sábado, 15 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12839: Memórias de um Lacrau (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (Parte VIII): fotos de Canquelifá, na fronteira nordeste: bajudas, final da festa do Ramadão, descanso dos guerreiros...


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70)  > Bajudas (1)


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70)  > Bajudas (2)


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) >    Festa do final do Ramadão (1)


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) >  Festa do final do Ramadão (2)... O Valdemar em tronco...


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70)  >  Festa do final do Ramadão  com o cap mil Pinto a assistir (1)... A meio, sentado, fardado...


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) >   Festa do final do Ramadão  com o cap mil Pinto a assistir (2)


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70) >   Festa do final do Ramadão  com o cap mil Pinto a assistir (3)´


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Canquelifá > CART 2479 / CART 11 (1969/70)  >     Conversas entre o Porto e Lisboa... Vários graduados...


Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]



1. Continuação da publicação das Memórias de um Lacrau ... Texto e fotos enviadas, em 9 de fevereiro último, pelo Valdemar Queiroz {, foto atual à esquerda] (*)

Diz a última parte do texto, muito laconicamente:

"Depois, a partir de Nova Lamego, andámos em intervenção na zona leste, a nível de dois pelotões, por Cabuca, Cancissé, Madina Mandinga, Dara, Piche, Ponte Caium, Dunane, com permanência perlongada em Canquelifá, até nos fixarmos em Paunca e Guiro Iero Bocari."

Vamos apresentar fotos, com legendas destes vários lugares por onde passou o nosso camarada Valdemar Queiroz, esperando que ele e outros "lacraus" complementam esta informação.

Hoje são fotos da estadia em Canquelifá, junto à fronteira, a nordeste:  bajudas, final da festa do Ramadão, descanso dos guerreiros...

Sobre Canquelifá temos cerca de 8 dezenas de referências no nosso blogue. Nesta altura (1968/70), estava sediado em Piche o BART 2857, com a CCS em Piche e as subunidades de quadrícula em Bajocunda (CART 2438), Canquelifá (CART 2439) e Piche (CART 2440). Ver aqui o respetivo sítio.

_______________

Nota do editor:

(*) Último poste da série  > 12 de março de  2014 > Guiné 63/74 - P12827: Memórias de um Lacrau (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (Parte VII): Fotos de estrada, onde a velocidade máxima era de 40 km (e nas povoações, 35 km)

Guiné 63/74 - P12838: Parabéns a você (705): António da Silva Batista, ex-Soldado At da CCAÇ 3490 (Guiné, 1972/74)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 14 de Março de 2014 > Guiné 63/74 - P12834: Parabéns a você (704): Leopoldo Correia, ex-Fur Mil Art da CART 564 (Guiné, 1963/65)

sexta-feira, 14 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12837: Notas de leitura (572): "Crónica do Descobrimento e Conquista da Guiné", de Gomes Eanes de Azurara (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Setembro de 2013:

Queridos amigos,
Em termos historiográficos, é a pedra de toque para se entender o plano henriquino para cartografar África até descobrir o caminho marítimo para a Índia.
Azurara ou Zurara não esconde a profunda admiração pelo Infante, enuncia as razões para o empreendimento dos descobrimentos, ele é um contemporâneo entre contemporâneos, descreve nomes, viagens e resultados.
Passado o Cabo Bojador, etapa a etapa, chega-se à terra dos negros, a Guiné. Um pouco acima, quando se atingiu o rio Senegal, julgou-se ter encontrado o Nilo.
A crónica Zurara permite uma leitura fascinante, nele sente-se o grandioso da obra e o aparecimento do mundo moderno. Esta versão não é de fácil leitura mas quase. Dá orgulho ser português.

Um abraço do
Mário


Crónica do descobrimento e conquista da Guiné, 
por Gomes Eanes de Azurara

Beja Santos

Em 1989, as Publicações Europa-América deram à estampa uma edição em português atualizado de uma peça nobre da historiografia dos Descobrimentos (sobre o achamento da Guiné), a incontornável crónica de Azurara, escrita em 1448, trata-se do primeiro documento que traça a cronologia dos descobrimentos portugueses até essa data.

Como cronista, foi bastante diferente do seu antecessor, Fernão Lopes. Como se verá a propósito da figura do Infante D. Henrique, Azurara celebra os seus heróis, é um panegirista sem complexos. Como escreve Reis Brasil, “o seu estilo é vivo e elucidativo, chegando mesmo em certos casos a ser fortemente emotivo, mas a frase longa, o uso demasiado intenso da subordinação, a praga dos pronomes do tipo relativo, são métodos de escrita que, em certos casos, o tornam um pouco enfadonho ou pesado”.

Erudito, de uma grande fidelidade à verdade, tem a particularidade de narrar factos contemporâneos ao cronista. Azurara idolatrava o Infante D. Henrique, conheceu diretamente os principais descobridores do que nos fala.

Na sua introdução de 1841, o visconde de Santarém não esconde o regozijo de se dar pela primeira vez ao público a crónica do descobrimento e conquista da Guiné: “É incontestavelmente não só um dos monumentos mais preciosos da história da glória portuguesa mas também o primeiro livro escrito por autor europeu sobre os países situados na costa ocidental d’África além do Cabo Bojador, e no qual se coordenaram pela primeira vez as relações de testemunhas contemporâneas dos esforços dos mais intrépidos navegantes portugueses que penetraram no famoso mar Tenebroso dos Árabes”.

São múltiplas as leituras possíveis deste diadema historiográfico. Por exemplo, ficamos a conhecer o estado das ciências e da erudição entre nós nos fins da Idade Média; Azurara mostra ter um vasto conhecimento da geografia sistemática dos antigos; deixa claro o plano expansionista de D. João I e faz o leitor perceber que o Infante D. Henrique tinha construído o seu próprio plano para explorar a costa ocidental de África.

A crónica abre com uma carta que Azurara dirige a D. Afonso V, que lhe ordenara que pusesse em escrito “os feitos do Senhor Infante D. Henrique”. É uma crónica que assombra pela cronologia dos feitos que se passaram no achamento da Guiné. Dirige-se encomiástico ao Infante, enaltece os seus feitos, o seu génio e a sua magnanimidade, sumaria as coisas notáveis feitas por ele, arrola as suas virtudes e costumes, dá rédea solta a uma cultura clássica de alto nível. E assim se chega a um dos pontos capitais da crónica: as cinco razões porque o senhor Infante foi movido de mandar buscar as terras de Guiné: queria saber a verdade sobre a terra que ia além das ilhas de Canária, e de um cabo, que se chama do Bojador, se ele não trabalhasse de o saber, nenhuns mareantes, nem mercadores nunca se dele antremeteriam; considerou o senhor Infante que achando-se em aquelas terras alguma povoação de cristãos ou portos em que sem perigo pudessem navegar, se poderiam para estes reinos trazer muitas mercadorias; era também preciso conhecer melhor o poderio dos mouros daquela terra de África; de mais de trinta anos que havia que guerreava os mouros, nunca achou rei cristão, nem senhor de fora desta terra para o ajudar e assim queria saber se achariam em aquelas partes alguns príncipes cristãos; queria levar a fé de nosso senhor Jesus Cristo, procurar salvar as almas que se quisessem salvar.

