerra no palco da Guiné, mas são pedaços da História, igualmente importantes, que, penso, irão gostar de ver.

Uma última mensagem: obrigado pelo apreço e disponibilidade demonstrada. A felicidade do meu avô também representa a minha felicidade :)

Os meus melhores cumprimentos,
Cláudio Brito

 2. Comentário de L.G.:

Cláudio, obrigado pelas tuas palavras e pela admiração e amor que dedicas ao teu avô. Presumo que ele não tenha endereço de email. Vais-lhe emprestar o teu. Os membros da Tabanca Grande precisam de ter um endereço de email válido, para nos podermos contactar uns aos outros. Fico a aguardar as fotos do teu avô. Aliás, ele prometei-me mandar um série de imagens dos seus diapositivos (de Bambadinca e de Madina Mandinga, terras por onde passou). Vê, com ele, o que pode ter mais interesse documental. Manda as imagens com a melhor resolução possível (mínimo, 0,5 MG).

Entretanto, ele está mais do que apresentado ao pessoal da Tabanca Grande. Sabemos que foi 1º sargento de artilharia na CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) e depois foi também 1º srgt da  CCS/1ª C/BART 6523 (Madina Mandinga, 1972/74). Mais tarde fez o a escola de Águeda, e seguiu a sua carreira militar, até ao posto de capitão, tendo-se reformado como major.

Diz-lhe que ele passa a ser o membro nº 641 da Tabanca Grande (**), figurando o seu nome na nossoa lista alfabética, constante da coluna do lado esquerdo.

Explica-lhe também quais são os princípios da política editorial  do nosso blogue que é de partilha de memórias e de afetos. Diz-lhe que ele fica-nos a dever um ou mais histórias da sua vida na Guiné.

Mando-lhe uma do jipe dele, avariado em plena estrada (Bambadinca-Bafatá), em complemento das que já publiquei em poste anterior (*). Diz-que a foto doé do álbum do Benjamim Durães, o habitual organizador dos convívios anuais do BART 2917. Ele era fur mil op esp do Pel Rec Info.

Um grande abraço para ti e para o teu avô, o meu camarada e amigo Fernando.LG
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BLOGUE LUÍS GRAÇA & CAMARADAS DA GUINÉ: POLÍTICA EDITORIAL

As opiniões aqui expressas, sob a forma de postes ou de comentários, assinados, são da única e exclusiva responsabilidade dos seus autores, não podendo vincular o proprietário e editor do blogue, bem como os seus coeditores e demais colaboradores permanentes.

O nosso blogue é também uma Tabanca Grande. Originalmente, chamámos-lhe Tertúlia. Tabanca é um termo mais apropriado: nela cabem todos os amigos e camaradas da Guiné. É por isso é que é Grande.

Neste espaço, de informação e de conhecimento, mas também de partilha e de convívio, decidimos pautar o nosso comportamento (bloguístico) de acordo com algumas regras ou valores, sobretudo de natureza ética:

(i) respeito uns pelos outros, pelas vivências, valores, sentimentos, memórias e opiniões uns dos outros (hoje e ontem);

(ii) manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, mesmo quando discordamos, saudavelmente, uns dos outros; o mesmo é dizer: que evitaremos as picardias, as polémicas acaloradas, os insultos, a insinuação, a maledicência, a violência verbal, a difamação, os juízos de intenção, o ciberbullying,  etc.;

(iii) socialização/partilha da informação e do conhecimento sobre a história da guerra do Ultramar, guerra colonial ou luta de libertação (como cada um preferir), extensiva à historiografia da presença portuguesa em África;

(iv) carinho e amizade pelo nossos dois povos, o povo guineense e o povo português (sem esquecer o povo cabo-verdiano!);

(v) respeito pelo inimigo de ontem, o PAIGC, por um lado, e as Forças Armadas Portuguesas, por outro;

(vi) recusa da responsabilidade coletiva (dos portugueses, dos guineenses, dos fulas, dos balantas, etc.), mas também recusa da tentação de julgar (e muito menos de criminalizar) os comportamentos dos combatentes, de um lado e de outro;

(vii) não-intromissão, por parte dos portugueses, na vida política interna da atual República da Guiné-Bissau (um jovem país em construção), salvaguardando sempre o direito de opinião de cada um de nós, como seres livres e cidadãos (portugueses, europeus e do mundo);

(viii) respeito acima de tudo pela verdade dos factos;

(ix) liberdade de expressão (entre nós não há dogmas nem tabus); mas também direito ao bom nome (e à reerva da intimidade);

(x) respeito pela propriedade intelectual, pelos direitos de autor... mas também pela língua (portuguesa) que nos serve de traço de união, a todos nós, lusófonos.


PS1- Defendemos e garantimos a propriedade intelectual dos conteúdos inseridos (texto, imagem, vídeo, áudio...).

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PS4 - Os editores,  colaboradores e autores que aqui escrevem têm total liberdade para seguir ou não o Novo Acordo Ortográfico. O fundador e editor principal segue o Acordo.


Luís Graça & Camaradas da Guiné, 31 de maio de 2006, revisto em 21 de janeiro  de 2014.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 13 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12582: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (78): Informação sobre o ex-1º srgt Fernando Brito, da CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), que é meu avô, está reformado como major e vive em Coimbra (Cláudio Brito)

(**) Último poste da série > 21 de janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12618: Tabanca Grande (420): José Cardoso da Silva Almeida, ex-1.º Cabo Mecânico Electricista do BENG 447 (Guiné, 1971/73)

Guiné 63/74 - P12620: Memória dos lugares (261): Bachile, 1973/74 (Duarte Cunha)


1. O nosso Camarada Duarte Manuel Sousa da Cunha, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 16 e 3ª CCAÇ do BART 6523 (Nova Lamego e Bachile) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta vez com algumas fotos do seu álbum de memórias do Bachile.



Camaradas, 

Hoje envio 8 fotografias são do Bachile, obtidas quando ali me encontrava colocado na CCAÇ 16, junto a Teixeira Pinto. 









Um abraço, camaradas,
Duarte Cunha
Alf Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 16 e 3ª CCAÇ do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.: 

Último poste da série de 17 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12462: Memória dos lugares (260): A estrada Mansambo-Bambadinca, no tempo das chuvas: fotos falantes II, de Torcato Mendonça (ex-alf mil, CART 2339, 1968/69)

Guiné 63/74 - P12619: Parabéns a você (681): Rogério Freire, ex-Alf Mil Art MA da CART 1525 (Guiné, 1966/67)

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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12613: Parabéns a você (680): João Graça, nosso amigo Grã-Tabanqueiro, médico e músico nos Melech Mechaya

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12618: Tabanca Grande (420): José Cardoso da Silva Almeida, ex-1.º Cabo Mecânico Electricista do BENG 447 (Guiné, 1971/73)

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano José Cardoso da Silva Almeida, ex-1.º Cabo Mecânico Electricista do BENG 447, Guiné, 1971/73, com data de 19 de Janeiro de 2014:

Caro camarada, Carlos Esteves

Sou o José Cardoso da Silva Almeida,
Ex-1.º Cabo Mecânico Eletricista do BENG 447 - Companhia de Construções.
Embarquei para a Guiné a 3 de Abril de 1971 e
regressei a 14 de Abril de 1973.

Mal tive tempo de pôr os pés em terra e já estavam a preparar a primeira de muitas saídas.
Nova Lamego com destino a Pirada.

Passei por Bajocunda, Bula, Piche, Buruntuma, Bafatá, Bambadinca, Contuboel, Cacine, Catió, Tite, Teixeira Pinto, Farim, Susana, S. Domingos, Aldeia Formosa e Buba. Em alguns locais estive mais do que uma vez e bastante tempo.

Terra nunca esquecida, Aldeia Formosa por ter sido mordido por uma cobra que estava dentro da sapatilha. Calcei uma e na outra, quando meti o pé, senti que tinha uma coisa mole. Então meti a mão e saiu ela agarrada ao dedo. Sacudi a mão e corri para a enfermaria, tentando com a outra mão fazer um garrote.

Apareceu um enfermeiro e o médico que me medicaram com três ou quatro injeções na cabeça do dedo e prognosticaram-me quinze minutos de vida.
A minha salvação foi um africano que se apercebeu, entrou na enfermaria e extraiu-me o sangue até ao sitio que tinha o garrote e depois foi só dormir até às 11 horas do dia seguinte.
A minha primeira reação quando acordei foi dizer: eu estou vivo, e correr até ao posto médico e mandar vir.

Desculpem ser tão maçador mas parece que estou no local certo.
Tenho mais algumas histórias mas ficam para mais tarde.