E o cronista traça o itinerário: as dificuldades sentidas para passar além do Cabo Bojador, e com Gil Eanes dobrou este Cabo; de como Afonso Gonçalves Baldaia chegou ao rio do Ouro e trouxe os primeiros escravos; surge Nuno Tristão, criado de moço pequeno na Câmara do Infante e que passou além do porto da Galé e como se foram aproximando de regiões onde já não se falava a língua dos mouros, a dos Azenegues (países que confinam com os negros de Jalof, onde começa a região da Guiné); o envio de uma embaixada ao Papa Martinho V, pedindo perpétua doação dos reinos descobertos e do que se descobrisse do mar oceano do Cabo Bojador até às Índias.

O leitor vai tomando nota de toda esta aventura, as embarcações tenteando os contactos, por vezes sendo repelidos, outras capturando nativos, até que se chega a um capítulo extraordinário em que Azurara cede à emoção e descreve a chegada dos escravos a Lagos, são páginas únicas da historiografia portuguesa, como se exemplifica: “Mas qual seria o coração, por duro que ser pudesse, que não pungido de piedoso sentimento, vendo assim aquela companha; uns tinham as caras baixas, e os rostos lavados com lágrimas, olhando uns contra os outros; outros estavam gemendo mui dolorosamente, esguerdando a altura dos céus, firmando os olhos em eles, bradando altamente, como se pedissem acorro ao Pai na natureza; outros feriam seu rosto com suas palmas, lançando-se estendidos em meio do chão; outros faziam suas lamentações em maneira de canto, segundo o costume da sua terra, nas quais posto que as palavras da linguagem aos nossos não pudesse ser entendida, bem correspondia ao grau de sua tristeza”.

O Infante manda Gonçalo de Sintra à Guiné, será a primeira baixa de tomo. Outros navegadores prosseguem até ao rio do Ouro e Dinis Dias chega à terra dos negros, onde vivem os guinéus. As viagens prosseguem até ao Cabo Branco depois atinge-se a ilha de Arguim. A proximidade da região durante séculos conhecida por Costa da Guiné é enorme. É então que um grupo de navegadores requer licença para irem à Guiné. O Infante aquiesce. Diz o cronista que neste período o Infante vê-se envolvido em graves quezílias familiares, era regente do reino o Infante D. Pedro que mal se relacionava com a rainha viúva, os nobres dividiram-se e tomaram partido, D. Henrique foi forçado ao papel de conciliador. As explorações da costa africana prosseguiram, Lançarote de Lagos passou o Cabo Branco, assim se chega à terra da Guiné. Ao tempo, julgava-se que o rio Nilo passaria por esta região, já se passara a terra de Zaara (o Sahara), avistavam-se palmeiras e pela primeira vez deparava-se ao navegador gente toda negra, guinéus ou negros, passou-se o rio Çanaga (Senegal), descobriu-se que a água do mar era doce como a dos rios. Os locais resistem, combatem, ferem e matam com azagaias, e fogem, não querem ser capturados ou filhados. Seguem-se páginas muito interessantes em que Azurara discreteia sobre o rio Nilo, fala nas caravanas, nos filósofos e historiadores, gregos e romanos, as caravelas afoitam-se a entrar nos rios, fazem-se capturas, descobre-se que a religião dos mouros aqui tem um peso ínfimo.

O relato prossegue com mais viagens e expedições às terras dos negros, são descrições palpitantes que interessam ao historiador. E assim se chega à morte de Nuno Tristão em terra da Guiné, em circunstâncias dramáticas.

É um relato espantoso o que nos oferece esta crónica que ainda hoje conserva segredos bem guardados que fazem palpitar os historiadores do presente.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 10 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12818: Notas de leitura (571): "Nos Trópicos sem Le Corbusier - Arquitectura Luso-Africana no Estado Novo", por Ana Vaz Milheiro (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12836: In Memoriam (186): José da Cruz Policarpo (1936-2014), 16.º Cardeal Patriarca de Lisboa (1988-2013), irmão mais velho dos combatentes Maria do Céu Policarpo e Fernando Policarpo

José Policarpo (1936-2014). Foto:
 Cortesia  do sítio do Patriarcado
de Lisboa
1. Morreu José Policarpo (1936-2014), cardeal patriarca de Lisboa, de 1998 a 2013...

Morreu ontem aos 78 anos, na sequência de um crise cardíaca... Morreu no combate pela vida, em plena intervenção cirúrgica, no bloco operatório de um hospital particular. (Ter-se-ia salvo se tivesse sido encaminhado para um hospital público? É possível.) O governo decretou hoje dia de luto nacional.

Não nos cabe, a nós, aqui neste blogue de ex-combatentes da guerra colonial, fazer a evocação da sua figura como cidadão, como intelectual e como homem de Igreja. E, muito menos, especular sobre o seu lugar na história da igreja e do nosso país. Na morte, há grande tendência, neste país, para o unanimismo. Não queremos cair aqui nessa pecha nacional.

Se lembramos aqui a sua memória, é também pelo facto de ter tido,  numa família numerosa de 8 irmãos, do oeste estremenho (Caldas da Rainha), pelo menos 2 irmãos combatentes na guerra colonial:

(i) a Maria do Céu Policarpo [, foto à direita, Tancos, 1961], a irmã mais nova, uma das corajosas e pioneiras 42 enfermeiras paraquedistas que serviram no ultramar, e que fez parte do 1.º curso (ao lado de mais 5 Marias), tendo obtido o seu brevet justamente no ano em que o mano José era ordenado sacerdote (1961);

(ii) o Fernando Policarpo, o  mais novo dos irmãos  (n. 1951), ex-Alf Mil pertencente a uma das subunidades do BCAÇ 4514/72 (1973/74), que passou por Nova Lamego, Guidaje, Cuntima  e região de Tombali, Cantanhez - Cadique, Cafine e Jemberém-, onde foi gravemente ferido em combate; é hoje Coronel, DFA, é escritor e professor do Colégio Militar (desde 1989), historiador, além de cofundador da Liga dos Amigos do Colégio Militar.

Aos dois, e demais família, aproveitamos para mandar, em nome pessoal e da Tabanca Grande,  um grande abraço solidário na dor pela perda do mano mais velho, que também fazia parte da nossa família alargada, já que “pais, irmãos e filhos dos nossos camaradas, nossos pais, irmãos e filhos são”... (Sejam eles cidadãos anónimos, sejam eles personalidades destacadas da via portuguesa).
.


Sobre o Fernando Policarpo (bem como sobre sobre a irmã Maria do Céu Policarpo), temos várias referências no blogue.