Bom trabalho.
José Almeida


2. Comentário do editor:

Caro camarada José Almeida, deixa que te diga que para quem teve um prognóstico de 15 minutos de vida, há cerca de 40 anos, estás com óptimo aspecto.

Já que estás vivinho da Silva, bem-aparecido nesta Tabanca de ex-combatentes da Guiné, onde poderás permanecer até aos 100 anos de idade. A partir desse marco é forçosa a passagem à reserva.

Muito obrigado por te juntares a nós. Pelo que descreves, foste um andarilho na Guiné, fruto da tua especialidade, mas deixa que te diga que não foste ao sítio mais importante da Guiné, digo eu, Mansabá. Se passasses por lá até Fevereiro de 1972 ainda me encontravas.
Se bem me lembro chegámos a precisar de técnicos especializados em geradores já que um deles, tínhamos dois, nos dava alguns problemas. Estivemos uns quantos sabichões à volta daquilo, mas nem sei quem resolveu o problema. Acho que o motor trabalhava mas o gerador não cumpria a sua missão de dar à luz.

Voltando a ti, ficamos então à espera das tuas histórias, que devem ser muitas, tais e tantas as deslocações que tiveste ao longo da tua comissão de serviço. Situações inesperadas como a que hoje nos contas, hás-de ter algumas, não tão trágicas, esperamos.
Se tiveres fotos dos locais por onde passaste, também as poderemos publicar.
E de Bissau, também queremos fotos e memórias. Tudo o que tenhas por aí tem valor para o nosso espólio.

Disseste no teu primeiro contacto que és inexperiente na informática. Não te atrapalhes porque com a prática chegas acabas por adquirir conhecimentos que farão de ti um óptimo utilizador destas máquinas infernais. E também poderás contar com a nossa ajuda. Não é que saibamos muito, mas dá para desenrascar.

Posto isto, queremos que nos saibas ao teu dispor para qualquer esclarecimento.
Deixo-te um abraço de boas-vindas em nome dos editores e da tertúlia.
O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Janeiro de 2014> Guiné 63/74 - P12615: Tabanca Grande (419): Duarte Manuel Sousa da Cunha, ex-Alf Mil da CCAÇ 16 e 3ª CART do BART 6523 (Bachile e Nova Lamego), 1973/74

Guiné 63/74 - P12617: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (7): As localidades por onde passei, sofri e amei (Veríssimo Ferreira)

1. Em mensagem do dia 18 de Janeiro de 2014, o nosso camarada Veríssimo Ferreira (ex-Fur Mil da CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, e Bissau, 1965/67) enviou-nos a sua perspectiva sobre o seu percurso militar desde a Recruta até à sua promoção à alta patente de 1.º Cabo Miliciano.


AS LOCALIDADES POR ONDE PASSEI... SOFRI... AMEI 

E VAI DAÍ: 

Por edital, soube que me deveria apresentar em Mafra, na Escola Prática de Infantaria, a fim de frequentar o Curso de Sargentos Milicianos.
Saí de Ponte de Sôr, pela matina e no combóio. Chegado a Lisboa, pedi informações para ir para o Martim Moniz, local donde sairia a camioneta para Mafra.

A confusão, nesta louca cabecinha, era mais que muita (primeira vez na grande cidade) e habituado que estava a ver muita gente junta, aquando das feiras, pensei:
- Há por aqui uma como a nossa de Outubro!!!

Bom, mas lá fui ter e parti para o destino... e cheguei enquanto no entretanto comi as duas sandes que a minha querida mãe, preparara para a viagem.

Mafra, surpreendeu-me, quando logo ali mirei, o Mosteiro.
- Um quartel? - Duvidei.

Convento de Mafra

Na entrada, havia um enorme grupo de juventude de cabelinhos cortados à inglesa curta e que esperava e a eles me juntei.
Lá chegou a minha hora e preenchidos que foram, uns papéis, mandaram-me para o alfaiate que tirava medidas olhando-nos de alto abaixo, o que significou que recebi umas roupitas bem bonitas por acaso... um bivaque onde cabiam duas cabeçorras, duas camisas cinzentas nº 54 e eu até aí, usava 42, dois pares de calças que me chegavam dos pés à cabeça, duas botas 47 e eu calçava 41... e por aí fora.

Na caserna, assim chamavam ao quarto luxuoso, um 5.º andar e 183 degraus para subir, onde me colocaram, para me não sentir só deixaram-me acompanhado por mais 151 recrutas que se tornaram meus amigos.

No dia seguinte, reuniram-nos num espaço rectangular, que ainda hoje existe, lá atrás do convento e a que chamaram e chamam, "A parada".
Éramos, talvez uns três mil, que sairiam dali como Oficiais ou Sargentos Milicianos.
Juntaram-nos depois, sentados no chão e rodeando o Oficial Instrutor, cá fora... ali ao lado esquerdo de quem entra... e esclareceram-nos sobre as normas nem vigor, para contactos eventuais, com os residentes civis e também como distinguir os postos militares.

Escola Prática de Infantaria

Ficámos a saber, que a coisa começava desta forma:
- O início e por aí fora: - RECRUTAS; 1.º Cabo; Furriel; Sargento; Aspirante; Alferes; Tenente; Capitão; etc; etc; etc; etc; General; Marechal; e finalmente: 1.º CABO MILICIANO.

Contentíssimo fiquei. Então não é, que o filho do meu pai, iria alcançar o mais alto posto, lá para Agosto e já especialista de Infantaria...
E 1.ª classe em metralhadora Dreyse 7,9?
E 3.ª classe em espingarda 7,9?
E 1.ª classe em comportamento?
E atirador, terminada a instruçao complementar?

Aparvalhado ainda, com o facto de ontem ter visto, Lisboa... aviões dos grandes... e barcos a atravessar um rio a que ouvi chamarem Tejo e ter ainda a possibilidade, de e também, pela primeira vez, poder ir ver o mar... as praias da Ericeira e mais agora esta notícia... plena de responsabilidades...
Olhem... fiquei de tal maneira entontecido... que julgo não ter voltado a ser o humano normal de antes.

Continências e divisas, foram-nos sabiamente mostradas, bem como o manejo duma espingarda... o seu desmanchar em bocados... e a consequente limpeza com o escovilhão.

No 3.º dia e após o pequeno almoço, começou a preparação para que pudéssemos vir a ser militares disciplinados, bravos, heróicos e que acima de tudo, voltássemos inteiros.
- Corridinhas na tapada... rastejar no meio da trampa... percursos de combate... saltos para o galho... jogos de brutóbol... tiro na carreira do dito... actividades desportivas com vários empecilhos no meio... audição dos gritos estridentes e ameaçadores dos monitores do pelotão... enfim... toda uma panóplia útil que só mais tarde entendemos ter sido preciosa para que aqui e agora estejamos ainda semi-vivos e, ah, sempre acompanhados pela fiel Mauser e de capacete enfiado... no local próprio de enfiar capacetes.

Regressávamos depois e quase na hora do repasto. Íamos à suite tomar um banhito rápido e mudar de fato. Toca a corneta e ala que são horas de almoço.
Boas refeições sim senhor e até vinho havia e da cor que entendêssemos, embora eu achasse que aquilo era mais água... e cânfora... substância que e ao que diziam, transformava em eunucos, embora provisoriamente, quem bebia a zurrapa.

A 4 de Julho de 1964, após portanto 5 meses e 10 dias e com aproveitamento e todos os créditos alcançados, consideraram-me então, apto, ou seja, vais tirar a especialidade de "atirador" e como ordens não se discutem, decidi-me e fui para Tavira.

Vista parcial de Tavira

Terra linda que continuo a visitar.
Linda praia, onde até a água era e é, quente, comparada com a da Ericeira, de que tinha provado o sal.
Boas gentes, embora e nesse período, as tenha considerado más com'ás cobras, tendo em conta que quando os pobres militares, sedentos e até com alguma fomita, colhíamos algumas amêndoas, alfarrobas ou figos, ou ainda, lhes bebíamos umas gotas nos escassos poços existentes... iam de imediato participar ao quartel e algumas vezes desembolsámos os 25 tostões para compensar o prejuízo.
A miséria patrimonial deste povo algarvio era notória e justificava a queixa. O turismo mal começara e aquelas frutas e água eram o seu ouro.

No que se refere à instrução militar, foi o acrescento próprio, para quem já estava treinado.
Novidade apenas para o "DEITÁÁÁÁR" nas salinas. Lindo de se ver, creiam. E nós... vestidinhos... lavadinhos e engomados... calçadinhos... botas engraxadas e reluzentes, espelhando o sol quente desse mês de Julho... obedecíamos está claro, só para não nos considerarem desobedientes.
Saíamos enlameados, cheios de lodo até aos cabelos, mas mais fortes alguns, aqueles que engoliam alguma distraída enguia. Até nisso, a sorte me foi madrasta já que o único brinde que me calhou, foi uma enorme serpente que resolveu aninhar-se no bolso esquerdo das calças.