O Fernando Policarpo [, foto à esquerda, cortesia do sítio da Liga dos Amigos do Colégio Militar], que se licenciou e é Mestre em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, foi também cofundador, em 1985, do Centro de Estudos de História Militar.

Entre outras obras, é autor de Guerras de África: Guiné (1963/-1974). Matosinhos: QuidNovi. 2006. (Academia Portuguesa de História: Batalhas da História de Portugal, 21), livro de síntese  de que já aqui, no nosso blogue, foram feitas as devidas recensões pelos nossos camaradas Francisco Henriques da Silva e Mário Beja Santos.


Tancos, 8 de Agosto de 1961 > Da esquerda para a direita: (i) Maria do Céu Policarpo; (ii) Maria Ivone; (iii) Maria de Lurdes; (iv)  Maria Zulmira; (v) Maria Arminda;  e (vi)  o Capitão Fausto Marques (Director Instrutor). Falta a Maria da Nazaré que torceu um pé no 4.º salto e só viria a acabar o curso alguns dias depois (Legenda: Rosa Serra).
 .
 Foto: Maria Arminda / Rosa Serra (2011). Todos os direitos reservados.


2. Evocamos o nome, a figura e a memória de José Policarpo também por respeito à comunidade eclesial católica, a que pertencerão muitos dos membros da Tabanca Grande. Somos, histórica e sociologicamente falando, um país católico. Pela minha parte, associo-o sobretudo a uma Igreja mais arejada, tolerante, plural e moderna, a do pós Vaticano II, que soube, com ele e com o seu antecessor, António Ribeiro, fazer a reconciliação entre os portugueses, os católicos, praticantes e não praticantes, e os não católicos.

Não sei o que ele, enquanto padre, pensava sobre a guerra colonial, nem sei se tinha (ou teve) alguma posição, pública, sobre este assunto relevante para todos nós (Igreja, povo de Portugal, povo das colónias...), na altura em que por lá andámos, nós e os seus irmãos, na Índia, em Angola, na Guiné e em Moçambique. Nem isso, para já nos interessa. É possível que não, que nunca se tenha pronunciado sobre a guerra (que corria o risco de se eternizar). até por que passou alguns anos em Itália, onde se licenciou, em 1968, em Teologia.

Recorde-se que José Policarpo foi nomeado bispo já depois do 25 de abril, em 1978, tendo sucedido a António Ribeiro, como 16.º Cardeal Patriarca de Lisboa, em 1998. Antes tinha sido professor (1971-1986) e Reitor da Universidade Católica Portuguesa (1988-1992). Foi igualmente Reitor do Seminário dos Olivais (1970-1997). Nomeado Cardeal em 2001, participou no Conclave de 2005 que elegeu Joseph Ratzinger como Papa Bento XVI e depois no Conclave de 2013, que elegeu Jorge Bergoglio como Papa Francisco.

Dizem os seus biógrafos que foi (i): protagonista da renovação cultural da Igreja Católica em Portugal; (ii) é autor de teve cerca de cinquenta obras publicadas; (iii) era sócio honorário da Academia das Ciências de Lisboa; e (iv)  académico de mérito da Academia Portuguesa de História.
 
Pessoalmente, devo dizer que mal o conheci...  Há uma coisa, no entanto, que me intriga, e sobre a qual gostaria de poder um dia fazer um estudo: muitos dos oficiais e sargentos milicianos na guerra colonial foram ex-seminaristas, com uma preparação física, moral, humana, intelectual e cultural acima da média da sua geração... Não temos números, mas em todas as unidades e subunidades havia ex-seminaristas...

O(s) seminário(s) foi(foram) também uma grande fábrica de soldados... A Igreja nunca se pronunciou sobre isto, que eu saiba... Temos no blogue camaradas que passaram por lá...

O funeral de José Policarpo (1936-2014) é hoje, às 16h00, na Sé Patriarcal de Lisboa. Os seus restos mortais vão repousar no Panteão dos Patriarcas, em São Vicente de Fora. Que descanse em paz,  com Deus e com os homens. (LG)
___________

Nota do editor:

Último poste da série > 6 de março de  2014 > Guiné 63/74 - P12796: In Memoriam (185): Victor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014), cor art ref, ex-cap art, cmdt, CART 2715 (Xime, 1970/71)...

Guiné 63/74 - P12835: Brochura, "Soldado!, Coisas importantes que deves saber", 5ª ed. [Lisboa: SPEME, 1970, 14 pp.] (Parte I) (Fernando Hipólito / César Dias)

















(Continua)

Reprodução das 6 primeiras páginas da brochura de 14 páginas, "Soldado!, Coisas importantes que deves saber. Aos jovens soldados do Exército Português", ª ed.  [Lisboa: SPEME - Serviço de Publicações do Estado Maior do Exército, 1970, 14 pp.]




1. É um documento teórico-ideológico,  igual ao de muitos outros exércitos pelo mundo fora, mas no nosso caso elementar, destinado a uma população de baixa literacia, que só conhecia, no máximo o livro da 4ª classe. Muitos de nós deverão tê-lo lido ou folheado, nomeadamente os que pertenceram ao contingente geral.

É pena que, na 5ª edição, já de 1970 (!), ainda apareça a palavra "privilégio", mal grafada, como  "previlégio" (p. 3)... Por outro lado, o grafismo e as ilustrações são,  em 1970, já muito obsoletos... Mas o exército, e o seu estado-maior, era uma instituição conservadora... Enfim, os demais comentários, nomeadamente sobre o conteúdo da brochura, ficam para os nossos leitores.



O célebre Tio Sam, desenho por J.M. Flagg... Cartaz norte-americano, de 1917, inspirado no original britânico,  de 1914. Foi usado pelo exército norte-americano para recrutar soldados tanto para a Primeira como para a Segunda Guerra Mundial. Imagem do domínio púbklico. Cortesia de Wikipedia.




Outro ícone da propaganda de guerra, inspirador de uma série de  cartazes posteriores; Lord Kitchener Wants You... Cartaz que  representava Lord Kitchener,  o Secretário de Estado da Guerra, incitando os britânicos a alistaram-se no exército, em 1914.  Imagem do domínio público. Cortesia da Wikipedia. [Ver aqui mais posters sobre recrutamento militar: US Navy, 1863-1939].



O exemplar da brochura "Soldado!, Coisas importantes que deves saber", digitalizado, chegou-nos por mão do César Dias. Mas o precioso exemplar original, em papel, estava/está nas mãos do Fernando Hipólito que já aceitou o meu convite para se sentar à sombra da Tabanca Grande...

Mail enviado, na sexta-feira, 28 de Fevereiro de 2014, 10:57

Assunto:  Livro soldado
 ´
Bom dia Luis,

Mais um livro do Soldado, tinhamos um específico para Tavira, este era para a generalidade dos futuros militares. Mais uma relíquia que o [ Fernando] Hipólito sacou do baú.

Um abraço, César.