À tardinha dispensavam-nos e podíamos então confraternizar com as tascas locais, onde sempre comíamos generosas doses de grandes conquilhas, ou jaquinzinhos atados pelo rabo e em grupos de 5 ou 6, regados com aquele saboroso tintol carrascão de tal forma, que até os dentes ficavam coloridos.

Alguns mais afortunados, proporcionavam a outros, passeios e assim conheci, Quarteira, Armação de Pera, Albufeira e Faro.

E em 30 de Agosto de 1964, fui promovido a 1.º Cabo Miliciano, pois então...
Começa aí um percurso agitado, com constantes mudanças, assim estilo "faça férias cá dentro" e foi o que me valeu para ficar bem a conhecer, algum deste País, que eu julgava ser só o Alto Alentejo.
1.º - Amadora (Regimento de Infantaria 1);
2.º - Lamego ( Rangers);
3.º - Tancos (Minas e Armadilhas)
4.º - Lisboa (Grupo C. Trem Auto)
5.º - Abrantes (Regimento Infantaria 2)
6.º - Tomar (Regimento Infantaria 15)
7.º - GUINÉ.

(Continua)

OBS:- Imagens retiradas da internete pelo editor,
com a devida vénia aos seus autores
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de Janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12614: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (6): Eu fiz "Tropa" em cinco cidades, em Portugal e ainda em Nhacra, Quebo e Nhala, na Guiné Bissau (Manuel Amaro)

Guiné 63/74 - P12616: Filhos do vento (26): A direcção da A Associação FIDJU DI TUGA: Fernandinho da Silva, presidente, e José Maria Indequi, secretário.


Guiné-Bissau  > Bissau > Associação Associação da solidariedade dos filhos e amigos dos ex-combatentes portugueses na Guiné-Bissau (FIDJU DI TUGA) > Dois elemento da direção: da direita para a esquerda, Fernandinho da Silva (telef + 5880597), Presidente, e José Maria Indequi (telef + 5218200 e  + 6612146), Secretário...

A foto foi-nos enviada ontem pelo Pepito, diretor executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento. Segundo o Pepito, são "duas pessoas muito sérias que pretendem recensear os filhos dos militares portugueses que prestaram serviço na Guiné-Bissau, contar as suas estórias e pô-los em ligação com as famílias portuguesas que assim o entenderem".

Segundo a reportagem do Púiblico (vd. dossiê "Filhos do Vento"), da responsabilidade da jornalista Catarina Gomes (e sua equipa Manuel Roberyo e Ricardo Resende),  o Fernando Edgar da Silva, "nasceu em 1968, é camionista", e a sua "mãe era Sabadozinha Mendes, vivia junto ao quartel português de Canchungo (ex-Teixeira Pinto), onde o pai trabalharia na cozinha, enquanto esteve na Guiné, de 1966 a 1967"...Sabe que o pai "furriel". Realiza agora o seu sonho de "criar uma associação que represente todos os filhos que os militares portugueses "abandonaram" na Guiné.

Segundo a mesma fonte, José Maria Indequi é "técnico agrário, estudou em Cuba e na China. Acha que o seu verdadeiro nome, que lhe foi dado pelo pai, é José Carlos dos Santos. Nasceu a 1971, o pai talvez tenha voltado a Portugal em 1973 ou 1974". Maria Paula Indequi é o nome da sua mãe. Qunato ao pai esteve colocado no quartel de Pelundo, na região de Cachéu. Acha que pertencia ao Bcaç 2884.  "O pai vivia maritalmente com a mãe e tiveram mais uma filha, a sua irmã Elva, e uma outra rapariga, Manuela, que já morreu!. Queixa-se que os  filhos dos portugueses na Guiné são "cidadãos de segunda", "estão no meio da barcaça".