Na volta do correio, respondi ao César, com conhecimento ao Fernando, nestes termos:
"Cásar: só podemos estar muito profundamente agradecidos ao Fernando por mais esta preciosidade, depois do guia do instruendo... Eu quero apresentá-lo à Tabanca Grande. Só preciso de uma foto atual, e duas linhas, a dizer por onde andou em Angola... (Vou lá desde 2003)...

O Fernando já ganhou o direito de se sentar, contigo, comigo, com o Levezinho e outros camaradas, à sombra do poilão da Tabanca Grande!... Se me quiser mandar uma ou mais fotos dele, em Angola, ótimo" (...)..

Recorde-se que já foi publicado, aqui, o "guia do instruendo", usado no CISMI, Tavira, que nos chegou também por mão do César Dias,  tendo o original sido-lhe dado pelo seu camarada de recruta, o Fernando Hipólito, que será depois mobilizado para Angola.

Guiné 63/74 - P12834: Parabéns a você (704): Leopoldo Correia, ex-Fur Mil Art da CART 564 (Guiné, 1963/65)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 12 de Março de 2014 > Guiné 63/74 - P12826: Parabéns a você (703): Manuel Luís R. Sousa, SAJ Reformado, ex-Soldado At do BCAÇ 4512/72 (Guiné, 1972/74)

quinta-feira, 13 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12833: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (83): Recebi notícias do último CMDT do Glorioso GA 7, Coronel de Artilharia Faia Correia (Vasco Pires)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72), com data de 4 de Março de 2014:


...e a nossa TABANCA É GRANDE ​

Caríssimos Carlos Vinhal /Luis Graça,
Cordiais saudações.

Em 06 de Agosto 2012, fiz um comentário no P10228 do Nobre Artilheiro Humberto Nunes, e em 23 de Junho 2013, o Exmo. Senhor Coronel de Artilharia Faia Correia, último Comandante do Glorioso GA 7 (GAC 7), replicou sobre o meu comentário, de que só agora tive notícia.

Anónimo disse...
Caro Humberto Nunes, Cordiais saudações,
Lendo o teu depoimento, lembrei o ano de 1970, quando cheguei a Gadamael. Lá encontrei uma companhia em fim de comissão, comandada por um experiente Oficial, o então Capitão de Artilharia Rodrigues Videira, que muito me ajudou nesses primeiros tempos.
Dizia ele, que o que salva o ser humano, é a memória seletiva, pois,com o tempo, vai-se se não eliminando, ao menos amenizando as experiências mais dolorosas,e as experiências positivas ficam relativamente mais fortes.Sábias palavras, digo eu.
forte abraço
Vasco Pires,
Ex-Comandante do 23º Pel. Art.

************

Caro Camarada Vasco Pires, Ex-Comandante do 23º Pel. Art.
Fui o último Comandante do GA7 e só muito recentemente é que tive acesso a esta nossa Tabanca Grande e através dela tenho vindo a contactar com camaradas que serviram comigo nessa prestigiada unidade de Artilharia, onde estive de agosto/73 até setembro/74. Não chegámos, portanto, a conhecermo-nos. Contudo, porque se refere às "sábias palavras do experiente Capitão Rodrigues Videira", posso dar-lhe notícias dele, por mantermos uma sólida amizade, desde 1961, quando fui instrutor de Artª na Academia Militar.
Ele voltou à Guiné como Comandante duma Bateria Anti-Aérea que tinha os Pelotões espalhados mas o comando da dita estava sediado no Grupo em Bissau.
Depois, desde o regresso da Guiné fomo-nos encontrando, em Leiria e, por último, na Academia Militar.
Para além de inteligente e culto (foi o 1º.do seu curso na Ac Mil), é transmontano e, como tal, de grande frontalidade. As palavras dele, colocadas aqui por si, demonstra o que afirmo. Mas olhe que ele, em Gadamael, era ainda um muito jovem Capitão.
Mantemos contactos frequentes, a nível familiar, e despedimo-nos sempre com pena que a tarde tenha chegado ao fim...
Um pormenor, como está reformado, dedica-se ao bridge e é muito requerido para encontros organizados por amigos! Como dizia um amigo meu de Cavalaria, quando dois artilheiros se encontram, o abraço toma a forma duma soquetada, que peço que aceite com a amizade do
Faia Correia, Cor Artª Reformado

************

Além da honra de receber comunicação do Comandante da minha Unidade, traz notícias do Ex-Capitão Rodrigues Videira, Cmdt da CART 2478, que recebeu este "periquito" em Gadamael em 1970, e cuja foto coloquei no meu P11148 "Alfero di canhão".

Um periquito em Gadamael... e a velhice da CART 2478

Já anteriormente falei do Capitão Videira:
"Cheguei a Gadamael Porto, lá por meados de 70 para assumir o comando do 23° Pelart, encontrei uma Companhia em fim de comissão, comandada pelo então Capitão de Artilharia Rodrigues Videira, que logo nos primeiros dias me falou da importância da disciplina em zona de guerra..."

Ele foi figura fundamental, apesar de poucos meses de contacto, nos meus dois anos de serviço na Guiné. Um Capitão em fim de comissão, recebeu o soldado "periquito" paternalmente, e durante esse tempo de convivência, foi desfiando pequenos (grandes) detalhes da arte de comandar.
Posso afirmar hoje, mais de quarenta anos depois, sem risco de exagero, que devo ao Capitão Videira, a "normalidade" com que decorreram os meus dois anos de serviço.

Forte abraço a todos
Vasco Pires
Ex-Comandante do 23.° Pel. Art.
Gadamael
____________

Nota do editor

Último poste da série de 16 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12727: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (81): António Medina, natural da ilha de Santo Antão, Cabo Verde, foi fur mil da CART 527 (Teixeira Pinto, 1963/65) e vive hoje nos EUA, onde descobriu o nosso blogue

Guiné 63/74 - P12832: Os nossos médicos (74): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (7): "All you need is love" - as Berliet's rebenta-minas e os nossos picadores no trajecto entre Galomaro e Dulombi

1. Em mensagem do dia 11 de Março de 2014, o nosso camarada Mário Vasconcelos (ex-Alf Mil TRMS do BCAÇ 3872), a quem não é demais agradecer a sua disponibilidade e colaboração, fez chegar até nós mais memória do ex-Alf Mil Médico Rui Vieira Coelho [foto actual à esquerda] que esteve integrado nos BCAÇ 3872 e 4518 (Galomaro, 1973/74), dedicada ao belo Arquipélago dos Bijagós:

As minhas cordiais saudações a todos: editores, leitores e camaradas em geral. 
Um pouco, no cumprimento do meu antigo cargo, volto às transmissões, enviando o texto/conto, da autoria do nosso ex-Alf. Mil Médico, Dr Rui Vieira Coelho, tabanqueiro n.º 624, BCAÇ 3872 e 4518. 

Um alfa-bravo encriptado com amizade. 
Mário Vasconcelos


____________

Nota do editor

Último poste da série de 14 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12717: Os nossos médicos (73): Memórias do Dr. Rui Vieira Coelho, ex-Alf Mil Médico dos BCAÇ 3872 e 4518 (6): Em Bubaque, como subdelegado de saúde

Guiné 63/74 - P12831: Historiografia da presença portuguesa em África (47): O dia em que saiu o último soldado português, de Bissau: 13 ou 14 de outubro de 1974 ? (Albano Mendes de Matos / Luís Gonçalves Vaz)

Ten Albano Mendes de Matos, CA/CTIG, 1973
1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Albano Matos, com dataa de 1 do corrente;

Assunto - Último dia da Guiné: datas

Caro Amigo Luís Graça,


Num comentário de Luís Gonçalves Vaz sobre a data de saída da Guiné num escrito meu, queria informar o senhor que,  nos meus documentos de matrícula,  consta que saí de Bissau em 14 de Outubro de 1974 e cheguei a Lisboa no mesmo dia.

O último avião saiu pelas 01H30M do dia 14. Logo, tudo o que descrevo se passa no dia 13 de Outubro de 1974. A não ser que a data nos meus documentos esteja errada. Eu dependia do pai do Sr Luis Vaz, Chefe do Estado-Maior, que, creio, que no dia 13 já não esteve no Quartel General, de onde eu saí no dia 13,pelas 13H00.

Albano Mendes de Matos
Tenente-Coronel Chefe de Contabilidade do CA/CTIG


Luis Gonçalves Vaz
2. Mensagem, de 2 do corrente, do Luís Gonçalves Vaz, membro da nossa Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG - 1973/74),  a quem dei conhecimento do teor da mensagem acima:

Olá, Luís Graça:

Obrigado pela tua atenção em me enviares a informação. Acabei de responder, e pelos vistos eu "troquei a hora, não os dias", a saber:

Caro sr Tenente-Coronel Mendes Matos:

Peço-lhe desculpa, pois só ontem fui informado deste seu post por um e-mail do Editor Luís Graça. Agradeço-lhe se ter dignado vir aqui repor a verdade da data/hora (já vi que troquei a data/hora do último embarque no cais marítimo com o grupo data/hora do último voo), que julga ser a correta.

Não vou nem quero opor-me à sua data de 13 ou 14 de Outubro,quando refere no seu artigo, afinal trata-se do depoimento de um dos "protagonistas deste momento histórico" que, como tal, merece toda a minha credibilidade. Mas gostaria de o informar que "oficialmente" no Relatório que possuo,elaborado pela 2ª Rep do QG e autenticado pelo sr. Major Tito Capela, na página 46, apresenta para o último embarque aéreo das nossas tropas, o grupo "Data/Hora" de 140230OUT, como o embarque do CMDT CHEFE e elementos do QG.

"Informa também" que foi no dia 13 de Outubro que o QG/St Luzia foi entregue, logo o seu artigo está de acordo com este Relatório "Secreto", de que já dei aqui visibilidade.

Agora apercebo-me que "troquei" o grupo Data/Hora, e além de  pedir desculpa a todos pela minha incorreção,quero também aqui corrigir esta hora, como tal onde digo "..Às 23 horas do dia 14 de Outubro de 1974, estes militares serão os últimos a retirar da Guiné..." quero emendar para: "Às 2h30min do dia 14 de Outubro de 1974, estes militares serão os últimos a retirar da Guiné (por via aérea ...).

Estive a reler o Relatório, e no mesmo o que parece uma "incoerência", pois o grupo Data/hora do último embarque (aéreo) é 140230OUT, e o grupo data/hora da entrega do QG/CCFAG na Fortaleza da Amura, é 142300OUT, não o será, pois  o último embarque de tropas portuguesas, foi por via marítima em LDGs (no cais de embarque) pelas 23h00min (142300OUT), executado diretamente da fortaleza da AMURA para os navio UIGE e NIASSA, como tal devem ter sido estes os militares que entregaram o QG da AMURA (??).

No entanto, e segundo este mesmo Relatório, estes navios só saíram da zona em 151000OUT, em suma terão sido estes os últimos a abandonar este TO. Agora se assim não foi, então será esta minha fonte que não foi fiel no que concerne às datas (terá alguma gralha ou mesmo erro nestes grupos Data/Hora ?). Relativamente aos registos do meu pai, só encontrei a referência que seria no dia 14, a saber:

Bissau, 5 de Outubro de 1974

"... Dia de trabalho derivado da antecipação da nossa saída em 15 deste mês (pois passou para 14 de Outubro) ...

 Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Entretanto, também registou na sua agenda de CEM, a antecipação de vários voos de cargas .... A pressão era "muito grande" para que abandonássemos aquele TO.

Grande Abraço

Luís Gonçalves Vaz

3. Comentário de L.G.:

O nosso camarada Albano Mendes de Matos, nascido em Castelo Novo, Fundão, em 1932,  é também antropópologo, poeta e romancista com obra premiada ("A Casa Grande", 2008).

Aqui fica uma resenha biográfica, respigada da Net e completada com elementos informativos do nosso blogue (*)

(i) Tenente-coronel do Exército na reforma, com várias comissões de serviço durante a Guerra Colonial: Angola  (Grupo Art 157 / BArt 147, 1961/63; Angola  (BArt 1469/ CArt 1469, 1965/68; Guiné (GA 7 e QG/CTIG - Secção de Milicias e Chefe de Contabilidade, 1972/74),.

(ii) é  também licenciado em Antropologia Cultural e Social e mestre em Ciências Antropológicas;

(iii) foi professor na Universidade Moderna;

(iv) na Guiné, a par das tarefas militares, organizou festivais de poesia e representações teatrais, bem como os «Cadernos de Poesias POILÃO», com autores guineenses e portugueses;

(v) publicou, em 1973, em Angola, o caderno de contos africanos «Jangadeiro», dos quais foram apreendidos 300 exemplares pela PIDE/DGS;

(vi) estreou-se no romance em 2008, com a obra «A Casa Grande», que recebeu o Prémio Literário Aquilino Ribeiro.

Acabei de mandar ao Albano Matos o seguinte mail:

Albano: Vou fazer um poste com as vossas duas mensagens, a do Albano e do Luís... E vou convidar o Albano para integrar a nossa Tabanca Grande... É mais do que justo até pelos contributos que já deu para a preservação e divulgação da nossa(s) memória(s) da Guiné... Memórias e afetos... Espero que diga que sim... E que aceite, A partir de então, o tratamento é por tu, de acordo com as nossas regras de convívio, e como de resto se impõe entre camaradas do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
Um alfabravo. Luís....(**)


PS - Temos cá vários camaradas da BAC

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/BAC%201

___________________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

 9 de maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2827: Os últimos a saírem: um estrangeiro numa nova Nação (Ten Cor Albano Mendes de Matos)

(...) Um pouco depois das 11 horas da noite [, do 13 de Outubro de 1974], dirigi-me para o jipe. O condutor estava melhor da bebedeira. Com ele estava o primo. Alguns negros param a olhar para nós. Aproximaram-se. O jipe arrancou. Os guineenses ficaram a acenar, de braços levantados. Descemos pela avenida principal, subimos pelo lado do campo de futebol.

Sentia uma sensação estranha. Já na estrada do aeroporto, olhei para trás. Duas lágrimas saltaram-me dos olhos, recordando o sangue português derramado naquelas paragens. Era estrangeiro numa nova nação.

Já perto do aeroporto, o condutor perguntou-me:
- Meu tenente, onde deixo o jipe?
– Atira-o para uma barreira!

Parámos à entrada do parque do aeroporto. Desci com a pequena mala. O condutor colocou uma sacola no chão, subiu para o jipe e conduziu-o até uma pequena ladeira, ao lado da estrada, um pouco antes do aeroporto, para onde o encaminhou com um pequeno empurrão.

No aeroporto, para entrarem no último avião da Guiné, estavam o Governador, o Comandante Militar, alguns militares coadjuvantes, oficiais, sargentos e meia dúzia de soldados.

Para apresentarem cumprimentos de despedida, chegaram alguns chefes militares do Exército do PAIGC e o Presidente da Câmara Municipal de Bissau.

Era o fim da colónia ou província portuguesa da Guiné, já independente desde o mês de Agosto. (...) 

quarta-feira, 12 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12830: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (25): Caldas da Rainha, onde fui 1º cabo milicano por umas breves semanas, e fiz uma guarda de honra ao presidente da República, Américo Tomás, no início de 1969 (César Dias, ex-fur mil, sapador, CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71)





Caldas da Rainha > RI 5 > c. 1º trimestre de 1969 > Guarda de Honra a Américo Tomás, de visita ao RI 5.  Ao centro, de perfil, empunhando uma pistola metralhadora Uzi (ou FBP ?) estava o então 1º cabo miliciano César Vieira Dias, mais tarde fuir mil MA, CCSA/BCAÇ

Fotos: © César Dias (2014). Todos os direitos reservados.[Edição: L.G.]


Da esquerda para a direita: César Dias, em Tavira, na parada do Quartel da Atalaia, CISMI, em meados de 1968,  com o irmão que estava no 2º ciclo do CSM (a tirar a especialidade de armas pesadas, na 2º Companhia). O César estava na recruta, 1º ciclo, na 3ª companhia. Estiveram juntos 3 meses. Depois seguiram destinos diferentes: O César foi para a Guiné, e o irmão para Angola.



1. Mensagem do César Dias [,ex-fur mil sapador, CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71, respondendo a pedidos de esclarecimento do editor sobre a foto acima publicada, a guarda de honra a Américo Tomás:

Data: 12 de Março de 2014 às 10:07

Assunto:  Guarda de honra ao Américo Tomás


Bom,  dia Luis

Essa foto do Américo Tomaz foi tirada nas Caldas,  no RI 5.  Não me recordo ao certo do mês, mas como estive lá pouco tempo só poderá ter sido ou Fevereiro ou principios de Março de 1969.

Eu estava como Cabo Miliciano na 5ª Companhia, já falei com um camarada que estava na 5ª Companhia como Instruendo, ele não se lembra de nada. Presumo que,  como o pessoal ainda estava fresco,  terão pescado os melhores pelotões em ordem unida nas várias companhias e fizeram a festa ao ilustre visitante. 

Luís,  aderi no Facebook  aos "antigos combatentes da Guiné ", publiquei lá essa foto ao lado duma outra visita recente (2008), de Cavaco Silva,  indicando que as separam 38 anos mas no mesmo local, para ver se aparecia alguém que se lembrasse daquilo, mas até agora só mesmo eu. 

Comprei a foto,  porque eu estou em primeiro plano com a Uzi [, pistola  metralhadora de origem israelista], era o meu pelotão que estava á cabeça.

Um abraço, dispõe sempre

César

PS - Como já tive ocasião de te esclarecer, o meu percurso na tropa foi semelhante ao de muitos do nosso tempo, Tavira 6 meses, recruta e especialidade, depois Caldas para dar recruta ao CSM, mas que não chegou a terminar porque o homem do monóculo [, Spínola,] pediu reforços e lá fomos á pressa a Santa Margarida fazer o IAO.  O batalhão [, BCAÇ 2885,] embarcou em 7 de Maio no Niassa, eu fui de avião numa secção de quarteis receber as instalações, cheguei a Bissau no dia 8 (,já agora o meu irmão embarcou no dia 8,  para Angola), penso que com nove meses de tropa estava em Mansoa para o que desse e viesse.

Sobre as fotos,  ainda pensei que tinha alguma de Santa Margarida, mas aquilo foi mesmo uma rapidinha, nem fotos fizemos.



Caldas da Rainha > RI 5 > 16 de março de 1974 > Vão fazer agira 40 anos que se deu a "revolta das Caldas da Rainha", rebelião militar que antecedeu o 25 de abril de 1974.

Recordem-se aqui os factos mais próximos, relativamente ao "pronunciamento das Caldas":
1974, março, 14 > O capitão Virgílio Varela, do Regimento de Infantaria 5, das Caldas da Rainha, informa Casanova Ferreira que, caso a Comissão Coordenadora do Movimento não reaja à demissão dos dois generais [, Costa Gomes e António Spínola], ele sairá sozinho com a sua unidade. Casanova Ferreira tenta convencê-lo a adiar a acção, mas Virgílio Varela não desmobiliza o seu pessoal e decide mantê-lo em «estado de prontidão».

1974, março, 1974 > Os capitães do Regimento de Infantaria 5, das Caldas da Rainha, tomam o comando do Quartel e de madrugada avançam sobre Lisboa, sob o comando do capitão Armando Ramos. É a única unidade a sair, numa acção descoordenada e na sequência da qual são presos cerca de duzentos militares, entre os quais Almeida Bruno, Manuel Monge, Casanova Ferreira, Armando Ramos e Virgílio Varela.

Guiné 63/74 - P12829: O meu baptismo de fogo (26): Có - os primeiros contactos de fogo: um teste para os "piriquitos" (Francisco Henriques da Silva)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Henriques da Silva (ex-Alf Mil da CCAÇ 2402/BCAÇ 2851, , Mansabá e Olossato, 1968/70; ex-embaixador na Guiné-Bissau nos anos de 1997 a 1999), com data de 10 de Março de 2014:

Meu caros camaradas e amigos,
Junto vos envio uma descrição do primeiro ataque a Có, em Agosto de 1968, algumas semanas depois de nos instalarmos naquela localidade, recém chegados à Guiné.
A minha descrição não coincide integralmente com a do Raul Albino(*), tal como descrita nas “Memórias de Campanha" pois muito embora estivéssemos presentes quando os factos sucederam tivemos visões e percepções diferentes dos acontecimentos, o que é absolutamente natural.
De qualquer forma, as descrições em larga medida são convergentes.

Não disponho de qualquer fotografia de Có no meu arquivo, de modo que remeto-vos para a foto já publicada neste blogue da CCaç 2402.
Estou a reservar este texto, juntamente com outros, para a publicação, talvez ainda este ano de um livro de memórias.

Com um abraço cordial e amigo
Francisco Henriques da Silva
Ex-Alferes Miliciano de Infantaria,
CCaç 2402
(Có, Mansabá e Olossato), 1968-1970
Ex-embaixador de Portugal em Bissau (1997-1999)


Vista aérea de Có
Foto: © Raul Albino (2006). Direitos reservados


O MEU BAPTISMO DE FOGO

Có - os primeiros contactos de fogo: um teste para os “piriquitos”

Pouco antes da Companhia completar um mês na povoação de Có, no “chão” mancanha, em finais de Agosto, juntamente com o meu grupo de combate, encontrava-me na estrada que contornava o extremo da pista de aviação, umas centenas de metros a Oeste desta última, uma vez que tinha cabido em sorte ao meu grupo efectuar, naquela manhã, a chamada “picagem” da dita pista, para efeito de detecção de minas. Esta operação rotineira e diária, indispensável para garantir a segurança das aeronaves, havia terminado e preparávamo-nos para regressar a penates. Creio que seriam para aí umas seis e meia da manhã. O dia começava a raiar. O IN, com um grupo relativamente pequeno, mas expressivo, talvez 20 a 25 homens no total, ataca o aquartelamento pelo lado norte da referida pista de aviação com armas ligeiras, morteiro de 60mm e RPG-2 (lança-granadas foguete de fabrico soviético). Foi um ataque de curta duração, cerca de um quarto de hora.

Có - Vd. carta de Pelundo 1:50.000

O Comandante manda sair um grupo de combate, o do Raul e, ao mesmo tempo, manda fazer fogo com o morteiro 81, salvo erro, a única arma pesada que a Companhia então dispunha, esquecendo-se de que eu e o meu grupo estávamos já quase numa das extremidades da pista. O grupo de combate do Raul, guiado pelo chefe dos cipaios, abandona o aquartelamento pela porta de armas em direcção à tabanca, ou seja, numa direcção contrária à da pista de aviação, até porque se o fizessem por esse lado estariam a avançar em campo aberto, completamente expostos ao fogo do inimigo, a fim de efectuar uma manobra de envolvimento. Entretanto, o meu próprio grupo movimentava-se rapidamente em direcção ao final da pista, por onde passava uma estradeca de terra batida, internando-se, porém, cautelosamente pelas bermas da via e não directamente por esta, para não se expor de peito aberto ao fogo dos guerrilheiros que batiam o caminho com uma metralhadora de alto calibre. De repente caem, duas ou três granadas de morteiro de 81mm, disparadas do quartel que afocinharam, sem explodir, muito perto de nós, uma delas a cerca de três metros do local onde me encontrava. Um dos cabos que estava ao meu lado, grita-me ao ouvido: “Meu alferes, meu alferes, agache-se! Estão a disparar do quartel na nossa direcção!” Fogo amigo! Sem dúvida... Estas “amizades” é que fazem falta! No meio daquela confusão, lá consigo comunicar por rádio - o que não foi nada fácil, porque estavam quase todos a falar ao mesmo tempo e a inexperiência pesava - e peço que suspendam imediatamente os disparos de morteiro. Agradeço, à Virgem Maria e a todos santinhos a nabice do furriel encarregado das armas pesadas que nos bombardeou com granadas encavilhadas, porque se acaso tivesse actuado com profissionalismo e segundo as regras, eu, muito provavelmente, não estaria aqui para contar a história.

A este ataque inicial e, contra todas as expectativas, após uma curta acalmia, seguiu-se um segundo assalto. Os guerrilheiros reagruparam-se e prepararam-se para nova ofensiva, agora de um ponto diferente e insuspeitado. No fundo, sabiam da nossa inexperiência - era o nosso baptismo de fogo -, dos nossos naturais temores e da nossa possível desorientação. Só que as coisas não lhes correram de feição.

Recomeçou, pois, o tiroteio. Parte do grupo atacante, já muito próximo de nós, a uns escassos 70 ou 80 metros continua a varrer a estrada com a tal metralhadora de tripé que eu e os meus homens vimos claramente, pois aproximávamo-nos cada vez mais. Para lá se dirigiam os tiros das nossas G-3. De forma totalmente inconsciente, sem dizer nada a ninguém, atravesso em passo de corrida a estrada para o outro lado, na tentativa ingénua ou, mesmo, estúpida de fazer uma manobra de envolvimento. O que é que eu sabia de guerra? As balas assobiavam por todos os lados e algumas zuniam, seguidas de embates secos, levantando poeira ao embaterem na terra da estrada, tal como nos filmes made in Hollywood ou então silvavam por cima das nossas cabeças. Zing! Zing! Verifico que estou literalmente sozinho do outro lado do caminho. No meio do tiroteio, ouço a voz de alguém: “O homem é maluco!” e, logo a seguir, um dos meus furriéis adverte-me aos gritos: “Meu alferes, meu alferes, isso aí é muito perigoso. A estrada está a ser batida por uma [metralhadora] pesada.” Como se eu não soubesse. Bom, lá atravesso eu, num ápice, outra vez a estrada para me juntar aos meus homens, com as balas outra vez a baterem por tudo quanto era sítio.

O nosso poder de fogo e a nossa superioridade numérica eram muito superiores às dos atacantes. Além disso, estes estavam já a ser envolvidos por fogos cruzados oriundos, quer do meu grupo, quer do do Raul, plenamente operacional e activíssimo que os atacava pelo lado nascente, uma vez que lhes havia seguido as pegadas, bem marcadas na lama do caminho. A metralhadora calou-se, os RPG-2 há muito que estavam silenciosos e só esporadicamente se ouviam tiros isolados de armas ligeiras, até emudecerem de vez.

Ao chegarmos ao local onde estaria a metralhadora, encontrava-se o corpo sem vida de um dos guerrilheiros, com uma farda de caqui e ostentando um pequeno emblema com a foice e o martelo no chapéu de pano amarfanhado e manchado de sangue. A arma, essa, sumiu-se.

Os meus soldados deram valentes mas inúteis pontapés no cadáver inerte do guerrilheiro, até se capacitarem de que estava morto, mas bem morto, da chamada morte matada.

Passado pouco tempo, fizeram-se ouvir novos disparos, mais a Leste era o grupo do Raul que ia em perseguição do IN. Os guerrilheiros terão sido surpreendidos com esta reacção da nossa parte, que não estariam, de todo em todo, à espera, e tiveram de debandar rapidamente, sofrendo mais um morto e um número indiscriminado de feridos.

O cabo dos cipaios, Dayan, no seu português acriolado definiu bem o baptismo de fogo daquele grupo de soldados, jovens e inexperientes nas lides da guerra:
- Companhia “piriquita”, mas boa!

No jargão da época, “piriquitos” eram os neófitos, os novatos, os militares recém-chegados à Guiné, sem experiência de combate.

Ora bem, o certo é que tínhamos passado no exame e logo na primeira chamada.

Francisco Henriques da Silva

De pé: Francisco Silva, Raul Albino e Cap Vargas Cardoso
Foto: © Raul Albino (2006). Direitos reservados
____________

Notas do editor

(*) Vd. poste de 2 DE OUTUBRO DE 2008 > Guiné 63/74 - P3265: O meu baptismo de fogo (2): Primeiro ataque ao quartel de Có (Raúl Albino)

Último poste da série de 12 DE NOVEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12282: O meu baptismo de fogo (25): Monte Siai, 10 de Janeiro de 1968 (Abel Santos)

Guiné 63/74 - P12828: Acordar memórias (Joaquim Luís Fernandes) (3) : As minhas pesquisas sobre Teixeira Pinto e o "Chão Manjaco"

1. Terceiro episódio da série "Acordar memórias" do nosso camarada Joaquim Luís Fernandes (ex-Alf Mil da CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973 e Depósito de Adidos, Brá, 1974):


ACORDAR MEMÓRIAS

3 - As minhas pesquisa sobre Teixeira Pinto e o "Chão Manjaco"

E onde é que eu ia? Ah! Já sei! Tinha deixado para trás o VIII Convívio do Blogue – Tabanca Grande, com o sentimento de alguma deceção.
Não tinha encontrado nenhum ex-camarada conhecido de Teixeira Pinto. Em contrapartida, tinha trazido comigo seis livros sobre a guerra da Guiné, escritos por ex-combatentes, que iria ler com interesse nos dias que se seguiriam. Porém, o foco principal do meu interesse estava em Teixeira Pinto.

Tinha que continuar a pesquisar e decerto iria encontrar alguns dos meus ex-camaradas, dos quais desgraçadamente até os nomes esquecera. Também me ocorreu que tinha mais de 200 cartas que tinha escrito à minha namorada/noiva/mulher e que iria passar a ler, na busca de reviver o que a memória tinha escondido .

E foram muitos os postes publicados que visitei, que me deram uma noção mais aproximada do que foi aquela guerra e apesar do desgosto que a sua memória me provocava, o meu respeito por aqueles que nela participaram aumentou. A par de alguns actos deploráveis, quiçá compreensíveis dadas as circunstâncias, encontrei descrições de grande humanidade, abnegação, lealdade, coragem, generosidade, amizade e valor. Alguns dos Postes visitados: todos os que julguei relacionados com o Chão Manjaco, os do José da Câmara, do Luís Faria, os relacionados com Teixeira Pinto, com o Bachile, com Capó, com o Balenguerez, com a Caboiana, com o Cacheu, com o Burné... com o Pelundo, mas também com os de outra zonas, Guidage, Guileje, Brá e muitos outros e de muitos autores.

Mas a minha atração era Teixeira Pinto e inicialmente pesquisei mais os postes que lhe julgava relacionados. E abri a carta militar disponível no blogue – deparei-me com mais uma coincidência inesperada: Teixeira Pinto, atual Canchungo, estava inserida numa zona (Regulado) chamada Costa de Baixo. Então... não é que eu morava no lugar de Costa de Baixo, de Leiria, de onde partira, para ir para uma zona na Guiné com o mesmo nome! Coincidências!... Já uma outra coincidência toponímica era a tabanca de Carenque, sede da CCaç 3461, ser homónima da localidade de onde partira e se constituíra (Carenque da Amadora), no RI 1, sua Unidade Mobilizadora. Mas o que mais me agradou ao analisar esta carta militar, foi reencontrar o nome das tabancas, que me soavam bem, quase musicais e me avivavam as memórias e os sentidos, sensíveis aos seus encantos e desencantos. - Binhante, Ucunhe, Bucol, Babanda, Petabe, Canobe, Beniche, Bajope, Chulame, Bechima, Caronca, Cachobar e as de Blequisse...

Imagem parcial da carta militar de Teixeira Pinto, atual Canchungo, (1953) – com a devida vénia ao Blogue e ao “cartógrafo- mor” Humberto Reis.

Nesta busca de notícias daquelas extensas e povoadas tabancas do Chão Manjaco, que tinha calcorreado e conhecido, desejei visitar e saber notícias dos então jovens adolescentes de quem fora catequista, preparando-os para o batismo cristão. E cheguei até à ONG “Bankada” – Andorinhas em Canchungo. Agradei-me de algumas notícias, de outras nem tanto e fiquei com o desejo de lá voltar. Na sequência destas procuras, abri o P2451 e deparei-me com isto: António Alberto Alves, sociólogo, português, a trabalhar na ONG “Bankada”- Andorinhas de Canchungo, a dar-nos conta que o livro “Diário da Guiné – Lama, Sangue e Água Pura” era lido entre os jovens de Canchungo. Curioso! Quem diria!...

Mas uma outra notícia me deixou perturbado: um grupo de ex-militares ou milícias Manjacos, do Pelundo, que tinham militado ao lado das tropas portuguesas, servindo e lutando do mesmo lado da barricada, debaixo da mesma bandeira e que agora viviam em dificuldades, na indigência. E para quem, em seu nome, era pedida ajuda aos ex-camaradas que os reconhecessem. Eu, que nunca tinha estado integrado com tropas ou milícias africanas, não me senti diretamente interpelado, mas fiquei sensibilizado e pesaroso com a sua situação. E, ao ver as suas fotografias, deparei-me com uma que me fez sentir um calafrio, um arrepio... A de Ioró Jaló.

Quem era este homem? De que tabanca? Seria mesmo do Pelundo? Ou de Beniche? Ou de Bajope? Ou de Chulame?...

Ioro Jaló
Com a devida vénia ao autor da foto Dr. António Alberto Alves e aos Editores do Blogue.

O que me fazia reviver esta foto de Ioró Jaló? Que sentimentos me despertava?

As feições deste homem, tornaram-me presente um episódio em que participei, de que não me orgulho, antes me envergonho e que, durante 40 anos, não apaguei da memória.

Um episódio que poderá não ter sido muito grave, dadas as circunstâncias, mas na minha consciência foi. Para quem pretendia ser fiel aos mais elevados ideais e princípios humanistas de coerência, justiça, respeito e solidariedade, o ato cometido foi infame. Cabe-me retratar-me dele, nesta série do Blogue: “O Segredo de...”

Mas para ganhar a compreensão e benevolência de quem o ler e me julgar, convém que faça uma introdução, que sirva de “circunstâncias atenuantes”. Até lá, não se ponham a adivinhar. Será um esforço em vão.

(Continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 9 de Março de 2014 > Guiné 63/74 - P12812: Acordar memórias (Joaquim Luís Fernandes) (2): O primeiro contacto com a bibliografia da guerra colonial