Publicámos em poste anterior (*) os estatutos da associação e lançámos um apelo à solidariedade de todos nós: amigos e camaradas da Guiné que se reunem sob o poilão da Tabanca Grande, leitores do nosso blogue, bem como régulos e membros das demais Tabancas (Ajuda Amiga, do Centro, da Linha, de Matosinhos, dos Melros, da Lapónia, de Candoz, de Guilamilo, de São Martinho do Porto...). Se cada um de nós se dispuser a dar um euro a esta associação, juntamos o dinheiro necessário para eles adquirirem o computador pessoal, a máquina fotográfica digital e o gravador que precisam para trabalhar na realização dos objetivos da associação, que nos parecem justos e nobres:  (i)  ver reconhecida a nacionalidade portuguesa, pelo Estado Português, de todos os filhos de ex-combatentes portugueses e dos seus descendentes; (ii) defender os valores da cidadania, de igualdade, justiça social e o carácter democrático, laico e pluralista da sociedade e do estado [da República da Guiné-Bissau]; (iii) reagrupar e fortalecer os Fidju di Tuga  na Guiné-Bissau com uma visão sociocultural comum que os unem;  e (iv) contribuir para o desenvolvimento humano, solidário e duradora entre os associados, amigos e a comunidade portuguesa residente e não residente na Guiné.

Quem quer, individual ou coletivamente, assumir a liderança deste projeto de ajuda e solidariedade em favor da Associação Fidju di Tuga ? Lançava o desafio ao José Saúde (da delegação de Beja da Tabanca Grande), que teve o mérito de grafar a expressão "filhos do vento"... Ou então a poderosos régulos como o José Teixeira, da Tabanca de Matosinhos, o Carlos Fortunato, da Tabanca Ajuda Amiga ou o Joaquim Mexia Alves, da Tabanca do Centro (agora a comemorar o seu 4º aniversário, realizando em 31 do corrente, um almoço-convívio,. em Monte Real,  que já esgotou o limite de lugares na sala, que são 80). Sem esquecer o Jorge Rosales e o seu ajudante campo, o Zé Manel Dinis, da Tabanca da Linha... Um alfabravo para todos. LG

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Guiné 63/74 - P12615: Tabanca Grande (419): Duarte Manuel Sousa da Cunha, ex-Alf Mil da CCAÇ 16 e 3ª CART do BART 6523 (Bachile e Nova Lamego), 1973/74


1. O nosso Camarada Duarte Manuel Sousa da Cunha, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 16 e 3ª CART do BART 6523 (Nova Lamego e Bachile) - 1973/74, enviou-nos uma mensagem de apresentação nesta nossa tertúlia, acompanahda de algumas fotos do seu álbum de memórias.

Camaradas,

As fotografias são de Nova Lamego (7), do meu BART 6523 - 3ª Companhia que partiu para a Guiné de Penafiel. Junto também algumas fotos do Bachile (8), que foram tiradas quando fui colocado na companhia Caçadores Africanos 16, junto a Teixeira Pinto. 

Frequentei o curso de C.O.M. no C.I.O.E. em Lamego, no 4º turno de 1972, também tinha estado no terceiro, mas por abertura de uma fratura que tinha tido no pé esquerdo tive que ir para o Hospital Militar no Porto, onde estive internado durante quase três semanas.

Quando terminei o curso em Lamego, fui colocado em Penafiel no mês de Janeiro/73, mas como o batalhão só se iria formar em Abril, fui dar uma recruta a Espinho.

Vivo onde nasci, em Angra do Heroísmo.

Hoje envio as 7 fotos de Nova Lamego:








Um abraço camaradas, 
Duarte Cunha
Alf Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 16 e 3ª CART do BART 6523

2. Amigo e Camarada Duarte Cunha, quero, em nome do Luís Graça “patrão” deste sítio e demais Camaradas-de-Armas perfilados nesta grande tabanca, dar-te as boas vindas e, como é habitual aos periquitos aqui chegados, solicitar que se te lembrares de histórias da tua estadia por terras guineenses, aqui no-las contes, bem como se possuíres mais fotos as envies para publicação. 

Resta-me dizer que o teu batalhão é dos mais representados nesta tertúlia, estão já aqui, que me lembre, os nossos Camaradas António Barbosa, também ex-Alf Mil Op Esp/RANGER do 1º Pelotão da 2.ª CART – Cabuca -, o José Romeiro Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS (Nova Lamego e Gabu), o Ricardo Figueiredo ex-fur mil, 2ª CART - Cabuca -, Manuel Sousa da Silva da 2ª CART - 4º Pelotão (Cabuca), o Américo Marques, ex-Sold Transmissões da 3ª CART (Nova Lamego/ destacado em Cansissé ) e o falecido Alfredo Dinis, que foi 1.º Cabo Enf da CCS (Nova Lamego).

Fica bem com um abraço Amigo.

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: